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Faculdade de Medicina Dentária

Universidade de Lisboa

Disciplina de Bioética

Caso Paciente Terminal


e
Respeito à Pessoa
Regente da unidade curricular de Bioética:
Professor Doutor João Manuel de Aquino Marques

7 de Janeiro de 2011

Autores:
Diogo Domingues, nº95560001
Inês Amaral, nº 95560105
Maria Inês Morais, nº95560037
Nicole Baptista, nº95560038
Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Índice

1. Introdução …………………………………………………………… Pág.2


2. Relação paciente terminal-médico ……………………………….. Pág.3-4
3. O confronto com a morte …………………………………………… Pág.5-6
4. Intervenção de familiares …………………………………………... Pág.7-8
5. Autonomia e liberdade do paciente ……………………………….. Pág.9-10
6. Análise individuais …………………………………………………... Pág.11-20
7. Conclusão ……………………………………………………………. Pág.21
8. Bibliografia ……………………………………………………………. Pág.22-23

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

1. Introdução

No âmbito da disciplina de bioética foi-nos proposta a elaboração de um trabalho


de grupo para avaliação da unidade curricular. O nosso grupo optou pelo “Caso
Paciente Terminal e Respeito à pessoa”.

O motivo da escolha deste tema foi devido a este assunto nos despertar algum
interesse como profissionais de saúde e por ser um assunto com uma notória
componente ética.

O desenvolvimento do trabalho é constituído primeiramente em informação ética


relacionada com caso de paciente terminal e respeito à pessoa. De um modo global
abordamos os temas mais relevantes deste assunto: relação paciente terminal e
médico; confronto com a morte; intervenção dos familiares; autonomia e liberdade do
paciente.

Por último, apresentamos análises individuais dos elementos do grupo sobre o


caso específico que nos foi fornecido.

Terminamos o trabalho com uma breve conclusão acerca do assunto.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

2. Relação paciente terminal e médico

O bom desenvolvimento de uma relação médico-paciente é de extrema


importância no que diz respeito à satisfação dos usuários e na qualidade dos serviços
de saúde mas tem principalmente uma influência directa no estado de saúde dos
pacientes.

Esta é uma temática que tem vindo a sofrer alterações ao longo dos tempos,
contemporaneamente tem sido focalizada como um aspecto-chave para a melhoria da
qualidade do serviço de saúde e desdobra-se em diversos componentes, como a
personalização da assistência, a humanização do atendimento e o direito à informação.
Uma boa relação médico-paciente deve contemplar aspectos importantes como a
privacidade, a confidencialidade, a veracidade e a fidelidade. Qualquer que seja a
relação construída entre as duas entidades o profissional de saúde deve ter sempre
claro que a sua fidelidade para com o paciente é o que serve de base para o
relacionamento entre ambos e nunca deve ser quebrada. A veracidade, ou seja, a
transmissão verdadeira e honesta de todas as informações é essencial para que a
fidelidade subsista. Dito isto, mesmo em casos com complicações acrescidas como são
os de pacientes terminais, idosos ou pacientes com problemas mentais a confiança
entre paciente e médico não deve ser comprometida. [1]

O profissional deve tentar desenvolver uma relação com o paciente que lhe
permita continuar a ser respeitado enquanto médico mas que não lhe atribua
demasiado poder. Tem de ser encontrado um equilíbrio para que ambas as partes
compreendam e respeitem os limites em que podem e devem actuar.

O profissional não deve ainda deixar que os seus sentimentos tenham influência
na tomada de decisões relativas ao paciente. As decisões de um médico devem ser
fundamentadas na racionalidade e não numa dimensão emocional e afectiva. É então
importante que apesar da relação de proximidade que possa vir a ser desenvolvida
entre ambos o médico não comprometa a sua profissionalidade e racionalidade. [2]

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

É ainda de extrema importância frisar que qualquer que seja a situação em que se
encontra o paciente este continua a ser uma Pessoa e por isso mesmo deve ser
sempre tratada como tal e nunca perdendo a sua dignidade.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

3. O confronto com a morte

É considerado paciente terminal aquele que sofre de uma enfermidade


incurável e com prognóstico fechado, assim como os que estão em processo
irreversível da morte.[3]

A consciência da morte e da nossa finitude faz parte da própria


humanidade, é algo que, quando mais presente, nos inquieta e angustia. O
atendimento a pacientes terminais é, por isso mesmo, uma situação difícil para
os médicos, apesar do facto da morte ser um evento inexorável para os seres
vivos.[4]

O confronto com o estado terminal da vida é individual, isto é, varia de


individuo para individuo. A relação que possui consigo próprio influência o
modo como pode encarar esta situação limite.

A morte abrange uma área psicológica e emocional que transcende a


terapia clínica com que o médico está habituado a lidar.[5]

O médico, sente-se confrontado com os seus limites, impotências e


incapacidades, o que causa revolta e culpa que pode resultar em negação e
evasão. Dado que a medicina não tem apenas uma função científica ou
biológica mas também uma dimensão humana é nestas situações que essa
mesma dimensão tem mais relevância. Nesta etapa de evolução da doença
cabe ao médico, confrontado com a inexistência de uma resposta clínica para o
problema, acompanhar, apoiar e ajudar o paciente conseguir conviver o menos
dolorosamente possível com a situação.[6]

É exactamente esta a ocasião para lembrar que, além dos aspectos


biológicos que condicionam a fatalidade do fim do organismo, estamos,
sobretudo neste momento, diante de uma Pessoa e diante da experiência-limite
da existência. Esta dimensão propriamente humana do paciente aparece,
então, com uma nitidez e uma força por vezes até inibidoras. Não é possível

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

uma relação de familiaridade com a morte. Por mais que se conviva com ela, a
morte só parece natural para quem a define apenas como o término objectivo
das funções vitais.

Mas esta finitude, no ser humano, não é somente a cessação da


funcionalidade biopsíquica: é a consciência do fim da vida que traz, seja qual
for a maneira como se interprete a situação, algo de angústia e de mistério, de
profunda intimidade consigo mesmo e de inevitável solidão.[5]

Nesta situação limite os pacientes e até seus familiares normalmente


passam por diferentes estágios a nível psicológico. Estes estágios foram
classificados pela Dra. Kübler-Ross para pacientes em fase terminal e são eles
os seguintes: Choque inicial; Negação; Raiva; Barganha; Depressão;
Aceitação. O tempo de permanência nestes diferentes estágios dependerá de
diversos factores, incluindo: estrutura de personalidade, apoio familiar, apoio
social, tipo de cultura, idade, forma de comunicação do diagnóstico, etc.

A compreensão deste processo pode auxiliar o profissional de saúde a


entender estes sentimentos e a auxiliar estas pessoas de uma forma mais
adequada a esta situação limite. Mas muitas vezes estes diferentes estágios
podem também ser experimentados pelo médico, principalmente quando há um
relacionamento mais intimo com o paciente. Essa relação mais humana pode
afectar a sua capacidade para agir conforme o que seria considerado mais
correcto acabando por prejudicar o paciente.[7]

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

4. Intervenção de Familiares
Os familiares de pacientes em estado terminal têm necessidades
específicas e apresentam níveis elevados de stress, distúrbios de humor e
ansiedade durante o acompanhamento do internamento, e que muitas vezes
persiste após a morte de seu ente querido.

É importante que a família e o paciente, percebam que a doença não


desequilibrou totalmente o lar, nem privou os familiares de momentos de lazer.
Desta forma, a doença pode permitir que o lar se adapte e se transforme
gradualmente, preparando-se para quando o doente não se encontrar
presente.

Da mesma forma que o paciente em fase terminal não suporta encarar a


morte o tempo todo, o membro da família não pode, nem deve, excluir todas as
outras relações para ficar exclusivamente ao lado do paciente. As
necessidades da família vão variar desde o princípio da doença, e continuarão
de formas diversas bastante tempo após a morte.

Os familiares merecem um cuidado especial, desde o instante da


comunicação do diagnóstico, uma vez que esse momento tem um enorme
impacto sobre eles, que vêem o seu mundo desabar após a descoberta que
uma doença potencialmente fatal atingiu um dos seus membros. Isso faz com
que, em muitas circunstâncias, as suas necessidades psicológicas excedam as
do paciente e, dependendo da intensidade das reacções emocionais
desencadeadas, a ansiedade familiar torna-se um dos aspectos de mais difícil
controlo.

No entanto, o paciente também pode ajudar os seus familiares de várias


formas. Uma delas é expor os seus pensamentos e sentimentos aos membros
da família, incentivando-os a proceder da mesma forma.

Um dos sentimentos mais doloroso, quando se fala de morte, é a culpa.


Quando uma doença é diagnosticada como potencialmente fatal,

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frequentemente os familiares perguntam-se se devem culpar-se por isto. “Se ao


menos o tivesse mandando antes ao médico!” (Kübler-Ross, 2005, p. 167).
Falar nessas situações para não se sentirem culpados, não é suficiente.
Normalmente, pode-se descobrir a razão mais profunda desse sentimento de
culpa ouvindo essas pessoas com cuidado e atenção. É comum os familiares
culparem-se devido a ressentimentos verdadeiros para com o doente.

Nas situações de pacientes terminais, os familiares têm necessidades


específicas: estar próximo ao paciente; sentir-se útil para o paciente; ter
consciência das modificações do quadro clínico; compreender o que está a ser
feito; ter garantias do controlo do sofrimento e da dor; estar seguro que a
decisão e a limitação do tratamento curativo foi apropriada; poder expressar os
seus sentimentos e angústias; encontrar um significado para a morte do
paciente.

É importante salientar que os membros da família experimentam


diferentes estágios de adaptação, semelhantes aos descritos com referência
aos pacientes. A princípio, pode ser que neguem o fato de que haja aquela
doença na família. No momento em que o paciente atravessa um estágio de
raiva, os familiares próximos podem apresentar a mesma reacção emocional.

Por isso, quanto mais os profissionais de saúde ajudarem o paciente


terminal a atravessar estas emoções negativas antes da sua morte, mais
reconfortados se sentirão os familiares.

Quando a morte chega, a atenção e o cuidado com a família deve


continuar. Deve-se deixar os familiares falar, chorar ou desabafar, se
necessário. Deve-se deixar que participem, conversem, mas é importante ficar
à disposição. É longo o período de luto que tem pela frente.[1]

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

5. Autonomia e Liberdade do Paciente

A autonomia é o direito de cada pessoa ao seu auto governo, e decorre


da dignidade humana e dos direitos humanos fundamentais. Consiste
principalmente no exercício da liberdade da pessoa enquanto agente social.

O ser humano é livre e a autonomia faz parte dessa condição. O paciente tem
então o direito de escolher o que deseja em todos os aspectos da sua vida.

Na prática clínica, a adopção deste princípio implica que os profissionais de


saúde tenham em conta a vontade e opinião dos doentes, que se podem revelar
como abstenção, recusa ou levar à suspensão do tratamento.[8]

O paciente tem a sua vontade própria e o direito de decidir aquilo que quer para
si, e ninguém pode sobrepor-se a isso.

Apesar de se tratar de alguém em final de vida se está consciente do que o


rodeia, este terá capacidade de compreender aquilo que o espera, apesar de não ser
de todo agradável.

Este facto vai conferir-lhe a liberdade para aceitar, preparar-se para aquilo que irá
acontecer, e decidir de que modo o irá fazer. Então a autonomia está sempre ligada ao
conhecimento da verdade.

No entanto, podemos questionar-nos sobre até que ponto terá o paciente o direito
de decidir por si só. Na realidade, é o médico que tem maior conhecimento acerca do
que poderá ser melhor para o paciente, e deve partilhar com ele e os familiares. Após o
conhecimento dos factos, estes poderão escolher o que querem fazer.

Em casos menos graves, ou seja, casos que não envolvam pacientes terminais, o
médico poderá explicar os diferentes tratamentos possíveis, realçando sempre as suas
vantagens, mas, também os riscos existentes, e poderá aconselhar qual o tratamento

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

mais eficaz a seu ver. É a partir daí que o paciente e os familiares poderão opinar se
estão de acordo ou não com a decisão do médico.

Porém, quando estamos perante um paciente que está no término da sua vida,
nem sempre é fácil ter uma opinião concreta, pois o que quer que seja decidido vai ter
consequências. Se o paciente e os familiares estiverem de acordo em seda-lo para que
este não sofra tanto, vai haver a nostalgia e o sentimento de perda antecipado, se por
outro lado for decidido que é melhor manter o paciente “acordado”, este vai sofrer
bastante e os seus últimos dias de vida não serão agradáveis.[5]

O importante é que esta decisão seja tomada com consciência e que sejam
medidos os prós e contras de cada um dos caminhos possíveis. Esta decisão deve
passar principalmente pelo paciente, pois estando lúcido, ele deverá ter a autonomia
para escolher aquilo que considera melhor para si e merece o respeito de quem está
próximo dele, que deve compreender e aceitar a forma como o paciente decidiu passar
os seus últimos de vida.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Análises Individuais

Texto fornecido para análise:

“Uma paciente de 68 anos foi internada em uma UTI, com grave


insuficiência respiratória, necessitando de respirador. Ela estava plenamente
consciente e era capaz de opinar sobre os procedimentos que estavam sendo
realizados. Os seus filhos e esposas estavam junto, dando apoio afectivo. A
equipe médica, no dia seguinte, fez o diagnóstico de que ela tinha um quadro
irreversível e que o seu prognóstico de sobrevida era não superior a 30 dias. A
família foi informada deste diagnóstico, mas a paciente não. Os filhos
solicitaram que esta informação não fosse revelada à paciente, pois não
sabiam como ela lidaria com esta situação. A equipe médica atendeu a esta
solicitação. Da mesma forma, discutiram com a equipe sobre quais medidas
poderiam ser tomadas com o objectivo de reduzir o sofrimento da paciente. O
médico responsável pelo atendimento, que não tinha vínculo anterior nem com
a paciente nem com os familiares, sugeriu sedar a paciente, pois assim o
desconforto do respirador seria menor. Os filhos e noras aceitaram a sugestão
e a paciente foi sedada sem ser informada desta decisão. Após isto, os filhos
vinham receber informações e visitá-la uma vez ao dia.

Em horário nocturno, quando a paciente já estava sedada sete dias, uma


pessoa, apresentando-se como sobrinho da paciente, solicitou ao médico
plantonista da UTI, que ela fosse "acordada" para fornecer a senha de uma
conta bancária, pois era muito importante para ela movimentar determinado
valor. O plantonista, sem consultar outro profissional, nem evoluir no
prontuário, ordenou à equipe de enfermagem que descontinuasse a
administração de sedativo, atendendo a solicitação do pretenso familiar. Na
manhã seguinte, quando a paciente ainda não estava plenamente consciente,
o médico assistente foi informado pela equipe de enfermagem que a
medicação havia sido alterada. Imediatamente mandou administrar a
medicação. Mais tarde, quando os filhos vieram, como de hábito, visitar a

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

paciente e ter informações, souberam, do ocorrido pelo médico assistente.


Disseram não conhecer tal familiar nem ter notícia desta conta bancária. A
paciente foi mantida sedada por mais cinco dias, quando morreu por
insuficiência de múltiplos órgãos.“

Diogo Domingues:

Após a análise do caso, posso afirmar que não concordo com o


procedimento do médico. A paciente não apresentava problemas de saúde
mental, e mesmo assim o médico não lhe transmitiu qualquer informação sobre
o seu estado de saúde, sendo sedada sem o seu consentimento. Compreendo
que os familiares tenham ficado em „‟choque‟‟ com a trágica notícia de poucos
dias de vida, mas independentemente disso, não deveriam ter solicitado ao
médico que não informasse a paciente da sua condição, devendo também o
médico ser respeitador da conduta ética, e negar tal pedido dos familiares,
sendo então a paciente informada.

A paciente estava perfeitamente lucida, pelo que tem indiscutivelmente o


direito às informações do seu estado de saúde, bem como tem o direito ao
consentimento informado, estando dependente dela qual o procedimento a
seguir pelo médico.

Não concordo também com o procedimento do médico do turno da noite,


que interrompe a medicação e acorda a paciente, sem o consentimento dos
elementos da família que tinham consentido o tratamento. Completamente
incorrecto, pois deveria haver um procurador legal, responsável por todas as
decisões a serem efectuadas, que responderia em todas as situações que
envolvessem decisões sobre a saúde da paciente em questão.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Inês Amaral:

Ao analisar o texto fornecido a principal questão que se coloca é “deverá


o médico respeitar a sua fidelidade para com o paciente em qualquer situação
e quais as possíveis razões para que essa fidelidade seja comprometida?”
Tratando-se este caso de uma senhora de idade avançada em estado terminal
há diversos factores que devem ser levados em consideração como o facto de
a morte e a confrontação directa com a mesma ser algo que nos remete para
uma reflexão mais profunda acerca da realidade que é a nossa finitude, é algo
que nos angustia pois não temos conhecimento do que se lhe segue e por isso
mesmo nos obriga a experienciar emoções e conflitos que podem alterar o
nosso discernimento.

Para obter uma melhor qualidade de vida durante uma doença mortal,
deve existir uma comunicação honesta e aberta entre o médico e o doente
sobre as preferências do doente quanto aos cuidados que deseja receber no
final da sua vida. O médico deve informá-lo, de forma imparcial, sobre as
possibilidades de recuperação e de invalidez durante os diferentes tipos de
tratamento e depois dos mesmos. O doente deve tomar uma decisão, tendo em
conta esta informação. Além disso, o paciente deve indicar qual é o tratamento
que deseja escolher, quais são os limites que deseja fixar para esse
tratamento, o lugar onde quer morrer e o que espera que se faça quando a
morte chegar.

O paciente pode sempre indicar um representante que estará autorizado


a tomar decisões sobre a sua assistência médica no caso de este já não estar
em condições de o fazer por si mesmo. Se o doente não nomear um
representante, essas decisões são tomadas, normalmente, pelo familiar mais
próximo. Tal acontece precisamente porque se considera que um familiar ou
alguém próximo do paciente terá em conta nas tomadas de decisões as
concepções do próprio paciente e por isso respeitará sempre o que
consideraria que o paciente decidiria perante esta ou aquela situação. Na

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verdade o representante não decide o que ele próprio considera mais


adequado mas sim o que considera que o familiar ou amigo decidiria.

Na minha opinião houve negligência pela parte do profissional pelo facto


de ter omitido ao paciente tanto o verdadeiro estado em que este se encontra,
como também o plano de tratamento que ia ser exercido sobre ele. Ao tomar a
decisão de não dar a saber à paciente a situação em que se encontrava, o
médico quebrou claramente a relação de confiança e de confidencialidade que
são pilares fundamentais da relação médico/paciente

O médico deve transmitir toda a informação ao paciente tomando as


devidas precauções e tendo em conta a possível destabilização psicológica
que estas possam causar. A transmissão dessas mesmas informações aos
familiares deve ser feita pelo paciente, se este assim desejar, ou pelo
profissional de saúde com o devido consentimento do paciente.

A fidelidade do profissional de saúde é assim para com o paciente e não


para com terceiros.

No caso exposto o médico quebra a relação que tem com o paciente


transferindo-a para os familiares. Com esta tomada de decisão impediu-se
qualquer tipo de envolvimento por parte do paciente na tomada de importantes
decisões que lhe dizem respeito e que só ele tem a liberdade de tomar

Sendo a autonomia e a capacidade de tomar decisões bem evidente no


que diz respeito a esta paciente não se encontram razões plausíveis para a
excluir dessas mesmas decisões.

A participação activa por parte do paciente não deve de modo algum ser
restringida ou completamente posta de parte, como foi o caso.
Independentemente da idade avançada, esta paciente encontrava-se na plena
posse das suas capacidades mentais não podendo a sua opinião ser ignorada
e não existindo qualquer razão válida para a omissão de informação.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

A par da actuação claramente discutível do médico também os próprios


familiares, ao pactuarem com a situação, mostraram desrespeito pelo familiar
arrogando-se o direito de tomar, abusivamente, decisões que apenas ao
doente diziam respeito usando assim um poder a que não tinham qualquer
direito.

Sendo esta paciente uma mulher idosa pode supor-se que em ocasiões
anteriores ao seu internamento esta já tenha pensado na sua morte, tendo
talvez uma maior capacidade de lidar com a situação do que qualquer outra
pessoa envolvida no processo. Tendo em conta este facto o paciente pode ter
sido deliberadamente privado de por em prática alguma decisões que possa já
ter tomado não vendo alguns dos seus desejos cumpridos por negligência,
desrespeito e desconsideração.

A dificuldade em contar a verdade ao paciente por parte de um médico


pode advir do facto de este se sentir impotente e incapacitado para mudar a
situação gerando um sentimento de raiva ou negação da sua parte. Estes
sentimentos são normalmente experimentados quando existe uma relação
prévia entre o paciente e o médico o que faz com que a situação se torne
também pessoal e por isso mesmo muito mais difícil de tolerar. No entanto,
através do texto fornecido podemos verificar que não existia qualquer vínculo
anterior entre o médico e a paciente ou entre o médico e os familiares o que faz
com que esta justificação para omissão da verdade seja menos válida.

São os sentimentos do paciente e não os do médico que devem ser


levados em consideração aquando da comunicação das informações, por
outras palavras, o médico não pode basear as suas decisões no que sente ou
em como isso o afecta directamente mas sim em como o paciente será
afectado. As suas decisões devem ser tomadas sempre em prol do que é
melhor para o paciente.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Claro que é sempre possível pensar que o médico agiu de boa-fé, que
tinha o único intuito de evitar uma enorme angústia no doente, de evitar o
sofrimento mas, na verdade, arrogou-se o direito de tomar decisões que não
lhe competiam de todo.

Um reforço para a ideia de que existe um absoluta falta de consideração,


concentração e comunicação por parte dos médicos e profissionais envolvidos
no seu caso é o facto de o procedimento médico exercido sobre a paciente ter
sido alterado sem qualquer consentimento quer dos familiares quer do médico
responsável. Isto demonstra mais uma vez que as decisões tomadas por parte
dos profissionais não levam em consideração o melhor interesse do paciente
mas, em vez disso, apenas contemplam o melhor interesse de terceiros.

Maria Inês Morais:

Após a leitura deste caso, de uma paciente em estado terminal, posso


afirmar que as medidas tomadas, assim como os comportamentos dos
intervenientes deste processo não foram os mais correctos a nível ético e
profissional.

Começo por apontar como falha o facto de a paciente não ter sido
informada do seu estado. Tendo em conta que estávamos perante uma
senhora de 68 anos que “estava plenamente consciente” e “era capaz de
opinar sobre os procedimentos que estavam a ser realizados”, não se justifica
que esta não tenha tido conhecimento da sua verdadeira condição. Os
familiares defenderam que não deviam contar-lhe nada, pois “não sabiam como
ela lidaria com esta situação”. Apesar de se perceber que a família a queria
poupar desta notícia grave, estamos a falar de uma pessoa que se encontrava
lúcida e poderia muito bem ter sido informada, pois tinha esse direito.

Consequentemente, a equipa de médicos responsáveis também não agiu


da forma mais correcta, pois deveria ter alertado os familiares de que, estando

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

a paciente consciente daquilo que a rodeava, deveria ter acesso às


informações acerca da sua situação.

Depois disto, foram discutidas as medidas a tomar para que o sofrimento


da paciente fosse o menor possível no tempo que lhe restava. O médico
responsável pelo caso decidiu sedar a paciente, para evitar o desconforto do
respirador que ela teria de usar para se manter viva. Uma vez mais, tal não foi
comunicado à paciente. Esta decisão não foi de todo coerente, pois não se
saber se a paciente concordaria com ela. Ela poderia preferir manter-se
“acordada” e aproveitar assim os últimos momentos com os seus entes
queridos. No entanto, como a paciente não teve esse direito de escolha, e os
familiares concordaram com as medidas da equipa médica, a paciente acabou
mesmo por ser sedada...

Sete dias depois, aconteceu algo que considero o mais grave em todo
este caso: durante a noite, uma pessoa completamente estranha surgiu no
hospital, dizendo ser sobrinho da paciente em causa e solicitou ao médico que
estava de serviço na altura para acordar a paciente, para que esta lhe
fornecesse a senha de uma conta bancária, e alegou ser muito importante. O
médico, sem consultar outro qualquer profissional, acedeu ao pedido do
suposto sobrinho.

Na manhã seguinte, quando o médico que estava a assistir o caso soube


do ocorrido, mandou que a equipa de enfermagem voltasse a administrar a
medicação à paciente. Quando os familiares habituais vieram visitar a paciente
e souberam do que se tinha passado na noite anterior, mostraram-se confusos
e disseram não ter conhecimento deste “sobrinho” e da suposta conta bancária.

Ora, tudo isto é gravíssimo, pois nunca se deveria ter acordado a


paciente, principalmente para algo que não se tinha a certeza de ser
verdadeiro. É lamentável que este tipo de coisas aconteçam. Não podemos
esquecer-nos que a paciente não tinha noção do que lhe estava a acontecer, e
ao ser “acordada” desta forma, certamente ficou bastante desorientada. Tudo

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

isto demonstra uma falta de ética e profissionalismo por parte da equipa


médica. Como se não bastasse não saber do que lhe estava a acontecer, este
erro médico levou com que a paciente fosse burlada. A paciente continuou
sedada, e passados 5 dias esta acabou por morrer por insuficiência de
múltiplos órgãos.

Este caso e a forma como foi tratado deve servir de exemplo futuro para o
que NÃO deve ser feito em situações com pacientes em estado terminal. Tem
de existir um maior respeito pelo ser humano e pelos seus direitos enquanto
doente.

Nicole Baptista:

Este caso demonstra um exemplo de várias situações de desrespeito para com


uma paciente em fase terminal de vida. Houve falta de respeito pelo seu direito a
informação completa e verdadeira sobre o seu estado físico, pela sua liberdade e
autonomia como individuo.

A paciente encontrava-se consciente e com capacidade de opinar. Contudo, não


foi informada sobre os procedimentos realizados e possibilidades terapêuticas caso as
mesmas existissem. Assim, foi aniquilado o seu direito de esclarecer as suas dúvidas
sobre o que se estava a passar com o seu organismo.

O facto de os seus familiares estarem presentes fornecendo auxílio afectivo pode


ter conduzido a equipe médica a apoiar-se neste acontecimento para evitar a
transmissão dos factos ou diálogo directo acerca deste assunto tão delicado com a
paciente. Deste modo, o poder de decisão da transmissão da informação à paciente
passou a ser dos familiares. Quando a equipe médica diagnosticou que o período de
vida daquela paciente era muito curto forneceu a informação primeiramente à família, e
novamente, omitiu a verdade à paciente pois os familiares optaram por manter a

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

paciente no estado de ignorância temendo a sua reacção. Independentemente da


forma como reagiria a paciente deveria ter sido informada.

A equipe médica deveria ter-se mantido fiel à sua conduta ética, convencendo a
família que a melhor opção seria informar a paciente e fornecendo duas opções: a
família dar a informação ou um profissional de saúde especializado. Contudo, deve se
ter em consideração que o conhecimento e consciência da mortalidade e finitude da
existência, poderia conduzir a uma alteração emocional ou psicológica o que poderia
levar ao agravamento da sua situação. Por esse motivo, independentemente do
transmissor da notícia a mesma deveria ser transmitida de forma individualizada,
sequenciada, verdadeira, realista e com acompanhamento psicológico. Isto é, de modo
a que esta se adequa-se á pessoa, fosse fornecida por etapas evitando assim um
choque violento e para não criar falsas espectativas ou maior ansiedade pelo
desconhecido. (apesar de a morte ser um mistério é a única coisa certa que temos na
vida.)

Tendo em conta que a paciente apenas teria no máximo 30 dias de vida, portanto,
encontrava-se em fase terminal podemos nos questionar se o agravamento da sua
situação seria relevante para a quebra do seu direito de conhecimento da realidade e
de autonomia individual. Era seu direito que esse tempo já por si reduzido pudesse ser
passado da forma que ela o desejasse. Por exemplo, poderia querer elaborar um
testamento ou reconciliar-se com quem estaria chateada, poderia optar por ser sedada
apenas no limiar das suas dores. A liberdade de escolha é um direito do ser humano e
neste caso não foi respeitado.

É de destacar que ninguém sabia qual a reacção que ela iria tomar, tanto poderia
ser conflituosa como também poderia ser pacifica. As medidas que poderiam ser
tomadas com o objectivo de diminuir o sofrimento da paciente deveriam ter sido
decididas pela própria paciente em conjunto com a família e profissionais de saúde o
que não aconteceu. A discussão sobre quais as melhores medidas, foi feita somente
entre profissionais e família. Assim, repete-se a falta de respeito pela autonomia e
liberdade da paciente. A sugestão de sedar a paciente para evitar o seu sofrimento foi
fornecida pelo médico responsável pelo atendimento, que não tinha qualquer relação

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

anterior nem com a paciente nem com os familiares, ou seja, este médico talvez nem
estivesse alerta sobre a quebra dos princípios éticos neste caso e nem imaginasse que
a paciente seria sedada sem o seu consentimento. A família escolheu seda-la sem o
seu consentimento e mais uma vez o código de ética foi ignorado. Após este
acontecimento todos os dias os filhos iam visita-la e receber informações, o que
também devia ser doloroso, similar a um velório antecipado, mas, com duração
superior.

A decisão do plantonista em despertar a paciente devido a um pedido de um


suposto familiar revela novamente uma intolerável falta de comunicação existente não
só entre médico e paciente, mas também, entre a equipe hospitalar. Demonstra
também uma tremenda falta de respeito pela paciente que para além de estar sedada
sem consentimento é desperta novamente após 7 dias e certamente se iria sentir
confusa e em sofrimento. Sem qualquer prova de veracidade do parentesco daquele
individuo, a paciente foi desperta do seu estado induzido de coma com o pretexto de
fornecer a senha bancária. O platonista não consultou ninguém por ingenuidade e
irresponsabilidade.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Conclusão

É considerado paciente terminal aquele que sofre de uma enfermidade incurável e


com prognóstico fechado, assim como os que estão em processo irreversível da
morte.[9]

O fim de vida por patologia é uma situação delicada e extrema vivida pelo
paciente como pessoa que ultrapassa o conhecimento biológico da intervenção
médica. Envolve uma componente psicológica e emocional mais profunda e delicada
do que o tratamento terapêutico, pois, trata-se de lidar com a fragilidade do ser humano
e consciência da sua finitude.
A particularidade desta situação torna assim evidente a existência de uma
componente ética envolvida na relação entre médico e paciente. [10]

Na relação existente entre profissional e paciente devem ser respeitados os


quatro princípios fundamentais que servem de base para o agir humano: Beneficência;
Não Maleficência; Justiça e Autonomia. [11]

O código deontológico dos médicos assim como os princípios éticos devem ser
respeitados, no entanto, na situação do paciente terminal torna-se paradoxal segui-los,
sendo cada caso um caso particular.
Na situação limite vivida pelo paciente devem ser considerados como básicos e
incontornáveis os direitos do paciente como pessoa de saber a verdade, dialogar,
decidir e não sofrer inutilmente. [10]

Portanto, o profissional de saúde deve dialogar com o paciente terminal


fornecendo informações completas e verdadeiras sobre o seu estado de saúde. Após
isto deve haver uma decisão com o mesmo sobre a melhor opção para diminuir o seu
sofrimento físico, permitindo que a decisão final seja realizada pelo paciente
respeitando o seu direito à veracidade e fornecimento de informações completas, assim
como a sua autonomia.

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Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

Bibliografia

2. Relação Paciente Terminal - Médico

[1] Juliana Alcaires Mendes, Maria Alice Lustosa, Maria Clara Mello Andrade:
Paciente terminal, família e equipe de saúde, em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-
08582009000100011&script=sci_arttext

[2] Daniel Serrão: Ética em cuidados de saúde, Porto Editora, 1996

3. O Confronto com a Morte

[3] http://www.ebah.com.br/paciente-em-fase-terminal-ppt-a55373.html
[4] Carlos Fernando Francisconi; José Roberto Goldim: Problemas De Fim De Vida:
Paciente Terminal, Morte E Morrer, em http://www.ufrgs.br/bioetica/morteres.htm
[5] Franklin Leopoldo e Silva: DIREITOS E DEVERES DO PACIENTE TERMINAL
Dept. de Filosofia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Univ. de
São Paulo, em http://www.portalmedico.org.br/revista/bio2v1/direitdeve.html
[6] Heloise Zanelatto Neves, colaboração de Márcia Lucrécia Lisboa e Juadir
Copat: A MORTE E O MORRER, em http://www.ccs.ufsc.br/psiquiatria/981-09.html
[7] http://www.ufrgs.br/bioetica/estagio.htm

4. Intervenção de Familiares

[1] Juliana Alcaires Mendes, Maria Alice Lustosa, Maria Clara Mello Andrade:
Paciente terminal, família e equipe de saúde, em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-
08582009000100011&script=sci_arttext

22
Caso do Paciente Terminal e Respeito à Pessoa

5. Autonomia e Liberdade do Paciente

[8] Beauchamp e Childress (1994): Princípios éticos que orientam a actuação


clínica quando há ausência de consenso

[5] Franklin Leopoldo e Silva: DIREITOS E DEVERES DO PACIENTE TERMINAL


Dept. de Filosofia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Univ. de
São Paulo, em http://www.portalmedico.org.br/revista/bio2v1/direitdeve.html

Conclusão

[9] http://www.ebah.com.br/paciente-em-fase-terminal-ppt-a55373.html
[10] http://www.portalmedico.org.br/revista/bio2v1/direitdeve.html
[11] http://www.ufrgs.br/bioetica/modprin.htm

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