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1. Fundamentos
Durante o primeiro capítulo da obra, o autor realiza uma breve introdução sobre a
Escola Gestáltica, trazendo à tona alguns de seus princípios e conceitos norteadores. Como
será visto a seguir, muitos destes princípios, que servem de alicerce para a Psicologia
Contemporânea, se contrapõem às doutrinas utilizadas anteriormente pela Psicologia
Tradicional, trazendo assim uma interessante discussão a cerca das mudanças no foco de
estudo e na atuação do profissional da área.
A Psicologia de Gestalt
Um primeiro conceito importante abordado pelo autor é de que “é a organização de
fatos, percepções, comportamentos ou fenômenos, e não os aspectos individuais de que
são compostos, que os define e lhes dá um significado específico e particular”. Essa
organização ainda, se dá em função de objetos de interesse que se destacam de todo um
universo de possibilidades, e que podem estar em constante mudança.
A partir desta idéia, Perls introduz a idéia de Gestalt - uma palavra de origem alemã e
que não possui uma tradução exata, mas muitas vezes é entendida como “forma” – que
nos traz a idéia de um todo formado por partes que se inter-relacionam. Logo, a Psicologia
Gestáltica (também por ele idealizada), propõe que a natureza humana é organizada em
partes ou todos (processos), e que, o individuo só pode ser compreendido a partir do
entendimento conjunto (e não individualizado) de suas experiências prévias.
Homeostase
O segundo conceito abordado pelo autor é que todo comportamento, ou seja, a
interação de um indivíduo com o seu meio é governado pelo processo de Homeostase -
manutenção do equilíbrio diante de situações adversas (satisfação de necessidades).
A Homeostase ocorre a todo o momento da vida do individuo, mantendo o estado de
equilíbrio. Porém quando este mecanismo falha, ele adoece.
A Doutrina Holística
O desenvolvimento da Ciência, de uma maneira geral, se ocupou em dividir o homem
no nível do pensar e do agir. Desta maneira, muito conhecimento cerca de cada uma dessas
áreas foi produzido, porém, muito deixará de ser compreendido se ambas não forem vistas por
meio de suas interações.
A Psicologia Gestáltica, através do ideal Holístico de unidade, propõe o fim da
dicotomia entre o agir e o pensar, se utilizando do ponto de vista da demanda energética.
De acordo com Perlz, a habilidade mental de utilizar símbolos e abstrair, nada mais é
do que agir em imagem – ou seja, reproduzir a realidade em uma escala reduzida ( Fantasia),
economizando tempo, energia e trabalho para o individuo. Deste conceito, deriva a definição
de Atividade Mental: atividade em que a pessoa total exerce num nível energético inferior ao
das atividades denominadas físicas.
O organismo passa então, a agir e reagir a seu meio com maior ou menor intensidade;
a medida que diminui a intensidade o comportamento físico se transforma e comportamento
mental. Quando a intensidade aumenta o comportamento mental torna-se comportamento
fiísico.
A partir desta nova visão, o terapeuta não está mais limitado a atuar pelo que o
paciente diz e pensa, mas sim pelo que ele faz.
Limite de Contato
O individuo só existe em um campo total, composto por ele mesmo e o meio em que
está inserido. A relação que os dois estabelecem entre si (contato) determina o
comportamento do ser humano. Se esta relação é mutuamente satisfatória, o comportamento
do individuo é considerado normal. Porém, se esta é uma relação de conflito, o
comportamento do individuo é considerado anormal.
A Psicologia Gestáltica, então, prega que os eventos psicológicos (comportamento)
ocorrem na fronteira do contato entre o individuo e seu meio, e que é altamente dependente
da relação entre ambos. Em contraponto, a Psicologia Tradicional defende que o
comportamento do homem é regido por forças internas ou externas, estabelecendo a
confusão como a ausência desta dicotomia.
O comportamento do indivíduo é sempre dirigido à satisfação de uma necessidade
dominante (como visto anteriormente). Se o processo homeostático falha, o indivíduo não
consegue saciar-se, e passa então a comportar-se de modo desorganizado e ineficaz –
caracterizando assim, o quadro neurótico.
2. Mecanismos Neuróticos
O Nascimento da Neurose
Perlz define o individuo que pode viver em contato intimo com sua sociedade, sem ser
tragado por ela nem dela completamente afastado como um homem bem integrado. Sendo
assim, a busca da psicoterapia é criar tal homem.
Inserido em uma sociedade, o individuo, governado pelo princípio da homeostase, deve
buscar o equilíbrio entre as suas necessidades pessoais e as demandas impostas pelo meio (no
caso, as leis que regem tal sociedade). A falha no estabelecimento deste ponto de equilíbrio
pela repressão de ações que visavam mantê-lo pode acabar por gerar dois tipos de disfunção:
o criminoso (individuo que entrou em choque com a sociedade, pela excessiva busca de suas
necessidades pessoais, e que tende a se ver em primeiro plano com relação à sociedade. Além
disso é incapaz de ver as necessidades dos outros), e o neurótico propriamente dito (individuo
que se retraiu excessivamente, permitindo que a sociedade o influencie demasiadamente, e
que tende a se ver em segundo plano com relação à sociedade. Além disso, é incapaz de ver e
satisfazer claramente as suas necessidades).
Com relação às causas dessas disfunções que podem ser geradas, Perlz as atribui a
incapacidade do individuo de definir qual é dominante, em situações onde ele próprio e a
sociedade vivenciam necessidades diferentes. A falta de decisão, não gerando um bom
contato ou uma boa fuga afeta a ambos.