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Conselho de Estado
Dentre as medidas administrativas importantes, encontra-se em 1841, a restauração do
Conselho de Estado, criado por D. Pedro I, quando dissolveu a Assembléia Constituinte,
e que havia sido suprimido pelo Ato Adicional de 1834. Este conselho, formado por doze
membros ordinários e doze extraordinários, existiu até a proclamação da República.
Tinha "amplo
objetivo, que atingia à boa execução das leis, decretos, regulamentos e até propostas do
monarca à Assembléia Geral. E digno de nota que, consoante bem ponderou Tavares Lira
(Duas Memórias, pág. 123) nosso direito administrativo e financeiro se formou menos
por atos do poder legislativo do que por decretos do executivo. E é lícito assegurar que
para isso muito concorreu o Conselho de Estado."2
Organização Econômica
A economia do Brasil Império, evidentemente, seria uma continuação da Colônia e do
Brasil Reino, com novas perspectivas que se abriam para uma nação independente, sem
restrições de alvarás e cartas régias que proibiam certas atividades, porém sem saltos,
dentro de uma evolução natural.
O Café
Na agricultura, além dos produtos já referidos, tivemos â cultura do café, que embora
aqui chegado em 1727, somente no Império teve o grande impulso que o tornou o esteio
da economia nacional.
Afonso de Taunay escreve:
"Tem-se como incontestável que a Francisco de Melo Palheta, brasileiro, natural do Pará,
oficial do exército português colonial do Brasil, onde atingiu o posto de sargento-mor, e
que equivaleria hoje a major, se deveu a transplantação do cafeeiro às terras brasileiras.
Era homem do mais real valor. Sua biografia como a de muitos de seus contemporâneos
do Brasil colonial, encerra numerosas obscuridades e lacunas a que talvez remova melhor
exploração dos arquivos."
Tão importante é a introdução do café no Brasil que quando se fala em Palheta não se
pensa em outra coisa.
Trouxe para o Brasil cinco mudas de café e "mais de mil grãos capazes de germinar,
como mais tarde informaria a D. João V, em 1733, ao alegar serviços prestados à Coroa."
Por aí se vê que apenas sete anos depois da introdução do café no Brasil êle já deveria
representar alguma coisa, pois, caso contrário, não seria serviço digno de ser mencionado.
Até 1760, o café ficou pelo Norte. Nesse ano, porém, é trazido para o Rio de Janeiro pelo
desembargador João Alberto Castelo Branco, que fora transferido do Pará para aquela
cidade.
"Deu-se, segundo parece, em 1760, a chegada das mudas do Chanceler Castelo Branco ao
Rio de Janeiro.
Pretendem alguns autores que o primeiro cultivador da rubiácea em terras fluminentes foi
o holandês João Hoppmann, dono de grande chácara em Mata-Porcos, então nos
subúrbios do Rio.
Dizem outros que esses pioneiros da cafeicultura foram os capuchinhos italianos, ou
Barbonos, em sua chácara, hoje desaparecida, pois corresponde a uma parte do coração
da cidade.
O ilustre botânico Freire Alemão perfilha esta versão. Documentou-a, contando que a
plantação dos capuchinhos foi de 1762 e a de Hoppmann de 1770 e realizada a instâncias
do vice-rei marquês do Lavradio."4
Eis, enfim, o café no Rio de Janeiro. Aqui começa a etapa decisiva de sua gloriosa vida.
Chegou-se a afirmar, e com razão, que o café era o Brasil.
Vê-lo-emos, em seguida, alastrando-se pelo Rio, penetrando o fecundo Vale do Paraíba,
espalhando-se por São Paulo, enriquecendo o Brasil.
Em 1820, o Rio de Janeiro exportou 97 500 sacas de café e dez anos depois, sendo o
Brasil independente há oito, o dito porto exportava 391 785 sacas.
Dos municípios produtores de café, então, o mais destacado era Vassouras. Depois
vinham Cantagalo, Valença, Paraíba do Sul etc. O café se transformou em notável fonte
de riqueza. Pelos números é fácil de se evidenciar a assertiva. Em 1820 o Rio de Janeiro
exportava 97 500 sacas, em 1850 a produção subiu a 1 343 484, e dez anos mais tarde, ou
seja em 1860, atingia 2 127 219, num crescente, até que veio a ceder o cetro a São Paulo,
cujo cultivo demorou um pouco, devido à falta de bom transporte e de braços.
Do Rio, o café iniciou sua marcha pelas províncias de São Paulo, Minas e Espírito Santo.
O Vale do Paraíba se apresentava como estrada natural para a evolução do exército verde
dos cafezais.
No período que vai de 1830 a 1860, as lavouras açucareiras, em São Paulo, começaram a
ser substituídas pelo café, ou melhor, o café passou a ser mais cultivado do que a cana-
de-açúcar.
"A principal lavoura era a de cana-de-açúcar, iniciada em 1532, quando começou a
colonização do território paulista. O centro da cultura açucareira ficava em Itú, então
metrópole agrícola da terra dos bandeirantes: em 1819 contava esse município
mais de 100 engenhos, produzindo cerca de 100 000 arrobas de açúcar. Campinas, que
principiava a prosperar com rapidez, neste mesmo ano já possuía 60 engenhos de açúcar,
sendo 15 movidos a água, e cerca de 40 de aguardente: sua produção anual excedia de
100 000 arrobas. Toda a região açucareira, compreendendo Campinas, Itú, Piracicaba,
Porto Feliz, Sorocaba e Jundiaí, até Mogi-Mirim, exportava aproximadamente 300 000
arrobas de açúcar, cujo preço regulava de 1S000 a 1S200 a arroba do branco. (…) Cinco
anos após a Independência, em 1827, uma estatística indicava 570 engenhos da província,
produzindo 795 365 arrobas de açúcar e 247 939 barris de aguardente. A produção do
café naquela data, não devia exceder de 360 000 arrobas, pois Taubaté não produzia mais
de 10 846 arrobas em 1830. (…) Depois de 1835, a cultura começou a derivar-se para o
chamado Oeste, onde vai estender-se rapidamente, favorecida pela terra roxa e pelo clima
adequado. Ainda em 1835-36 o município de Campinas, nessa fertilíssima região,
produzia apenas 808 arrobas de café. Mas dentro em pouco os fazendeiros, seduzidos
pelos lucros da lavoura cafeeira, a ela se dedicaram de preferência, abandonando a cana.
De tal arte, em 1850 a produção do referido município constava de 200 000 arrobas de
café 160 000 de açúcar."5
Em 1854, o café já suplantava a cana-de-açúcar. Assim é que, para 2 618 fazendas
daquele havia 667 desta, e o valor da produção do primeiro era de 10 461 173$000,
enquanto a da segunda era de 1 630 050S000 (açúcar e aguardente).
Na segunda metade do século passado, as vias férreas dariam à rubiácea enorme
expansão que, em breve, o Rio de Janeiro passaria para segundo plano e os paulistas
dominariam, de modo absoluto, o mais notável setor agrícola do Brasil em todos os
tempos. Em 1870 sua produção somava 3 342 251 arrobas. O açúcar caiu tanto que,
quase inacreditável, São Paulo passou a importá-lo de outros Estados.
"Quase no fim do regime imperial, em 1884-85, quando a corrente imigratória principiou
a tornar-se importante, a produção agrícola discriminava-se assim: café, 9 779 151
arrobas; açúcar, 448 545 arrobas; aguardente, 160 000 hectolitros; algodão, 1 365 551
arrobas; fumo, 133 000 arrobas; vinho, 12 600 hectolitros; e quantidades não conhecidas
de milho, feijão, arroz, batata etc."0
Dito isto sobre a produção do café em São Paulo e feitas as comparações com outros
produtos vejamos agora, a exportação do produto durante o Império:
Quantidade de café exportado pelo Brasil em milhares de
sacas:
1821-1830 …………………. 3 178
1831-1840 …………………. 9 744
1841-1850 …………………. 17 121
1851-1860 …………………. 26 253
1861-1870 …………………. 28 847
1871-1880 …………………. 36 336
1881-1890 …………………. 53 326
É de se assinalar que de 1871 em diante, o Brasil exportou sobre o conjunto mundial,
56,6% no decênio 1871-1880, e 61,5% no 1881-1890.
Indústria
A indústria propriamente dita, só começou a desenvolver-se na segunda metade do século
XIX.
No princípio daquela centúria houve iniciativas governamentais de organizar-se empresas
metalúrgicas em São Paulo e Minas, tendo D. João contratado técnicos alemães
(Varnhagen, pai do historiador, e Eschwege) para organizarem essa importante iniciativa.
Mas o fato é que o Brasil, como Portugal, preso à Inglaterra por tratados de comércio,
somente mais tarde teria condições de desenvolver-se industrialmente.
O Tratado de 1810 era uma herança pesada e desinteressante.
Dos tempos coloniais vinham-nos proibições como a de fabricar sabão (Alvará de 5 de
fevereiro de 1767), a de haver manufaturas no Brasil (Aviso Régio de 5 de janeiro de
1785) e a que impedia que os governadores recebessem em audiência pessoas cujas
roupas não fossem feitas de pano importado de Portugal (Ordem Régia de 5 de junho de
1802), etc.
De 1850 em diante as coisas vão tomando outro sentido. A tranqüilidade que ia se
implantando à medida que o Imperador crescia em idade e em poder, a presença de um
homem forte como Caxias, e, logo mais, o aparecimento de um vulto empreendedor e
progressista como Mauá, capaz de entender o sentido social da riqueza e de promover
iniciativas beneficiadoras do bem público e do povo, as rupturas, embora lentas, dos
liames que
nos prendiam à Grã-Bretanha, tudo isso ensejaria ao Brasil um passo firme na rota do
progresso.
Ação de Mauá
Mauá encarna um momento decisivo da nossa história econômica.
"No seu tempo, soprou um vento renovador em nossa economia. Caio Prado Júnior
assinala que no decênio posterior a 1850 fundaram-se 62 empresas industriais, 14 bancos,
3 caixas econômicas, 20 companhias de navegação a vapor, 23 de seguros e de
colonização, 8 de mineração, 3 de transporte urbano, 2 de gás e finalmente 8 estradas de
ferro. Calógeras menciona que, de 1839 a 1874, o número de viagens aumentou de 50%
sob a bandeira brasileira e de 101% sob o pavilhão de outras nações, a tonelagem cresceu
de 130% no primeiro caso e de 414% no segundo. Em 1859, quase todos os barcos eram
veleiros, enquanto que em 1873 já possuíamos 29 % movidos a vapor. Dez anos após a
inauguração da primeira estrada de ferro, isto é, em 1864, a extensão trafegada atingiu a
475 quilômetros, a 1 801 em 1875 e a 9 583 em 1889. De 55 740 contos nas importações
e 52 449 contos nas exportações, em 1846-47, passamos para 76 918 contos nas entradas
e 67 788 contos nas remessas para o exterior, cinco anos depois, ou seja, em 1850-51. Ao
findar a década, em 1860, tínhamos um acréscimo de 150% em doze anos, com equilíbrio
em nosso comércio exterior e daí por diante as exportações excedendo às importações.
(…) Esse impulso admirável de nossa vida econômica era, boa parte, obra de Mauá,
reflexo de sua ação, mas que ao mesmo tempo atuava sobre êle, impelindo-o para a
frente, juntamente com outros, de atuação destacada na época. O comércio renovou-se e
ampliou-se; nasceram indústrias; novos meios de transporte e comunicação apareceram,
dando lugar a uma expansão considerável da riqueza nacional."7
O visconde de Mauá (Irineu Evangelista de Sousa) após ter sido um dos propulsores do
progresso do Brasil, teve que enfrentar momentos dos mais difíceis, quando da falência
de Mauá & Cia. E não querendo deixar sem uma explicação do desastre que tão
duramente o atingia, publicou, cm 1878, um longo trabalho, que é a história de sua vida,
cheia de lutas, realizações e tormentas. Este trabalho intitula-se Exposição do Visconde
de Mauá aos Credores de Mauá & Cia. e ao Público.
Barão de Mauá.
Extensão das estradas de ferro no Império:
1854 …………………… 14 quilômetros
1864 ………………….. 475
1875 …………………… 1.801
1889 …………………… 9.583
No período Republicano, não incluindo as linhas suprimidas, foram construídos
22.471 quilômetros de estradas de ferro, chegando, assim, em 1968, a somar 32.054
quilômetros.
A Primeira locomotiva do Brasil e da América Latina. Chamava-se "Baronesa" em
homenagem à esposa do grande empreendedor que -foi o
"Na idade avançada em que me acho — escreve Mauá — em presença do acontecimento
que motiva esta exposição, realizada pelo modo por que me foi resolvido, não posso ter
outro objeto em vista senão salvar do naufrágio aquilo que para mim vale mais do que
quanto ouro tem sido extraído das minas da Califórnia — um nome puro, pois persisto
em acreditar que o infortúnio não é um crime.
Entre as empresas que criei e as que tiveram existência devida aos meus esforços e
auxílios que lhes prestei — bem como alguns serviços de vulto, quer pessoais, quer os
que se basearam no meu crédito pessoal, e ulteriormente nos recursos da Casa Mauá
durante o segundo período da minha vida financeira, que começou há 32 anos, nem todos
foram acompanhados de resultado favorável (…)"
E numera, lembrando-se, sem outra fonte que a própria memória, as seguintes
realizações:
Estabelecimento da ponta da areia; Companhia de Rebocadores para a barra do Rio
Grande; Companhia de Iluminação a gás do Rio de Janeiro; Serviços prestados à política
do governo imperial no Rio da Prata, a pedido dos ministros; Companhia Fluminense de
Transportes; Banco do Brasil (anterior ao atual); Companhia de Estrada de Ferro de
Petrópolis (vulgo Mauá); Companhia Navegação a Vapor do Amazonas; Serviços
prestados à realização da Estrada de Ferro da Bahia; Companhia Diques Flutuantes;
Companhia de Cortumes; Companhia de Luz Esteárica; Montes Áureos gold mining
Company; Estrada de Ferro Santos a Jundiaí; Serviços prestados à Estrada de Ferro D.
Pedro II; Serviços prestados ao caminho de ferro da Tijuca; Botanical Garden’s Rail
Road Co.; Exploração da Estrada de Ferro do Paraná ao Mato Grosso; Cabo Submarino;
Abastecimento de água à Capital do Império; Estrada de Ferro do Rio Verde; Banco
Mauá & Cia.; e Serviços prestados à agricultura.
Declara que essa lista está incompleta e que nela não estão contemplados "serviços
diretos prestados aos esforços de outros no sentido de levarem avante melhoramentos
materiais do país", em que êle Mauá não apareceu, serviços esses cuja relação seria
longa.
NOTAS
1 Afonso Arinos de Melo Franco, A Maioridade ou a Aurora do Segundo Reinado,
edição do Departamento de Estudos Brasileiros do Centro Acadêmico XI de Agosto
da Faculdade de Direito da U.S.P. organizada e revista por Brasil Bandecchi, São
Paulo, 1940.
2 Basílio de Magalhães, História Econômica e Administrativa do Brasil, Rio de
Janeiro, 1951.
3 Rui Cirne Lima, Terras Devolutas, Porto Alegre, 1935.
4 Afonso de E. Taunay, A Propagação da Cultura Cafeeira, Rio de Janeiro, 1934.
5 Paulo R. Pestana, A Expansão Econômica do Estado de São Paulo num Século
(1822-1922), São Paulo, 1923.
6 Paulo R. Pestana, ob. cit.
7 Heitor Ferreira Lima, Mauá e Roberto Simonsen, São Paulo, 1963. História
Político, Econômica e Industrial do Brasil, São Paulo, 1970.
8 Perdigão Malheiro, A Escravidão no Brasil, São Paulo, 1944.
9 Idem.
10 Afonso de E. Taunay, Pequena História do Café no Brasil, Rio de Janeiro, 1945.
http://www.consciencia.org/resumo-de-historia-do-brasil-o-segundo-reinado