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Título do Trabalho: Poder, Violência e Psicanálise

Nome do Autor: Helena Maria de Andrade Conde

Endereço do Autor: Av. Delfim Moreira, 300/1301, Leblon, Rio de Janeiro, R.J., CEP
22441-000

Breve Nota Curricular: Picanalista, Especialização em Psicologia Clínica pela USP


(Laboratório Sujeito e Corpo), Mestre em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem
(PUC-SP), participante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise com Crianças do
Dr. Domingos Infante, atualmente ligada ao grupo de pesquisas de Ana Maria Rudge
(PUC-RJ) sobre Traumas Contemporâneos e o Sujeito da Psicanálise, Neurose Traumática,
Pulsão de Morte e Supereu, autora de Sintoma em Lacan, publicado pela ed. Escuta, São
Paulo.

Sumário do Trabalho:

A questão do poder muito pode interessar à Psicanálise. Freud em sua carta a


Einstein ressalta a estreita relação entre direito, violência e poder.
A História nos conta como o uso da força bruta e, mais tarde, da superioridade
intelectual e tecnológica levou à eliminação ou intimidação dos “inimigos” nas guerras.
Na medida em que a Psicanálise é um campo que se dedica à compreensão dos
mecanismos da subjetividade humana, ela foge às classificações de cunho moral expostas
nas noções de bem e de mal para se debruçar sobre o homem diante de sua divisão
fundamental, que o torna sujeito e, em um nível mais amplo, sobre as formações próprias
das sociedades humanas.
No Seminário XVII, Lacan apresenta o discurso do mestre como um discurso
fundador dos outros. Para a Psicanálise, no entanto, é o desejo inconsciente que seria o
mestre para o sujeito, e, dentro de uma visão lacaniana, este seria escravo do significante.
É a linguagem que fixa o gozo e o significante imprime-se no corpo. Realizar um
gozo produz a redução do desejo e a sua plenitude levaria à morte. A Psicanálise, nesse
sentido, procura reafirmar o desejo do sujeito cujos meandros são a sua própria exceção.
No caso, existe um paradoxo na própria lei em si, algo que implica em que a
proibição funciona pra manter a perspectiva de que o gozo seria alcançado caso não
estivesse proibido. Poderíamos supor que daí decorrem as manifestações de violência.
Referências Bibliográficas:

________. (1912[1913]). Totem e Tabu (trad. de Órizon Carneiro Muniz). Rio de Janeiro:
Imago, 1999.
________. (1920). Além do princípio do prazer. Obras Psicológicas de Sigmund Freud –
Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente, v. II, Rio de Janeiro: Imago, 2006.
________. (1933[1932]). Por que a guerra? (Einstein e Freud). Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXII, Rio de Janeiro:
Imago, 1996, p. 193-197.
KERTÉSZ, Imre (1975). Sem Destino. São Paulo: Planeta, 2003.
LACAN, Jacques (1959-1960). O Seminário, Livro VII: A Ética da Psicanálise. Rio de
Janeiro: Zahar, 1988.
LACAN, Jacques (1969-1970). O Seminário, Livro XVII: O Avesso da Psicanálise. Rio de
Janeiro: Zahar, 1992.
LYOTARD, Jean-François (1988). O Inumano – Considerações sobre o Tempo. Lisboa,
Estampa, 1989.
Poder, Violência e Psicanálise
Helena Conde

A questão do poder muito pode interessar à Psicanálise. Freud em sua carta a


Einstein ressalta a estreita relação entre direito e poder, termo que, logo em seguida nesse
mesmo texto, ele vem a chamar de violência. Na verdade, Freud aponta que o direito teria
se desenvolvido da violência.
Desde sempre, segundo ele, é um princípio geral que os conflitos de interesses entre
os homens sejam resolvidos através da violência impetrada por uma ou ambas as partes.
Para começarmos a refletir sobre as estreitas relações entre violência e poder, é
necessário retomarmos, como fez Freud, a História. De fato, ela nos conta que desde as
tribos antigas da espécie homo e mesmo entre os homo sapiens sempre foram valorizados,
nessa ordem cronológica, a força bruta, o melhor manejo dos instrumentos e, a partir da
introdução das armas, a superioridade intelectual que, hoje em dia, manifesta-se
tecnologicamente. Tal superioridade levaria os oponentes de um determinado grupo ou
facção ao abandono forçoso de seus objetivos, fossem eles de conquista ou mesmo,
meramente, de oposição. A morte ou eliminação do “inimigo” era a garantia de que tal
força jamais pudesse reorganizar-se e, desse modo, reapresentar-se. Deste fato estavam
profundamente cientes, por exemplo, os agentes das ditaduras tanto aqui quanto em outros
países.
Ainda, outra opção à morte ou eliminação seria a intimidação. Nesse caso, os
inimigos vencidos eram empregados em serviços úteis à elite vencedora. Vimos isso na
Antigüidade, onde os vencidos eram transformados em escravos e também, mais
recentemente, nos campos de concentração alemães, onde os mais jovens e fortes eram
preservados para o trabalho forçado.
Na medida em que a Psicanálise é um campo que se dedica à compreensão dos
mecanismos da subjetividade humana, ela foge às classificações de cunho moral expostas
nas noções de bem e de mal para se debruçar sobre o homem diante de sua divisão
fundamental, que o torna sujeito e, em um nível mais amplo, sobre as formações próprias
das sociedades humanas.
Todo ser humano deve, para tornar-se propriamente humano, civilizar-se e este
processo inclui o estabelecimento de relações com seus outros pares de forma que o eu
individual vai cedendo lugar a um eu relacional, de onde um Outro vai emergindo e
tomando lugar na vida de cada um.
Lembrando Lyotard1, se os homens nascessem humanos não precisariam ser
educados. Aliás, o mesmo Lyotard coloca em questão se a capacidade de adquirir uma
segunda natureza não seria aquilo que constituiria o verdadeiramente humano em si.
No entanto, o processo de aculturação, ou seja, a aquisição dessa suposta segunda
natureza, não se dá de forma isenta, isto é, as manifestações de uma cultura são permeadas
por discursos e nestes existem de formas mais ou menos explícitas relações de poder.
Isso indica que, para se tornar homem, este precisa sofrer uma certa “violência”,
uma “violência” imposta por uma cultura, ou melhor, pelos discursos de uma cultura que,
em algum momento, também se impuseram como dominantes, deixando para trás outros, a
partir de um exercício de poder.
Se não quisermos ir tão longe na História, podemos nos deter, por exemplo, no
fenômeno do colonialismo brasileiro onde o discurso dos brancos portugueses impôs-se
como regra, freqüentemente apoiado pelas armas. Desta imposição nasceu uma nova
sociedade que, até hoje, tem dificuldades para, por exemplo, inserir os índios em nosso
país. Além deste exemplo, podemos pensar no feudalismo e no fetichismo que nele ocorria
no nível das relações entre os homens, estabelecido entre o âmbito da dominação e da
servidão.
Contudo, não se trata unicamente da dialética da dominação-servidão tal como
destacado nos contextos históricos acima referidos. É verdade que o Seminário XVII
apresenta o discurso do mestre como um discurso fundador dos outros, mas não podemos
esquecer que, para a Psicanálise, o sujeito é dominado pelo desejo, e este seria escravo do
significante tendo por mestre o inconsciente que, sabemos, estrutura-se como uma
linguagem.
É a linguagem que fixa o gozo, daí que o significante imprime-se no corpo, podendo
promover desde a paralisação de um membro, até o uso contínuo de uma voz fraca ou uma
respiração curta.

1
O Inumano, Lisboa, ed. Estampa.
Realizar um gozo produz a redução do desejo e a plenitude do primeiro levaria à
morte. A Psicanálise, no caso, procura reafirmar o desejo do sujeito cujos meandros são a
sua própria exceção.
Nesse sentido, poderíamos dizer que o homem é constituído, mas não determinado
por esses discursos.
Portanto, apesar de o homem estar inegavelmente incluído em uma perspectiva mais
universal, dada a sua relação com o mundo externo, o sujeito tem um traço de exceção, de
onde se conclui que só se pode estar dentro, em uma perspectiva de assujeitamento, a partir
de alguma coisa que já estava fora, ou seja, o sujeito não tem como pertencer ao grupo,
estar nesse lugar sem já estar fora dele de algum modo.
Freud concebia a guerra como inerente ao humano enquanto ser pulsional e esse
humano, seguindo Lyotard, guarda resquícios de uma inumanidade que lhe é própria. Esta
inumanidade não consegue ser recalcada, visto que é humana, mas está, todavia, fora da lei,
embora a ela remeta.
Talvez, a guerra como a vemos hoje e como a vimos sempre, uma manifestação
clara de violência e imposição de poder à força, seja mesmo da ordem daquilo que não
pode ser recalcado e que, portanto, retorna como um sintoma dentro de um contexto em que
aparentemente há esforços institucionais para a manutenção da paz. A diplomacia seria,
nesse sentido, a própria resistência a esse inumano. Freud em sua última entrevista afirmou
que a maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe,
talvez, eu diria, pelo seu excesso de humanismo.
Linguagem e gozo fazem parte do inumano que é parte essencial do humano, mas
são muitas vezes recalcados pelo humanismo, por isso que a crítica de Lyotard ao abordar o
conceito de inumano dirige-se precisamente às formas de humanismo.
Com relação especificamente ao sintoma da guerra hoje em dia, poderia dizer que
ele expõe uma contradição, um desequilíbrio, uma subversão dos princípios universais
aparentemente vigentes de respeito às diferenças e à pessoa humana de modo geral. De
maneira semelhante, o sintoma para a Psicanálise interpela a lógica do eu, apontando para a
mesma contradição e desequilíbrio, mantendo, assim, também, um caráter subversivo em
relação a esta lógica.
De fato, o discurso social provoca efeitos subjetivos e sabemos que o sujeito
apresenta-se dividido entre um gozo impossível e a linguagem. Em análise percebemos a
busca repetitiva desse gozo proibido ao ser falante, inalcançável, uma vez que a entrada do
sujeito no simbólico envolve uma certa renúncia inicial ao gozo que é, em si, uma renúncia
em ser o falo imaginário para a mãe, ou seja, a castração significa que o gozo deve ser
rechaçado para poder ser alcançado na escala invertida da lei do desejo.
Lacan em seu Seminário II (1985: 164-165)2 aponta que a lei não é compreendida
em seu todo pelo sujeito e, nesse sentido, o sintoma também poderia representar o
incompreendido que, por sua vez, só poderia ser desempenhado pelo sujeito (1985: 167)3:

“A censura é isso, visto que para Freud, na origem, isso ocorre no nível do
sonho. O supereu é isso, na medida em que terroriza efetivamente o sujeito, que constrói
nele sintomas eficientes, elaborados, vivenciados, que prosseguem e que se encarregam de
representar este ponto onde a lei não é compreendida pelo sujeito, mas é desempenhada
por ele”.

Existe um paradoxo na própria lei em si, ou seja, algo que implica em que a
proibição funciona para manter a perspectiva de que o gozo seria alcançado se não estivesse
proibido.
Isso é algo que caracteriza a dimensão humana situada nos âmbitos da lei, do desejo
e do gozo.
São Paulo chegou a afirmar que era a lei que criava o pecado, pois ninguém poderia
saber o que seria pecar sem conhecer a lei. Ainda, retomando o exemplo de Totem e Tabu,
o pecado seria aquilo que sustentaria o pacto entre os irmãos e, portanto, a lei. Foi
necessário que nem todos estivessem submetidos à lei daquele pai tirano para que o
assassinato ocorresse e para que todos daí em diante passassem a se sujeitar a uma lei
simbólica.
Aqui é interessante observar, aproveitando o trocadilho, que é, verdadeiramente, a
partir de uma posição de sujeito que uma sujeição à lei pode ocorrer, pois ela se dá já em

2
Tal data se refere ao ano da edição em português utilizada neste trabalho. O ano da referida aula é 1954.
3
Idem.
referência a algo da ordem do simbólico, onde um corte foi feito e uma interdição
estabelecida.
Lacan em seu Seminário VII segue essa idéia e aponta que a lei seria aquilo que cria
e sustenta o desejo, interditando o gozo pela via deste.
Desse modo, o assassinato do pai não abriria o caminho para o gozo, mas reforçaria
a sua interdição e, portanto, enodar-se-ia com o desejo: "Enquanto isso, vemos aqui o nó
estreito do desejo com a lei" (Lacan, Sem. VII 1966/1998: 217).
Finalmente, ao considerar as questões da violência e do poder, a Psicanálise não
pode deixar de levar em conta as relações entre lei, desejo e gozo e a forma como esses
elementos se articulam tanto em termos sócio-culturais, os modos de subjetivação de um
grupo, quanto em termos individuais, sem esquecer que por mais discursos humanistas que
se façam, o inumano, que nos torna justamente humanos, sempre nos habitará.

Referências Bibliográficas:

________. (1912[1913]). Totem e Tabu (trad. de Órizon Carneiro Muniz). Rio de Janeiro:
Imago, 1999.
________. (1920). Além do princípio do prazer. Obras Psicológicas de Sigmund Freud –
Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente, v. II, Rio de Janeiro: Imago, 2006.
________. (1933[1932]). Por que a guerra? (Einstein e Freud). Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXII, Rio de Janeiro:
Imago, 1996, p. 193-197.
KERTÉSZ, Imre (1975). Sem Destino. São Paulo: Planeta, 2003.
LACAN, Jacques (1959-1960). O Seminário, Livro VII: A Ética da Psicanálise. Rio de
Janeiro: Zahar, 1988.
LACAN, Jacques (1969-1970). O Seminário, Livro XVII: O Avesso da Psicanálise. Rio de
Janeiro: Zahar, 1992.
LYOTARD, Jean-François (1988). O Inumano – Considerações sobre o Tempo. Lisboa,
Estampa, 1989.

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