Sie sind auf Seite 1von 6

1.

CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

Ao estudar pela primeira vez a secular técnica da partida dobrada do


débito e do crédito, lembro que fiquei confuso e demorei algumas aulas para
finalmente ter uma vaga noção. Como era de se esperar não obtive a nota
mínima para conseguir a aprovação por média, e inevitavelmente fui à final. No
desespero para não perder a disciplina e ter que repeti-la novamente no semestre
seguinte, fiz aulas particulares e treinei exaustivamente lançamentos e
fechamento de balanços até me sentir confiante de minha preparação, que
felizmente ao final me rendeu a tão sonhada aprovação, e também a paixão pela
partida dobrada.

Depois do primeiro semestre eu tranquei o curso e prestei vestibular


novamente para a universidade federal, até então eu estudava em uma
universidade particular. Ao fim do vestibular fui aprovado no curso de ciências
contábeis da universidade federal de Pernambuco.

No decorrer do curso do primeiro período, pois eu havia recomeçado o


curso do início, percebi que muitos colegas de classe tinham os mesmos
problemas que eu tive na época em que eu estudava em outra faculdade.

De minha parte, não estava preocupado em decorar os lançamentos nem


os inúmeros ajustes, eu queria entender profundamente o que significava a
partida dobrada em relação o todo do balanço, a dinâmica deste em seu interior
e a utilidade dos relatórios contábeis.

No meu intimo existia uma intuição de que a partida dobrada era muito
mais do que um registrador de uma operação comercial da realidade. O método
veneziano trás intrinsecamente uma relação de dualidade profunda, onde o
crédito influencia o débito, e vice versa. Um não existe sem o outro.

Creio que essa relação de dualidade está presente na maior parte da


ciência contábil. Percebi que os professores não focavam neste aspecto, o que
tornava o aprendizado da partida dobra maçante e enfadonho.

Isso dava a impressão à maioria dos alunos de que “aquilo”, a partida


dobrada, não fazia nenhum sentido de ser aprendido, e sim, como meus colegas
faziam, valia mais a pena decorar os lançamentos.

O problema é que por conta da metodologia inadequada com a qual era


apresentada a partida dobrada, percebia-se claramente certo tipo de efeito
traumático e também um bloqueio na apreensão do conteúdo programático, ao
ponto de certos alunos se queixarem de assistir às aulas.

Um dos principais motivos de bloqueio e desestímulo ao aprendizado de


ciências contábeis é utilização da metodologia inadequada, onde eram ensinados
excessos de ajustes e detalhes, o que impediam os alunos de terem uma visão
completa e objetiva do ciclo contábil.

Neste sentido o ensino de contabilidade ao invés de formar o aluno para


ter uma visão crítica e libertadora da realidade, o aprendizado limita o aluno às
normas e técnicas da contabilidade, impedindo assim uma postura ativa no
processo de aprendizagem.

Vejamos o quão grave é essa situação.

Uma instituição pública ou particular de ensino superior deveria ser um


local para construção de conhecimento, de massa critica, e de pesquisadores que
fomentem a evolução da ciência e a excelência da prática contábil.

Apesar desta instrução, podemos encontrar instituições, principalmente


na área contábil, que são verdadeiros centros de “domesticação” de alunos, que
oferecem diplomas e que formam clones de conhecimento automatizado com
base nas experiências dos professores passadas através da extensão do conteúdo
destes para seus pupilos, não agregando nenhum valor significativo à evolução
da ciência, e o que pode ser mais perigoso, formando cidadãos incapazes
defrontar e modificar o mundo.

Para qualquer instituição de ensino superior que se preza por formar a


nata crítica da sociedade brasileira, essa situação não é animadora.

Em um ambiente que deve ser de construção do conhecimento, a


academia se presta a ser como “usinas de geradoras de pensamento” (MARION,
1996. p.11), porém, a metodologia de ensino-aprendizagem amplamente
utilizada no ambiente acadêmico é aquela em que o aluno é agente passivo no
processo de aprendizagem, essa é a chamada metodologia tradicional, e que é
amplamente usada nas universidades.

Esse é um método onde o professor assume um papel ativo de depositar


no aluno o “conhecimento” ou experiências e depois auferir o quanto estes
alunos puderam reter, sem necessariamente absorver o conhecimento de forma
crítica, o que são coisas muito distintas.

A retenção do conhecimento não modifica necessariamente a realidade


do educando ao passo que “aprender é penetrar no universal das relações que
constituem a idéia e nas singularidades que lhes correspondem” (DELEUZE,
1968, p. 237).

Neste método tradicional onde o educando é passivo diante da condição


de aprender, o professor é que é o responsável pela aprendizagem do aluno, que
por sua vez, conforme já foi dito, fica na posição de receptáculo do saber e das
experiências do educador.

Isso caracteriza uma falta de confiança do educador com relação aos


educandos no sentido de julgar que estes não têm a capacidade de entender o
conteúdo através da pesquisa, mas somente no momento da explicação verbal,
essa metodologia impede que os alunos desenvolvam suas habilidades de
questionamento, análise, julgamento e tomada de decisão, ou seja, poderíamos
dizer que os alunos universitários de ciências contábeis são praticamente
adestrados.

Quando o educando não participa ativamente do processo de


aprendizagem há uma invasão cultural por parte do educador, e claro na relação
entre invasor e invadido, se estabelece uma relação de autoritarismo o que leva
ao aprisionamento e à incapacidade de ser agente transformador do mundo.

Ao contrário, quando o educando participa ativamente do processo de


aprendizado sendo co-participante na comunicação com o educador e ambos
sendo mediatizados por um objeto do estudo, pode-se dizer que o educando está
em processo de transforma-se em ser de decisão, ou ser autônomo, livrando-se
do caminho da domesticação.

Diante do exposto, busca-se responder a seguinte questão:

Para quê autonomia?

Antes de qualquer argumento vale salientar que nenhum homem é


sozinho no mundo e nenhum conhecimento humano adquirido tem validade sem
comunicação entre os homens, pois, a “comunicação é característica primordial
deste mundo cultural e histórico” (FREIRE, 1977, p.65).

Imagine a seguinte situação hipotética: Depois de uma enorme


hecatombe você é o ultimo individuo vivo no mundo. Imagine que você possua a
consciência de todas as ciências e culturas que existiam antes dessa catástrofe,
ou seja, você é o ser mais inteligente, sábio e informado do mundo, pois só
existe você mesmo. Imagine que você já não reflete mais sobre a realidade, pois
você já sabe de tudo, e não há mais nada para refletir, ou pelo menos é o que
você acha. Isso tira sua oportunidade de transformar o mundo social e humano
que você vive, pois, não há diálogos com outros humanos, você é o último.
Assim toda cultura que você possui não serve para mudar o mundo e se você
ainda pudesse mudar o mundo você sofreria os efeitos da própria transformação
imposta ao mundo, isso caracteriza uma relação dinâmica com o mundo. Como
você e o mundo histórico-social estão finalizados e acabados significa que de
você foi subtraído o direito de transformar o mundo.

É exatamente isso que ocorre quando a relação cognoscente entre sujeito


e objeto cognoscível carece da presença de outro sujeito cognoscente, ou seja, o
ato cognoscitivo desaparece, e com isso a possibilidade de transformar o mundo
social e humano.

Em outras palavras, para que seja verificada a validade da cognição é


necessário que exista no mínimo dois sujeitos pensantes e um objeto que os
mediatize. Neste sentido “o sujeito pensante não pode pensar sozinho, não pode
pensar sem a co-participação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto.
Não há um ‘penso’ mas um pensamos” (FREIRE, 1977, p.66).
Já autonomia diz respeito à faculdade de se autogovernar, de ser
responsável por construir-se enquanto cidadão, de ser sujeito ativo de sua
história.

A educação baseada no depósito ou envio de informações do educador


para o educando estaria transformando o educando em paciente de seus
comunicados, assim deste modo, o educador não liberta o educando e não
proporciona autonomia de sua dependência, para que o educando mais tarde
venha a construir-se no mundo através da suas relações de confrontação com
outros homens e o mundo, então somente assim seria possível a conscientização
instaurar-se.

Neste sentido o educador pode até ter suas predileções por conceitos e
idéias, porém jamais tem o direito de às impor ao educando, pois se o fizer
caracteriza-se ai uma manipulação e quando há manipulação não há autonomia
nem liberdade.

Sem autonomia o educando sente-se anestesiado pela educação,


deixando-o mesmo acrítico e inocente diante do mundo, no entanto, a partir do
momento que o educando se reconhece no processo de aprendizagem, esta
situação gnosiológica o força ao auto desafio a todo instante, ou desafio de
pensar corretamente e não memorizar

Então qual seria o real papel do educador?

O educador tem o dever de problematizar aos educandos o objeto que os


mediatiza e não dissertar a cerca do que aprendeu sozinho no laboratório e em
suas pesquisas. À medida que o educador reconstrói permanentemente seu ato de
conhecer, ele reconstrói o mundo e reconstrói a si mesmo.

No ato de problematizar aos educandos o educador ver-se também


problematizado e com isso sua noção de mundo também muda, é neste sentido
que dizemos que ensinar também é aprender.

Como nos diz Deleuze: “Aprender é tão somente o intermediário entre o


não-saber e o saber, a passagem viva de um ao outro” (DELEUZE, 1968, p.
238). A prender é passagem viva porque o educador, a pesar de sua posição de
facilitador do aprendizado, continua constantemente construindo sua noção de
mundo.

Portanto é assim, rejeitando toda espécie de manipulação que contradiga


a condição humana e humanizando os homens, que estes podem criar e impor
sua marca na natureza, na cultura e na história, ou seja, no mundo, e que através
de sua autonomia os homens se voltam mais criticamente sobre suas
experiências passadas e presentes, e então, dão conta que o mundo não é um
beco sem saída, uma condição miserável onde o destino seria a não realização de
suas potencialidades.

Das könnte Ihnen auch gefallen