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I

Introduç
ão à
Ciência
do
Direito
As Primeiras
Codificações
Jurídicas

Faculdade de Olinda FOCCA.

Curso: Direito.

Prof: Adonis Costa.

Turno: Noite.

Turma: B.

Aluno: Iverson Souza de Lima.


A codificação do Direito
INTRODUÇÃO

A feitura de um Código não é apenas a reunião de disposições legais,


relativas a determinado assunto. Exige um trabalho mais amplo,
subordinado a uma técnica mais apurada. Codificar o direito é coordenar as
regras pertinentes às relações jurídicas de uma só natureza, criando um
corpo de princípios dotados de unidade e deduzidos sistematicamente.

A CODIFICAÇÃO DO DIREITO

A codificação é um movimento jurídico aparecido no Ocidente no século XIX,


em função do qual os direitos ocidentais, quanto à forma, se dividem em:
direito continental, ou direito codificado, que compreende o grupo francês,
tendo por ponto de partida o Código de Napoleão ( Code Civil des Français),
e o grupo alemão; e sistema do Common Law ou do grupo Anglo-
Americano.

O movimento , apesar de não ser muito antigo, pois data de pouco mais de
um século, foi conhecido desde a Antigüidade. A história do Direito Romano
processa-se entre duas codificações: a Lei das XII Tábuas e o Corpus Juris de
Justiniano. Na Suméria existiram codificações famosas. Até bem pouco
tempo, era tido o Código de Hamurabi como a mais antiga codificação.
Entretanto, em 1948, outro código mais antigo foi descoberto, o Código de
Ur-Namu.

Pode-se dizer que, na civilização européia, ressurge, no século XVIII, o


movimento codificador. Não se manifestou, a princípio, em códigos, mas em
compilações, isto é, em reunião de leis esparsas ou de costumes, só em
1804 surge o primeiro código moderno: o de Napoleão (Code Civil des
Français ou Code Napoléon).

Que significa este movimento? Significa a tendência para enfeixar em lei


toda a matéria jurídica, em regra, uma parte do direito, de modo a dar,
nessa parte, unidade de tratamento jurídico às relações jurídicas que dela
brotam. Tal lei se denomina Código. Mas, codificação, como movimento
jurídico, não é a feitura de um código. Muitos países que pertencem ao
sistema da Common Law têm alguns códigos. Significa sim a adesão ao
direito escrito, ao direito codificado ou legislado. Nesse caso, em códigos,
estão os principais ramos do direito.

A codificação não só unifica o direito, dando em lei toda matéria jurídica,


como, também, a apresenta de forma orgânica, sistemática, em virtude de
suas regras observarem princípios gerais informativos do todo.

Acaba a codificação com a legislação dispersa. Apresentando, quase


sempre, tratamento jurídico novo.

Partindo da França, atingindo a Alemanha, o movimento codificador ganhou


a corrida com o direito comum (direito romano adaptado às condições
européias pelos juristas europeus desde a Idade Média) e com o direito
consuetudinário. Países como a Inglaterra e os Estados unidos, que não
aderiram a esse movimento, de certa forma sentiram a necessidade de
oficialmente unificar o direito. Na Inglaterra, escreve Gogliolo: “é sabido que
os juizes se fundam nos chamados precedentes escritos, que se encontram
em coleções e livros. Esta jurisprudência escrita (case law) é uma espécie
de código sob outra forma”. Nos Estados Unidos, os precedentes judiciais
predominantes, assentados e tradicionais, sobre determinadas matérias
jurídicas estão sendo compilados (restatement).

As grandes codificações, através de atos legislativos ou de ações dos


juristas, penetraram em países para os quais elas não foram ditadas.

O mais conhecido fenômeno de recepção de direito estrangeiro, mais


conhecido e mais importante para nós, ocorreu na Idade Média, na Europa,
em que era respeitado o direito de uma sociedade moribunda, de um
império desaparecido, isto é, o Direito Romano. É a recepção do Direito
Romano que sofreu adaptação ao mundo medieval.

O esforço medieval não se limitou simplesmente em aproveitar o evangelho


jurídico de Roma, pois o modificou para adaptá-lo às “novas condições que
passou a reger”. Há, pois, “desviação do direito romano medieval do
histórico direito da Roma antiga”.

Tal movimento iniciou-se na Itália, em fins do século XII e princípios do


século XIII, em Bolonha, com Irnerius, fundador da Escola de Bolonha,
auxiliado por “quatro doutores”: Búlgarus, Martinus, Hugo e Jacobus.
Compilaram o Direito Romano de Justiniano, preocupando-se com a sua
interpretação literal. Desse trabalho surgiram as “glosas”: Glosa Ordinária
ou Glosa Magna ao Corpus Júris, compilação de glosas, isto é, explicações
(notas) breves e comentários dos textos, dos romanistas da época, feitos
nos rodapés dos manuscritos. Tais glosas influíram no direito, porque os
estatutos das cidades italianas foram redigidos principalmente pelos
graduados de Bolonha, que conciliaram as interpretações do direito romano
de seus mestres com os direitos locais. A aceitação desse direito romano foi
facilitada pelo desenvolvimento da atividade comercial que, requeria
técnica jurídica refinada que os direitos locais não podiam fornecer. Tal
atividade utilizou-se mais das interpretações dos pós-glosadores ou
comentaristas, iniciada no século XII, com Accursius e ampliada por Bártolo,
Cino de Pistóia e Révigni, fundadores da Escola dos Dialéticos. Os
comentaristas adaptaram o direito romano às necessidades da época,
conciliando-o com os direitos locais. No caso de dúvida ou de questão
complexa, era uso medieval solicitar parecer da universidades cujos
professores eram romanistas. Na Alemanha, o Direito Romano era
exclusivamente fonte subsidiária, na falta de leis ou de costume, a ele
devia-se recorrer. Mas com o tempo, a perfeição técnica do direito romano
foi se impondo sobre o direito local, consuetudinário e fragmentário,
passando a ser esse direito, até 1900, o direito comum.

Eis aí, a recepção do Direito Romano que exerceu profunda influência na


formação e na evolução do direito privado ocidental, conseqüência em
nosso direito, pois, entre nós, nas Ordenações Filipinas é visível a sua
influência, chegando, como fonte subsidiária a ser imposto em 1769, pela
Lei da Boa Razão que em Portugal, e entre nós, mandava o juiz aplicá-lo em
caso de falta de solução no direito local.
CONCEITO DE CÓDIGO

No latim primitivo CAUDEX ou CODEX queria dizer tábua, prancha de


madeira. Existe um texto de Sêneca em que se explica que por esse motivo
é que se chamava códice às tábuas da lei porque eram realmente escritas
sobre tábuas de madeira.

O termo significava portanto o material em que se escrevia a lei, mas


depois passou a designar a própria lei , independente do material em que
estivesse escrita, chamamos código, por exemplo, à grande laje de pedra
em que Hamurabi mandou gravar há 400 anos as leis do seu império, e
chamamos igualmente códigos as antigas coleções de leis.

Mas a semelhança é apenas de palavras, sob o ponto de vista cultural, as


antigas coleções de leis e os modernos códigos são realidades
completamente diferentes.

A coleção é uma simples reunião de materiais dispersos, agrupados com


certa ordem, na intenção de facilitar a consulta e o uso prático. O código
não é isso. Pretende representar um sistema homogêneo, unitário, racional,
aspira a ser uma construção lógica completa, erigida sob o alicerce de
princípios que se supõem aplicáveis a toda a realidade que o direito deve
disciplinar.

O código reúne em um só texto, disposições relativas a uma ordem de


interesse, podendo abranger a quase totalidade de um ramo, como o
Código Civil, ou alcançar apenas uma parcela menor da ordem jurídica,
como é a situação, por exemplo, do Código de Defesa do Consumidor. Não é
a quantidade de normas que identificam o Código, podendo este apresentar
maior ou menor extensão. Há leis que são extensas e que não constituem
códigos. Fundamental é a organicidade, que não pode deixar de existir. O
Código deve ser um todo harmônico, em que as diferentes partes se
entrelaçam, se complementam. As partes que compõem o Código
desenvolvem uma atividade solidária, há uma interpenetração nos diversos
segmentos que o integram, daí a dizer-se que os Códigos possuem
organicidade.

Do ponto de vista técnico, pode-se distinguir Código de Consolidação e


Compilação. Por Código entende-se lei nova sobre vasta matéria jurídica;
enquanto por Consolidação, uniformização de um direito preexistente,
esparso e fragmentário, como por exemplo, entre nós, a Consolidação das
Leis Civis (1858), de Teixeira de Freitas, que abriu o caminho para a
codificação do nosso direito civil. Já por Compilação, deve-se entender a
redação na forma escrita, de costumes e leis, muitas vezes adaptadas à
época em que são compilados. Os “códigos” da antigüidade eram mais
compilações do que propriamente códigos. Para nós, a mais importante
compilação é o Corpus Juris Civilis.

O objetivo tanto da codificação como da consolidação e da compilação é o


mesmo: unificação do direito. Mas, no processo histórico, a consolidação
antecede a codificação.

Entretanto, não se conclua que o código seja obra perfeita. Os códigos ficam
velhos, começando a ser emendados por leis dispersas, chegando a um
ponto em que deve ser substituído por outro, por não mais a tender às suas
finalidades e por ter se transformado em colcha de retalhos, em virtude das
novas leis que lentamente o reformaram. Velho, sem dar solução aos
problemas jurídicos de acordo com a consciência jurídica dominante, o
código se torna uma caricatura do direito.

Por tal motivo, pensando que os códigos fossilizam o direito, Savigni se opôs
à codificação, e se opondo, em sua discussão teórica com Thibaut, lançou as
bases da Escola Histórica do Direito. Em 1813, antes dele, Rehberg se
insurgiu na Alemanha contra a codificação, mas desde 1814 Thibaut
defendeu-a mostrando que a unidade jurídica proporcionada pelos códigos é
indispensável à unidade política, tão necessária à Alemanha depois da
queda de Napoleão.

OS CÓDIGOS ANTIGOS

Na acepção antiga, Código era um conjunto amplo de normas jurídicas


escritas. A sua organização não obedecia a uma seqüência lógica e,
normalmente, não passava de condensação das diferentes regras vigentes.

Da Antigüidade vem o famoso Código de Hamurábi, que liga a sua


existência à do povo babilônico. Dos romanos nos ficou de primeiro a Lei
das XII Tábuas. A obra monumental, no gênero, foi o Corpus Juris Civilis, do
século VI, compilação ordenada pelo imperador Justiniano. Entre as
codificações mais antigas que alcançaram projeção, podemos também citar
as seguintes: Código de Manú, Legislação Mosaica e o Alcorão.

O CÓDIGO DE HAMURÁBI (2000 a. C.)

A história antiga da região mesopotâmica apresenta vários povos, dos quais


se destacaram, a princípio, os Sumérios e depois os Acádios, dos quais
provieram os Caldeus.

Hamurábi foi talvez o maior rei da Mesopotâmia antiga e uma das figuras
mais eminentes da história universal, o verdadeiro consolidador do Império
Babilônico que se compunha de várias raças e nações.

O deserto virou mar por um dia em 1754 a.C. Mas a inundação que destruiu Eshnunna,
uma das grandes cidades-reinos da Mesopotâmia antiga, não teve nada a ver com a
natureza. A catástrofe foi provocada por um homem: Hammurabi, o fundador do
Império Paleobabilônico, sexto rei na dinastia de Babel. Conquistador da Mesopotâmia
entre 1792 e 1750 a.C., ele já era senhor de um grande território quando, cansado de
esperar a rendição de Eshnunna às suas tropas, mandou abrir uma barragem e inundou o
local. Essa atitude drástica teria sido um pedido de Marduk, deus nacional de Babel, e
dos deuses sumérios Anu e Enlil: destruir a cidade com uma grande massa de água.
Oficialmente, os deuses sempre estavam por trás dos atos de Hammurabi, mas quem
dava a última palavra era ele mesmo. Graças a sua sabedoria política e a sua habilidade
militar, tornou-se um dos grandes líderes da Antiguidade. E o código de leis que usava
durante seu governo ficou célebre como uma das primeiras expressões escritas do
direito.
A data em que Hammurabi nasceu é desconhecida, mas sabe-se que ele ainda era um
jovem quando assumiu o trono de Babel, em 1792 a.C. Naquela época, a cidade era
subordinada a outros reis, todos de tradição ou origem semita – como ele, que pertencia
ao povo amorita. Quando morreu, 42 anos depois, Hammurabi havia se transformado no
soberano de toda a Baixa Mesopotâmia. O território sob seu poder corresponderia, hoje,
ao sul do Iraque e a parte da Síria. Não parece grande coisa, mas, há 3 750 anos, esse
era quase todo o mundo conhecido pelo povo de Babel – e esse “quase” nunca deixou
de incomodar o rei, já que o norte do Iraque, na época chamado de Assíria, foi
cobiçado, mas não conquistado por ele. “Hammurabi era um guerreiro, um grande
general que ia para a frente de batalha”, conta Emanuel Bouzon, professor de História
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e autor de O Código de
Hammurabi e As Cartas de Hammurabi. “A classe dirigente das grandes cidades
conquistadas era morta ou presa, e alguns reis de lugares menores se submetiam.”

Mas só vencer as batalhas não bastava. Era preciso manter a ordem nos territórios
conquistados, o que Hammurabi fez brilhantemente. Mais do que um general, ele era
um administrador e um legislador, que legou à humanidade um dos mais antigos e
importantes conjuntos de leis. Elas estão inscritas numa estela (rocha destinada a
receber textos) de diorito negro, que foi encontrada em 1901 numa expedição
arqueológica francesa ao Irã. É o famoso Código de Hammurabi, hoje exposto no
Museu do Louvre, em Paris. Ele contém 282 sentenças baseadas na tradição oral, nas
crenças religiosas e no costume, compiladas por escribas da época. A grande maioria
delas provavelmente foi proferida pelo próprio Hammurabi, ao julgar acontecimentos
ocorridos durante seu governo.

A criação e a divulgação de um código legislativo escrito serviram para cristalizar a


autoridade do Estado sobre os súditos e, ao mesmo tempo, regular o funcionamento da
sociedade. “Com leis redigidas, definem-se as relações entre os homens, assim como as
relações deles com suas posses, originando o direito de propriedade”, explica Márcio
Scalercio, professor de História da Universidade Cândido Mendes e da PUC-RJ, autor
de Oriente Médio – Uma Análise Reveladora sobre Dois Povos Condenados a
Conviver. “O Código de Hammurabi não traz as primeiras leis escritas. Mas, daquela
época, foram as que melhor chegaram a nós, e elas consagram princípios que duram até
hoje, como o valor do testemunho e da prova.”

De certo modo, o “Código” de Hamurábi revela um esforço de unificar a


aplicação do direito, sistematizando a administração da justiça e a
estimação das condutas. Há quem ache, que ele foi um reformador
avançado para seu tempo.

Ao registrar suas leis, Hammurabi não agiu só como legislador, mas como um
marqueteiro de primeira, unindo senso de justiça a autopropaganda. Na pedra que
contém seus pronunciamentos legais há também um prólogo e um epílogo, nos quais ele
se apresenta como um rei “prudente” e “perfeito”, escolhido por deuses como Marduk
“para fazer surgir justiça na Terra, para eliminar o mau e o perverso, para que o forte
não oprima o fraco”. Em outra passagem, o rei não hesita em se auto-intitular o “Sol de
Babel”.

Como soberano absoluto, Hammurabi controlava cada canto de seu império com uma
belíssima rede de informações – tinha representantes em todas as cidades que
governava, com quem se comunicava por meio de correspondência. Foram encontradas
mais de 150 tábuas com inscrições dele endereçadas a três funcionários de Larsa, uma
das cidades que conquistou. Essas “cartas” tratavam de temas como julgamentos de
crimes, organização agrícola, distribuição das terras entre os homens e ordens sobre
trabalho compulsório. Nada escapava ao olhar do rei, nem mesmo a tosquia de ovelhas
em uma cidade distante ou um caso de suborno numa localidade do norte. “Era um
reino grande, mas ele sabia de tudo e mandava em tudo, era obedecido em todo canto.
Havia assembléias de anciãos, assembléias do povo, mas a palavra final era dele”, diz o
historiador Bouzon. “Quando não se chegava a um acordo na sentença de um
julgamento, mensageiros levavam o caso até a instância final, que era o próprio rei.”

Além de firmar alianças militares com os reis de outras cidades da Baixa Mesopotâmia,
Hammurabi explorava a rivalidade entre eles, fazendo com que se destruíssem
mutuamente, deixando assim o caminho livre para seu próprio exército. Depois de
tomar uma cidade, ele tratava de pacificá-la: reconstruía edifícios e enfeitava ainda mais
o templo do principal deus local, como prova de tolerância religiosa. Costumava
também arrebanhar colaboradores entre os próprios habitantes do lugar e colocá-los à
frente do governo local. Ganhava, assim, a confiança dos moradores submetidos a seu
poder e evitava revoltas.

A faceta de bom administrador se manifestava quando Hammurabi promovia o


crescimento comercial e agrícola de seus territórios. Em seu reinado, novos canais para
irrigação e navegação foram construídos, e os antigos foram aprimorados. Houve ainda
trabalhos de regulagem do curso do Eufrates, um dos rios que banham a Mesopotâmia.
Foi com medidas assim que, apesar de muitas vezes ter imposto seu domínio pela força,
o líder babilônio conseguiu passar uma boa imagem para a posteridade. “Ele propagou a
ideologia semita do rei como o bom pastor, preocupado com os ‘cabeças pretas’, como
se chamava o povo”, afirma Bouzon. Ao morrer, em 1750 a.C., o comandante deixou o
opulento Império Paleobabilônico como herança para seus descendentes. A dinastia
ainda durou cerca de 150 anos, mas não resistiu à ausência de seu fundador. Muitas
cidades se sublevaram e a Mesopotâmia acabou invadida pelos hititas em 1594 a.C.,
quando Babel foi saqueada e incendiada. “Enquanto Hammurabi reinou houve paz, mas
ela não sobreviveu à sua morte”, diz Bouzon. Acredita-se que a centralização exagerada
do governo nas mãos do general tenha tornado muito difícil a tarefa de seus sucessores
em substituí-lo.

Mencionado e encarado durante muito tempo como o código mais antigo do


mundo, o monumento legislativo de Hamurábi não o foi, entretanto.

Escrita em língua suméria, o Código de Lipit-Istar de Isin foi uma legislação


anterior à de Hamurábi, mas o código mais antigo até hoje encontrado, foi o
de Ur- Namu (2050 a.C.). nestes códigos figuram preâmbulos e epílogos
caracterizados pela retórica teocrática.

O Código de Hamurábi também apresenta claramente um prólogo de um


epílogo.

O texto consta de 282 dispositivos legais, antecedidos pelas invocações do


prólogo e sucedidas pelas apóstrofes do epílogo.

Consagrando a pena de Talião, (olho por olho, dente por dente), o código
reunia os seus 282 preceitos em um conjunto assistemático e que abrangia
uma diversidade de assuntos: crimes, matéria patrimonial, família,
sucessões, obrigações, salários, normas especiais sobre os direitos e
deveres de algumas classes profissionais, posse de escravos,... Podemos,
então, observar que o código quase não foge aos problemas jurídicos, aos
quais regulamenta com estritos detalhes. Ao corpo de leis de Hamurábi
faltam traços de técnica que só com os romanos se tornaram definitivas.

No preâmbulo, descreve-se o reinado do próprio Hamurábi, com alusões que


são como legitimadoras do ato legislativo. O monarca invocava os deuses e
alegava a grandeza de suas obras, bem como suas vitórias, e anuncia a
importância das leis para o seu povo.

O epílogo, encoraja os homens a cumprirem as leis, que são as garantias


dos oprimidos, e relaciona com a própria vontade dos deuses o respeito aos
ditames legais.

A casuística dos dispositivos, sequenciados em forma de hipóteses


(incluindo sobretudo no início indicações processuais), termina por
constituírem um vasto e complexo arcabouço normativo.

Leis e objetivos do código

As 281 leis foram talhadas numa rocha de diorito de cor escura. Escrita em
caracteres cuneiformes, as leis dispõem sobre regras e punições para
eventos da vida cotidiana. Tinha como objetivo principal unificar o reino
através de um código de leis comuns. Para isso, Hamurabi mandou espalhar
cópias deste código em várias regiões do reino.

As leis apresentam punições para o não cumprimento das regras


estabelecidas em várias áreas como, por exemplo, relações familiares,
comércio, construção civil, agricultura, pecuária, etc. As punições ocorriam
de acordo com a posição que a pessoa criminosa ocupava na hierarquia
social.

Algumas leis do Código de Hamurabi:

- Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não


puder provar, então aquele que enganou deverá ser condenado à morte.

- Se uma pessoa roubar a propriedade de um templo ou corte, ele será


condenado à morte e também aquele que receber o produto do roubo
deverá ser igualmente condenado à morte.

- Se uma pessoa roubar o filho menor de outra, o ladrão deverá ser


condenado à morte.

- Se uma pessoa arrombar uma casa, deverá ser condenado à morte na


parte da frente do local do arrombamento e ser enterrado.

- Se uma pessoa deixar entrar água, e esta alagar as plantações do vizinho,


ele deverá pagar 10 gur de cereais por cada 10 gan de terra.
- Se um homem tomar uma mulher como esposa, mas não tiver relações
com ela, esta mulher não será considerada esposa deste homem.

- Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho,
criando-o, este filho quando crescer não poderá ser reclamado por outra
pessoa.

O Código de Hamurábi teria sido assim uma súmula jurídica global,


abrangendo sobretudo normas privadas e penais, altamente elaboradas
para o seu tempo, mas ainda muito distantes das estruturas modernas.

Curiosidade:

- O monólito com o código de Hamurabi foi encontrado no ano de 1901, pela


expedição de Jacques de Morgan, na região do atual Irã.

O PENTATEUCO - LEGISLAÇÃO MOSAICA

Moisés, que viveu há doze séculos a. C., foi o grande condutor do povo
hebreu: livrou-o da opressão egípcia, fundou a sua religião e estabeleceu o
seu Direito.

A legislação que o profeta concebeu acha-se reunida no Pentateuco, um dos


códigos mais importantes da antigüidade e que se divide nos seguintes
livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Apesar de
consagrar a Lei de Talião, sua índole era humanitária.

Segundo todos os teólogos hebreus, a Lei de Deus dada e promulgada sobre o monte
Sinai através de Moisés é Una , Eterna e Imutável. Constitui-se na expressão perfeita e
invariável da vontade de Deus. Os "Dez Mandamentos" são a síntese da Torá.

Os Dez Mandamentos escritos em hebraico possuem 613 letras . Cada letra simboliza
uma das 613 mitzov ( mandamentos) que compõe a Lei de Deus em sua plenitude. A
Lei de Deus é invariável e Eterna devido a sua origem Divina. A Lei é para todos os
tempos e se constitui no elemento através do qual Deus governa o povo de Israel
servindo como elemento distintivo entre os hebreus e outros povos (gentios). Todas
essas Leis expressam a vontade de Deus, através das quais um grupo de sacerdotes
exerce o governo do povo (Teocracia). Em um estado teocrático os poderes Temporal e
Espiritual encontram-se unidos, não havendo distinção entre Lei civil, moral e/ou
religiosa. Todas elas são objeto da classe sacerdotal que conduz e regula a vida do povo
através dos Mandamentos outorgados por Deus.

Segundo alguns críticos, as leis da Torá foram estabelecidas por Moisés ,o qual, visando
iniciar o processo civilizador da nação israelita, criou leis severas e rígidas com o
objetivo de disciplinar e manter pelo temor um povo turbulento e indisciplinado. Para
dar autoridade às suas leis, ele deveu atribuir-lhes origem divina, assim como o fizeram
todos os legisladores de povos primitivos; a autoridade do homem deveria se apoiar
sobre a autoridade de Deus; mas só a idéia de um Deus terrível poderia impressionar
homens ignorantes, nos quais o senso moral e o sentimento de uma delicada justiça
eram ainda pouco desenvolvidos. Assim sendo, conforme o ponto de vista crítico , as
leis mosaicas, tinham, apenas um caráter essencialmente transitório e local, embora
possuam algumas características universais.

História

Segundo as escrituras hebraicas, a Lei foi dada por Deus através do profeta Moisés,
tendo sido, os Dez Mandamentos escritos em tábuas de pedra pelo próprio dedo de Deus
no monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos.

Segundo os críticos a Lei foi estabelecida em um período muito posterior,


consolidando-se e atingindo sua forma final apenas na época dos Reis hebreus.

Segundo os historiadores, a Lei Mosaica não apresenta nenhum elemento novo, sendo a
maior parte de seus elementos adaptações e transcrições encontradas em documentos
(códigos legislativos e morais) mais antigos como aqueles utilizados pelos egípcios
(exertos do Livro Egípcio dos Mortos), Hindus (Código de Manu), Babilônicos (Lei de
Talião) e por outras civilizações do Crecente Fértil(Código de Hamurabi).

No ocidente a Lei e o nome de Moisés eram totalmente desconhecidos até o advento do


Cristianismo. O triunfo do Cristianismo no século IV A.D. assegurou a popularização
dos Dez Mandamentos que ao integrarem o Catecismo Cristão, adquiriram seu caráter
universal.

Os hebreus eram povos nômades, derivados da raiz semítica, que viviam em tribos,
originalmente habitando a Palestina, cuja característica distintiva, em relação aos povos
de sua época, era a crença em um Deus único.

Após a fuga dos hebreus do Egito, onde viviam em regime de escravidão, foram
conduzidos à “terra prometida” sob o comando de Moisés. E depois da morte de deste
líder, o seu povo passou por períodos altos e baixos e, somente mais tarde, Neemias foi
auxiliado pelo rei Artaxes e vários homens sábios da época. A obra de Moisés foi recolhida e
reorganizada em cinco Livros: Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. E é
exatamente este último que trata dos aspectos interessantes ao estudo da história do direito, ou
seja, a Lei Mosaica.

Os judeus organizavam-se sob a tutela de um governante (rei). O reino de Israel encontra seu
apogeu em Davi (1005-966 a.C.), Salomão e seu filho (966-926 a.C.). Após isso, acontece uma
cisão, retornando à anterior divisão em dois reinos: o reino de Israel e o reino de Judá. O
primeiro caiu frente aos assírios em 721 a.C. O último conseguiu resistir até 587 a.C. , quando
foi dominado sucessivamente por persas, macedônios e, por último, pelos romanos que
promoveram sua diáspora em 70 d.C.

A sociedade hebraica era composta por homens livres de igual nível de direitos, organizados em
tribos. As mulheres, a despeito de relativa inferioridade jurídica em relação aos homens, em
especial no tocante aos aspectos de aquisição de propriedade e casamento, por força da condição
religiosa do Direito, conseguem exercer atividades influentes como de juízas ou profetisas,
conforme nos refere o texto bíblico. Os estrangeiros detinham direitos em mesmo nível que os
nacionais, à exceção das questões relativas à religião, às quais não tinham acesso, a não ser que
se convertessem. Não havia diferenciação de juízo ou de leis entre uns e outros. As penas, em
geral, obedeciam à Lei do Talião.

Umas das maiores contribuições à história do direito teve como origem a cultura hebraica devido
ao seu monoteísmo, no qual sua religião, sua organização social, o seu patriarcado e o seu direito
se mesclavam entre o aspecto jurídico e o religioso. Essa legislação data de aproximadamente
1300 a.C.

Muitas normas dessa Lei se referiam as práticas religiosas e morais, e Deuteronômio foi o Livro
que se incumbiu de dispor sobre a administração da justiça, a educação e cultura, o descanso
semanal, o direito internacional, os limites de propriedades, as normas processuais, a assistência
social, o direito do trabalho, a repressão ao charlatanismo, o homicídio involuntário, a prova
testemunhal, o divórcio, o adultério, a impenhorabilidade de bens, a inviolabilidade de domicílio,
entre outros mais.

Num misto de direito e religião, originou-se o decálogo, com os Dez Mandamentos, aparecendo
no Deuteronômio um dos cinco livros do Pentateuco, que tratava basicamente da Lei Mosaica. O
decálogo cita, por exemplo: ‘‘Não matarás; Não cometerás adultério; Não furtarás; Não
levantarás falso testemunho contra o teu próximo; Não cobiçarás a mulher de teu próximo; Não
cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu
jumento, nem nada que lhe pertence’’.

A família hebréia tinha organização patriarcal rígida, constituída que estava sobre a base de uma
severa autoridade paterna. Assim, o pai era o centro da vida familiar com plena autoridade sobre
os filhos. O matrimônio tinha proteção religiosa e os escravos, que eram considerados membros
da família, deveriam ser bem tratados.

A Legislação Mosaica é ampla e bem elaborada para a época, tratando de muitas questões
relacionadas à disciplina da vida em sociedade, motivo pelo qual tem enorme influência nas
legislações de muitas sociedades atuais.

Governo de Deus.

O Direito hebraico é um direito religioso, de cunho monoteísta. O direito é “dado” por


Deus ao seu povo, e, por conseguinte, imutáveis; só Deus pode modificá-lo. Aos
intérpretes - os rabinos -, cabe interpretá-lo para adaptá-lo à evolução social, contudo
em hipótese alguma alterá-lo.

Individualismo.

No que diz respeito à família, ela desempenha um papel muito especial no judaísmo.
Pois é dela que os judeus recebem sua identidade cultural e sua educação básica. O
casamento é considerado o modo de vida ideal, instituído por Deus, e é o único tipo de
coabitação permitido.

Não obstante, durante um largo espaço de tempo, a poligamia representou a regra do


regime matrimonial, bem como o levirato, forma de união em que se determinava o
dever do homem de contrair núpcias com a viúva do irmão que falecesse sem deixar
filho varão. Porém, depois do cativeiro a que foi submetido o povo Hebreu pelos
Babilônios (587- 537 a.C.), o regime matrimonial passou a ser o monogâmico, sendo
abolidos a poligamia e o levirato.

Justiça Social.
No que diz respeito à dissolução da sociedade conjugal, mister se faz ressaltar que, a
não ser na legislação babilônica, em que a quebra do vínculo podia partir de qualquer
uma das partes, tal iniciativa era exclusiva do homem na legislação mosaica, cujo fato
gerador, em regra, era a falta de virgindade da noiva. Outrossim, o conceito de divórcio
tinha conotação diferente da atual, posto que era uma forma de repúdio do homem em
relação à mulher. Contudo, o marido ficava obrigado a provar as razões que o levam a
repudiar a mulher. Caso contrário, estaria sujeito a uma pena corporal (açoites) e uma
pena pecuniária (100 siclos de prata pagos ao pai da esposa), além de não despedi-la.

Já no que concerne ao adultério, era ele condenado com rigor por afetar a segurança da
família, considerada célula mater da sociedade.

As Normas de caráter legal imposta por Moisés.

a) Direito Penal

a. 1 ) Boa administração da justiça.

A legislação mosaica regulava sobre o comportamento reto e probo dos julgadores.

Estabelecerás juízes magistrados em todas as cidades que Jeová, teu Deus te der, de
acordo com as tribos, e eles julgarão o povo com justiça. Não torcerás o direito, não
terás consideração pelas pessoas e não receberás quaisquer presentes, pois os presentes
cegam os olhos perspicazes e corrompem as palavras dos justos. Seguirás estritamente a
justiça, a fim de que vivas e possuas a terra que te dá Jeová, teu Deus (18-20).

Legislação brasileira. CRFB, art. 37, sS 4º ; CP, art. 317 – Corrupção passiva.

a.2) Crimes contra a saúde pública. Repressão ao charlatanismo.

Moisés sempre abominou a religião egípcia e não deixou o seu espírito se impregnar
pela charlatanice dos sacerdotes do Nilo. Sua lei condenou todas aquelas mistificações
usuais na Caldéia, no Egito e na Fenícia. Seus poderes promanavam de Deus e eles
podiam vencer as incredulidades do seu povo recorrendo à autoridade divina, que
sempre lhe acudiu nos momentos dramáticos de sua existência. Essas determinações
deuteronômicas são evidentes, como se verá a seguir:

Entre ti se não achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou sua filha, nem
adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiros (18, v. 10).

Legislação brasileira. O nosso Código Penal, art. 283, reprime o charlatanismo, assim
estabelecendo: Inculcar ou anunciar a cura por meio secreto ou infalível: Pena –
detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.

a.3) Crimes contra a vida. Homicídio involuntário (culposo) e legítima defesa.

A lei de Moisés previa os casos de homicídio involuntário (culposo) e legítima defesa,


hipóteses em que a pena taliônica não se explicava com todo seu rigorismo,
estabelecendo as cidades asilo para os criminosos de tal natureza.
Como aquele que entrar com o seu próximo no bosque para cortar lenha e, pondo força
na sua mão com o machado para cortar a árvore, o ferro saltar do cabo e ferir seu
próximo e morrer, o tal se acolherá a uma destas cidades e viverá (19, v. 5).

Quando houver contenda entre alguém e vierem a juízo para que os julguem, ao justo
justificarão e ao injusto condenarão (25:1).

Legislação brasileira. Para o homicídio culposo o CP, art. 121, sS 3 , prevê uma pena
bem mais branda (detenção, de 1 a 3 anos) do que a prevista para o homicídio simples
(art. 121, caput: reclusão de 6 a 20 anos).

a. 4) Inviolabilidade do domicílio.

O respeito ao lar era coisa sagrada para os Hebreus. A ação da justiça respeitava sua
inviolabilidade. Moisés mais de uma vez diz fora das portas, querendo significar esse
preceito.

Legislação brasileira. A nossa Magna Carta, art. 5, XI, assim dispõe: a casa é asilo
inviolável do indivíduo, ninguém nela pode penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial.

Por sua vez, o CP, art. 150, contém regras contra a violação do domicílio.

b) Direito do trabalho.

Além do descanso semanal, abaixo, a legislação mosaica contém versículos


considerados do Direito que atingiu sua quase saturação nos dias atuais, prevendo,
inclusive, uma espécie de indenização ao hebreu após o tempo trabalhado:

Quando o teu irmão hebreu ou tua irmã hebréia se vender a ti, seis anos te servirá, mas
no sétimo ano o despedirás forro (livre, liberto) de ti (15, v. 12).

E quando o despedires de ti, forro (livre, liberto), não o despedirás vazio (15, v. 13).

b. 1) descanso semanal.

Coube a Moisés a determinação do descanso semanal, coisa que não se encontra no


próprio Código de Hamurabi, onde há especificação de salário para diferentes misteres:

Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o Senhor teu Deus (5, v. 12).

Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhuma obra nele, nem tu,
nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu
jumento, nem animal algum teu, nem estrangeiro que está dentro de tuas portas: para
que teu servo e tua serva descansem como tu (5, v. 20).

Legislação brasileira. A consolidação das leis do trabalho (CLT) estabelece no art. 67:
Será assegurado a todo empregado um descanso semanal de vinte e quatro horas
consecutivas, o qual, salvo motivo de conveniência pública ou necessidade imperiosa do
serviço, deverá coincidir com o domingo, no todo ou em parte. Em nossa Carta Maior o
assunto está regulado no art. 7, XV.

c) Direitos individuais e coletivos.

c. 1)Direito internacional.

Conquanto haja divergências a respeito, a maioria dos juristas entende que já se fazia
presente esse direito nas relações entre povos de épocas bem remotas, através de uma
prática recíproca de imunidades diplomáticas.

Em Israel, no reinado de Salomão (1015-977 a.C.), foram celebrados tratados de


amizade e comércio com a Fenícia, o Egito e reinos da Mesopotâmia. Nessa fase, Israel
representava importante via de acesso para o intercâmbio comercial, entre os povos
mesopotâmicos e o país do Nilo. Daí, graças a esses tratados, ter Salomão estabelecido
um direito de passagem pelo território de seu reino e mandado construir, ao longo do
percurso seguido pelos mercadores, estalagens para os membros das caravanas e
galpões para suas mercadorias. Consolidava-se com isso uma política de Direito
Internacional que já vinha desde o reinado de Davi (1055-1015 a.C.). E, se
retrocedermos às leis de Moisés, constataremos que já pregava o respeito ao direito do
estrangeiro, mediante diversos incisos sobre a situação do estrangeiro, sobre a paz e a
guerra, estabelecendo igualdade de julgamento para os nacionais e os estrangeiros:

Pelo que amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito (10, v. 19).

Não abominarás o edumeu, pois fostes estrangeiros na terra do Egito (23, v. 7).

Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão, nem tomarás em penhor a roupa da


viúva (24, v. 17).

Legislação brasileira. CRFB, art. 5, capult: Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à
propriedade, ...

d) Direito Civil.

d.1) Propriedades – Limites de propriedades.

Sem sombra de dúvida, foi à força de um dever sagrado que a princípio garantiu o
direito de propriedade, e o exemplo mais expressivo do vínculo entre a religião e o solo
é dos hebreus. O conceito de propriedade imóvel para os antigos hebreus é de que o solo
pertencia a Deus e sua ocupação expressava o testemunho da vontade do criador. Tal
concepção determinou o critério de divisão das terras entre famílias das tribos que, após
a fuga do Egito, chegaram à Palestina.

O domínio da propriedade, por conseguinte, era intransferível fora dos limites do


hereditário. Dessa maneira, qualquer contrato, no qual a terra fosse objeto de transação,
só poderia versar sobre a posse e ter vigência temporária, tendo por base o Ano do
Jubileu (grande festa comemorativa do estado judaico) como limite máximo de duração
dos contratos.

Outrossim, considerando que os israelitas viviam basicamente do pastoreio, da vinha,


dos trigais e do cultivo da oliveira, uma rigorosa fiscalização estatal foi estabelecida,
para resguardar a produção e os direitos dos possuidores.

Não mudes o limite do teu próximo, que limitaram os antigos na tua herança, que
possuíres na terra, que te dá o Senhor teu Deus para a possuíres.

Legislação brasileira. Nossa Legislação dispõe de normas destinadas à proteção


possessória; vide o art. 523 (sem dispositivo correspondente no novo CC) e art. 524 do
Código Civil (dispositivo correspondente no novo CC: art. 1.228), valendo consignar
este último: A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens,
e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua.

O direito de propriedade também é garantido pela CRFB, art. 5, XXII.

e) Direitos Sociais.

e.1) Assistência Social.

O espírito de solidariedade está presente em toda a legislação mosaica. Moisés


procurava, através da caridade, suprir as carências sociais de seu estado:

Então virá o levita (ministro do culto – pois nem parte nem herança têm contigo) e o
estrangeiro e o órfão e a viúva, que estão dentro de tuas portas e comerão e fartar-se-ão:
para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos, que fizeres (14, v.
29).

Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma de tuas portas, a tua
terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua
mão a teu irmão que for pobre (15, v. 7).

Antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto
baste para a sua necessidade (15, v. 8).

Legislação brasileira. A CRFB, art. 6, assim dispõe: São direitos sociais (...), a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Complementa o dispositivo
citado o art. 203 do mesmo diploma legal: A assistência social será prestada a quem
dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social.

e.2) Educação e cultura.

Recomendações sobre o ensino e a sabedoria do povo:

Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízes, como mandou o senhor meu Deus:
para que assim façais no meio da terra a qual ides herdar (4, v.5).
Guardai-os, pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e vosso entendimento
perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos e dirão: - Este grande
povo só é gente sábia e entendida (4, v.5).

Legislação brasileira. CRFB, art. 6: São direitos sociais a educação, a saúde, o


trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. O art. 205
complementa o artigo citado: A educação, direitos de todos e dever do estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

A LEI DAS XII TÁBUAS

A Lei da XII Tábuas, mais do que qualquer outro código antigo, tem para nós
um significado especial: a sua repercussão séculos afora por toda a Roma
Republicana, em mais de quatro centúrias e, posteriormente, na Roma
Imperial, em cerca de cinco séculos, até a compilação Justianéia. Seus
retalhos, incorporados a esta, transbordaram com ela das fronteiras do
Império e se disseminaram por todas as legislações que sofreram influência
romana, inclusive a nossa.

Segundo a tradição, a Lex Duodecimum Tabularum foi promulgada no ano


452 a. C. e, surgiu como um dos objetivos dos plebeus que era o de acabar
com a incerteza do direito por meio da elaboração de um código, o que viria
refrear o arbítrio dos magistrados patrícios contra a plebe.

Lei escrita, produzida por órgãos legislativos, a lei decenviral é uma fonte
potente de estudo do direito romano antigo pois retrata o meio social, suas
formas definem um período da vida romana. Todo o jus consuetidinarium e,
mesmo o jus scriptum corporificado nas leges regial teriam os seus vestígios
fortemente gravados nas XII Tábuas decenvirais.

Além desse aspecto de fonte de conhecimento do direito, a lei decenviral


desempenhou um papel histórico: o de fonte de todo o direito posterior,
direta ou indireta. E julgamos que nesse sentido é que Tito Lívio, ao fazer
alusão ao amontoado de leis que se sobrepunham umas as outras reputou a
lei decenviral “fonte de todo direito público e privado”.

Dela decorrem o direito privado, o direito civil romano, normas sobre


propriedade, obrigações, sucessões e família, os juri in re aliena, os direitos
de vizinhança, a tutela e a curatela, os testamentos, os preceitos
creditórios, os contratos. Em suma, o direito civil buscou as suas raízes
históricas na legislação decenviral.

O direito penal, embora em menores proporções, encontra nela abundante


manancial, especialmente no que diz respeito ao furto, o homicídio, o dano,
o falso testemunho.

O direito processual radica-se na legislação decenviral através das ações da


lei.

Proibiu a lei decenviral as penas capitais sem aprovação prévia dos comícios
centuriados, retirando assim dos magistrados o poder de dispor da vida de
seus semelhantes. Preceito revolucionário para a época em que a plebe se
encontrava à mercê do patriciado e as condenações à morte eram rápidas e
fáceis.

Foi, portanto, a Lei da XII Tábuas, além de uma fonte de conhecimento, a


criadora extraordinariamente fecunda do direito romano posterior, durante
cerca de mil anos.

É nesse caráter que reputamos a legislação dos decênviros uma poderosa


fonte de direito, o tronco do qual verdejaram as ramificações todas dessa
árvore imensa que mais tarde estendeu-se os seus ramos por todo o
Império Romano e finalmente por todos os povos civilizados do mundo.

Quase todos os romanistas estabelecem como marco divisório entre a


primeira e a segunda fase da história do direito em Roma a Lei das XII
Tábuas. Antes dela tudo era vago, indeciso, impreciso. Os costumes
regulavam a vida social, especialmente no período entre a fundação ( 754 a.
C.) e a queda de Tarquinio Soberbo (510 a. C.).

A marca inconfundível do código decenviral não se cinge em ter criado, para


os romanos, um novo sistema jurídico, mas apenas em ter fixado o direito
por escrito, determinando com precisão as normas já em vigor, com as
modificações aconselhadas à maior harmonia entre as duas classes sociais.
Não deve ter tido o código nem a pretensão de inovar profundamente,
tampouco de recriar uma nova era.

Em 454 a. C., segue para a Grécia uma embaixada composta de três


membros para estudar a legislação de Sólon. Quando de seu retorno, em
452 a. C., elaboram um código de dez tábuas, mas como o trabalho estava
incompleto, elege-se um novo decenvirato, que em 450 a. C. redige mais
duas tábuas, perfazendo, assim, o total de 12 (por isso Lei das XII Tábuas).

Mas, a influência helênica compaginada nas XII Tábuas não deve ter
ultrapassado os limites de um determinismo histórico peculiar aos homens.
Apesar da pretendida influência helênica sobre a romana, muitos escritores
negam-na terminantemente e defendem que a lei decenviral teria sido um
produto genuinamente romano, de uma sociedade em formação e de um
povo profundamente inclinado para o estudo da ciência jurídica.

A fortaleza dos costumes romanos jamais se deixou quebrantar pelos usos e


instituições estrangeiras, geralmente eles foram acolhidos na prática, mas
só excepcionalmente lograram importância como fonte jurídica.

Legislação de caráter predominantemente consuetudinário, as XII Tábuas


excederam a simples consagração escrita do que já era regra tradicional,
porque assentaram a fusão dos distintos costumes das duas classes que se
entrechocavam em Roma, e assim deram o passo inicial à abertura da
igualdade entre patrícios e plebeus.

Escritas em bronze, conforme Tito Lívio, ou em marfim, consoante


Pompônio, o certo é que as Tábuas da Lei, menos de um século depois de
elaboradas, foram destruídas pelos gauleses na invasão do Roma, todavia o
texto sobreviveu nas produções literárias posteriores, tanto assim que, ao
tempo de Cícero, ainda era ensinado de cor nas escolas. Fora transmitido o
seu teor, nas próprias palavras originais, nem sempre bem renovadas, ou
através das idéias e princípios.

Uma vez editadas, as XII Tábuas passaram a corporalizar o direito próprio


do povo romano, durante todo o restante do período histórico de Roma,
quando então a faina dos pretores passou a construir, sem derrogá-las,
normas paralelas para as situações não contempladas ou carentes de
equidade, o chamado direito honorário, ou jus praetorium, que abriu o
velário do período clássico. Assim, pode-se dizer que elas nunca foram
abrogadas, antes, cederam ao peso de sua própria interpretação.

A legislação dos decênviros foi uma verdadeira carta constitucional do povo


romano e com esse aspecto projetou-se no tempo e no espaço, tanto assim,
que no século de Justiniano, cerca de mil anos depois de sua elaboração,
ainda era observada.

Como fonte do direito público, a Lei das XII Tábuas erigiu-se em um dos
maiores monumentos jurídicos de todos os tempos, com mandamentos que
ainda hoje, decorridos mais de 2000 anos, sobrevivem esparsos nas
legislações de muitos povos, ainda que transformados pelo tempo e
adaptados a novas condições sociais, sob esse aspecto, pode ser
considerada fonte de direito universal.

O CÓDIGO DE MANÚ

Na Índia antiga, preservou-se um código atribuído a Manú, personagem


mítico, considerado “Filho de Brama e Pai dos Homens”.

Escrito em sânscrito e elaborado entre o século II a.C. e o século II d. C., o


Código de Manú é a legislação mais antiga da Índia.

As leis de Manú representam historicamente uma primeira organização


geral da sociedade, sob forte motivação religiosa e política. Elas
exemplificam a situação do direito nos povos que não chegaram a distinguir
a ordem jurídica dos demais planos da vida social.

Da premissa de que a humanidade passa por quatro grandes fases, que


marcam uma progressiva decadência moral dos homens, os idealizadores
do código julgavam a coação e o castigo essenciais para se evitar o caos na
sociedade.

No Código de Manú havia uma estreita correlação entre o direito e os


dispositivos sacerdotais, os problemas de culto e as conveniências de
castas.

Encontramos neste código, ao lado de uma extensa e sistematizada


determinação de preceitos jurídicos (com cominação de sanções seguindo
uma escala coerente), uma série de idéias sobre valores como verdade,
justiça e respeito. Os dados processuais que se baseiam sobre credibilidade
dos testemunhos atribuem diferente validade à palavra dos homens
conforme a casta a que pertencem. A mulher se acha sempre em extrema
desvantagem e em condição totalmente passiva dentro da sociedade. A
honra das pessoas e sua situação dentro da aplicação do direito, dependia
da condição da casta.

O código era bastante detalhado e meticuloso e previa vários tipos de


problemas, nos campos penal, civil, comercial, laboral, etc., trazendo ao
início uma extensa série de artigos sobre administração da justiça, modos
de julgamento e meios de prova.

Esse código objetivou favorecer a casta brâmane, que era formada pelos
sacerdotes, assegurando-lhes o comando social. Um exemplo revela a
superioridade dessa casta:” Se um homem achasse um tesouro deveria ter
dele apenas 10% ou 6%, conforme a casta a que pertencesse. Se fosse um
brâmane, teria todo o tesouro, e se fosse o rei, apenas 50%.”

Além de injusto o Código de Manú era obscuro e impregnado de


artificialismo.

A seguir veremos uma síntese do conteúdo dos doze livros, onde, podemos concluir
que, excluindo-se os livros Primeiro e Décimo Segundo, os demais podem ser divididos em três
grupos: a) sanciona o ordenamento religioso da sociedade; b) disciplina os deveres do rei; e, c)
discorre sobre o direito processual.
Livro Primeiro - Descreve a apresentação e o pedido das leis compiladas pelos Maharqui (os
dez santos eminentes) dirigido a Manu; a criação do mundo; a hierarquia celeste e humana; a
divisão do tempo; o alternar-se da vida e da morte, em cada ser criado; e, a explicação das
regras para que possam ser difundidas.
Livro Segundo - Institui quais sejam os deveres que devem cumprir os homens virtuosos, os
quais são inatacáveis tanto pelo ódio quanto pelo amor, e as obrigações e a vida prescrita para
o noviciado e a assunção dos sacramentos para os Brâmanes, sacerdotes, membros da mais
alta casta hindu.
Livro Terceiro - Estipula normas sobre o matrimônio e os deveres do chefe da família;
trazendo descrições minuciosas sobre os inúmeros costumes nupciais; o comportamento do
bom pai frente à mulher e aos filhos; a obrigação de uma vida virtuosa; a necessidade de
excluir pessoas indesejáveis, como, por exemplo, os portadores de doenças infecciosas, os
ateus, os que blasfemam, os vagabundos, os parasitas, os dançarinos de profissão, etc. do
meio familiar; as oblações que devem ser feitas aos deuses, etc.
Livro quarto - Ratifica, como de fundamental importância, o princípio de que qualquer meio de
subsistência é bom se não prejudica, ou prejudica o menos possível, os outros seres humanos,
e ensina de que maneira, honesta e honrosa, se pode procurar como e do que viver.
Livro Quinto - Indica quais os alimentos que devem ser preferencialmente consumidos para
ter uma vida longa e quais normas de existência devem ser seguidas para a purificação do
corpo e do espírito; eleva simbolicamente a função do trabalho e determina normas de conduta
para as mulheres, que devem estar sempre submetidas ao homem (pai, marido, filho ou
parente e, na falta, ao soberano).
Livro Sexto - Regula a vida dos anacoretas (religioso contemplativo) e dos ascetas
(praticantes); de como tornarem-se, conhecendo as escrituras, cumprindo sacrifícios e
abandonando as paixões humanas.
Livro Sétimo - Determina os deveres dos reis e confirma as normas de sua
conduta, que deve ter como objetivo proteger com justiça todos aqueles que estão
submetidos ao seu poder. O Código se ocupa não só das relações internas, como
também das externas, e dita regras de diplomacia para os embaixadores do rei e da arte
da guerra quando for preciso recorrer às armas. O princípio romano “se queres a paz
prepara-te para a guerra” (si vis pacem para bellum), já é aplicado aqui, quando diz que o
rei, cuja armada mantém-se eficiente e constantemente em exercício, é temido e
respeitado pelo mundo inteiro.
Livro Oitavo e Nono - São os que mais interesse trazem aos jornais, pois contêm normas de
direito substancial e processual, como também as normas de organização judiciária. A justiça
vem do rei, que deve decidir pessoalmente as controvérsias que podem ser resumidas nos
dezoito títulos do Livro Oitavo e nos três do Livro Nono.
Livro Oitavo: Parte Geral: I – Da Administração da Justiça – Dos Ofícios dos Juízes; II – Dos
Meios de Provas; III – Das Moedas; Parte Especial: IV – Das Dívidas; V – Dos Depósitos; VI –
Da Venda de Coisa Alheia; VII – Das Empresas Comerciais; VIII – Da Reivindicação da Coisa
Doada; IX – Do não Pagamento por Parte do Fiador; X – Do Inadimplemento em Geral das
Obrigações; XI – Da Anulação de uma Compra e Venda; XII – Questões entre Patrão e Servo;
XIII – Regulamento dos Confins; XIV – Das Injúrias; XV – Das Ofensas Físicas; XVI – Dos
Furtos; XVII – Do Roubo; XVIII – Do Adultério;
Livro Nono: XIX – Dos Deveres do Marido e da Mulher; XX – Da Sucessão Hereditária; XXI –
Dos Jogos e dos Combates de Animais; Disposições Finais.
*Nesta edição, publicamos somente os Livros Oitavo e Nono, por serem justamente os que
mais interessam aos juristas.
Livro Décimo - Regula a hierarquia das classes sociais, a possibilidade do matrimônio e os
direitos que têm os filhos nascidos durante sua vigência e estabelece normas de conduta para
aqueles que não conseguem, por contingências adversas, viver segundo as prescrições e as
exigências de sua própria casta.
Livro Décimo Primeiro – Enumera uma longa série de pecados e faltas e estabelece as
penitências e os meios para se redimir.
Livro Décimo Segundo - Enfoca a recompensa suprema das ações
humanas. Aquele que faz o bem terá o bem eterno nas várias transmigrações de sua
alma; o que faz o mal receberá a devida punição nas futuras encarnações. As
transmigrações da alma são detalhadamente previstas e descritas. Tanto em bem quanto
em mal, até que a alma chegue à perfeita purificação e, em conseqüência, possa ser
reabsorvida por Brahma.

O CÓDIGO DE JUSTINIANO

Em 1º de agosto de 527 d.C., sobe ao trono do Império Romano do Oriente,


na cidade de Constantinopla, Justiniano, que inicia obra militar e legislativa.

Pouco depois de assumir o poder, nomeia comissão de dez membros para


compilar as constituições imperiais vigentes. No ano de 529 estava a
compilação pronta sendo intitulada “Novus Justinianus Codex”.

O Corpus Juris Civilis, como Dionísio Godofredo, no século XVI, chamou o


conjunto formado pelas Institutas, Digesto, Código e Novelas, está ligado
para sempre ao nome de Justiniano. O imperador teve particular interesse
pela jurisprudência a ela dedicou todas suas forças, até o fim.

Nos fins de 530, Justiniano encarrega Triboniano (ministro do imperador e


jurisconsulto de grande mérito) de organizar comissão destinada a compilar
os escritos dos antigos juristas. A comissão tinha poderes para fazer
supressões, modificações e acréscimos, para que a nova consolidação
estivesse em harmonia com as exigências da época, procurando de modo
particular que nela não houvesse nenhuma repetição nem contradição. Para
o término desse projeto grandioso, previu Justiniano prazo mínimo de dez
anos, no entanto, a comissão de dezesseis membros (professores de direito
e advogados), depois de examinar mais de três milhões de linhas
distribuídas em dois mil volumes, conseguiu reduzir esse material à
vigésima parte e concluir o trabalho em apenas três anos. O título da obra
deveria ser Digesta (plural de Digestum que quer dizer coisas ou escritos
classificados com método) ou Pandectal (do grego, significa o que contém
tudo). O digesto é obra de grande valor e utilidade, não só para a época e
para o Império Romano do Oriente, mas sobretudo como repositório
abundante e precioso, malgrado alterações e lacunas da literatura jurídica,
atribuída a trinta e nove dos mais ilustres jurisconsultos romanos.
Acreditando na perfeição do trabalho, o imperador proibiu que ele fosse
comentado, já que a permitir comentários ao Digesto, que reputava
perfeito, esses seriam perversões e não interpretações.

Qualquer comentário ao Digesto seria contrafacção e seus autores punidos


e seus escritos destruídos. Nenhum jurista poderia acrescentar-lhe
comentários e obscurecer com sua verbosidade a brevidade da obra. Havia
também punição para quem citasse, nos julgamentos ou em discussão,
obras outras que não o Código, o Digesto ou as Institutas. Na redação do
Digesto foi proibido o emprego de abreviações e siglas, os próprios números
dos livros e dos títulos deviam ser escritos em letras e não com cifras.

Terminada a elaboração do Digesto, mas antes de sua promulgação,


Justiniano escolheu três dos compiladores, para a organização de um
manual escolar que servisse aos estudantes como introdução ao direito
compendiado no Digesto. Seguindo as Intitutas de Caio, essa comissão
elaborou as Institutiones seu Elementa (Institutiones, elementos de uma
disciplina, de instituere, ensinar). Ambos, Digesto e Institutas, entraram em
vigor na mesma data: 30 de Dezembro de 533 d.C.

O primeiro código, devido às inovações posteriores, teve de ser atualizado,


em nova edição, denominada por Justiniano, Codex Repetital Praelactionis.
Em 16 de Novembro de 534 d.C. , a nova edição do código foi promulgada e
passou a vigorar em 29 de Dezembro desse mesmo ano.

As Institutas, o Digesto e do Código foram as compilações feitas por ordem


de Justiniano. No entanto, depois de elaboradas, Justiniano introduziu
algumas modificações na legislação mediante Constituições Imperiais, que
pretendia reunir num corpo único. Sua morte, porém, não lhe permitiu
realizar o intento, o que foi feito, posteriormente, por particulares. A essa
coleção, em língua grega ou latina, se dá o nome de Novellaeleges.

O Digesto, o Código e as Instituições constituem o núcleo da Compilação


Justiniana, vigorando de acordo com a vontade de Justiniano, como uma
única obra, não obstante cada parte tenha sido composta e publicada em
épocas diversas. As Novelas, sendo leis posteriores, constituem a sua
atualização e têm por conseguinte preferência relativamente às outras
partes, de acordo com o princípio lex posterior derogat priori.

O ALCORÃO

O Alcorão ou Corão (em árabe ‫قُْرآن‬, al-qur’ān, “a recitação”) é o livro sagrado do


islamismo. Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é a palavra literal de Deus (Alá)
revelada ao profeta Maomé (Muhammad) ao longo de um período de vinte e dois anos.
A palavra Alcorão deriva do verbo árabe que significa declamar ou recitar; Alcorão é
portanto uma “recitação” ou algo que deve ser recitado.

Os muçulmanos podem se referir ao Alcorão usando um título que denota respeito,


como Al-Karim (“o Nobre”) ou Al-Azim (“o Magnífico”). É um dos livros mais lidos e
publicados no mundo, sendo que, não é vendido pelos muçulmanos e, sim, dado.
Do início do século VII, o Alcorão, ou simplesmente Corão, é o livro religioso
e jurídico dos muçulmanos. Para os seus seguidores, não foi redigido por
Maomé, que não sabia escrever, mas ditado por Deus ao profeta, através do
arcanjo Gabriel. Fundamentalmente religioso, apresenta descrições sobre o
inferno e o paraíso e adota como lema o dito: “Alá é o único Deus e Maomé
o seu Profeta”. O seu conteúdo normativo revelou-se insuficiente na prática,
o que gerou a necessidade de sua complementação através de certos
recursos lógicos e sociológicos. Entre estes constam os seguintes: costumes
do profeta, que consistia nos comentários e feitos de Maomé;
consentimento unânime, que correspondia ao pensamento da comunidade
muçulmana; a analogia e a equidade.

Com a evolução histórica, o Código foi ficando cada vez mais distanciado da
realidade e revelou sua incapacidade para reger a vida social. A solução
lógica seria a reformulação objetiva da legislação, mas tal tarefa encontrava
um obstáculo intransponível: sendo uma obra de Alá, apenas este poderia
reformulá-la. Diante do impasse, os jurisconsultos muçulmanos utilizaram
uma série de artifícios para contornar as dificuldades, na tentativa de
conciliarem o velho texto com a realidade.

Ainda em vigor em alguns Estados, como Arábia Saudita e Irã, o Alcorão


estabelece severas penalidades em relação ao jogo, bebida e roubo, além
de situar a mulher em condição inferior à do homem.

O alcorão quer dizer “recitação” e as suas palavras tem sido entoadas em voz alta,
habitualmente. Quando Maomé recebeu os primeiros versículos, em 610, d.C, o arcanjo
ordenou: “Igra”, Recite!”!> Inicialmente o Alcorão enfoca a unidade de Deus, o papel
deste na história, o julgamento e a necessidade de ajudar as outras pessoas. As ultimas
suras tratam de assuntos comunitários relacionados coma família, casamento, etc.

“EM NOME DE DEUS, BENEFICENTE E MISERICORDIOSO! LOUVADO


SEJA DEUS, SENHOR DOS MUNDOS. BENEFICENTE E MISERICORDIOSO.
SENHOR DO DIA DO JULGAMENTO! A TÍ SOMENTE, ADORAMOS, A TI
SOMENTE, PEDIMOS SOCORRO! MOSTRA-NOS O BOM CAMINHO. O
CAMINHO DESSES QUE TENS FAVORECIDO; NÃO O CAMINHO DESSES
QUE INCORREM NA TUA CÓLERA NEM O DOS QUE SE PERDEM!
AMÉM!”

ETMOLOGIA

Há duas variantes para o nome do livro usadas comumente: Corão e Alcorão. Por vezes
se afirma que, como o prefixo al-, corresponde ao artigo definido árabe, o seu uso seria
desnecessário; no entanto, nas muitas palavras portuguesas de origem árabe que se
iniciam por ela, como “almanaque” ou “açúcar”, a partícula não foi suprimida. José
Pedro Machado nota que a palavra Alcorão está registrada desde os mais antigos
documentos em português e ao longo de toda a história da língua, ao contrário de Corão,
recentemente importada.

ESTRUTURA DO ALCORÃO

O Alcorão está organizado em 114 capítulos, denominados suras, divididas em livros,


seções, partes e versículos. Considera-se que 92 capítulos foram revelados ao profeta
Maomé em Meca, e 22 em Medina. Os capítulos estão dispostos aproximadamente de
acordo com o seu tamanho e não de acordo com a ordem cronológica da revelação.
Cada sura pode por sua vez ser subdividida em versículos (ayat). O número de
versículos é de 6536 ou 6600, conforme a forma de os contar.
A sura maior é a segunda, com 286 versículos; as suras menores possuem apenas três
versículos.
Os capítulos são tradicionalmente identificados mais pelos nomes do que pelos
números. Estes receberam nomes de palavras distintivas ou de palavras que surgem no
inicío do texto, como por exemplo A Vaca, A Abelha, O Figo ou A Aurora. Contudo,
não se deve pensar que o conteúdo da sura esteja de alguma forma relacionado com o
título do capítulo.

COMO FOI ESTRUTURADO

O Alcorão não foi estruturado como um livro durante a vida de Maomé. À medida que o
profeta recebia as revelações, ele solicitava ao jovens letrados que integravam a sua
comitiva para que transcrevessem os textos. O chefe desta equipe de secretários, que
surgiu de forma institucionalizada após a Hégira, em Meca, foi Zayd ibn Thabit. O texto
foi preservado em materiais dispersos tão variados como folhas de tamareira, pedaços
de pergaminho, omoplatas de camelos, pedras e também na memória dos primeiros
seguidores. Durante as noites do Ramadão, Muhammad recapitulava as revelações,
numa conferência onde estava presentes os logógrafos (escritores profissionais) e os
hafiz, ou seja, pessoas que conheciam passagens de memória (que escutaram nas
prédicas do profeta).

Após a morte de Maomé em 632 iniciou-se o processo de recolhimento dos vários


extratos.
Para alguns, o Alcorão terá sido composto na sua forma actual sob a direcção do califa
Abu Bakr nos dois anos que se seguiram à morte de Muhammad; outros defendem que
foi o califa Omar o primeiro a compilar o Alcorão. Considera-se que a verdade está a
meio termo: Abu Bakr foi aconselhado por Omar a compilar um primeiro manuscrito,
auxiliado na tarefa por logógrafos e por dois hafiz.
Entre 650 e 656, durante o califado de Otman, o Alcorão se estruturou de uma forma
mais oficial. Otman nomeou uma comissão para decidir o que deveria ser incluído ou
excluído do texto final do Alcorão. Foi então constituído um “livro-referência” a partir
do qual se criaram seis cópias que foram enviadas para Meca, Iémen, Bahrein, Bassora
e Kufra.

CONTEÚDO DO ALCORÃO

O Alcorão descreve as origens do Universo, o Homem e as suas relações entre si e o


Criador. Define leis para a sociedade, moralidade, economia e muitos outros assuntos.
Foi escrito com o intuito de ser recitado e memorizado. Os muçulmanos consideram o
Alcorão sagrado e inviolável.
Para os muçulmanos, o Alcorão é a palavra de Deus, sagrada e imutável, que fornece as
respostas acerca das necessidades humanas diárias, tanto espirituais como materiais. Ele
discute Deus e os seus nomes e atributos, crentes e suas virtudes, e o destino dos não-
crentes (kuffar); até mesmo temas de ciência. Os muçulmanos não seguem apenas as
leis do Alcorão, eles também seguem os exemplos do profeta, o que é conhecido como a
Sunnah, e a interpretação do Corão contida nos ensinamentos do profeta, conhecida
como hadith.
Aos muçulmanos é ensinado que Deus lhes enviou outros livros. Para além do Alcorão,
os outros são o livro de Ibrahim (que se perdeu), a lei de Moisés (a Torá), os Salmos de
David (o Zabûr) e o evangelho de Jesus (o Injil). O Alcorão descreve cristãos e Judeus
como “o povo do livro” (ahl al Kitâb).
Os ensinamentos do Islão englobam muitas das mesmas personagens do judaísmo e do
cristianismo. Personagens bíblicas bem conhecidas como Adão, Noé, Abraão, Moisés,
Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Baptista são mencionados no Alcorão como
profetas do Islão. No entanto, os muçulmanos freqüentemente se referem a eles por
nomes em língua árabe, o que pode criar a ilusão de que se trata de pessoas diferentes
(exemplos: Alá para Deus, Iblis para Diabo, Ibrahim para Abraão, etc).
Quando uma criança nasce no seio de uma família muçulmana, os seus pais são
saudados com a fórmula “Que esta criança possa estar entre os anunciadores do
Alcorão”.
As crianças muçulmanas aprendem desde cedo a começar determinados atos da sua
vida, como as refeições, com a fórmula “Em nome de Deus” (Bismillah) e a concluí-los
com a expressão “Louvado seja Deus” (Al-Hamdu Lillah). Estas frases são as mesmas
que se encontram nos dois primeiros versículos da primeira sura.
Algumas partes do Alcorão são recitadas durante momentos especiais da vida como o
casamento ou no leito de morte. Em muitos países muçulmanos certos aspectos da vida
pública começam com a recitação de passagens deste livro considerado sagrado.
Os muçulmanos não tocam no livro sagrado senão após a ablução, conhecida como
wudu.

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