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Introdução

Essa obra é uma refutação e crítica ao livro 21 dias para transformar a sua vida de Michael
Aboud, cujo conteúdo não vem como surpresa, pois é claramente um fruto da Teologia da
Prosperidade norte americana. Em si, a obra não traz nada de novo, é apenas uma síntese dos ensinos
de Myles Munroe, que inclusive fez um prefácio para o livro, e de outros pregadores da prosperidade
norte americanos. O livro segue a linha de pregação de pastores como Benny Hinn, Morris Cerullo,
Kenneth Hagin, Joel Osteen, Creflo Dollar, entre outros nomes que causaram muita polêmica através
de escândalos e doutrinas heréticas. No Brasil essa teologia também tem seus propagadores: Edir
Macedo (Universal do Reino de Deus) R.R. Sores (Internacional da Graça), Estevam Hernandes
(Renascer em Cristo), Silas Malafaia, que inicialmente era contra a teologia da prosperidade mas
agora é um dos seus mais famosos pregadores, Miguel Ângelo (Cristo Vive) entre outros aos quais
também escândalos, prisões, e roubos são associados. Já nos advertiu o Senhor “É impossível que
não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” - Lucas 17:1.

A Teologia da Prosperidade não precisa mais de muita introdução hoje em dia, ela já está
muito bem difundida entre a cristandade. Portanto apenas situarei o leitor com uma breve definição:
“Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico
brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como
“confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”.
A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os
que estão fascinados com ele. [...] as ideias básicas da confissão positiva [riqueza, saúde e sucesso]
não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início
do século 20”1. Basicamente “é o capitalismo a serviço de Jesus”2.

O livro 21 dias é um devocional divido em vinte e um capítulos que tem como propósito,
segundo o autor, responder a perguntas essenciais. Respostas essas que nos levarão a experimentar
uma vida próspera e cheia de sucessos3. Ao longo dos vinte e um dias propostos o autor passa a
ensinar técnicas diversas, supostamente baseando-se em princípios bíblicos, para que o leitor possa
alcançar o seu sucesso financeiro e realização pessoal, atingindo assim seus objetivos de vida e a sua
tão desejada vitória. Seu conteúdo teológico é muito fraco e o seu cunho é motivacional. O livro fala
muito de motivação, conquista, diligência, atitude e metas, títulos esses que são facilmente
encontrados em literaturas de autoajuda (assim como o próprio livro admite ser)4, também os
exemplos usados pelo autor para desenvolver seus ensinos são sempre com referência ao mundo dos
negócios5.

Esse tipo de literatura tem tido grande sucesso no meio dos cristãos evangélicos,
especialmente entre as classes mais altas da sociedade, pois na prática, essa teologia não funciona
para as classes mais pobres, (eis o fato dela ser tão popular nos Estados Unidos da América, onde
também nasceu). À luz do Novo Testamento é uma doutrina insustentável. Isso explica o porquê do
1
Alderi Souza de Matos, doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do
Brasil. Texto publicado na Revista Ultimato, Edição nº 313, Julho/Agosto de 2008.
2
Comentário de Diarmaid McCulloch, autor do livro e documentário, pela BBC, A History of Christianity.
3
Descrição do livro 21 Dias para Transformar sua Vida, capa detrás.
4
Ver Editorial.
5
Pg. 146, 147, 151-153, entre outras.

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livro estar repleto de histórias, claramente retiradas de seu contexto histórico e teológico, do Antigo
Testamento, pois de acordo com o Novo Testamento a ideia de uma vida cheia de riquezas é
inconcebível. Aliás, por muitos séculos creu-se que exatamente o oposto era verdade: uma vida
simples, sem riquezas e desapegada do materialismo era a vontade de Deus6. Pode-se dizer então que
essa doutrina é nova. Não a encontramos na história da Igreja dos três primeiros séculos, nem da
Igreja medieval, nem da reforma protestante. É apenas a partir da teologia do século XX do período
entre guerras que a encontramos. Nunca antes na história do cristianismo se pregou que Deus queria
seus filhos ricos7 e vitoriosos.

O sucesso de livros desse tipo, ao contrário do que seus autores possam achar, não se dá
devido à bênção de Deus, mas sim do fato de estarmos inseridos num contexto social capitalista. É
difícil de imaginar que esse tipo de livro faria sucesso em países pobres da África ou países sob o
regime comunista, por exemplo. Essa literatura é como colírio para os olhos do homem rico e
ambicioso, mas ao pobre miserável, aflito e oprimido pela desgraça da fome e da pobreza, nada tem a
oferecer além de papel para fogueira. A mensagem do Evangelho é universal; é para todos os povos,
todas as raças e para todas as situações, já a mensagem do livro 21 dias depende completamente do
sistema capitalista.

Livros como este de Michael já foram inúmeras vezes refutados por vários autores cristãos
mundo afora; há muito material disponível que desmascara a heresia desta teologia8, porém sinto-me
obrigado a escrever, eu, a respeito disso também, pois sei que há pessoas queridas que me
consideram e creem no meu testemunho, e desejo do fundo do meu coração que os leitores desse
livro, que concordarem ou discordarem comigo, considerem esse material. Se, afinal, o livro 21 dias
para transformar sua vida de Michael Aboud for uma obra inspirada por Deus, ela certamente
passará o teste da crítica, e ao seu final, manter-se-á de pé inabalável e concordante às Escrituras
Sagradas, porém creio que assim como seus mentores americanos, Michael também será
desmascarado.

6
Prova disto é o movimento monástico, especialmente a partir de Francisco de Assis.
7
Expressão retirada de uma matéria da revista Times sobre a Teologia da Prosperidade, “Does God want you to be rich?”, 10 de
Setembro de 2006.
8
O Evangelho da Prosperidade, de Alan B. Pieratt, O Evangelho da Nova Era, de Ricardo Gondim, Supercrentes e Decepcionados
coma Graça, de Paulo Romeiro.

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Um resumo dos problemas do livro:

1- Prega a Teologia da Prosperidade.


2- Está vinculado a falsos mestres.
3- Apresenta um evangelho diferente.
4- Faz falsas promessas.
5- Ensina heresias.
6 - Prega um Cristo diferente.
7 - Põe Deus a serviço do homem.
8 - Usa a Palavra de Deus como meio para se ficar rico.

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“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que
não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens
falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles ... É preciso
fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não
devem, por torpe ganância” – Paulo de Tarso (Atos 20:29-30, Tito 1:11)
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“Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância,


se precipitaram no erro de Balaão [...] Esses homens são pastores que [...] a si
mesmos se apascentam” – Judas, irmão de Jesus (Judas 1:11-12)
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“Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para
enganar, se possível, os próprios eleitos. Estais vós de sobreaviso; tudo vos tenho
predito.” – Jesus Cristo (Marcos 13:22-23)

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Raízes teológicas do livro: importando heresias

O meio de onde viemos fala muito a nosso respeito. Entendendo um pouco de onde a
Teologia de Michael vem entendemos o porquê desse seu livro. Em Mateus 10:25 Jesus disse “Basta
ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de
família, quanto mais aos seus domésticos?”, também o ditado popular “diga-me com quem andas e
te direis quem és” serve o propósito. Michael está apenas reproduzindo aquilo que os pregadores da
prosperidade têm pregado há décadas. E o que esperar disso? Nada além do que se espera de seus
mestres: escândalos e heresias. Consideremos pois um pouco os mentores e as influências de
Michael, e isso nos dirá muito a respeito de sua pregação, ensinos, e por consequência, o que
devemos esperar de seus livros.

Myles Munroe. Pregador do evangelho da prosperidade, presidente e fundador do Bahamas


Faith Ministries International. Além de pregador Myles é orador motivacional e homem de
negócios. Em seu livro Como Compreender o Seu Potencial9, ele diz que:
“O corpo de Lúcifer foi criado com tubos internos para que toda a vez que ele levantasse
uma asa, um som saísse na forma de música [...] Assim que ele começava a abanar suas asas os anjos
começavam a cantar” - “Nós sempre existimos. No estado anterior, éramos invisíveis, mas mesmo
assim já existíamos” - “Assim, Deus criou você para ser onipotente”10. Passagens chocantes não?
Mas é comum entre os ensinos dos pregadores da prosperidade encontrar doutrinas e revelações
extra-bíblicas a respeito da divindade de Cristo, de anjos e demônios, da constituição do homem, da
trindade e do sacrifício de Jesus na cruz. Sua constante ênfase no potencial do homem e na sua
grandeza é um direto reflexo da autoajuda e dos conceitos de Nova Era11. Myles também é amigo de
Benny Hinn12.

Benny Hinn. Presidente do Benny Hinn Ministries, pregador da prosperidade muito


conhecido por suas Cruzadas de Milagres, que inclusive já esteve no Brasil. Tele-evangelista e
escritor, Benny Hinn é alvo de muita crítica e polêmica por seus métodos questionáveis de cura e de
levantamento de ofertas entre os seus fieis. Em suas Cruzadas de Milagres Benny alega ter curado
vítimas de câncer, AIDS, cegueira, surdez, tumores e deficiências físicas, porém desde o início da
década de 90, várias reportagens televisivas, como Inside Edition e Dateline NBC, tem sido feitas
expondo suas alegações. Acusado de usar dinheiro de doações para benefício próprio, Benny diz à
reportagem da NBC que “cada centavo do seu ministério é direcionado à obra do Senhor”. Assim
sendo, sua mansão é estimada em 10 milhões de dólares, “cada centavo” pago pelo seu ministério.
Viagens de jatinho particular, carros caríssimos, mansões, estadias em hotéis milionários atraíram em
2007 a atenção do Senado Americano, que investigou o ministério de Benny Hinn.

9
Como Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do Verdadeiro Eu - Brasília, DF, Koinonia Comunidade e Edições, 1993.
10
Citações retiradas do livro Evangélicos em crise, de Paulo Romeiro.
11
Para informações a respeito do que é o movimento da Nova Era, assista ao documentário Deuses da nova era, pode ser assistido
dublado no site youtube.com. Também para entender o conceito de grandeza do homem pregado por tal teologia, ler Supercrentes, de
Paulo Romeiro, capítulo 4: Humanos ou deuses? Ou Respostas às seitas, Norman Geisler, pg. 290.
12
No site youtube.com sob o título de God‟s big idea podemos assistir um vídeo de Myles em um dos programas de Benny Hinn
louvando o ministério de Benny, e explicando algumas de suas ideias mais controversas a respeito de um governo mundial de paz e
prosperidade.

4|Página
Já no campo teológico, no ano de 1990, Benny, durante uma transmissão, afirmou que
“Jesus tinha se tornado um com satanás”, afim de que nós pudéssemos nos tornar um com Deus. “A
revista Christianity Today, publicada nos Estados Unidos, afirma que em 1992 Benny Hinn disse,
num programa de TV, “que o Espírito Santo lhe ensinava, naquele momento, que Deus havia
originalmente planejado que as mulheres dessem à luz pelos lados”13.
Mas não para por aí, o Jornal The Bearan Call de Setembro de 1992 cita uma das
transmissões da Trinity Broadcast, onde Benny Hinn diz que “Adão era um ser sobre-humano
quando Deus o criou. Não sei se as pessoas chegam a saber disso, mas ele foi o primeiro super-
homem que já existiu. Adão não só voava [como os pássaros], mas também voava para o espaço (...)
com um pensamento ele estaria na Lua (...) podia nadar [debaixo d'água] sem perder o fôlego, e sua
esposa fazia o mesmo (...) Ambos eram sobre-humanos”.
Benny Hinn fez algumas profecias para a década de 90 que não se cumpriram, por exemplo
dizendo que Fidel Castro morreria e que a comunidade gay dos Estados Unidos seria
“completamente destruída pelo fogo”. Também é muito criticado por lançar maldições sobre aqueles
que falam mal de seu ministério e afirmar que Jesus apareceria fisicamente em suas Cruzadas, e que
ele voltaria com imagens do Cristo em vídeo. Ele também possui ensinos estranhos a respeito de
Deus, dizendo que Deus é composto por 9 pessoas, pois “cada pessoa da trindade é um ser trino em
si”. Famoso na internet por sua unção do paletó e de fazer cair, Benny acumula para si um currículo
de heresias e escândalos que supera qualquer outro pregador da prosperidade. Essa amizade entre
Myles e Benny é perturbadora, pois estabelece uma conexão entre Benny e Michael de uma forma
indireta.

Ainda há mais uma figura tenebrosa que rasteja nesse meio escandaloso e de amizades
polêmicas, ele é Morris Cerullo, o “profeta” convidado a participar de alguns eventos vinculados à
denominação de Michael Aboud. Esse é o homem que prometeu durante um dos programas de Silas
Malafaia, que se nós doássemos uma quantia de 900 reais ao seu ministério, todas as promessas de
Deus para nossa vida seriam cumpridas até o primeiro mês do ano seguinte. Em um vídeo famoso
que está circulando na internet e pode ser achado sob o título de “Silas Malafaia e Morris Cerullo”,
Morris promete o que Deus nunca prometeu: Uma unção financeira dos últimos tempos. Ele diz que
“Deus está prestes a transferir a riqueza dos ímpios para as mãos dos crentes, assim como Ele fez
com a riqueza dos Egípcios” no êxodo hebreu. Morris também possui profecias que não se
realizaram. No final dos anos 80 ele afirmou que “5 grandes crises abalariam os anos 90”, e que “a
depressão de 1929 não seria nada comparada à crise que estava por vir antes de 1994”. Obviamente
nenhuma dessas profecias se cumpriram. Ele também declarou em Setembro de 1991, que “o mundo
estaria evangelizado até o ano de 2000”. Isso também não aconteceu. Ele também é conhecido por
usar a numerologia como explicação de certas campanhas e pedidos de ofertas.
Sua mansão em Ranch Santa Fé, próxima a San Diego, é estimada em mais de 11 milhões de
dólares e seu jatinho particular em 50 milhões. Assim como Benny Hinn, Morris também está sendo
investigado pela forma como levanta dinheiro. Um dos executivos que trabalhou para Morris, John
Paul Warren, entrou com uma ação na justiça contra a organização, dizendo que “as maneiras que ele
usa para recolher dinheiro do povo são antiéticas”.

13
Citações e fontes retiradas do livro de Paulo Romeiro, Supercrentes pg. 17

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Morris afirma ter visto Deus face a face, mesmo sabendo que as escrituras dizem que isso é
impossível, e também é muito criticado por ter dito que Deus o mandara dizer “entreguem-me suas
carteiras”. Suas campanhas para levantar ofertas são sempre exorbitantes e visam à prosperidade
daquele que contribui e não o auxílio ao pobre.
Faz algum tempo, consegui um folheto de uma de suas campanhas: MEU ROMPER
PROFÉTICO PARA 2009. Nela diz “Não perca a sua chance de entrar no ciclo de Deus de bênçãos
financeiras dos últimos tempos!” Dentro a carta diz “SIM, irmão Cerullo, eu estou recebendo as
promessas proféticas de Deus de favor, bênçãos, aumento e avanço na área financeira para este ano
de 2009. Incluso está a minha oferta de sacrifício para financiar a colheita de almas dos últimos
tempos!” Os valores a serem assinalados eram de 1.999, 2.999, 3.999, 4.999 e 9.999 reais. Ao fazer
seus apelos Morris é insistente ao dizer que “Deus está prestes a fazer algo que Ele nunca fez antes”,
assim como podemos ver ele dizendo no programa do pastor Silas Malafaia.

Esse berço teológico de onde vem os ensinos de Michael é um de falsos profetas. Nem um
desses três nomes citados passa pelo teste bíblico. Biblicamente falando, Benny Hinn, Myles Munroe
e Morris Cerullo são falsos profetas: profetizaram vários acontecimentos a respeito da política
mundial, da sociedade em geral e da cristandade, e nenhuma sequer de suas profecias se cumpriu. De
acordo com a Bíblia, também são considerados falsos mestres, pois todos eles ensinam doutrinas
estranhas a respeito do homem, do Evangelho, da natureza de Deus, do Cristo e da cruz. Benny e
Myles chegaram ao absurdo, assim como outros pregadores da prosperidade antes deles, de afirmar
que “somos divinos e fomos criados para sermos onipotentes”.
Esses três pregadores possuem todas as características de um falso profeta: (1) profecias que
não se cumpriram, (2) ênfase no dinheiro e comercialização da palavra de Deus, (3) falam de suas
próprias visões e sonhos e prometem o que Deus não prometeu, (4) apresentam um evangelho
diferente, (5) falam o que as pessoas querem ouvir e não pregam a sã doutrina14. Agora lembremos
que esses falsos profetas, assim como muitos outros, são amigos, influência direta e base teológica
para os ensinos do livro de Michael Aboud.

Lobos maus da cristandade


“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,
interiormente, são lobos devoradores” – Mateus 7:15

Toda doutrina, toda pregação, todo ensino e todo homem que se diz discípulo de Cristo, filho
de Deus e pregador do evangelho da salvação deve passar pelo teste das Escrituras, pois o apóstolo
João escreveu “amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas se têm levantado no mundo, [...] Eles
procedem do mundo; por essa razão, falam do mundo, e o mundo os ouve” 15. Não se deve dar
crédito a todo aquele que se diz pregador do evangelho, antes devemos testá-los. Ora, se João nos
mandou testar até os espíritos, quanto mais os seres humanos! Testar espíritos é relativamente fácil,
porque de acordo com o 1 João, eles não podem “confessar que Cristo veio em carne”. Já os homens

14
Todos esses tópicos serão tratados em detalhes no próximo capítulo.
15
1 João 4:1-6.

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podem enganar e mentir em nome de Deus. Em Mateus 7:22 Jesus disse “muitos me dirão naquele
dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Não expulsamos demônios em teu nome?
E em teu nome não fizemos grandes maravilhas? E eu lhes direi abertamente: nunca vos
conheci”. É possível fazer milagres, expulsar demônios e dar profecias e ainda assim não ser da
parte de Cristo16. Essas pessoas, esses falsos mestres dirão “não fizemos tais coisas em teu nome?”
Sim, fizeram, mas ao fazerem abusaram do nome Dele. Sinais e maravilhas podem ser emulados, e
assim, persuadir muitos a crerem que aquele que opera tais prodígios é da parte do Senhor. Se os
falsos mestres podem enganar até com milagres, quanto mais com palavras!
Paulo disse “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-
se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em
anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros da
justiça”17. Se o próprio Satanás é capaz de se disfarçar de anjo de luz para enganar, quanto mais os
seres humanos! Os falsos profetas se “transformam em ministros da justiça”; eles se disfarçam de
pregadores, mas “por dentro são lobos devoradores”. Parecem pregadores do evangelho, mas não
são. Tem cara e discurso de pregadores, mas não são. Fazem prodígios e milagres, mas que não são
legítimos. Como então saber quem é o falso mestre e quem é o verdadeiro mestre? A Bíblia nos dá
uma lista de coisas a se esperar de um falso profeta.

(1) A vida e ministério de um falso profeta é acompanhada de escândalos.


“É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” –
Lucas 17:1. É importante notar, porém, que perseguição injusta por causa da verdade é
diferente de escândalos. O que é perseguido por pregar a palavra do Senhor, como os
cristãos que são caçados e mortos na Índia, Oriente Médio, China e África, é diferente do
que é preso por infringir a lei, como é o caso dos nossos bispos, bispas e apóstolos
brasileiros. Quando se é preso, torturado e morto por causa do nome de Jesus e da
pregação do Evangelho, dá-se o nome de perseguição religiosa, quando se é preso e
incriminado por desobedecer a lei, dá-se o nome de crime, e isso nada tem com o
Evangelho. Conheço cristãos que são caluniados e perseguidos por causa do nome de
Cristo e da pregação do Evangelho, mas também conheço cristãos que se acham
injustamente perseguidos, mas que são justamente perseguidos. Uma coisa é, como Jesus
disse no sermão do monte, “mentindo, caluniar o cristão”, outra é ter a polícia às portas
do templo pedindo para que o grupo de louvor pare de fazer barulho e incomodar os
vizinhos depois das 10 da noite, e com isso, alegar estar sendo perseguido. Ser preso por
portar uma Bíblia é uma coisa, ser preso por desviar e contrabandear dinheiro dentro de
uma Bíblia é outra. Não se deve confundir escândalo com perseguição. Basicamente, a
perseguição religiosa é baseada em boatos, injustiça e calúnia, enquanto o escândalo é
baseado em infrações da lei e comportamento imoral.
Obs.: Para saber o que verdadeiramente é o escândalo que recebe o “ai” do Senhor, vá
mais a fundo nas referências que eu trouxe sobre a vida de Benny Hinn e Morris Cerullo.
Pesquise sobre a vida de Kenneth Hagin, de Marjoe Gortner principalmente, Creflo
Dollar, entre outros que estão vinculados a esse movimento da prosperidade. No Brasil,

16
Apocalipse 13:11-14.
17
2 Coríntios 11:13.

7|Página
sobre a igreja Universal do reino de Deus e Renascer em Cristo, que são campeãs em
escândalos envolvendo lavagem e desvio de dinheiro.

(2) O falso profeta é motivado pela ganância e transforma a palavra de Deus em meio para se
ficar rico; a ênfase dele será sempre no dinheiro e prosperidade material.
“Também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” - 2
Pedro 2:3 “Tais cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada
compreendem, e todos se tornam para o seu caminho, cada um para a sua
ganância...” – Isaías 56:11 “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá
à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade” – Jeremias 6:13.
“É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que
não devem, por torpe ganância” – Tito 1:11. Com palavras enganadoras, doutrinas
estranhas e promessas falsas esses homens tiram o foco do evangelho, que é a
reconciliação com Deus através da morte de Jesus, e o põe na realização pessoal e
conquistas terrenas. O cerne da mensagem de Jesus é aquele do evangelho de Marcos,
“Arrependei-vos e crede no evangelho”, já o cerne do falso evangelho é a prosperidade e
riqueza. O falso mestre enche os ouvidos do ouvinte com promessas de prosperidade e
riqueza, assim como Satanás fez com Jesus no deserto, “dar-te-ei todos os reinos dessa
terra”. Ele fará comércio com a palavra de Deus e com as almas, prometerá bênçãos em
troca de dinheiro, vitória em troca de ofertas, e prosperidade em troca de sacrifícios; ele
dirá o que for preciso e usará todos os meios possíveis para conseguir arrancar dinheiro
do povo. Ele é movido pela ganância, e assim tudo o que prega está vinculado ao
dinheiro. Vemos como exemplo perfeito o vídeo de Edir Macedo ensinando os pastores
de sua igreja a roubar. Sugiro que todos os leitores assistam a esse vídeo que pode ser
achado no site www.youtube.com, sob o título de “Edir Macedo ensinando a roubar”, o
vídeo é revoltante. Também como Creflo Dollar diz em uma de suas pregações,
“Dinheiro está tentando cair em suas mãos...O Deus altíssimo está tentando mudar a sua
situação financeira...portanto nesta noite eu quero lhes falar sobre a relação entre
dinheiro e paz...muitas pessoas dizem que a questão não é dinheiro, mas amor, paz,
alegria, [não], a questão é dinheiro! Devemos entender o que está Bíblia está dizendo:
Deus está tentando colocar gloriosas bênçãos materiais e riquezas em suas mãos, e Ele
fará isso através da unção...eu não vim aqui para pregar essa mensagem a vocês e ver o
quanto de dinheiro que eu consigo tirar de vocês. Eu não vim aqui tirar nada de vocês.
Eu já sou rico. Estou cheio de riquezas; tenho muito mais do que preciso; sou um homem
abençoado. Eu não vim aqui de avião convencional [Delta], eu vim aqui no meu próprio
avião, vocês entendem isso que estou dizendo? Eu vim até aqui lhes dar essa mensagem;
eu vim até aqui trazer algo que vai lhes tirar dos problemas financeiros...”18

(3) O falso profeta sempre dirá aquilo que o homem caído quer ouvir. Ele apresentará um
Cristianismo diferente, moderno, colorido e fácil para agradar o ouvinte.
“Pois haverá um tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário;
cercar-se-ão de mestres segundos as suas próprias cobiças, como que sentindo

18
Vídeo por ser achado com o título de Crefllo Dolar - Mentor de Robson Rodovalho Obs: o título de busca deve ser exatamente esse.

8|Página
coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às
fábulas” – 2 Timóteo 4:3-4. “A verdade é que nunca usamos de linguagem de
bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha.
Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros” –
1 Tessalonicenses 2:5. “...;são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” –
Judas 1:16. Como disse um apologista americano, “eles apresentam um cristo sem cruz,
trazendo um povo sem pecado para dentro de um reino sem justiça de um Deus sem
ira”19. Ele apresentará, como nos livros de Myles Munroe e Joel Osteen, um ser humano
diferente do que aquele descrito na Bíblia: cheio de integridade, bondade e qualidades e
merecedor da bênção. Eles iludirão o povo com fábulas e embriagarão os ouvintes de
emoções, para assim manipulá-los. A igreja vira um show, o púlpito vira um palco, o
povo vira um auditório e o pastor vira o astro. Luzes, música e bandas fazem parte do
show, que tem como objetivo criar um ambiente entorpecente, onde o pastor fará você
pular, gritar, rolar, correr e assim se esquecer de todos os seus pecados, enquanto ele
apresenta para você uma foto de um Deus que tem como único propósito lhe fazer rico e
feliz. Ele não mencionará, e se mencionar será superficialmente, cruz, sangue,
arrependimento, pecado, mudança de comportamento, mas ele dirá como Joel Osteen
disse durante um programa do Larry King, nos Estados Unidos, “Meu trabalho não é
bater na cabeça das pessoas com negatividade e pecado, e sim tentar levantar sua
autoestima”. Edir Macedo, durante o vídeo citado acima, diz “O povo está cansado de
ver aquele pastor assim xôxo, eles querem ver o pastor brigar com o diabo, rolar ... e
então você bate com a Bíblia no chão e diz „traz aqui a sua oferta‟, e o povo vai dizer
„puxa vida, quanto tempo eu estava esperando para escutar isso; quanto tempo eu queria
escutar o pastor dizendo isso‟”. O falso profeta vai deixar você tão ocupado com os seus
sonhos e tão embriagado com esse mundo, que você nunca terá tempo de pensar em
coisas como santidade, pecado, arrependimento, etc.

(4) O falso profeta pregará um evangelho diferente e falará de sonhos e visões que não são da
parte de Deus. Ele prometerá o que Deus nunca prometeu.
“...há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas,
ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do
que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se
alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” –
Gálatas 1:6-9 “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será
infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de
vós, com palavras fictícias” – 2 Pedro 2:2-3. “Não deis ouvidos às palavras dos
profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam de visão do seu
coração, não da boca do Senhor....Não mandei esses profetas, contudo eles foram
correndo; não lhes falei, contudo profetizaram....Tenho ouvido o que dizem aqueles
profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, Sonhei....Os quais
cuidam fazer com que meu povo esqueça de meu nome pelos seus sonhos que cada
um conta ao seu próximo...Eis que sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de

19
Dinesh D’Souza, A verdade sobre o cristianismo.

9|Página
sua própria linguagem, e dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam
sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas
mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem e não
trouxeram proveito algum a este povo, diz o Senhor” – Jeremias 23:16-32. Esse falsos
profetas pregarão uma mensagem nova, um evangelho diferente. Com diferentes ênfases
e propósitos. Falarão de sonhos e visões que tiveram, mas que não vieram da parte de
Deus. Dirão “Deus disse” quando Deus não disse! Dirão que Deus tem planos
maravilhosos de riquezas e de alegria para nossas vidas, sendo que Ele não os tem.
Pregarão a mensagem de seus próprios corações e não da Bíblia. Introduzirão práticas de
libertinagem e heresias, e por causa deles o nome do Senhor será blasfemado20. Eles
usarão palavras fictícias e fábulas para encantar o povo e abusarão de uma autoridade que
não lhes foi outorgada, e como cegos guiando cegos, levarão o povo para longe da
palavra de Deus.

(5) O falso profeta tem profecias que não se cumpriram e ensinos que não são Bíblicos.
“Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele não se
cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com
soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele” – Deuteronômio 18:22 “Ora, o
Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé,
por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos
que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” – 1 Timóteo 4:1-2.
Descrições do homem como as que Myles e Michael fizeram, não são bíblicas. As
profecias de Benny Hinn e Morris Cerullo que não se cumpriram ainda clamam em alta
voz: Falso profeta! Falso profeta!

Jesus disse, “Acautelai-vos dos falsos profetas” .... “Pelos seus frutos os conhecereis.
Colhem-se, porventura, uvas de espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa
produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir
frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é
cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.” Mateus 7: 15-20.

20
Romanos 2:24.

10 | P á g i n a
Duvidar não é pecado
“E estais sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a
razão da esperança que há em vós” - I Pedro 3:15.

Infelizmente o pensamento crítico21 não faz mais parte da maioria das denominações cristãs.
Em muitas é até considerado pecado criticar ou discordar das decisões tomadas pelas lideranças, que,
por sua vez, se defendem acusando o fiel de rebeldia espiritual ou influência de espírito de
incredulidade. A maneira que então se achou para impedir que a dúvida do crente fiel o leve à
resposta, e a resposta ao esclarecimento, foi criar o que chamo de terrorismo eclesiástico: usar a
Bíblia e o púlpito para ameaçar o povo e dominá-lo. Michael faz essa ameaça de uma forma um
pouco mais amena, dizendo que quem duvida não recebe o milagre esperado22.
Muitas lideranças têm usado versículos do Antigo Testamento como I Samuel 26:9,11 para
aterrorizar os fieis e impedir-lhes de duvidar e questionar: “porque quem estendeu a mão contra o
ungido do SENHOR, e ficou inocente? [...] O SENHOR me guarde, de que eu estenda a mão
contra o ungido do SENHOR”. Assim fazendo, muitos pastores se tornaram infalíveis e
inquestionáveis. Obviamente eles não admitirão isso; o seu discurso será o de que “somos todos
homens sujeitos ao erro”, porém na prática, ai daquele que estender a sua mão contra o ungido do
SENHOR! Ai! Tais pastores contrabandearam o autoritarismo e a infalibilidade papal dos católicos
romanos para dentro das igrejas evangélicas e a rebatizaram de “autoridade espiritual”.
Basicamente o pastor se tornou intocável e irrefutável. Desacreditá-lo seria incredulidade e
criticá-lo seria perseguição. Foi isto que Edir Macedo e Estevam Hernandes declararam quando
foram presos: perseguição religiosa. Ora, mas perseguição religiosa se dá por causa da fé, e não por
causa de dinheiro desviado, lavado e contrabandeado. Se houve violação da lei já não é mais
perseguição, e sim crime. Pedro, ao advertir os cristãos, e já ensinando-os a sofrer, disse em sua carta
“Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor [...] ;mas se padece como
cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte”. E também “Porque é coisa
agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo
injustamente” 23. Reparem nas palavras “não como ladrões” e “injustamente”, creio que elas não se
encaixam para o caso do bispo e do apóstolo.
Aprendemos duas coisas desses versículos sobre a perseguição religiosa. (1) Se sofrermos
deve ser injustamente, e (2) quando sofrermos, devemos sofrer não como ladrões e malfeitores. Foi
exatamente isso que Jesus disse no sermão do monte em Mateus 5:10, “Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por causa da justiça”, e também no versículo 11, “Bem-aventurados sois vós,
quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha
causa”. Agora reparem que Jesus disse que quando “mentindo” falarem mal de vocês, e quando
forem perseguidos por causa da “justiça”. Cadeia por causa de lavagem e contrabando de dinheiro
não é “por causa da justiça”, é por causa da injustiça. Então já não é mais perseguição religiosa e sim
crime. Se é por causa de violação da lei, já não é “por minha causa”, portanto não é perseguição de
fé, e sim crime.

21
Uma pessoa crítica é a que tem posições independentes e refletidas, é capaz de pensar por si própria e não aceita como verdadeiro o
simplesmente estabelecido por outros como tal, mas só após o seu exame livre e fundamentado.
22
Pg. 49.
23
I Pedro 4:15-16 e 2:19.

11 | P á g i n a
Mas esses são apenas alguns fatos para demonstrar até onde chegou a arrogância de alguns
pastores evangélicos. Eles não admitem estar errados! Algumas denominações evangélicas veem o
seu pastor como o catolicismo vê o Papa: autoridade máxima dentro da igreja.
O pastor Benny Hinn, pregador americano adepto à Teologia da Prosperidade e escritor do
famoso livro Bom dia Espírito Santo, chegou ao absurdo de lançar uma maldição durante uma de
suas pregações, dizendo: “Eu ponho uma maldição em todo o homem e mulher que estender sua mão
contra esse ministério...Eu amaldiçoo o homem que ousar falar contra essa unção”24. Outro caso,
que aconteceu em uma igreja evangélica grande da minha cidade, Timbó, (prefiro não citar nomes),
foi que um pastor disse ao fiel, “se o pastor mandar você pecar, você peca, pois Deus honra a
obediência”. Esses são apenas dois exemplos de onde essa doutrina de autoridade espiritual já
chegou, e o quão nocivo ela é à cristandade.
Nenhum homem, nenhuma liderança, nenhuma decisão é inquestionável. Nenhum homem
tem autoridade espiritual sobre a sua vida, essa doutrina não pode ser achada nas páginas do Novo
Testamento, (e sim nas páginas de livros de Kenneth Hagin). Hierarquia espiritual na Igreja do
Senhor Jesus não existe. O maior título dentro da Igreja de Jesus é “irmão”25. Se Deus levantou
homens santos, Ele os levantou para servir e não dominar; para aconselhar e não mandar.
Tragicamente a mentalidade cristã evangélica moderna, de tanto ser ameaçada e desmotivada
a pensar por si mesma, não tem mais a coragem de repreender seus, supostos, líderes espirituais.
De acordo com Jesus, um pastor pastoreia e não domina; serve e não é servido; consola e não
aterroriza; aconselha e não dá ordens. Ele mostra o caminho, e não inventa um novo; não arranca
dinheiro do povo, mas recolhe e redistribui o dinheiro entre o povo. Se o seu pastor não passar pelo
critério da Bíblia, reprove-o, inquira-o, ele também é homem. Como se diz, “pastor que não tem
cheiro de ovelha não é pastor”.
O papel de todo homem que se denomina pastor, ou é assim considerado pelos irmãos, é o de
“apascentar as ovelhas”, foi isso que Jesus disse três vezes a Pedro em João 21:15-17. Não é de
dominar nem de ser sustentado pelas ovelhas, é de “apascentá-las”. Não é de ensiná-las a chegar à
prosperidade, mas sim de chegar “ao aperfeiçoamento dos santos, [...]à unidade de fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”26.
No versículo 11 desse mesmo capítulo Paulo diz que “foi para esse motivo que Deus levantou
pregadores, doutores, pastores…” etc.: para o crescimento e amadurecimento espiritual, e não o
financeiro e pessoal, do qual o livro de Michael fala tanto. Pastor que prega seus próprios sonhos e
suas próprias visões, como aqueles falsos profetas do livro de Jeremias, não é pastor, é mercenário, e
não fala da parte de Deus e sim da sua própria carne. O livro 21 dias para transformar sua vida é
voltado à realização pessoal e contentamento próprio, ensina o leitor a alcançar os seus sonhos e
conquistar as suas vitórias. Não contém nada do que o versículo acima diz que deveria conter a
mensagem do pastor de verdade. O livro excita a ambição; é uma sucessão de pequenos esquemas
motivacionais e de marketing que encorajam o homem a perseguir o seu sonho, e consequentemente,
ir para longe da cruz. O homem espiritual e verdadeiramente filho de Deus fala das coisas do alto e
incentiva as ovelhas do Senhor a serem como Cristo.
Não tenha medo de duvidar daquilo que não possui os elementos essenciais do Evangelho de
Jesus, os quais são: caridade, santidade e humildade. Também não tenha medo de chamar de heresia

24
Esse vídeo pode ser facilmente achado no site youtube.com, sob o título de Benny Hinn curse.
25
Comentário do Teólogo e Filósofo Ariovaldo Ramos.
26
Efésios 4:11-14.

12 | P á g i n a
aquilo que é uma mentira em nome de Jesus. Mas para que seja possível diferenciar o santo do
profano e a verdade da heresia, é preciso conhecimento das Escrituras.
Se há algo que aprendemos da história do cristianismo, é que toda vez que a Bíblia não é lida,
escondida e perseguida, a sociedade decai e rios de sangue são derramados. Um dos melhores
exemplos que temos da história é a idade média, ou como nossos livros de história trazem, a idade
das trevas. É interessante notar que o período da história da humanidade onde a leitura da Bíblia pelo
povo era proibida, é descrito como período de “trevas”. Agora temos um privilégio imenso de poder
ter uma Bíblia em mãos, ela custou muito sangue até chegar a nós, portanto use-a, conheça-a, estude-
a. Está escrito que os de “Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram,
de fato, assim”27. Os cidadãos de Beréia duvidaram do Evangelho pregado pelos apóstolos, e por
isso foram às Escrituras checar tudo. Esses cidadãos de Beréia foram considerados “nobres” e não
rebeldes por terem duvidado. Devemos fazer o mesmo, e toda doutrina e toda palavra que se enroscar
no Evangelho de Cristo; tudo aquilo que não condiz com as Escrituras, “seja anátema”.
Antes de recebermos respostas precisamos fazer perguntas. Mas se o povo de Deus está sendo
incentivado a não mais fazer perguntas e a se contentar com respostas prontas de seus superiores
sacerdotes, como poderá haver conhecimento da Verdade?
O conhecimento das escrituras é indispensável. Está escrito “Portanto o meu povo será
levado cativo, por falta de entendimento”28. Isaías estava falando que pelo fato do povo não
conhecer Deus, eles pecavam, e de tanto pecarem, Deus estava permitindo que eles fossem levados
cativos. É assim que acontece: quem não conhece a Palavra é escravizado pela interpretação do
outro. Jesus mesmo disse “vocês erram porque não conhecem as Escrituras”. A única maneira de não
ser levado cativo é conhecendo a Deus e a Sua Palavra.
Não tenha medo de perguntar. Duvidar não é pecado. Questionar faz bem, nos leva ao
esclarecimento. Não acredite em tudo o que ouvir de seu pastor. Faça como os de Beréia e “confira
todos os dias nas escrituras para saber, se de fato, as coisas são assim”. Você não será amaldiçoado
se duvidar do ungido. Aprenda a pensar e ter senso crítico, de outra forma como você “julgará todas
as coisas e reterá o bem?”. Deus não tem medo responder perguntas difíceis, Ele disse “Vinde, pois,
e arrazoemos”29, e se Deus diz isso, como podem então as lideranças se esconderam atrás de jargões
e ameaças?

Refutando o Capítulo 1: Aquelas três perguntas


Aprendemos com Jesus que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa”. Da mesma
forma um pouco de mentira acaba com toda uma verdade. Apenas uma pitada de mentira é o
suficiente para arruinar toda uma verdade eterna. Foi assim que satanás fez com a verdade do
Senhor: “E esta [a serpente] disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a
árvore?”30. Sim, foi isso que o Senhor disse, que poderíamos comer de qualquer árvore. Mas o que
Ele disse não terminou ali. Deus disse que Adão e Eva poderiam comer de todos os frutos das

27
Atos 17:11.
28
Isaías 5:13.
29
Isaías 1:18.
30
Gênesis 3.

13 | P á g i n a
árvores do Jardim, exceto de uma! Repare que o inimigo pronunciou uma verdade com uma pitada
de mentira, que foi a omissão do mandamento completo. Vejam a ironia de satanás como que
dizendo, “afinal, não era de qualquer árvore do jardim?”. Sim era, exceto de uma! A serpente
pronunciou uma verdade incompleta, e essa verdade incompleta enganou Eva e levou o homem ao
pecado. Ora, uma verdade incompleta é uma meia verdade. Uma meia verdade também é uma meia
mentira. E uma meia mentira já não é mais uma verdade. O pouco de fermento do inimigo estragou
toda a verdade do Senhor.
O mesmo acontece com o livro 21 dias, há verdades nele. Não poderia dizer que tudo que
está escrito é heresia. Não. Há verdades nele (poucas porém, muito poucas). O problema é que
também há mentiras, e essas “levedam” todo o livro.

Quem somos nós?


No primeiro capítulo, Michael diz que se quisermos experimentar uma vida próspera e cheia
de vitórias, devemos ter essas três perguntas essenciais respondidas: Quem é você? De onde veio?
Para onde está indo? De fato, são perguntas importantíssimas e precisam ser respondidas. Concordo
com as perguntas, porém discordo das suas respostas e do motivo pelo qual respondê-las. O livro diz:

“Você precisa saber quem você é. Ninguém melhor do que você mesmo para
responder essa pergunta. É preciso conhecer bem o seu caráter, sua
integridade, seu potencial e suas limitações, para que possa corrigir os defeitos
e intensificar o que tem de melhor”31

A primeira afirmação é completamente verdadeira, já a segunda e a terceira são enganosas.


Sim, todos nós concordamos que precisamos saber quem somos, mas nunca, de maneira nenhuma
podemos olhar para nós mesmos para acharmos a resposta! Devemos olhar para Deus e Ele nos dirá
quem somos. É a Bíblia que deve ser o nosso padrão de comparação; é a pessoa de Cristo que deve
ser o nosso modelo. As Escrituras dizem quem nós somos. Não podemos tentar responder essa
questão olhando para nós mesmos, pois certamente nos presumiríamos. Apenas Deus nos conhece e
nos vê como realmente somos. Aliás, dentre todas as possibilidades de resposta, “você mesmo” é a
pior e mais estúpida de todas as respostas que possam ser dadas. Eu diria, com base no testemunho
Bíblico a respeito do ser humano, “ninguém pior do que você mesmo para responder essa pergunta”.
Um cristão disse “nós nos presumimos, porém Deus nos conhece”.
Os grandes ditadores e tiranos desse mundo responderam esse pergunta olhando para si
mesmos, e fizeram barbaridades. Hitler olhou para si mesmo e se viu como o messias germânico. Os
imperadores Romanos olharam para si mesmos, e ao responderem essa pergunta, concluíram ser
deuses dignos de adoração. A filosofia Hindu manda o homem olhar para si mesmo e responder a
perguntas essenciais, pois eles consideram que cada um de nós é um deus em potencial (alguns
pregadores da prosperidade, como Benny Hinn, concordariam com isso).

31
Pg. 26.

14 | P á g i n a
Esse ensino da grandeza do homem também é encontrado nos livros de Myles Munroe:

"Jesus disse: 'Nada disso. Eu vim para mostrar a você que você é mais
do que você pensa que você é"' (Como Compreender o Seu Potencial,
pg. 25)32

Paul Washer, pregador americano, ao comentar durante uma de suas pregações sobre ensinos
desse tipo disse, “alguns pregadores dizem que a cruz é um símbolo de quão valioso somos para
Deus. Isso é mentira! A cruz não é um símbolo de quão valioso é o homem, mas sim de quão
terrivelmente depravado é o homem: que somente a morte do Filho de Deus poderia salvar uma raça
como a nossa”

Mas se realmente quisermos resposta para a pergunta da nossa identidade, deveremos


perguntar a Deus, pois nós certamente teremos uma opinião estimada demais a nosso respeito.
Somente Deus, “que conhece o coração e esquadrinha os pensamentos” pode nos dizer quem somos.
E toda vez que Deus se pronunciou a nosso respeito, Ele disse que éramos terríveis, e não pessoas de
“caráter e de integridade” (Ler Gênesis 6:5-6, Oséias 4:1 e Mateus 15:18-19)
Diferente do quadro que o livro pinta do ser humano, a Bíblia representa o ser humano como
um ser caído que precisa se arrepender e voltar a Deus em humildade, e ao fazer isso, deixar para trás
seus sonhos mundanos e ambições e seguir o caminho estreito, que é o exemplo de Jesus. De acordo
com o Antigo e Novo Testamento, Deus não tem interesse nenhum em patrocinar nossos sonhos nem
incentivar nossa carnalidade. O Evangelho de Cristo é um choque de realidade para o homem
moderno. A raça humana está caída e sem condições de se auto diagnosticar sem se presumir,
portanto se você for sincero ao olhar para si mesmo, você reconhecerá as listas dos versículos citados
acima.
Sigamos o exemplo do rei Davi, que ao ser confrontado com essa questão não procurou
respostas em si, antes ele orou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e
conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo
caminho eterno”33. Davi pediu a Deus quem ele era. Sabendo que não podia confiar em seu
julgamento, ele pediu para Deus diagnosticá-lo, e assim orou outra vez: “Examina-me, Senhor, e
prova-me; sondam-me o coração e os pensamentos”34. Enquanto o capítulo 1 do livro de Michael
pressupõe que no homem há integridade e caráter suficiente para que ele possa fazer uma análise
sincera de si mesmo, e assim, intensificar o que há de bom, a Bíblia nos diz diferente.
Como poderíamos responder essa pergunta tão importante com base em nossa autoanálise
sendo que, como disse Jeremias, “o coração é perverso e enganoso mais do que todas as coisas, e
ninguém pode conhecê-lo”35, e disse também Salomão o Sábio, “o que confia no seu próprio
coração é insensato” e também que “o caminho que parece certo ao homem leva à morte” 36. A
Bíblia nos ensina que aquele que procura respostas em si mesmo tropeça, pois como Jesus disse, “a
luz não está no homem”, antes “Ele [Jesus] é a luz dos homens”, “Ele é a verdade”.

32
Citações retiradas do livro Evangélicos em crise, de Paulo Romeiro.
33
Salmos 139:23-24.
34
Salmos 26:2.
35
Jeremias 17:9.
36
Provérbios 28:26 ; 14:12 ; 16:25.

15 | P á g i n a
Blaise Pascal, o filósofo cristão, disse que “quanto mais o homem se conhece, mais ele
reconhece a sua miséria e a sua incapacidade de reconhecer qualquer outra coisa”. Em seu livro
Pensamentos, Pascal diz:

“...não se faz outra coisa senão enganar-se e adular-se mutuamente. O homem


não é, pois, senão disfarce, mentira e hipocrisia, quer em relação a si mesmo
quer em relação aos outros. Não quer que se lhe diga a verdade, evita dizê-las
aos outros. E todas essas disposições tão afastadas da justiça e da razão, têm
uma raiz natural em seu coração”37

Assim como Pascal, a Bíblia não nos dá um parecer muito agradável do homem (Ler
Romanos 3:10, Gálatas 5:19 e Tito 3:3). Como pode então o homem nesse estado descrito por Deus
saber qualquer coisa a respeito de si próprio? Não tente responder uma das perguntas mais
importantes do mundo com base na coisa mais instável e enganosa do mundo: o seu julgamento a seu
respeito.
Na verdade, se você for fiel e sincero, quanto mais você se conhecer mais nojo você terá de si
mesmo. Quanto mais você enxergar o seu real caráter menos você vai querer manifestá-lo. Quanto
mais você deixar transparecer a sua integridade, mais vergonha você terá. É o caráter de Jesus
manifesto em nós que temos que buscar, é isso que a Bíblia nos ensina e é isso que os cristãos do
passado nos ensinaram.
Mas como comentei na introdução desse livro, esse é apenas um reflexo natural da Teologia
da Prosperidade. Edir Macedo ao definir o que é a teologia da prosperidade, disse que “Deus é o
dono de toda a riqueza; é rei, portanto nós, sendo Seus filhos, seremos pobres?”, ora “Filho de rei é
príncipe”. Joel Osteen, pregador da prosperidade muito admirado pelos evangélicos brasileiros, disse
em uma de suas pregações “você tem sangue real correndo em suas veias; você é filho de um Rei”.
Também recordo de um programa evangélico a que assistia onde o pastor ensinava assim: “Jesus
disse „seja feita a tua vontade assim na terra como no céu...‟ portanto se no céu Deus disse que nos
dará ruas de ouro e mansões, quanto mais aqui na terra. Pois a vontade Dele deve ser feita „assim
na terra quanto no céu‟ Se vale para o céu, vale para a terra”. A Teologia da Prosperidade exalta a
dádiva acima do doador e pinta Deus como um tipo de Papai Noel superpoderoso, que, de acordo
com Morris Cerullo, está “pronto para colocar bênçãos em nossas mãos através da unção financeira,
e assim promover um romper financeiro em nossas vidas”38, e o homem como um ser nobre e
merecedor de bênçãos; aliás, mais do que merecedor até, mas como que tendo direito sobre as
bênçãos Dele.

Correr atrás dos seus sonhos, realização pessoal e prosperidade financeira não são objetivos
cristãos. O cristianismo passa longe desses conceitos e exorta o homem a deixar para trás os seus
sonhos e seguir a Cristo, e o que Ele nos der será o suficiente. Jesus nos ensina a “negar-se a si
mesmo” e “sacrificar-se” pelo bem dos outros e deixar a ambição do mundo fora de nossos corações.
A “abundância” que Jesus prometeu era de vida, e não de materialismo. Cristo condenou o
materialismo. Isso não quer dizer que não podemos ter nada nem seguir carreira. Não é isso. Mas não

37
Pg. 84, Edição Eletrônica.
38
Essa afirmação foi feita durante um programa de Silas Malafaia, onde Morris estava pregando sobre a oferta de 900 reais.

16 | P á g i n a
podemos usar a cruz como um amuleto mágico que nos trará boa sorte, nem o Evangelho de Jesus
como fórmula para ficar ricos. O objetivo do livro de Michael, como ele mesmo coloca, é alcançar
uma vida próspera e cheia de vitórias, enquanto o objetivo do Evangelho é a redenção e salvação do
homem. Jesus não prometeu vida próspera e cheia de riquezas. O Senhor não nos incentivou a
seguirmos nossos sonhos. 21 dias para transformar a sua vida é uma caminhada para longe da cruz
de Cristo, que ao invés de nos levar para longe do mundo e para perto de Deus, nos incentiva a ficar
nesse mundo, correr atrás dos nossos sonhos e sermos ricos. A chamada de Jesus para nossas vidas é
para dividir e não acumular, e só Ele para nos confrontar com uma foto real de nossos corações. Só
Ele pode nos responder quem realmente somos.

Para onde estamos indo?

Ao tentar responder essa pergunta, Michael afirma que antes de mais nada precisamos ter em
mente duas coisas: quem nós desejamos ser e o que desejamos alcançar. Ele também afirma que os
planos que Deus tem para nós são para nos ajudar a chegarmos ao fim que tanto desejamos e nos
incentiva a conhecermos Deus, pois assim teremos um alvo para alcançar e, certamente, seremos
bem sucedidos. Também que quando entendemos quem somos, de onde viemos e para onde estamos
indo, “temos em mãos uma poderosa arma e ninguém poderá nos impedir”. Nesse primeiro capítulo
do livro o autor afirma que Deus quer “contribuir para nos dar o fim que desejarmos”, e esse é Seu
plano para nossas vidas39.
O versículo que supostamente sustenta esse ensino é Provérbios 19:21: “Muitos são os
planos do coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor”. Mas por que deve-
se pressupor que o propósito de Deus para nossa vida é de grandeza? Onde está escrito que o
propósito de Deus é ajudar a alcançar metas? De acordo com o livro, Deus vai me dar exatamente
aquilo que eu quero, e vai me fazer chegar aonde quero chegar. O capítulo 9 fala de como nós
devemos ter uma visão clara de onde queremos chegar e quais as fórmulas que temos de usar para tal
fim, e ao seu final a oração do dia nos ensina a termos uma visão clara do que queremos, “a ponto de
nos conduzir a fazer o que for necessário para alcançar o resultado que desejamos”40. O único
problema com essa doutrina é que ela não pode ser achada na Bíblia. A única forma de crer em algo
assim é não conhecendo o Evangelho ou sendo cegado pela ganância.
De maneira alguma Deus nos pede quem queremos ser, Ele apenas nos diz como devemos ser.
Ele não nos pergunta aonde queremos chegar, mas Ele nos mostra o caminho que devemos trilhar.
Deus não está negociando conosco. Há apenas um caminho a ser trilhado e um destino a ser
alcançado: Cristo é o caminho e também o objetivo.
Jesus disse exatamente o oposto do que Michael está dizendo, Ele disse “Negue-se a si
mesmo”: deixe para trás seus sonhos megalomaníacos, “tome sua cruz e siga-me”. O “caminho
estreito” é um caminho de autonegação, de esvaziamento de si mesmo. Assim como Cristo foi
devemos ser. Ele é o padrão a ser imitado. Paulo diz insistentemente que devemos imitar Cristo em
tudo. Se Jesus é o caminho a ser seguido e o exemplo a ser imitado, então os meus sonhos e os meus
desejos vêm por último; aliás, eles não importam. Cristo não nos incentivou a fazermos nossas
vontades, e sim a vontade do Pai.

39
Pg. 28.
40
Pg. 83.

17 | P á g i n a
É comum dos pregadores da prosperidade ensinar que devemos ser como Davi, Salamão, José
(assim como Michael faz no capítulo 20), Gideão, entre outros heróis da fé Judaica; que devemos ser
grandes, corajosos, ricos e poderosos como eles foram. Obviamente há um contexto histórico e
teológico para tais histórias, e não podemos dizer que a vontade de Deus é a mesma para a Igreja do
que foi para esses personagens do Antigo Testamento. O padrão para a Igreja é Jesus Cristo, e não
outro qualquer. Podemos sim desenvolver verdades espirituais baseando-se em relatos do Antigo
Testamento, mas não podemos dizer que porque José foi fiel ao seu senhor no Egito, assim se nós
formos fieis aos nossos patrões seremos tão grandes e bem sucedidos como ele foi. A revelação final
está no Novo Testamento, e ele não nos dá margem para interpretações desse tipo. Mas é fácil
entender porque não se prega mais Cristo, e sim, por exemplo, Gideão: Pois não há triunfalismo
nenhum na vida de Jesus, apenas humildade e servidão, enquanto que na vida dos patriarcas, dos reis
e dos juízes vemos ousadia, poderio, conquistas e vitórias, batalhas e desafios. Distorcendo os relatos
do Antigo Testamento é possível afirmar que Deus nos quer assim também. Já à luz do Novo
Testamento, que é a revelação final e completa para a Igreja, não se pode, nem quando distorcemos o
Evangelho, afirmar nada parecido. Nossos sonhos por grandeza e prosperidade não fazem parte do
plano de Deus para nossas vidas.
Se você sonha em ser uma nova criatura, ter novas paixões e ser perdoado, então sim, busque
a realização dos seus sonhos. Se você deseja ter dinheiro para ajudar todas as pessoas ao seu redor,
seria razoável buscar prosperidade. Deus apenas encoraja a realização dos seus sonhos quando esses
condizem com os Dele.
Não há nada de errado com a prosperidade, mas como Howard Snyder diz em seu livro Vinho
Novo Odres novos: “O problema não está em os cristãos prosperarem; está em que, ao prosperarem,
tendem a virar as costas aos pobres”. Então se você tem a capacidade de ganhar bastante dinheiro,
ganhe. Porém assim que você for rico, doe, ajude, contribua e acabe com a miséria ao seu redor
completamente, e sob hipótese nenhuma fique com mais dinheiro de que você precisa para suas
necessidades. Se você porventura ficar rico, não permaneça rico, faça-se pobre para fazer os outros
ricos, assim como está escrito que Jesus fez, “ele se fez pobre para nos fazer ricos”. Ora, faça o
mesmo!
Mahatma Gandhi disse, “se você tem mais do que você precisa, você está roubando”. John
Wesley, um dos maiores e mais importantes cristãos da história, disse, “quando você tem mais do
que você precisa, você está se vestindo com a nudez do pobre e comendo e usufruindo com o sangue
e suor do miserável”. Paulo nos ensinou assim: “Não tenha cada um em vista o que é
propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”41.
Veja quais são os sonhos de um homem segundo o coração de Deus: “Senhor, não é soberbo
o meu coração, nem altivo o meu olhar, não ando à procura de grandes coisas nem de coisas
maravilhosas demais para mim”42. Davi não queria “grandes coisas” nem coisas “muito
maravilhosas”, mas como ele mesmo diz no final do salmo, “ele fez sossegar a sua alma em Deus”.
Deus disse a Salomão em 1 Reis 3:3 “Pede o que queres que eu te dê”, e Salomão pediu
um “coração compreensivo para saber julgar entre o bem e o mal”, e Deus responde a esse
pedido dizendo “Já que não pediste vida longa, nem riqueza, mas pediste entendimento, eis que

41
Filipenses 2:4.
42
Salmos 131.

18 | P á g i n a
faço segundo as tuas palavras”. Salomão não tinha planos e sonhos megalomaníacos, mas ele pediu
a coisa mais sensata de se pedir: entendimento.
Citei Davi e Salomão pois os pregadores da prosperidade gostam de usá-los como exemplo
para provar biblicamente que Deus pode nos fazer ricos. O que mais chama a atenção é que esses
dois reis só foram ricos porque, primeiro, não queriam ser ricos, e segundo, a riqueza que tiveram
usaram para acudir o povo.
Não há um versículo sequer no Novo Testamento que suporta esse ensino de Michael. Nem
um. Muito menos no Antigo Testamento. Se a interpretação de Michael estiver certa a respeito do
provérbio usado de suporte para seu ensino, e o propósito de Deus é nos fazer alcançar as nossa
metas, então Deus é incompetente. Pois está escrito “o propósito de Deus prevalecerá”, e Michael
está dizendo que o “propósito de Deus é nos levar aonde quisermos chegar”, portanto se a
prosperidade e auto realização não forem realidades na vida de, pelo menos, 80% dos crentes do
mundo, Deus é incompetente, pois não consegue fazer seu propósito prevalecer.
A pergunta fundamental para entender esse Provérbio é esta: qual é o propósito do Senhor?
Se a resposta certa for a do livro, então Deus é incompetente, pois a maioria esmagadora de crentes
mundo afora não goza de prosperidade e realização própria. Isso quer dizer que Deus não foi capaz
de levar todos os seus filhos ao estado em que eles gostariam de estar.
Como foi dito, não há nada de errado em querer ter um futuro bom seguir carreira e ser bem
sucedido, a Bíblia nos incentiva a sermos bons trabalhadores e homens de confiança, mas ao
contrário do que o livro 21 dias está nos propondo, Deus não está negociando com os seres humanos
nem nos oferecendo prosperidade. Ele não está nos perguntando “quem você deseja ser” nem “aonde
você deseja chegar”.
Se os seus propósitos são de acabar com a miséria, alimentar os famintos, acolher o pobre,
ajudar o necessitado, dar dignidade e conforto ao oprimido, eu diria: então trabalhe muito e seja rico.
De outra maneira, deixe o mundo e sua riquezas e corra atrás do tesouro que não se acaba: Justiça,
santidade, sabedoria e conhecimento de Cristo.

Infelizmente o livro passa longe de responder essas perguntas de uma forma biblicamente
coerente. Sim devemos ter estas três perguntas respondidas: Quem somos? Da onde viemos? Para
onde estamos indo? Mas devemos respondê-las buscando na Bíblia respostas, e não em livros de
autoajuda. Assim se você realmente quiser saber quem você é, a Bíblia diz: você é pecador e
necessita de Deus pois carece de sua glória43. Se você quiser saber para onde você está indo, a Bíblia
diz: sem Deus, para o inferno, portanto arrependa-se e creia no Evangelho, que é o poder de Deus
para salvação daquele que crer, pois quem não crer, já está condenado44. Se você quiser um objetivo
de vida, um alvo para alcançar, assuma esse propósito: ser o mais parecido possível com o Cristo.

43
Romanos 3:23.
44
Romanos 1:16, Marcos 1:15 e João 3:18.

19 | P á g i n a
Refutando os Capítulos 6, 8, 13, 14 e 17: Vitórias, promessas
e motivações

Será que sempre vencemos?

Romanos 8:37, “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou”, é sem dúvida um dos versículos mais mal interpretados e distorcidos pelos
pregadores da prosperidade, e com Michael não poderia ser diferente. No final do capítulo 13 (pg.
113) ele diz que nascemos para ser muito mais do que vencedores, e que o Senhor dos Exércitos irá
conosco e, certamente, nos dará a vitória sobre toda guerra. O autor faz uma mistura desse versículo
de Romanos com o livro de Josué e afirma que assim como Josué batalhou e venceu tantas guerras e
tantas batalhas, pois confiava no Senhor, nós também venceremos nossas guerras e nossas batalhas.
E por quê? Porque somos mais que vencedores, é claro! Como é ensinado em muitas igrejas
neopentecostais: “não se contente com o pouco que tens, porque você não é apenas vencedor, você é
mais que vencedor!”
Interpreta-se também que essas guerras e batalhas são os nossos problemas cotidianos
pessoais, conjugais, financeiros, etc. Porém Paulo não estava falando sobre essas coisas quando
escreveu isso. Leiamos desde o versículo 33, “Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes,
ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do
amor de Cristo? Será a tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo,
ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos
considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que
vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem
os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-
nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”
De acordo com o versículo acima somos mais que vencedores porque nada nos separa do
amor de Deus, nem fome, nem morte, nem nudez, etc. Nada! Somos mais que vencedores porque
aguentamos a morte se preciso; vencemos ela por meio de Cristo. Por que somos mais que
vencedores? Porque todos os dias somos mortos e perseguidos em nome de Deus, mas aguentamos, e
ao final, vencemos, mesmo se perdemos a vida! Está escrito no começo do versículo 37 “em todas
estas coisas somos mais que vencedores”. Em que coisas? Na morte, na perseguição, na angústia, na
dor, na prisão, etc. Nessas coisas somos mais que vencedores, porque desfrutamos de uma vitória
que não conquistamos. Aquele que celebra a batalha que venceu é um vencedor. Aquele que celebra
uma batalha que alguém venceu por ele, é mais do que vencedor. Nós desfrutamos da batalha que
Cristo venceu por nós, sobre a morte, e assim nos dando a vitória da vida eterna!
Um exemplo que aprendi pode ajudar a entender: um lutador de boxe vence uma luta, e como
recompensa ganha um milhão de reais. Ao chegar em casa, todo machucado e com o nariz
quebrado, ele dá o cheque para sua mulher. Ela então vai ao shopping e gasta quase tudo em
compras. Ela é mais do que vencedora! Ela está usufruindo de um dinheiro que ela não apanhou

20 | P á g i n a
para conseguir. O seu marido apanhou e venceu a luta, mas é ela quem está desfrutando da
recompensa. Jesus morreu mas somos nós quem desfrutamos da vida Dele.
Esse versículo não está dizendo o que Michael está afirmando; ele não está dizendo que
teremos vitória em todas as nossas guerras. Michael diz que podemos perder batalhas, mas não
perderemos a guerra45; no capítulo 21 ele diz ainda mais, diz que “Jesus veio para nos curar de todas
as nossas necessidades físicas; seja queda de cabelo, obesidade mórbida, dor de cabeça ou dor de
dente, Ele vai nos curar”46, mas isso é mentira, cristãos também perdem guerras e não recebem curas.
Há cristãos que morrem de câncer, que vão à falência, morrem de AIDS, são perseguidos, nascem
com defeitos genéticos e sofrem de doenças hereditárias, passam necessidades, ficam carecas,
perdem dentes, etc. Se usarmos esse versículo para afirmar que seremos sempre “mais que
vencedores”, e isso significando sempre ter vitória sobre nossos problemas e cura de nossas doenças,
então Deus mentiu, pois cristãos também morrem em camas de hospitais, mesmo depois de pedir por
cura. Cristãos também se separam, mesmo depois de clamar por restauração. Cristãos também
passam fome. Cristãos perdem guerras como todo mundo perde. É verdade que Jesus cura, mas não é
verdade que Ele prometeu curar todos, pois se isso for verdade, por que então Ele não cura todos os
cristãos doentes e faz crescer novos membros naqueles que nasceram desfigurados? Até hoje não
conheço ninguém que por ser cristão não perdeu o cabelo nem miraculosamente deixou de ser obeso.
Jesus não veio para suprir nossas necessidades físicas, emocionais, financeiras e conjugais47, isso não
pode ser achado na Bíblia e não condiz com a realidade humana. Ele pode fazer essas coisas, mas
não é para isso que Ele veio. A missão de Jesus não era fazer o homem imune à doenças, ou como
alguns evangélicos dizem, deixar o homem de corpo fechado, nem suprir com todas as nossas
necessidades, como Michael diz, mas a missão Dele era “dar a vida em resgate de muitos” e “levar
sobre si nossos pecados”48.
A nossa vitória e conforto é que “nem angústia, nem tribulação, nem fome”, nem nada disso
tudo “nos separa do amor de Cristo”, como diz o versículo 35.
Ser mais que vencedor não é estar imune à derrota, mas é apesar da derrota, ainda estar com
Deus. Apesar das guerras perdidas ainda sermos vencedores, porque desfrutamos da vida de Cristo;
desfrutamos de uma vida e de uma alegria que não conquistamos, e por isso somos mais que
vencedores, porque conseguimos aguentar as dores desse mundo e ainda assim ter esperança.
Basicamente é dizer que mesmo quando perdemos ganhamos. Esse versículo de Romanos não
funciona para nossos problemas de rotina e o ensino de Michael sobre o propósito de Jesus não é
verdadeiro.
Há relatos de cristãos portadores de doenças terríveis, que batendo no peito afirmaram ser
“mais que vencedores”, e que por isso sua doença seria curada, mas no final, acabaram morrendo.
Mas Michael insiste em afirmar que Deus já nos deu a vitória, e ainda nos dará ela sobre toda a
guerra49, e que o propósito de Jesus ter vindo à terra era suprir todas as nossas necessidades50:

45
Pg. 113.
46
Pg.167-168.
47
Capítulo 21, pg. 165-170.
48
Mateus 20:28 e Isaías 53:5.
49
Pg. 113.
50
Pg. 166.

21 | P á g i n a
“Jesus veio para suprir as necessidades físicas, emocionais, financeiras, profissionais,
familiares e eternas do homem”51

Ele também diz que “por mais simples e banais que possam parecer nossas
necessidades, Jesus está interessado em supri-las todas; por mais insignificantes que possam ser, Ele
fica desejoso em nos atender, pois esse é o verdadeiro propósito de Sua vinda” 52. Se de fato Deus
prometeu suprir todas as nossas necessidades, por menores que sejam, por que Ele não atende às
necessidades daqueles cristãos Africanos e Indianos que morrem vítimas de perseguições? Será por
que eles não tiveram fé suficiente? Por que essas promessas não funcionam para os cristãos que são
caçados, torturados, aprisionados e assassinados no Oriente Médio? Será que eles não creram o
suficiente? Por que essas promessas não funcionam para os cristãos que são crucificados, hoje em
dia, na faixa de Gaza? Por que essas promessas não funcionaram para os tantos mártires e os cristãos
que morreram devorados por leões no coliseu Romano? Por que essas promessas não funcionaram
para o dono de empresa, que apesar de orar muito e crer, sua empresa faliu? Para o casal que, apesar
de orar e fazer aconselhamento de casal, acabou se separando? Por que não funcionaram para a mãe
que orou para Deus cuidar de seu filho, mas ele mesmo assim morreu tragicamente? Ou para o
cristão que por anos orou por uma cura mas morreu portador de sua doença? Entende porque Jesus
não nos fez essas promessas e ser mais que vencedor não significa ser superprotegido?
Você é mais que vencedor porque, através de Jesus, desfruta de uma vida e de uma salvação
que você não pagou para conseguir. E apesar das batalhas e guerras perdidas que teremos, ainda
assim, essas derrotas não nos afastarão de Deus.
Ao contrário do que o livro 21 dias ensina, você não nasceu para ser mais que vencedor nessa
terra; você não nasceu para ter vitória em todas as suas guerras nessa terra. Jesus não se
comprometeu em curar você de todas as suas doenças nem livrá-lo de todos os seus problemas. Você
nasceu para conhecer e viver com Deus, mesmo que isso lhe custe a vida, mesmo que isso lhe traga
dor e sofrimento; você ainda é homem e está nesse mundo e nessa carne, e por isso certamente
passará por muitas tribulações, doenças e fatalmente passará pela morte. Mas apesar de todas essas
coisas, você é mais que vencedor, pois Deus o ama e o redime da cova.
A verdadeira vitória do cristão é poder dizer “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está,
ó morte, o teu aguilhão? [...] Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso
Senhor Jesus Cristo”, I Coríntios 15:55 e 57.

Quantas promessas Deus nos fez?

“Quando Jesus não é o suficiente nada é o bastante.”

O cristão é confortado ao confiar nas promessas que Deus fez ao seu povo. Quando
lembramos da promessa da salvação e vida eterna, descansamos, porque descansamos na palavra de
Deus, e Ele não mente53. Ao longo da Bíblia Deus faz várias promessas ao Seu povo. Umas já se
cumpriram outras ainda não. Também ao longo da Bíblia, principalmente nos profetas, encontramos

51
Pg. 164.
52
Pg. 166-167.
53
Tito 1:2.

22 | P á g i n a
“falsos profetas” fazendo falsas promessas da parte de Deus. Portanto devemos saber quais são essas
promessas, de outra forma não saberemos distinguir entre as promessas verdadeiras e as falsas.
Lembro-me de uma vez quando um fiel da igreja Universal do Reino de Deus contou a um
amigo meu, que “Deus tinha feito mais de mil e tantas promessas para sua Igreja”, depois de ouvir
isso eu disse a esse meu amigo que, na próxima vez que alguém lhe dissesse isso, era para ele
perguntar: “Você pode me dizer algumas delas, e onde elas estão? Afinal, se são tantas assim, não
devem ser difíceis de achar!” Logo depois fiquei sabendo que esse fiel da Universal respondeu o
seguinte, que “Na verdade, não deveríamos nos preocupar em ficar lendo tanto a Bíblia, mas que
deveríamos sair em busca de almas”.
Em nome de Deus muitas coisas são prometidas, mas prometer em nome de é muito diferente
do que Ele ter prometido. Toda vez que um pastor, um profeta, um apóstolo (um anjo, um semideus,
etc.) se levanta para dizer que Deus tem promessas para nossa vida, deveríamos nos levantar também
e dizer, “e quais são elas; onde elas estão escritas?”. Porque há muitos pastores prometendo coisas
que Deus nunca prometeu. No capítulo 6, Bênçãos da cruz, temos um exemplo do que estou dizendo.
Aqui Michael pega 5 afirmações que Jesus fez na cruz, enquanto agonizava, e delas interpretou
promessas que Ele fez para o seu povo; ele afirma que Jesus nos fez 5 promessas de vitória para as
nossas vidas54. E elas são: (1) Jesus prometeu nos perdoar. Concordo. (2) Jesus prometeu salvar
quem o recebesse como salvador. Concordo. (3) Jesus prometeu restaurar nossa família. Discordo.
(4) Jesus nos prometeu prosperidade. Discordo. (5) Jesus nos prometeu vitória. Depende, apenas
sobre a morte.

(3) Restituição familiar: Michael diz que se entregarmos nossas vidas a Ele, Ele restituirá
nossas famílias55. Isso não é verdade. Não pode ser verdade, pois, primeiro, não é assim que
acontece. Muitos ao se converterem tem suas famílias destruídas por causa da fé. É verdade que a
vontade de Deus é que as famílias permaneçam unidas, esse é o plano original, sim, mas não é
verdade que essa é uma promessa que se cumprirá na vida daquele que se entregar a Ele. Cristo
mesmo disse que aquele que se converter a Ele corre o risco de perder sua família e amigos 56.
Michael usa a afirmação de Jesus em João 19:25-27, “Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao
discípulo: eis aí a tua mãe”, e com essa afirmação ele diz que “essa é uma promessa de restauração
familiar”. Como é que se interpreta isso disso? O que tem uma coisa com a outra? Se isso for
verdade, como entender as passagens que dizem que, por causa da fé, podemos perder tudo, inclusive
família?
Tenho visto na minha vida e na vida de amigos meus que isso não é verdade. Quem se
converte não tem uma família restituída. Algumas vezes a família se converte também, mas na
maioria das vezes não. Tenho irmãos que não falam mais com seus pais, pois os pais não aceitam a
fé do filho. Eu mesmo tive um relacionamento destruído por causa da fé. Há casais que se separam
depois da conversão de um dos cônjuges. Conheço filhos evangélicos que suportam crítica e
opressão dos pais que são católicos. Pais que oram pelos filhos e eles não se convertem e morrem
sem se converterem (que foi o caso do filósofo Friedrich Nietzche, conhecido como um dos filósofos
mais anticristãos do mundo, cujo pai era pastor e a família era protestante), entre vários outros casos.
O problema de uma afirmação dessas como a de Michael, de que Deus restituirá nossas famílias pois

54
Pg. 61.
55
Pg. 62.
56
Mateus 10.37.

23 | P á g i n a
prometeu, é perigosa porque cria no crente uma esperança que depois é frustrada, e assim o leva à
decepção. Por acaso a sua família é toda salva? Se for, que bom, mas sei de muitas outras que não
são. Deus não pode forçar ninguém a amá-lo, assim sendo, Ele não forçaria a sua família a crer pelo
simples fato de você ter crido.

(4) Prometendo prosperidade: “E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo:
Eli, Eli, Lamá Sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, e com esse
versículo Michael diz: “Essa é uma promessa de prosperidade57”. Ora, como? Onde está a promessa?
Em que parte dessa frase de agonia está contida a promessa? Dizer que essa é uma promessa de
salvação, tudo bem, podemos entender que “ele se fez maldição por nós”. Mas dizer que isso é
promessa de prosperidade? Concordo com o livro quando diz que Ele foi rejeitado para nós sermos
aceitos como filhos58, mas e como que isso nos leva à prosperidade? Jesus não nos prometeu uma
vida próspera e alegre, na verdade, quase que podemos concluir que Ele disse que teríamos uma vida
difícil, com perseguições e muito sofrimento por causa do nome Dele (ler o sermão do monte em
Mateus 5).
Se Deus realmente prometeu prosperidade, e prosperidade no sentido material, assim como
Silas Malafaia, Benny Hinn, Morris Cerullo, Joel Osteen, Edir Macedo, R.R. Soares, e Michael
afirmam ser, saúde, realização pessoal e também se comprometeu a suprir todas nossas necessidades,
como explicar a vida dos apóstolos? Eles certamente não receberam riqueza nenhuma e tiveram uma
vida terrível: Paulo foi apedrejado, chicoteado, espancado com varas, preso, perseguido, passou
fome, sede, frio e nudez; foi vítima de naufrágios e perigos de vida de toda a sorte, em desertos, em
rios, em mares, entre falsos irmãos, entre gentios, etc.59, morreu degolado ou decapitado. Pedro foi
crucificado, diz a tradição cristã, de ponta cabeça. Estêvão foi apedrejado. Tiago, irmão de João, foi
decapitado. Marcos foi amarrado e queimado. Bartolomeu abatido a bordoadas, crucificado, e depois
de ser esfolado foi decapitado. Mateus morreu golpeado com uma lança. Filipe foi crucificado e
apedrejado até a morte60. Outros apóstolos foram crucificados e mortos a golpes. Os primeiros
cristãos foram perseguidos e mortos de maneiras terríveis, que somente um demônio teria a
criatividade para tal ato. A minha pergunta é: Onde estava a prosperidade deles? Será que o livro de
Michael seria conforto aos apóstolos? Onde estava a prosperidade e abundância deles? Por que Deus
não estava, em Jesus, como prometido por Michael, suprindo suas necessidades, que aparentemente
eram muito mais sérias e importantes do que uma dor de cabeça, uma dor de dente ou um problema
conjugal? Será que os apóstolos não tinham a fé necessária?

Michael nos incentiva a darmos crédito às promessas que Deus nos fez, pois Ele nos dará a
61
vitória . Deus não fez nenhuma promessa que não esteja escrita na Bíblia, e entre todas as que estão
escritas, não há uma que sequer deixe margem à interpretações triunfalistas e de riquezas. Deus não
prometeu uma vida feliz e alegre. Deus não prometeu uma vida vitoriosa e bem sucedida. Deus não
prometeu riquezas, aliás, é contra elas que Ele mais falou62. Deus prometeu nos dar uma nova vida,
um novo começo, uma nova mente; prometeu colocar o Seu Espírito dentro de nós; prometeu nos

57
Pg. 63.
58
Ibid.
59
2 Coríntios 11:23.
60
O livro dos Mártires, John Foxe, capítulo 1.
61
Pg. 112.
62
Prov. 11.4 ; 11.28 ; 27.24 ; 28.22 Mateus 6.19 ; 6.24 ; 13.22 ; 19.23 ; 10.1, I Timóteo 6.9, I Cor. 6.10.

24 | P á g i n a
fazer frutificar em boas obras se permanecêssemos Nele; prometeu nos dar a salvação e a vida
Eterna; prometeu se esquecer do nosso passado, entre outras. Todas essas promessas são Bíblicas.
Mas as promessas que Cerullo, Murdock, o próprio Michael, entre outras pregadores da prosperidade
fizeram, essas não se cumprem porque não foi Deus quem as fez, e sim a carne. O que mais um
homem pode querer? Deus deu Seu próprio Filho; esmagou-o naquela cruz por nós. O que mais
falta? Atrás de que promessas estamos correndo? Ele deu o Filho, o Seu Espírito, uma nova vida, um
novo começo, uma nova mente, novos frutos, nova esperança, amor em abundância e ainda a
promessa de logo voltar para nos buscar, e isso não é o suficiente? Se Cristo não basta para você,
então nada será o suficiente. O homem que vive atrás de uma promessa, de uma visão ou de uma
profecia, não está contente com o que tem, e isso geralmente acontece com aquele que não tem o
Filho.
Na página 74, Michael diz “Temos que sempre desejar algo a mais”. Isso é incentivar à
insatisfação. Onde está escrito que devemos desejar sempre mais? Já Deus disse a Paulo “Minha
graça te basta”, então o que mais falta? Ser rico? Prosperar? Você vai correr a sua vida toda atrás
dessas promessas só para depois descobrir que Deus nunca as fez, por isso que você nunca as
alcançou Dele. Não podemos interpretar as promessas de prosperidade que Deus fez ao povo Hebreu
no Antigo Testamento como se servissem para a Igreja. Dizer que Deus tirará dinheiro das mãos dos
ímpios para dar aos crentes, como afirma Morris Cerullo, é dizer que Deus é ladrão.
Deus nos fez promessas, mas quase nenhuma delas tinha a ver com a nossa vontade, e sim
com a Dele; nenhuma delas fala de riqueza e prosperidade para nós nessa terra. A maior e mais
satisfatória promessa que Deus fez é Cristo. Ele deu o próprio Filho. Cristo é o nosso tesouro. Ele é a
nossa promessa. Ser igual a Ele é o nosso objetivo de vida. A salvação, um corpo glorificado e um
lugar à mesa com Ele é a promessa. Vida abundante é uma vida com Ele. Qualquer promessa que
contraria o Evangelho não é de Deus. Se você não está contente com essas promessas e precisa
constantemente buscar motivação na boca de homens que prometem o que Deus não prometeu, há
algo seriamente errado com você. Repito, quando Jesus não é o bastante, nada é o suficiente.

Refutando os Capítulos 2, 5, 16 e 20: Amor, fé, perdão e fidelidade


O amor com um propósito diferente
“O amor ... não procura os seus interesses” – I Coríntios 13:4-5

Logo na introdução do segundo capítulo o autor afirma que o amor é a chave para o nosso
sucesso63. Também que é o amor a Deus e ao nosso irmão que nos levará à vitória64. E o livro diz
mais, chega a afirmar que:

“Você precisa amar, porque o seu poder, sua fé e a sua prosperidade dependem
disso”65

63
Frase de introdução do capítulo 2, pg. 32.
64
Pg. 34.
65
Pg. 35.

25 | P á g i n a
Mas que propósito mais mesquinho para se amar alguém, não acha? “Ame, pois disso
depende a sua prosperidade!” Será que você entendeu o que isso significa que Michael está nos
dizendo? Isso é colocar o amor como ponte para chegar ao dinheiro. O autor também escreveu que
somente através de Deus, que é amor, podemos alcançar uma vida financeira próspera66.
Já Paulo nos mandou amar por outro motivo. Na famosa passagem sobre o amor em 1
Coríntios 13, o apóstolo explica a grandeza do amor assim como também nos ensina o que ele é. Ele
escreve no final do versículo 5 que “o amor não procura interesse próprio”. Como então podemos
crer que devemos amar para conquistarmos nossa vitória e prosperidade, sendo que o amor não busca
seus interesses? Se seguirmos o conselho do livro 21 dias estaremos amando para obtermos um fim
desejado, mas o amor em si, como descrito por Paulo, não tem essa atitude. Quem ama ama porque o
amor é o dom supremo. São os ímpios que amam com segundas intenções e interesse próprio. São
eles que abusam dessa virtude cristã. São os filhos do diabo que dizem que amam para conseguir
coisas em troca. O amor do mundo é oposto ao amor de Deus: Se o amor de Deus é um amor
incondicional e que não visa o próprio bem, então o amor do mundo é aquele que só busca o
interesse próprio e que é condicional.
Peço que você agora ponha a sua criatividade para funcionar e tente acompanhar a análise
que farei da metáfora mais absurda que já ouvi: repare bem na frase: “o amor é a chave para o
sucesso”, e pergunte-se. Nessa metáfora, o que é mais importante? (1) A chave, (2) a porta, ou (3) o
que está por detrás da porta? Obviamente a resposta é (3) aquilo que está atrás da porta. Assim a
porta é obstáculo que impede você de se chegar aonde você deseja, enquanto a chave é o mero
dispositivo que lhe permite superar esse obstáculo. Nessa metáfora, Michael põe o amor como um
dispositivo descartável, que só serve para um propósito: levar você ao outro lado da porta. Ao
afirmar que “O amor é a chave para o seu sucesso”, você está afirmando que “Deus é a chave para o
seu sucesso”, e assim fazendo Deus um meio para o seu fim desejado. É a diminuição e profanação
da maior virtude cristã; é a diminuição de Deus.

O livro 21 dias está tratando o amor, a virtude mais elevada e a essência de Deus, como um
mero mecanismo que o ajudará a chegar na prosperidade. Isso é heresia. É blasfêmia. O cristão não
deve amar pensando na sua vitória, o cristão deve amar porque amar é a coisa certa a se fazer!
Porque Deus nos amou, então devemos amar! Sempre se lembre de que “o amor não visa interesse
próprio”, e o amor que Michael nos apresenta é completamente visando o nosso próprio bem.
Vamos ver o que a Bíblia fala sobre o amor.

De acordo com o evangelho de Mateus, o amor é o mandamento supremo, a síntese de toda a lei e os
profetas. (22:37)

De acordo com o evangelho de João, o amor é o motivo pelo qual Deus deu seu único Filho. (3:16)

De acordo com o livro de Romanos, o amor é o cumprimento total da lei. (13:10)

De acordo com o livro de 1 Coríntios, o amor é o dom supremo que devemos buscar. (13:13)

De acordo com o livro de Gálatas, o amor é a primeira virtude da lista que compõem o fruto do
Espírito Santo. (5:22)

66
Pg. 35.

26 | P á g i n a
De acordo com o livro de Efésios, o amor é o solo onde devemos estar arraigados. (3:17)

De acordo com o livro de Filipenses, o amor é que deve nos manter unidos. (Cap. 2)

De acordo com o livro de Colossenses, o amor é o vínculo da perfeição. (3:14)

De acordo com o livro de Tessalonicenses, o amor é a couraça que nos protege. (5:8)

De acordo com o livro de Timóteo, o amor é a finalidade dos mandamentos, para que tenhamos um
coração puro, uma fé não fingida e uma boa consciência. (1:5)

De acordo com o livro de Tito, o amor é o que nos salvou da nossa insensatez, desobediência,
concupiscências, invejas e malícias. (3:4)

De acordo com o livro de Filemom, o amor foi motivo de gozo e consolação para Paulo. (1:7)

De acordo com o livro de Hebreus, o amor é o que deve nos manter motivados a fazermos boas
obras. (10:24)

De acordo com o livro de Pedro, o amor por nós é o motivo pelo qual Deus se manifestou. (1:20)

De acordo com o livro de 1 João, o amor é o próprio Deus. (4:8)

De acordo com o livro de 2 João, o amor é a obediência aos mandamentos de Cristo. (1:6)

De acordo com o livro de Judas, o amor é aquilo no que devemos nos conservar. (1:21)

De acordo com o livro de Apocalipse, o amor é aquele estado que nunca devemos deixar (2:4)

Como podemos ver, amor pode ser definido de várias formas de acordo com a Bíblia, mas
nenhuma delas passa perto da definição de Michael. Pela Bíblia vemos que amor pode ser muita
coisa, mas nunca uma chave para o sucesso.
Uma das mais importantes regras da lógica é a da não-contradição, que diz que “duas
afirmações não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo que contraditórias”. As afirmações sobre o
amor e o motivo porque devemos amar que a Bíblia nos apresenta, são contrárias aos motivos que
encontramos no livro 21 dias. Um dos livros está errado. Os dois não podem estar certos ao mesmo
tempo. Um diz “amem sem interesse”, o outro diz “amem com interesse”. Um diz “o amor é o fim de
tudo”, o outro diz “o amor é um meio para se chegar a um fim desejado”. Um diz que o amor pode e
nos trará sofrimentos injustos, o outro diz que o amor nos trará prosperidade e abundância em tudo
muito além das nossas necessidades67. Eu fico com a Bíblia. Não devemos tratar o amor como um
mecanismo mundano nem como uma fórmula, mas busquemos aquele amor sobre o qual Paulo
escreveu, aquele que não tem interesse próprio.

67
Pg. 34, primeiro parágrafo.

27 | P á g i n a
O perdão e a fidelidade com um propósito diferente

Perdoar talvez seja o verbo que o cristão mais use durante toda sua vida; é o ato mais incrível
da parte de Deus para com os seres humanos. Devemos cuidar para não confundir perdão com
desculpas. Desculpar é retirar a culpa do agressor pois ele não teve a intenção de fazer o mal; foi sem
querer. É basicamente fazer de conta que não aconteceu, pois não houve culpa de nenhuma das
partes. Já perdoar é reconhecer a culpa e levar sobre si o dano, e não fazer a justiça cair sobre o
agressor. É exatamente o que Jesus fez por nós. Como aprendi, por coincidência da língua
portuguesa, o verbo perdoar parece ser composto por dois verbos, “perder” e “doar”. Quando você
perdoa, você “perde” e “doa”. Perde o direito de fazer justiça e doa misericórdia imerecida. Como
C.S. Lewis disse: perdoar é desculpar o indesculpável68. Aquele que perdoa reconhece a culpa do
agressor mas decide sofrer o dano da agressão, e então agir com compaixão e misericórdia para com
o lado culpado abrindo mão dos seus direitos de justiça. Não existe perdão sem sacrifício. É
realmente um dos atos mais nobres e o exemplo mais perfeito de altruísmo. E assim como o amor, o
perdão é algo que não visa o próprio bem, antes é o sacrifício de uma das partes para reconciliar
consigo a outra. Esse é o perdão que Deus nos ofereceu através da cruz e o qual devemos imitar.
O amor e o perdão não visam o próprio bem, são atos totalmente desvinculados de qualquer
interesse próprio. Pergunte-se: O que Deus ganhou nos perdoando? Nada, apenas sofreu uma morte
na cruz. O que Deus ganhou nos amando? Nada, apenas teve que, por isso, nos aguentar a teimosia e
carnalidade. Deus não ganha nada agindo dessa maneira para conosco, aliás, Ele perde e sofre. Por
isso que chamamos graça de graça. Algo grátis é algo “de graça”: não custa nada e não espera nada
em troca; no máximo gratidão. Quando alguém dá algo “de graça” não é com vista no próprio bem,
mas com vista no bem do outro. Deus nos perdoou porque quis, e porque Ele fez isso nós
respondemos em gratidão e amor e fazemos o mesmo com o nosso próximo. Por isso perdoamos,
porque fomos perdoados, afinal como não poderíamos perdoar depois de ter sido perdoados de
tamanhas transgressões? O único motivo porque deveríamos perdoar é este: porque é a coisa certa;
cura e abençoa o próximo. O perdão é lindo, é majestoso, nobre e soa como que se destilasse
compaixão.
Mas os marqueteiros da fé evangélica conseguiram profanar essa virtude tão linda do
cristianismo e transformar o perdão em fórmula para conquistas. Michael diz:

“Pedir perdão e perdoar é trazer a bênção de Deus sobre a sua vida. É abrir as portas
para a prosperidade. O perdão é uma palavra de vitória69. Quando perdoamos,
liberamos a nossa vida para prosperar e sermos abençoados por Deus70.

A mesma coisa ele afirma sobre a fidelidade, que devemos ser fieis para sermos abençoados,
pois é ela que nos trará a vitória e a recompensa; ela é o caminho da vitória71. Se quisermos destaque
e honra entre os homens, precisamos ser fieis72, ele diz. Nada poderia ser mais herético do que estas
afirmações.

68
C.S. Lewis, O Peso da Glória.
69
Pg. 133.
70
Pg. 132.
71
Pg. 160 - 161.
72
Pg. 161.

28 | P á g i n a
Façamos um resumo dos ensinos de Michael até agora: Então devemos amar, não porque
amar é a coisa certa a se fazer, mas porque amando teremos sucesso. Devemos perdoar, não porque
Deus nos perdoou, mas porque ao perdoar liberamos nossas vidas para prosperar. Devemos ser fieis,
não porque isso faz parte do caráter de um filho de Deus, mas porque a fidelidade é o caminho para
nossa vitória. Assim o amor é a chave para o sucesso73, o perdão é o que libera a prosperidade74 e a
fidelidade traz a prosperidade75. Em menos de 10 páginas Michael conseguiu rebaixar as maiores e
mais belas virtudes cristãs a meras fórmulas para se alcançar destaque e riquezas.

A fé com um propósito diferente


“Melhor do que um receber um milagre é não precisar de um milagre”

O capítulo nos traz a história de Marcos 5:25, sobre a mulher enferma que ao tocar as vestes
de Jesus foi curada, e com base nesse história Michael nos traz umas definições de fé assim também
como para que ela serve. Aprendemos com esse capítulo do livro que a fé é uma arma poderosa que
Deus nos deu para alcançarmos o milagre76. Mais uma vez, assim como o autor reinventou o amor e
o perdão, ele faz com a fé.

O livro de Hebreus nos diz o que é a fé e para o que ela serve. No capítulo 11 diz assim,
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”. “Certeza
daquilo que vai acontecer” e “convicção das coisas que não se veem”, e não “arma para conquistar o
milagre”. Michael nos apresenta a fé como sendo um pé de cabra espiritual para abrir a mão de Deus
e convencê-lo a fazer aquilo que queremos. Se continuarmos lendo nesse capítulo 11 de Hebreus
veremos que “pela fé...” os homens foram salvos, pois confiaram na provisão de Deus, mas não está
escrito que “pela fé conseguimos alcançar o milagre”. Aliás, os milagres que esses homens de
Hebreus capítulo 11 alcançaram, não eram milagres que eles queriam, mas milagres que Deus disse
que aconteceriam. O que Deus faz em nós por meio da fé não é aquilo que nós queremos, mas é
aquilo que Ele quer. Fé não é cheque em branco; não é o seu poder de convencer a Deus de realizar
os seus desejos, fé é certeza. Certeza de que? De que o milagre vai ser realizado? Não! Mas de que
Deus é quem disse que é, e por isso, podemos descansar. Você não crer para conquistar o seu
milagre, da mesma forma que você não deve amar para chegar à prosperidade. Repito, Deus não está
barganhando com os seres humanos e uma das características da fé verdadeira é que ela humilha o
homem, e não o torna arrogante e pidão.
Michael também escreve que “a fé é atrevida”77. Não irmãos, a fé não é atrevida, a fé é
humilde. A fé não é cara de pau, a fé é realista. “pela fé...” ninguém se torna atrevido. A mulher
enferma de Marcos 5:25 não era atrevida, e sim humilhada e desesperada. O livro diz que “A atitude
dela nos ensina como usar a fé para alcançar um milagre”, pg. 54, não irmãos! A fé dela nos mostra
como é que devemos nos relacionar com Deus, isto é, admitindo que ninguém mais fora o Senhor
pode nos salvar. Ninguém mais fora o Senhor pode nos curar. Essa mulher enferma não tinha uma fé

73
Fase de introdução do capítulo 2, pg. 32.
74
Afirmação feita na página 132 e conclusão do capítulo na página seguinte último parágrafo.
75
Frase de introdução do capítulo 20, pg. 156.
76
Pg. 54.
77
Ibid.

29 | P á g i n a
triunfalista, ela tinha uma fé desesperada! Ela não saiu declarando que hoje ela seria curada78, ela
saiu chorando porque “muito padecera às mãos de médicos” e continuava indo “a pior”. Aquela
mulher não estava marchando em busca do seu milagre, ela estava “atemorizada e tremendo”, e
entrou “por meio da multidão” em busca de ajuda. Aquela mulher não tinha uma imagem clara de
como queria ser curada79, ela só tinha uma esperança de que Jesus podia curá-la, pois “tinha ouvido
sua fama”. Aquela mulher não começou a ver em sua mente o milagre por ter crido80, mas quando
ela disse que “se apenas lhe tocasse as vestes seria curada”, ela estava dizendo “eu creio quem Ele
diz que é, e se eu apenas tocar-lhe as vestes será o suficiente”, não há triunfalismo nem declarações
positivistas nem visualização de milagres, há apenas humilhação, fé e esperança na identidade de
Jesus.
A fé dessa mulher deve ser para nós modelo, pois Jesus disse “A tua fé te salvou!” Mas como
era essa fé? “Atrevida” e “intrépida”? Não! Era humilde e confiante na identidade de Jesus e não nas
suas declarações positivistas. Esse texto nos mostrou como devemos nos achegar a Deus:
humildemente, quando nos arrependemos de ter jogado todos os nossos recursos fora com o mundo e
ter crido no homem; quando estivermos humilhados e reconhecido que o nosso caso é tão grave, que
só o Filho de Deus para nos curar. De maneira alguma podemos interpretar que essa mulher estava
confiante num sentido triunfalista, a ponto de declarar e marchar em busca do seu milagre. Sua
situação era vergonhosa e desanimadora: “doze anos sofrendo com hemorragia”. Mas como meu
bom amigo disse, a exegese já está incutida na mente do leitor. Muitos leem esse texto procurando a
mensagem de prosperidade.

Também o autor nos dá essa fórmula, que supostamente foi usada pela mulher enferma:
“Ouvir, visualizar e declarar”. Assim chegamos ao milagre81. Gostaria de saber onde está essa
fórmula na Bíblia? Onde está escrito que aquilo que conseguimos visualizar é o que conseguimos
conquistar pela fé82, e que devemos declarar após termos ouvido a palavra de Deus? Por acaso
Michael não sabe que esse é o princípio da Sei-cho-no-iê, e que nada tem com o cristianismo? Ache
uma pessoa nas Escrituras que visualizou e declarou. Não há. Ao invés o que encontramos ao longo
dos evangelhos são pessoas “implorando” e “gritando” para serem ouvidas; pessoas que “creram” e
“choraram”, que “adoraram”; “se prostraram”; que “tremeram e temeram”, mas não encontramos
ninguém que “declarou” nada. Ora, quem declara tem poder para cumprir o decreto! E o único que
tem esse poder é Deus, portanto Ele pode declarar as coisas e elas acontecem, nós apenas
imploramos e esperamos. Jesus nos ensinou a “pedir” e não “exigir”.

(Um comentário)
Irmão, você não acha estranho que há tantas pessoas declarando, exigindo, visualizando,
dizimando e ofertando, seguindo os 21 dias, os 10 passos, os 7 princípios, as 5 leis de um líder e os
12 segredos e nada muda? Você não percebe que os únicos que prosperam com a teologia da
prosperidade são os pastores que a pregam? Enquanto você crer nessas “fábulas”, como Paulo nos
advertiu, que não têm conexão alguma com a verdadeira fé nem com a realidade, você continuará
tentando, buscando, seguindo, comprando livros e livros, escutando pregações e mais pregações,
78
Pg. 56.
79
Ibid.
80
Ibid.
81
Ibid.
82
Pg. 145.

30 | P á g i n a
frequentando encontros e eventos, dizimando e ofertando, e sua vida não mudará. Não haverá um
romper financeiro na sua vida, apenas na vida do seu pastor. Você não percebe que é o seu pastor
que tem um carro importado, uma mansão, um jatinho particular e roupa nova. Ora, é claro que ele
pregará a prosperidade, pois para ele funciona, porque há pessoas como você que o sustentam e o
patrocinam!
Irmãos, a verdadeira fé não declara, suplica. A fé não serve para você conquistar o milagre, e
sim para você ter certeza daquilo que não se vê e convicção daquilo que se espera. A fé que agrade
Deus não é aquela que é atrevida exige e declara, mas é aquela que confia e pede! A verdadeira fé
não é obstinada. O verdadeiro cristão não é ambicioso e não trata a fé como um pé de cabra
espiritual. A verdadeira fé é aquela que produz em nós tão grande convicção que nos leva à morte
pelo que cremos. Essa fé genuína é a certeza que milhares de mártires que foram torturados,
queimados, esmagados, esquartejados, decepados, crucificados e apedrejados tinham de que assim
que fechassem os olhos aqui, veriam o cordeiro lá.

Termino com o texto de Marcos 5:25, leiam-no sob esta perspectiva: como sendo o relato de
uma mulher desesperada que confiou em quem Jesus disse que era, e humildemente confessou que
Ele era o único que podia ajudá-la. Esse é o relato de uma mulher que, do contrário do que Michael
nos ensinou, não creu em si mesma nem em suas declarações positivistas, mas antes, creu Nele
somente!

“Aconteceu que certa mulher, que, havia 12 anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito
padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo,
nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por
trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocasse as
vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do
seu flagelo. Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no meio da
multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes? Responderam-lhe seus discípulos: Vês que
a multidão te aperta, e dizes: quem me tocou? Ele porém, olhava ao redor para ver quem
fizera isso. Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela operara, veio
prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade. E ele lhe disse: Filha a tua fé te salvou;
vai-te em paz e fica livre do teu mal”

Refutando o Capítulo 7: Decidindo errado (breve comentário)

O livro afirma nesse capítulo que as nossas escolhas definem quem nós somos e quem
seremos, e também que “ser infeliz e viver na pobreza é uma decisão nossa”83, eu gostaria que
Michael pregasse essa mensagem nas favelas do Rio de Janeiro. Eu gostaria que ele tivesse a
coragem de ir a Ruanda, na África, e dizer isso, “que ser pobre e infeliz é uma decisão que a pessoa
toma”, ou talvez dizer, como ele diz no livro, que a pobreza é causada por espíritos de pobreza.
Gostaria de ver qual seria a repercussão. O que será que aqueles pobres coitados mendigos em São

83
Pg. 68-69.

31 | P á g i n a
Paulo fariam com esse livro? Será que 21 dias seria tempo suficiente para transformar a vida deles
também? Será que uma mãe que vive na rua, se hoje, começasse a visualizar, declarar e, pela fé,
buscar o milagre, ela teria a sua vitória e a sua bênção? Talvez se aqueles cristãos que são
perseguidos na China declarassem com mais ousadia e atrevimento, Deus os ouviria e os salvaria da
perseguição. Eu faria questão de pagar uma passagem de primeira classe para Michael ir ao Haiti
pregar essa mensagem de vitória para aquele povo sofrido, gostaria de ver se surtiria efeito; se
realmente, transformaria a vida deles. Também faria questão de ofertar 900 reais ao Cerullo em
nome de um sem teto qualquer, só para ver se dentro de 6 meses as promessas de Deus se realizariam
sobre a vida dessa pessoa ou não. Ou talvez devêssemos enviar o valor de um aluguel como oferta de
sacrifício ao programa de Silas, assim como ele pede, em nome de alguma vítima das enchentes que
destruíram Blumenau, SC, só para ver se Deus é fiel às promessas de Silas, e em troca dá uma casa
nova a essa gente. Por que Michael não vai à público e prega essa mensagem para os tantos que
continuam desabrigados em Blumenau e região, assim talvez as pessoas deixem de ser tão incrédulas
e comecem a seguir esses princípios, assim liberando sobre elas a bênção de Deus sobre suas vidas, e
em 21 dias ou menos, terem suas vidas transformadas, suas bênçãos conquistadas e metas
alcançadas?

Irmãos, se a mensagem não serve para alguns, não serve paga ninguém. Se a mensagem é de
Deus, então é para todos.

Refutando o capítulo 12: Sementes


“Cada um faz ofertas e sacrifícios para o Deus em que crê; o meu Deus não pede dinheiro”

“Não vos enganeis, de Deus não se zomba; porque tudo o que o homem semear, isso
também ceifará”, Gálatas 6:7. A lei da semeadura, de acordo com o livro, é a lei mais importante
que existe no mundo e serve para trazer dinheiro, amor, amizade e tudo aquilo de bom que nós
desejarmos84. Os que a pregam geralmente baseiam-se nesse versículo de Gálatas e em 2 Coríntios
9:6. As escandalosas petições por ofertas feitas em nome dessa lei ultrapassam a linha do absurdo e
chegam ao ridículo.
Silas Malafaia em uma de suas pregações disse a respeito dessa lei: “e tem uns com cara de
supersantos que dizem „pastor, eu dou ofertas pelo simples ato de dar. Eu dou porque eu amo a
Deus então eu dou‟. Sim trouxa! Ok trouxa! Eu respeito você trouxa! Mas a Bíblia não manda você
fazer isso, a Bíblia faz uma analogia da oferta com a semente, para que você entenda que todo o
agricultor que planta quer colher, você deve dar oferta na expectativa de que você vai colher na sua
vida. Eu plantei mamão, quero colher mamão! Plantei laranja, quero colher laranja! Plantei
ofertas, então quero colher bênçãos materiais na minha vida!”85.
Em outro vídeo, ele desafia os telespectadores a semearem o pagamento de um aluguel, se a
pessoa vive de aluguel, para então Deus abrir as portas e conceder a bênção de ter uma casa própria.
Alguns pastores chegam ao absurdo de pedir aos fieis que semeiem suas contas de luz, água e
telefone, prometendo em troca um romper financeiro. Michael diz que às vezes Deus nos pede coisas

84
Pg. 100 e 105.
85
Vídeo que pode ser achado sob o título de Silas Malafaia Ministro do Evangelho da prosperidade.

32 | P á g i n a
que não estamos prontos para dar por ainda não termos maturidade espiritual suficiente nem fé para
um romper financeiro86. Basicamente ele disse que se não temos coragem para ofertar, somos
crianças na fé. Ele diz na página 102, que aquele dinheiro que temos em mãos que não é suficiente
para pagar as contas é a nossa semente, e não a nossa colheita, portanto devemos semeá-lo e esperar
a colheita. Ora, que absurdo. Você percebe, leitor, que tudo é dinheiro? Tudo. Cada capítulo, cada
exemplo, cada ensino, cada lei; tudo é dinheiro e prosperidade. O amor, o perdão, a fé, a fidelidade, o
Reino, as leis, a salvação; tudo gira em volta do dinheiro.
Basicamente o que Michael está nos propondo é um investimento no Reino de Deus. Você
investe tanto e depois recebe de volta esse tanto mais o lucro. Você faz as contas para ver quanto
você quer ganhar, então deposita o necessário para render tantos juros, e depois colhe o seu dinheiro
de volta. O Reino de Deus é aqui retratado como um mundo de negócios e Deus como um banqueiro.
Você investe sua semente, espera dar lucros, depois colhe os benefícios.
Essa demonologia da prosperidade; esse culto a Mamom (o deus do dinheiro e das riquezas,
Mateus 6:24 em algumas traduções traz a palavra Mamom ao invés da palavra riquezas) vem direto
do inferno e vai contra todo o Evangelho de Jesus Cristo. Enquanto 21 dias nos ensina a investir, o
Evangelho nos ensina a dar. Jesus disse para “emprestar dinheiro sem nada esperar receber de
volta”87, mas emprestar pelo simples fato de ajudar. Esse é o espírito do Evangelho, o da
contribuição e ajuda.
Reino de Deus não é banco, não se investe nele, se doa para ele. Não podemos interpretar
esse versículo de Gálatas para falar sobre dinheiro. O versículo não está falando sobre isso. Leiamos
o versículo todo, e não só a parte que nos convêm: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois
aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria
carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida
eterna. E não cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.”
Do que Paulo estava falando aqui? De semear dinheiro? Não! De semear corrupção para a carne, ou
semear contrição e virtude para o Espírito. “Porque de Deus não se zomba” então aquele que semear
irresponsabilidade e imprudência, colherá desgraça e tragédia. Aquele que semear desobediência e
rebeldia, colherá lágrimas e sofrimento. “Porque de Deus não se zomba”, então como você espera
semear desobediência e colher virtude? Isso seria zombar de Deus! Então aquele que semeia para
carne, colhe corrupção. Aquele que semeia para o Espírito, colhe virtude.
Paulo não estava falando de dinheiro! Como podemos estar certos disso? Lendo o capítulo
anterior, lá Paulo estava falando de frutos do Espírito e da carne. O capítulo 5 fala que devemos
produzir o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, etc., e evitar os frutos da carne: prostituição,
impureza, lascívia, etc., e a única maneira de colher o fruto do Espírito é semeando para o Espírito.
Todos os dois capítulos 5 e 6 estão falando de virtudes e obras da carne, e não de dinheiro. Basta
uma simples análise textual e interpretação do conteúdo dentro do seu contexto. Não há mistério:
Aquele que semeia para o Espírito colhe o fruto do Espírito, aquele que semeia para sua própria
carne, colhe as obras da carne. Um capítulo está ligado ao outro, Paulo estava falando de uma coisa
só, e não era dinheiro.
Essa “lei” é a forma com a qual os pregadores arrancam dinheiro do povo mais facilmente,
prometendo que Deus restituirá em dobro, e que se semeando (dinheiro, obviamente), colheremos até

86
Pg. 101.
87
Lucas 6:35.

33 | P á g i n a
cem vezes mais. Mike Murdock e Morris Cerullo têm aparecido algumas vezes nos programas de
Silas com petições de “sementes preciosas” de 610, 900 e 1.000 reais, prometendo que dentro de “6-
12 meses, todas as promessas e profecias de Deus para nossa vida se cumpririam”. Pedro já nos
advertiu de que um dia, por causa da ganância, falsos mestres nos enganariam e fariam comércio de
nossas almas, mas aparentemente tem gente que não lê Bíblia e cai nesses esquemas.
O texto que talvez poderia ter sido usado para suportar esse ensino, seria o de 2 Coríntios 9:6.
Lá sim Paulo estava falando de semear e colher contribuições e ofertas. Mas ele faz isso com um
propósito, dizendo: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre,
em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu,
deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre”. De acordo com esse texto, semeamos para
colher mais e então superabundarmos em boas obras, e não para ficarmos ricos. Se você deseja
semear e colher coisas materiais, deve ser para superabundar em boas obras, e não para enriquecer!
Outro motivo além desse seria errado. Aquele que quer ter tudo em ampla suficiência deve fazer
boas obras: distribuir entre os pobres e acabar com a miséria ao seu redor. O foco da sementeira e
colheita de 2 Coríntios não é ficar rico nem investir para o seu bem, é para ter como acudir o
necessitado!
Então vemos que a semeadura de Gálatas não fala de dinheiro nem nada material, e a
semeadura de 2 Coríntios tem uma condição, que é acudir os pobres com aquilo que colhemos. A lei
da semeadura não é, como diz Michael, a lei mais importante que existe, ela só é a mais importante
para aquele que vive correndo atrás de dinheiro, mas para um filho de Deus, a lei mais importante
que existe é a do amor (caridade). Ao contrário do que Michael nos ensinou a lei da semeadura não
serve para trazer tudo de bom que quisermos, incluindo dinheiro, amor, etc., e sim para prover
recursos com os quais acudiremos o pobre e acabaremos com a miséria. O foco dessa suposta lei não
é você, e sim o outro.

Considerações finais
Apesar de termos sido avisados tantas e tantas vezes pelo nosso Senhor e Seus apóstolos que
um dia a cristandade estaria repleta de falsos mestres, novos evangelhos e diferentes deuses, ainda
assim muitos cristãos se deixam seduzir e abandonam a sã doutrina, se entregando à fábulas de
homens adoradores de dinheiro, e por causa disso, são corrompidos pela cobiça e se tornam idólatras;
escravos das riquezas desse mundo. Assim como os antigos israelitas por tantas vezes se prostituíram
e foram adorar outros deuses, também o povo de Deus está fazendo hoje: prestando culto e
sacrificando a deuses estranhos, seguindo seus próprios corações carnais e abandonando os estatutos
do Senhor Jesus; dando ouvidos a falsos profetas e amontoando para si mestres segundo suas
próprias cobiças, diz a Bíblia.
Antigamente era o culto a Baal que seduzia o povo de Deus, hoje é o culto a Mamom88. Na
antiga Israel eram os baalitas que, com palavras, enganavam os filhos de Deus, hoje na Igreja são os
pregadores da prosperidades. Lá o sacrifício era humano, agora ele é monetário. Satanás continua
com a mesma estratégia: como o cantor Keith Green falou, “ele põe um pouco de verdade em cada
mentira”, e assim induz os homens à adoração de um falso deus que satisfaça as concupiscências de

88
Falso deus da riqueza e da avareza segundo o dicionário Webster da língua inglesa.

34 | P á g i n a
nossa carne. O espírito por detrás é o mesmo, apenas se atualizou e mudou de nome, mas continua
com os mesmos objetivos: levar os homens a sacrificar e ofertar a outros deuses.
Cada vez mais igrejas e pastores surgem no cenário evangélico brasileiro pregando a teologia
da prosperidade, e com isso inundando nossa livrarias e televisão com material e programas
heréticos. Infelizmente todo aquele conteúdo bíblico que trazia significado à palavra “evangélico” foi
jogado fora e substituído pela má fama que o movimento neopentecostal e seus inúmeros escândalos
trouxeram consigo. Hoje em dia dizer-se cristão evangélico não significa mais o que significava há
uns 30 anos atrás. Os pregadores da prosperidade aos poucos redefiniram o vocabulário cristão e
criaram uma nova imagem do que é ser um filho de Deus. Eles basicamente transformaram o
evangelho num produto e Deus num vendedor de destinos.
O teólogo brasileiro Augustus Nicodemus escreveu em seu artigo a alma católica dos
evangélicos no Brasil, que os evangélicos nunca conseguiram se livrar completamente da herança
religiosa que os católicos deixaram nesse país, e em virtude disso, têm importado para dentro do
evangelicalismo elementos essenciais do catolicismo romano, e entre eles, o gosto por bispos e
apóstolos, e a ideia de que pastores são mediadores entre o povo e Deus. Isso explica a facilidade que
os pregadores da prosperidade encontram em fazer discípulos, pois basta apelar a essa mentalidade já
formada, e impor-se como ungido de autoridade e de poder de cura para cair nas graças do povo, que
por sua vez, cultuará a personalidade do ungido. Enquanto os católicos adoram os ídolos de pau e
pedra, os evangélicos adoram os de carne e osso. Tragicamente essa é a realidade do cristianismo no
Brasil: vai de mal a pior, assim como o nosso Senhor disse que aconteceria, ao ponto de Ele indagar
se ainda haveria fé verdadeira na terra quando Ele voltasse89. Mas essa não é apenas a situação do
Brasil, mas do mundo todo. Um pastor americano disse que o dia onde mais se blasfema o nome de
Deus é o domingo, pois é quando milhares de pessoas se reúnem em nome de Jesus para blasfemá-lo
em igrejas mundo afora declarando coisas que Ele não declarou e invocando Seu Santo nome por
motivos errados. Portanto não deveríamos nos surpreender quando falsos mestres se levantam, isso já
nos foi avisado que aconteceria. No entanto deveríamos vigiar para que não sejamos enganados e
levados ao redor por qualquer vento de doutrina estranha, como Paulo disse em Efésios.
Mas se há uma coisa que aprendi, é que cada um obedece e segue o Deus em que quer
acreditar, então de nada adianta oferecer um Evangelho de salvação para aquele que está procurando
um evangelho da prosperidade; para nada serve a mensagem de Jesus àquele que deseja ficar rico.
Àqueles que querem conhecer o Deus da graça, que o procurem na Bíblia e não em livros de
autoajuda.
Creio que fui claro ao expor o porquê do livro 21 dias para transformar a sua vida não estar
de acordo com a Bíblia. Ele traz erros graves: apresenta um evangelho diferente, fala de um Jesus
que a Bíblia desconhece, de um Deus que não possui o caráter do Senhor Deus e Pai, e faz falsas
promessas. Assim como o fruto não cai longe do pé, Michael não fica aquém nem vai além das
heresias de seus mentores, e como muitos outros livros desse mesmo cunho motivacional já foram
lançados no meio cristão e já logo foram esquecidos, creio que 21 dias também o será.

89
Lucas 18:8.

35 | P á g i n a

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