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Iaci Malta
Agosto 2009
Para Reich e seu seguidor Alexander Lowen, a expressão das emoções é um fator
primordial para a manutenção da saúde psíquica e física do ser humano. Para ambos a
repressão das emoções constitui um mecanismo de defesa que visa proteger o indivíduo
contra experiências emocionais dolorosas e ameaçadoras mas pode simplesmente resultar
na perda de vitalidade. Em particular os exercícios corporais criados por Lowen para
compor a técnica corporal da Análise Bioenergética têm o objetivo de desfazer as
contrações musculares que impedem – ou dificultam - a expressão das emoções. Em seus
textos Lowen repetidamente enfatiza a importância da expressão das emoções.
No entanto, a reflexão gerada pelas minhas leituras de diversos autores e pela minha
prática clínica, me levou a pensar que essa ênfase no expressar emoções (ou essa forma
de enunciar a questão) não só não oferecia um bom modelo para a compreensão do
mecanismo de defesa de repressão das emoções, como também poderia conduzir a um
mal entendimento do tipo “devemos liberar ações que descarreguem nossa raiva, ações
que expressem nossas emoções”.
Para meus pacientes comecei a falar que as emoções são fenômenos bio-físicos (seguindo
Reich que diz, Fundamentalmente, a emoção não é mais do que um movimento
plasmático (Reich, Análise do Caráter, Martins Fontes, São Paulo – 1995 – pg. 330).
Emoções são reações do organismo vivo, programadas biologicamente, cuja ocorrência
não podemos controlar e que, portanto, não são nem certas nem erradas. Não podemos
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ser responsáveis pela ocorrência de nossas emoções mas sim pelas ações que adotarmos
movidos pelas emoções.
É claro que é possível afirmar que essa fala é apenas uma outra forma de dizer o mesmo
que Reich e Lowen quando se referem à expressar as emoções, ou seja, que se trata
apenas de uma questão de linguagem mas, no meu entender toda construção teórica é
totalmente dependente da linguagem e portanto, diferentes formas de expressão do
pensamento podem gerar diferentes compreensões.
Mais ainda, nos dá claras definições para emoção e sentimento assim como um modelo
para a compreensão de seu funcionamento e da participação do pensamento nesses
processos.
As emoções
Para Damásio, as emoções foram construídas a partir de reações simples que promovem
a sobrevida de um organismo... ([1] pg.37) e constitui um dos mecanismos que compõem
o que ele denomina de “equipamento inato e automático do governo da vida”, a máquina
homeostática:
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De fato, meu encontro com o pensamento de António Damásio já havia acontecido antes, em 1998, com
seu primeiro livro sobre o tema, O Erro de Descartes, e posteriormente com Mistérios da Consciência
mas, mas é em Em busca de Espinosa que Damásio organiza e completa sua proposta para a compreensão
das emoções e sentimentos. Assim é bem provável que minhas próprias formulações já tenham se
construído influenciadas por António Damásio, embora eu não tivesse clareza sobre isso.
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• regulação metabólica (processo de metabolismo: inclui componentes químicos e
mecânicos que mantem o equilíbrio químico interior), reflexos básicos (por exemplomplo
colocar o organismo em estado de alerta), respostas imunitárias (sistema imunológico).
• Comportamento de dor e prazer
• Pulsões e motivações (ex: fome, sede, curiosidade, comportamentos
exploratórios e comportamentos sexuais – Espinosa denomina de apetites essas reações e
de desejos a consciência da ocorrência dessas reações.
• Emoções
• Sentimentos
Uma emoção é uma resposta a um estímulo que atinge um organismo vivo e que produz
uma alteração temporária do estado do corpo e do estado das estruturas cerebrais que
mapeiam o estado do corpo e sustentam o pensamento. Mais precisamente, ([1] pg. 61)
È importante salientar que o estímulo que gera uma emoção pode ser tanto externo
(presença real) ou interno (memória) ao organismo. Damásio cita Espinosa: Um
homem é tão afetado, agradavelmente ou dolorosamente, pela imagem de uma coisa
passada ou futura, como pela imagem de uma coisa presente. (Ética, Parte III,
proposição 28).
Observo que, no meu entender, no ítem 5 o bem estar se refere ao objetivo das
respostas, a uma intenção do organismo, objetivo esse que nem sempre é alcançado já
que essas respostas são também influenciadas por experiências anteriormente vividas
que podem distorcer o evento real sendo experimentado.
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• prosencéfalo basal, hipotálamo e certos núcleos do tranco central (regiões
produtoras). ([1] pg. 65, 66)
Em certos casos as emoções são inteiramente inatas no sentido de poderem ser ativadas
no nascimento, enquanto outras requerem um grau mínimo de exposição apropriada ao
ambiente para serem ativadas, (Por exemplo o medo de cobras em macacos só aparecem
depois do filhote ter visto na mãe a expressão de medo em relação a cobra). Uma única
exposição é suficiente para a ativação dessa reação que, no entanto não pode ser
executada sem essa primeira exposição. ([1] pg. 55)
A citação a seguir embasa minha convicção de que não podemos controlar a ocorrência
de emoções além do recurso de evitação de exposição a estímulos que já sabemos resultar
em determinada emoção:
Os sentimentos
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Em muitas circunstâncias, especialmente quando há pouco ou nenhum
tempo para reflexão, os sentimentos são de fato constituídos pela
percepção de um certo estado do corpo. Noutras circunstâncias,
contudo, os sentimentos envolvem a percepção de um certo estado do
corpo e a percepção de um certo estado de espírito, Temos imagens
não só de um certo estado do corpo mas também, em paralelo,
imagens de uma forma de pensar. ([1] pg.96)
Segundo ele, a origem dessas percepções é o fato do corpo estar continuamente sendo
mapeado em certas estruturas cerebrais, sendo que seu conteúdo (das percepções) são os
estados do corpo retratados nesses mapas cerebrais. ([1] pg. 93)
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forma, isto é, interferem na atividade do sistema somatossensitivo que gera um mapa
falso do estado do corpo que não contém a informação que seria sentida como dor.
Bibliografia
[1] Damásio, A.: Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos;
Companhia das Letras, São Paulo (2004).
[2] _______: O erro de Descartes; Companhia das Letras, São Paulo (1996).
[3] _______: O mistério da Consciência; Companhia das Letras, São Paulo (2000).
[4] Reich, W.: Análise do Caráter, Martins Fontes, São Paulo (1995).