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SHEYLLA SILVEIRA ARRUDA

A APLICABILIDADE DO DNA EM GENÉTICA FORENSE COMO INSTRUMENTO


INEQUÍVOCO À ELUCIDAÇÃO DE CASOS CÍVEIS E CRIMINAIS

Palmas-TO
Julho de 2010
SHEYLLA SILVEIRA ARRUDA

A APLICABILIDADE DO DNA EM GENÉTICA FORENSE COMO INSTRUMENTO


INEQUÍVOCO À ELUCIDAÇÃO DE CASOS CÍVEIS E CRIMINAIS

Projeto apresentado como requisito parcial da


disciplina Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
do curso de Biomedicina do Centro Universitário
Luterano de Palmas CEULP/ULBRA.

Orientadora: Profª Esp. Patrícia Bonilha de


Toledo Piza

Palmas-TO
Julho de 2010
Ao meu Deus, pela vida, pela saúde, pela sabedoria, pela
inteligência e pela força.
Aos meus pais Jéferson e Vanilda, que me ensinaram a andar
pelos caminhos corretos trilhados com muita humildade, competência
e honestidade, agradeço pelo apoio incondicional, pela confiança
depositada, pelo colo e incentivo nos momentos de tristeza, desânimo
e fadiga e, principalmente, pelo amor e carinho irrestritos de sempre.
À minha filha Shayenne, por seu mais puro amor e também por
saber pacientemente aguardar por uma atenção que nunca vinha.
Ao meu marido Fabrício, por compreender minha presença
sempre ausente, pelo carinho e apoio nos momentos difíceis e,
sobretudo, pelo enorme amor.
AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, fortaleza minha, meu rochedo, lugar forte e o


meu libertador; ao meu Deus em quem confio, meu escudo, força da
minha salvação e meu mais alto refúgio.
Ao meu Tio Wilson, in memoriam, saudades eternas desta
pessoa formidável que me falta palavras para tentar descrevê-lo, meu
orientador e conselheiro, que não poupou esforços em me auxiliar
sempre a tempo e a hora, com seu carinho e sapiência, me
direcionando e corrigindo, com uma paciência divina, tanto no aspecto
jurídico deste trabalho quanto nas correções gramaticais do mesmo.
Obrigada também por todas as orações orientadas a mim não somente
por você, tio Wilson, mas também pela Tia Linda. Eu amo vocês!
Ao meu primo Tarsis, pelas orações, pelas palavras de incentivo,
pela troca de experiências, afinal, pelo auxílio importantíssimo em
todas as etapas desta monografia e, principalmente pelo carinho de
irmão. Guardarei você do lado esquerdo do meu peito para sempre.
E claro, agradeço também à minha orientadora Professora
Patrícia por ter confiado em meu potencial e ter me possibilitado a
honra de ter sido sua orientanda. Obrigada Patrícia, meu espelho
profissional é você!
Agradeço também aos meus futuros colegas biomédicos da
turma de 2010/01 do CEULP-ULBRA que direta ou indiretamente
contribuíram na conclusão deste sonho agora real. Que Deus cubra a
vida de vocês com muitas bênçãos, saúde e sucesso!
“O Teste de DNA é para a justiça como telescópio para as estrelas.
Não é uma lição de bioquímica, não uma exibição das maravilhas
reveladas por uma lente, mas um modo de ver as coisas como elas
realmente são.”
(Barry Scheck e Peter Neufeld, Actual Innocence1)
RESUMO

Apontada como a maior revolução científica na área forense desde a descoberta das
impressões digitais, a identificação humana por meio da análise do DNA tornou-se uma
poderosa ferramenta investigativa, auxiliando na elucidação de casos cíveis e criminais, sendo
embasada cientificamente na existência de polimorfismos genéticos ao longo do genoma em
indivíduos diferentes, que faz com que cada pessoa, à exceção dos gêmeos monozigóticos,
possua uma impressão genética única. Com a introdução da PCR nas investigações forenses,
tornou-se possível a análise de regiões polimórficas tanto no genoma nuclear quanto no
mitocondrial, a partir de quantidades ínfimas de DNA obtidas de amostras biológicas
altamente deterioradas. A união entre bioinformática e genética forense propiciou a criação de
softwares específicos, a exemplo do Banco de Dados Genético americano, o CODIS, que
recentemente também foi lançado no Brasil, os quais permitem um rápido confronto genético
entre os perfis de DNA da amostra questionada e da de referência. A automação das
metodologias também contribuiu para agilizar as análises genéticas e para a liberação de
laudos periciais mais fidedignos. A utilização de rígidos controles de qualidade, desde a coleta
da evidência até a entrega do laudo pericial, corretos cálculos estatísticos com o emprego das
frequências populacionais correspondentes à população estudada, interpretação minuciosa dos
dados obtidos na análise dos perfis genéticos, além da cadeia de custódia dentre outras várias,
são recomendações que, se devidamente seguidas, não impõem dúvidas a surpreendente
capacidade da perícia em DNA de apontar valores cujo percentual de acerto chega próximo
do absoluto.

Palavras-chave: identificação humana, Análise de DNA, Teste em DNA, polimorfismos


genéticos, Banco de Dados Genético, cadeia de custódia, PCR, Genética Forense.
ABSTRACT

Listed as the largest scientific revolution in the forensic field since the discovery of
fingerprints, the human identification through DNA analysis has become a powerful
investigative tool, assisting in the elucidation of civil and criminal cases, being scientifically
based on the existence of genetic polymorphism throughout the genome in different
individuals, that makes each person, with the exception of monozygotic twins, has a unique
genetic fingerprint. With the introduction of PCR in forensic investigations, became possible
to analyze of polymorphic regions of both the nuclear and the mitochondrial genome, from
tiny amounts of DNA obtained from highly degraded biological samples. The marriage
between bioinformatics and forensic genetics led to the creation of specific software, such as
the American Genetic Database, the CODIS, which was recently launched in Brazil, which
allow a quick comparison between the DNA profiles of the sample questioned and reference.
The automation of the methodology also helped to streamline genetic testing and the release
of expert reports more reliable. The use of strict quality controls, from the collection of
evidence to the delivery of expert report, correct statistical calculations with the use of
frequencies corresponding to the population studied population, detailed interpretation of the
data obtained in the analysis of genetic profiles, beyond the chain of custody among other
various, are recommendations that, if properly followed, impose no doubt the amazing
capacity of expertise in DNA point values whose percentage of success comes close to
absolute.

Keywords: human identification, DNA analysis, Test DNA, genetic polymorphisms, Genetic
Database, chain of custody, PCR, Forensic Genetics.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AABB – “American Association of Blood Banks” – Associação Americana de Bancos de


Sangue
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACADEPOL – Academia de Polícia
AICEF – “Academia Iberoamericana de Criminalística y Estudios Forenses” – Academia
Ibero-Americana de Criminalística e Estudos Forenses
APCF – Associação dos Peritos Criminais Federais
ASCLAD – “American Society of Crime Lab Directors” – Sociedade Americana de Diretores
de Laboratórios Criminais
BD – Banco de Dados
CAP – “College of American Pathologists” – Colégio Americano de Patologistas
CC – Cadeia de Custódia
CGEE/MCT – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos/Ministério da Ciência e Tecnologia
CNV – “Copy Number Variant” – Variantes do Número de Cópias
CODIS – “Combined DNA Index System” – Sistema de Combinação e Indexação de DNA
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
dATP – Desoxiadenosina trifosfatada
dCTP – Desoxicitosina Trifosfatada
dGTP – Desoxiguanina Trifosfatada
DNA – “Desoxirribonucleic Acid” – ADN – Ácido Desoxirribonucléico
dNTPs – Desoxirribonucleosídeos Trifosfatados
DOU – Diário Oficial da União
DPDNA – Divisão de Pesquisas de DNA Forense
dTTP – Desoxitimina Trifosfatada
EC – Eletroforese Capilar
EDNAP – “European DNA Profiling” – Perfil de DNA Europeu
ENSFI – “European Network of Forensic Science Institutes” – Rede Européia de Institutos de
Polícia Científica
ER – Enzimas de Restrição
FBI – “Federal Bureau of Investigation” – Serviço de Investigação Federal
HVI – Região Hipervariável I
HVII – Região Hipervariável II
HVIII – Região Hipervariável III
INC – Instituto Nacional de Criminalística
INDELS – “Insertion or Deletion” – Inserção ou Deleção (de nucleotídeos)
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
INTERPOL – “Internacional Criminal Police Organization” – Organização Internacional de
Polícia Criminal
IP – Índice de Paternidade
IPS – “Internacional Press Service” – Serviço de Imprensa Internacional
MgCl2 – Cloreto de Magnésio
Mini-STR – Mini Short Tandem Repeat – Mini Repetições em Tandem Curtas
probes multilocal
MLP – “MultiLocal Probes” – Sondas Multilocais
mtDNA – DNA mitocondrial
ng – nanogramas
NIST-USA – “National Institute of Standards and Technology-United States of America” –
Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia-EUA
ONA – Organização Nacional de Acreditação
ONG – Organização Não-Governamental
pb – pares de bases
PCDF – Polícia Civil do Distrito Federal
PCR – “Polimerase Chain Reaction” – Reação em Cadeia pela Polimerase
PE – Probabilidade de Exclusão
PF – Polícia Federal
PL – Projeto de Lei
PNCQ – Programa Nacional de Controle de Qualidade
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PP – Probabilidade de Paternidade
RFLP – “Restriction Fragment Length Polymorphism” – Polimorfismo no Tamanho dos
Fragmentos de Restrição
RIBPG – Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos
RNA – “Ribonucleic Acid” – ARN – Ácido Ribonucléico
RNAr – RNA ribossômico
RNAt – RNA transportador
RT-PCR – “Real Time-Polimerase Chain Reaction” – Reação em Cadeia pela Polimerase em
Tempo Real
SENASP/MJ – Secretaria Nacional de Segurança Pública/Ministério da Justiça
SGM – Segunda Geração Multiplex
Sistema HLA – Sistema “Human Leukocyte Antigens” – Sistema de Antígenos Leucocitários
Humanos
SLAGF – Sociedade Latino-Americana de Genética Forense
SNP – “Single Nucleotide Polymorphism” – Polimorfismo de Nucleotídeo Único
SSP – Secretaria de Segurança Pública
STF – Supremo Tribunal de Justiça
STR – “Short Tandem Repeat” – Repetições em Tandem Curtas
Taq DNA Polimerase – Thermus aquaticus DNA Polimerase
VNTR – “Variable Number Tandem Repeat” – Repetições em Tandem de Número Variável
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12
2 OBJETIVOS 17
2.1 OBJETIVO GERAL 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 17
3 JUSTIFICATIVA 18
4 MATERIAIS E MÉTODOS 18
5 REFERENCIAL TEÓRICO 19
5.1 O DNA como última alternativa na Identificação Humana 19
5.1.1 Métodos de Identificação Humana 19
5.2 Contexto histórico da utilização do Exame de DNA na elucidação de casos 20
judiciais
5.3 Inovações na área de Biologia Molecular aplicadas à Genética Forense 22
5.3.1 Marcadores Moleculares utilizados para determinar a Individualidade 22
Genética
5.3.2 Marcadores Moleculares de Linhagem 25
5.3.3 Determinação do sexo genético (Amelogenina) 28
5.3.4 Reação em Cadeia pela Taq DNA Polimerase (PCR) 29
5.3.5 Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (RT-PCR) 30
5.3.6 Eletroforese Capilar (EC) 31
5.4 Precauções na cena de um crime: Coleta e Extração de DNA em amostras 32
biológicas para Identificação Humana
5.5 Detecção do DNA – Obtenção do perfil genético 33
5.6 Interferentes na Análise de DNA 35
5.6.1 Quimerismo Genético 36
5.6.2 Gêmeos Monozigóticos 36
5.7 Aplicabilidade do Teste em DNA 37
5.7.1 A decisiva contribuição da genotipagem para a identificação de vítimas de 37
desastres em massa
5.7.2 Análise de mtDNA na Identificação Humana 40
5.7.3 Testes em DNA em Crimes de Estupro 42
5.7.4 Investigação de Paternidade ou Maternidade na esfera cível 42
5.8 Bancos de Dados Genéticos 44
5.8.1 CODIS – Exemplo a ser seguido 45
5.8.2 – Banco de Dados Genéticos no Brasil 46
5.9 O DNA no Banco dos Réus 48
5.9.1 Tipificação Criminal e o Teste em DNA como a chave-mestra para 48
Condenar ou inocentar
5.9.2 Cadeia de Custódia – Credibilidade ao Exame de DNA 50
5.10 Garantia de Qualidade em Genética Forense 51
5.11 Reflexões Jurídicas concernentes ao uso do DNA como prova criminal 53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59
ANEXOS 65
12

1 INTRODUÇÃO

A partir de 1972, uma gama de descobertas veio revolucionar o estudo da Genética


culminando no despontamento de uma “Nova Ciência”, a Genética Molecular, que aumentou
sobremaneira as possibilidades de outras inúmeras inovações científicas, especialmente no
que concerne à Genética Forense (MALAGHUINI, 2006).
O Teste em DNA colabora grandiosamente com o sistema judicante na esfera
criminal, aplicado na identificação de suspeitos em casos de crimes sexuais (estupro),
identificação de cadáveres carbonizados, em decomposição ou mutilados, relação entre
instrumento lesivo e vítima e suspeito com a cena do crime, aborto provocado, infanticídio,
estudo de vínculo genético em raptos, sequestros e tráfico de menores e no auxílio à área
cível, com a tão popularmente conhecida investigação de paternidade (DOLINSKY E
PEREIRA, 2007).
A avaliação do perfil genético na identificação de cadáveres vitimados em desastres
em massa é ainda outra vertente possível pela análise do DNA. Trata-se de um complexo
procedimento que entra em cena quando nenhum outro método de identificação apresenta
resultados eficazes. Tal metodologia destaca peculiaridades técnicas médico-legais, além de
questões afetivas relacionadas às famílias das vítimas, bem como a comoção popular
(BENFICA E VAZ, 2005).
O avanço da ciência e da tecnologia a nível forense atingiu seu ápice em meados da
década de 80, quando as arcaicas e duvidosas técnicas de identificação humana embasadas em
Tipagens Sanguíneas e Sistema HLA, foram vagarosamente substituídas pelas análises diretas
do DNA, que se tornaram atualmente uma das mais poderosas ferramentas para identificação
humana e investigações criminais (KOCH E ANDRADE, 2008).
A evolução da determinação da identidade genética passou por três fases até tornar-se
hoje, um procedimento altamente objetivo, informativo, sensível e de extrema confiabilidade:
inicialmente, com uma fase onde o uso de sondas de DNA era a metodologia padrão; uma
segunda fase marcada por notável aumento na sensibilidade metodológica devido à introdução
da PCR (Reação em Cadeia pela Polimerase) nas práticas forenses e, por último, a atual fase,
com total amadurecimento do processo como um todo, padronização do tratamento estatístico
dos dados encontrados e implementação dos Bancos de Dados com perfis genéticos de
criminosos, uma poderosa ferramenta de segurança pública (PENA, 2006).
13

O embasamento genético do Teste em DNA para a identificação humana é a existência


de Polimorfismos Genéticos em indivíduos diferentes, excetuando a esta máxima, os gêmeos
monozigóticos. O polimorfismo genético é a coexistência de alelos múltiplos em um único
locus cromossômico, ou seja, regiões do genoma nas quais existem variações consideráveis
entre as pessoas. Dessa forma, todo indivíduo apresenta uma impressão digital genética única
(“genetic finger prints”), com exceção dos clones humanos (gêmeos monozigóticos).
No perfil de DNA, somente algumas regiões consideradas de maior polimorfismo são
analisadas, sendo denominadas de Marcadores Genéticos ou Marcadores Moleculares. Estes
são utilizados na caracterização do DNA de um indivíduo em um perfil de fragmentos que lhe
é particular, por meio da utilização de diversos tipos de metodologia disponíveis.
O parâmetro básico de eficiência metodológica em determinação de identidade
genética pelo DNA é a Probabilidade Média de Identidade Genética, que é a possibilidade de
dois indivíduos eleitos aleatoriamente dentre a população estudada possuir um perfil genético
idêntico com os marcadores testados (PENA, 2006).
O primeiro caso de identificação criminal por meio do uso do DNA “finger prints”
processou-se na Inglaterra, em 1986, onde o geneticista Alec Jeffreys utilizou-se de seus
conhecimentos para o desvendamento de dois misteriosos estupros seguidos de morte
(DOLINSKY E PEREIRA, 2007).
Até a década de 60, os marcadores usados em estudos genéticos eram controlados por
genes associados a caracteres morfológicos, permitindo um fenótipo de fácil visualização. A
evolução emergiu com o desenvolvimento de marcadores isoenzimáticos, acarretando um
aumento significativo no número de Marcadores Genéticos. Posteriormente surgiram métodos
de detecção de polimorfismos diretamente ao nível de DNA. Inicialmente surgiu a custosa e
demorada Técnica de RFLP – Polimorfismo no Tamanho dos Fragmentos de Restrição – onde
os indivíduos eram diferenciados pela análise das bandas, obtidas por meio da clivagem do
DNA com Enzimas de Restrição, geradas após eletroforese em gel. A metodologia utilizada
na detecção de RFLP era a de Southern Blotting, na qual os fragmentos de DNA obtidos após
restrição enzimática eram submetidos à eletroforese em gel, sendo separados pelos seus
tamanhos (número de pares de bases - pb) e, em seguida, transferidos por capilaridade a um
suporte de nitrocelulose. Logo após ocorria a hibridização com sondas radioativas que
permitia a evidenciação de sequências pré-determinadas. Jeffreys utilizou este método, com o
uso de sondas multilocais (MLP), para concluir seu laudo pericial.
Loci VNTR, também denominados de Minissatélites, são Repetições em Tandem de
Número Variável. São sequências de nucleotídeos de 15 a 35 pb de comprimento que se
14

repetem umas seguidas das outras durante toda a região VNTR que possui um total de 500 a
1000 pb. Cada locus VNTR possui grande número de alelos diferentes (NUSSBAUM et al.,
2002).
As VNTR são estudadas com Sondas Multilocais (MLP) capazes de identificar
polimorfismos de múltiplos locus simultaneamente. O DNA é tratado com Enzimas de
Restrição (ER) e as bandas visualizadas em gel de eletroforese. Cada indivíduo possui um
padrão de bandas específico com tamanhos determinados pela (1) presença ou ausência do
sítio de restrição da ER utilizada ou (2) pelo número de repetições em tandem, o que torna a
região VNTR mais curta ou mais longa. Para que estes fragmentos possam ser notados,
devem ser hibridizados com suas sequências complementares (Southern Blotting),
evidenciando as bandas após autorradiografia. No entanto, por serem regiões mais longas,
ocorrem em menos locais dentro do genoma, sendo necessárias grandes quantidades de DNA
para permitir a aplicabilidade desta técnica.
Esta metodologia foi pela primeira vez empregada na tentativa de resolução de um
caso de imigração na Inglaterra. Logo em seguida, utilizada no Tribunal Britânico para
comprovar a participação de um suspeito em casos de crimes sexuais cometidos entre os anos
de 1983 e 1986. No entanto, o caso de maior repercussão internacional e constrangimento
norte-americano foi, indubitavelmente, a aplicação do método na acusação do ex-presidente
dos EUA de ter realmente mantido relações sexuais com a estagiária da Casa Branca, Mônica
Lewinsky. Uma mancha de sêmen encontrada no vestido de Mônica foi o material biológico
do qual se extraiu o perfil genético que foi vinculado ao de Clinton (GÓES, 2002). O estudo
das VNTR com MLP marcou a primeira fase da evolução das metodologias empregadas na
análise de DNA.
Em 1985, Kary Mullis descreveu a Reação em Cadeia pela enzima Taq DNA
Polimerase – PCR – que, anos depois, em 1993, lhe renderia o Prêmio Nobel em Química. O
advento da PCR na área forense tomou inestimável valor, visto que tal técnica, altamente
sensível e de alta especificidade, permite a amplificação de quantidades ínfimas de DNA, o
que faz parte do cenário com o qual se depara, na grande maioria das vezes, a perícia
genética, ou seja, presença de pouquíssimo material biológico questionado na cena do crime.
O advento da PCR permitiu implementações tecnológicas nas ciências forenses com a
implantação da técnica de Short Tandem Repeat (STR) como padrão-ouro nas perícias em
genética forense.
As STR, também conhecidos como Microssatélites, são sequências de nucleotídeos
com 2 a 7 pb que se repetem em tandem ao longo da região STR que tem, no máximo, 400 pb
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de comprimento. Por serem menores, estes loci são mais abundantes ao longo do genoma e
são de enorme utilidade à genética forense, uma vez que regiões inteiras podem ser analisadas
a partir da amplificação por PCR em amostras escassas ou degradadas (KOCH E ANDRADE,
2008).
Preconizou-se pelo FBI (Federal Bureau of Investigation – Agência do Departamento
de Justiça dos EUA), a análise padrão de pelo menos 13 regiões STR, objetivando a formação
de um padrão de bandas para demonstração de vínculo genético. Depois, uma série de
cálculos estatísticos é utilizada para estimar o número de vezes em que este perfil genético
ocorre na população, para somente, então, haver a emissão do laudo pericial. A possibilidade
que duas pessoas venham a apresentar o mesmo padrão genético é de aproximadamente 1:6
bilhões (DOLINSKY E PEREIRA, 2007).
O aperfeiçoamento dos sequenciadores automáticos, devido a um interesse primordial
no Projeto Genoma Humano e ao desenvolvimento dos Sistemas Múltiplos para PCR (PCR
Multiplex) utilizando vários primers (iniciadores) em uma única reação, permitindo desta
maneira a amplificação de vários microssatélites simultaneamente, alavancaram o uso das
STR com PCR na segunda fase da evolução das metodologias em Genética Forense (PENA,
2006).
A análise de VNTR e STR em DNA nuclear somente é possível a partir de amostras
biológicas que contenham células nucleadas. Quando o material biológico não possui DNA
nuclear ou este está altamente deteriorado, antigo ou degradado, emerge a possibilidade da
análise das Regiões Hipervariáveis HVI e HVII presentes na Região Controle do DNA
mitocondrial (mtDNA). Esta análise permite traçar a linhagem matrilínea de um indivíduo e é
utilizada em casos onde não há material genético adequado ou suficiente para obter perfil
STR no DNA genômico nuclear ou quando o material apresenta alto grau de degradação,
como em ossos antigos, ou até mesmo fios de cabelo sem bulbo encontrados na cena do
crime. Identificação de corpos das vítimas de grandes catástrofes, de maternidade sem a
presença do pai e estudos históricos e evolutivos são alguns exemplos da utilização do estudo
do mtDNA . Este permanece imutável em uma linhagem matrilínea, visto que não há presença
de cromossomo homólogo para a realização de crossing-over.
As STR também podem ser analisadas dentro do Cromossomo Y (Y-DNA) a fim de
traçar uma linhagem patrilínea, somente em indivíduos do sexo masculino. Esta metodologia
pode ser aplicada na identificação de paternidade na ausência da mãe para filhos e elucidação
de estupro, onde há mistura de material genético, ou seja, DNA do agressor e da vítima.
16

A terceira fase na evolução dos métodos empregados em análises de DNA forense foi
marcada por uma intensa sofisticação nas metodologias até então utilizadas. Houve
modernização nos métodos de extração do DNA, sendo possível a evidenciação do material
genético mesmo em amostras cujo grau de deterioração era bastante elevado. Criou-se um
consenso internacional acerca das análises estatísticas dos resultados encontrados e
padronização das rotinas de coleta das evidências biológicas em cenas de crimes e,
principalmente, foi lançado o primeiro Banco de Dados (BD) de perfis genéticos do mundo,
elaborado pelo Reino Unido. Porém, segundo PENA (2006), o CODIS – Combined DNA
Index System – criado pelo FBI (EUA) é o mais importante e conhecido BD que serviu e serve
de modelo para muitos outros países, visto o número de ocorrências solucionadas,
ultrapassando as 112.000, provando sua enorme utilidade à esfera criminal.
O Brasil entra no cenário dos BD, a partir do presente ano, com a oficialização da
Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), poderosa ferramenta de segurança
pública que, com a concessão do CODIS, passa a armazenar perfis genéticos obtidos de
vestígios coletados em locais de crime (FIGUEIREDO, 2010).
Como técnicas mais recentes destacam-se os estudos de Marcadores Bialélicos SNP
(Polimorfismos de Nucleotídeo Único) e InDels (Inserção ou Deleção de Nucleotídeos) em
produtos de amplificação extremamente curtos (cerca de 50 pb ou até menores) oriundos de
DNA altamente degradado, como encontrado nos cadáveres em estado avançado de
decomposição ou carbonizados (KOCH E ANDRADE, 2008).
Diante das explanações concernentes à utilização do DNA como ferramenta
investigativa, convém destacar que as análises genéticas estão sendo cada vez mais aplicadas
para fins judiciais no Brasil e no mundo, possibilitando o rápido estabelecimento de vínculo
genético, acarretando desta forma uma economia de tempo e recursos bastante significativa ao
Poder Judiciário.
Em nosso país, vários laboratórios migraram rumo a este lucrativo campo laboratorial
da genética forense, área extremamente dependente de técnicas complexas, as quais exigem
dos especialistas constantes aperfeiçoamentos e treinamentos e, principalmente, uma
cautelosa postura frente à importância que estes exames em DNA possuem (FRANÇA, 2008).
Segundo FIGUEIREDO E PARADELA (2008), a não utilização dos controles de
qualidade de maneira efetiva pode levar à interpretação equivocada dos resultados obtidos,
impondo dúvidas à surpreendente capacidade da perícia em DNA de apontar valores cujo
percentual de acerto chega próximo ao absoluto, quando perfeitamente analisados e
interpretados.
17

A validade do Teste em DNA como prova irrefutável depende ainda de outros


inúmeros fatores, tais como: cálculo correto das frequências populacionais dos marcadores
correspondentes envolvidos, uma vez que pode haver variação entre esses grupos,
principalmente no Brasil, onde a miscigenação é tão evidenciada; a cadeia de custódia que
reforça a credibilidade do exame em DNA; coleta e preservação adequada das amostras
biológicas, visto que a degradação do DNA pode interferir profundamente nos resultados,
tudo isto dentre inúmeros outros fatores que serão discutidos no decorrer do presente trabalho.
Afinal, a aplicação do estudo do DNA como ferramenta de identificação de indivíduos dentro
do contexto da genética forense criminal é um assunto de suma importância que deve ser
tratado com a devida circunspecção, já que os resultados obtidos com essas análises podem
condenar ou absolver suspeitos.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Demonstrar a importância do Teste em DNA, abordando o caráter impactante que a


Genética Forense exerce na elucidação de diversos casos dentro das esferas judicantes civil e
criminal, nos quais o perfil genético foi indubitavelmente a chave-mestra na resolução dos
processos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar as inovações da área da Biologia Molecular que estão sendo aplicadas na


Genética Forense, bem como destacar as mais usadas metodologias para extração e análise de
DNA conforme o tipo e grau de degradação do material biológico encontrado na cena do
crime.
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Demonstrar como se processa a obtenção de perfil genético em amostras questionadas


e a maneira pela qual o confronto genético é realizado.
Discutir alguns casos que foram elucidados tendo como auxílio o Teste em DNA, com
notória atenção para a identificação das vítimas de acidentes em massa.
Descrever a atual situação dos laboratórios especializados em Genética Forense no
Brasil, inserindo os novos rumos propostos pelas instituições normativas brasileiras,
enfatizando a necessidade do Controle de Qualidade nos Testes em DNA e destacando
também a importância da cadeia de custódia para atribuir credibilidade aos exames realizados.
Expor de maneira sucinta a visão jurídica acerca do Teste em DNA como prova
criminal e, assim, a necessidade emergencial da modificação da legislação vigente,
objetivando contemplar a urgente instalação do Banco de Dados com perfis genéticos de
criminosos no Brasil.

3 JUSTIFICATIVA

Os testes em DNA objetivando o confronto dos perfis genéticos encontrados para


identificação humana e determinação de vínculo genético estão provocando uma verdadeira
revolução nos tribunais do Brasil e do mundo, ganhando lugar de destaque, inclusive na
mídia, sendo considerada por muitos autores, como a “Rainha das Provas”.
Frente a este cenário mundial, uma abordagem abrangente concernente ao uso do
DNA na Genética Forense é de muita relevância, visto que o tema deve suscitar o interesse
dos profissionais atuantes no campo das ciências biomédicas e, igualmente, in casu, daqueles
que operam a área do Direito, seja cível, seja criminal, pois enreda nuances de extraordinário
valor científico, como instrumento eficaz no deslinde de questões, no mínimo, complexas.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta revisão bibliográfica foi embasada em extensa leitura de artigos, periódicos


científicos e livros relacionados com o tema escolhido.
19

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 O DNA COMO ÚLTIMA ALTERNATIVA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA

O Exame Genético possui atualmente função primordial na investigação criminal


auxiliando na elucidação de crimes por meio de identificação da pessoa que os produziu.
Assim, pode assumir diversas finalidades, ora para vinculação direta e desfecho do caso
investigado, ora para vinculação indireta entre suspeito e local do crime (DANTAS, 2010).
Além da importância indiscutível do Exame de DNA na esfera criminal, ele ainda
alcançou posição de destaque na identificação de vítimas de grandes catástrofes e, é claro,
também nos tão difundidos casos de investigação de paternidade.
Os Testes em DNA propõem-se a determinar o perfil genético de uma amostra
biológica por meio da análise do conteúdo genômico nuclear ou mitocondrial da célula
humana, mas não detém o poder de determinar a natureza e a origem da amostra. Dessa
forma, nem os exames preliminares das amostras, nem a prática das outras diversas técnicas
de identificação humana existentes, devem ser dispensadas, sendo de suma importância na
geração de informações adicionais à análise prévia do cabimento ou não do exame genético
que sempre deve ser realizado de maneira criteriosa (DANTAS, 2010).

5.1.1 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO HUMANA

* Presuntivo: por meio da visualização direta ou identificação fotográfica (quando


visualmente reconhecível) ou através de pertences pessoais (documentos pessoais, jóias,
carteiras, roupas), características físicas (tatuagens, piercings, marcas de nascença ou
cirúrgicas) e dados antropométricos (Antropologia Forense) (BENFICA E VAZ, 2005).
* Confirmatório: através de impressões digitais (Datiloscopia Forense), exames de
arcada dentária (Odontologia Forense), análise de cicatrizes cirúrgicas ou provocadas por
acidentes e etc (Radiologia Forense) e Genética Forense (BENFICA E VAZ, 2005).
20

O Exame de DNA tem sido utilizado com grande utilidade em casos de identificação
humana em que outras técnicas mostraram-se ineficazes, como nas grandes mutilações ou nos
carbonizados parcial ou quase totalmente ou ainda em exumações, adotando o uso de
microssatélites pela técnica de PCR, permitindo o estudo do DNA a partir de quantidades
ínfimas ou extremamente deterioradas de material obtido de ossos, dentes, bulbo capilar ou
outros tecidos remanescentes. Nos casos de criminalística, o Teste Genético veio contribuir
sobremaneira para a exclusão de suspeitos, rejeitando falsas imputações (FRANÇA, 2008).
Portanto, quando a identificação humana é impossível por meio do emprego de todas
as diversas técnicas existentes, recorre-se ao auxílio da análise do DNA como instrumento de
elevada sensibilidade e confiabilidade no desvendamento de casos cíveis e criminais, sendo
firmada como a mais importante ferramenta de investigação desenvolvida no século 20.

5.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DO EXAME DE DNA NA


ELUCIDAÇÃO DE CASOS JUDICIAIS

A utilização do exame de DNA no processo judicial brasileiro está intimamente


relacionada com a produção de provas nos processos cíveis, destacadamente nas ações de
investigação de paternidade, onde possui valor de prova inquestionável, segundo o que está
apontado na Lei no 12.004, de 29 de julho de 2009, que dispõe acerca da recusa do suposto pai
em submeter-se ao exame, o que figura em júris tantum da paternidade (BARROS E
PSCINO, 2007).
No entanto, o Teste Genético revelou-se também plenamente eficaz em processos
penais, sendo hoje considerada um dos meios mais seguros e eficazes para desvendar crimes
que deixam vestígios, mostrando-se apto a confirmar ou excluir, com inigualável garantia de
certeza, a autoria de crimes diversos, transformando-se desta forma, em meio de prova eficaz
para o descobrimento da verdade na área judicial (ALVES, 2009).
Conhecido nas cortes internacionais como Caso Leicester (1986), foi a primeira vez
que um tribunal aceitou o exame do perfil genético como evidência criminal. Tal caso ocorreu
em 1985, num pequeno condado da Inglaterra onde uma mulher foi estuprada e assassinada.
O geneticista Alec Jeffreys coletou o sêmen encontrado na vítima e o analisou. Pouco tempo
depois houve outro crime sexual com características semelhantes ao primeiro. Jeffreys
analisou novamente o material biológico coletado do cadáver e o comparou com o perfil
21

genético do primeiro agressor, constatando que ambos os perfis pertenciam à mesma pessoa
(ao mesmo agressor). As autoridades locais forjaram uma campanha de doação de sangue cuja
real finalidade era identificar o criminoso. Todos os habitantes foram doar sangue, mas
nenhum possuía DNA igual ao do estuprador. A polícia local deu prosseguimento às
investigações e descobriu que havia um viajante no condado que foi imediatamente
convocado a doar sangue também. Feito o Exame Genético com a adoção da metodologia do
estudo das VNTR com Sondas Multilocais (MLP), Jeffreys concluiu que o perfil genético do
viajante era o mesmo do estuprador (DOLINSKY E PEREIRA, 2007).
Na Flórida, também no ano de 1986, houve a prisão do até então suspeito de invadir
vinte residências e na sequência, cometer estupro de suas vítimas, possibilitada através da
técnica de identificação humana pela análise do perfil genético (BONACCORSO, 2004).
No caso Estado de Kansas x Mosley (1989) houve também a realização do Exame de
DNA embasado no material biológico coletado das vítimas de dois crimes de estupro,
propiciando a liberdade do indivíduo, mesmo após ter sido reconhecido pelas ofendidas
(ALVES, 2009).
Em O Estado de Maryland x Bloodsworth (1993), a análise do perfil genético excluiu
a acusação do estupro de uma menina de nove anos de idade, liberando o acusado que se
encontrava preso desde 1984 (BONACCORSO, 2004).
Noutro caso, Estado do Texas x Trimboli (1989), o acusado de triplo homicídio teve a
autoria confirmada após identificação genética (ALVES, 2009).
Em nosso país, desde o ano de 1992, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) já
tentava implementar o seu próprio Laboratório de análises de material genético como subsídio
à perícia criminal. Como ainda não havia sido implantado o laboratório específico, o caso
pioneiro da utilização do Exame de DNA na área processual penal, chegou aos nossos
tribunais em 1994, quando dois peritos criminais da PCDF foram enviados aos EUA a fim de
realizar o que seria a nossa primeira identificação humana embasada na análise de perfis
genéticos. O material biológico foi coletado em Brasília e referenciava-se a dois crimes
perpetrados na própria capital federal (ALVES, 2009).
No dia 8 de dezembro de 1994, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou a
Lei nº 803, criando a Divisão de Pesquisas de DNA Forense – DPDNA – órgão subordinado
ao Departamento de Polícia Técnica da PCDF, atribuindo a este órgão o encargo de realizar
Exames de DNA Forense (BARROS E PISCINO, 2007).
22

5.3 INOVAÇÕES NA ÁREA DE BIOLOGIA MOLECULAR APLICADAS À


GENÉTICA FORENSE

O embasamento genético que torna o Exame de DNA para identificação humana


amplamente aceito é a existência de polimorfismos genéticos em indivíduos diferentes, ou
seja, presença de regiões genômicas que apresentam variações consideráveis entre as pessoas.
Dentre os 90% do nosso DNA que é dito “supérfluo”, sendo não-codificante de proteínas,
aproximadamente 20-30% é formado de regiões repetitivas. É o número destas repetições que
varia de pessoa para pessoa. Sendo assim, todo indivíduo possui uma impressão digital
genética única (“genetic finger prints”), com exceção dos gêmeos monozigóticos. Como
essas alterações se processam em regiões não codificantes do DNA humano, são
fenotipicamente silenciosas (KINRA, 2006).
Atualmente existem várias metodologias para análise e estudo destes polimorfismos
genéticos. Para fins forenses, a análise dos STR (“short tandem repeat”), também
denominados de microssatélites, tem sido a técnica mais amplamente utilizada pelos
laboratórios especializados (DANTAS, 2010).

5.3.1 MARCADORES MOLECULARES UTILIZADOS PARA DETERMINAR A


INDIVIDUALIDADE GENÉTICA

Mais de 99,7% do patrimônio genético de nossa espécie é igual em todos os


indivíduos. Porém, a variação existente nos restantes cerca de 0,3% (aproximadamente 10
milhões de nucleotídeos) é o bastante para tornar cada um de nós um ser único e irrepetível,
sendo esta porção de variação o objeto central das análises forenses (MARTINS, 2008).
Atualmente, além dos microssatélites (STR) há ainda dois grandes grupos de
polimorfismos genéticos no genoma humano, denominados de Marcadores Bialélicos, os SNP
(Polimorfismos de Nucleotídeo Único) e INDELS (Inserção ou Deleção de Nucleotídeos),
permitindo a caracterização da individualidade genômica humana, sendo que tal
conhecimento pode ser aplicado em criminalística, testes de paternidade ou maternidade e
investigações de doenças genéticas.
23

• Microssatélites (STR)

Os microssatélites são sequências de nucleotídeos amplamente distribuídos pelo


genoma que possuem de 2 a 7 pb e se repetem em tandem (ao longo da região), com no
máximo 400 pb de comprimento. Devido ao seu pequeno tamanho, podem ser amplificados
pela técnica de PCR; permitindo a amplificação de DNA, altamente degradado ou não, bem
como, a redução do volume do produto de extração – aproximadamente de 0,5 a 2 ng de DNA
(KOCH E ANDRADE, 2008).
A análise conjunta de diferentes microssatélites, por sistema multiplex, proporciona
resultados bastante satisfatórios, compostos por vários pares de primers capazes de amplificar
simultaneamente várias regiões alvo na mesma reação de PCR. Tais multiplex são
empregados na análise de microssatélites como metodologia de escolha para a tipagem de
DNA de vestígios biológicos em geral, não restando dúvidas de sua importância perante os
tribunais (GÓES, 2002).
O estudo de microssatélites através da PCR também possibilitou a implementação da
automação na análise genética, com a utilização de primers fluorescentes que podem ser
analisados em sequenciadores de DNA automáticos.
A análise de 13 loci de microssatélites (Anexo A), preconizados pelo FBI, se tornou o
padrão-ouro para a grande maioria dos laboratórios forenses no Brasil e no mundo. Destarte,
atualmente, sistemas multiplex contendo outros loci de microssatélites, que excedem os 13 do
CODIS, estão comercialmente disponíveis e sendo utilizadas pelos laboratórios de genética
forense na esfera nacional e internacional.

● Mini-microssatélite (mini-STR)

A presença de DNA degradado em uma amostra conduz, na maioria das vezes, a


obtenção de um perfil genético parcial, ou seja, com menor poder informativo, podendo
induzir a conclusões errôneas acerca da interpretação dos escassos dados obtidos. Até poucos
anos, a alternativa para essa situação era recorrer a análise das regiões hipervariáveis do
mtDNA, já que este está presente em maior número de cópias por célula e, em decorrência da
sua conformação circular, acaba sendo mais resistente às intempéries ambientais e do tempo.
24

No entanto, trata-se de um processo altamente custoso e moroso, além de possuir um poder


discriminatório inferior ao obtido por meio da tipagem de STR, uma vez que as mitocôndrias
são de origem exclusivamente materna (JOBIM et al., 2008).
No intento de recuperar o mínimo de informações possíveis contidas em amostras
deterioradas e reduzir o tamanho dos fragmentos de amplificação, desenhou-se primers que se
ligam o mais próximo possível da zona de repetição, criando o que hoje se conhece por mini-
STR (amplicons de tamanho reduzido com cerca de aproximadamente 150 pb ou menores)
sendo que os primeiros foram desenvolvidos pelo Laboratório Bode (EUA), para a
identificação das vítimas do World Trade Center (MARTINS, 2008).
Apenas 4-8 mini-STR são amplificados numa reação multiplex semelhante à reação
com STR, fazendo com que se tenha de proceder a várias amplificações para obter o mesmo
poder de discriminação alcançado na análise de microssatélites, implicando assim, na
utilização de uma maior quantidade de amostras, que nem sempre está disponível (JOBIM et
al., 2008).

● Polimorfismo de Nucleotídeo Único (SNP)

São resultantes de mutações pontuais e correspondem à posição onde existe uma


alternância dos nucleotídeos em uma frequência alélica mínima de 1% numa dada população.
Os SNPs são mais frequentes que os microssatélites, ocorrendo a cada 300 pb podendo estar
presentes tanto nas regiões codificadoras quanto nas não-codificadoras, distribuídos uniforme
e abundantemente por todo o genoma. Em decorrência desta característica, os polimorfismos
de nucleotídeo único são excelentes marcadores para fins de individualização genética,
podendo inclusive fornecer dados físicos acerca do indivíduo em estudo. Acredita-se que
aproximadamente 90% da variabilidade humana vêm dos SNPs (LIMA, 2006).
As vantagens da utilização destes marcadores em relação aos STRs devem-se aos
tamanhos dos produtos de amplificação gerados, que são bastante curtos (50 pb ou menos),
permitindo o estudo de material degradado, como nos casos de cadáveres em avançado estado
de decomposição ou carbonizados e, também devido a não existência de artefatos como os
stutters, facilitando a interpretação dos resultados obtidos. No entanto, sua tipagem é
complexa e há uma gama de métodos para a análise com fluorescência. Aproximadamente 50
25

loci SNPs devem ser analisados para obter-se equivalência ao estudo de 15 loci de
microssatélites (LIMA, 2006).
Já foram identificados e mapeados mais de 10 milhões de SNPs no genoma humano e
várias publicações tem sugerido a substituição dos STRs por estes marcadores no BD de
perfis genéticos de criminosos (KOCH E ANDRADE, 2008).

● Inserção e Deleção (INDEL)

Os marcadores genéticos do tipo INDEL são muito frequentes no genoma humano e


apresentam muitas vantagens em estudos forenses, como a baixa taxa de mutação, menor
risco que os STRs de interpretações incorretas de alelos e amplicons menores (50 pb),
características as quais permitem um excelente trabalho com DNA deteriorado (FRANCEZ et
al., 2009).
Foram caracterizados, no ano de 2002 por Weber e cols, cerca de 2000 INDELs
dispostos ao longo do material genômico humano. Estes marcadores bialélicos possuem maior
facilidade de serem tipados, uma vez que seus alelos diferem em tamanho e, altíssimo poder
de discriminação, tornando os MULTINDELS uma poderosa ferramenta para a determinação
de identidade genética pelo DNA (PENA, 2006).

5.3.2 MARCADORES MOLECULARES DE LINHAGEM

● Linhagem Matrilínea (mtDNA)

O DNA mitocondrial (mtDNA) possui composição química idêntica a do DNA


nuclear, no entanto, possui um código genético próprio de organização extremamente
econômica, já que somente 10% de sua totalidade é não-codificante. Seu genoma é haplóide
devido à sua origem estritamente materna, ou seja, o mtDNA não troca genes com nenhum
outro segmento genômico (não se recombina), sendo transmitido às gerações seguintes como
blocos de genes denominados haplótipos que permanecem inalterados em matrilinhagens, até
26

que ocorra uma mutação. O mecanismo pelo qual a mitocôndria paterna é excluída do
embrião logo após a fertilização ainda não está bem esclarecido (DE ROBERTIS & DE
ROBERTIS, 2003).
O genoma mitocondrial é composto por 37 genes e já foi completamente sequenciado
por Anderson et al.(1981) que correspondeu a todos os genes mitocondriais suas respectivas
funções e produtos gênicos, incluindo 13 proteínas, 2 RNAr (RNA ribossômico) e 22 genes
RNAt (RNA transportador). Possui tamanho de 16.569 pb e constitui cerca de 1 a 2% do
DNA celular total, codificando aproximadamente 10% das proteínas constituintes da
mitocôndria e, por isso, para um bom funcionamento desta organela, faz-se necessária a boa
cooperação entre DNA nuclear e mtDNA (SANTOS, 2005).
Assim como o DNA nuclear, o mtDNA também contém regiões polimórficas que
permitem a individualização, estando localizadas dentro da Região Controladora do mtDNA
ou D-Loop, que mede 1100 pb e se subdivide em duas regiões maiores, chamadas de Região
Hipervariável I (HVI) e Hipervariável II (HVII) e uma região menor, denominada de Região
Hipervariável III (HVIII). Segundo SANTOS (2005), a hipervariabilidade do genoma
mitocondrial é devida a vários fatores:
- o mtDNA é muito sensível à ação dos radicais livres;
- ausência de histonas que exercem função protetora;
- a DNA polimerase mitocondrial possui atividade reparadora pobre quando comparada à
DNA polimerase nuclear; e
- a reparação do DNA, que dependente da excisão de nucleotídeos, não está presente nas
mitocôndrias.
Todos estes fatores fazem com que o mtDNA tenha uma taxa de evolução de 5 a 10
vezes maior que a do DNA nuclear. A alta taxa de substituição de bases possibilita que seja
observada uma ou mais diferenças na sequência nucleotídica das regiões hipervariáveis do
mtDNA quando indivíduos da linhagem matrilínea de uma mesma família são comparados,
ou seja, uma diferença de sequência não significa necessariamente que os indivíduos que
estão sendo comparados não estejam relacionados (KOCH E ANDRADE, 2008).
Outro fator que deve ser atentamente considerado quando da análise do mtDNA é a
ocorrência de heteroplasmia, ou seja, a presença em um mesmo indivíduo de mais de um
haplótipo de mtDNA. Tal fenômeno pode decorrer da mutação do genoma de uma ou mais
mitocôndrias gerando um mosaico (mutantes e normais). Esse processo pode ocorrer tanto em
célula somática quanto em células germinativas femininas e é mais frequente em indivíduos
com idade mais avançada. Quando a mesma heteroplasmia é encontrada na amostra
27

questionada e na de referência, interpreta-se como um reforço para a vinculação entre as


mesmas (SANTOS, 2005).
A principal vantagem do uso do mtDNA sobre o nuclear é que o primeiro está
presente num total aproximado de 500 a 2000 cópias por célula. Sendo assim, a análise do
mtDNA é extremamente útil em investigações criminais, já que esta abundância oferece maior
chance de algumas cópias resistirem à degradação e serem obtidas para a análise forense.
Apesar do DNA nuclear oferecer ótimo material para identificações criminais, ele aparece
com frequência de somente duas cópias por célula diplóide (KOCH E ANDRADE, 2008).
No entanto, o mtDNA apresenta algumas desvantagens: é uma análise extremamente
dispendiosa, apresenta baixo poder discriminatório (1:200) e as moléculas de DNA dentro da
mitocôndria podem estar tanto em homoplasmia (sem cópias mutadas) quanto em
heteroplasmia, ou seja, com a presença de cópias mutadas do DNA mitocondrial e outras de
mtDNA normal, dificultando a análise genética final (KINRA, 2006).
Para fins forenses, o estudo do mtDNA, rico em SNPs e sem polimorfismos dos tipos
VNTRs e STRs, é feito objetivando a cópia extensiva das regiões hipervariáveis através da
técnica da PCR, com análise posterior por sequenciamento. Esta análise deve se restringir a
situações em que não é possível a análise do DNA nuclear (fios de cabelo sem bulbo), ou seja,
quando não há material genético adequado e/ou suficiente para a genotipagem de STR do
DNA nuclear ou quando o material apresenta elevado grau de degradação, como em ossos
antigos (SANTOS, 2005).
A análise do mtDNA tem sido muito utilizada na identificação de corpos vitimados de
acidentes em massa, com o objetivo de comparar as sequências de interesse com as obtidas de
possíveis irmãos ou ascendente maternos, na identificação de maternidade sem a presença do
pai para filhos e filhas e em estudo históricos e evolutivos, uma vez que o mtDNA em uma
mesma linhagem materna permanece inalterado ao longo das gerações.

● Linhagem Patrilínea (Y-DNA)

Os polimorfismos localizados nos cromossomos nucleares são herdados de ambos os


pais, sofrem crossing-over e fornecem informações de ambos os lados da família. Excetua-se
a esta regra o cromossomo sexual Y, que não possui homólogo para recombinação, apenas
uma região pseudo-autossômica de homologia com o cromossomo X, e é transmitido através
28

do gameta paterno apenas para a prole masculina, sendo que as características genéticas ali
contidas são passadas em bloco (haplótipos) para as gerações futuras, estabelecendo linhagens
patrilíneas que permanecem inalteradas até que aconteça uma mutação genética, um evento
muito raro (JOBIM et al., 2008).
Como o cromossomo Y possui regiões polimórficas que permitem a individualização,
a análise de STR através da PCR tem sido uma excelente técnica usada em identificação
humana para solucionar disputas de paternidade de filhos do sexo masculino, elucidação de
casos de estupro, onde há mistura de material biológico da vítima e do agressor e em estudos
históricos e evolutivos, por meio do traçado da linhagem patrilínea (KOCH E ANDRADE,
2008).
O Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia (NIST – USA) desenvolveu um
Sistema Multiplex de Microssatélites (STR-Y) para genotipagem do Y-DNA que permite a
amplificação simultânea de 20 STR em uma única reação de PCR (KOCH E ANDRADE,
2008).

5.3.3 DETERMINAÇÃO DO SEXO GENÉTICO (AMELOGENINA)

O gene da Amelogenina é de cópia única e localiza-se nos cromossomos sexuais X e


Y, sendo extensivamente utilizado na rotina forense para determinação do sexo genético em
amostras de origem desconhecida através da amplificação pela PCR.
No cromossomo X, o gene AMELX origina um produto de amplificação de 106 pb e
no cromossomo Y, o gene AMELY dá lugar a um amplicon de 112 pb. O gene AMELX
contem uma deleção de 6 pb no íntron 1. Portanto, quando os amplicons são analisados após
corrida eletroforética, amostras de origem masculina (XY) mostram duas bandas, uma para o
fragmento de 106 pb e outra para o de 112 pb, enquanto que as amostras femininas (XX)
demonstram somente uma banda de 106 pb. Desta forma, a análise do locus da Amelogenina
determina o sexo genético da amostra estudada (FRANCÈS et al., 2007).
Mutações no fragmento E resultam em falhas na amplificação do alelo E, ocasionando
erros de identificação da amostra biológica como se fosse feminina. Embora a taxa de erro
não seja muito grande, FRANCÈS et al. (2007) sugere o uso de marcadores adicionais do
cromossomo E para uma identificação inequívoca do gênero sexual da amostra estudada.
29

Este ensaio é, portanto, considerado confiável, singelo, rápido e econômico, além de


requerer quantidades mínimas de material genético.

5.3.4 REAÇÃO EM CADEIA PELA TAQ DNA POLIMERASE (PCR)

No final dos anos 80, Kary Mullis descreveu o processo de PCR e, por tal trabalho,
recebeu o Nobel de Química em 1993. Em 1989, a Koffman La Roche & Perkin-Elmer
Corporation patenteou este processo que revolucionou a Genética Molecular, permitindo a
amplificação de quantidades irrisórias de DNA, sendo atualmente uma das técnicas mais
comuns utilizadas em laboratórios de pesquisas biológicas para o sequenciamento de genes e
diagnóstico de doenças hereditárias, detecção de doenças infecciosas e criação de organismos
transgênicos e, em Genética Forense, para a identificação de perfis genéticos (MELGAÇO et
al., 2007).
Trata-se de uma técnica de elevadas sensibilidade e especificidade, exigindo a
conhecimento prévio acerca da sequência a ser amplificada, para que seja possível a
confecção do par de “primers” ou iniciadores que delimitarão a região-alvo de DNA,
permitindo a replicação de somente esta sequência. Os quatro desoxirribonucleosídeos
trifosfatados (dATP, dCTP, dGTP e dTTP) são acrescidos à reação e acrescentados na nova
fita de DNA a partir dos primers por complementaridade de bases à fita molde (DNA-alvo)
pela ação da enzima Taq DNA Polimerase. Esta enzima termoestável é extraída da bactéria
extremófila Thermus aquaticus encontrada em fontes hidrotermais e suporta elevadas
temperaturas, possuindo uma semi-vida enzimática de 40 minutos a 94oC.
A PCR é processada em ciclos de desnaturação da dupla fita de DNA-molde
(sequência-alvo), anelamento dos primers e extensão da cadeia. Estes ciclos possuem duração
e temperatura previamente reguladas no equipamento na qual a PCR é realizada – o
Termociclador.
Após a amplificação exponencial do fragmento inicial, a técnica procede com a
visualização deste após eletroforese. Os sequenciadores automáticos de DNA analisam os
fragmentos de DNA previamente amplificados, cujos dNTPs incorporados durante a PCR
foram marcados individualmente com compostos fluorescentes de diferentes cores antes do
início da reação. O produto da PCR é submetido à eletroforese capilar (KOCH E ANDRADE,
2008).
30

Ainda segundo KOCH E ANDRADE (2008), existem algumas variações da técnica de


PCR padrão:

- Nested PCR: utilizada para aumentar a quantidade de produto amplificado final ou para
aumentar a sensibilidade da técnica, pois utiliza dois pares de primers (um par externo para a
primeira reação e outro par para o produto desta primeira reação).

- Hot Start: a reação de PCR é ativada somente quando a temperatura atinge 94ºC. Este
procedimento eleva a especificidade da PCR, pois a DNA Polimerase contém um anticorpo
que se desnatura e ativa a enzima ao atingir a temperatura de 94ºC.

As técnicas de PCR possuem inúmeras vantagens, no entanto, possuem uma


importante limitação devido à característica peculiar da alta sensibilidade: a questão da
contaminação por DNA exógeno. Para minimizar este problema algumas providências devem
ser tomadas, como a utilização de uma amostra controle negativa em todas as reações e a
separação física das áreas laboratoriais destinadas ao trabalho com PCR e com o produto já
amplificado (BOROVIK et al., 2006).

5.3.5 REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE EM TEMPO REAL (RT-PCR)

Trata-se de um método variante da reação de PCR convencional, capaz de determinar


a quantidade inicial de material genético através da utilização de um sistema fluorescente em
plataforma que detecta a luz oriunda da reação de amplificação, conseguindo quantificar o
DNA amplificado sem a necessidade de realizar purificação ou análises adicionais,
diminuindo consideravelmente o tempo do processo (MATTEI E ALBUQUERQUE, 2008).
A análise se baseia na atividade 5´ exonuclease da Taq DNA Polimerase sobre sondas
específicas para o segmento em estudo que apresentam uma substância fluorescente
(fluorocromo) justamente na posição 5´(SYBR TM Green ou TaqMan TM). Sempre que a
sequência-alvo for amplificada, a Taq DNA Polimerase fará a excisão da sonda que já havia
previamente se hibridizado com o fragmento-alvo. O equipamento no qual se passa todo o
processo utiliza uma fonte de luz capaz de excitar o fluorocromo, detectando a fluorescência
emitida pela amostra, sendo que a emissão de luz será proporcional à quantidade de produto
31

gerado e este, consequentemente, proporcional à quantidade inicial de alvos da reação de


amplificação (BARCO, 2006)
Os kits para a detecção da sequência-alvo usados na RT-PCR incluem o TaqMan,
primeiro sistema de detecção homogêneo descrito e o mais amplamente utilizado nas rotinas
forenses, o SyberGreen e o Sistema Plexor HY (MATTEI E ALBUQUERQUE, 2008).
As metodologias baseadas na RT-PCR, além de agilizarem todo o processo de análise
genética, ainda melhoram a sensibilidade e a objetividade. Esses benefícios se aplicam na área
forense devido à importância da quantificação de DNA humano e DNA masculino,
principalmente quando se depara frente a situações onde há mistura de material genético,
detecção de parâmetros qualitativos como inibidores da PCR e níveis de degradação do DNA,
além da análise dos resultados por meio da genotipagem (ALBERTO, 2007).

5.3.6 ELETROFORESE CAPILAR (EC)

A eletroforese é uma técnica de separação de moléculas que envolve a migração de


partículas em determinado suporte de gel durante a aplicação de uma diferença de potencial
elétrico (KOCH E ANDRADE, 2008).
A identificação quanto à sequência é permitida na Eletroforese Capilar, que funciona
como uma eletroforese normal, porém o gel e o produto são inseridos dentro de um capilar e a
migração do DNA acontece até passar por um detector no equipamento. Um feixe de laser
rastreia o gel, excita os marcadores fluorescentes que emitem luz em comprimento de onda
específico conforme o corante utilizado. A luz é detectada e forma o Eletroferograma que é
analisado com o auxílio de programas que permitam gerar as sequências de DNA (KOCH E
ANDRADE, 2008).
As moléculas de DNA, carregadas negativamente, tendem a migrar em direção ao polo
positivo após aplicação de voltagem elétrica, com diferentes velocidades dependendo de seu
tamanho (número de pb – peso molecular).
Na genotipagem, a Eletroforese Capilar (EC) assume a grande importância de separar
o produto amplificado pela PCR e, mediante a detecção de fluorescência, vislumbra o
polimorfismo genético.
32

5.4 PRECAUÇÕES NA CENA DE UM CRIME: COLETA E EXTRAÇÃO DE DNA


EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS PARA IDENTIFICAÇÃO HUMANA

Tecnicamente e criminalisticamente, qualquer tipo de tecido ou fluido biológico


encontrado na cena do crime é tratada como amostra questionada e pode ser utilizada como
fonte para extração de DNA. Tanto o DNA nuclear quanto o mitocondrial são de suma
importância à genética forense (SANTOS, 2005).
Os tipos de amostras mais comumente encontradas são: sangue, sêmen, cabelo, saliva,
urina, pele, dentes, ossos, suor e fezes. No entanto, o sangue é o primeiro a se deteriorar na
cena do crime, sendo geralmente lisado ou contaminado pela presença de bactérias. Na
sequência, os tecidos moles também se degradam. Ossos e dentes são mais estáveis, por isso
são amplamente utilizados para extração e análise de DNA, principalmente mitocondrial, em
amostras antigas ou altamente deterioradas (KINRA, 2006).
Quanto ao material biológico de escolha para as amostras de referência, têm-se o
sangue e mucosa oral como as opções mais rotineiramente utilizadas. Ambas apresentam
excelente qualidade de DNA e fácil obtenção de perfil genético (DANTAS, 2010).
Em se tratando das amostras biológicas questionadas, se estas não forem
adequadamente coletadas, transportadas, armazenadas e arquivadas como contraprova, a
integridade do DNA contido nelas estará comprometida, afetando a análise genética,
consequentemente, originando laudos periciais questionáveis (MELGAÇO, et al., 2007).
Para que a coleta de evidências biológicas na cena do crime seja realizada com
sucesso, faz-se necessário que a cena não seja contaminada pela própria equipe de
investigação e nem pelo público. Toda evidência deve ser catalogada apropriadamente e sua
posição original registrada por fotografia. Após coletada, a amostra deve ser armazenada em
local seguro ou imediatamente enviada ao laboratório forense (KINRA, 2006).
Para um efetivo controle da integridade do material biológico coletado, é necessário
documentar quem teve ou quem pode ter tido contato com a amostra, sendo este o princípio
da cadeia de custódia. Caso ocorrerem falhas no tratamento e manuseio da evidência
questionada, a prova de DNA pode ser desconsiderada (LOPES E BARRETA, 2006).
No momento do recebimento das amostras por parte do laboratório forense, este deve
verificar e registrar a presença e o estado do empacotamento, selos e etiquetas. Os dados sobre
a evidência devem continuar sendo registrados, com data, hora e assinatura de quem esteve de
posse dela, de modo a manter a rastreabilidade e confiabilidade da mesma (PENA, 2006).
33

Outro detalhe que pode acarretar questionamentos nos resultados de uma análise
forense de DNA é a possibilidade de ocorrer degradação do material genético dentro do
laboratório ou na própria cena do crime. O material biológico recuperado pode sofrer
alterações biológicas por ação enzimática bacteriana ou fúngica, ambiental em decorrência de
temperaturas que excedam 100ºC e presença de reativos químicos que podem ocasionar
quebras ou alterações na cadeia nucleotídica, impossibilitando a análise (KOCH E
ANDRADE, 2008).
A aplicação da metodologia de coleta é específica para cada tipo de material biológico
e dependerá do estado e condição da amostra questionada, existindo padrões pré-estabelecidos
pelas práticas forenses.
Atualmente existem à disposição no mercado, tubos coletores para sangue e cartões
específicos para coleta e armazenamento de amostras biológicas à temperatura ambiente,
propiciando alta qualidade para extração de DNA aliada à facilidade no momento da coleta e
para transporte e armazenamento das evidências (CHEMELLO, 2007).
No laboratório forense, a evidência biológica deve ser criteriosa e minuciosamente
inspecionada para que se possa estabelecer a metodologia mais apropriada para se realizar a
extração e amplificação do material genético, objetivando a manutenção da integridade,
quantidade e qualidade do mesmo, sendo que os métodos mais utilizados na rotina
laboratorial forense atualmente são o Chelex e as Colunas de sílica (DANTAS, 2010).
Um caso muito especial e delicado é concernente às amostras de sêmen e secreção
vaginal encontrados em crimes sexuais. Como há mistura de material genético de dois ou
mais indivíduos do mesmo sexo ou não, procede-se geralmente com a Extração Diferencial de
DNA masculino e feminino. Para identificação do sexo genético do indivíduo que deixou o
vestígio biológico na cena do crime, faz-se a análise do locus da Amelogenina (PENA, 2006).

5.5 DETECÇÃO DO DNA – OBTENÇÃO DO PERFIL GENÉTICO

De posse dos perfis genéticos das amostras questionada e de referência, procede-se o


confronto entre esses perfis, ou seja, faz-se a análise comparativa dos resultados obtidos em
termos de inclusão (coincidência) ou exclusão (não coincidência) dos alelos vinculados aos
loci analisados obtidos a partir da amostra questionada e da amostra de referência. Caso haja
inclusão, cálculos estatísticos mensurando a razão de verossimilhança entre os perfis
34

genéticos analisados são realizados, baseando-se na frequência alélica, ou seja, na frequência


que um dado alelo locus específico ocorre numa população (frequência populacional)
(DANTAS, 2010).
Conforme MELGAÇO et al. (2007), nos casos em que a paternidade está sendo
questionada, em cada locus analisado do perfil genético da criança, em via de regra, salvo
mutações, deverá haver coincidência entre:

(1) os alelos da criança com um dos alelos presentes na mãe (alelo materno obrigatório)

(2) os alelos da criança com um dos alelos presentes no suposto pai (alelo paterno
obrigatório), para se constatar a paternidade (Anexo B).

A probabilidade de paternidade é calculada a partir do Índice de Paternidade (IP) e


representa a possibilidade de o suposto pai ser o pai biológico, sendo verificada por meio da
razão entre a probabilidade dos alelos, pertinentes ao perfil genético do filho ou filha e que
estejam em coincidência com o perfil genético do suposto pai, serem oriundas deste suposto
pai e a probabilidade delas serem oriundas de qualquer outro indivíduo da população. A
análise de DNA voltada à determinação da paternidade leva ainda em conta a Probabilidade
de Exclusão (PE), indicando a probabilidade de não encontrar outro indivíduo, selecionado ao
acaso, que possua o mesmo perfil genético do pai biológico da criança. Nesta análise são
considerados somente os alelos da mãe e da criança. Os resultados dos cálculos de
Probabilidade de Paternidade e Probabilidade de Exclusão são normalmente expressos em
valores percentuais, geralmente com índices próximos a 99,99% (BONACCORSO, 2004).
As frequências alélicas utilizadas para os cálculos estatísticos do Teste em DNA
variam entre as populações. Vários pesquisadores vêm formando um banco de dados
representativo da população do Brasil no intento de montar uma frequência alélica específica
para a população brasileira, caracterizada pelo elevado grau de miscigenação. No entanto, os
riscos das imprecisões oriundas de cálculos probabilísticos efetuados com dados de
populações estrangeiras podem ser minimizados por meio da utilização de um método
denominado “Frequência Teta”, onde é considerado o limite máximo de ocorrências de um
alelo, qualquer que seja a origem étnica de uma pessoa (BONACCORSO, 2004).
Quanto à análise e interpretação de dados genéticos, este segmento obteve grande
inovação por meio de softwares específicos, fruto do trabalho conjunto entre bioinformática e
genética forense.
35

5.6 INTERFERENTES NA ANÁLISE DE DNA

A amplificação pela PCR pode produzir falhas e artefatos quando a qualidade do


material está comprometida. Amostras parcialmente degradadas podem apresentar “stutters
bands” ou “bandas fantasmas”, “Drop-out” ou proporcionar a amplificação preferencial ou
diferencial de alelos (MELGAÇO et al., 2007).
As bandas fantasmas são falhas analíticas inerentes a amplificação de STRs. Os stutter
são bandas extras geradas pelo deslizamento da Taq DNA Polimerase e que apresentam uma
unidade de repetição a menos que no alelo real, resultantes do pareamento incorreto durante a
síntese de DNA, podendo levar a equivocada interpretação de um heterozigoto ou até mesmo
identificar um alelo de forma errônea. Conforme MELGAÇO et al. (2007), a porcentagem de
stutters em dada análise é maior com o aumento da concentração do cloreto de magnésio
(MgCl2) na reação.
O “Drop-out” é uma falha de amplificação de loci/alelos específicos. A possibilidade
de ocorrer esta falha é maior quando se utiliza pequena quantidade de DNA, quando há a
existência de algum contaminante inibidor da PCR (hematina ou vestígios de roupas
coloridas) ou ainda quando as amostras estão altamente degradadas (MELGAÇO et al., 2007).
Na Amplificação Preferencial há a amplificação de um alelo em detrimento de outro,
gerando a falsa impressão de se tratar de um indivíduo homozigoto ao invés de heterozigoto
para o locus em estudo. Em casos de crimes sexuais contra a mulher, onde há mistura de
material biológico e sendo o componente masculino predominantemente constituído de
células espermáticas que contém pequena quantidade de material genético, é comum a
amplificação preferencial do contribuinte principal, ou seja, da vítima. A análise minuciosa
dos picos de intensidade das bandas faz-se necessário para determinar se a PCR usou como
DNA-molde o material biológico das células do acusado e da vítima ou somente desta última.
(MELGAÇO et al, 2007).
Existem vários tratamentos estatísticos para validar os resultados em situações que
envolvem misturas de material biológico. Tais metodologias levam em consideração
diferentes hipóteses para a construção do perfil genético em muitas misturas, como as
encontradas no esfregaço vaginal de vítimas de violência sexual. O emprego errôneo destes
cálculos estatísticos é também fonte de erros injustificáveis (DANTAS, 2010).
Os atuais sequenciadores automáticos por fluorescência minimizam ou evitam tais
possibilidades de erros (FIGUEIREDO E PARADELA, 2008).
36

Precauções gerais para minimizar a contaminação da amostra biológica devem ser


tomadas: separação física entre as áreas laboratoriais destinadas à pré e pós-PCR; separação
das amostras de referência e questionadas, com a extração e amplificação destas em salas
separadas e também em momentos distintos; assepsia adequada dos instrumentos de trabalho
e das salas do laboratório forense; utilizar em todas as reações amostras controle e controles
positivos e negativos, interrompendo imediatamente a análise quando houver constatação de
qualquer anormalidade ou irregularidade, paralisando as reações e recomeçando todo o
processo do início (DANTAS, 2010).

5.6.1 QUIMERISMO GENÉTICO

A ciência já diagnosticou alguns casos raros em que uma única pessoa nasce com dois
perfis genéticos diferentes. Esse fenômeno é denominado Quimerismo Genético e ocorre
quando gêmeos dizigóticos se fundem no útero e formam um único embrião a partir da fusão
de dois óvulos e dois espermatozóides, originando um indivíduo com dois tipos de conjunto
de células diferentes. O quimerismo causa dificuldades na solução de crimes e testes de
paternidade, já que o sangue do suspeito pode apresentar DNA diferente da amostra de
referência ou questionada (DOLINSKY E PEREIRA, 2007).

5.6.2 GÊMEOS MONOZIGÓTICOS

Quando gêmeos univitelinos são suspeitos de um crime que deixou vestígios, o Teste
em DNA não auxilia na elucidação do delito, uma vez que não se consegue distingui-los, pois
são geneticamente idênticos. Neste caso, a datiloscopia forense seria imensamente útil, se na
cena do crime houvesse impressões digitais desse suspeito (KOCH E ANDRADE, 2008).
No entanto, Carl Bruder (2008) renomeado pesquisador da Universidade do Alabama
(Birminghan), desenvolveu uma pesquisa com dezenove gêmeos monozigóticos, constatando
que em alguns casos, o DNA de um gêmeo era diferente do de seu irmão em vários pontos ao
longo do genoma. Nesses locais de divergência genética havia um número diferente de cópias
do mesmo gene entre os gêmeos, originando um estado genético denominado de Variantes do
37

Número de Cópias – CNV. Normalmente há duas cópias de cada gene, uma proveniente do
pai e a outra, da mãe. Mas há algumas regiões genômicas que fogem a esta regra, culminando
no aparecimento das CNV. Tais regiões podem carregar de 0-14 cópias de um mesmo gene.
Há vários outros trabalhos publicados acerca destas possíveis diferenças genéticas
entre gêmeos monozigóticos. Porém, não há ainda nada evidenciado em genética forense,
visto que as metodologias usualmente utilizadas e validadas não conseguem ainda estabelecer
essas mínimas diferenças.

5.7 APLICABILIDADE DO TESTE EM DNA

5.7.1 A DECISIVA CONTRIBUIÇÃO DA GENOTIPAGEM PARA A


IDENTIFICAÇÃO DE VÍTIMAS DE DESASTRES EM MASSA

O crescimento da população mundial e o processo de globalização, somados a


implantação de novas tecnologias, trouxeram uma mudança de hábitos e de costumes. Há uma
busca incessante por inovações que tragam comodidade e conforto, satisfazendo esse elevado
contingente populacional. Desta forma, houve a introdução de novos meios de transporte
ultra-rápidos, a comercialização de bens e produtos em grandes centros comerciais,
provocando aglomeração de multidões e o aumento de arranha-céus, que abrigam milhares de
pessoas que ali vivem e trabalham. A união de todos estes elementos forma a “tecnologia do
desastre” e não é incomum a divulgação de acidentes que vitimam elevado número de pessoas
ao mesmo tempo, grave ou fatalmente, levando as famílias e a sociedade em geral a um
estado de comoção frente a estas tragédias (BENFICA E VAZ, 2005).
A busca dos corpos das vítimas é, na maioria das vezes, imensamente difícil e quando
ocorre o encontro destes, o estado dos cadáveres torna o reconhecimento imediato impossível
e a identificação adequada, complexa. Portanto, a perícia em genética forense, em situações
de calamidade pública decorrentes de acidentes em massa é, muitas vezes, a única
metodologia que possibilita uma identificação confiável, com probabilidade reduzida de
falhas quando corretamente aplicada (MATTE et al., 2005).
A confirmação da identidade das vítimas em desastres de massa é essencial à
investigação judicial, ao Estado e aos registros públicos, quer seja por questões cíveis, com a
38

emissão de registro de óbito, requerimentos de pensões e seguros de vida, ou criminais, pois


quando há um culpado, este deve ser responsabilizado penalmente e as famílias das vítimas
devem ser indenizadas (MATTE et al., 2005).
Os desastres em massa podem advir de causas naturais (furacões, maremotos,
terremotos, ação de vulcões, tempestades e enchentes), decorrer do próprio desenvolvimento
tecnológico humano (meios de transportes velozes, grandes edifícios, aeroportos, usinas
hidrelétricas e nucleares etc.) ou mesmo da inventiva humana acidental, como nos casos de
incêndios ou acidentes em decorrência de falha humana de qualquer tipo ou, causa humana
intencional, nos atentados terroristas (MATTE et al., 2005).
A primeira utilização em larga escala de Testes em DNA para identificação humana
em acidentes em massa remonta ao ano de 1985, quando Ludes B. et al., realizaram uma
investigação médico-legal após o acidente aéreo do Airbus A-320 sobre o Monte Sainte-Odile
na França, onde dos 87 corpos resgatados, 85 foram identificados e destes, 17 somente pela
genotipagem do DNA (KINRA, 2006).
Desde então, o Exame Genético tem sido amplamente empregado para a identificação
humana em acidentes em massa, com grande índice de sucesso, como por exemplo, no
atentado terrorista a bomba na Associação Israelita-Argentina, em Buenos Aires no ano de
1994; no atentado de 11 de setembro de 2004 ao World Trade Center, em Nova York e, mais
recentemente, em 26 de dezembro de 2004, no desastre natural do Tsunami na Ásia
(ALONSO et al., 2005).
A análise de DNA em casos de desastres em massa objetiva identificar as vítimas ou
associar fragmentos de corpos, auxiliando na continuidade das investigações médico-legais.
Como o exame de DNA é um método comparativo, além da amostra questionada, é
necessário obter amostras de referência para que a identificação humana seja apropriada.
Devem ser coletadas amostras biológicas do cadáver, amostras questionadas; amostras dos
familiares consanguíneos, amostras de referência indireta; e/ou objetos pessoais ou tecidos
ante mortem da vítima, amostras de referência direta (MATTE et al., 2005).
Do corpo a ser identificado, com o auxílio de instrumentos adequados, deve-se coletar
preferencialmente amostras de tecido esquelético profundo, cortical óssea e molares
superiores ou inferiores, optando sempre por porções corpóreas menos expostas à degradação.
Dependendo do tipo de exame de DNA objetivado tem-se a escolha do doador da
amostra de referência indireta e o tipo da amostra biológica a ser doada. Para o
sequenciamento de DNA nuclear, as amostras biológicas (sangue e/ou mucosa oral) de um ou
ambos os pais ou do marido/esposa da vítima e seus filhos biológicos ou ainda, de parentes
39

biológicos da vítima que tenham os mesmos pais, podem ser coletadas. Para sequenciamento
do mtDNA, utiliza-se material biológico de membros da família materna como referência e,
para marcadores do cromossomo Y, amostras dos familiares paternos (DANTAS, 2010)
No intuito de agilizar o processo de identificação humana, (1) o acesso às amostras
diretas da vítima, ou seja, itens de uso pessoal, como: escovas de dentes e de cabelo,
barbeadores, roupas íntimas não lavadas ou qualquer outro objeto pessoal usado pela vítima;
assume grande importância, principalmente na ausência ou demora na localização de parentes
consanguíneos. Sangue doado, amostras teciduais ou esfregaços para exames patológicos
realizados ainda em vida pelo indivíduo vitimado também contribuem bastante (BENFICA E
VAZ, 2005).
Deve-se criar e manter a cadeia de custódia de todo o processo desde a fase inicial,
com registro e fotografias dos corpos ou fragmentos corpóreos, coleta das amostras biológicas
da vítima e as de referência, até as fases subsequentes de transporte, armazenamento e análise
do DNA, objetivando a documentação comprovada de todo este processo, garantindo a
rastreabilidade deste e a confiabilidade nos resultados obtidos (ALONSO et al.,2005)
Em 11 de setembro de 2001, o mundo parou frente a uma das maiores atrocidades
presenciadas nos últimos tempos: o atentado terrorista ao World Trade Center, símbolo
internacional do poderio econômico norte-americano. Devido a enorme força de queda das
Torres Gêmeas, somada aos incêndios de longa duração e a consequente exposição à água que
durou semanas depois; evidenciou a necessidade de serem melhorados os procedimentos de
extração de DNA nos materiais biológicos lá encontrados. Novos conjuntos STR Multiplex,
com melhor desempenho, foram desenvolvidos visando à identificação precisa de milhares de
vítimas (BILLE et al, 2004).
Em agosto de 2004 ocorreu um incêndio no Supermercado Ycuá Bolanos em
Assunção, no Paraguai. No momento da tragédia, dentre funcionários e clientes, estavam
presentes cerca de mil pessoas, das quais mais de quatrocentas vieram a óbito. Muitos destes
corpos foram identificados por meio de métodos antropométricos, odontologia e radiologia
forenses e datiloscopia. No entanto, vários cadáveres apresentavam um grau de carbonização
tão elevado que somente foi possível identificá-los por meio da análise associada de conjuntos
de STRs e SNPs (MATTE et al., 2005).
A catástrofe do Tsunami na Ásia do Sul atingiu doze países diferentes e vitimou cerca
de 200.000 pessoas, sendo uma das maiores tragédias presenciadas pelo mundo
contemporâneo, havendo também a necessidade da união entre diversos laboratórios
especializados no intento da identificação humana deste assombroso número de vítimas. Os
40

esforços maciços necessários para identificar os corpos se tornaram o mais intenso processo
de investigação forense da história. Muitos países ofereceram, além de recursos financeiros,
recursos técnicos para genotipar o DNA das vítimas. No entanto, esse objetivo acabou se
tornando inatingível e não há dados fidedignos acerca dos milhares de corpos que
permaneceram sem identificação (ALONSO et al., 2005).
Em se tratando de desastres em massa, o número de amostras biológicas a serem
coletadas e analisadas é muito grande, fazendo-se necessária a integração entre vários
laboratórios forenses para que estes trabalhem em equipe usando técnicas padronizadas, kits
validados, um número suficiente de marcadores genéticos, que possibilitem uma comparação
satisfatória entre os perfis gerados e, principalmente, um poderoso software que permita a
troca segura e rápida de informações entre estes laboratórios, possibilitando um confronto
genético adequado e a opção de utilizar diferentes frequências alélicas conforme a população
em estudo, agilizando a liberação dos corpos envolvidos (MATTE et al, 2005).

5.7.2 ANÁLISE DE mtDNA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA

• VÍTIMAS DE ACIDENTES AÉREOS

O uso do mtDNA na genética forense é aplicável na rotina de identificação de vítimas


de acidentes aéreos, nos quais a elevada temperatura registrada no momento da explosão,
geralmente ocorrida no momento da colisão enfrentada pela aeronave, pode degradar o DNA
nuclear existente na célula e deixar pelo menos uma das inúmeras cópias do mtDNA intacto.
Como o mtDNA é de origem matrilínea, as amostras de referência devem ser
exclusivamente da mãe ou de parentes consanguíneos do lado materno da vítima.
Geralmente as amostras questionadas são coletadas de dentes, ossos e até de fios de
cabelo, que devem ser devidamente limpos, removendo destes materiais, o máximo possível
de interferentes ou contaminantes.
Após a escolha da metodologia mais apropriada à extração de DNA das amostras
questionadas e das de referência, deve-se quantificar o material extraído e submetê-lo ao
processo de amplificação pela PCR. Os passos subsequentes são semelhantes em quase todas
as metodologias.
41

A análise de dados é realizada em softwares que suportem BD das sequências


nucleotídicas e processem o confronto genético entre estas. O algoritmo de correspondência
se baseia na busca do correspondente aos genótipos encontrados no processamento dos perfis
dos objetos de uso pessoal ou amostras ante mortem e na busca em potencial pelos perfis
genéticos de parentes próximos, através de associações entre vítimas e seus parentes próximos
medidos através de partilha de loci individuais (KINRA, 2006).

• OSSADAS – A INTEGRIDADE DO DNA COM O PASSAR DO TEMPO

Atualmente, tem havido um crescente número de identificações humanas em


cadáveres pós-guerra, principalmente em países onde a guerra civil é comum e um grande
percentual de corpos e restos humanos não identificados nos Institutos Médico-Legais
espalhados em todo o país. Também no âmbito forense tem se elevado o número de
solicitações de coleta de amostras biológicas em corpos exumados, destacadamente em
processos de investigação de paternidade (IWAMURA, 2004).
É certo que em cadáveres o DNA se degrada muito rapidamente logo no início do
período pós-morte. A degradação de tecidos moles é evidente mesmo após curtos intervalos
de tempo, consequência da rápida proliferação bacteriana ocorrida naturalmente em corpos
em decomposição, especialmente naqueles expostos a elevadas temperaturas, como em países
tropicais, a exemplo do Brasil. Além disso, a exposição à umidade e à produtos inibidores da
reação de PCR são outros problemas encontrados na análise de DNA post-mortem (MATTE
et al., 2005).
Devido a esta gama de questões difíceis de serem solucionadas, vários estudos relatam
o sucesso na extração e análise de mtDNA de ossos humanos, material biológico
comprovadamente mais resistente às intempéries ambientais.
Em 1991, Hochmeister et al., relataram a identificação humana em um cadáver
submerso em água por mais de dezoito meses, com o uso do mtDNA, em amostras extraídas
do osso fêmur e, em 1992, a identidade de toda a família Romanov, morta em 1918 durante a
Revolução Russa, foi confirmada usando mtDNA extraído de amostras de seus fragmentos
ósseos exumados (IWAMURA, 2004).
42

5.7.3 TESTE EM DNA EM CRIMES DE ESTUPRO

Em 1998, na cidade do Rio de Janeiro, uma garota de 14 anos, portadora da Síndrome


de Down, sofreu abuso sexual. Tal ato é considerado crime, uma vez que a vítima era menor
de 14 anos, o que por si só já configura o estupro, acrescido de um agravante, a menor era
considerada mentalmente incapaz. O crime somente foi notificado alguns meses após, quando
a gravidez foi constatada. Desta maneira, não foi coletado o sêmen na vítima, na data da
ocorrência do fato, para a genotipagem e posterior confronto com os perfis genéticos dos
suspeitos. Mediante autorização judicial processou-se a interrupção da gestação da menor e,
posteriormente, as amostras biológicas coletadas (1) de quatro suspeitos, (2) da vítima e (3)
do feto abortado, foram submetidas ao exame genético com o intuito de identificar o pai do
feto e, consequentemente, o autor do crime. Após a análise, houve a constatação da identidade
genética do criminoso, sendo este o pai biológico do feto com Probabilidade de Paternidade
de 99,9997% (GÓES et al, 2002).
A extração de DNA da saliva ou de células da mucosa oral coletadas sobre a pele de
uma vítima pode ser utilizada como forte evidência para apoiar o processo criminal pela
exclusão ou inclusão de suspeitos, principalmente nos crimes violentos, sobretudo nos de
natureza sexual, quando não se obtém êxito na genotipagem do sêmen deixado na vítima ou
quando o indivíduo que cometeu a violência sexual utiliza preservativo e este não é localizado
na cena do crime (KANTO et al., 2005).

5.7.4 INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE OU MATERNIDADE NA ESFERA


CIVIL

“O exame genético pelo DNA tornou obsoleto todos os demais sistemas existentes.
É o auxílio científico para a solução de um dos mais graves e subjetivos dramas do
judiciário, a investigação de paternidade. Antes eram a apreciação subjetiva da prova
testemunhal, os arcaicos exames de sangue; hoje, a certeza objetiva, científica”.
TJ/SP, Ac. Unân. 7.ª Câm. Cív., no.º 206.305-1/8, rel. Des. GODOFREDO
MAURO, j. 18.05.94, in repertório IOB 3/9852.
43

A genotipagem vem sendo defendida como método de excelência pelo fato de se


admitir o estabelecimento da paternidade ou maternidade contrariando os outros métodos
tradicionais que visam unicamente à exclusão, como a tipagem sanguínea com os sistemas
ABO, Fator Rh, Fator M e N, Haptoglobinas, Grupos P e Sistemas HLA. É possível
estabelecer uma paternidade ou maternidade de indivíduos vivos, desde a gestação ou até
muitos anos após a morte de um dos envolvidos através da requisição da vistoria ad
perpetuam rei memoriam, a fim de comparar um indivíduo com outro já enterrado por meio
da tipificação genética de restos cadavéricos (FRANÇA, 2008).
Há casos de investigação de paternidade ou maternidade em que não há a
disponibilidade do material biológico do investigado em decorrência de óbito ou
desaparecimento deste. Nestes casos, a extração do DNA de amostras biológicas dos
familiares pode ser uma solução, auxiliando nas conclusões periciais, no entanto, a exumação
é geralmente um passo necessário à fidedignidade do resultado final. A exumação é um
processo altamente burocrático, tecnicamente complexo e que abala profundamente as
famílias envolvidas, sendo deixado como última escolha em um processo de investigação
judicial de paternidade ou maternidade (JOBIM et al., 2008).
Caso o óbito tenha sido recente, há a possibilidade de procurar alternativas mais
favoráveis, como a coleta de material biológico de pertences de uso pessoal do requerido,
como escova de dentes ou cabelos (JOBIM et al., 2004).
Desconhecer a origem biológica pode acarretar danos irreparáveis à formação
psicológica de um indivíduo. Não é de maneira alguma simples conviver com esta situação.
Há de se considerar profundamente a dependência humana por sua família, mas, antes de
tudo, destacar com veemência o direito personalíssimo, indisponível e intransferível do
indivíduo em conhecer sua origem genética, sobretudo quando este anseio encontra amparo
jurisdicional constitucionalmente garantido (FRANÇA, 2008).
A edição do Diário Oficial da União (DOU) do dia 30 de julho de 2009 trouxe, na
íntegra, a Lei no. 12.004 que alterou a de no. 5.560/02, que regula a investigação de
paternidade de filhos nascidos fora do casamento. A nova norma estabelece a presunção de
paternidade no caso de recusa do suposto pai em submeter-se ao exame de DNA em processo
investigatório aberto para essa finalidade, garantindo tanto ao requerido quanto ao requerente
o direito de requerer a contra-prova do exame previamente realizado. Mesmo antes da
promulgação desta lei, a Justiça brasileira já havia reconhecido a presunção de paternidade em
diversos casos onde o investigado se recusara a submeter-se ao exame genético.
44

Para atender esta finalidade, o exame genético pode ser realizado por duos ou trios. O
duo é o exame feito com somente com duas amostras: a do suposto pai e a do filho ou filha,
ou a da suposta mãe e a do filho ou filha; já o trio é o exame realizado com três amostras: a da
mãe, a do filho ou filha e a do suposto pai. Convém destacar que nos casos em que qualquer
um dos envolvidos for submetido à transfusão de sangue recente, o ideal é aguardar no
mínimo seis meses para realizar o teste e, nos casos de transplante de medula óssea, o material
biológico mais adequado a ser coletado é a mucosa oral (Laboratório Hermes Pardini, 2010).
Casos envolvendo trocas de bebês resolvem-se fácil e rapidamente por meio da correta
identificação da paternidade e maternidade biológica das crianças e, assim, põe um ponto final
no sofrimento de famílias que se encontram neste dilema.

5.8 BANCOS DE DADOS GENÉTICOS

A genotipagem permite a ligação de indivíduos entre si e entre a cena do crime ou


objeto ali encontrado. Desta forma, objetiva a exclusão de suspeitos ou a inclusão de novos
suspeitos no processo de investigação forense.
A tecnologia que engloba a genotipagem é composta por uma variedade de
marcadores genéticos, múltiplas estratégias de tipificação do DNA e sistemas informatizados
com softwares especializados. Todos esses elementos em conjunto propiciam uma busca de
dados em bancos de bases de DNA extremamente rápida e fácil chamados de Bancos de
Dados Genéticos.
Em 1996, um sistema denominado SGM - Segunda Geração Multiplex - composto por
seis loci STR mais o lócus da Amelogenina (para identificação sexual) foi introduzido na
rotina forense da Nova Zelândia e Reino Unido. Neste mesmo período, foram criados Bancos
de Dados Genéticos com perfis genéticos de vários criminosos, embasados no sistema SGM
em ambos os países. No ano de 1999, um novo sistema denominado SGM Plus contando com
10 lóci STR mais o locus da Amelogenina, ganhou espaço e foi adotado pelo Reino Unido
(LOFTUS, 1999).
O Grupo EDNAP (European DNA Profiling) – Perfil de DNA Europeu – realizou uma
série de estudos bem sucedidos para identificar e recomendar grupos de loci STR específicos
para a população européia a serem usados em análises forenses (LOFTUS, 1999).
45

A partir da criação do BD Genético do Reino Unido, uma série de países europeus


decidiu pela implementação nacional de BD de DNA embasados em loci STR. Desta forma,
num trabalho coletivo excepcional entre EDNAP e ENSFI (European Network of Forensic
Science Institutes) – Rede Européia de Institutos de Polícia Científica – houve a padronização
de um conjunto de loci STR utilizados em genética forense para todos os países pertencentes à
União Européia, num intento de enfrentar o desafio da criminalidade transfronteriça. O
ENSFI recomenda os seguintes loci STR: TH01, vWA, FGA, D21S11, D8S1179, D18S51,
D3S1358 e o locus de Amelogenina (PENA, 2006).
Segundo dados fidedignos da PF (2010), no Brasil menos de 5% dos homicídios
registrados em território nacional são elucidados, estando esta taxa entre as mais baixas de
todo o mundo. Nos EUA a taxa de elucidação criminal é de 65%, enquanto na França é de
80% e, na Inglaterra, um dos países que mais utiliza o BD de perfis genéticos para resolução
de crimes, chega aos 90%.

5.8.1 CODIS – EXEMPLO A SER SEGUIDO

Nos Estados Unidos são registrados, em média, 300.000 crimes sexuais por ano.
Aproximadamente 234.000 criminosos condenados por tais crimes estão sob o controle de
agências correcionais e destes, 60 % estão soltos sob regime de supervisão condicional. Além
disto, indivíduos presos por este tipo de violação da lei retornam ao convívio da sociedade em
cerca de cinco anos. Desta maneira, os Estados Unidos convivem há muito tempo com um
crescente número de crimes violentos (LOFTUS, 1999).
Frente a esta situação e após reconhecer e demonstrar que a genotipagem poderia
apoiar a identificação humana no cenário forense, o FBI desenvolveu um programa global de
DNA, objetivando principalmente facilitar a investigação de crimes violentos (LOFTUS,
1999).
Utilizando tecnologia de última geração, o FBI criou e opera o BD nacional americano
de perfis genéticos – CODIS (Combined DNA Index System – Sistema de Combinação e
Indexação de DNA) – que une informática avançada à ciência forense, facilitando
sobremaneira a comparação de perfis de DNA. Trata-se de uma rede totalmente interligada
entre as polícias a nível local, estadual e federal (sendo que cada nível possui seu BD próprio)
e os laboratórios forenses, permitindo a troca e a comparação de perfis genéticos via
46

eletrônica e fornecendo softwares para a realização de cálculos estatísticos concernentes aos


resultados obtidos na análise do DNA (LOFUS, 1999).
O CODIS organiza em índices os perfis genéticos de acordo com a origem da amostra
analisada:
- Índice Condenado: contém registros dos perfis genéticos de indivíduos condenados por
crimes violentos. A maioria dos estados americanos conta com uma lei que exige a doação de
amostra biológica de todos os condenados no momento da prisão para a genotipagem e
inclusão no BD nacional.
- Índice Forense: contém registros dos perfis genéticos de indivíduos coletados legalmente no
decorrer de um processo investigativo.
- Índice População: contém os perfis genéticos de pessoas anônimas no intuito de representar
a maioria da população americana. Estas bases de dados são importantes para estimar
frequências estatísticas de perfis genéticos.
Recentemente, o FBI lançou o CODIS 6, capaz de lidar com microssatélites do
cromossomo Y (Y-STRs) e com sequências de DNA mitocondrial (mtDNA), cuja finalidade é
a identificação de pessoas desaparecidas ou vítimas de grandes desastres (FAGUNDES,
2010).
Quando o laboratório forense recebe e processa uma amostra questionada, dela
obtendo um perfil genético, o CODIS fornece os dados para confrontar este perfil com os
perfis cadastrados no BD. Se ocorrer a identificação do suspeito, o laboratório competente
aciona os investigadores criminais que iniciam a busca pelo indivíduo. Caso não haja a
identificação, as investigações procedem até o encontro do delinquente que terá seus dados
genéticos gravados no CODIS imediatamente após sua condenação (LOFTUS, 1999).
De acordo com dados publicados pela PF (2010) concernentes ao banco de dados
genético americano, o número de casos violentos que foram solucionados nos EUA com a
ajuda primordial do sistema já ultrapassa os 112.000.

5.8.2 BANCO DE DADOS GENÉTICOS NO BRASIL

O passo inicial para a implantação do projeto de BD Genéticos no Brasil processou-se


em 2005 com a criação de seis laboratórios regionais de genética forense no país, um
47

localizado no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal em Brasília e os outros


cinco, vinculados às Secretarias Estaduais de Segurança Pública (SSP) (PENA, 2006).
Em maio de 2009 houve a realização de um acordo de cooperação entre a Polícia
Federal (PF) brasileira e o FBI para a utilização de dois módulos do CODIS, contemplando a
área criminal e identificações civis. O primeiro módulo gerencia perfis genéticos de vestígios
coletados durante a perícia nas cenas de crime e o segundo gerencia perfis genéticos de
pessoas desaparecidas, vítimas de desastres, de seus respectivos familiares e perfis de restos
humanos não identificados (KOCH E ANDRADE, 2008).
Antes mesmo da sua inauguração oficial, a primeira utilização do CODIS deu-se na
tragédia ocorrida em 2009 com o voo 447 da Air France (rota Rio de Janeiro – Paris). Este
acidente originou a morte dos 228 ocupantes da aeronave, dos quais 50 tiveram seus corpos
resgatados e genotipados. O software possibilitou a identificação dos corpos por meio do
cruzamento de seus perfis genéticos com os perfis doados por familiares.
Em 19 de maio do presente ano, ocorreu a solenidade da implantação do CODIS em
território nacional. A partir desta data, o Brasil já possui a Rede Integrada de Bancos de Perfis
Genéticos (RIBPG) por meio da celebração do Termo de Compromisso com o FBI e os
Acordos de Cooperação Técnica com as Secretarias de Segurança estaduais. O BD Nacional
está abrigado no Instituto Nacional de Criminalística (INC-PF) e conforme dados da Diretoria
Técnico-Científica do INC (2010), os seguintes laboratórios brasileiros já estão de posse do
CODIS:

1. Instituto Nacional de Criminalística PF


2. Instituto de Criminalística – Estado do Amazonas
3. Laboratório de Genética Forense – Estado do Amapá
4. Laboratório Central da Polícia – Estado da Bahia
5. Núcleo de Perícia em DNA – Estado do Ceará
6. Superintendência de Polícia Técnica – Estado de Espírito Santo
7. Instituto de Criminalística – Estado de Minas Gerais
8. Instituto de Análises Forenses – Estado do Mato Grosso do Sul
9. Laboratório de Genética Forense – Estado do Pará
10. Gerência Executiva de Laboratório Forense – Estado da Paraíba
11. Instituto de Criminalística – Estado do Paraná
12. Instituto de Pesquisa e Perícias – Estado do Rio de Janeiro
13. Laboratório de Perícias – Estado do Rio Grande do Sul
48

14. Instituto de Análises Laboratoriais – Estado de Santa Catarina


15. Instituto de Criminalística – Estado de São Paulo
16. Gerência de Biologia Molecular – Estado do Mato Grosso

Nesta primeira fase de implantação, o BD brasileiro armazenará somente perfis


genéticos obtidos de vestígios coletados em locais de crimes. A meta é que o BD logo passe a
ser alimentado também com os registros genéticos de criminosos condenados. No entanto,
faz-se necessária a aprovação de lei específica que permita a coleta de amostra biológica do
réu condenado, ou seja, que torne obrigatória a doação de material biológico para a tipificação
genética e posterior registro do perfil encontrado no BD nacional (FIGUEIREDO, 2010).
Existem projetos de lei que necessitam ser aprovados urgentemente para que o BD
esteja funcionando por completo e cumprindo seus objetivos com eficácia. O PL nº 417/2003,
de autoria do Deputado Wasny de Roure, propõe a alteração do artigo 1º da Lei nº 10.254 de 7
de dezembro de 2000 que insere o DNA para a identificação criminal, para que o indiciado
que pratica infração penal de menor gravidade ou contra os quais tenha sido expedido
mandado de prisão judicial, desde que não identificados civilmente, sejam submetidos à
identificação criminal pelos métodos datiloscópico, fotográfico e exame de DNA. O PL nº
1041/2003, de autoria da Deputada Zelinda Novaes, dispõe sobre a obrigatoriedade de coleta
de material para a elaboração do exame pericial de DNA nos crimes contra a liberdade sexual
(CUNHA, 2007).

5.9 O DNA NO BANCO DOS RÉUS

5.9.1 TIPIFICAÇÃO CRIMINAL E O TESTE EM DNA COMO A CHAVE-MESTRA


PARA CONDENAR OU INOCENTAR

Para uma determinada conduta ser considerada crime, há a necessidade de se


estabelecer a tipicidade, ou seja, deve ser prevista em lei, a ilicitude e a culpabilidade, fato de
ter sido praticada com dolo - vontade de fazê-lo, ou culpa - prática sem intenção. Neste último
caso, o fato deve ser caracterizado por requisitos essenciais: imprudência, imperícia ou
negligência, desqualificando a conduta como criminosa.
49

Assim sendo, a tipicidade é o primeiro elemento na formação de um crime, tendo que


ser comprovada uma conduta típica, prevista em lei; antijurídica, com indício de ilicitude; e
culpável, devendo-se atribuir ao praticante a responsabilidade. A tipicidade decorre de
aplicação do Princípio de Legalidade, ou seja, um fato somente poderá ser considerado crime
se há lei anterior que assim o defina.
O Exame Genético não veio somente para elucidar crimes, auxiliando a justiça a
provar a culpa dos criminosos, mas também e, principalmente, para absolver inocentes. Nos
últimos tempos, nos Estados Unidos, os exames de DNA permitiram a descoberta de um
elevado número de erros judiciais que acabaram por levar pessoas inocentes para o corredor
da morte ou, no melhor dos casos, à prisão perpétua. Jeffrey Mark Deskovic, de 33 anos,
passou quase a metade de sua vida em uma prisão de Nova York, condenado à prisão perpétua
por um crime de estupro seguido de morte que não cometeu. Um exame de DNA provou que
Deskovic não era culpado e ele conseguiu sua tão sonhada liberdade. Neste caso, felizmente
seu castigo não foi a pena de morte, comum em alguns estados americanos (CREMONESI,
2006).
Em 2004, Ryan Matthew, condenado pelo assassinato de um comerciante no Estado de
Louisiana, também nos Estados Unidos, escapou da pena de morte quando os promotores
retiraram todas as acusações com base em resultados de exames de DNA (CHEMELLO,
2007).
Na década de 80, os exames genéticos ainda eram vistos com receio pelos promotores,
hoje em dia sua aplicação e acesso demonstram que são essenciais em muitos julgamentos,
tornando-se cada vez mais aceitos, ou seja, sem dúvida o DNA introduziu mudanças drásticas
no sistema judicial em todo o mundo (CHEMELLO, 2007).
Em recente caso noticiado pela mídia televisiva norte-americana, Raynoud Towler foi
condenado à prisão perpétua, no ano de 1981, em decorrência da suposta prática dos crimes
de rapto e estupro de duas crianças no Condado de Cuyahoga. Após a realização do exame de
DNA por um laboratório texano, comprovou-se que o sêmen encontrado nas roupas das
vítimas não poderia ser de Towler. Ele ganhou a liberdade após 29 anos de prisão injusta.
Atualmente, nos Estados Unidos, a ONG (organização não governamental) Human
Rights Watch, que trabalha em prol dos direitos humanos, lançou o “Projeto Inocência”. Este
projeto lida exclusivamente com casos onde exames genéticos, posteriores às condenações,
podem resultar em provas conclusivas de inocência. Até agora 184 condenados foram
ajudados, deixando em evidência que as sentenças equivocadas não são raras e que o Exame
50

em DNA é uma excelente ferramenta para provar a inocência de indivíduos injustamente


condenados e para apontar as debilidades do sistema judiciário (CHEMELLO, 2007).
Erros judiciais não são, de forma alguma, exclusividade americana. No Brasil, há
também diversos casos que deixam expostas as falhas do nosso precário sistema judicial,
permitindo o envio de inocentes para a prisão.
No tocante ao drama sofrido por Adão Manoel Ramires, após o cumprimento de cinco
anos de prisão e a submissão a mais de dez anos de andamento do processo criminal, o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decretou a sua absolvição em relação ao crime de
estupro. O processo foi contra ele movido pelos pais da vulnerável que, em 1995, época da
condenação de Ramires, tinha 24 anos de idade e padecia de problemas físicos e mentais,
ficando inclusive grávida de gêmeos oriundos deste estupro. Com base no depoimento da
vítima e no resultado do exame de Tipagem Sanguínea, ele foi condenado. Ramires, viúvo e
pai de dois filhos, cumpriu cinco dos oito anos fixados na pena. Saiu mais cedo da prisão por
prestar serviços carcerários. Em 2001, seu defensor ingressou com a ação de justificação
judicial e o exame de DNA demonstrou a sua inocência e, com o resultado em mãos, o
advogado elaborou o pedido de revisão criminal, pleiteando a absolvição e o pagamento de
três mil salários mínimos, a título de indenização (BARROS E PISCINO, 2007).

5.9.2 CADEIA DE CUSTÓDIA - CREDIBILIDADE AO EXAME DE DNA

A Cadeia de Custódia (CC) é um processo fundamental para garantir a idoneidade,


rastreabilidade e integridade das evidências em análises forenses. Na genética forense é
utilizada para manter e documentar toda a história cronológica das amostras de referência e
questionada, rastreando a posse e o manuseio da evidência a partir da coleta, passando pelo
transporte, recebimento, armazenamento e análise, incluindo a documentação e assinatura de
todas as pessoas que tiveram contato com esta. Todas as amostras biológicas que adentram
um laboratório especializado em genética forense devem ser manuseadas de forma cautelosa,
evitando desta forma futuras alegações de adulterações ou má conduta que possam
comprometer o uso do Exame Genético como prova criminal (LOPES E BARRETA, 2006).
A garantia do perito para provar todo o processo pelo qual a amostra foi submetida é a
apresentação do registro da realização da cadeia de custódia. Se as amostras biológicas não
51

forem coletadas, documentadas e preservadas apropriadamente não possuirão valor científico


em investigações criminais.
A responsabilidade dos profissionais envolvidos na cadeia de custódia durante a
investigação criminal não tem apenas implicação legal, mas também moral, na medida em que
o destino das vítimas e dos réus depende do resultado contido nos laudos periciais (LOPES E
BARRETA, 2006).

5.10 GARANTIA DA QUALIDADE EM GENÉTICA FORENSE

Questões de garantia de qualidade são de suma importância à realização de ensaios


laboratoriais de uma forma geral, com especial ênfase aos Exames Genéticos. A qualidade do
resultado de uma análise de DNA em vestígios coletados em locais de crime dependerá do
tipo, da integridade e da preservação da amostra questionada. Nesta dinâmica estão inseridos:
técnicas adequadas para coleta, documentação da evidência, preservação da cena do crime e a
natureza e a quantidade da amostra biológica. Tais fatores gerem a Cadeia de Custódia da
evidência, permitindo que a amostra questionada possua todos os requisitos legais e
científicos para ser aceita como prova criminal diante do tribunal do júri. Qualquer mínima
quantidade de DNA estranho, que porventura se misturar às amostras em estudo no decorrer
da análise, pode ser também amplificada, tendo o potencial de interferir profundamente na
interpretação dos perfis genéticos encontrados. Portanto, a fim de evitar o questionamento
judicial das análises genéticas foram estipuladas normas (Anexo C) que regem o setor das
análises laboratoriais forenses no intuito de padronizar as técnicas e metodologias utilizadas
(ALVES, 2009).
Recentemente, houve a publicação pela Academia Íbero-Americana de Criminalística
e Estudos Forenses - AICEF de um programa de qualidade para os laboratórios forenses que
realizem o exame de DNA, visando à elaboração de recomendações que permitam normatizar
e padronizar o Teste em DNA no Brasil. Este programa descreve desde os requisitos básicos
para que um laboratório de análise forense de DNA funcione regularmente garantindo a
integridade e qualidade dos resultados, até a obrigatoriedade do fornecimento de cursos de
capacitação técnica do pessoal envolvido na rotina laboratorial. A AICEF ainda tece
considerações acerca da importância da Cadeia de Custódia, da elaboração de um
Procedimento Padrão concernente a minimizar perdas, contaminações ou troca das
52

evidências, sobre a necessidade de se guardar sempre uma quantia da amostra para segunda
prova, incluindo a preocupação com o controle efetivo dos procedimentos analíticos, a
calibração de equipamentos e instrumentos, a inserção de ações corretivas, a obrigatoriedade
de auditorias anuais e do programa de saúde ambiental e segurança no trabalho (ALVES,
2009).
A Sociedade Latino-Americana de Genética Forense (SLAGF) possui também um
excelente programa para colaborar com a melhora da qualidade dos resultados obtidos pelos
laboratórios a ele cadastrados. O conceito básico do programa é a distribuição anual e gratuita
a todos os laboratórios conveniados de um caso fictício de paternidade e outro criminal e um
caso teórico para o cálculo do índice correspondente. Cada laboratório participante se cadastra
com um número, mantendo o anonimato, e recebe três amostras de sangue, cada qual
contendo 100µl em um cartão de papel filtro, numeradas de um a três. Cabe ao laboratório a
escolha de pelo menos uma das três opções oferecidas: 1)somente tipificar as amostras;
2)tipificar e determinar se entre as amostras existe alguma relação de parentesco; ou 3)as
opções 1 e 2 acrescidas da realização de uma série de cálculos estatísticos. Os resultados são
avaliados por todos os laboratórios e serve de base para discussões que visam à melhora da
qualidade das análises de DNA. Além deste controle de qualidade, o SLAGF ainda capacita
os participantes por meio de cursos e jornadas com palestras dadas por cientistas forenses
renomeados internacionalmente (PENACINO et al, 2006).
Para garantir a qualidade dos resultados dos exames de DNA em território nacional, o
Ministério da Justiça já investiu inicialmente cerca de 2 milhões de reais para compra de
equipamentos e treinamentos, numa parceria com o Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial, o INMETRO, para a criação de um selo de qualidade
para os laboratórios da perícia criminal. O INMETRO avaliará a coleta das amostras e os
reagentes e equipamentos utilizados na rotina laboratorial, sendo este selo de suma
importância para que as conclusões da perícia brasileira sejam reconhecidas em outros países.
Este programa de metrologia forense é inédito no Brasil e já é tendência no exterior. Todos os
laboratórios certificados pela American Society of Crime Laboratory Accreditation Board, o
mais importante órgão de acreditação de laboratórios forenses, devem ter o ISO 17025 que
agora chegará ao nosso país. A participação será voluntária, por adesão (PNUD, 2009).
É necessário destacar aqui a importância dos laboratórios que prestam serviços à área
da perícia forense em se submeterem a avaliações constantes para assegurar que estejam
trabalhando com um controle de qualidade aceitável, uma vez que está em jogo a liberdade de
um inocente e a condenação sentencial do autor do crime (DOLYNSKY E PEREIRA, 2007).
53

5.11 REFLEXÕES JURÍDICAS CONCERNENTES AO USO DO DNA COMO


PROVA CRIMINAL

Atualmente vivemos em uma sociedade que se encontra às margens da justiça e o


cidadão acaba tornando-se refém do crime organizado e daqueles tantos outros crimes que são
noticiados dia após dia e chocam pelo grau de crueldade. É fato que infelizmente, em muitas
situações criminais, a legislação vigente acaba trabalhando contra a vítima e em prol do
criminoso, dando-lhe o direito de se negar a doar amostras biológicas para tipificação do
DNA (MALAGHUINI, 2006).
Contrariando o interesse público, a alínea g do §2º do artigo 8º do Pacto de São José
da Costa Rica, bem como, o inciso LXIII do artigo 5º da Constituição Federal do Brasil
garantem ao acusado ou indiciado o direito de não produzir prova contra si mesmo (nemo
tenetur se detegere), de permanecer em silêncio nos interrogatórios policiais ou judiciais e de
decidir se coopera ou não com as investigações civis ou criminais, de forma que a polícia ou a
justiça não podem imputar ao réu a realização de atos com tal finalidade. Há, portanto, um
embate entre a preservação de direitos quanto à liberdade, à honra, à intimidade e à vida
privada do indivíduo contra o poder-dever estatal de buscar a verdade e realizar a justiça
(BARROS E PISCINO, 2007).
Devido à afronta ao princípio de proporcionalidade, não há pretensão de se aplicar a
obrigatoriedade de doação de amostras à identificação genética de um indivíduo que cometeu
um delito de menor potencial lesivo. Defende-se a razoabilidade desta obrigatoriedade para
casos mais graves, de crimes violentos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo, bem como
naqueles que causem grande repercussão ou comoção social. Por fim, se o acusado se recusar
a submeter-se ao exame de DNA, sua vontade há de ser respeitada, porém, com a prévia
advertência de que a sua opção negativa induz o juiz à presunção júris tantum de veracidade
dos fatos contra si alegados, a ser levada em conta na avaliação judicial de todo o contexto
probatório. Desde a assinatura em 30 de julho de 2009 da Lei no 12.004 que alterou a de no
8.560, que regula a investigação de paternidade de filhos havidos fora do casamento, a justiça
reconhece a presunção de paternidade quando há recusa do suposto pai em se submeter ao
exame de DNA (BARROS E PISCINO, 2007).
No ano de 2002 houve o desenrolar do caso da cantora mexicana Glória Trevi que, na
época se encontrava no Brasil, presa acusada de tráfico de drogas. A cantora engravidou
enquanto ainda se encontrava detida na carceragem da Polícia Federal e acusou os servidores
54

responsáveis por sua custódia de estupro carcerário e gravidez não consentida. No entanto, a
reclamante havia determinado manifestação expressa contrária à coleta de qualquer material a
ser recolhido no momento de seu parto, que aconteceu em hospital público, sob a autorização
do Supremo Tribunal de Justiça. Foi quando o STF, em uma decisão única, expediu
autorização para a coleta da placenta da cantora a fim de realizar o exame de DNA.
Analisando os valores constitucionais neste caso, destaca-se de um lado, o direito à intimidade
e à vida privada da cantora mexicana, e de outro, o direito à honra e à imagem dos servidores
da PF como instituição pública e respeitada, atingidos pela situação constrangedora divulgada
com veemência pela mídia, o STF concluiu por afirmar a prevalência do esclarecimento da
verdade, levando em conta que o exame de DNA aconteceria sem invasão da integridade
física da requerente ou de seu filho. No final, após esta inédita decisão em nosso país, o
exame de DNA foi realizado, comprovando a inocência dos policiais federais
(MALAGHUINI, 2006).
No caso da investigação de maternidade de Roberta Jamily Martins Borges,
reconhecida como filha por Vilma Martins Costa, acusada de ter sequestrado o menino
Pedrinho em um hospital da capital goiana, também houve o auxílio da tipagem genética.
Após mais de dez anos da notificação do desaparecimento do bebê, a polícia comprovou ser
Vilma a sequestradora do garoto. Após ter sido desvendado este crime, a polícia voltou sua
atenção para a jovem Roberta, que também se encontrava registrada como sendo filha da
sequestradora, sendo que esta havia feito operação de esterilização antes do nascimento de
Roberta. Foi pedido então o exame de DNA para investigação de maternidade. No entanto, a
jovem, diferente do que ocorreu com Pedrinho, negou-se a fornecer material para a realização
do exame de DNA. Todos os envolvidos foram convocados a depor e, sendo Roberta fumante,
deixou o toco do seu cigarro no cinzeiro do Distrito Policial durante sua espera para depor.
Diante disso, o delegado recolheu o resto do cigarro de Roberta, o qual continha sua saliva, e
o encaminhou à perícia para fazer o exame de DNA. O resultado do exame confirmou que
Roberta não era filha de Vilma, a mulher que a criou, mas, sim, de Francisca. Solucionou-se a
questão sobre a verdadeira maternidade, mas o exame de DNA, obtido sem o consentimento
de Roberta, tornou-se polêmico. Alguns especialistas defenderam que houve violação do
direito à intimidade de Roberta e que a prova não poderia ser aceita no processo. Outros
argumentaram que o resto de cigarro fumado por Roberta, uma vez descartado, transformou-
se em lixo, não fazendo mais parte do seu corpo. No desfecho deste caso, o exame de DNA
foi considerado prova nos autos e Vilma foi condenada pelos sequestros de Pedrinho e de
Roberta (PARADELA E FIGUEIREDO, 2008).
55

Entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010 processou-se na cidade de Luziânia, interior


do estado de Goiás, um intrigante caso de desaparecimento de adolescentes. Na realidade foi
constatado que os menores haviam sido vítimas de abuso sexual seguido de morte, crimes
estes confessados pelo pedreiro Ademar de Jesus. Ademar, que já possuía antecedentes
criminais por pedofilia, havia sido condenado em Brasília no ano de 2005 a 14 anos de prisão.
No entanto, foi solto e após apenas sete dias de liberdade, já em Luziânia, voltou a praticar
seus crimes sexuais (MORANA, 2010). Com a obrigatoriedade da doação de amostras para a
tipificação genética por parte do condenado e a ação do sistema interligado, seria possível
identificar o assassino pelos crimes cometidos em outros estados, no caso do pedreiro
Ademar, a Bahia.
No ano de 1999, a PF invadiu uma fazenda no estado do Tocantins e realizou umas
das maiores apreensões de cocaína do país. O traficante Antônio da Graça Motta acabou
sendo preso com sete toneladas da droga avaliadas em mais de 50 milhões de reais. À época, a
CPI do Narcotráfico chegou a investigar, sem sucesso, o suposto envolvimento do ex-
governador do Acre Orleir Cameli e de empresários da região com o tráfico de drogas. Nestes
casos que envolvem apreensão de drogas o sistema de cruzamento de dados de DNA é de
extrema utilidade também. Através da coleta de vestígios deixadas no local onde a droga
estava armazenada, logo após a sua apreensão é possível determinar os perfis genéticos de
quem esteve em contato com os papelotes ou pacotes. O sistema interligado permitiria
identificar o traficante em qualquer estado brasileiro (CUNHA, 2007).
Além de todas as implicações de caráter ético e legal, há outras questões de
importância no tocante à prova de DNA pelos tribunais, tais como a dificuldade que
magistrados e advogados encontram ao adentrar neste fascinante e insondável mundo da
perícia especializada, com intrincados e complexos métodos e técnicas, tanto no que se refere
à interpretação analítica dos dados obtidos, quanto aos procedimentos em si. O julgador deve
compreender que a interpretação correta desses valores não é algo intuitivo e exige
aprofundado estudo acerca do assunto, devendo ficar sob a responsabilidade de peritos
competentes e legalmente nomeados. Deve-se também tomar conhecimento do valor
probalístico dos testes de identificação genética (FRANÇA, 2008).
56

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o primeiro caso criminal elucidado com o auxílio do Exame de DNA, em 1986,
conhecido pelas cortes internacionais como Caso Leicester, onde o geneticista Alec Jeffreys
utilizou a análise de VNTR com sondas multilocais (MLP) por Southern Blotting para provar
a autoria de dois crimes sexuais, a Genética Forense evoluiu sobremaneira acompanhando os
avanços da ciência contemporânea.
A análise do DNA, indubitavelmente constitui meio de prova eficaz para o
descobrimento da verdade nas investigações forenses, quer seja para auxiliar na elucidação de
casos cíveis, com ênfase à investigação de paternidade e maternidade, ou para a produção de
provas em processos penais, sendo um dos meios mais seguros para desvendar crimes que
aparentemente não deixam vestígios, estando desta maneira, apta a confirmar ou excluir a
autoria de crimes diversos, rejeitando falsas imputações. O Teste em DNA ainda propicia o
estabelecimento de vínculo genético aplicado à identificação humana de vítimas de acidentes
em massa com incomparável grau de confiabilidade. Assim, o Exame Genético desponta
como a mais importante ferramenta investigativa desenvolvida no século XX.
Toda atividade humana está propensa a falhas. No decorrer de todo o processo de
Identificação Humana há potenciais fontes de erro, desde a coleta da evidência, passando pelo
transporte, armazenamento, análise, interpretação dos dados obtidos com o cálculo correto das
frequências populacionais dos marcadores genéticos envolvidos e até mesmo alguma falha
concernente a uma má elaborada Cadeia de Custódia. Qualquer contaminação exógena, quer
seja na cena do crime ou no manuseio das amostras biológicas dentro do laboratório, pode
originar profundas alterações no DNA estudado. Por isso é necessário que o laboratório
especializado siga as recomendações da SENASP/MJ e também se cadastre em um programa
de controle de qualidade, bem como busque a Acreditação. Existem entidades acreditadoras
nacionais (INMETRO, PNCQ, ONA) e também internacionais (CAP – College of American
Pathologists, AABB – American Association of Blood Banks e ASCLAD – American Society
of Crime Lab Directors), sendo que ambas para emitirem o Selo de Acreditação fazem
vistorias regulares ao laboratório, exigindo que este siga fielmente as recomendações
constantes na Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005. É importante que o laboratório
direcionado para a genética forense passe por inspeções frequentes para garantir a qualidade
dos serviços prestados. Aqui é conveniente destacar que um dos objetivos da análise pericial
57

do DNA é auxiliar na condenação ou absolvição de suspeitos, portanto, as análises devem ser


tratadas com a devida circunspecção.
Nosso país vive um momento de crescimento notável na área da Genética Forense
com a oficialização da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), poderosa
ferramenta de segurança pública que, com a concessão do CODIS, passa a armazenar
inicialmente perfis genéticos obtidos de vestígios coletados em locais de crime. A meta é que
o BD logo passe a ser alimentado também com perfis de criminosos condenados. No entanto
faz-se necessária a aprovação de lei especifica que torne obrigatória a doação de material
biológico para a realização de Teste em DNA, para posterior registro do perfil encontrado no
BD nacional. Este tema tem gerado muita polêmica e tem suscitado acalorosos debates no
meio jurídico.
A Segurança Pública do Brasil conta atualmente com o auxílio de um dos mais
avançados mecanismos para elucidação de crimes violentos composto por um software que
integra informações dos estados com a PF e, consequentemente, com a INTERPOL –
Organização Internacional da Polícia Criminal. Os outros países que estão integrados por
intermédio do CODIS podem também buscar entre si informações pertinentes a criminosos
que estejam fora do território nacional.
Houve, portanto, um enorme investimento em tecnologia para que o BD pudesse ser
implantado. Agora resta aguardar pela aprovação de alguns projetos de leis que perambulam
pelo Senado Federal concernentes à regulamentação do Exame de DNA, principalmente no
que se refere à imputação ao suspeito de um crime de sua colaboração com o processo de
investigação. Em outros países como os EUA, há tempos o sistema judicante conta com o
apoio do exame genético completamente regulamentado e fundamentado legalmente, sendo
que na maioria dos estados americanos há a obrigatoriedade da doação da amostra biológica
do investigado para obtenção do respectivo perfil genético e posterior registro no BD,
facilitando as investigações, principalmente em casos de crimes cometidos pelo mesmo
criminoso já anteriormente condenado. Infelizmente, estes casos de reincidência não são
incomuns em terras americanas nem em solo brasileiro.
Definitivamente, a importância dos BD de perfis genéticos criminais no âmbito
forense é inquestionável. Portanto, há uma necessidade soberana de haver conciliação entre
direitos individuais e coletivos. Frente ao imenso número de crimes violentos, com destaque
aos de natureza sexual e à crescente pedofilia que assola nossas crianças e assombra cada vez
mais lares brasileiros, há de se esperar mudanças radicais e urgentes na legislação vigente,
58

como uma forma de resposta à inquietude da comunidade perante a um sistema legal tão
arcaico e, na grande maioria das vezes, injusto.
59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.fleury.com.br//Medicos/SaudeEmDia/Artigos/Pages/PCRQuantitativoemTempo
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como requisito à obtenção de título de pós-graduação lato sensu em “Ordem Jurídica e
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65

ANEXOS

ANEXO A. Tabela com alguns dos Microssatélites mais utilizados atualmente na tipagem do
DNA

MICROSSATÉLITES ORIGEM DO MARCADOR


CSF1PO CODIS
D7S820 CODIS
D8S1179 CODIS
D21S11 CODIS
D2S1338 NÃO-CODIS
D3S1358 CODIS
TH01 CODIS
D13S317 CODIS

D16S539 CODIS

TPOX CODIS

Vwa CODIS

D18S51 CODIS

D19S433 NÃO-CODIS
FGA CODIS
D5S818 CODIS
PENTA D NÃO-CODIS
PENTA E NÃO-CODIS
66

ANEXO B. GRUPO FAMILIAR - Perfis Genéticos obtidos para os marcadores


microssatélites analisados nas amostras biológicas de Trio de Paternidade (Mãe, Criança,
suposto Pai).

AMOSTRA
Criança Suposto Pai
MARCADOR Mãe

D8S1179 13 16 11 13 11 14

D21S11 28 29 29 29 29 30

D7S820 11 11 10 11 8 10

CSF1PO 10 14 7 10 7 9

D3S1358 14 18 14 16 16 17

TH01 8 9 7 8 7 7

D13S317 9 11 10 11 10 12

D16S539 11 11 10 11 10 13

D2S1338 19 23 16 23 16 25

D19S433 14 14 11 14 11 13

vWA 16 16 16 17 17 18

TPOX 9 11 6 9 6 12

D18S51 14 21 14 16 16 19

D5S818 12 12 12 13 11 13

FGA 21 24 21 24 23 24

Amelogenina X X X X X Y

Alelo paterno-obrigatório – Azul IP-


246.258.469.985
Alelo materno-obrigatório – Rosa
PP-
99,9999999996%
67

ANEXO C. Algumas recomendações concernentes às técnicas e metodologias aplicadas ao


Setor de Análises Laboratoriais Forenses, dadas pela Secretaria Nacional de Segurança
Pública vinculada ao Ministério da Justiça (SENASP/MJ):

1) Objetivos
a) Assegurar a qualidade, integridade e segurança em exames periciais envolvendo a
utilização de DNA;
b) Estabelecer os procedimentos para condução da perícia criminal, análise e
apresentação de resultados para a investigação criminal;
c) Estabelecer os requisitos para os laboratórios de genética forense, bem como a
qualificação dos peritos que neles realizarão as perícias baseadas em DNA.
2) Coleta e Custódia de Amostras e Instalações Ambientais
a) Coleta
i) Os procedimentos de coleta e as análises iniciais deverão ser padronizados, através
de manuais de coleta;
ii) Em casos de crimes sexuais, deve-se coletar pelo menos dois suabes de algodão
(haste plástica) de cada cavidade (vaginal, anal e /ou bucal). É aconselhável que
cada Estado formalize, em dispositivo legal, os aspectos técnicos relacionados à
coleta, preservação e custódia de amostras para exames de DNA.
iii) Todos os laboratórios devem ter um termo de consentimento informado,
dispondo sobre os objetivos da coleta de material biológico de pessoas vivas, de
acordo com modelo a ser definido posteriormente;
iv) Os manuais de coleta devem conter especificações sobre a embalagem, o
transporte e armazenamento de amostras biológicas;
v) Todas as pessoas que participarem da custódia de amostras para exames de DNA,
desde a coleta até a realização do exame, devem ser preparadas tecnicamente em
procedimentos de coleta, acondicionamento, transporte e conservação de amostras
biológicas. A preparação ou treinamento específico deverá estar inserido dentro dos
cursos de formação a serem ministrados pelos laboratórios que integram a Rede
Nacional de Genética Forense (ver item 6).
b) Custódia
i) Os materiais e resultados obtidos a partir de amostras de evidências criminais
devem ser organizados e armazenados adequadamente, pelo menos, até o fim do
processo (julgamento);
ii) A amostra bruta ou fração útil da mesma, e/ou DNA extraído, devem ser
preservados para contraprova. As amostras devem ser armazenadas adequadamente
com o objetivo de evitar a degradação;
68

iii) A armazenagem das amostras deve ser definida com a ajuda da SENASP, através
de consulta ao poder judiciário, tendo em vista a falta de normas, tanto em nível
federal quanto estadual, sobre o prazo mínimo de armazenagem;
iv) A cadeia de custódia deve ser o mais curta possível, a fim de evitar a
possibilidade de troca de amostras ou de degradação do material;
v) Preferencialmente, o perito que coleta as amostras não deve ser o mesmo que
realiza os exames de DNA;
vi) Os laboratórios devem manter um sistema documentado de controle de vestígios,
evidências e/ou amostras, que assegure sua integridade;
vii) Recomenda-se que os técnicos e/ou peritos que trabalhem em exames de DNA
forense disponibilizem uma alíquota do seu próprio material genético para
genotipagem e sequencimento de DNA mitocondrial, quando este for de uso no
âmbito do laboratório.
c) Instalações Ambientais
i) O desenho e instalações dos laboratórios devem respeitar as normas de segurança
e minimizar os riscos de contaminação;
ii) O acesso e uso das áreas de análises devem ser controlados de modo apropriado
aos fins a que estão destinados;
iii) Recomenda-se que os laboratórios disponham de áreas de trabalho separadas,
com área para manejo de evidências e armazenamento de materiais, área de
extração, área para PCR, área de extração de amostras mínimas e área para Pós-
PCR. Como área mínima, os laboratórios devem conter: área de extração de DNA,
área de “pré-PCR” e área de “pós-PCR” (BONACCORSO, 2004)

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