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A Biogenética e o Agronegócio: Análise da destruição do laboratório

da Aracruz celulose pelo movimento de mulheres

Frei Gilvander Luiz Moreira

No dia 20 de janeiro de 2006, a Aracruz Celulose mobilizou helicópteros,


bombas, armas, tratores e 120 agentes da Polícia Federal, para destruir duas aldeias e
expulsar 50 pessoas dos povos indígenas Tupiniquim e Guarani de sua terra tradicional,
no município de Aracruz, Espírito Santo. Na mídia, não se viu nenhuma mãe
Tupiniquim ou Guarani com seus filhos chorando, nenhum ministro do Governo
condenando a ação, ou mesmo o dono da empresa lamentando a violência. A Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) elaborou um parecer em que afirma que 14 mil hectares de
terras invadidas pela multinacional Aracruz Celulose no Espírito Santo pertencem aos
índios Tupiniquim e Guarani, que habitam a região. O ministro da Justiça, Tarso Genro,
assinou e mandou publicar, dia 28 de agosto de 2007, no Diário Oficial da União,
portaria que demarca e garante a posse permanente aos indígenas das áreas Tupiniquim
e Guarani de terras localizadas no município de Aracruz, no Espírito Santo. São 14.227
hectares tradicionalmente ocupados pelos dois povos que, no final da década de 1960,
haviam sido invadidos pela transnacional Aracruz Celulose, que os utilizavam para a
monocultura de eucalipto.
No dia 08 de março de 2006, Dia Internacional da Mulher, mais de mil mulheres
da Via Campesina ocuparam um centro de pesquisa da Aracruz Celulose, no Rio
Grande do Sul. Destruíram 1.000.000 de mudas de eucalipto e danificaram “pesquisas”
que fortaleceria a monocultura do eucalipto, pau reto que entorta a vida do povo.
A mídia, latifúndio da comunicação, esbravejou contra as Mulheres condenando-
as. Mostrou dezenas de vezes uma pesquisadora da Aracruz chorando. Lideranças se
posicionaram. Vandalismo? Violência? Arruaça? Atentado à democracia? (Que tipo de
democracia?) Antipetismo? (Petismo do início do PT ou o de agora?). As expressões
acima foram bombardeadas contras as Mulheres, mas é necessário perguntar: Quem, de
fato, praticou vandalismo, violência, arruaça? Quem atentou contra a democracia? As
Mulheres ou a Aracruz? Diga o que tu fazes, que direi quem tu és.
A Aracruz Celulose S/A é uma multinacional controlada por 4 acionistas
majoritários que detém o direito a voto: Grupo Lorens (28%), Banco Safra (28%),
Votorantin (28%) e BNDES (12,5%); com a monocultura do eucalipto, já transformou o
Espírito Santo em um “deserto verde” e foi “laboratório” para treinar os 300 mil homens
que, com 300 mil motos-serras, podem desmatar 40% da floresta Amazônica até 2050,
76% do Mato Grosso e 97% do Maranhão. (cf. MEDEIROS, Rogério, Ruschi, o
agitador ecológico, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1995; e FSP, 23/03/2006, p. A17).
Nos últimos três anos só a Aracruz Celulose, que tem cerca de 250 mil hectares de
eucalipto no Brasil, recebeu do governo brasileiro quase 2 bilhões de reais. Em
dezembro de 2005, foi aprovado empréstimo de quase 300 milhões de reais pelo
BNDES à Aracruz que, entre outros, servirá para modernização da sua fábrica de
celulose no Rio Grande do Sul. O prazo de carência desses créditos do BNDES é de 21
meses, só a partir daí começam as amortizações do empréstimo, cujos prazos chegam a
84 meses. Tudo isso a juros de 2% ao ano, enquanto as taxas de juros praticadas no
Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF) vão até 8,75% ao ano! O
BNDES também emprestou US$ 318 milhões para a construção da fábrica da Veracel
(empresa da Aracruz Celulose e Stora Enso, sueco-filandesa – são concorrentes, mas ao
mesmo tempo sócias - alguém entende?), na Bahia.
A Aracruz teve lucro líquido de R$ 1,2 bilhão em 2005. Suas más ações vão desde
a expropriação de terras indígenas até a desertificação “produtiva” que solapa a natureza
para gerar lucros para uns poucos. E isso com a participação ativa de instituições do
governo como BNDES tendo a polícia federal como guardiã e o judiciário como
cúmplice.
Mais de 90% da celulose produzida pela Aracruz é exportada, principalmente
para os Estados Unidos, que consomem 9 vezes mais papel que os brasileiros. Já são 5
milhões de hectares de monocultura de eucalipto no Brasil, 52,6% em Minas Gerais1. O
eucalipto, originário da Austrália, é um vampiro das águas. Tem raiz vertical do
tamanho da árvore. Chupa as águas superficiais e as mais profundas. Com tronco reto,
cascas e folhas finas, suga a água com facilidade e não a retém. No cerrado, onde as
árvores são retorcidas, com cascas e folhas grossas, a água é retida e forma a conhecida
“caixa d’água do Brasil. “As plantas do cerrado dispensam as folhas na época da seca.
Assim economizam água e fertilizam o chão”, diz dona Ermelinda, uma geraizeira. O
“deserto verde” da monocultura do eucalipto tem causado um êxodo rural violento, a
expulsão familiar do campo, além de incontáveis impactos ambientais: a biodiversidade
destruída, os solos empobrecidos, rios secos, sem contar a enorme poluição gerada pelas
fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana.
Há 506 anos, "ciclos" históricos de monoculturas mantêm o povo do Brasil em
situações análogas à escravidão (pau Brasil, borracha, cana-de-açúcar, ouro, café,
minério, soja, eucalipto). Pressionado por ONGs ambientalistas, o Ministério Público
instaurou inquérito contra três grandes indústrias de celulose que estão se instalando no
Rio Grande do Sul, a Votorantin, a Aracruz e a Stora Enso. Isso porque elas estão
plantando sem licenciamento ambiental.
“As Mulheres camponesas, pela sua ação disseram que o agronegócio de papel e
celulose é espinheiro e abrolhos que não garantem uso social e ecológico da terra e da
água. A expansão da monocultura da celulose quer inviabilizar a necessidade da
reforma agrária e agrícola no Brasil. Não produz alimento. Ninguém come eucalipto.
Não gera emprego proporcional à quantidade de terra utilizada. Não garante uma
relação responsável com o ambiente inteiro. Não distribui riqueza, fazendo do Brasil um
ponto subordinado - também na área da pesquisa! - no quadro internacional do capital
papeleiro. As necessidades infindáveis e insustentáveis de consumo de papel e
derivados no capitalismo têm como referência os padrões de uma burguesia mundial
que precisa demais do papel porque escreve demais! Embrulha demais! Empacota
demais! Compra demais! Gasta demais! Faz propaganda demais! Este modelo absurdo
de consumo não vai ser imposto ao campesinato mundial”, profetisa a pastora Nancy
Cardoso Pereira.
O papel higiênico, as fraldas, os jornais, os livros, o material de propaganda e as
embalagens das milhares de mercadorias do Primeiro Mundo dependem da nossa terra,
da nossa água e do nosso clima para existir. Expandir a produção de celulose alimenta
este padrão insustentável de consumo que depende da exploração da natureza de uma
região do planeta, o sul pobre, para manter o padrão de vida de outro, o norte rico. As
plantações de eucalipto alimentam as carvoarias, onde há trabalho escravo, e saciam a
fome das caldeiras das siderúrgicas que exigem mineração que detonam com as
nascentes e lençóis freáticos.
No Dia Internacional da Mulher, as Mulheres camponesas, com um espírito
profético, usaram a força simbólica contra a violência estrutural de uma empresa que
pensa poder, impunemente, comprar a vida das pessoas e transformar a terra em

1
Cf. Instituto de Desenvolvimento Integrado - INDI - (2003).
mercadoria. O gesto das companheiras do MST e Via Campesina convida a todos,
homens e mulheres, comprometidos com a justiça e a defesa da Terra a continuar esta
marcha profética e aprofundar a invasão simbólica de tudo o que pertence ao povo e
dele foi roubado, em nome do dinheiro e do progresso mentiroso.
“A ação das Mulheres da Via Campesina, na Aracruz, está em consonância com
as ações de Gandhi e Martin Luther King Jr., mártires dos oprimidos. Elas e eles
fizeram desobediência civil: desafio a leis injustas sem agredir pessoas. Como gesto
extremo, querem acordar consciências anestesiadas que são cúmplices de sistemas
opressivos. A não-violência de Gandhi e Luther King não diz respeito às coisas, mas,
sim, às pessoas humanas”, pontua Plínio de Arruda Sampaio (FSP, 24/03/2006, p. A3).
O boicote do sal e do tecido inglês na Índia, o dos ônibus segregacionistas no Sul dos
Estados Unidos e tantos outros movimentos de desobediência civil em todo o mundo
causaram grandes prejuízos materiais aos capitalistas, mas trouxeram conquistas para a
humanidade.
As Mulheres camponesas foram compelidas a realizar um gesto extremo, pois não
estão sendo ouvidas, por isso vivem um drama há muito tempo. Se a Reforma Agrária
fosse feita pra valer e o ambiente estivesse sendo preservado, se as cartas e os
documentos por elas, cuidadosamente, elaborados e apresentados, tivessem sido
acolhidos, não existiria Aracruz destruindo como está. Não precisaria das mulheres
destruírem um milhão de mudas de eucalipto. Todo o povo brasileiro viveria mais feliz.
Para os capitalistas, a terra, as águas, as sementes, o ar, as matas, a justiça e o
direito também, são recursos que devem ser explorados conforme seus interesses
econômicos. Para as Mulheres camponesas, estes elementos da natureza são dádivas e
base da vida, não tem preço e jamais podem ser mercantilizados. Para as Mulheres
camponesas a terra deve cumprir função social não comercial, deve alimentar a vida,
não os lucros. Defendem a agricultura familiar que produz 70% dos alimentos da mesa
do povo brasileiro; é a que mais emprega no campo; fixa o homem ao campo;
desenvolve agricultura ecológica; preserva a biodiversidade; respeita a pluralidade
cultural das populações; gera trabalho, renda e dignidade para a população.
“O que fere a consciência democrática de todos os brasileiros” é a redução
violenta da biodiversidade, a exterminação da fauna e da flora brasileiras, a diminuição
do volume de água nos locais do plantio, a contaminação do solo, da água dos rios e
córregos pelo uso exagerado de herbicidas e outras substâncias tóxicas, provocando um
grande desequilíbrio biológico com a infestação de pragas que atingem as residências e
as produções agropecuárias da população vizinha ao eucaliptal. O conflito está
estabelecido: De um lado, um Movimento de Mulheres que estão grávidas de Um Outro
Brasil, justo e solidário; De outro, uma transnacional que explora, expulsa e destrói a
saúde de trabalhadores (as), acaba com o ambiente, concentra terra, renda e riquezas em
nome da tecnologia e da modernidade. De que lado vamos ficar? As Mulheres foram,
não às mudas, mas à raiz do problema. O que fascina no gesto simbólico delas é a lição
de que não precisamos e não devemos tolerar o desterro produzido em nosso próprio
país. É preciso olhar toda a criação como um bem comum e do qual a humanidade é
apenas um dos parceiros, não sua proprietária. As Mulheres nos dão impressionante
recado de que a sobrevivência da espécie não pode ocorrer às custas de tantas vidas e
tanta destruição.
O Deus da vida e da esperança está nas Mulheres em movimento e no Movimento
das mulheres.

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