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Cf. Instituto de Desenvolvimento Integrado - INDI - (2003).
mercadoria. O gesto das companheiras do MST e Via Campesina convida a todos,
homens e mulheres, comprometidos com a justiça e a defesa da Terra a continuar esta
marcha profética e aprofundar a invasão simbólica de tudo o que pertence ao povo e
dele foi roubado, em nome do dinheiro e do progresso mentiroso.
“A ação das Mulheres da Via Campesina, na Aracruz, está em consonância com
as ações de Gandhi e Martin Luther King Jr., mártires dos oprimidos. Elas e eles
fizeram desobediência civil: desafio a leis injustas sem agredir pessoas. Como gesto
extremo, querem acordar consciências anestesiadas que são cúmplices de sistemas
opressivos. A não-violência de Gandhi e Luther King não diz respeito às coisas, mas,
sim, às pessoas humanas”, pontua Plínio de Arruda Sampaio (FSP, 24/03/2006, p. A3).
O boicote do sal e do tecido inglês na Índia, o dos ônibus segregacionistas no Sul dos
Estados Unidos e tantos outros movimentos de desobediência civil em todo o mundo
causaram grandes prejuízos materiais aos capitalistas, mas trouxeram conquistas para a
humanidade.
As Mulheres camponesas foram compelidas a realizar um gesto extremo, pois não
estão sendo ouvidas, por isso vivem um drama há muito tempo. Se a Reforma Agrária
fosse feita pra valer e o ambiente estivesse sendo preservado, se as cartas e os
documentos por elas, cuidadosamente, elaborados e apresentados, tivessem sido
acolhidos, não existiria Aracruz destruindo como está. Não precisaria das mulheres
destruírem um milhão de mudas de eucalipto. Todo o povo brasileiro viveria mais feliz.
Para os capitalistas, a terra, as águas, as sementes, o ar, as matas, a justiça e o
direito também, são recursos que devem ser explorados conforme seus interesses
econômicos. Para as Mulheres camponesas, estes elementos da natureza são dádivas e
base da vida, não tem preço e jamais podem ser mercantilizados. Para as Mulheres
camponesas a terra deve cumprir função social não comercial, deve alimentar a vida,
não os lucros. Defendem a agricultura familiar que produz 70% dos alimentos da mesa
do povo brasileiro; é a que mais emprega no campo; fixa o homem ao campo;
desenvolve agricultura ecológica; preserva a biodiversidade; respeita a pluralidade
cultural das populações; gera trabalho, renda e dignidade para a população.
“O que fere a consciência democrática de todos os brasileiros” é a redução
violenta da biodiversidade, a exterminação da fauna e da flora brasileiras, a diminuição
do volume de água nos locais do plantio, a contaminação do solo, da água dos rios e
córregos pelo uso exagerado de herbicidas e outras substâncias tóxicas, provocando um
grande desequilíbrio biológico com a infestação de pragas que atingem as residências e
as produções agropecuárias da população vizinha ao eucaliptal. O conflito está
estabelecido: De um lado, um Movimento de Mulheres que estão grávidas de Um Outro
Brasil, justo e solidário; De outro, uma transnacional que explora, expulsa e destrói a
saúde de trabalhadores (as), acaba com o ambiente, concentra terra, renda e riquezas em
nome da tecnologia e da modernidade. De que lado vamos ficar? As Mulheres foram,
não às mudas, mas à raiz do problema. O que fascina no gesto simbólico delas é a lição
de que não precisamos e não devemos tolerar o desterro produzido em nosso próprio
país. É preciso olhar toda a criação como um bem comum e do qual a humanidade é
apenas um dos parceiros, não sua proprietária. As Mulheres nos dão impressionante
recado de que a sobrevivência da espécie não pode ocorrer às custas de tantas vidas e
tanta destruição.
O Deus da vida e da esperança está nas Mulheres em movimento e no Movimento
das mulheres.