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Tendências da Hermenêutica Pentecostal

Esta é uma parte da série de palestras sobre Hermenêutica Pentecostal dada no


Seminário de Teologia das Assembleias de Deus, Springfield, Missouri.

Por Roger Stronstad

Em 01 de janeiro de 1901, o movimento pentecostal nasceu. O mundo foi um berçário


para o novo século; a cidadezinha do meio-oeste chamada Topeka, no Kansas, foi o
berçário para o nascimento de um novo movimento. O século 20 nasceu para a
celebração pública; o movimento pentecostal nasceu nas experiências individuais de
um membro de uma pequena reunião de oração privada na Escola Bíblica Betel.
Embora o movimento pentecostal tenha se iniciado em humilde anonimato, hoje, com
pouco mais de uma década antes de chegar ao seu centenário, ele cresceu e se tornou
em uma grande força para a cristandade.

A Tradição do Pentecostalismo Clássico: Uma hermenêutica


"Pragmática"

Charles F. Parham: Origens da Hermenêutica "Pragmática"

Assim como Martinho Lutero é a fonte do luteranismo, João Calvino da teologia


reformada, e João Wesley da Igreja Metodista, assim Charles F. Parham é a fonte do
pentecostalismo. Parham não foi o primeiro a falar em línguas. Em certo sentido, a
honra vai para a senhorita Agnes N. 0zman.1 Em outro sentido, o nascimento do
movimento pentecostal é o clímax do crescente volume de experiências entre os

1
Mrs. Charles F. Parham, The Life of Charles F. Parham Founder of the Apostolic Faith Movement
(Joplin, Mo.: Hunter Printing Company, 1930), 52,53,65–68.
vários avivamentos e movimentos de Fé Apostólica.2 O que fez Charles F. Parham o pai
do pentecostalismo e de Topeka, Kansas, o foco do pentecostalismo, e Ozman Agnes, a
primeira pentecostal, não foi a singularidade desta experiência, mas a nova
compreensão bíblica/hermenêutica dessa experiência.

Charles F. Parham legou ao movimento pentecostal a sua hermenêutica definitiva e,


consequentemente, a sua teologia e apologética definitiva. Sua contribuição surgiu do
problema da interpretação do segundo capítulo de Atos e da sua convicção de que a
experiência cristã do século 20 "deveria corresponder exatamente com a Bíblia,
[porém], nenhuma santificação nem unção existente... correspondia com o capítulo 2
de Atos dos Apóstolos."3 Assim ele relata: "Eu ponho os alunos para estudar
diligentemente sobre qual é a evidência bíblica do batismo no Espírito Santo para que
possamos ir diante do mundo com algo que seja irrefutável, pois corresponde
absolutamente com a Palavra."4 Ele conta os resultados da sua busca com as seguintes
palavras: "Deixando a escola por três dias nesta tarefa, fui para a cidade do Kansas
para três dias de cultos. Voltei para a escola na manhã anterior ao culto da Vigília
Noturna do ano de 1900."

"Por volta das 10:00 horas da manhã, tocou a campainha chamando todos os alunos à
capela para obter o relatório deles sobre o assunto. Para meu espanto, todos tinham a
mesma história, que, apesar de várias coisas estarem ocorrendo quando caiu a benção
pentecostal, a prova irrefutável em cada ocasião era que eles falaram em outras
línguas ".5

No relato de Parham encontramos a distinção essencial do movimento pentecostal, ou


seja, (1) a convicção de que a experiência contemporânea deve ser idêntica ao
cristianismo apostólico, (2) a separação entre batismo no Espírito Santo e santificação
2
J. Philip Newell, “Scottish Intimations of Modern Pentecostalism: A.J. Scott and the 1830 Clydeside
Charismatics,” Pneuma, Vol. 4, No. 2 (1982): 1–18, Newell inicia o seu artigo com o seguinte relato: “Em
28 de Março de 1830, Mary Campbell, uma jovem devota escocesa de Clydeside, durante um ato de
oração comunitária em sua própria casa, falou em ‘uma língua desconhecida.’ Mary e aqueles que
ouviram isso, acreditaram ser o ressurgimento do dom apostólico de línguas.” Sobre a história da igreja
Católica Apostólica do mesmo período veja Larry Christensen, “Pentecostalism’s Forgotten Forerunner,”
em Aspects of Pentecostal-Charismatic Origins, editado por Vinson Synan (Plainfield, N.J.: Logos
International, 15–37. Compare Harold Hunter, “Spirit-Baptism and the 1896 Revival in Cherokee County,
North Carolina,” Pneuma, Vol. 5, No. 2 (1983): 1–17, Donald W. Dayton, “From ‘Christian Perfection’ to
the ‘Baptism of the Holy Ghost,’ ” Melvin E. Dieter, “Wesleyan Holiness Aspects of Pentecostal Origins:
As Mediated Through the 19th-Century Holiness Revival,” e William W. Menzies, “The Non-Wesleyan
Origins of Pentecostal Movement,” em Synan, Aspects, 40–98.
3
Parham, Life, 52.
4
Ibid.
5
Ibid.
(os movimentos de santidade já haviam separado isso da conversão/iniciação), e (3)
que o falar em línguas era a evidência irrefutável ou prova do batismo no Espírito
Santo.

A descoberta de que o falar em línguas era a prova bíblica irrefutável do batismo no


Espírito Santo, foi confirmada no dia seguinte, a experiência de uma aluna da Escola
Bíblica Betel, Agnes Ozman. Ela testificou que: "O espírito de oração estava sobre nós
durante a noite. Era quase sete horas do dia primeiro de Janeiro, quando veio em meu
coração pedir ao irmão Parham para colocar as suas mãos sobre mim, para que eu
pudesse receber o dom do Espírito Santo. Quando as suas mãos foram impostas sobre
a minha cabeça, então o Espírito Santo desceu sobre mim e comecei a falar em outras
línguas, glorificando a Deus. Falei em várias línguas, era claramente manifesto quando
um novo dialeto estava sendo falado."6

Agnes Ozman foi a primeira, mas não a última pessoa a falar em línguas na Escola
Bíblica. Em 03 de Janeiro de 1901, outros alunos, e até mesmo o próprio Parham,
falaram em línguas. Quando questionado sobre a sua experiência, a senhorita Ozman
"apontou-lhes as referências bíblicas, mostrando que [ela] tinha recebido o batismo de
acordo com Atos 2.4 e 19.1-6."7

Assim, na semana que encerrou a temporada de Natal de 1900 e do Ano Novo de


1901, as línguas foram identificadas como a evidência bíblica do batismo no Espírito e
foram confirmadas pela experiência contemporânea (século 20). Essa identificação das
línguas bíblicas e da experiência carismática contemporânea ocorreu por causa de uma
hermenêutica pragmática. Essa hermenêutica pragmática passou para o recente
movimento pentecostal como uma "tradição oral". Essa tradição foi posteriormente
"recebida" pelo conselho das igrejas e codificada em declarações doutrinais.

Como resultado dessa codificação da hermenêutica e teologia de Parham, a


hermenêutica pentecostal permaneceu em um vácuo analítico por boa parte da sua
breve história. Na verdade, a hermenêutica pentecostal tem sido mais exposta do que
investigada e analisada. Contudo, essa hermenêutica pragmática tornou-se o baluarte
da apologética pentecostal e o pilar do pentecostalismo clássico, que, embora possa
ser articulada com maior clareza, elegância e sofisticação, manteve-se inviolada até
recentemente.

6
Ibid., 66.
7
Ibid.
Carl Brumback: Um Exemplo de Hermenêutica Pentecostal Clássica "Pragmática"

Assim como o fogo é impulsionado pelo vento através da pradaria seca, assim, nas
décadas seguintes aos decisivos eventos na Escola Bíblica Betel, os ventos do Espírito
varreram as chamas do pentecostes sobre os corações espiritualmente secos. O
recente avivamento pentecostal avançou e cresceu, tornando-se rapidamente mais
internacional do que a tábua das nações do primeiro pentecostes cristão (Atos 2.9-11).
O avivamento espalhou-se rapidamente a partir do Kansas e Missouri, até o Texas e
Califórnia.8 E dali para os confins da terra. Contrariamente às expectativas e desejos da
maioria do incipiente movimento, ele coligou-se em várias estruturas
denominacionais. Depois de 50 anos ele foi cautelosamente admitido na principal
corrente do evangelicalismo.9 Através desse caleidoscópio de variedades que
caracteriza o pentecostalismo localmente, nacionalmente e até mesmo
internacionalmente, um aspecto permaneceu constante - a hermenêutica pragmática
que olhou para o pentecostes como o padrão para a experiência contemporânea.

Escrevendo sobre o meio caminho andado entre o início do movimento pentecostal


até o presente, um expositor declarou: "Cremos que a experiência dos cento e vinte
em Atos 2.04 - 'E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras

8
Veja o capítulo 3, “The Revival Spreads to Los Angeles (1901–1906,” em William W. Menzies, Anointed
to Serve (Springfield, Mo.: 1971), 41–59.
9
Veja o capítulo 9, “Cooperation: From Isolation to Evangelical Identification,” em Menzies Anointed,
177–227.
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem' é o padrão bíblico para
os crentes de toda era da igreja."10

Essa afirmação foi escrita por Carl Brumback, a quem escolhi como um exemplo de
hermenêutica pentecostal.11 Essa afirmação da hermenêutica pentecostal, no entanto,
poderia ter sido escrita em qualquer década da história do movimento, ou por
qualquer pessoa pertencente ao movimento.

Isto porque a hermenêutica pentecostal é tradicional e, portanto, essencialmente


intemporal e anônima.

Em seu livro, "What Meaneth This?: A Pentecostal Answer to a Pentecostal Question",


Brumback não se cansa de afirmar esse Pentecostes como o padrão de orientação
hermenêutica. Por exemplo, "O batismo ou enchimento com o Espírito Santo,
conforme registrado em Atos", escreve ele, "deve ser o padrão para os crentes de
hoje"; além disso, "nos dias apostólicos o falar em línguas acompanhava
constantemente o batismo com o Espírito Santo, e assim deve ser nestes dias"; ainda
mais, "falar em línguas formou o padrão para cada batismo ou revestimento
carismático semelhante"; e finalmente, "as línguas de Pentecostes... definiram o
padrão para o futuro batismo no Espírito Santo."12

Para os pentecostais, então, as línguas são normativas para sua experiência, assim
como elas foram normativas na experiência da Igreja Apostólica registrada em Atos.
Apesar de normativa, as línguas não são o propósito do batismo. Para os pentecostais,
em geral, e Brumback em especial: "Jesus estabeleceu o propósito do batismo ou o
enchimento com o Espírito Santo em Lucas 24.49 - 'permanecei, pois, na cidade, até
que do alto sejais revestidos de poder.' Novamente em Atos 1.8 Ele disse: 'mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo.'"13

Admitindo que há visões opostas sobre o significado dessas promessas, Brumback


insiste "que o principal (para não dizermos o único) propósito do batismo, no e desde

10
Carl Brumback, “What Meaneth This?” A Pentecostal Answer to a Pentecostal Question (Springfield,
Mo.: Gospel Publishing House, 1947), 192.
11
Por exemplo, compare as duas exposições seguintes sobre teologia pentecostal da mesma editora de
Brumback, “What meaneth This?”: Frank Lindblad, The Spirit Which Is From God (Springfield, Mo.:
1928), e L. Thomas Holdcroft, The Holy Spirit: A Pentecostal Interpretation (Springfield, Mo.: Gospel
Publishing House, 1979).
12
Brumback, “What Meaneth This?”, 186,187,200.
13
Ibid., 197.
o Pentecostes, foi e é o revestimento dos crentes com 'o poder do alto.'"14 Esse dom
de poder, certamente, serve para possibilitar ou capacitar o testemunho ou o serviço
dos crentes.

Essa breve pesquisa sobre o Pentecostes por Brumback como um padrão


hermenêutico é um exemplo da hermenêutica pentecostal no ponto médio da história
do movimento e uma reafirmação da hermenêutica pragmática dos alunos de Parham
mais de uma geração depois. Tal como aconteceu com os alunos de Parham, aqui há a
mesma convicção de que a experiência do cristianismo apostólico e contemporâneo
deve ser idêntica, que o batismo é para o serviço e não para salvação ou santificação, e
que as línguas são a evidência irrefutável do batismo com o Espírito Santo.

Uma peculiaridade marcante da discussão de Brumback para quem o leu a 40 anos


atrás é que esse Pentecostes/pragmático como um padrão hermenêutico é
simplesmente assumido por ser auto-evidente e auto-autenticado. Em nenhum lugar
ele analisa ou explica essa hermenêutica, ele simplesmente a afirma. Em nenhum lugar
ele demonstra qualquer autoconsciência que, em um livro de apologética pentecostal,
ele precisa discutir, defender e justificar a sua base hermenêutica para o
desenvolvimento de "uma resposta pentecostal contemporânea a essa pergunta
pentecostal antiga."

Até 1970 os pentecostais clássicos permaneceram confiantes, se não sempre em


silêncio, insensíveis às críticas do seu Pentecostes pragmático como um padrão
hermenêutico. Enquanto eles continuavam confiantes, o pentecostalismo clássico não
estava mais insensível ao debate hermenêutico. Em 1970 e 80 os pentecostais
começaram a tratar das questões hermenêuticas e a articular novas abordagens
hermenêuticas, ao mesmo tempo, validando tanto a sua experiência quanto a sua
tradição. Vários fatores de variada importância tem produzido essa nova atitude.

Primeiro, o próprio movimento amadureceu; ele já não é um jovem movimento que


luta para dar forma a sua identidade e para sobreviver em um mundo hostil.

Segundo, atualmente o pentecostalismo é mais amplamente aceito e está totalmente


integrado na principal corrente do evangelicalismo. Como resultado disso, ele está
menos defensivo do que em gerações anteriores.

14
Ibid.
Terceiro, os neopentecostais ou movimento carismático mostrou aos pentecostais
clássicos uma variedade de hermenêuticas alternativas, adoração e estilos de vida.

Finalmente, a liderança pentecostal, pelo menos em suas instituições de ensino, tem


agora formação em seminários e universidades. Como resultado disso, essa liderança
tem formação em metodologia crítica e especialização no diálogo acadêmico.
Consequentemente, o movimento pentecostal clássico trouxe a sua hermenêutica
pragmática para o mercado intelectual, para comprar e vender. O mercado está
repleto de grandes perigos para o comerciante descuidado, mas também promete
ganhos espirituais para o comerciante sábio.

Quando se discute a hermenêutica pragmática dos pentecostais clássicos se está


discutindo a exposição de uma tradição, por isso, pode-se escolher praticamente
qualquer exemplar de qualquer época, como um representante do movimento.
Quando se discute o debate atual, no entanto, já não se está discutindo uma tradição,
por isso, é preciso olhar para alguns indivíduos e a sua contribuição particular para o
debate. As obras de três estudiosos pentecostais em 1970 e 80 exige atenção: Dr.
Gordon D. Fee, professor de Novo Testamento no Regent College em Vancouver,
British Columbia; Dr. Erwin M. Howard, professor de Antigo Testamento na
Universidade Oral Roberts em Tulsa, Oklahoma; e Dr. William W. Menzies, professor
de Estudos Bíblicos, Evangel College em Springfield, Missouri. Em contraste com a
hermenêutica pragmática adotada por pentecostais clássicos, esses estudiosos
defendem respectivamente uma hermenêutica de gênero, pneumática e holística.
Gordon D. Fee: Uma Hermenêutica do "Gênero"

Dr. Gordon Fee moveu-se para preencher o vácuo da análise do pentecostalismo


clássico, talvez, com maior vigor do que qualquer outro estudioso contemporâneo. Sua
análise da hermenêutica pentecostal e as suas propostas para os novos rumos na
hermenêutica são encontradas em vários artigos, incluindo o seguinte: "Hermeneutics
and Historical Precedent—a Major Problem in Pentecostal Hermeneutics",15 "Acts—
The Problem of Historical Precedent",16 e "Baptism in the Holy Spirit: The Issue of
Separability and Subsequence."17 Como um filho do movimento pentecostal e um
erudito de renome internacional, as credenciais de Fee são impecáveis. Sua principal
contribuição para o debate hermenêutico é defender um "gênero" hermenêutico
como uma alternativa para a hermenêutica pragmática dos pentecostais clássicos.

Como princípio geral Fee defende: "Deve ser um axioma de hermenêutica bíblica em
que o intérprete leva em conta o gênero literário da passagem que está interpretando,
junto com a questão do texto, gramática, filosofia e história."18 Então, em Atos, sobre
o qual está baseado a teologia pentecostal: "... não é uma epístola, nem um tratado
teológico. Mesmo que se ignore o seu valor histórico, não pode-se, e de fato não se
deve, ignorar o fato de que [Atos] é moldado em forma de narrativa histórica."19 A

15
Gordon D. Fee, “Hermeneutics and historical Precedent — A Major Problem in Pentecostal
Hermeneutics,” em Perspectives on the New Pentecostalism, editado por Russell P. Spittler (Grand
Rapids, Mich.: Baker Book House, 1976), 118–132.
16
Gordon D. Fee, “Acts—The Problem of Historical Precedent,” em How to Read the Bible For All Its
Worth: A Guide to Understanding the Bible, por Gordon D. Fee e Douglas Stuart (Grand Rapids, Mich.:
Baker Book House, 1982), 87–102.
17
Gordon D. Fee, “Baptism in the Holy Spirit: The Issue of Separability and Subsequence”: Pneuma, Vol.
7, No. 2 (1985): 87–99.
18
Fee, “Hermeneutics,” 124.
19
Ibid., 125.
importância da plena noção de que Atos é moldado em forma de narrativa histórica "é
que, na hermenêutica da história bíblica, a principal tarefa do intérprete é descobrir a
intenção do autor (eu acrescentaria, do Espírito Santo) no registro histórico."20 Três
princípios surgem a partir dessa visão no que diz respeito à hermenêutica da narrativa
histórica:

a. A Palavra de Deus em Atos, que pode ser considerada como normativa para os
cristãos, está relacionada principalmente com qualquer narrativa com a
intenção de ensinar.

b. Que é incidental à principal intenção da narrativa poder realmente refletir a


teologia do autor, ou como ele entendia as coisas, mas não poder ter o mesmo
valor didático que a narrativa com intenção de ensinar tem.

c. O precedente histórico, para ter valor normativo, deve estar relacionado com a
intenção. Ou seja, se puder ser demonstrado que o propósito de uma narrativa
é estabelecer precedentes, tal precedente deve ser considerado como
normativo.21

Tendo discutido o uso da hermenêutica da narrativa histórica em geral, Fee, em


seguida, dá três princípios específicos para a utilização de um precedente histórico:

1. O uso do precedente histórico como uma analogia pelo qual se estabelece uma
norma nunca é válido em si mesmo.

2. Apesar de não ter sido o propósito principal do autor, as narrativas históricas


têm sido ilustrativas e, por vezes, "padrão" de valor.

3. Em matéria de experiência cristã, e mais ainda na prática cristã, os precedentes


bíblicos podem ser considerados como padrões repetitivos - mesmo caso eles
não estejam sendo considerados como normativos.22

20
Ibid.
21
Ibid., 126.
22
Ibid., 128,129.
Com base nas suas orientações para o uso do precedente histórico, Fee, em seguida,
discute certas distinções pentecostais - batismo no Espírito distinto e subsequente à
conversão, e falar em línguas como evidência física inicial. Seguindo James D. G. Dunn,
Fee afirma: "Para Lucas (e Paulo) o dom do Espírito Santo não é uma espécie de
complemento para a experiência cristã, nem é um tipo de segunda maior parte da
experiência cristã. Ele é sim o elemento principal no evento (ou processo) da
conversão cristã".23 E ainda: "A questão de saber se as línguas são a evidência física
inicial de qualidade de vida carismática no Espírito é um ponto discutível."24 De fato,
"insistir para que elas sejam o único sinal válido parece colocar muito peso sobre os
precedentes históricos de três (talvez quatro) ocorrências em Atos."25

"O que, então," Fee pergunta: "pode o pentecostal dizer sobre a sua experiência,
tendo em vista os princípios hermenêuticos sugeridos neste artigo?"26 À sua pergunta,
ele dá uma resposta quíntupla, concluindo:

"Visto que o falar em línguas era uma expressão repetida dessa dinâmica, ou
carismática, dimensão da vinda do Espírito, o cristão contemporâneo pode esperar
isso, também, como parte de sua experiência no Espírito. Se os pentecostais não
podem dizer que se deve falar em línguas, eles podem certamente dizer, por que não
falar em línguas? Eles tem repetido o precedente bíblico, que teve valor probatório na
casa de Cornélio (Atos 10.45, 46), e - apesar do muito que tem sido escrito ao contrário
- elas tem valor, para a edificação do indivíduo crente (1 Coríntios 14.2-5) e, com a
interpretação, para a edificação da igreja (1 Coríntios 14:5, 26-28)."27

Artigos posteriores de Fee cobrem, repetem, esclarecem e acrescentam novas ênfases


para sua discussão. Contudo, eles não modificam substancialmente o gênero
hermenêutico que ele expôs em seu primeiro artigo. Como alguém que abordou o
tema dentro do movimento clássico sua discussão exige respeito e uma análise
cuidadosa. Há muito que podemos concordar. Por exemplo, ele está correto na
observação de que "a hermenêutica não é simplesmente uma coisa pentecostal."28
Corretamente ele insiste que Atos deve ser interpretado como narrativa histórica, e
não como um tratado teológico.29 Ele também é correto em precaver os pentecostais a
23
Ibid., 130.
24
Ibid.
25
Ibid., 131.
26
Ibid.
27
Ibid., 132.
28
Ibid., 121.
29
Ibid., 125.
não elevar um elemento incidental na narrativa para uma posição de importância
teológica fundamental. Finalmente, ele afirma corretamente que a intenção do autor
determina o valor normativo da narrativa.30

Fee é mais produtivo quando discute a hermenêutica pentecostal como um estudioso


do Novo Testamento, ou seja, quando ele está defendendo um gênero hermenêutico.
Sua hermenêutica apresenta-se mais problemática quando ele, muitas vezes, está se
dirigindo e seguindo a caricatura - como as críticas da hermenêutica pentecostal que
são defendidas nas duas monografias de referência, "A Theology of the Holy Spirit" por
Frederick Dale Bruner e "Baptism in the Holy Spirit" por James D. G. Dunn. Em violação
da sua própria advertência sobre elevar as coisas incidentais para uma posição de
importância, ele faz isso sobre os assuntos da separabilidade e subsequência, por
exemplo.31 Para os pentecostais, a coisa mais importante é o batismo no Espírito Santo
como o poder para o serviço. Para Lucas-Atos é a unção/batismo - ministério no
Espírito Santo - por Jesus (Lucas) e para os discípulos (Atos). Essa é a intenção da
narrativa histórica de Lucas para a sua geração de leitores, e para essa geração
também – que não sabe se o batismo é distinto da, e subsequente, à conversão.

30
Ibid.
31
Fee, “Baptism,” 87–99. Em “Suggested Areas for Further Research in Pentecostal Studies,” Pneuma,
Vol. 5, No. 2 (1983) Russell P. Spittler comenta: “Subsequência… é uma não-questão. Os primeiros
pentecostais não tinham a intenção de criar um novo ordo salutis, um algoritmo para a piedade. Ao
contrário, eles estavam dizendo que é possível aos cristãos desanimados serem renovados” (p. 43).
Howard M. Ervin: Uma Hermenêutica "Pneumática"

Como observamos, Gordon D. Fee defende um gênero hermenêutico para os


pentecostais. Em seu ensaio, "Hermeneutics: A Pentecostal Option,"32 Howard M.
Ervin propõe uma abordagem diferente para a hermenêutica pentecostal, chamada,
hermenêutica "pneumática". Fee é um filho natural do movimento pentecostal. Ervin
não é um filho natural, mas é, por assim dizer, um estrangeiro residente no
movimento. Ele foi pastor por 17 anos da Igreja Batista Emanuel, Atlantic Highlands,
New Jersey, que participou de um encontro internacional da Associação de Homens de
Negócio do Evangelho Pleno (ADONEP) em Miami, Flórida. Em uma reunião de oração
em que David DuPlessis e Dennis Bennett oraram por ele, este recebeu o seu
pentecostes pessoal, falou em línguas como o Espírito lhe concedia que falasse.33 As
preocupações de Fee são previsivelmente as de um filho natural, isto é, o precedente
histórico, separabilidade e subsequência. Em contraste, as preocupações de Ervin são
as de um filho naturalizado, ou seja, a epistemologia da Palavra e a experiência.

Ervin lança sua discussão, "Hermeneutics: A Pentecostal Option", com a observação:


"Fundamental ao estudo da hermenêutica, como a qualquer disciplina acadêmica, é a
questão da epistemologia."34 Para o homem ocidental duas formas de conhecimento
são axiomáticas: a experiência sensorial e a razão. Não só para a ortodoxia, mas

32
Howard M. Ervin, “Hermeneutics: A Pentecostal Option,” Pneuma, Vol. 3, No. 2 (1981): 11–25.
Reimprimido com pequenas alterações sob o mesmo título em Essays on Apostolic Themes: Studies in
Honor of: Howard M. Ervin, editado por Paul Elbert (Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1985), 23–
35.
33
Charles Farah, Jr. e Steve Durasoff, “Biographical and Bibliographical Sketch,” em Essays, editado por
Elbert, xi.
34
Ervin, “Hermeneutics,” 11.
também para o pietismo e neo-ortodoxia, o resultado é uma dicotomia perene entre
fé e razão. Ele resume as consequências deste problema epistemológico com estas
palavras: "A consequência para a hermenêutica tem sido que, em alguns setores há
um racionalismo destrutivo (neo-ortodoxia), em outros, uma intransigência dogmática
(ortodoxia), e ainda em outros, um misticismo não racional (pietismo).”35

Diante desse impasse epistemológico, "O que é necessário", escreve ele, "é uma
epistemologia firmemente enraizada na fé bíblica com uma fenomenologia que atenda
aos critérios da experiência sensorial empiricamente verificável (cura, milagres, etc.) e
não viole a coerência das categorias racionais"36 Para Ervin, uma epistemologia
pneumática não só atende a esses critérios, mas também oferece uma resolução de (a)
a dicotomia entre fé e razão, que o existencialismo procura preencher, embora ao
custo do pneumático; (b) o antídoto para um racionalismo destrutivo que, muitas
vezes, acompanha uma exegese histórico-crítica; e (c) responsabilidade racional para o
misticismo da piedade baseada no sola fide.37

A base para uma hermenêutica pneumática reside na natureza da Escritura como a


absoluta, a definitiva e a transcendente Palavra de Deus. Esta palavra "é
fundamentalmente uma realidade ontológica (a encarnação)."38 A pré-condição para a
compreensão de que a Palavra "é a ontológica recreação do homem pelo Espírito
Santo (o novo nascimento)."39 Porém, enquanto o novo nascimento preenche a
distância entre o Criador e a criatura, ele não a apaga. Assim: "essa distância torna a
Palavra ambígua até que o Espírito Santo, que 'sonda... até mesmo as coisas mais
profundas de Deus' (1 Coríntios 2.10, NVI), interpreta-a para o ouvinte."40 Portanto:
"Ela é uma Palavra para a qual, de fato, não há hermenêutica a menos ou até que o
divino hermeneuta (o Espírito Santo) medeie um entendimento."41

O movimento pentecostal, observa Ervin, tem contribuído para essa hermenêutica


pneumática. Ele escreve: "A contribuição para a hermenêutica da atual renovação
carismática, ou pentecostal, da Igreja é a sua insistência na experiência imediata do

35
Ibid., 12.
36
Ibid.
37
Ibid.
38
Ibid., 17.
39
Ibid.
40
Ibid.
41
Ibid., compare pp. 18,22,23.
Espírito Santo. Há contato direto com a realidade não material que liga-se a uma
epistemologia pentecostal, portanto, a sua hermenêutica."42

Além disso: "A experiência pentecostal com o Espírito Santo dá conhecimento


existencial dos milagres na visão bíblica de mundo. Esses eventos não são mais
mitológicos (a visão da neo-ortodoxia), mas objetivamente reais. A experiência
contemporânea da cura divina, profecia, milagres, línguas e exorcismo são uma
evidência empírica do impacto de uma esfera de realidade não material sobre a nossa
existência no espaço-tempo, com a qual se pode ter contato imediato. O
conhecimento e a interação com a presença desse continuum espiritual é axiomática
em uma epistemologia pentecostal que afeta decisivamente a sua hermenêutica."43

Embora o seu ensaio seja intitulado, "Hermeneutics: A Pentecostal Option", Ervin


contribui pouco ao tema da hermenêutica pentecostal. Além de alguns parágrafos no
final do seu ensaio, ele escreve principalmente sobre epistemologia e não sobre
hermenêutica. É lamentável que ele não tenha explorado a sua hermenêutica
pneumática em maior profundidade, para a dimensão pneumática, ou vertical, sendo
esta uma dimensão essencial na hermenêutica pentecostal. Afinal, é o Espírito, que é
ao mesmo tempo atemporal e imanente, que estabelece o continuum existencial e
pré-suposicional entre a Palavra escrita no passado e essa mesma Palavra no presente.

42
Ibid., 23.
43
Ibid.
William W. Menzies: Uma Hermenêutica "Holística"

Dr. William W. Menzies é o terceiro estudioso pentecostal que está contribuindo


significativamente para a discussão da hermenêutica pentecostal. O seu pensamento
atual sobre o assunto está resumido no recente artigo, "The Methodology of
Pentecostal Theology: An Essay in Hermeneutics."44 Ao contrário de Gordon Fee, que
enfoca o gênero da literatura bíblica, e Ervin, que enfoca a epistemologia, Menzies
enfoca a teologia. Menzies entende que, "o problema corrente da teologia
carismática" hoje, é a conexão entre os fenômenos tais como línguas e o batismo no
Espírito.45 Para Menzies, no centro desta batalha teológica de hoje está a questão
básica da hermenêutica ou metodologia.46 Considerando que Fee propõe uma
hermenêutica do gênero e Ervin propõe uma hermenêutica pneumática, Menzies
propõe uma hermenêutica holística para interpretar o fundamento bíblico da teologia
pentecostal.

A hermenêutica holística de Menzies possui três níveis: (1) o nível indutivo, (2) o nível
dedutivo, e (3) o nível de verificação. O nível indutivo é a exegese científica das
Escrituras. Ele vê três tipos de acesso indutivo: (a) declarativa, ou seja, aqueles textos
"cuja transparência torna o seu significado relativamente inequívoco", (b)
implicacional, para algumas verdades importantes, como a doutrina da Trindade "é
implícita nas Escrituras, ao invés de afirmações em declarações categóricas de um tipo
evidente", e (c) descritivo, que é o verdadeiro campo de batalha.

44
William W. Menzies, “The Methodology of Pentecostal Theology: An Essay on Hermeneutics,” em
Essays, editado por Elbert, 1–14.
45
Menzies, “Methodology,” 4.
46
Ibid.
Neste campo de batalha, "O livro de Atos é a questão quente em todo o debate."47
Essa é a questão de Fee sobre o gênero e, como observa Menzies, é o verdadeiro cerne
do debate. Pode-se ser demonstrado que Lucas não tinha a intenção de ensinar
teologia pelo que ele descreveu, portanto, "não há base genuína para uma teologia
pentecostal em tudo."48 Essa concepção leva Menzies a rejeitar as orientações de Fee
sobre o precedente histórico e normatividade, e ele conclui, contra Fee, que os dados
bíblicos implicam normatividade, ao invés de mera repetição.49

Na hermenêutica holística de Menzies o nível dedutivo complementa o nível indutivo.


Se o nível indutivo é a exegese, então o nível dedutivo pertence a teologia bíblica.
Integra-se "passagens díspares e por vezes sem ligação em um todo significativo."50 Ele
prossegue sobre "o princípio da analogia da fé."51

Finalmente, a hermenêutica holística de Menzies inclui o nível de verificação. Este é o


nível da experiência contemporânea. Menzies acredita que, "se uma verdade bíblica
pode ser promulgada, então ela deve ser demonstrada em vida."52 Em outras palavras,
embora a experiência não estabeleça teologia, ela pode verificar ou demonstrar
alguma verdade teológica. Assim, no Dia de Pentecostes, "os apóstolos, guiados pelo
Espírito, instruíram os discípulos sobre a conexão entre a revelação e a experiência.
'Isso é que', Pedro anunciou (Atos 2.16)."53

A hermenêutica holística de Menzies em três níveis - indutivo, dedutivo, e verificação -


tem muito a ser elogiada. Por exemplo, ela integra o analítico, o sintético, e os
processos existenciais. Além disso, integra o exegético, o teológico, e as dimensões
aplicacionais da interpretação bíblica. Aplicando esta hermenêutica holística para o
Livro de Atos, Menzies acha que pode reafirmar os quatro aspectos da hermenêutica e
teologia pentecostal; a saber: (1) Pentecostes como padrão, (2) a normatividade
teológica desse padrão, (3) subsequência e (4) o sinal das línguas.

Na conclusão desta pesquisa sobre as tendências da hermenêutica pentecostal, e


como o movimento pentecostal abordou-a na ultima década, e finalmente, o seu
centenário, nos lembramos de que a hermenêutica pragmática dos nossos pais

47
Ibid., 5,6.
48
Ibid., 6.
49
Ibid., 8–10.
50
Ibid., 10.
51
Ibid., 11.
52
Ibid., 13.
53
Ibid.
fundadores tem servido o movimento bem em sua pregação e ensino direcionados
para aqueles que estão dentro do movimento. Ela não é mais adequada para a
apologética dirigida àqueles de fora do pentecostalismo clássico, sejam eles
carismáticos ou não-carismáticos. Por essa razão, as longas décadas da era do vácuo
analítico da hermenêutica pragmática do pentecostalismo clássico está para sempre e
irreversivelmente encerrado.

Fee, Ervin e Menzies chamaram a atenção para importantes componentes de uma


hermenêutica pentecostal em geral. Assim, como nos lembra Fee, o gênero distinto de
Lucas-Atos como narrativa histórica deve ser levado em conta na equação
hermenêutica. Além disso, como Ervin nos lembra, a experiência dos pneumáticos
estabelece um continuum entre os pentecostais contemporâneos e o mundo bíblico
antigo. Finalmente, como nos lembra Menzies, tanto a teologia quanto a hermenêutica
são um complexo processo que combina adequadamente os níveis: indutivo, dedutivo
e verificação. Fee, Ervin e Menzies provaram ser grandes estrategistas no
desenvolvimento da nova hermenêutica pentecostal, mas cada um tem um enfoque
parcial ou fragmentário. Embora Menzies chegue mais próximo, ainda aguardamos a
formação de uma hermenêutica pentecostal plenamente desenvolvida.

Em junho de 1976 a questão da revista "His" moveu uma revisão de um livro de


Michael Green recentemente publicado, "I Believe in the Holy Spirit". A revisão conclui
com a afirmação: "Mesmo não carismáticos como Green, estão abertos e sensíveis à
renovação, parecem incapazes de admitir que os pentecostais possam compreender
Atos melhor do que eles."54 Essa conclusão não é a reivindicação de alguns
pentecostais dogmáticos. Também não é o exagero de algum simpatizante ignorante.
Pelo contrário, ela é considerada a avaliação cuidadosa do respeitado teólogo batista e
apologista, o Dr. Clark H. Pinnock.

Vários anos depois, ele reafirmou sua conclusão de que os pentecostais compreendem
Atos melhor que os não pentecostais. Ele escreve: "Não podemos considerar o
pentecostalismo como um tipo de aberração nascido de excessos experimentais, mas
um avivamento do século 20 da teologia do Novo Testamento e da religião. [O

54
Clark H. Pinnock, revisto por Michael Green, “I believe in the Holy Spirit” em His, junho, 1976: 21.
pentecostalismo] não só tem restaurado a alegria e o poder da igreja, mas também
uma leitura clara da Bíblia."55

Aqui reside a grande anomalia do movimento pentecostal. Realmente, compreende-se


Atos melhor do que não-carismáticos, e isso tem restaurado a leitura clara da Bíblia ao
cristianismo do século 20. Mas quase 90 anos após o Movimento ter iniciado, ele ainda
não tem articulado totalmente a base de sua compreensão hermenêutica de Atos. Essa
é a agenda hermenêutica que ainda enfrenta o pentecostalismo contemporâneo.

Roger Stronstad, é ministro ordenado da Assembleia Pentecostal do Canadá, é


acadêmico decano da Western Pentecostal Bible College, Clayburn, British Columbia.

Fonte: Enrichment Journal56

55
Clark H. Pinnock, “Foreward,” para The Charismatic Theology of St. Luke, por Roger Stronstad
(Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1987), viii.
56
http://enrichmentjournal.ag.org/top/month_holyspirit.cfm

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