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Gestão intercultural

George Doyle

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R e v i s t a d a ES P M – janeiro / fevereiro de 2009
Andréa Sebben

Int ercu lt ura l:


Gestão
O humanismo revisitado nas empresas

} Comunicar é pôr em comum, entrar em relação.


Nesse sentido, o extraordinário desenvolvimento da mídia
contemporânea, acompanhado por uma transformação das
culturas, das identidades, das formas de exercício do poder e

v
da autoridade, gera novas formas de se estar junto. ~
Daniel Bugnoux

iagens, leituras, filmes, a rápi- Vivemos hoje


da transmissão de notícias no epicentro de um terremo-
e de imagens vindas de qual- to, o qual é alimentado por uma ho- não nos exercitamos o sufici-
quer canto do planeta, 24 mogeneização cultural e massificação ente com o colega da mesa ao
horas por dia e entrando em nossas de valores, formas de agir, pensar, amar la­do sofisticando nossas formas de
casas, via televisão ou internet, nos per- e de nos relacionar amparados sob o comportamento? O líder global será
mite compartilhar acontecimentos de manto da tecnologia. Perdemos nossa antes de tudo um líder que atenderá
vidas distantes e a conhecer valores e direção e, paulatinamente, os valores às necessidades e às realidades de seus
normas sociais de povos até então des- ditos “antigos” se esvaem diante de nos- parceiros locais. E a pergunta é: como
conhecidos por muitos. Se por um lado sos olhos. Modernismo? Pós-Modernis- temos evoluído neste sentido?
o mundo se estreitou e nos deu essa mo? Globalização? Não importam os
possibilidade de contato e informação, clichês ou categorizações, pois eles não O tema intercultura dentro da formação
por outro lado trouxe-nos dimensões nos furtam de perceber o mal-estar e a de líderes é um tema de valores, confli-
de vida, valores, práticas, crenças que sensação de estranheza que estamos to de valores e de aprendermos a diver-
ainda não sabemos ordenar em nosso tendo de maneira geral. sidade de forma pacífica – seja na sua
sistema cultural local. O século XX forma interpessoal, seja intergrupal. É
trouxe consigo um desenvolvimen- Dirá Appadurai que a tensão entre a um tema sobre a ética humana porque
to tecnológico incomparável e um homogeneização e a heterogeneiza- permite valorizar a livre informação, a
ritmo insalubre ao ser humano que ção culturais é o problema central das contradição das idéias e a multiplica-
se distancia cada vez mais do que interações globais. Mas como nos vol- ção dos coletivos humanos a fim de
se pode chamar “vida”. tarmos para relações globais se ainda mitigar nossa solidão frente ao univer- î

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so. Ao mesmo tempo novo, é um tema atrás em direção à evolução”: depois


antigo e nos faz lembrar a angústia de da assoberbada homogeneização de
Bondenheimer em 1942, quando disse valores, comportamento e regras, nos
que “vivemos numa época em que os voltamos, outra vez, para a busca e
valores fundamentais da cultura estão valorização de nossa diversidade e indi-
sendo desafiados e atacados”. Wheelis vidualidade. Queremos aprender a arte
explora essa perda de identidade e de do encontro, mas não sabemos mais
valores duradouros apontando para como fazê-lo. Ou em outras palavras:
uma perda no sentido do tempo e da tanta tecnologia, modernidade e ciên-
vida como sintoma principal da socie- cia não convergiram, necessariamente,
dade moderna. Entretanto, sabemos para um final feliz.
que é no caos que a criatividade e a
consciência se expandem em busca Muitos autores chamam a Educação
de novas alternativas. Raymond Aron Intercultural de Educazzione alla Mondia-
convida as pessoas a se sofisticarem lità, Educazione alla Pace ou Educazione
no sentido de conquistarem “paz de alla Diversità. No Programa Cultura para
satisfação”, ou seja: o atendimento a Paz da UNESCO o tema intercultura
pleno de todas as necessidades de aparece de braços dados com os temas
todos os seres humanos. da Ética e da Educação para o Meio am-
biente, pois acreditam eles que o cidadão

M. Duenhas
A chegada da globalização, internetiza- do mundo será ético, ecológico e inter-
ção, inteligência artificial tornou-se um cultural – ou seja, todo um attegiamento
predomínio da técnica sobre a ética, do profundamente humanista que propõe
materialismo ao humanismo, da falsa uma nova concepção de homem.
aproximação ao isolacionismo próprio s A angústia de Bondenheimer
do individualismo. Como pressupõe O líder global, portanto, torna-se em 1942 diz que “vivemos
Morin quando diz que perdemos os comprometido com a intercultura- numa época em que os valores
princípios que nos enraizavam no pas- lidade enquanto tolerância, flexi- fundamentais da cultura estão
sado, agora perdemos as certezas que bilidade, escuta atenta, interesse e sendo desafiados e atacados”.
nos guiavam para o futuro. Pagamos compreensão autênticos pelo outro
um alto preço pelo desabrochar do e por sua diversidade. Do ponto questões a
individualismo contemporâneo levan- de vista de uma pessoa intercul- serem levantadas:
do de roldão nossos valores e tirando turalmente educada, o conceito
dos indivíduos o solo estável onde se de integração é, profundamente,
Ê Como estou me apresentando ao
outro e como percebo o outro? Quais
julgavam amparados. correlato, pois diz respeito à sua características e significados atribuo
capacidade de criar vínculos, laços, àqueles que me são estranhos ou
Porém, sendo a natureza do diálogo in- pontes entre os seres humanos. diferentes de mim?
tercultural uma verdadeira descoberta Esse mesmo conceito de integração
Ë Quanto de etnocentrismo exerço
sobre o outro, podemos diagnosticar relaciona-se, também, com o de re- na minha relação com os demais? For-
(para o futuro), que, quanto mais avan- ciprocidade, uma vez que em toda ço os outros a submeterem-se à minha
çarmos nessa área, tanto mais podere- a ecologia relacional desse sujeito ou à cultura de minha empresa sem
mos substituir as tensões por laços de haverá partes que se beneficiam e esforçar-me para a mudança (requisito
paz e tolerância. Por isso o avanço e ganham. Uma vez que a Gestão básico para o encontro)?
a popularidade, hoje, de termos como Intercultural relaciona-se com os Ì Tenho respeitado manifestações
gestores interculturais equipes multi- princípios e valores de cada líder, distintas das minhas em meu trabalho,
culturais ou habilidades interculturais. algumas questões pertinentes de- em equipe, dentro de minha área de
Percebo como se fosse “um passo vem ser levantadas: atuação e fora dela?

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inteligências em ação

Como se pode perceber, não seria um a) Habilidades de comunicação


inter­pessoal e interétnica f) ser bifocal “foco na tarefa e foco
nos relacionamentos”
exagero admitir que Educação Intercultu- (Huijser, 2004) (Heenesn-Wolf, 1998)
ral é uma educação auto-referencial que b) tolerância
(Hofestede, 1991) g) Atitude positiva à
aprendizagem contínua
nos convida à mudança do si mesmo,
uma vez que se trata de uma pedagogia c) Empatia
(Heenesn-Wolf, 1998)

relacional como valor e como prática


d) mente aberta
(Huijser, 2004)
h) Conhecimento sobre sua pró-
pria cultura e a cultura alheia
(Hofestede, 1991)
educativa, e também um desafio que (Heenesn-Wolf, 1998)
desmantela nosso estilo cognitivo de
perceber a si mesmo e ao outro. Portan- e) flexibilidade
(Huijser, 2004)
i) habilidade para transitar em
múltiplos e diferentes ambientes
(Heenesn-Wolf, 1998)
to, se engana quem pensa em Gestão
Intercultural apenas e exclusivamente
relacionada às interações globais – todas em movimento. É por isso que sabemos Bibliografia
as interações humanas deveriam ser que, mais cedo ou mais tarde toda mo- Appadurai,A. Modernity at Large: Cultural Dimensions
transversalmente interculturais. nocultura é condenada à estagnação, of Globalization. University of Minnesota Press, 1996.
enquanto que culturas polidimensionais Wheelis, A. How People Change. Harpercollins, 1976
A Teoria da Modificabilidade Cognitiva tendem ao crescimento, à evolução e
Raymond, A. Las etapas del pensamiento sociológico:
(TMC) de Feuerstein é um bom modelo ao movimento. A Gestão Intercultural Montesquieu, Comte, Marx, Tocqueville, Durkheim,
para ilustrar essa plasticidade cognitiva, inclui as habilidades e características Pareto, Weber. Tecnos, 2004
pois é um modelo que, além de nos relacionadas no quadro acima. Como
Morin, E. Introduction à la pensée complexe.
permitir entender o funcionamento dos se pode perceber, todas elas, fruto de Seuil, 2005
componentes da inteligência, permite- diversas inteligências em ação.
Agosti, A. Interculturalitá e insegnamento. Aspetti
nos, também, avaliar e melhorar esses
Tecnici e Metodologici. SEI, 1996.
processos. A hipótese por trás dessa A abertura à experiência, como dizia
Bolognari, V. Pedagogia e Antropologia: Ipotesi e
afirmação é a de que, quanto mais Carl Rogers, significa nossa dispo-
problemi di multiculturalismo. Messina, 1990.
evitarmos o claustro do individualismo, nibilidade para lidar com o novo e
Crudo, M. Percorsi interculturali e modelli di riferimento.
numa forma monocultural de ver e nossa disponibilidade de mudarmos
Lavoro, 1995.
perceber o mundo e de nos relacionar enquanto pessoa para conquistarmos
com as pessoas de forma mecânica, Filippi, N. Dall analfabetismo all´intercultura.
o “desconhecido”. Sem dúvida que
Morelli, 1992.
ausente ou distante, tanto menos nos comunicação, tolerância, empatia,
fossilizaremos e mais prepararemos o open minded, flexibilidade, otimismo Gardner, H. L’educazione delle intelligenze multiple.
terreno para uma mentalidade intercul- Anabasi, 1995
e versatilidade são instrumentos valio-
tural, onde a tolerância será o recurso sos para o gestor intercultural ou para Huijser, M. The cultural advantage. Intercultural
para seu desenvolvimento de um ponto o gestor local. Importante, porém, é Press, 2006.
de vista de maior humanização. questionarmos se não seriam todos Hofstede, G. Cultures and organizations. Mc Graw
os gestores interculturais – uma vez Hill, 1991.
A inteligência sob suas diversas for- que convivem em espaços múltiplos Heenesn-Wolf, S. Contribuition des rencontres á
mas (Gardner, 1987) e, sobretudo, com personalidades diversas no seu la formation em general et á la preparation aux rela-
a inteligência relacional é a espinha dia-a-dia independente do local ou tions internationales et interculturelles en particulier.
dorsal do pensamento intercultural à país onde se encontram? Fica aqui o Ethonosociologie des échanges intercultureles.
medida que nos ajuda a desenvolver Anthorpos, 1998
convite para que pensemos juntos,
um estilo cognitivo disponível ou analisemos juntos, e construamos jun-
bondoso, por que não dizer, daque- Andréa Sebben
tos uma bússola norteadora, com olhos Psicóloga com formação na Universi-
les que passam longe de nós ou que de respeito pelo outro, tendo valores dad Complutense de Madrid (Espanha)
nos parecem estranhos. Por sua vez, e na PUCRS (Porto Alegre); membro da
claros em nossas relações, empatia, International Association for Cross-Cul-
é notável que o discurso perpassa os delicadeza, generosidade e tolerância tural Psychology e do Educational Advi-
conceitos de tolerância e acolhida, para a construção de novos saberes e sory Council of American Fields Service
International, Washington, DC.
mas não de uma forma engessada, mas relações em nossos ambientes. ESPM

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