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CAPÍTULO I

DIREITO PROCESSUAL PENAL – INTRODUÇÃO

1. Noções Preliminares

O Direito Penal define os crimes e comina as penas. Porém a imposição da pena

não ocorre diretamente após a prática de um crime. A imposição da pena àquele que viola a

lei penal depende de um procedimento (seqüência de atos definidos em lei), no qual se

assegure ampla defesa (por força de preceito constitucional) ao autor do fato. Essa

seqüência de atos que se chama procedimento, e que compreende, na sua totalidade, o

processo, será objeto da disciplina processo penal.

È importante que se lembre sempre deste conceito fundamental:

Procedimento é uma seqüência de atos enquanto que processo é a totalidade desses

atos, portanto é o todo.

Pode-se dizer que o processo penal é o conjunto de atos processuais tendentes a

obter uma decisão final relacionada com um crime praticado. Então o objeto do processo

penal é a solução de um conflito entre o jus puniendi do Estado e o direito de liberdade do

indivíduo. Sua finalidade é efetivação do direito penal.

A disciplina, processo penal compreende não só o estudo do processo, como

também do inquérito policial, que constitui atividade administrativa, de Polícia Judiciária,

não se compreendendo no processo. O inquérito policial compreende as atividades

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investigatórias consistentes em atos administrativos da Polícia Judiciária. O Direito

Processual Penal abrange igualmente o estudo das pessoas que praticam atos investigatórios

e os atos do processo; e também o estudo dos órgãos direitos e auxiliares do aparelho

judiciário destinado à administração da justiça penal.

Daí o conceito de Mirabete: “Direito Processual Penal é o conjunto de princípios e

normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades

persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e

respectivos auxiliares”.

1.2. Litígio

No Princípio, usava-se a força bruta consubstanciada na “auto defesa”, que

obviamente não era a solução adequada já que o mais forte sempre vencia.

Com o objetivo de dar continuidade a vida em sociedade de forma organizada de

tal forma que se respeitassem às liberdades individuais, o bem estar geral os homens

tiveram que se organizar, passando a submeter-se às ordens dos governantes, fazendo a

partir de então somente o que era permitido ou não proibido. Todos os poderes estavam

concentrados nas mãos de um só, como no regime tribal ou do tipo patriarcal. Com a

evolução dos agrupamentos humanos e de maneira paulatina houve a necessidade de

distribuição de funções e por fim atingiram a posição de Poderes e o Estado constituído.

Surgiram os três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Eles devem ser

harmônicos e independentes, não podendo em hipótese alguma se sobrepor ao outro, mas

isso não significa dizer que existe uma hierarquia entre eles.

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A função do legislativo é legislar (elaborar as leis de acordo com as necessidades

da sociedade, sem ferir a Constituição; o Executivo administra, sempre observando os

ditames legais e o Judiciário, tem como função a de julgar, aplicando as leis).

Na fase anterior a formação do Estado, outro meio utilizado, para solução dos

conflitos entre as pessoas, era a “autocomposição” que apesar de econômico, desprovido de

violência também não era o melhor caminho, já que a maioria dos conflitos não era

solucionada. E se algum dos conflitantes não quisesse a composição? Além disso, era

necessário que a composição fosse de maneira pacífica e justa e que fosse realizada por um

terceiro, forte o bastante para que sua decisão fosse respeitada e obedecida, principalmente

pelos litigantes. Atribuição esta, que só poderia ser executada pelo Estado.

De maneira gradativa o Estado chamou para si a função de administrar a justiça e

manter e restabelecer a ordem jurídica quando violada.

Hoje exclusivamente o Estado, por meio do Poder Judiciário, pode intervir para a

solução dos conflitos de interesse daí a regra proibitiva do art. 345 do CP (justiça com as

próprias mãos).

Para garantir a harmonia social e o bem comum, o Estado, elabora leis que

estabelecem normas de conduta. Normas estas que já trazem as conseqüências do seu

descumprimento. Essas normas são fundamentais para nortearem a nossa vida em

sociedade e solucionar os conflitos de interesses.

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1.3. Lide

É a partir do conflito de interesses que surge a lide – Lide então é quando há o

conflito entre, como diz Tourinho Filho, “o sujeito de um dos interesses em conflito

encontra resistência do sujeito de outro interesse”.

É importante lembrar que não é pacífico se falar em “lide” no processo penal já

que para muitos autores não existe conflito de interesses, mas sim um único interesse, que é

o de apurar se o réu cometeu ou não o fato criminoso atentatório contra a ordem pública e o

bem comum. A Doutrina majoritária fala em “lide penal”.

1.4. O “jus puniendi” e o Processo

As violações de bens tutelados pelas normas constituem o ilícito penal ou infração

penal.Os bens tutelados pelo Direito Penal são eminentemente públicos, isso garante o

direito de punir à sociedade, que é a principal vítima, quando se trata de ilícito penal.

A sociedade tem garantido seu direito ao restabelecimento da ordem pública,

quando do cometimento de um ilícito penal e o faz através do Estado, que é o detentor do

Jus puniendi, ou seja, do direito de punir. Direito este que pode ser abstrato ou concreto.

Abstrato quando o Estado, por meio do Poder Legislativo, elabora as leis penais cominando

as sanções para o caso de sua transgressão e concreto quando o Estado tem o dever de

aplicar a pena ao autor da conduta, surgindo a partir da prática da infração penal a

pretensão punitiva.

A pessoa que se sentir lesada pode exercer seu direito de ação,

constitucionalmente assegurado, pode exigir que seu direito seja respeitado. E o Estado o

fará por meio do processo, que é uma forma de composição da lide.

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O processo é uma seqüência de atos que objetiva a solução do conflito em que o

Estado-Juiz, depois de devidamente instruído por meio de provas colhidas, de sopesar as

razões, com base no seu convencimento, dita a sua resolução (sentença)? que é obrigatória.

Mas o poder de punir do Estado não é ilimitado, ele encontra auto-limitação na

necessidade de observância do respeito à dignidade humana e à liberdade individual,

através de pressupostos materiais (nullum crimen, nulla poena sine lege) – não há crime

sem prévia definição, nem pena sem anterior cominação legal e também assegura a

aplicação da lei penal ao caso concreto de acordo com as formalidades legais e sempre por

meio de órgãos jurisdicionais (nulla poena sine judice), nulla poena sine judicio – nenhuma

pena pode ser imposto senão pelo Juiz, nenhuma pena pode ser aplicada senão por meio do

processo.

Também constituem limitação ao jus puniendi estatal as regras previstas em nossa

Constituição, no art.5º, que diz que não há crime sem lei anterior que o defina, a lei não

excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão à ameaça a direito e, ninguém será privado

de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

O Estado só poderá aplicar a norma penal após a comprovação de sua

responsabilidade, por meio do processo e mediante decisão de órgão jurisdicional.

Assim quando alguém comete um ilícito penal, transgride uma norma penal, o

Estado que efetiva o jus puniendi, através de um órgão, que é o Ministério Público, já que

ele não pode auto-executar seu direito.

O Ministério Público então esclarece a sua pretensão, o juiz ouve o pretenso

culpado, colhe as provas que forem apresentadas por autor e réu, recebe as razões de ambos

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e após o estudo de todo o material recolhido, dirá se deve prevalecer a pretensão estatal de

punir o culpado ou se o interesse do réu em não sofrer restrição no seu direito de liberdade.

A pena somente pode ser imposta pelo órgão jurisdicional por meio de regular

processo, logo o Estado necessita de órgãos para desenvolver atividades que levem a

aplicação da pena ao culpado e essa atividade denomina-se persecutio criminis (persecução

penal) que compreende a investigação do fato o pedido de julgamento da pretensão punitiva

através do órgão competente que é o MP, mas para que o MP possa exercer o direito de

ação é necessário que todos os elementos que levem a autoria do fato criminoso estejam em

suas mãos. As informações preliminares são colhidas pela Polícia Judiciária, ou pela Polícia

Civil.

Assim a persecução penal tem dois momentos: o primeiro é o da investigação que

é a fase preparatória para a propositura da ação penal e o segundo é o da ação penal que é o

julgamento da pretensão punitiva.

2. Finalidades do Processo Penal

o Direito Processual tem uma finalidade mediata, que é mesma do direito penal,

que é a paz social, a ordem pública e uma finalidade imediata que é em suma a realidade, a

aplicação do Direito Penal, a concretização, realização do Direito Penal. É a

instrumentalidade do Direito Processual Penal. Para muitos estudiosos do Direito, como,

por exemplo, o Professor Marco Antonio Marques da Silva, posição com a qual

comungamos,o direito processual penal é o direito constitucional aplicado, conforme

Tourinho Filho “Enquanto a Constituição proclama os direitos e garantis fundamentais do

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homem, é por meio do processo penal que as garantias tornam os direitos fundamentais

realidade.”1

A principal finalidade do processo penal constitucional, como preferimos chamar,

é a de garantia do acusado e a limitação do poder do Estado. Para explicitarmos tal

premissa, se faz necessário trazermos a lembrança de Claus Roxin: “O fim do processo

penal tem, então, natureza complexa: a condenação do culpado, a proteção do inocente, a

formalidade do procedimento distante de toda arbitrariedade e a estabilidade jurídica da

decisão”2 (Tradução).

O processo penal constitui um garantia do acusado. Nesse momento, percebemos a

importância da figura do juiz num Estado Democrático de Direito. É o juiz quem

democratiza o processo penal, a despeito de normas processuais tão arcaicas.

3. Autonomia do Processo Penal

O processo penal tem objeto e princípios próprios. Enquanto o Direito Penal, que é

o direito material, cuida das figuras delituosas e suas sanções. o processo penal realiza o

direito penal.

É claro o caráter instrumental do Direito Processual já que ele é um meio para

aplicação do Direito material. No Direito Processual Penal esse caráter é mais claro ainda,

já que o direito penal não possui aplicação direta, O Direito de punir do Estado é

autolimitado face a necessidade de processo para aplicação da pena que só pode ser imposta

pelo Juiz.

1
Ob.cit.p.15
2
ROXIN, Claus, op. Cit., p. 4: “El fin del proceso penal tiene, entonces, naturaleza compleja: la condena del
culpable, la protección del inocente, la formalidad del procedimiento alejada de toda arbitrariedad y la
estabilidad jurídica de la decisión”.

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3.1. Relação do Direito Processual Penal com outros ramos do

direito

O Ordenamento jurídico deve ser unitário, ou seja, os diversos ramos do direito

não podem se contradizerem. Todos devem se comunicar e o direito processual penal não é

diferente, mas não se pode negar, conforme já dito, grande ligação com o direito

constitucional. A ponto de ser tratado por muitos, como o direito constitucional aplicado.

A sua ligação com o Direito Penal é clara e evidente, daí seu caráter instrumental,

ou seja, não há realização do Direito Penal sem o Processo Penal. Não como se impor uma

pena a alguém que comete um delito sem o devido processo penal.

Outrossim, não mais podemos tratar a Constituição Federal somente no campo da

hierarquia em relação às normas infraconstitucionais, mas sim de supremacia efetiva. De

fato, como afirma Athaualpa Fernandez Neto, “a Constituição desempenha função de

irradiação sobre o resto do ordenamento jurídico.”3

Quando se fala no direito processual penal não se pode olvidar de premissa

fundamental, qual seja a de que a Constituição Federal traz em seu artigo primeiro que o

Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento o princípio

da dignidade da pessoa humana.

Essa a premissa fundamental para a construção do processo penal efetivo e justo. É

o Direito Constitucional que deve dirigir, permear, qualquer interpretação e aplicação das

normas processuais penais. O processo penal deve fundar-se nos princípios constitucionais.

3
FERNANDEZ NETO, Athaualpa. ”A Constituição, a Lei e o Jurista: Considerações acerca de uma
“vinculação necessária””. Cadernos da Pós-Graduação em Direito da UFPA. Belém, v.3, .10, jan/jun.1999,
p.19

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CAPÍTULO II

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PRINCÍPIOS DO

PROCESSO PENAL

1. Introdução

O direito processual penal é autônomo e possui princípios distintos do direito

penal. Os princípios que regem o processo penal são: princípio da verdade real,

publicidade, devido processo legal, presunção de inocência, imparcialidade do juiz, duplo

grau de jurisdição, ampla defesa, contraditório, igualdade das partes, inadmissibilidade de

prova ilícita, iniciativa das partes, “nulla poena sine judice” (nenhuma pena pode ser

imposta senão através do Juiz), “nulla poena sine judicio” (nenhuma pena pode ser imposta

senão através do processo), Juiz natural .

1.1. Princípio da verdade real

O jus puniendi do Estado deve ser dirigido àquele que realmente tenha

cometido um ilícito ou infração penal. Para tanto é necessário que a verdade real, a verdade

material seja fundamento da sentença.

É verdade dizer que o juízo penal tem maior possibilidade de chegar a verdade dos

fatos que no juízo cível, isso é necessário tendo em vista que trata de interesses

indisponíveis que, ao contrário do juízo cível, não podem ser transacionados. Percebe-se

claramente isso da leitura dos arts. 156 do CPP, com a nova redação dada pela Lei 11.690

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de Junho de 2008, que atribui a faculdade ao juiz de determinar a produção de provas antes

mesmo de iniciada a ação penal, e essa atividade instrutória vai no decorrer de todo o

processo.

Há que se destacar ainda o artigo 155, também alterado pela lei 11.690, que

reafirma a importância do princípio do livre convencimento do juiz, que tem como base a

produção de provas.

É certa a dificuldade de restabelecimento da verdade a respeito de um crime

cometido, já que o juízo penal conta com a falibilidade do ser humano, com a possibilidade

de inverdades, quando das provas testemunhais, por exemplo.

Por esse motivo, autores como Tourinho Filho, e outros autores, chamam a

verdade real de “verdade processual” ou “verdade forense”, que parece a terminologia mais

correta, já que a verdade real só Deus pode saber .

1.2. Princípio da imparcialidade do juiz

O Estado chamou para si a tarefa da administração da Justiça, dando a cada um o

que é seu, e não há como fazê-lo senão por meio de um juiz imparcial e é para garantir a

imparcialidade que os juízes contam com garantias conferidas pela Constituição Federal,

quais sejam, a vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

Por outro lado, havendo qualquer motivo que comprometa a imparcialidade do

juiz, qualquer das partes poderá argüi-las e invocar o impedimento, a incompatibilidade ou

suspeição, nos termos dos arts, 252,254 e 112 do CPP, se é claro o próprio juiz não tenha já

declarado.

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1.3. Princípio da igualdade das partes

Como conseqüência lógica de um modelo acusatório de justiça penal, as partes

embora estejam em lados opostos, possuem igualdade de direitos, ônus, faculdade e

obrigações, de tal forma a garantir o equilíbrio entre elas. É importante frisar que o nosso

modelo de justiça penal é divido em quem acusa, quem defende e quem julga, que logo, são

pilares do modelo acusatório. Cabe ressaltar, que embora o no sistema seja acusatório, ele

não é acusatório puro, já que muitas das atividades das partes são também conferidas ao

juiz.

A própria Constituição Federal que nos arts. 127 e 133 (figuras essenciais a

administração da justiça – advogado e MP ) deixa claro o modelo acusatório.

A igualdade é também resguardada quando veda a defesa por pessoa não

habilitada tecnicamente, o que garante o nível técnico entre acusado e acusador (Ministério

Público).

Logo todos os direitos assegurados à acusação não podem ser negados à defesa e

vice-versa. É certo que às vezes a defesa conta com recursos exclusivos, como o Protesto

por Novo Júri, os Embargos Infringentes, Revisão Criminal.

Já na fase pré-processual, do inquérito, a desigualdade entre o Estado-

administração, representado pela polícia e o investigado é inegável já que não possui

instrumentos para nivelar-se a polícia, somente seu direito à defesa da integridade física,

não poderá ser submetido a tortura nem tratamento desumano e não poderá sofrer

constrangimento ilegal em sua liberdade de locomoção.

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1.4. Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento

Esse princípio está consagrado no art. 157 do CPP, e impede que o juiz julgue com

base com o que não está no processo, ou seja, extra-autos. È também uma garantia da

imparcialidade do Juiz. Logo, o que não está no processo, não existe. A sentença do juiz

deve sempre ser fundamentada com base no que está nos autos, a ausência dessa

observância resulta em uma não-sentença, e as partes devem saber o que levou o juiz a

decidir da maneira proferida.

1.5. Princípio da publicidade

Trata-se do princípio segundo o qual os atos são públicos.

A publicidade dos atos processuais tem sido tratada, nos diversos ordenamentos

jurídicos, como garantia processual fundamental do cidadão, em especial no processo

penal. Mas não se trata de um direito absoluto, podendo a lei, em casos especialíssimos,

prever o sigilo quando houve riscos de lesão a direitos de terceiros; o sigilo, no entanto,

jamais poderá se referir ao réu.

Já na fase de inquérito, que se trata de peça informativa, de natureza

inquisitiva, o sigilo é fundamental e está assegurado no art. 20 do CPP. Embora exista,

nesta fase a exceção para o advogado, que terá acesso aos autos de inquérito.

Uma exceção ao princípio da publicidade dos atos processuais encontra-se no

art.792 do Código de Processo Penal que prevê a possibilidade do juiz limitar o número de

pessoas se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar

escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal,

câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público,

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determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que

possam estar presentes. É uma das funções do juiz manter a regularidade, a ordem

processual, seja, dentro ou fora do processo propriamente dito.

1.6. Princípio do contraditório e da ampla defesa

Como corolário do devido processo legal temos o princípio do contraditório e da

ampla defesa, consagrado no inciso LV do art. 5º da C.F.4. Trata-se de princípio absoluto,

cuja inobservância acarreta a nulidade do processo.

O acusado deve ser informado, desde logo, do inteiro teor da acusação. Esta deve

ser clara, explícita, completa, efetiva, contendo a qualificação jurídica do fato, e as provas

que a acusação pretende usar, de forma a possibilitar a ampla defesa; do contrário a garantia

constitucional seria meramente formal. Além disso, aquela informação deve ser feita com

prazo razoável que permita ao acusado apresentar sua defesa.

Esse direito à informação prossegue durante todo o processo. Assim, o acusado

deve ter ciência de todos os atos processuais, e com tempo razoável que lhe permita

exercitar seu direito de defesa.

Embora a acusação deva conter a qualificação jurídica do fato, como já ficou dito,

salienta Marco Antonio Marques da Silva que

“caso o juiz reconheça a possibilidade de nova qualificação jurídica ao fato em

virtude da presença de elementar provada nos autos, ausente da peça acusatória, deverá

dar nova oportunidade de defesa para contraditar e produzir provas. No entanto, se essa

possibilidade de nova qualificação jurídica implicar na imposição de pena mais grave,

4
“Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”

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necessariamente deverá haver o aditamento da peça inicial acusatória, para,

posteriormente, ser concedido novo prazo para a defesa do acusado”5.

A ampla defesa, como já se disse, constitui também corolário da garantia

constitucional do devido processo legal. Assim, para que tal garantia não fique apenas no

plano formal, e como a acusação é exercitada por órgão do Estado, com conhecimentos

técnico-jurídicos, é fundamental que a defesa também seja exercitada por profissional

competente, sob pena de violar-se o tratamento paritário que igualmente decorre do

princípio do devido processo legal, devendo o Estado prestar assistência jurídica àqueles

que não tiverem recursos6.

Outras conseqüências da ampla defesa são a proibição da “reformatio

in pejus”, a publicidade dos julgamentos7 e a motivação das decisões

judiciais8.

1.7. Princípio da iniciativa das partes

Segundo o princípio da iniciativa das partes somente a parte poderá provocar a

prestação jurisdicional, acionar o Estado-Juiz, iniciar o processo, nunca o contrário. O Juiz

só poderá dar início ao processo se provocado pela parte.

Contudo, apesar do nosso sistema ser acusatório, o Juiz pode conceder Hábeas

Corpus (que é uma ação penal popular), decretar , de ofício, a prisão preventiva (que é ação

cautelar).

5
op. cit., p. 19
6
CF, art. 5º, LXXIV
7
CF, art. 5º, IX
8
cf. SILVA, Marco Antonio Marques da, op. cit., p. 21

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1.8. Princípio do “ne eat ultra petita partium” - o juiz não pode ir

além do pedido das partes

Esse princípio garante que o juiz só poderá pronunciar-se sobre o que foi

formulado em juízo, com base no que foi exposto na inicial da ação.

No entanto, o juiz poderá corrigir a qualificação jurídico-penal se entender que

incorreta, conforme descrito no art. 383 do CPP, mesmo que a pena seja mais severa, já

que o réu se defende dos fatos a ele imputado e não da qualificação.

Outrossim, o art. 384, caput, do CPP, fala da possibilidade do fato ser contestado

por outro que não o juízo.

A exceção desse princípio está no art. 408, § 4º, que trata do Júri, na fase de

pronúncia em que não há julgamento e sim juízo de admissibilidade para o julgamento pelo

Tribunal do Júri.

1.9. Princípio da Identidade Física do Juiz

Esse princípio passou a fazer parte do nosso ordenamento jurídico com o advento

da Lei 11.719/2008, no artigo 399, § 2º do Código de Processo Penal:

“Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,

ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso,

do querelante e do assistente.

§ 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório,

devendo o poder público providenciar sua apresentação.

§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.” (grifo nosso)

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A providência embora tardia demonstrava-se cada vez mais urgente. O Processo

Penal Constitucional não mais admitia essa ausência da vinculação do juiz do início ao final

do processo, sob pena de injustiças serem realizadas ou repetidas.

De acordo com esse princípio, o mesmo juiz que inicia a instrução criminal deverá

continuar à frente do processo até o final do processo. Só com a adoção de princípio é

possível se falar em eficácia dos direitos e garantias fundamentais de um processo penal

democrático.

1.10. Princípio do devido processo legal

Princípio constitucionalmente assegurado no art. 5º, LIV, : “Ninguém será privado

da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. O devido processo legal está

relacionado com os direitos e garantias constitucionais, tais como presunção de inocência,

duplo grau de jurisdição, ampla defesa, contraditório, publicidade, Juiz natural, proibição

da reformatio in pejus, respeito à coisa julgada, retroatividade da lei penal mais benéfica,

dignidade humana, integridade física, liberdade e igualdade.

1.11. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios

ilícitos

O artigo 5º, LVI, da Constituição Federal, veda expressamente o uso de toda e

qualquer prova obtida por meios ilícitos.

No entanto, admite-se a prova ilícita somente quando estas forem favoráveis ao

réu, nunca pro societate.

A inadmissibilidade do uso de provas ilícitas diz respeito também àquelas provas

ilícitas por derivação, ou seja, aquelas que forem recolhidas de forma legal, mas utilizou-se

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de meio ilícito para se chegar até ela, exemplo, por meio de escuta telefônica, devidamente

autorizada pelo juiz, obtem-se informação do lugar onde estão substâncias

entorpecentes.(chamada pelos americanos de frutos da árvore envenenada)

1.12. Princípio da presunção de inocência

De acordo com o princípio da presunção de inocência presume-se inocente o réu,

até que definitivamente condenado, com sentença transitada em julgado. Sua prisão antes

da sentença condenatória só será admitida a título de cautela.

Para Tourinho Filho o fato de o réu não poder apelar em liberdade (sem que haja

necessidade de seu segregamento) ou de o réu não fazer jus à liberdade provisória,

considerando, apenas a gravidade do crime, constituem flagrante violação ao princípio

constitucional da presunção de inocência, já que importa em antecipação da pena.9

1.13. Princípio do “favor rei” (benefício do réu)

É um princípio de fundamental importância sobretudo num Estado Democrático de

Direito, como é o nosso, em que os grandes pilares são a liberdade, a dignidade humana. O

princípio do “favor rei” está consagrado no processo penal quando da proibição da

reformatio in pejus (art.617), nos recursos privativos da defesa, como Protesto Por Novo

Júri, Embargos Infringentes ou de nulidade ( arts. 607 e 609), a revisão criminal, pelo

princípio da presunção de inocência etc.

9
op.cit. p.28

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1.14. Princípio do duplo grau de jurisdição

O princípio do duplo grau de jurisdição é de grande importância. Juízes são

pessoas normais, logo, estão sujeitas a erros. Para isso o Estado criou órgãos jurisdicionais

a eles superiores, para que, em grau de recurso, fazendo o uso do duplo grau de jurisdição,

suas decisões sejam reapreciadas por um órgão colegiado, no caso, os Tribunais.

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