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Introdução
O sistema de franquias nos moldes atuais, é com certeza um dos maiores fenômenos
mundiais do varejo. Considerada uma invenção tipicamente americana (90% das grandes
redes de franquias mundiais têm suas sedes nos EUA1), atualmente empresas de todas as
partes do mundo se utilizam deste canal de distribuição de produtos e serviços.
Mas um fenômeno mundial com relação às franquias, é o da expansão das redes para
além de seus países de origem. Redes de franquias que apresentam histórias de sucesso em
seus mercados domésticos têm, já há algum tempo, buscado atingir novos consumidores, e
conseqüentemente, obter maiores lucros com a internacionalização. Este fenômeno, já a
alguns anos, é observado como uma realidade também para as empresas de franquia
nacionais. Várias redes brasileiras já operam unidades franqueadas em países estrangeiros.
Informações da ABF do ano de 2000 diziam haver na época 342 unidades franqueadas
de empresas brasileiras no exterior e que 27,8% das redes de franquias brasileiras
manifestaram ter interesse em expandir suas operações com franquias para além das fronteiras
nacionais. Mas apesar do interesse demonstrado, e do processo de internacionalização estar
em pleno crescimento, o número de redes que já se internacionalizaram ainda é bastante
pequeno. Em 2000, dados da mesma ABF diziam haver apenas 15 redes brasileiras operando
no exterior. Não há números oficiais mais recentes, mas a pesquisa realizada pelo autor em
publicações jornalísticas e com especialistas da área de franquias conseguiu identificar 17
redes brasileiras com operações no exterior no final de 2003 (ver Quadro 1).
Dentro do contexto de globalização das redes de franquias, uma das grandes questões
que emerge e que vem sendo largamente discutida por especialistas, trata da inserção do
composto de marketing dessas redes nos novos mercados e da necessidade, na maioria das
vezes, de adaptação deste composto às características culturais locais. Apesar da sociedade
mundial, e por conseqüência dos diferentes mercados pelo mundo afora, apresentarem hábitos
e necessidades cada vez mais semelhantes (devido à velocidade e disponibilidade de
informação atual, principalmente com a Internet), as diferenças culturais ainda são marcantes
e podem ocasionar, se não forem bem trabalhadas, no insucesso da entrada da franquia no país
estrangeiro.
Bucher (1999) afirma que as diferenças de língua, religião e nível de educação podem
impactar na performance das empresas de maneira significante, e vir a impedir o
desenvolvimento eficiente da franquia no novo mercado. Entender o que pensa e a maneira
como reage um consumidor de um país estranho muitas vezes não é tarefa fácil, e uma entrada
desastrosa no novo país pode desgastar a imagem da marca da franquia de maneira
significativa, tornando bastante difícil uma tentativa posterior de reinserção no mercado.
Objetivo
Considerações Conceituais
Uma boa forma de resumir no que se trata este formato de negócio é a definição do
Instituto Franchising (2003) que diz ser “um método para a distribuição de produtos e/ou
serviços cujo sucesso depende, fundamentalmente, da capacidade de se reproduzir, em
diferentes locais e sob a responsabilidade de diferentes pessoas, um mesmo conceito de
negócio". Com maiores detalhes, Pelton et al. (1997) explicam que a franquia é um sistema
de marketing vertical onde uma empresa (franqueador) provê para uma outra pessoa ou
empresa (franqueado) uma licença para realizar negócios em uma área geográfica específica,
contando com a assistência do franqueador na organização, no treinamento, em
merchandising e na gestão do negócio. Os mesmos autores complementam ainda explicando
que a ligação legal entre franqueador e franqueado é realizada através de contrato, onde cada
parte adere a certas responsabilidades e obrigações. Diz que o franqueado opera sob a marca e
o plano de marketing do franqueador e de que se trata de uma relação próxima e constante
entre parceiros no fornecimento de produtos e serviços aos clientes.
Berman (1996) explica que a maioria dos contratos de franquia envolvem o pagamento
de uma taxa inicial, o pagamento de royalties baseados em uma porcentagem sobre as vendas
e o pagamento de taxas para campanhas publicitárias. Os franqueados são também obrigados
a adquirirem mercadorias e serviços do franqueador. A Figura 1 procura fazer um resumo de
como é a relação entre franqueador e franqueado dentro de um contrato de franquias em
“formato de negócio”.
CONTRATO DE FRANQUIA
FRANQUEADOR FRANQUEADO
Possui marca Utiliza marca
Possui produtos/serviços
Comercializa os produtos/serviços
Possui know-how
Dá suporte: Utiliza know-how
• financiando (em alguns casos)
Expande o negócio com o suporte do
• em propaganda / merchandising
franqueador
• em treinamento
• operacional
Há também muitos franqueadores que possuem lojas próprias dentro do sistema, lojas não
franqueadas a um terceiro. A utilização de lojas próprias dentro do sistema é incentivada por
alguns motivos. Stern (1996) explica que os principais são a falência do franqueado (sendo
então que o franqueador pode ser a única fonte com recursos financeiros disponíveis no
momento para continuar “tocando” o negócio), a experimentação de novos conceitos e
produtos, para ministrar treinamentos, para acelerar o processo de crescimento da rede, para
se aproveitar de um ponto extremamente lucrativo ou mesmo para assegurar uma demanda
mínima dos produtos fabricados pela empresa.
Internacionalização de Franquias
Segundo Kotler (2000), vários são os fatores que têm levado muitas empresas a
procurarem o mercado internacional. Dentre eles, os principais são:
• Desejo de contra-atacar empresas globais concorrentes em seus países de origem
para evitar que essas ataquem o mercado doméstico da empresa com melhores
produtos ou preços mais baixos;
• Descoberta de mercados internacionais que apresentam oportunidades de lucro
maiores que a do mercado interno;
• Necessidade de maior base de clientes para atingir economias de escala;
• Querer ser menos dependente de um único mercado;
• Possuir clientes que estão viajando para fora do país e exigem atendimento
internacional.
Já para Henry (apud Larson, 2002), uma companhia não deve se expandir
internacionalmente quando a maior razão é a necessidade de dinheiro, mas sim promovê-la
somente quando esta se apresenta realmente consolidada no seu mercado local. Cherto (1998)
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afirma que “as redes de franquias são uma das formas mais eficazes de as empresas colocarem
seus produtos e serviços à disposição dos consumidores, nos quatro cantos do planeta, com o
mesmo serviço, a mesma rapidez e a mesma confiabilidade”, e Swartz (1997) ainda enfatiza
que o mercado global para franquias está longe de estar saturado e que o potencial de
crescimento para o franchising mundo afora, é exponencial.
Para a expansão internacional ser bem sucedida, Pinto (2003a) exemplifica com o caso
das empresas franqueadoras internacionais que se instalaram no Brasil, explicando que
aquelas mais rigorosas na seleção de seus franqueados, e que, apesar das diferenças entre
países, sabem ser localmente bem rigorosas quanto ao cumprimento dos padrões estabelecidos
por elas, foram as mais bem sucedidas. O autor afirma ainda que para que uma rede de
franquias promova a expansão internacional é essencial possuir capacidade de investimento e
realizar uma boa pesquisa sobre o país alvo. Ele diz que é necessário estudar muito o
território de destino, os aspectos legais, e os controles e regras do governo que possam
interferir na operação. Diz também da necessidade da elaboração de um cuidadoso estudo de
viabilidade econômica, e de investigar como as empresas estrangeiras lá instaladas
movimentam seus recursos, ou seja, se há alguma dificuldade no envio de lucros aos seus
países de origem.
Pinto (2003a) também alerta que se a expansão internacional estiver sendo pensada no
intuito de aproveitar a oportunidade surgida através de um candidato estrangeiro que
vislumbrou o mercado de fora, o primeiro candidato pode não ser o ideal, e que portanto é
necessário que se tenha bastante cuidado e critério na hora de definir o franqueado master ou
mesmo a rede de franqueados no exterior. Um estudo realizado por Walker (apud Berman,
1996), concluiu que do total de uma amostra de franqueadores norte-americanos que já
haviam se expandido para além dos EUA, 61% tinham, pelo menos, cinco anos de experiência
em franchising, e pelo menos 100 unidades operando no mercado doméstico antes de se
internacionalizar.
Cada país possui diferentes costumes, culturas, línguas e leis. Isto torna a expansão
internacional, segundo Swartz (1997), um desafio onde é essencial identificar, antes de
qualquer outra coisa, se os produtos e serviços podem ser aceitos no novo país. E não há
dúvidas de que dentre todas essas questões que dificultam a entrada de uma empresa em um
novo país, a cultura é a que tem o maior impacto na performance. Segundo Bucher (1999),
fatores culturais como estilo de vida, religião e dieta, podem acarretar no fracasso de uma
rede de franquias de sucesso em seu país de origem. Tanto a questão cultural é importante e as
redes de franquias têm consciência disso, que um estudo de Preble e Hoffman (apud Kotabe e
Helsen, 2000) mostrou que as proximidades cultural e física são os dois critérios mais
populares utilizados pelas empresas para identificar mercados internacionais para franchising.
O Produto
Modificações nas características dos produtos também podem ser necessárias. Segundo
exemplifica Vignali (2001), o McDonald’s não serve sanduíches com queijo em várias lojas
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da rede em Israel, para ir de encontro aos requisitos kosher que exigem a separação de carne e
produtos a base de leite.
A Comunicação
O primeiro passo deve ser o estudo de qual o composto de comunicação a ser utilizado
no novo mercado. É preciso que se estabeleça um plano de propaganda, um plano de relações
públicas e publicidade e um plano de promoção de vendas (Castro e Neves, 2002). Deve-se
também reconhecer que os objetivos de marketing no novo mercado podem ser diferentes
daquele do país de origem e que os formatos de comunicação universais podem não ser os
mais adequados (Noonan, 1999).
Segundo Noonan (1999) a escolha dos canais de comunicação e o grau de uso de cada
um deve ser analisado de acordo com alguns fatores. Os principais são:
• A disponibilidade de canais de comunicação;
• A disponibilidade orçamentária e os custos das opções de comunicação;
• Os objetivos de marketing (alta penetração, nicho específico, etc).
Outro ponto importante é com relação à escolha dos canais a serem utilizados, no que se
refere ao “poder” destes em estar atingindo o consumidor que se deseja. Vignali (2001) cita o
caso do McDonald’s que na China, ao contrário do que faz nos EUA, utiliza-se
preponderantemente da imprensa escrita para fazer suas comunicações de marketing, visto
que a população chinesa não assiste televisão com a mesma freqüência que a população norte-
americana.
Mais precisamente com relação a propaganda Kotler (2000) afirma que “as empresas
podem usar as mesmas campanhas promocionais e de propaganda usadas no país de origem
ou mudá-las de acordo com o mercado local”. A mensagem pode ser a mesma para todos os
países onde atua, alterando-se apenas o idioma, nomes e cores, mas as vezes a mudança
precisa ser maior, alterando-se também os slogans. Geralmente, conteúdo e forma devem ser
revisados para que a empresa se certifique de que a mensagem que pretende transmitir é
percebida da mesma forma pelos consumidores do país estrangeiro. Há também a
possibilidade de se usar o mesmo tema globalmente, adaptando-se apenas as peças
publicitárias ao mercado local. Alguns países acabam elaborando sua própria propaganda,
mas seguindo as diretrizes determinadas pela matriz.
O Preço
considerados, como por exemplo taxa de câmbio, nível de renda, inflação e políticas
governamentais (Noonan, 1999).
É preciso considerar também que uma empresa que se utiliza de franquias como canal
de distribuição de bens e serviços no Brasil, pode optar por uma outra estratégia de
distribuição no exterior, ou mesmo optar por combinar a utilização de franquias com outros
tipos de canais. Dependendo da estratégia de internacionalização que tiver, dos objetivos
traçados e dos recursos que possui, a empresa pode decidir por abrir mão do sistema de
franquias no mercado externo e optar pela utilização de joint-ventures, de alianças
estratégicas, pelo uso de distribuidores (transação de mercado) ou mesmo optar pela
integração vertical com o uso único de lojas próprias (Neves e Castro, 2003).
Metodologia
(3) Ser possível o acesso a um ou mais profissionais da empresa, que conheçam a fundo
o processo de internacionalização da companhia, bem como sejam conhecedores das
questões concernentes à adaptação do negócio aos diversos mercados onde atuam.
Para a coleta das informações utilizadas na elaboração dos estudos de caso utilizou-se de
entrevistas em profundidade com os profissionais das empresas, realizadas pessoalmente ou
por telefone. Seguindo-se então os conselhos de Malhotra (2001) sobre este método de coleta
de dados, o autor criou um roteiro básico para a realização das entrevistas a fim de que
nenhuma questão importante deixasse de ser abordada nas entrevistas.
Os Casos Estudados
Brasil Sul
Contém 1g
O Boticário
O Boticário comercializa hoje cerca de 350 itens diferentes entre perfumes, cosméticos,
produtos de higiene pessoal, entre muitos outros. No exterior conta com lojas franqueadas na
Bolívia (cinco lojas e cinco quiosques), no Paraguai (duas lojas), no Peru (duas lojas), no
Uruguai (uma loja), em Portugal (52 lojas) e no México (cinco lojas e quatorze quiosques). A
empresa comercializa também os seus produtos no Japão, onde está presente em 440 pontos-
de-venda.
Rosa Chá
Marca criada para a venda de biquínis e maiôs, carros-chefe da marca até hoje,
atualmente também vende saídas de banho, vestidos, saias, shorts, blusas, jeans e lingeries.
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No ano de 1997 a Rosa Chá começou a comercializar seus produtos nos EUA e em 1999
passou a ter um corner exclusivo na Harvey Nichols de Londres. Hoje ela conta com
distribuidores nos EUA, Portugal, Austrália, Canadá, Japão e Coréia do Sul, além de possuir
Show Rooms nas cidades de Nova York, Vancouver, Porto, Madrid, Paris, Atenas, Munique,
Milão, Sydney, Tóquio e Seul. A abertura da sua primeira loja franqueada aconteceu em
Lisboa em dezembro de 2002, e a segunda aconteceu no final de 2003, em Miami nos EUA.
Vivenda do Camarão
Wizard
A rede de escolas de línguas Wizard iniciou sua expansão internacional no ano de 2000
com a abertura de uma escola franqueada na cidade de Orlando, nos EUA. Em 2001 foi aberta
uma nova franquia no Japão, e em 2003 houve a abertura da terceira escola franqueada no
exterior, na cidade de Boston, também nos EUA. Uma quarta unidade no exterior foi
inaugurada no final de 2003, também no Japão.
Produto
O que pode ocorrer é uma pequena redução do mix devido a alguns fatores. As lojas
franqueadas em Portugal da Vivenda do Camarão, por exemplo, apresentam uma variedade de
produtos um pouco menor do que aquela encontrada nas lojas brasileiras. Isto se deve ao fato
de que as sobremesas são fabricadas por terceiros e alguns desses terceiros não estão
preparados para produzir de acordo com as normas de qualidade e a legislação que
regulamenta a exportação de alimentos. Outro fator que segundo a Vivenda motivou a ligeira
redução do mix de produtos foi devido a uma opção do franqueado, que conhecedor do
mercado local, entendeu que alguns deles não alcançariam um resultado comercial satisfatório
naquele país, por não serem do gosto dos consumidores locais. Outro caso de ligeira redução
do mix de produtos é com a Contém 1g. A empresa afirmou que pode haver alguma
modificação no mix se houver por parte dos organismos de regulamentação do país restrições
quanto aos pigmentos utilizados na fabricação dos produtos, pois a legislação quanto a
utilização desses pigmentos, difere de país para país.
Comunicação
Já com O Boticário o caso é diferente. A empresa, que afirma que é na sua comunicação
de marketing onde as diferenças culturais exercem maior influência, contrata para cada país
uma agência local, especializada, que fica responsável por criar as campanhas de promoção da
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marca para aquele mercado, seguindo os valores e características próprios dos consumidores
locais. A empresa afirma também que uma campanha não pode ser simplesmente traduzida
para outra língua, pois esta pode perder completamente o sentido, vindo a significar algo
totalmente diferente do que se pretendia dizer.
Preço
Dentre as redes de franquias do estudo percebe-se dois tipos básicos de posição com
relação à precificação dos produtos e serviços no exterior. Há aquelas redes que deixam a
definição de preços totalmente a cargo dos franqueados e distribuidores, para que eles
estabeleçam seus preços de acordo com a realidade de cada um quanto à concorrência e aos
custos envolvidos nas operações e na aquisição de produtos (casos da Brasil Sul, da Vivenda
do Camarão e da Wizard). E há aquelas redes que exercem um maior controle nos preços
praticados no exterior por uma questão de estratégia de posicionamento de mercado (Contém
1g, O Boticário e Rosa Chá).
A Vivenda do Camarão, por exemplo, explica que apesar da definição dos preços de
venda dos produtos em Portugal serem da responsabilidade do franqueado, ela considera
quando estabelece o preço de venda dos seus produtos para aquele país, as despesas que o
franqueado tem com taxas alfandegárias e transporte, para que o preço final ao consumidor
seja atrativo para o franqueado. Isto permite que franqueado trabalhe com margens que sejam
compensatórias e estimulantes ao desenvolvimento do negócio. Já no caso da Contém 1g, é
feito por ela uma análise da atuação e do posicionamento dos concorrentes, para que a
empresa estabeleça seu posicionamento de marca naquele mercado e por conseqüência seu
padrão de preços ao consumidor. A Rosa Chá, que também estipula o preço dos seus produtos
no exterior com base no posicionamento de mercado estabelecido para a marca, explica que as
mercadorias já saem do Brasil com etiquetas contendo o preço sugerido para a venda no
varejo, uma maneira encontrada para que os produtos sejam vendidos no exterior dentro de
um padrão. Ambas afirmam também não haver a necessidade de que sejam considerados os
custos envolvidos, visto que as margens praticadas asseguram a rentabilidade necessária.
Canais de Distribuição
Todos os casos estudados, com exceção da Rosa Chá, mantêm nas unidades franqueadas
no exterior os mesmos padrões de arquitetura, mobiliário e layout das franquias brasileiras.
Apenas a Wizard fez a observação de que suas escolas internacionais têm sofrido alguma
adaptação aos espaços menores utilizados nesses países, onde o custo com imóveis é bastante
elevado.
As lojas internacionais da Rosa Chá são diferentes das brasileiras por possuírem
projetos arquitetônicos e de decoração mais arrojados e caros, para atender às maiores
exigências dos consumidores de moda no exterior e para competir com as grandes marcas
internacionais. Ela explica que o volume vendido em uma loja no exterior em conjunto com
as margens praticadas no mercado internacional permitem maiores investimentos daqueles
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que são possíveis de serem realizados na grande maioria das cidades brasileiras. Além disso,
ela conta que as lojas de Lisboa e Miami também são diferenciadas em seu layout e mobília
para uma melhor adequação às coleções típicas de inverno, inverno que nesses países é muito
mais longo e rigoroso do que no Brasil.
O que primeiro se percebe com a análise dos casos estudados é que o processo de
internacionalização das redes de franquias brasileiras é algo ainda incipiente, de início
recente. Com exceção de O Boticário que teve sua primeira loja internacional aberta em 1985,
todas as outras empresas estudadas deram início à internacionalização de suas operações entre
o final dos anos 90 e o início deste novo século. Prova disso é que ainda há um pequeno
número de unidades franqueadas destas redes no exterior, e apesar do número estar em franco
processo de crescimento, é ainda bastante pequeno se comparado às grandes redes
franqueadoras mundiais (a exceção talvez seja novamente de O Boticário que já possui 52
lojas em Portugal).
Outro ponto importante que merece ser comentado é que a internacionalização, muito
mais que uma iniciativa, muito mais que uma estratégia das empresas franqueadoras,
demonstra ter tido seu início preponderantemente através do interesse de investidores
nacionais e internacionais que procuraram as empresas objetivando levar as marcas para fora
do Brasil, como nos casos da Brasil Sul, de O Boticário e da Vivenda do Camarão. As
exceções são a Wizard e a Contém 1g que já haviam participado de feiras internacionais de
franchising e já se programavam para a expansão, apesar de também terem tido na procura de
investidores do exterior a oportunidade de instalar suas primeiras operações fora do Brasil.
Motivações à Internacionalização
Vários são os argumentos das empresas para explicar as razões que as motivam a
procurar a expansão internacional de suas redes, mas de uma forma geral, o que se percebe é
que os produtos e serviços brasileiros têm sido muito bem aceitos no exterior. Desta forma,
além da identificação pelas franqueadoras da existência de espaço no exterior para novas
marcas nos ramos de negócios onde elas atuam, o processo de internacionalização vem
garantindo (e promete ainda mais na medida em que é bem sucedido) boas oportunidades de
lucros para as redes de franquias nacionais, além de que como conseqüência poder vir a
garantir a não dependência restrita ao mercado brasileiro.
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No que se refere aos mercados que mais têm atraído as empresas brasileiras de
franchising, através dos casos estudados percebe-se que a América (em especial a América
latina), a Europa e o Japão se consolidam como os principais mercados, concentrando
praticamente todas as unidades internacionais das redes. Destas regiões, dois países parecem
também merecer atenção especial das empresas “expansionistas”, o México e Portugal.
Outra questão que dificulta a expansão das franqueadoras brasileiras diz respeito à
concorrência com outras redes. Rosa Chá e O Boticário afirmaram que existem grandes
concorrentes internacionais que possuem enorme capacidade de fazer altos investimentos em
propaganda, em lojas e em tudo mais que seja necessário para promovê-las, dificultando
bastante a tarefa de entrada de novas empresas. A Wizard acrescenta que encontrar
investidores internacionais dispostos a acreditar no conceito e na marca nem sempre é fácil,
visto que muitas marcas brasileiras ainda são pouco conhecidas no mercado internacional.
Conclusões e Considerações
O que se percebe neste estudo é que a busca por mercados internacionais é realmente
uma realidade para as franqueadoras brasileiras. Apesar de ser uma experiência recente em
sua maioria, e do número de empresas a se aventurarem na expansão internacional ainda ser
pequeno, há um franco processo de crescimento do número de unidades de franquias
brasileiras no exterior. As dificuldades existem, principalmente com relação aos custos
envolvidos e as diferenças na legislação de cada país. Mas isto não tem intimidado os
empresários. As experiências têm sido bem sucedidas, o que está animando bastante os
franqueadores a continuar buscando o crescimento no exterior.
Percebe-se também no estudo dos casos que poucas têm sido as modificações realizadas
nos compostos de marketing visando uma adaptação às diferentes características de cultura e
ambiente dos diversos mercados de atuação. As empresas afirmaram por diversas vezes não
estar percebendo, na condução dos negócios no exterior, uma necessidade de grandes
mudanças nos compostos. Elas afirmaram que estes, da maneira com que são utilizados no
Brasil, estão conseguindo agradar os consumidores estrangeiros. Uma possível explicação
para esta realidade é de que realmente, com todo o processo de globalização existente hoje em
dia, as culturas dos diversos países estejam cada vez mais parecidas, exigindo que
modificações nos compostos de marketing sejam cada vez menos necessários. Talvez as
maiores preocupações estejam na comunicação de marketing, onde foi percebida uma mais
efetiva política de enquadramento à realidade de cada região, mesmo porque é onde erros
podem ter conseqüências muito mais graves para a imagem da franquia.
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1
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2
Pode haver mais redes de franquias brasileiras operando no exterior mas que não foram identificadas. Não há
dados oficiais a respeito.
3
Na opinião de alguns autores pesquisados, os sistemas de franquias podem ser classificados em mais de dois
tipos, não havendo, portanto, consenso em relação a isto. Para o autor, assim como para muitos autores, só
existem realmente dois tipos de sistemas, sendo os demais apenas variações ou adaptações destes dois.