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Integrais Gaussianos 1
Diagramas de Feynman
Uma introdução
J.N. Tavares
Centro de Matemática da Universidade do Porto
Dept. Matemática Pura, Faculdade de Ciências do Porto
Rua do Campo Alegre, No. 687, 4169-007 Porto, Portugal.
E-mail adress: jntavar@fc.up.pt
Abstract
.1
Para calcular Z0 [J] usamos a mudança de variável x → y = x − JA−1 , de tal forma que:
1 1
− xAx + Jx = − (y + JA−1 )A(y + JA−1 ) + J(y + JA−1 )
2 2
1 1
= − yAy + JA−1 J (0.1.3)
2 2
e portanto:
q 1 −1 J 1 −1 J
2π
Z0 [J] = A e 2 JA = Z0 [0] e 2 JA (0.1.4)
Resta agora calcular Z0 [0]. Para isso, seja R uma matriz ortogonal (RRT = 1) que diago-
naliza A:
A = RT DR, onde D = diag(λ1 , · · · , λN ), λi > 0
e façámos a mudança de variável:
y = Rx
que tem Jacobiano igual a 1, já que det R = 1. Vem então que:
Z Z
1 1
dx e− 2 x·Ax = dy e− 2 y·Dy
IRN IRN
(2π)N/2
= √
det A
isto é:
(2π) N/2
Z0 [0] = √ (0.1.7)
det A
Concluindo:
R − 12 x·Ax+J·x
Z0 [J] = IRN dx e
(2π)N/2 1 J·A−1 J
= √ e 2
(0.1.8)
det A PN
1
J A−1 J
= Z0 [0] e 2 k,`=1 k k` `
0.2. Funções de Correlação Gaussianas (ou livres) 3
O resultado fundamental é que estas funções de correlação podem ser calculadas por derivações
sucessivas, relativamente às variáveis J` , da função geradora livre Z0 [J], dada por (0.1.5). Ve-
jamos alguns exemplos:
∂ ∂
Z
1
Z0 [J] = dx e− 2 x·Ax+J·x
∂Ji ∂Ji IRN
∂ − 1 x·Ax+J·x
Z
= dx e 2
IRN ∂Ji
Z
1
= dx e− 2 x·Ax+J·x xi (0.2.3)
IRN
e assim sucessivamente:
(n) 1 ∂ ∂
G0 (i1 , · · · , in ) = Z0 [0] ∂Ji1 ∂Ji2 · · · ∂J∂i Z0 [J]|J=0 (0.2.6)
n
É claro que podemos calcular explicitamente todas estas funções de correlação, usando a
fórmula (0.1.8) que calculámos para Z0 [J]:
1 −1 J
Z(J) = Z0 [0] e 2 J·A
0.2. Funções de Correlação Gaussianas (ou livres) 4
(n)
Anàlogamente se mostra que qualquer função de n-pontos livre G0 , com n ı́mpar, é nula.
Consideremos agora a função de 2-pontos livre:
(2)
G0 (i, j) = hxi xj i0
1 ∂ ∂
= Z0 [J]|J=0
Z0 [0] ∂Ji ∂Jj
1 ∂ ∂ 1 −1
= Z0 [0] e 2 J·A J
Z0 [0] ∂Ji ∂Jj J=0
!!
∂ 1
J·A−1 J
A−1
X
= e jk Jk
2
∂Ji k
J=0
= A−1
ij
= Fij (0.2.8)
def
F = A−1 (0.2.9)
é exactamente a função de 2-pontos livre:
(2)
G0 (i, j) = A−1
ij = Fij (0.2.10)
•i •j
1 ∂ ∂ ∂ ∂
= Z0 [J]|J=0
Z0 [0] ∂Ji ∂Jj ∂Jk ∂J`
1 ∂ ∂ ∂ ∂ 1 −1
= Z0 [0] e 2 J·A J
Z0 [0] ∂Ji ∂Jj ∂Jk ∂J` J=0
..
.
= A−1 −1 −1 −1 −1 −1
ij Ak` + Aik Aj` + Ai` Ajk
= Fij Fk` + Fik Fj` + Fi` Fjk (0.2.11)
(n)
G0 (i1 , · · · , i2m ) = hxi1 · · · xi2m i0
∂ ∂ 1 J·A−1 J
= ··· e2
∂Ji1 ∂Ji2m J=0
X
= Fip1 ip2 · · · Fip2m−1 ip2m
P
X
= hxp1 xp2 i0 · · · hxp2m−1 ip2m i0 (0.2.12)
P
Note que existem (2m − 1)!! = (2m − 1)(2m − 3) · · · 3 · 1 emparelhamentos P dos indices
i1 , · · · , i2m . De facto:
! ! ! !
2m 2m − 2 4 2
···
2 2 2 2 (2m)(2m − 1)(2m − 2) · · · 3 · 2 · 1
=
m! 2m m!
(2m)!
=
2m m!
= (2m − 1)!! (0.2.13)
As funções de correlação ou funções de n-pontos definem-se como antes - dada uma sequência
de n indices (i1 , · · · , in ), não necessàriamente distintos, onde cada i` ∈ {1, · · · , N }, define-se
G(n) (i1 , · · · , in ) através de:
def
G(n) (i1 , · · · , in ) = hxi1 · · · xin i
Z
= dµ(x) xi1 · · · xin
IRN
1
Z
1
= dx e− 2 x·Ax−λV (x) xi1 · · · xin (0.3.2)
N IRN
Em particular:
h1i = 1 (0.3.3)
Façamos:
O(x) = xi1 · · · xin (0.3.4)
para simplificar notações, e calculemos hO(x)i, pondo:
λ2 λ3
e−λV (x) = 1 − λV (x) + V (x)2 − V (x)3 + · · ·
2! 3!
em (0.3.2). Vem então que:
1
dx O(x) e− 2 x·Ax e−λV (x)
R
Ω
hO(x)i = 1
dx e− 2 x·Ax e−λV (x)
R
Ω
1
n o
λ2 λ3
dx O(x) e− 2 x·Ax 1 − λV (x) + (x)2 − (x)3 + · · ·
R
Ω 2! V 3! V
= 1
n o
λ2 λ3
dx e− 2 x·Ax 1 − λV (x) + (x)2 − (x)3 + · · ·
R
Ω 2! V 3! V
1
n o
λ2 λ3
dx e− 2 x·Ax O(x) − λO(x) V (x) + (x)2 − (x)3 + · · ·
R
Ω 2! O(x) V 3! O(x) V
= 1
n o
λ2 λ3
dx e− 2 x·Ax 1 − λV (x) + 2 (x)3 + · · ·
R
Ω 2! V (x) − 3! V
hOi0 − hOV i0 λ + 2!1 hOV 2 i0 λ2 − 3!1 hOV 3 i0 λ3 + · · ·
=
1 − hV i0 λ + 2!1 hV 2 i0 λ2 − 3!1 hV 3 i0 λ3 + · · ·
= hOi0 − {hOV i0 − hOi0 hV i0 } λ +
1 1
+ hOV 2 i0 − hOi0 hV 2 i0 − hOV i0 hV i0 + hOi0 hV i20 λ2 + O(λ3 )
2 2
(0.3.5)
0.3. Funções de correlação da teoria não livre. Teoria perturbativa 7
que é a chamada série perturbativa (assintótica) para a função de n-pontos G(n) (i1 , · · · , in ) =
hO(x)i = hxi1 · · · xin i.
É claro que os cálculos ràpidamente se complicam, pelo que se torna necessário codificá-los
através de combinatória de diagramas de Feynman.
Para sermos mais concretos consideremos uma teoria-φ4 , com o potencial:
1 X 4
V (x) = x
4! k k
e calculemos alguns termos da série perturbativa da função de 2-pontos G(2) (i, j) = hO(x)i =
hxi xj i, dada por (0.3.5).
hO(x)i0 = hxi xj i0
= A−1
ij = Fij
1 X
hO(x)V (x)i0 = hxi xj x4k i0
4! k
1 X
= hxi xj xk xk xk xk i0
4! k
1 XX
= hxp1 xp2 i0 hxp3 xp4 i0 hxp5 xp6 i0
4! k P
1 XX
= Fp1 p2 Fp3 p4 Fp5 p6 (0.3.6)
4! k P
onde a última soma se faz sobre todos os emparelhamentos dos ı́ndices {i, j, k, k, k, k}, de acordo
com o teorema de Wick (ao todo existem (6 − 1)!! = 5 · 3 · 1 = 15 parcelas).
A diagramática para estas parcelas ilustra-se na figura 3. Existem dois tipos de emparelha-
mentos, a que correspondem dois tipos de diagramas:
• Os vértices externos i e j estão ligados directamente por uma linha (propagador livre),
enquanto que os vértices internos (são 4 todos iguais a k) se podem emparelhar de (4−1)!! =
3 formas diferentes. Estas 3 contribuições são todas iguais a Fij F2kk . Depois de projectados,
obtemos o primeiro diagrama da linha inferior, que, por isso, contribui para a soma com
3 parcelas iguais a Fij F2kk .
• O vértice externo i pode ser unido a qualquer dos 4 vértices internos k, o que dá 4 possibil-
idades. De seguida, o vértice externo j pode ser unido a qualquer dos 3 vértices internos k
restantes - ao todo 4 · 3 = 12 emparelhamentos possı́veis, todos com a mesma contribuição
Fik Fkk Fkj . Depois de projectados, obtemos o segundo diagrama da linha inferior, que,
por isso, contribui para a soma com 12 parcelas iguais a Fik Fkk Fkj .
1 X 1X
= Fij F2kk + Fik Fkk Fkj (0.3.7)
8 k
2 k
1 X
hO(x)i0 hV (x)i0 = hxi xj i0 hxk xk xk xk i0
4! k
3 X
= hxi xj i0 hxk xk i20
4! k
1 X
= Fij F2kk (0.3.8)
8 k
aos cancelamentos devidos às contribuições de vácuo dadas pelas segunda e quarta parcelas da
contribuição em λ2 , em (0.3.5), respectivamente iguais a 12 hO(x)i0 hV (x)2 i0 e hO(x)i0 hV (x)i20 .
Nestas contribuições a presença de hO(x)i0 = hxi xj i0 como factor, significa que os vértices
externos i e j estão ligados directamente por uma linha (propagador livre). Calculemos para já:
1 1 1 X
hO(x)V (x)2 i0 = hxi xj x4k x4` i0
2 2 (4!)2 k,`
1 1 X
= hxi xj xk xk xk xk x` x` x` x` i0
2 (4!)2 k,`
1 1 XX
= hxp1 xp2 i0 hxp3 xp4 i0 hxp5 xp6 i0 hxp7 xp8 i0 hxp9 xp10 i0
2 (4!)2 k,` P
(0.3.10)
onde a última soma se faz sobre todos os emparelhamentos dos ı́ndices {i, j, k, k, k, k, `, `, `, `},
de acordo com o teorema de Wick (ao todo existem (10 − 1)!! = 9 · 7 · 5 · 3 · 1 = 945 parcelas).
De entre estes possı́veis emparelhamentos, aqueles em que os vértices externos i e j estão
ligados directamente por uma linha (propagador livre), enquanto que os vértices internos (4
iguais a k e 4 iguais a `) estão emparelhados entre si (de (8 − 1)!! = 105 formas diferentes),
cancelam com as contribuições de vácuo dadas pela parcela 21 hO(x)i0 hV (x)2 i0 que figura na
contribuição de ordem 2, em (0.3.5).
0.3. Funções de correlação da teoria não livre. Teoria perturbativa 9
Uma vez canceladas as contribuições do vácuo, o que resta, então, para além da contribuição
desconexa já referida (figura 5)? O que resta provem de (0.3.10). Temos ainda várias hipóteses:
Resumindo tudo o que fizemos até agora, podemos escrever a série perturbativa da função
de 2-pontos (da teoria-φ4 ) até à ordem 2:
X 1
(2)
G (i, j) = Fij − Fik Fkk Fkj λ
k
2
X X 1 1 1
+ Fik F3k` F`j + Fik Fkk Fk` F`` F`j + Fik F3kk F`` Fkj λ2
k `
6 4 4
3
+O(λ ) (0.3.13)
ou diagramàticamente:
Note que se cortarmos a linha que une k a `, no segundo diagrama de ordem 2, obtemos dois
diagramas idênticos ao diagrama de ordem 1. Esse diagrama de ordem 2 diz-se por isso redutı́vel2
ou 1P R. Um diagrama irredutı́vel ou 1P I é pois um diagrama que não pode ser separado em 2,
por corte de uma das suas linhas internas.
Se num diagrama irredutı́vel 1P I, cortarmos as linhas externas, obtemos os chamados dia-
gramas de energia própria3 .
Representemos por:
def
−Σ = Soma de todos os diagramas de energia própria = 1PI’s amputados (0.3.14)
Então, a Função de 2-pontos G = G(2) (a, b), também chamado propagador completo, é dado
pela série geométrica:
G = G0 − G0 ΣG0 + G0 ΣG0 ΣG0 − · · ·
= G0 [1 − (ΣG0 ) + (ΣG0 )2 − (ΣG0 )3 + · · ·]
G0
=
1 + ΣG0
1
= −1
G0 + Σ
1
= 2 2
p + m + Σ(p)
1
= (0.3.15)
p + m2fis
2
2
one particle reducible.
3
proper self-energy diagrams or graphs
0.4. Funções de 4-pontos. Funções vértice 11
Figure 9:
O formalismo anterior aplica-se a teorias de campo escalar (Euclideano) numa rede Λ, com a
substituição de notações:
x - φ
i - s∈Λ
xi - φs = φ(s) (0.6.1)
x - φ
i - x ∈ IEd
xi - φ(x)
X Z
- dx
i
Z Z
dx - Dφ (0.6.2)
Recorde que:
= dp1 · · · b 1 ) · · · φ(p
dpr φ(p b 2 ) δR∗ (p1 + · · · + pr ) (0.6.6)
R∗ R∗
1
Z Z
d
X L→∞
=L - dp
R∗ p (2π)d B
1
Z Z Z
2 2
Z0 [J] = D[φ] exp dp φ(p)[m + p ]φ(−p) − dp J(p)φ(−p) (0.6.10)
2
0.6. Correlações no espaço dos momentos 13
onde omitimos os ”hats” e considerámos já o limite contı́nuo (formal).... Para o modelo com
interacção, temos que:
( ! )
1 X λr δ δ 1
Z X Z
Z[J] = exp − dp1 · · · dpr δ pi ··· exp dp J(p)G0 (p)J(−p)
N r r! i
δJ(−p1 ) δJ(−pr ) 2
(0.6.11)
onde:
1
G0 (p) =
m2 + p2
e finalmente, as correlações G(n) por:
δ n Z[J]
(n)
G (p1 , · · · , pn ) = (0.6.12)
δJ(−p1 ) · · · δJ(−p1 ) J=0