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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Graduação em Publicidade e Propaganda – Manhã


Cinema e Vídeo – Eduardo Jesus

Trabalho sobre Cinema Brasileiro

Lucas Franco
Thiago Sette

BELO HORIZONTE
2010
1) O filme “Salve Geral” provoca uma série de reflexões: a ética, a corrupção, o
aumento da participação das mulheres no crime, o amor materno e suas consequências,
a visão da classe média sob os presídios e os bandidos, o abandono do sistema
penitenciário do país, a violência, a falta de controle do Estado em situações
emergenciais, o poder do dinheiro e do crime e a imprevisibilidade do destino, são
questões levantadas no filme. Por abordar tantas facetas de um problema, o filme foi
encarado pela crítica com inconclusivo. O ponto de vista do diretor Sérgio Rezende não
fica claro, e, portanto, não é possível estabelecer uma conclusão. Qual seria a verdadeira
intenção de Rezende com esse filme? Ricardo Calil ao escrever sua crítica, diz: “’Salve
Geral’ é vítima daquela velha mania do cinema brasileiro de querer explicar um país
inexplicável.” (CALIL, 2009). Com isso, o filme se torna vazio; ao terminarmos de
assistir são tantas reflexões a se fazer que acabamos nos perdendo e ficando sem
reflexão alguma.
Fábio Andrade em sua crítica, ao site Revista Cinética, conta que Rezende antes
de iniciar a sessão para a imprensa explica o porquê do título: “: o ‘salve’, segundo ele,
queria dizer ‘recado’. O filme seria, portanto, um ‘recado geral’” (ANDRADE, 2009).
Essa explicação, segundo Andrade serviu para Rezende adicionar uma nota de rodapé
para uma intenção mal cumprida em seu próprio filme. No hotsite de Salve Geral, essa
explicação também consta. Nota-se, portanto, que Sérgio Rezende se preocupou em
explicar a todos os interessados no filme o porquê de seu título. Se ele acreditasse que
seu filme conseguiu passar aos expectadores o que desejava passar, essa explicação não
seria necessária.
A explicação de Rezende poderia ser interpretada também pelo fato dele mostrar
em seu filme diversas questões sociais. Dessa forma, ele estaria dando um “recado
geral” à sociedade de tudo que está acontecendo em nosso país. Somente com esse
“recado geral” seria possível entender o porquê de tantas questões levantadas em um
único filme.
O filme ainda foi acusado por alguns críticos de fazer apologia ao PCC, por dar
voz aos criminosos e mostrar o outro lado do problema, que, na época, foi ignorado pela
sociedade, que só pensava em seus interesses e na sua segurança. Bruno Paes Manso,
jornalista do Estado de São Paulo tratou o filme como polêmico. De certa forma ele tem
razão: polêmico é algo que gera discussão e diferentes opiniões sobre determinado
assunto. Ao assistir o filme podemos imaginar como ele será encarado por diferentes
pontos de vista: terão aqueles que desejarão matar todos os presos ou que entenderão o
lado deles e pedirão por compaixão, ou ainda os que revoltarão com a polícia, que
matou tantos inocentes. Há também aqueles que se colocarão na pele de Lúcia, mãe de
Rafael, e, além de entender tudo o que ela está passando, ainda apoiará suas atitudes,
mesmo que essas sejam consideradas, em outro contexto, erradas. Contudo, o que
podemos perceber, é que a crítica do cinema foi substituída pelo julgamento ideológico;
não se discute mais os filmes, mas a suposta posição política dos diretores. Assim
também foi com “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus”, “Ônibus 174” e “O Prisioneiro da
Grade de Ferro”.
No texto “A crítica e o Cinema Impuro”, Luiz Zanin Oricchio questiona como a
crítica pode influenciar na visão de toda a sociedade:

[...] A crítica tem o poder de inventariar as chaves ideológicas ou estéticas segundo


as quais os filmes foram analisados em determinadas épocas, em especial no momento
histórico em que apareceram, e dadas a público.

Dessa forma, antes mesmo de assistir ao filme, o espectador já tem uma visão
direcionada e interpreta as cenas como se estivesse sendo feita apologias, por exemplo,
sem ao menos dar ao próprio filme a chance de mostrar-se diferente. Além disso, ainda
citando Oricchio:

A crítica jornalística (seja ela de cinema, literatura, música ou artes plásticas)


trabalha no calor da hora, sem recuo histórico, sem rede de proteção. Reage à obra em
estado nascente e registra um momento de percepção.

Dessa forma, “no calor do momento”, muitas interpretações podem ser


equivocadas. O filme, quando ele é planejado pelo seu diretor e quando ele esta sendo
filmado, são pensados detalhes e que, a priori, não são absorvidos pelo espectador.
Muitas vezes acontece de já termos visto o filme por diversas vezes e percebermos uma
coisa diferente, seja isso um detalhe ou outra interpretação. Por isso, mesmo que a
crítica seja feita por profissionais que estudam muito sobre o assunto e vêem muitos
filmes, deve-se sempre tomar cuidado para que o que está sendo dito não seja um
equívoco e que possa influenciar de maneira negativa a visão do público.
A crítica aponta ainda as razões pela qual Rezende decidiu fazer esse filme, se
juntando ao montante de filmes brasileiros ditos violentos. Oricchio cita Luís Almeida
Salles em seu texto, que em seu livro “Cinema e Verdade” apóia o uso de uma
experiência real para produção de um filme:

O que se espera do cinema novo brasileiro é menos acertos técnicos e estéticos,


menos demonstração de que podemos fazer filmes no nível de exigência dos outros países,
esperamos uma ideologia, uma tomada de posição em função de uma problemática social e
humana brasileira, um estilo de criação que decorre dessa problemática social e humana
brasileira, um estilo de criação que decorre dessa problemática e exprime a nossa forma
própria de ver e sentir a realidade.

Salve Geral trata exatamente disso, se trata de uma ficção a partir de um fato real
que aconteceu na cidade de São Paulo em 2006. Quatro meses após os ataques de São
Paulo, Sérgio Rezende decidiu fazer o filme concluído apenas três anos após o episódio.
Rezende viveu aquela onda de violência e pensou no filme sob uma perspectiva
diferente da que estava sendo tratada pela imprensa e pela sociedade na época. Para não
cair no clichê do “cinema inautêntico, de fabricação de dramazinhos alienados, à
maneira deste ou daquele paradigma consagrado” (SALLES, 2003), Rezende optou por
criar uma história a partir de algo que tinha vivido. Ele opta por criar um cinema
antenado com a realidade em transe no país. Citando Oricchio: “mesmo um filme
esteticamente sofrível poderia ser bom ponto de partida para o entendimento de
determinado momento histórico, não só do cinema, mas da sociedade.” A estética passa
a ser então fator secundário, já que a intenção do filme é expor um momento histórico e
questioná-lo.
Fábio Andrade, em sua crítica, também questiona a estética do filme:

Não existe possibilidade de choque entre o que se filma e como isso é filmado:
quando uma personagem diz que pensa o tempo todo em algo – e aí, de fato, não importa o
que isso seja – Sérgio Rezende já se entrega logo a um hiper-close.

O filme utiliza dos movimentos de câmera de maneira previsível, como se fosse


um filme jornalístico, como um documentário. Quando o personagem diz que tem uma
arma, por exemplo, filma-se a arma, sempre sincronizando o que está sendo dito com o
que está sendo filmado. Além de movimentos de câmera, a falta de ousadia também
pode ser percebida em outros aspectos do filme. Ainda citando Andrade, “O caminho
resultante dessa estratégia é o da banalização pura e simples: o garoto que é preso em
um racha de carros tem posters do Ayrton Senna na parede de seu quarto. Não há
intenção de instalar o espectador nos ambientes, ou de apresentá-lo de maneira menos
unilateral às personagens.” Tudo é apresentado como estereótipo, sejam os gostos dos
personagens de acordo com suas atitudes, como cita Andrade, ou a maneira de falar e
apelidos desses personagens. “O garoto que gosta de computadores é chamado de HD; o
bandido intelectual se chama Professor (e, claro, ocupa as paredes de sua cela com
estantes de livros); e até mesmo a advogada ruiva se chama Ruiva.” (ANDRADE,
2009.) Mesmo que esses apelidos sejam comuns no ambiente da prisão ou na maneira
que os criminosos se tratam, Rezende os utiliza sem criatividade, abusando do senso
comum, do pensamento estereótipo de uma sociedade que está claramente distante desse
ambiente. O filme se torna, portanto, controverso. Ao mesmo tempo em que deseja
mostrar uma situação que foi vivida pelo próprio diretor, demonstra não ter
conhecimento prático do ambiente carcerário.
Por se mostrar controverso nessa tentativa de mostrar uma realidade vivida,
Rezende abre espaço e faz com que os críticos pensem em outros motivos para a
produção do filme. O “Estadão” publicou uma nota comunicando aos seus leitores da
estréia de Salve Geral nos cinemas e de sua possível vaga para um dos indicados ao
Oscar de melhor filme estrangeiro. A nota diz:

Rezende não esconde que, desde o anúncio da escolha de seu filme, sua rotina foi
pelos ares. A primeira tarefa agora é exibir o longa fora do País. ‘Sei que a própria
Academia promove sessões, mas não sei exatamente como isso funciona, afinal, sou
marinheiro de primeira viagem’, brinca o diretor.

Com essa afirmação, podemos perceber que Rezende tinha outras intenções
antes mesmo de começar a produção de seu filme, quando ainda estava pensando na
história. Outros diretores também não escondem o interesse na estatueta: “‘Agora tem
que esperar o filme ser visto pelo comitê. São uns 200 críticos. É a eles que o filme
precisa agradar’”, diz Barreto, diretor que já se viu em situação igual à de Sérgio
Rezende. A partir dessas declarações, percebemos que o cinema brasileiro não é mais
feito como antes, pelo simples fato de mostrar a arte, com objetivo de expor a arte a
sociedade brasileira uma história digna de reflexões, mas sim pela ambição de conseguir
uma estatueta e reconhecimento no Brasil e no exterior por ter feito um bom trabalho. b
Como já foi citado anteriormente, o filme não ousa muito quando se trata de
movimentos de câmera. A maior parte do tempo é utilizado o close-up ou o plano
americano. Fábio Andrade cita exemplos em sua crítica de algumas cenas em que os
movimentos de câmera são previsíveis:

O diretor não acredita no mistério de seus próprios signos, é forçoso que o mesmo
movimento aconteça na hora de apontar a câmera. Pois se não há crença no mistério dos
signos, não pode existir fora de campo - algo que fica claro tanto na sequência do tribunal
(onde só ouvimos os fragmentos que "interessam"), quanto na cena em que um preso faz
exercícios na barra, saindo e entrando em quadro, calando-se quando não o vemos, e
falando uma nova frase sempre que seu rosto está novamente em close.

Os movimentos são feitos como em um programa televisivo, em que o rosto do


emissor tem sempre que estar à mostra quando ele está falando. Oricchio faz crítica a
esse tipo de cinema:

Esse cinema incorpora, sem pruridos, técnicas da publicidade e do videoclipe.


Dialoga com a televisão. Coloca o espectador no centro de suas preocupações e se esforça
para não entediá-lo. Procura se comunicar com os jovens, que são a parcela maior do
público cinematográfico. Estes filmes podem ser sociais ou políticos em sua temática, mas
não abrem mão dos recursos do espetáculo em sua forma. Enfim, negam, a distinção
liminar entre a arte pura e entretenimento.

Em algumas cenas o enquadramento chama a atenção, como na cena em que


Lúcia e o Professor têm uma relação sexual, em que a câmera mostra a mão dele
percorrendo o corpo dela. Outro exemplo é a cena em que Lúcia sobe a escada do
presídio e a câmera a filma de baixo para cima, como se ela estivesse olhando para
alguém que está na escada, para aquela situação deplorável que os presos se encontram
e demonstra tristeza por seu filho estar naquele meio e compaixão por aqueles que estão
ali. A utilização de gruas na filmagem também se tora relevante; por se tratar de um
filme baseado em fatos reais, ao vermos São Paulo em um ângulo visto de cima, em que
filma um engarrafamento interminável. Isso acontece devido ao desejo de toda a
sociedade paulista em ir para casa, mostrando que o medo era presente em cada ponto
da cidade. Ficamos impressionados como Rezende conseguiu mostrar em seu filme
cenas que ainda estavam em nossas mentes desde o salve em 2006, quando a televisão
deu cobertura completa, exatamente como mostra no filme. Além da cena do
engarrafamento, isso também acontece nas cenas dos presídios quando os presos
estavam em rebelião. Essas cenas chegam a causar repulso, pois é possível lembrar de
quando isso não era filme, e sim realidade escancarada a nossa frente.
A iluminação também contribui muito para o impacto que o filme quer passar.
Em alguns momentos chega a incomodar por ter uma quantidade de luz exageradamente
forte ou escassa. Na cena em que Lúcia passa dirigindo próximo a um ônibus que estava
sendo incendiado, a luminosidade do fogo é tão intensa que chega a incomodar os olhos
dos espectadores. O contrário também acontece quando Ruiva vai à casa de Lúcia para
telefonar, o ambiente está muito escuro, mal da para ver as duas. A falta de
luminosidade faz com que fiquemos procurando o rosto delas, quando a intenção é
realmente escondê-los, a própria personagem Ruiva pede para que apague a luz,
deixando isso claro. O filme é todo tratado com um aspecto sombrio. Mesmo que as
cenas sejam mais iluminadas, o silêncio ou os barulhos de bala e gritos dão o ar tenso à
trama.
2) O filme Salve Geral é uma produção brasileira que acompanha a tendência da
última década do cinema nacional. Conta como pano de fundo a situação da segurança
pública no país, minada pela corrupção, desde os altos escalões do poder Judiciário, aos
soldados das Polícias Militares e agentes da Polícia Civil e Penitenciários.
A abordagem do tema é a partir do ponto de vista pessoal de uma mãe que vê
seu filho preso e condenado a oito anos de prisão por assassinato, e passa a conhecer e
conviver com as mais diversas atividades do crime organizado de São Paulo. Sem
recursos para ajudar seu filho na prisão, é aliciada a participar ativamente das
movimentações criminosas comandadas pelos líderes do PCC, diretamente dos
presídios paulistas, em troca de dinheiro, proteção e “conforto” para seu filho.
O clímax é atingido quando o maior ataque já organizado por uma facção
criminosa é toma lugar de destaque no filme, onde quase 50 rebeliões são feitas
simultaneamente em presídios, ataques por toda a cidade de São Paulo são realizados,
tendo com alvos delegacias e postos policiais, agências bancárias, lojas, ônibus, e são
mortos mais de 100 pessoas, entre policiais, agentes de segurança, bandidos, e vítimas
inocentes.
O filme mostra como o crime organizado conseguiu parar a maior cidade da
América Latina, e todos os vetores envolvidos, desde corruptores, corruptos, bandidos,
e pessoas que “sem escolha” participaram dos atos criminosos. Mais um filme
imperdível à disposição dos brasileiros.
3) A cena que, pra nós, melhor sintetiza o filme, é aquela em que estão Xizão e
Rafael no carro, conversando sobre os sonhos de vida antes da prisão. Depois de falar
que seu sonho era ser piloto de corrida, Rafael ouve de Xizão que estava melhor assim,
pois estava ajudando a revolução, e este indagado com a pergunta se acreditava mesmo
nisso, responde; -“Se eu não acreditar nisso, vou acreditar em quê?”
Essa frase dita por Xizão, nos dá a idéia precisa da situação em que a grande
maioria dos presos se encontra, desiludidos com a própria realidade, sem perspectiva de
futuro, encontrando no crime e em sua falsa promessa de melhoria de condições, a
motivação para continuar “batalhando” pela vida.
Essa mesma frase nos leva diretamente à situação de Lúcia, viúva, sem emprego,
dinheiro, e tendo seu único filho preso, justamente num período em que todo um embate
entre os líderes do PCC e o alto comando da polícia está prestes a explodir. Sem meios
de ajudar e proteger seu filho, ela também encontra no crime, o seu escape da realidade.
Passa a contribuir com o crime organizado para obter um mínimo de estabilidade
financeira e possibilidades de assistir seu filho.
A síntese do filme, na nossa opinião, é justamente essa, a maneira como o crime
utiliza e é utilizado para subverter a ordem estabelecida, e prover facilidades que não
estão ao alcance da população mais pobre, mesmo que à priore, honesta.

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