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A ascite, na doença hepática crônica, sinaliza que a doença está avançada e está
relacionada ao aparecimento de outras complicações da cirrose, como a hemorragia
por varizes esofágicas e a encefalopatia hepática. Inicialmente, pode ser tratada apenas com
diuréticos e a dieta com pouco sal, mas à medida que a doença progride os rins podem não
suportar os diuréticos e/ou desenvolverem a chamada síndrome hepatorrenal (falência dos
rins causada por alterações circulatórias provocadas pela cirrose), podendo ser necessária a
realização de paracentese (drenagem da ascite através de punção com agulha). Além de
outras complicações, a presença da ascite pode levar à infecção do líquido ascítico, condição
chamada peritonite bacteriana espontânea, que pode ser severa e com alta mortalidade se não
tratada adequadamente.
Neste texto, será abordada apenas a ascite relacionada a doença hepática crônica e à
hipertensão portal.
FISIOPATOGENIA
A ascite é uma condição muitifatorial, onde diversas alterações causadas pela doença
hepática se somam e culminam no acúmulo de líquido intra-abdominal. A fisiopatogenia
(mecanismo de formação da doença) da ascite é muito mais complexa do que a exposta aqui,
que está simplificada por questões didáticas.
Essas veias, que provém da maioria dos órgãos do abdome, tornam-se dilatadas (pela
pressão interna aumentada e pela ação de vasodilatadores), levando ao extravasamento de um
líquido filtrado do sangue que "escapa" dos vasos.
Corte sagital do abdome mostrando o peritônio envolvendo as alças intestinais e o fígado (linha preta mais escura).
O órgão que é responsável pela maior parte da produção do líquido ascítico é o peritônio,
uma membrana que reveste a parte interior do abdome e alguns dos seus órgãos e que é
permeável, tanto ao extravasamento de líquido para a formação da ascite, quanto à absorção
do líquido durante o tratamento.
Apesar dos poros nos capilares sangüíneos, a presença da quantidade adequada de grandes
proteínas plasmáticas, em especial a albumina (que é maior do que os poros), "segura" a
maior parte do plasma dentro do vaso sanguíneo.
Estrutura tridimensional da albumina
Sem a quantidade adequada de albumina, a pressão oncótica nos vasos sangüíneos diminui,
o que torna mais "fácil" o extravasamento do plasma que está sendo "empurrado" pelo
aumento na pressão do sistema porta.
Na hipertensão portal, os vasodilatadores são liberados em todo o sistema porta, o que faz
com que a quantidade de vasos dilatados seja muito grande e não estejam restritos apenas ao
sistema porta (há uma vasodilatação em praticamente todo o organismo). No entanto, a
quantidade de sangue é a mesma, o que faz com que, além de não resolver completamente o
problema de hipertensão no sistema porta, a pressão sangüínea em todo o organismo esteja
reduzida.
No entanto, os rins interpretam a pressão baixa como sinal de que falta líquido no organismo,
portanto passar a usar mecanismos (sistema renina-angiotensina-aldosterona) para absorver
mais sal e água e tentar elevar a pressão. O resultado disso é que a água e o sal extras, pelos
mecanismos descritos anteriormente, vão aumentar ainda mais a ascite.