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A abordagem da Economia Popular Solidária no estudo de caso da

Alumifer de Erechim – RS

Mestranda: Viviane Rodrigues Lucca


Resumo

O presente paper trata da abordagem da economia popular solidária e a sua relação com o
estudo de caso da Cooperativa Autogestionária de Trabalhadores em Fundição de Alumínio e
Ferro Ltda. – ALUMIFER situada no município de Erechim-RS. O estudo inicia discorrendo
acerca da temática economia solidária explicitando suas premissas básicas a fim de explicar a
dinâmica de desenvolvimento local a partir do estudo de caso proposto. Foi classificado como
pesquisa exploratória, bibliográfica e estudo de caso, tendo em vista que se utilizou coleta de
dados realizada em 2004, através da análise de documentos, entrevistas com dezenove
pessoas, sendo quinze cooperativados da ALUMIFER, um dirigente sindical do Sindicato dos
Metalúrgicos e três assessores do Centro de Educação Popular – CEPO e observações
realizadas durante as visitas. Os dados foram analisados, interpretados e aprofundados na
perspectiva proposta para este estudo com base nas categorias definidas com base no
referencial teórico, o que possibilitou constatar que a organização em estudo se fundamenta
nos princípios da economia popular solidária e contribui para o desenvolvimento local
daquele município e região.

Palavras Chave: Economia Popular Solidária; Desenvolvimento Local.

1. Introdução

É notória a importância de se estudar os novos paradigmas presentes na sociedade,


sobretudo aqueles que buscam uma atuação eficaz na sociedade pós-industrial, tendo em vista
os inúmeros problemas, dificuldades e desacertos do mundo contemporâneo. O
empreendedorismo social, tema deste trabalho, possui como foco principal de atuação a
sociedade civil buscando estabelecer parcerias com o governo, comunidade e setor privado
visando o negócio social. Melo Neto e Froes (2002) estabelecem o seguinte enfoque acerca do
empreendedorismo social:

Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo


paradigma. O objetivo não é mais o negócio do negócio, que tem nas empresas,
sobretudo nas transnacionais e nas grandes instituições financeiras, o seu principal
eixo de atuação. Trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil o
seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo comunidade, governo e setor
privado a sua estratégia-base. O desafio não é mais a busca incessante do lucro e do
aumento da produtividade, a excelência na gestão e a competitividade do negócio.

Esta nova forma de pensar suscita o desejo de buscar uma teorização específica para
estes empreendimentos, pois a literatura especializada existente ainda é incipiente e os
entendimentos são diversos e por vezes confusos. Neste contexto, optou-se por estudar uma
cooperativa como questão transversa ao empreendedorismo social, procurando identificar se
este tipo de empreendimento possui características oriundas do empreendedorismo social em
sua atuação. Desta forma, acredita-se ser necessário que estudos específicos sejam realizados,
devido às peculiaridades dessa temática.

2. Considerações teóricas

Este tópico aborda questões referentes a definições e relações existentes entre os pontos que
elencou-se como fundamentais neste estudo. Inicialmente abordou-se o item Economia
Popular Solidária procurando-se realizar uma caracterização geral do tema, para após
descrever-se de que forma está ocorrendo sua inserção em nível de país. Já os próximos
itens dizem respeito ao Desenvolvimento Local, buscando-se identificar a relação entre
a Economia Popular Solidária e o Desenvolvimento Local.

2.1 A Economia Popular Solidária - Uma caracterização geral

Dees (1998) observa que o conceito de empreendedorismo social está se tornando


popular, e que pode significar diferentes coisas para diferentes pessoas, tornando-se um tanto
confuso. Como exemplo, cita o fato de que muitos associam o termo empreendedorismo
social exclusivamente para organizações sem fins lucrativos, enquanto outros o usam para se
referir a empresários que aderem a práticas de responsabilidade social. Para melhor
compreender este conceito, Melo Neto e Froes (2002) esclarecem que o empreendedorismo
social autêntico é aquele que efetua propostas de solução para problemas sociais, novas
estratégias de inserção social, projetos sociais inovadores e ações empreendedoras auto-
sustentáveis. Consideram que o empreendedorismo social trabalha com o “negócio social”
sendo o social que se “empresariza”, gerando novos negócios, baseados nos princípios de
solidariedade e trabalho coletivo. Agregam, ainda, a relação do empreendedorismo social com
a ação da sociedade civil, considerando que esta é que deve agir fortalecendo a cidadania,
empreendendo, criando e desenvolvendo negócios. Essa é uma relação diferente do “social do
negócio”, em que empresas prestam serviços de ação social nas comunidades onde atuam.
Tais ações, consideradas de responsabilidade social, têm alcance limitado para mudanças na
sociedade, devido à própria constituição de seus agentes: empresas e negócios.
Para Melo Neto e Froes (2002), o empreendedorismo social aponta para a seguinte
direção:

Seu foco é à busca de soluções para os problemas sociais mediante a ideação e a


testagem de novos modelos adequados de atenção às necessidades da comunidade.
Sua medida é o impacto social de suas ações. O objetivo final do empreendedorismo
social é retirar as pessoas da situação de risco social e, na medida do possível,
desenvolver-lhes as capacidades e aptidões naturais, buscando propiciarem-lhes
plena inclusão social.

Portanto, verifica-se que este prima pelas ações oriundas da sociedade civil, bem como
pelo trabalho coletivo e solidário visando a soluções de problemas sociais e empoderamento
dos atores sociais através de mudanças de paradigmas, vindo estes a ter participação ativa na
construção de uma sociedade mais justa em termos sociais, econômicos, culturais, entre
outros aspectos.
Como desafios para o empreendedorismo social oriundo da sua atuação, Melo Neto e
Froes (2002) propõem estudos a partir do que denominam de “dimensões do
empreendedorismo social”, que se classificam nas seguintes concepções:

• na dimensão psicossocial – atuando na mudança de comportamento, melhorando a


auto-estima e consolidando valores éticos;
• na dimensão cultural – atuando na conscientização da preservação da cultura local, do
uso sustentável das áreas naturais, criando cultura de auto-sustentabilidade;
• na dimensão econômica – buscando gerar renda, criando empregos e melhorando a
qualidade de vida dos envolvidos, além de viabilizar a criação de fontes alternativas de
desenvolvimento e financiamentos;
• na dimensão política – criando novas organizações sociais atuantes;
• na dimensão ambiental – criando a cultura do uso sustentável dos recursos naturais,
bem como de critérios conservacionistas;
• na dimensão regulatória – criando e implementando instrumentos legais e políticas
públicas de incentivo ao empreendimento social.

Percebe-se, a partir destas considerações, o amplo leque de concepções que se constituem


como desafios vinculados à temática em questão, que possuem como foco os atores sociais.
Na opinião de Mônica de Roure, Diretora de Operações Internacionais da Ashoka
Empreendedores Sociais, apud Melo Neto e Froes (2002), a única forma de transformar a
realidade social é através da emergência de um novo paradigma que se constitui numa forma
diferente de pensar a comunidade e o seu desenvolvimento social, econômico, político,
cultural, ético e ambiental. Segundo os autores, a nova forma de pensar a comunidade se
constitui na base do modelo de empreendedorismo social. Este modelo visa transformar as
sociedades atuais, envoltas em inúmeros problemas sociais, numa sociedade que seja capaz de
gerar renda por iniciativa seus atores sociais; capaz de produzir espaços públicos que amplie o
exercício da cidadania, da justiça social e ética, prover parcerias e redes, gerar qualidade de
vida para seus atores, estimular práticas sociais empreendedoras e humanitárias; promover
atividades sociais, culturais, econômicas e ambientalmente sustentáveis e financeiramente
viáveis.
Desta forma, o paradigma do empreendedorismo social opera na expectativa de transformar a
realidade social a partir da inserção nas comunidades com base na reflexão, no
desenvolvimento de alternativas que visem a inserção social, no exercício da cidadania, na
geração de renda, na ética, na justiça social, na busca de novas parcerias incluindo o governo
e o setor privado, na diminuição do distanciamento entre economia, sociedade e ética.
Diante destas colocações, pode-se supor que o empreendedorismo social baseia-se,
conforme Melo Neto e Froes (2002), na necessidade de que todos os atores políticos e sociais
tenham uma nova atitude em relação ao crescimento dos problemas sociais que geraram o
paradigma da exclusão social no Brasil. Segundo os mesmos autores, para que este desejo seja
realizado é fundamental a integração entre o político, o social, o cultural e o econômico em
prol de um novo desenho de comunidade, possuindo as características abaixo relacionadas:

• redesenho da relação entre comunidade, governo e setor privado;


• mudança de paradigma de atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas;
• oferecimento de possibilidades concretas de transformação a setores excluídos das
principais agendas nacionais;
• surgimento da crença do empoderamento as comunidades;
• desenvolvimento de caminho inovadores de promoção de equidade social, cultural,
econômica e ambiental pela otimização dos recursos e competências que possibilitem
atividades financeiramente viáveis e ambientalmente sustentáveis;
• mudança de padrões da sociedade;
• fortalecimento de espaços públicos que promova o acesso de todos e que contemple
melhorias da qualidade de vida dos diversos atores;
• geração de novos processos que promovam a riqueza, bem como valores de vida
digna;
• estabelecimento de padrões éticos em trabalhos comunitários.

Pode-se constatar que estas características apontam para uma nova configuração de
empreendimentos baseados com forte ênfase na solidariedade e na coletividade.

2.2 Empreendedorismo social no Brasil

Segundo Cunha (2001), o termo empreendedorismo social começou a tornar-se


familiar no Brasil a partir de 2000, começando a ganhar a mídia e apoio do Estado, embora
tenha iniciado a se propagar em 1980 por Willian Drayton, fundador da Ashoka, órgão
internacional de atuação na área social que visa formar empreendedores sociais. Essa entidade
premiou em 2001 cinco idéias inovadoras e três planos de negócio entre os 177
empreendimentos inscritos no país, são eles: Themis, Projeto Quixote, Ideaas, Fundação
Brasil Cidadão e Instituto Amarati, como idéias inovadoras e Projeto Quixote, História do
presente e Sociedade Executiva Global, como plano de negócios.
No Brasil, a Ashoka forma entre 15 a 20 empreendedores sociais por ano, escolhidos
como fellows (como são chamados os membros da entidade), após criteriosa seleção. Os
escolhidos ganham bolsas de R$ 90.000,00 por três anos para dedicarem aos seus projetos,
gerando mudanças de paradigma e impacto social.
Cunha (2001) coloca que em 1995 foi realizada, pelo Instituto Superior de Estudos da
Religião e pela Universidade Johns Hopkins, uma pesquisa com 1200 famílias no Brasil, a
qual contabilizou que 153 reais per capita são doados anualmente no Brasil. Segundo o
mesmo autor, desse total, 100 reis vêm de empresas e o restante é doado informalmente, ou
seja, na porta de igrejas ou semáforos entre outros. Ressaltou ainda, que esse dinheiro, “cerca
de 24 bilhões de reais”, precisa ser captado e administrado, apontando para uma
profissionalização do setor e o fortalecimento de conceitos e expressões como a do
empreendedorismo social. O autor relata que um número cada vez maior de profissionais está
sendo formado por cursos de gerenciamento e captação de recursos para o terceiro setor,
como os oferecidos pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São
Paulo.
Desta forma, percebeu-se que a expressão empreendedorismo social no Brasil é
recente, embora seus princípios enquanto idéias inovadoras que tenha como medida de
desempenho o impacto social não o sejam. Observou-se, também, que o empreendedorismo
social no país é visto como proveniente de um empreendedor social ou líder social que foi
capaz de produzir uma idéia inovadora de impacto social, não sendo possível detectar nas
leituras realizadas outras formas de visualização de seus princípios. Neste sentido, procurou-
se ampliar esse entendimento relacionando-o com as cooperativas e cooperativismo, partindo
inicialmente de uma caracterização geral para após relacionar cooperativismo com o
empreendedorismo social.
2.3 As Cooperativas e o Cooperativismo

Uma cooperativa, segundo Rios (1989), é uma associação voluntária com fins
econômicos, podendo nela ingressar os que exercem uma mesma atividade. É regulamentada
pela democracia e os benefícios são distribuídos entre os associados, pois é formada para
prestar serviços aos seus associados e não para obter lucros. Para Jank e Bialoskorski Neto
(1994, p. 2), as cooperativas são formadas por pessoas que possuem interesses da mesma
natureza que chegam à convicção de que sozinhas não conseguirão a obtenção dos benefícios
que desejam. “Assim, elas tendem a se congregar formando uma organização administrativa
especial, a qual tem a tarefa de gerar benefícios comuns”.
Segundo Lechat (2002), as cooperativas, difundidas no mundo inteiro por mais de 150
anos, representam a terceira via entre o capitalismo e o centralismo do Estado. Ricciardi e
Lemos (2000) acrescentam a idéia de que o cooperativismo veio da constatação de que a
cooperação era a melhor maneira para encontrar soluções que interessavam a um determinado
grupo de pessoas com o objetivo de realizar um empreendimento que prestasse serviços
mútuos visando à busca da elevação dos padrões de qualidade de vida de seus associados.
O pensador cooperativista Georges Fauquet (apud RICCIARDI; LEMOS, 2000)
afirma:

[...] o objetivo principal da instituição cooperativa é melhorar a situação econômica


de seus membros. Mas pelos meios que ela adota, pelas qualidades que exige e
desenvolve nos associados, atinge o objetivo mais alto. A finalidade da cooperação é
formar homens responsáveis e solidários, a fim de que cada um atinja uma completa
realização pessoal e, todos juntos, uma completa realização social.

O cooperativismo não condena a riqueza, não é contra a propriedade privada e


tampouco as iniciativas individuais. Pode ser considerado como uma doutrina econômica que
estimula o social, o seu uso em benefício de todos e impulsiona os indivíduos a tentar
satisfazer as suas necessidades em solidariedade com os demais.
Este fenômeno, o cooperativismo, de acordo com Rios (1989), é fruto do movimento
de operários que resultou na criação de um modelo de associação baseado em três
características fundamentais: a propriedade cooperativa, a gestão cooperativa e a repartição
cooperativa. A propriedade cooperativa se baseia em uma associação de pessoas e não de
capital, pois a propriedade é concedida a todos os associados, independente das contribuições
financeiras cedidas a sua constituição. Já a gestão cooperativa significa que o poder de
decisão final é de competência da assembléia dos associados. A terceira e última
característica, a repartição cooperativa, propõe que a distribuição dos resultados ou sobras
líquidas seja feita entre os associados. Assim, “a cooperativa não visa lucrar em cima do
associado, ela é apenas um instrumento para os associados, estes sim, lucrarem” (RIOS, 1989,
p.14).
Portanto, qualquer benefício econômico que resulte das operações da cooperativa é
dividido entre os associados, geralmente na proporção do uso dos serviços comuns. Por
exemplo, numa cooperativa de consumo, quanto maior for o volume de compras de um
associado, maior será sua participação na distribuição do excedente.
Observa-se que existe uma conexão muito próxima entre as necessidades dos sócios,
as operações da cooperativa, a participação dos associados nas atividades da cooperativa e o
seu funcionamento, mantendo uma unidade entre propriedade, controle e uso da cooperativa.
Nela o associado é um co-participante na tomada de decisões e um fiscal na aplicação das
mesmas, e não somente um usuário da empresa. Portanto, uma cooperativa é uma associação
de pessoas e uma empresa econômica que depende do equilíbrio destes dois aspectos para ter
sucesso.
Jank e Bialoskorski Neto (1994) descrevem as cooperativas como sociedades de
pessoas em que a agregação inicial acontece por intermédio do fator de produção trabalho
(nas assembléias cada associado tem direito a um único voto) e, após, utilizam-se do fator de
produção capital. Acrescentam, ainda, que nas sociedades de capital, a agregação inicial se dá
através do capital (nas assembléias o voto é proporcional ao capital investido).
De acordo com Ricciardi e Lemos (2000), praticamente todas as legislações dos
diversos países que possuem em seu sistema jurídico a empresa cooperativa adotam como
normas fundamentais os seguintes “Princípios Básicos do Cooperativismo”, confirmados pela
Aliança Cooperativa Internacional, em congresso internacional ocorrido na Inglaterra em
setembro de 1995:

• Adesão livre e voluntária – as cooperativas são organizações abertas a todas as pessoas


aptas para usar seus serviços e dispostas a aceitar suas responsabilidades de sócio, sem
discriminação social, racial, política ou religiosa.
• Controle democrático – as cooperativas são controladas democraticamente pelos seus
sócios, que participam ativamente no estabelecimento de suas políticas. Nas
cooperativas singulares, os sócios têm igualdade de votação.
• Participação econômica do sócio – os sócios contribuem eqüitativamente e controlam
democraticamente o capital de sua cooperativa. No mínimo parte desse capital é
usualmente propriedade comum da cooperativa. O capital subscrito recebe uma
compensação limitada. Parte das sobras é destinada para reservas, benéficas aos sócios
na proporção de suas transações com as cooperativas, e parte para outras aplicações
que forem aprovadas pelos sócios.
• Autonomia e independência – as cooperativas são organizações autônomas, embora
possam entrar em acordo com outras organizações privadas para ação em benéficios
de seus sócios.
• Educação, treinamento e informação – as cooperativas devem proporcionar educação,
treinamento e informação aos seus sócios, para que eles possam contribuir
efetivamente para o seu desenvolvimento e informar ao público em geral sobre a
natureza e os benefícios da cooperação.
• Cooperação entre cooperativas – as cooperativas poderão atender melhor seus
associados e fortalecer os movimentos cooperativos, trabalhando em conjunto e
através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais.
• Preocupação com a comunidade – as cooperativas devem trabalhar pelo
desenvolvimento sustentável de suas comunidades através de políticas aprovadas por
seus associados.

Observa-se, desta forma, que as cooperativas são fontes potenciais de galgar inúmeras
contribuições à sociedade contemporânea. Entretanto, o desafio que se coloca é a gestão
adequada de tais organizações.

2.4 O Cooperativismo e o Empreendedorismo Social


Para Brum e Heck (2002), uma cooperativa pode fazer parte dos princípios da
economia solidária se possuir suas ações voltadas ao comprometimento com os trabalhos
coletivos, cooperativos e comunitários. Diferentemente da solidariedade fundamentada no
paternalismo, na caridade ou na filantropia.
Melo Neto e Froes (2002) defendem a idéia de que as cooperativas podem contribuir
com o aumento do empreendedorismo social desde que sejam baseados em princípios da
economia solidária e da criação de empresas solidárias, através da estratégia para um projeto
alternativo de sociedade, da criação de um modelo próprio de organização do trabalho; no
princípio de que na organização solidária da produção, todos trabalham, produzem e ganham,
bem como nos princípios democráticos e igualitários.
Os mesmo autores apresentam a idéia da criação de empresas solidárias que atuem em
forma de redes de negócio (umas sendo mercados para as outras) e reúnam seus excedentes
em cooperativas de créditos para financiar a sua expansão, como um modelo de rede do
empreendedorismo social. Outro modelo apresentado, como resposta à nova economia, refere-
se ao complexo cooperativo, composto por banco cooperativo, sistema cooperativo e as
universidades. Esta última agregaria conhecimentos científicos aos negócios solidários,
podendo ser constituído através dos laboratórios de simulação de negócios, criatividade e
inovação, caracterizado pelas conhecidas incubadoras tecnológicas.
Para os autores, existem quatro tipos de estágios que definem a evolução do sistema
cooperativo baseado na velha economia para o sistema cooperativo centrado na nova
economia. O quadro abaixo apresenta estes estágios:

2 3

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Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)

Tabela 1 – Empreendedorismo Social versus Cooeprativismo

O eixo X representa o grau de cooperativismo e o eixo Y representa o grau de


empreendedorismo.
O grau de cooperativismo refere-se ao número de cooperativados e de empresas
solidárias. O grau de empreendedorismo diz respeito ao tamanho e eficiência da rede de
negócios implantada e à competitividade e auto-sustentabilidade das ações e ao número e
desempenho de novas empresas criadas.
O quadrante um representa baixos graus de cooperativismo e empreendedorismo.
Representa, também, a existência de poucas cooperativas e filiadas, resultando em baixa
geração de emprego e renda.
No quadrante dois, alto grau de cooperativismo e baixo grau de empreendedorismo,
representando um volume de empresas solidárias que resultam no aumento de pólos de
trabalho.
Já o quadrante três representa a situação ideal, ou seja, alto grau de cooperativismo e
empreendedorismo. Através da expansão das redes de negócio, podendo ser atribuída ao
fortalecimento proveniente de empresas de tecnologia, gerando aumento do trabalho e renda
para a comunidade.
No quadrante quatro, ocorre um alto grau de empreendedorismo e baixo grau de
cooperativismo, havendo investimentos em pesquisas no âmbito da universidade sendo
traduzidos em projetos inovadores, contudo não resultam na criação de novas empresas, não
fortalecem as cooperativas com o perfil da nova economia.

3. Metodologia

Nesta etapa está descrita a metodologia adotada na realização deste estudo. Desta
forma, está apresentada a classificação do estudo, os procedimentos adotados na realização da
coleta dos dados, bem como da análise e da interpretação destes.

3.1 Classificação do Estudo

Gil (1996) relata que a classificação se faz com base em critérios, sendo que, para as
pesquisas, é usada normalmente a classificação que esteja de acordo com os objetivos do
trabalho. Desta forma, este estudo pode ser classificado como uma pesquisa exploratória,
bibliográfica, levantamento (survey), documental e estudo de caso. A classificação em
pesquisa exploratória deve-se a esta ser bastante flexível.

Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a


consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos
casos, essas pesquisas envolvem: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com
pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c) análise
de exemplos que “estimulem a compreensão” (SELLTIZ ET AL APUD GIL, 1996).

A pesquisa proposta exigiu em um primeiro momento entrevistas com professores da


universidade que possuíam maiores informações sobre o tema empreendedorismo social e
cooperativa, exigiu também levantamento bibliográfico que favoreceu a melhor compreensão
da temática em estudo. Portanto, também foi classificada como pesquisa bibliográfica devido
à necessidade de busca em material já elaborado como livros e artigos. Contudo, também foi
necessária a pesquisa em documentos como atas, estatuto e relatórios, o que sugere que a
pesquisa também pode ser classificada como documental.
Também foram realizados levantamentos de dados através de entrevistas com duas
categorias de análise destinadas aos associados ligados à produção e aos associados ligados à
administração, assessores e representante do Sindicato dos Metalúrgicos, portanto trata-se de
uma pesquisa de levantamento, já que, de acordo com Gil (1996), “as pesquisas deste tipo
caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer”.
As entrevistas com realizadas com vistas a buscar informações sobre o entendimento dos
atores sociais sobre princípios da cooperativa, atuação, forma de gestão, envolvimento entre
outros.
A pesquisa também pode ser classificada como estudo de caso, por oferecer vantagens
que segundo Gil (1996) se constituem no estímulo a novas descobertas, ênfase na totalidade e
na simplicidade de procedimentos. Este tipo de pesquisa possibilita, ao longo do processo, ter
seu interesse despertado para novos aspectos. Já a ênfase na totalidade permite uma melhor
análise da totalidade do caso em estudo. E a simplicidade de procedimento devido aos
procedimentos de coleta e análise de dados, bem como à linguagem exigida em relatórios
acessíveis em relação a exigências em outros tipos de pesquisa.

3.2 Coleta de dados

A coleta de dados consiste em formular e organizar os métodos para a busca de dados


na organização em estudo visando responder a questão de estudo proposta. Desta forma, os
dados foram coletados através de pesquisas bibliográficas através de levantamento das
principais teorias, concepções e entendimentos expressos em livros, artigos, revistas,
relacionadas à temática, além da mídia eletrônica para a obtenção de artigos, como, também,
de dados numéricos. Analisaram-se documentos disponibilizados por ocasião de visitas à
cooperativa realizadas nos dias 05 de dezembro 2003, 05 e 06 de abril 2004, tais como
estatuto social, relatório anual de vendas, plano de distribuições de pró-labore, histórico da
cooperativa e atas de assembléias extraordinária e ordinária de números 04 e 05 datadas de 28
de agosto de 2001 e 28 de março de 2002 respectivamente.
As entrevistas foram realizadas a partir de duas categorias de questionários com
roteiro semi-estruturado contendo dezessete questões cada. Essa classificação dos
questionários em categorias foi realizada visando um melhor entendimento das questões por
parte dos entrevistados. As entrevistas com os treze associados ligados à produção também
seguiram um roteiro semi-estruturado. Também foram entrevistados dois associados ligados à
administração, um dirigente sindical e associado e três assessores do Cepo - Centro de
Educações Populares, envolvidos com a cooperativa. Estas entrevistas foram realizadas nos
dias 5, 6 e 26 de abril de 2004.
Observa-se que a entrevista do dia 26 de abril foi realizada através de telefone tendo
em vista que o ex-assessor do CEPO, José Martins dos Santos, atualmente exerce suas
funções na Prefeitura Municipal de Chapecó no estado de Santa Catarina.
A Alumifer até o momento de encerramento da coleta de dados contava com vinte e
sete componentes, distribuídos entre quinze sócios trabalhando, um em fase de substituição,
um estagiário através de convênio empresa-escola, seis não sócios, trabalhando com carteira
assinada e quatro sócios externos que não desenvolvem atividade direta na cooperativa.
Destaca-se que as entrevistas foram realizadas focando o estudo. Desta forma a população-
alvo concentrou-se nos quinze associados que atuam na cooperativa, um dirigente do
Sindicato dos Metalúrgicos de Erechim, devido aos incentivos e apoio dado ao grupo de
trabalhadores na concretização e viabilidade da idéia, e aos três assessores do CEPO.

3.3 Análise e interpretação dos dados

De acordo com Gil (1996) definiram-se categorias analíticas a partir da pesquisa


bibliográfica abordado para fins de análise dos dados coletados. O quadro apresenta a
categoria de análise.
Abordagem Categoria de análise
temática

Empreendedorismo Os princípios que norteiam a atuação da ALUMIFER se


social constituem em consonância com os princípios do
Empreendedorismo social?

A constituição da cooperativa se constitui em um projeto inovador


com impacto social?

Cooperativismo Os princípios que norteiam a atuação da ALUMIFER se


constituem em consonância com os princípios do
Cooperativismo?

Empreendedorismo Existe algum tipo de relação entre a ALUMIFER e a


social e caracterização do empreendedorismo social?
Cooperativismo
A cooperativa pode ser enquadrada dentro dos modelos propostos
por Melo Neto e Froes (2002)?
Quadro 1: Categoria de análise dos dados coletados

4. O caso estudado

Para o estudo empírico foi escolhida a Cooperativa Autogestionária de Trabalhadores


em Fundição de Alumínio e Ferra – ALUMIFER, situada no município de Erechim no Estado
do Rio Grande do Sul. Sua escolha dá-se especialmente por representar um modelo
diferenciado de atuação naquela região.
Inicialmente, apresenta-se uma breve caracterização dessa organização, enfocando o
seu surgimento, a área de atuação, seus princípios, os recursos envolvidos e sua relação com
outras entidades como o CEPO –Centro de Educação Popular e o Sindicato dos Metalúrgicos.
A análise da cooperativa possibilitou uma apreciação da forma como este tipo de
empreendimento se insere no novo paradigma do empreendedorismo social, servindo de
referencial para a compreensão desse conceito no Brasil.

4.1 A Cooperativa Autogestionária de Trabalhadores em Fundição de Alumínio e Ferro


Ltda. – ALUMIFER

A Cooperativa Autogestionária de Trabalhadores em Fundição de Alumínio e Ferro


Ltda. – ALUMIFER está situada no município de Erechim – RS, na BR 153, Km 48. Foi
criada em 28 de janeiro de 1998, a partir da ocupação da fábrica por um grupo de
trabalhadores com qualificação nas áreas de fundição e metalurgia, “lançados à própria sorte
com a semifalência forjada e fraudulenta da fábrica que os empregava; o fizeram, inspirados
por princípios de solidariedade e trabalho coletivo”.
A fábrica, até o final de 1997, se caracterizava por constituir-se em um
empreendimento da iniciativa privada, sendo que a ocupação que deu origem à criação da
cooperativa foi motivada pelo não-recolhimento de créditos trabalhistas dos empregados, pela
falta de pagamento de salários e pelo sentimento de insegurança e desesperança que tomou
conta dos trabalhadores. Os sinais de abandono da fábrica e o iminente perigo do desemprego
fizeram com que a ocupação se tornasse permanente pelos trabalhadores, dando início à
ALUMIFER.
Atualmente a cooperativa conta com 27 componentes, sendo 15 associados que atuam
nas áreas de produção e administração com integralização de quota-parte e recebimento de
pró-labore, 01 eliminado em fase de substituição, 04 associados com integralização de quota-
parte, mas que não atuam na cooperativa não tendo direito a pró-labore, 01 estagiário CIE-E e
06 são trabalhadores com carteira de trabalho e previdência social - CTPS. Segundo o
coordenador administrativo da cooperativa, “nem todos tem interesse em ser cooperado
devido ao custo de participação referente à aquisição das quotas-partes, além disso, a
cooperativa não tem interesse em integrar pessoas que não conheçam os princípios
cooperativistas”. Desta forma, antes da aceitação do associado pela assembléia, é realizado
um acompanhamento deste em relação a perfil e interesses, podendo tornar-se associado após
a conscientização dos compromissos e deveres cooperativistas inclusive de responsabilidade
civil, ambiental e criminal.
Cabe ao associado da ALUMIFER, conforme seu estatuto, participar das assembléias
discutindo, propondo medidas e votando; demitir-se, se desejar; solicitar informações;
destituir administradores ou conselheiros, em Assembléia Geral; receber benefícios entre
outros.
A produção na Cooperativa consome aproximadamente dez mil quilos de
alumínio/mês. Parte da matéria prima é proveniente do trabalho de catadores, cadastrados
como fornecedores, totalizando cerca de 50 famílias, e da ARCAN - cooperativa formada por
ex-catadores de resíduos, que atualmente atuam como agentes da natureza, separando material
descartado para a reciclagem. O processo de produção é artesanal mediante utilização básica
de areia para os moldes e alumínio fundido na fabricação dos artefatos.
A linha de produção tem capacidade para produzir 3.000 peças/mês, tanto para uso
doméstico como industrial, focada para a produção de panelas e utensílios para a culinária,
primando pela qualidade e arte. O mix de produtos é composto por panelas campeiras,
acessórios para culinária como chapas para fogão, bem como equipamentos para serem
utilizados na linha de montagem de veículos pesados.

4.2 Potencialidades e limitações da ALUMIFER

Para dar início à produção na fábrica, os trabalhadores foram apoiados pelo Centro de
Educação Popular - CEPO, pelo Sindicato dos Metalúrgicos, pelo Cáritas – órgão da Igreja
Católica que financia projetos provenientes da economia popular solidária, entre outros. Além
disso, o CEPO realizou projeto apresentado à Fundação Internacional de Apoio ao
Desenvolvimento Sustentável - AIF, garantindo recursos para a aquisição de um pavilhão
industrial, prevendo contrapartida da Prefeitura Municipal. Assim, foi necessária uma
articulação do CEPO solicitando apoio do poder público municipal, na doação de um terreno,
para as novas instalações da ALUMIFER, possibilitando a esta maior autonomia, melhores
condições de trabalho e economia com despesas aluguel no valor de R$ 18.000,00 ao ano.
Contudo, este projeto, até o mês de abril de 2004, período da realização das entrevistas, não
havia sido efetivado.
A Cooperativa, no ano de 2003, obteve uma receita média mensal de R$ 80.000,00,
equivalente ao ponto de equilíbrio necessário para a manutenção dessa, segundo seu
coordenador administrativo e também associado, Cláudio Henrique Giacomini. Segundo ele,
“há estimativas de que com a mudança para pavilhão próprio e algumas adequações, a fábrica
seja capaz de dobrar sua produção dos atuais 3000 peças para 6.000 peças/mês”.
Como aspecto limitador está a disputa judicial do antigo proprietário desde a ocupação
da fábrica pelos trabalhadores, requerendo reintegração de posse da fábrica e indenização. A
Justiça Comum em duas instâncias concedeu a reintegração de posse para o antigo
proprietário. Contudo, a cooperativa recorreu da decisão que está tramitando. Os
cooperativados acreditam que a mudança para o pavilhão próprio pode contribuir para a posse
definitiva da fábrica pela Cooperativa. Também tramita na Justiça do Trabalho a ação
impetrada pelos trabalhadores requerendo o ressarcimento dos débitos trabalhistas orçados em
R$ 93.000,00 contra o antigo proprietário. Existe possibilidade de leilão dos equipamentos
existentes na fábrica, orçados em R$ 35.000,00 com proposta de aquisição em troca de parte
da dívida trabalhista. A decisão judicial é aguardada com ansiedade pelos trabalhadores.
Atualmente a Cooperativa tem intenção de captar recursos para aquisição e instalação
de um forno para fundição com capacidade para transformar 1.500 kg de matéria-prima em
produtos. Com a aquisição deste equipamento, a empresa visa a atender normas técnicas de
proteção ao meio-ambiente, garantindo um empreendimento que gere desenvolvimento
sustentável com práticas ecologicamente corretas em todas as etapas do processo produtivo.

5. Análise do caso

Com base nos dados apresentados e nos referenciais teóricos levantados sobre
Empreendedorismo Social e o Cooperativismo, parte-se agora para a análise das
características organizacionais do caso estudado.
Foram detectados, na cooperativa estudada, que os princípios de trabalho coletivo,
cooperativo e comunitário se constituem como norteadores da iniciativa, evidenciados como
característicos de empreendimentos vinculados à economia popular solidária, segundo Brum e
Heck (2002), pois promovem a articulação entre o econômico, o social e o político, gerando
emprego e renda, além de cultivar valores como a justiça social e a cidadania. Portanto, em
relação a estes princípios, a cooperativa em análise, baseada em Melo Neto e Froes (2002) se
constitui numa cooperativa proveniente do empreendedorismo social.
Já em relação ao entendimento do porquê da opção pela criação de um
empreendimento cooperativo pelo grupo de trabalhadores da ALUMIFER, a história vem a
contribuir neste aspecto, identificando, a partir de Rios (1989), que a ideologia cooperativista
tem um papel político transformador e serviu como construção alternativa das classes
oprimidas. No Brasil, alguns movimentos de trabalhadores rurais iniciaram em 1960, com a
criação das “roças comunitárias”, onde a produção era dividida entre as famílias que
participavam de todo o processo produtivo.
Ricciardi e Lemos (2000) também colaboram neste entendimento, afirmando que o
cooperativismo provém da constatação de que a cooperação é a melhor forma para encontrar
soluções que interessam a um grupo de pessoas com objetivos comuns visando a busca da
melhoria dos padrões de qualidade de vida destes. Os trabalhadores na ALUMIFER
buscaram principalmente trabalho e renda, objetivo possível de ser alcançado principalmente
pelo trabalho coletivo unido pela coragem, conhecimento em fundição e metalurgia, bem
como percepções adquiridas em torno dos fundamentos de uma cooperativa, bem como de um
empreendimento solidário promovidos pelo CEPO.
Percebeu-se, também, através do estudo realizado, que as cooperativas provenientes de
movimentos sociais urbanos, como o caso da ALUMIFER, são recentes tanto em Erechim,
quanto no estado e no país. Esta afirmação está embasada em Rios (1989) ao relatar que no
Brasil, ao contrário da Europa, as cooperativas são oriundas do meio rural e foram lideradas
pela elite. Já na Europa, este movimento foi proveniente de movimentos sociais urbanos
vindos da classe trabalhadora.
Em Erechim constatou-se que há uma proliferação acentuada de diversas e diferentes
ações provenientes de movimentos sociais, principalmente rurais, que acabaram por servir de
referência a movimentos urbanos, como o que criou a Cooperativa em análise.
A constituição da Cooperativa se deu conforme a legislação vigente no país e os
princípios básicos do cooperativismo, adotado em diversos países. Estes princípios são
baseados no ideal de que as cooperativas devem ser abertas a todos que queira utilizar-se de
seus serviços e estejam dispostos a aceitar suas responsabilidades e a partilhar de seus
objetivos; que o controle seja democrático e exercido pelos seus sócios através do voto; que
ocorra a participação econômica de cada sócio quer seja subscrevendo capital ou rateando
resultados; que a cooperativa seja autônoma e independente; que possibilite educação,
capacitação e informação aos seus associados e ao público em geral sobre a natureza e os
benefícios da cooperação e por realizar ações de desenvolvimento sustentável através de
políticas aprovadas pelos associados. E, baseada nestes princípios, a ALUMIFER é capaz de
contribuir para a melhoria da distribuição de renda, para o aumentar as oportunidades de
trabalho, para a interação dos associados na comunidade onde vivem provocando mudanças
sociais, políticas e econômicas, por promover o desenvolvimento através do potencial do
grupo de cooperados na busca da solução de problemas e para despertar a cidadania através
do lema produzir para desfrutar e por satisfazer as necessidades básicas de estima e auto-
realização, características importantes para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Quanto à classificação, segundo Ricciardi e Lemos (2000), a ALUMIFER é uma
cooperativa de produção industrial, tendo em vista o fim a que se destina e por ser
administrada pelos próprios associados. Já de acordo com o tipo de empreendimento, por se
constituir em uma organização econômica coletiva e solidária (cooperativas), esta faz parte do
quinto tipo dentre os vários que compõe a diversidade de atuação da economia popular
proposta por Corrêa (apud BRUM E HECK, 2002).
Foi possível detectar, através de entrevistas realizadas com assessores do CEPO, que
esse órgão apóia um conjunto de cooperativas que operam na perspectiva de empresas
solidárias, de redes de negócio (uma sendo mercadoria para outra) e que reúnem seus
excedentes em cooperativas de crédito. Assim, observou-se que o CEPO trabalha na
perspectiva do empreendedorismo social, pois presta assessoria às cooperativas na perspectiva
da economia solidária, primando pelo trabalho coletivo, cooperativo e comunitário, visando
articulação entre o econômico, o social e a cidadania e o emprego e renda. No entanto, a
visualização da cooperativa em análise neste modelo ainda é incipiente.
Já em relação ao modelo proposto por Melo Neto e Froes (2002), tendo em vista os
novos desafios colocados para o cooperativismo, a partir da nova economia, em função da
necessidade de inovação tecnológica, observou-se que o CEPO possui preocupações neste
sentido, apontando para a busca de maiores articulações como as universidades, conforme
apontado no modelo proposto pelos autores anteriormente citados. No entanto, esta
preocupação não foi visível na cooperativa em estudo.
Observou-se, ainda, que o empreendedorismo social pressupõe a busca por soluções
inovadoras aos problemas sociais, desta forma evidenciou-se que a forma de constituição da
cooperativa em análise não se caracteriza por um projeto inovador em termos de país, devido
a ter-se conhecimento de outras cooperativas formadas por operários a partir da falência de
uma organização privada. Contudo, a iniciativa é inovadora na perspectiva da região onde está
inserida, devido ao fato de que a ação de movimento urbano em busca de soluções aos
problemas provenientes da exclusão social serem recentes naquele universo.

6. Considerações finais

Através do presente estudo evidenciou-se que o empreendedorismo social traz em seu


conceito e natureza desafios importantes para a sociedade atual, principalmente do que diz
respeito à articulação com outros segmentos sejam eles políticos, sociais ou privados em prol
da busca de soluções inovadoras para problemas sociais. No transcorrer do estudo observa-se
a ligação da temática foco do estudo, ou seja, o empreendedorismo social e cooperativismo
com outros temas como economia popular solidária e autogestão.
O empreendedorismo social, o cooperativismo e a economia popular solidária, dentre
os inúmeros aspectos da semelhança de propósitos, está o trabalho coletivo, o foco às
questões sociais e na geração do emprego e renda.
Em uma primeira análise o empreendedorismo social pode parecer um modismo, mas
o seu estudo mostra que são propostas coerentes, articuladas e se constituem como desafios
frente aos problemas advindo do capitalismo.
Vale destacar que somente as cooperativas baseadas nos princípios da economia
popular solidária se constituem como provenientes do empreendedorismo social segundo
Melo Neto e Froes (2002), devido a estas possuírem como aspecto fundamental a
coletividade. Contudo, salienta-se a importância da discussão sobre os elementos constituintes
entre os cooperados, tendo em vista a lógica dos mercados econômicos e financeiros
marcantes da sociedade atual.
Por fim, a análise da empresa objeto deste estudo, no caso a ALUMIFER, permitiu
identificar que esta organização é fruto de uma iniciativa tipicamente identificada como de
empreendedorismo social.

7. Referências

• BRUM, A. L.; HECK, C. R. Economia Solidária: Elementos para a compreensão.


Ijuí: Unijuí, 2002.

• CUNHA, R. V. da. Profissão: fazer o bem. Você S.A, Rio de Janeiro, n. 31, p. 54-58,
jan. 2001.

• DEES, G. O significado de empreendedorismo social. Universidade de Stanford.


1998. Disponível em: < http://www. academiasocial.org.br > Acesso em 22. set.
2003.

• GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
• JANK, M. S.; BIALOSKORSKI NETO, S. Comércio e negócios cooperativos.
Assembléia Regional das Américas. São Paulo, nov. 1994.

• LECHAT, N. M. P.. As raízes históricas da economia solidária e seu aparecimento


no Brasil. Campinas: UNICAMP, 20 mar. 2002. Palestra proferida no II Seminário de
incubadoras tecnológicas de cooperativas populares. Disponível em
<http://www.unijui.ipd.tche.br>. Acesso em 26. mar. 2004.

• MELO NETO, F. P. de FROES, C. Empreendedorismo social: a transição para a


sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

• RICCIARDI, L.; LEMOS, R. J. de. Cooperativa, a empresa do século XXI: como os


países em desenvolvimento podem chegar a desenvolvidos. São Paulo: LTr, 2000.

• RIOS, G. S. L.. O que é cooperativismo. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.

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