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Alumifer de Erechim – RS
O presente paper trata da abordagem da economia popular solidária e a sua relação com o
estudo de caso da Cooperativa Autogestionária de Trabalhadores em Fundição de Alumínio e
Ferro Ltda. – ALUMIFER situada no município de Erechim-RS. O estudo inicia discorrendo
acerca da temática economia solidária explicitando suas premissas básicas a fim de explicar a
dinâmica de desenvolvimento local a partir do estudo de caso proposto. Foi classificado como
pesquisa exploratória, bibliográfica e estudo de caso, tendo em vista que se utilizou coleta de
dados realizada em 2004, através da análise de documentos, entrevistas com dezenove
pessoas, sendo quinze cooperativados da ALUMIFER, um dirigente sindical do Sindicato dos
Metalúrgicos e três assessores do Centro de Educação Popular – CEPO e observações
realizadas durante as visitas. Os dados foram analisados, interpretados e aprofundados na
perspectiva proposta para este estudo com base nas categorias definidas com base no
referencial teórico, o que possibilitou constatar que a organização em estudo se fundamenta
nos princípios da economia popular solidária e contribui para o desenvolvimento local
daquele município e região.
1. Introdução
Esta nova forma de pensar suscita o desejo de buscar uma teorização específica para
estes empreendimentos, pois a literatura especializada existente ainda é incipiente e os
entendimentos são diversos e por vezes confusos. Neste contexto, optou-se por estudar uma
cooperativa como questão transversa ao empreendedorismo social, procurando identificar se
este tipo de empreendimento possui características oriundas do empreendedorismo social em
sua atuação. Desta forma, acredita-se ser necessário que estudos específicos sejam realizados,
devido às peculiaridades dessa temática.
2. Considerações teóricas
Este tópico aborda questões referentes a definições e relações existentes entre os pontos que
elencou-se como fundamentais neste estudo. Inicialmente abordou-se o item Economia
Popular Solidária procurando-se realizar uma caracterização geral do tema, para após
descrever-se de que forma está ocorrendo sua inserção em nível de país. Já os próximos
itens dizem respeito ao Desenvolvimento Local, buscando-se identificar a relação entre
a Economia Popular Solidária e o Desenvolvimento Local.
Portanto, verifica-se que este prima pelas ações oriundas da sociedade civil, bem como
pelo trabalho coletivo e solidário visando a soluções de problemas sociais e empoderamento
dos atores sociais através de mudanças de paradigmas, vindo estes a ter participação ativa na
construção de uma sociedade mais justa em termos sociais, econômicos, culturais, entre
outros aspectos.
Como desafios para o empreendedorismo social oriundo da sua atuação, Melo Neto e
Froes (2002) propõem estudos a partir do que denominam de “dimensões do
empreendedorismo social”, que se classificam nas seguintes concepções:
Pode-se constatar que estas características apontam para uma nova configuração de
empreendimentos baseados com forte ênfase na solidariedade e na coletividade.
Uma cooperativa, segundo Rios (1989), é uma associação voluntária com fins
econômicos, podendo nela ingressar os que exercem uma mesma atividade. É regulamentada
pela democracia e os benefícios são distribuídos entre os associados, pois é formada para
prestar serviços aos seus associados e não para obter lucros. Para Jank e Bialoskorski Neto
(1994, p. 2), as cooperativas são formadas por pessoas que possuem interesses da mesma
natureza que chegam à convicção de que sozinhas não conseguirão a obtenção dos benefícios
que desejam. “Assim, elas tendem a se congregar formando uma organização administrativa
especial, a qual tem a tarefa de gerar benefícios comuns”.
Segundo Lechat (2002), as cooperativas, difundidas no mundo inteiro por mais de 150
anos, representam a terceira via entre o capitalismo e o centralismo do Estado. Ricciardi e
Lemos (2000) acrescentam a idéia de que o cooperativismo veio da constatação de que a
cooperação era a melhor maneira para encontrar soluções que interessavam a um determinado
grupo de pessoas com o objetivo de realizar um empreendimento que prestasse serviços
mútuos visando à busca da elevação dos padrões de qualidade de vida de seus associados.
O pensador cooperativista Georges Fauquet (apud RICCIARDI; LEMOS, 2000)
afirma:
Observa-se, desta forma, que as cooperativas são fontes potenciais de galgar inúmeras
contribuições à sociedade contemporânea. Entretanto, o desafio que se coloca é a gestão
adequada de tais organizações.
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3. Metodologia
Nesta etapa está descrita a metodologia adotada na realização deste estudo. Desta
forma, está apresentada a classificação do estudo, os procedimentos adotados na realização da
coleta dos dados, bem como da análise e da interpretação destes.
Gil (1996) relata que a classificação se faz com base em critérios, sendo que, para as
pesquisas, é usada normalmente a classificação que esteja de acordo com os objetivos do
trabalho. Desta forma, este estudo pode ser classificado como uma pesquisa exploratória,
bibliográfica, levantamento (survey), documental e estudo de caso. A classificação em
pesquisa exploratória deve-se a esta ser bastante flexível.
4. O caso estudado
Para dar início à produção na fábrica, os trabalhadores foram apoiados pelo Centro de
Educação Popular - CEPO, pelo Sindicato dos Metalúrgicos, pelo Cáritas – órgão da Igreja
Católica que financia projetos provenientes da economia popular solidária, entre outros. Além
disso, o CEPO realizou projeto apresentado à Fundação Internacional de Apoio ao
Desenvolvimento Sustentável - AIF, garantindo recursos para a aquisição de um pavilhão
industrial, prevendo contrapartida da Prefeitura Municipal. Assim, foi necessária uma
articulação do CEPO solicitando apoio do poder público municipal, na doação de um terreno,
para as novas instalações da ALUMIFER, possibilitando a esta maior autonomia, melhores
condições de trabalho e economia com despesas aluguel no valor de R$ 18.000,00 ao ano.
Contudo, este projeto, até o mês de abril de 2004, período da realização das entrevistas, não
havia sido efetivado.
A Cooperativa, no ano de 2003, obteve uma receita média mensal de R$ 80.000,00,
equivalente ao ponto de equilíbrio necessário para a manutenção dessa, segundo seu
coordenador administrativo e também associado, Cláudio Henrique Giacomini. Segundo ele,
“há estimativas de que com a mudança para pavilhão próprio e algumas adequações, a fábrica
seja capaz de dobrar sua produção dos atuais 3000 peças para 6.000 peças/mês”.
Como aspecto limitador está a disputa judicial do antigo proprietário desde a ocupação
da fábrica pelos trabalhadores, requerendo reintegração de posse da fábrica e indenização. A
Justiça Comum em duas instâncias concedeu a reintegração de posse para o antigo
proprietário. Contudo, a cooperativa recorreu da decisão que está tramitando. Os
cooperativados acreditam que a mudança para o pavilhão próprio pode contribuir para a posse
definitiva da fábrica pela Cooperativa. Também tramita na Justiça do Trabalho a ação
impetrada pelos trabalhadores requerendo o ressarcimento dos débitos trabalhistas orçados em
R$ 93.000,00 contra o antigo proprietário. Existe possibilidade de leilão dos equipamentos
existentes na fábrica, orçados em R$ 35.000,00 com proposta de aquisição em troca de parte
da dívida trabalhista. A decisão judicial é aguardada com ansiedade pelos trabalhadores.
Atualmente a Cooperativa tem intenção de captar recursos para aquisição e instalação
de um forno para fundição com capacidade para transformar 1.500 kg de matéria-prima em
produtos. Com a aquisição deste equipamento, a empresa visa a atender normas técnicas de
proteção ao meio-ambiente, garantindo um empreendimento que gere desenvolvimento
sustentável com práticas ecologicamente corretas em todas as etapas do processo produtivo.
5. Análise do caso
Com base nos dados apresentados e nos referenciais teóricos levantados sobre
Empreendedorismo Social e o Cooperativismo, parte-se agora para a análise das
características organizacionais do caso estudado.
Foram detectados, na cooperativa estudada, que os princípios de trabalho coletivo,
cooperativo e comunitário se constituem como norteadores da iniciativa, evidenciados como
característicos de empreendimentos vinculados à economia popular solidária, segundo Brum e
Heck (2002), pois promovem a articulação entre o econômico, o social e o político, gerando
emprego e renda, além de cultivar valores como a justiça social e a cidadania. Portanto, em
relação a estes princípios, a cooperativa em análise, baseada em Melo Neto e Froes (2002) se
constitui numa cooperativa proveniente do empreendedorismo social.
Já em relação ao entendimento do porquê da opção pela criação de um
empreendimento cooperativo pelo grupo de trabalhadores da ALUMIFER, a história vem a
contribuir neste aspecto, identificando, a partir de Rios (1989), que a ideologia cooperativista
tem um papel político transformador e serviu como construção alternativa das classes
oprimidas. No Brasil, alguns movimentos de trabalhadores rurais iniciaram em 1960, com a
criação das “roças comunitárias”, onde a produção era dividida entre as famílias que
participavam de todo o processo produtivo.
Ricciardi e Lemos (2000) também colaboram neste entendimento, afirmando que o
cooperativismo provém da constatação de que a cooperação é a melhor forma para encontrar
soluções que interessam a um grupo de pessoas com objetivos comuns visando a busca da
melhoria dos padrões de qualidade de vida destes. Os trabalhadores na ALUMIFER
buscaram principalmente trabalho e renda, objetivo possível de ser alcançado principalmente
pelo trabalho coletivo unido pela coragem, conhecimento em fundição e metalurgia, bem
como percepções adquiridas em torno dos fundamentos de uma cooperativa, bem como de um
empreendimento solidário promovidos pelo CEPO.
Percebeu-se, também, através do estudo realizado, que as cooperativas provenientes de
movimentos sociais urbanos, como o caso da ALUMIFER, são recentes tanto em Erechim,
quanto no estado e no país. Esta afirmação está embasada em Rios (1989) ao relatar que no
Brasil, ao contrário da Europa, as cooperativas são oriundas do meio rural e foram lideradas
pela elite. Já na Europa, este movimento foi proveniente de movimentos sociais urbanos
vindos da classe trabalhadora.
Em Erechim constatou-se que há uma proliferação acentuada de diversas e diferentes
ações provenientes de movimentos sociais, principalmente rurais, que acabaram por servir de
referência a movimentos urbanos, como o que criou a Cooperativa em análise.
A constituição da Cooperativa se deu conforme a legislação vigente no país e os
princípios básicos do cooperativismo, adotado em diversos países. Estes princípios são
baseados no ideal de que as cooperativas devem ser abertas a todos que queira utilizar-se de
seus serviços e estejam dispostos a aceitar suas responsabilidades e a partilhar de seus
objetivos; que o controle seja democrático e exercido pelos seus sócios através do voto; que
ocorra a participação econômica de cada sócio quer seja subscrevendo capital ou rateando
resultados; que a cooperativa seja autônoma e independente; que possibilite educação,
capacitação e informação aos seus associados e ao público em geral sobre a natureza e os
benefícios da cooperação e por realizar ações de desenvolvimento sustentável através de
políticas aprovadas pelos associados. E, baseada nestes princípios, a ALUMIFER é capaz de
contribuir para a melhoria da distribuição de renda, para o aumentar as oportunidades de
trabalho, para a interação dos associados na comunidade onde vivem provocando mudanças
sociais, políticas e econômicas, por promover o desenvolvimento através do potencial do
grupo de cooperados na busca da solução de problemas e para despertar a cidadania através
do lema produzir para desfrutar e por satisfazer as necessidades básicas de estima e auto-
realização, características importantes para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Quanto à classificação, segundo Ricciardi e Lemos (2000), a ALUMIFER é uma
cooperativa de produção industrial, tendo em vista o fim a que se destina e por ser
administrada pelos próprios associados. Já de acordo com o tipo de empreendimento, por se
constituir em uma organização econômica coletiva e solidária (cooperativas), esta faz parte do
quinto tipo dentre os vários que compõe a diversidade de atuação da economia popular
proposta por Corrêa (apud BRUM E HECK, 2002).
Foi possível detectar, através de entrevistas realizadas com assessores do CEPO, que
esse órgão apóia um conjunto de cooperativas que operam na perspectiva de empresas
solidárias, de redes de negócio (uma sendo mercadoria para outra) e que reúnem seus
excedentes em cooperativas de crédito. Assim, observou-se que o CEPO trabalha na
perspectiva do empreendedorismo social, pois presta assessoria às cooperativas na perspectiva
da economia solidária, primando pelo trabalho coletivo, cooperativo e comunitário, visando
articulação entre o econômico, o social e a cidadania e o emprego e renda. No entanto, a
visualização da cooperativa em análise neste modelo ainda é incipiente.
Já em relação ao modelo proposto por Melo Neto e Froes (2002), tendo em vista os
novos desafios colocados para o cooperativismo, a partir da nova economia, em função da
necessidade de inovação tecnológica, observou-se que o CEPO possui preocupações neste
sentido, apontando para a busca de maiores articulações como as universidades, conforme
apontado no modelo proposto pelos autores anteriormente citados. No entanto, esta
preocupação não foi visível na cooperativa em estudo.
Observou-se, ainda, que o empreendedorismo social pressupõe a busca por soluções
inovadoras aos problemas sociais, desta forma evidenciou-se que a forma de constituição da
cooperativa em análise não se caracteriza por um projeto inovador em termos de país, devido
a ter-se conhecimento de outras cooperativas formadas por operários a partir da falência de
uma organização privada. Contudo, a iniciativa é inovadora na perspectiva da região onde está
inserida, devido ao fato de que a ação de movimento urbano em busca de soluções aos
problemas provenientes da exclusão social serem recentes naquele universo.
6. Considerações finais
7. Referências
• CUNHA, R. V. da. Profissão: fazer o bem. Você S.A, Rio de Janeiro, n. 31, p. 54-58,
jan. 2001.
• GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
• JANK, M. S.; BIALOSKORSKI NETO, S. Comércio e negócios cooperativos.
Assembléia Regional das Américas. São Paulo, nov. 1994.