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Permitam-me que os felicite por terem decidido organizar este jantar debate e sobre o tema da
Maçonaria, que me foi proposto de modo a apresentar não os aspectos contemporâneos, mas
sim sobre o ângulo da História.
Enfim terceiro e último problema. Que aspectos dos maçons e da maçonaria interessam a esta
pequena conferência? O da filosofia dos maçons? O das obras dos maçons? O da galeria dos
ilustres maçons? A temática dos mistérios e dos rituais? A das Lojas maçónicas, ou da suas
Obediências e Ordens? Vamos depois de postos os problemas à sua solução possível, ponto
por ponto: 1) do conceito de história, 2) do conceito de maçon, e 3) do essencial da maçonaria
– a iniciação.
1) do conceito de História
Todas as obras sobre História localizam o seu início em função da história do Homem
civilizado, e assim remontam a cerca de 4000 anos antes de Cristo. Um bom exemplo é a
História do Mundo de Christos Kondeatis (edição Caminho 1990) Cujo mapa de parede refere
na Europa a cultura megalítica, a civilização de UR na Mesopotâmia (as primeiras cidades
datariam de 3000 AC), a unificação do Egipto com o primeiro Faraó Menés, em 3100 AC, enfim
a época dos primeiros escritos sumários com pictogramas de 3100 AC, em tábuas de argila.
Recorde-se que a idade da pedra se estende até 2000 AC a idade do bronze (misturado com
cobre e ferro), que cede á idade do ferro em 1100 AC, e sempre com epicentro no Oriente ou
médio oriente. Mas vamos abarcar toda a Terra, todo o globo terrestre? Então devemos citar a
primeira civilização americana, dos Olmecas no México cerca de 1200 AC, a civilização do
povo Tcheu na China em 1120 AC.
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Será esta aproximação satisfatória? Podemos começar no neolítico e na idade dos metais, que
alguns situam a começar com a idade do cobre entre 2000 e 3000 AC, e a que se seguiram
com 1000 anos de intervalo a idade do bronze, e depois, quase 1000 anos depois a idade do
ferro como expõem W. Devos e R. Geivers no seu Atlas Historique (edição Erasme 1993)?
Podemos situar-nos no epicentro da civilização egípcia como ponto de partida? E se tivermos
em conta os aspectos não apenas materiais mas espirituais, podemos talvez situar o advento
da civilização no Egipto, portanto em momento anterior ao nascimento formal da filosofia grega,
com Thalés de Mileto em 585 AC, como de forma pedagógica ensina Jostein Gaarder em Le
Monde de Sophie (edição Seuil de 1995)...
2) Do conceito de maçon.
Já alertámos para o facto de não nos devermos cingir a este vocábulo se pretendemos
averiguar a concepção e a caracterização de uma realidade maçónica, que hoje é percebida
em termos da Maçonaria Universal como relativa ao Homem, crente em Deus, Grande
Arquitecto do Universo, que pratica em Loja, depois de devidamente iniciado pelos seus
Irmãos, rituais esotéricos que lhe permitem melhor conhecer-se a si próprio, e ao Mundo,
postulando que não deve fazer aos outros aquilo que não gostavam que lhe fizessem a si.
Estas afirmações baseiam-se numa cultura documentada relativamente assente, sobre a qual
há inúmera bibliografia objectiva, e claro, muitíssimos elementos lendários. Todavia naqueles
três períodos de tempo, Maçonaria e Maçons são claramente objecto de investigação, de
estudo e portanto de conhecimento, em variadíssimos autores como por exemplo Pierre A.
Riffard em L´esoterisme (edição Laffont, 1990).
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Os Maçons ter-se-iam organizado lentamente talvez a partir de 1212, apenas com homens,
reunidos em Strasbourg em 1275. Dispõe se de documentação relevante sobre estas especiais
comunidades de maçons que se vão estruturando com base em declarações de princípios, de
cartas e de outras formas do que hoje se considera a “auto regulação de interesses” em termos
jurídicos, de “franchising” em termos económicos, e de “Lobby” em termos políticos.
Nestes documentos encontram-se espelhados vários elementos dos chamados Old Charges,
ou seja caracterização do maçon como homem leal, honesto e incorruptível, respeitador dos
seus irmãos, e da hierarquia de mestre, companheiro e aprendiz, o conhecimento da geometria
de Euclides (de Alexandria), a invocação de Deus, para a prática de um mester considerado de
arte divina, e que se integra no conceito de arquitectura real (palácios de Reis e Príncipes) e na
arquitectura sagrada (de Templos). A solidariedade, o direito à remuneração, a
responsabilidade, o dever de transmissão dos conhecimentos aos aprendizes, o respeito pelos
juramentos, entre outros elementos caracterizam o estatuto dos maçons, em que o dever da
solidariedade suplanta o direito à solidariedade.
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b) Na idade das Luzes, a maçonaria entra no seu período esotérico e moderno, também
identificada por maçonaria de adopção. Isto é, os maçons deixam de ser exclusivamente
integrados por profissionais de mesteres relacionados com a arquitectura e construção, para
receberem também burgueses e nobres. Estão em causa não os segredos de conhecimento
operativo, mas sim a elevação (revelação) dos conhecimentos especulativos e espirituais.
As datas de referência são aos do início do século XVIII, com a institucionalização da Grande
Loja de Londres (por reunião de Lojas pré existentes) e que viria a transformar-se mais tarde
na UGLE (United Grand Lodge of England), a Loja Mãe da Maçonaria Universal, com aceitação
espiritual do deísmo, e respeito pelo poder civil da Coroa:
Importante documento a ter em conta são os Landmarks, que de tradição oral foram depois
vertidos em versão escrita da Regra em doze pontos, que hoje esta amplamente difundida e
acessível em variadíssimos livros e obviamente em numerosos sites da internet. Em termos de
referências filosóficas a Maçonaria nesta época recorre francamente aos Livros Sagrados
(Bíblia, Tora e Alcorão) e recebe a tradição hebraica da construção do Templo de Salomão, e
demais alegorias e simbolismos conexos.
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3) Do conceito de iniciação
A Iniciação é um elemento indissociável da maçonaria, embora possa haver muitas outras
iniciações, tantas quantas as organizações que a requerem como forma de ingresso do seus
membros. A iniciação maçónica visa transformar um profano, postulante em maçon, através de
provas rituais a que é submetido por maçons, passando depois deste processo a ser
reconhecido como um igual, na sua condição de aprendiz. Mais tarde, pode passar o aprendiz,
mediante novas provas, a Companheiro, e finalmente através de novas provas, pode o
companheiro ser elevado a Mestre, sempre depois de prestar novos juramentos. Ou seja, a
iniciação comporta sempre para o recipiendário: 1) provas rituais, 2) apreciação favorável pelos
já iniciados e 3) juramento pelo neófito para selar a sua recepção como membro.
Segundo Jesod Bonum (in Secrets de la Magie de Eliphas Lévi, edição Laffont, 2000), o
iniciado tem a lâmpada de Trismegisto, ou seja a razão iluminada pela ciência, o manto de
Apolonio, ou seja o completo autodomínio de si próprio, e o bastão dos patriarcas, significando
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o apoio das forças ocultas e perpétuas da natureza. O iniciado é pois um homem que se
libertou de paixões, de constrangimentos e de superstições, pode avançar no desconhecido,
nas trevas da ignorância, apoiado no conhecimento que ganhou sobre si próprio e sobre a
Natureza, e depois partilhar com outros este estádio de elevação da sua consciência.
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O iniciado é pois alguém que atingiu a Luz, a compreensão de si, dos outros e da Natureza, e
assim goza com discrição do saber e o poder adquiridos, antecipa o futuro, trabalha o presente,
e recorda-se do passado. O verdadeiro iniciado não se abate, não desiste, não se rende aos
homens sem espiritualidade. E em maçonaria? A cerimónia de iniciação é retomada de
tradições imemoriais, algumas com registo na Bíblia, como o episódio de Hiram, outras de
origens diversas como a iniciação dos mistérios de Eleusis, ou dos cavaleiros Templários.
Segundo Daniel Ligou, (Dictionnaire de la Franc Maçonnerie edição PUF, 1987). A inciação
maçónica é típica das sociedades secretas, em especial das corporações de mesteres da
idade média, e exige:
Mas estes são os aspectos esotéricos, isto é exteriorizados, não constituem em si mesmo um
segredo, e mesmo os rituais que se acham abundantemente divulgados, revelam ao ínfimo
pormenor os detalhes dos procedimentos adoptados. O verdadeiro segredo maçónico da
iniciação está nos aspectos esotéricos, ou seja, vivenciados intimamente na consciência do
iniciado, em função do conhecimento de si próprio, adquirido face ao simbolismo cujo
significado lhe é revelado, e que lhe permite interiorizar a Luz espiritual do Grande Arquitecto
do Universo, e a compreensão da Criação.
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Sem desprimor para outras iniciações esotéricas, esta será porventura uma das mais
completas face à História conhecida da Humanidade. E não receamos identificar a iniciação
maçónica regular como muito superior à iniciação maçónica irregular, porque, recusando esta
última a espiritualidade do sagrado, mais não é do que a admissão humanística num circulo de
amizades e solidariedade profanas, embora de elevado sentido cívico, como resulta dos
valores da liberdade, da fraternidade e da igualdade. É porém grande a diferença entre valores
materiais e valores espirituais, e que resultam dos diferentes planos, o imanente e o
transcendente. A grande questão é saber se a iniciação maçónica implica uma morte e um
renascimento como a quase unanimidade dos autores maçónicos sustentam, ou se é antes a
aquisição de um saber novo, uma iluminação, e uma ascese. Acima de tudo, a iniciação é uma
viagem espiritual que visa a obtenção de uma revelação do transcendente, que o próprio
iniciado adquire por vivência, sem que lhe seja transmitida exotericamente, isto é
explicitamente, pelos maçons reunidos para o efeito em Loja.
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Quem é maçon e ler estas linhas assume-as com um significado profundo. Quem o não é,
porque não foi iniciado, dificilmente delas retirará qualquer ensinamento e muito menos
qualquer revelação. Mesmo que uns digam que os procedimentos representaram a sua morte
como profano, e o seu renascimento como maçon, ou que se vá mais longe, e se explique que
de olhos vendados assistiu a criação do mundo e ao seu nascimento do ventre materno, e
assim compreendeu o fenómeno da criação. Aliás o fenómeno da criação que as mulheres, por
o serem, e poderem conceber, não necessitam de assistir em representação para
compreenderem uma realidade que lhes é imanente e não transcendente. Essa é Razão pela
qual, aliás, as mulheres não necessitam da iniciação maçónica para a sua vida espiritual, e
pelo que em nossa opinião não faz sentido a iniciação feminina maçónica, nem a maçonaria
mista, e muito menos feminina, e muito menos com rituais de nomenclatura masculina.
Subsiste uma interrogação. Então e Darwin não explicou pela teoria da evolução das espécies
que o Homem é que criou Deus á sua imagem, e não o inverso, já que com toda a
probabilidade o “homo sapiens” não é mais do que um elo na cadeia evolutiva dos hominideos
que há mais de 6 milhões de anos viveram no Quénia? Subiste outra interrogação, mas a
evolução do Homem explica-se apenas em termos terrestres? Então não é verdade que um
padre jesuíta George Coyne, director do Observatório Astronómico do Vaticano, revelou
recentemente (Diário de Noticias, 8 de Janeiro de 2002), a sua convicção na existência de vida
extraterrestre? E também não é verdade que ganha cada vez mais adeptos a teoria de que a
vida na terra, poderá ter tido origem noutros planetas, em resultado da descoberta de bactérias
a mais de 40 Km de altitude como noticiou o Correio da Manhã de 1 de Agosto de 2001?
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Terá esse saber de origem divina e extraterrestre tido os seus continuadores nos grandes
iniciados?
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