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CONSIDERAÇÕES SOBRE A CICATRIZAÇÃO E O

TRATAMENTO DE FERIDAS CUTÂNEAS EM EQÜÍNOS

José Corrêa de Lacerda Neto

INTRODUÇÃO
A natureza do cavalo, caracterizada por comportamento ativo e respostas rápidas,
associado à realização de atividades atléticas, o predispõem à injúrias traumáticas,
especialmente em membros. Problemas relacionados ao manejo, como pastagens sujas e
instalações precárias também constituem causas importantes destes processos. Os cavalos
entram em pânico em muitas situações e fazem tentativas violentas de fuga em situações de
restrição ao movimento. Barulhos e ruídos estranhos, tais como os causados por trovões,
estrondos de motores ou bombas e disparos de armas de fogo, assustam os eqüinos e fazem
com que estes se atirem cegamente contra cercas e objetos sólidos, sem qualquer preservação
de sua integridade física. Arames farpados constituem a causa mais comum de feridas, embora
muitos outros objetos possam ser incriminados11. Desta forma, a abordagem de feridas em
eqüinos é um procedimento de rotina para os profissionais que trabalham com esta espécie.
As feridas localizadas nas extremidades distais são geralmente complicadas pela falta
de tecido de revestimento, má circulação, movimento articular, maior oportunidade para
contaminação e conseqüente infecção9. Esses fatores, assim como o lapso de tempo anterior ao
tratamento, as facilidades disponíveis, o temperamento do cavalo, sua utilização e o tamanho e
localização das lesões são determinantes para o progresso da terapia. São necessários
inúmeros outros fatores para concluir-se que a abordagem da lesão foi correta, como
praticidade e exeqüibilidade do tratamento, efetivação da cicatrização, restabelecimento da
função e uma aceitável aparência da cicatriz. Ainda que muitas alternativas diferentes sejam
reconhecidamente satisfatórias para abordar-se determinada ferida, o método selecionado deve
fornecer um ambiente favorável, permitindo progressão natural para completar-se o processo
de reparação sem demora33.
MORFOLOGIA DO TECIDO TEGUMENTAR
A pele é constituída de três camadas: epitélio, derme e subcutâneo (tecido subcutâneo).
O epitélio é subdividido em cinco camadas: stratum basale, stratum espinosum, stratum
granulosum, stratum lucidum e stratum corneum. Estes estratos refletem a progressão das
células germinativas, encontradas na base, para as células corneificadas diferenciadas
presentes na superfície. A camada epitelial é nitidamente demarcada na derme entre as quais
está interposta a membrana basal. Projeções dérmicas de altura e comprimento variáveis,
denominadas papilas, estendem-se superficialmente para a epiderme. A epiderme que se
interdigita com as papilas dérmicas forma uma prega epidérmica. As camadas mais profundas
da derme se misturam com o tecido subcutâneo, o qual por sua vez está frouxamente ligado à
fáscia subjacente. Elementos epiteliais denominados glândulas e folículos pilosos, estendem-
se para a derme e tecido subcutâneo. A arquitetura padrão da pele aqui descrita é a mesma de
muitas superfícies corpóreas, embora a espessura relativa das camadas e densidade das
estruturas anexas possa variar. O stratum corneum da pele é continuamente reconstituído,
através da multiplicação e diferenciação das células das camadas mais profundas da epiderme
imediatamente subjacente, recompondo o stratum corneum à medida que este se esfolia22.

CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS


Os esquemas de classificação de feridas levam em consideração três aspectos básicos:
contaminação, grau de exposição tecidual e localização. Todos estes fatores devem ser
considerados na abordagem destas lesões em eqüinos. A classificação das feridas é útil na
seleção do tratamento apropriado, assim como na previsão da recuperação final.
As classificações que se baseiam no grau de contaminação microbiana incluem lesões
limpas, limpas-contaminadas, contaminadas e sujas ou infectadas. Este sistema de
classificação foi desenvolvido para humanos e classifica o nível de contaminação potencial
tanto em feridas eletivas como traumáticas26. Muitas feridas abertas em cavalos estão
contaminadas ou sujas no momento inicial do exame devido a natureza do animal e seu
ambiente. Feridas contaminadas são lesões traumáticas com menos de quatro a seis horas de
evolução, na qual pêlo e outros fragmentos teciduais estão presentes7. Feridas sujas são
caracterizadas pela presença de edema e supuração. Entretanto, o tempo entre a ocorrência de
exposição, aderência e subsequente multiplicação e invasão bacteriana do tecido varia

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dependendo do tipo e número de organismos presentes. Muitas feridas podem ser elevadas à
categoria de limpa-contaminada e fechadas após meticulosa limpeza e debridamento completo
ou radical. Portanto, este critério serve apenas como orientação. A decisão final de como
uma ferida deve ser conduzida baseia-se na avaliação clínica dos sinais de inflamação
(coloração, calor, inchaço e dor), graus de comprometimento vascular e traumatismo tecidual
local e tipo/intensidade de contaminação.
As feridas podem ser classificadas como abertas ou fechadas dependendo do grau de
penetração na pele11. Feridas fechadas são aquelas que não atingem a espessura total da pele e
incluem abrasões, contusões e hematomas. Feridas abertas penetram a derme e comumente
envolvem estruturas mais profundas, estando incluídas neste caso as incisões, lacerações,
avulsões e perfurações12.
Abrasões
Também denominadas de erosões, são caracterizadas por perda superficial do epitélio
de revestimento cutâneo sem exposição das camadas mais profundas, derme e submucosa. Os
abrasões são caracterizados por perda de pêlo e exsudação de soro da derme exposta, com
ocorrência mínima de hemorragia. Dentre as causas, incluem-se escorregões e quedas sobre
superfícies duras, cascalho, concreto ou asfalto, assaduras de cordas ou cercas, arranhões ou
raspadelas em paredes de "trailers" ou objetos imóveis.
Contusões
Resultam de danos primários aos tecidos subepiteliais, podendo estar associado ao
desenvolvimento de hematoma característico; o epitélio pode ser perdido secundariamente
como conseqüência de anóxia e necrose após danos à vasculatura subcutânea.
Hematomas
São lesões semelhantes às contusões, exceto por serem elas mais pronunciadas2 e
caracterizarem-se pelo derrame sangüíneo e formação de cavidade.
Incisões
São feridas abertas criadas acidental ou intencionalmente com objetos cortantes tais
como lâminas, vidros ou chapas de metal. As margens cutâneas do corte estão perfeitamente
delimitadas e com muito pouco tecido danificado.
Lacerações

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Essas lesões são provavelmente as mais comuns entre os eqüinos. São geralmente
produzidas por objetos angulares, tais como cercas de arame farpado e por mordidas. Os
bordos deste tipo de lesão, são geralmente irregulares e o dano se estende aos tecidos
subjacentes. Constituem uma combinação de dano e perda tecidual, estendendo-se a qualquer
profundidade abaixo da epitélio.
Perfurações
Essas feridas são produzidas por objetos cortantes e se caracterizam por perfurações
superficiais de tamanho pequeno, de profundidade variável. São tipos especiais de ferida,
porque embora a perda tecidual seja mínima, a injúria das estruturas mais profundas após
penetração pode resultar em debilidade. As perfurações tendem a ser episódios importantes
por afetarem camadas teciduais múltiplas, órgãos cavitários ou cavidades corpóreas, além de
possibilitar a penetração de corpos estranhos, fontes de contaminação e difícil localização.

REPARAÇÃO TECIDUAL
A reparação dos tecidos lesados, que se inicia com os primeiros mecanismos de
retração vascular e culminam com a reconstituição da superfície cutânea, pode ser dividida em
várias fases. Entretanto, isto não significa que haja, verdadeiramente, uma seqüência de
acontecimentos, pois várias destas fases ocorrem concomitantemente, sobrepondo-se temporal
e espacialmente.

Feridas Superficiais
As abrasões e erosões cicatrizam primariamente por divisão mitótica e migração das
camadas intactas e confluentes do epitélio basal, epitélio folicular e epitélio de outras
estruturas anexas. As células epiteliais preenchem o defeito sem a participação de células
inflamatórias, capilares ou elementos contráteis.

Feridas Profundas
Fase Vascular
A lesões capazes de atingir profundamente o tecido cutâneo desencadeiam um reflexo
axônio que leva a vasoconstricção transitória com oclusão dos vasos injuriados. Passados
alguns minutos, ocorre vasodilatação e exsudação de componentes plasmáticos não celulares

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através dos espaços entre as células endoteliais venosas. O principal componente deste fluído é
a fibrina, que tem a função de preencher os espaços teciduais, formando um tampão na
tentativa de controlar a hemorragia23. Juntamente com a fibrinonectina, uma glicoproteína
produzida pelos fibrobastos e células epiteliais e endoteliais, a fibrina forma um anteparo entre
o meio externo e o tecido exposto. Estes compostos, fibrina e fibronectina, constituem a base
fundamental da matriz que se forma na ferida. A fibronectina participa do processo de
cicatrização, atuando como um adesivo fisiológico entre fibrina, células e outros componentes
da matriz, formando uma malha constituída por fibrina e fibronectina.
Entretanto, estes mecanismos isoladamente não são suficientes para conter a
hemorragia. A perda de sangue é controlada pela interação entre plaquetas e endotélio
vascular14. Os receptores de membrana e fibronectinas tornam possível às plaquetas aderir ao
colágeno subendotelial exposto e formar agregados. Uma vez ativadas, as plaquetas liberam
vários quimioatraentes importantes (ex. difosfato de adenosina), fatores de coagulação
solúveis, substâncias vasoativas (serotonina, histamina, tromboxane A2), fatores de
crescimento (fator de crescimento derivado de plaquetas) e proteases que ativam
alternadamente as vias do complemento, como C3a e C5a. A cascata intrínseca da coagulação
é ativada pelo fator de Hageman, que também dispara as cininas e vias clássicas do
complemento. A interação destes fatores é crucial para a cicatrização da ferida, para obter-se
adequada hemostasia e sustentação temporária para a migração centrípeta de fibroblastos e
células epiteliais; sem esta interação a cicatrização da ferida será mais demorada18.

Fase Inflamatória
A fase inflamatória da cicatrização é caracterizada basicamente pela presença de
células inflamatórias no tecido cicatricial. Os principais componentes celulares de uma ferida
são os leucócitos polimorfonucleares (PMN) e os macrófagos derivados de monócitos, os
quais aparecem proporcionalmente aos seus números na circulação. Inicialmente, o tipo de
célula predominante, o PMN, tem vida breve e atua principalmente como função micro
fagocítica. Na ausência de infecção, os PMN não são essenciais para a qualidade e taxa de
cicatrização28.
O macrófago é essencial para a cicatrização normal de feridas contaminadas ou
infectadas; por volta do terceiro a quinto dias após a injúria, os macrófagos tornam-se as

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células predominantes. Os macrófagos são removedores macro fagocíticos que sintetizam e
liberam proteases, fazendo a remoção de colágeno desvitalizado e coágulos de fibrina da
ferida. Os macrófagos também expressam uma larga variedade de fatores mitogênicos e
citocinas. O fator alfa de crescimento transformante (TGF-alfa), TGF-beta, e o fator-1 de
crescimento insulina-like são sintetizados pelos macrófagos e podem influenciar as fases
tardias da cicatrização, como neovascularização, granulação, fibroplasia e epitelização.
O papel dos linfócitos na cicatrização não está bem definido e permanece controverso.
Aproximadamente seis a sete dias após a injúria, o número de linfócitos que aparece na ferida
é desproporcionalmente menor que na circulação. Os linfócitos secretam linfocinas
importantes, incluindo o fator de inibição da migração (MIF), interleucina-2, fator de ativação
de macrófago (MAF) e fatores quimiotáticos, além de aumentar o estágio inicial da
cicatrização através da estimulação de macrófagos, células endoteliais e fibroblastos.
Entretanto, sugere-se que os linfócitos T podem regular a atividade fibroblástica exuberante a
qual poderia, caso esta regulação não existisse, ocorrer tardiamente na reparação cicatricial.
A participação de eosinófilos no processo cicatricial está, aparentemente, associado a
produção da Proteína Básica Principal (MBP) a qual age na degradação do tecido19.

Fase de Reepitelização
As células epiteliais localizadas na margem da ferida migram através da malha de
fibrina-fibronectina cerca de 24 horas após a ocorrência da ferida. Tanto o desencadeamento
do estímulo como o mecanismo de migração epitelial são desconhecidos, mas acredita-se que
envolva mediadores peptidérgicos solúveis, como epibolina, e diferenciação para um fenótipo
mais primitivo em seguida ao desprendimento das células vizinhas e dissolução das conecções
desmossômicas. Proteínas citoplasmáticas contráteis semelhantes à actina tornam possível a
estas "novas" células epiteliais migrar através da rede de fibrina, elastina e fibras colágenas
dos tipos I e III até o leito da ferida. O conteúdo aquoso da matriz da ferida abaixo da crosta
influencia a migração epitelial, pois as células preferem um ambiente mais úmido do que seco.
A taxa de migração epitelial é, nas melhores condições, de 12 a 21 µm por hora, mas isto pode
ser influenciado por muitos fatores, incluindo o tipo de matriz provisional, tensão local de
oxigênio e infecção.

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Uma vez que uma superfície provisória de células epiteliais é formada, a migração
epitelial é interrompida devido a inibição por contato. A proliferação de células epiteliais
inicia-se na borda marginal da ferida e atinge a condição de proliferação máxima
aproximadamente 48 a 72 horas após a lesão. Embora muitos estímulos estejam comumente
envolvidos nesta resposta proliferativa, alguns dos mais importantes mitógenos peptidérgicos
são fatores de crescimento epidérmicos derivados de macrófagos e plaquetas. Os fatores de
crescimento epidermais também constituem estímulos para a proliferação de fibroblastos e
formação de tecido de granulação. A reepitelização depende inicialmente da matriz.
Posteriormente, as células epiteliais são auto-estimuladas pela secreção de fibronectina,
colagenase ativadora de plasminogênio, proteases neutras e colágeno do tipo IV21.

Granulação e Fibroplasia
O tecido de granulação consiste primariamente em vasos sangüíneos invasores,
fibroblastos e produtos de fibroblastos, incluindo o colágeno fibrilar, elastina, fibronectina,
glicosaminoglicanas sulfatadas e não sulfatadas e proteases. O tecido de granulação é
produzido três a quatro dias após a lesão como um passo intermediário entre o
desenvolvimento da malha formada por fibrina e fibronectina e a síntese posterior e
reestruturação de colágeno16.
Os fibroblastos têm uma participação fundamental no desenvolvimento do tecido de
granulação saudável. Foi proposto que os fibroblastos originam-se de células mesenquimais
não diferenciadas (células X) encontradas na margem da ferida. Acredita-se que a baixa tensão
de oxigênio (30 a 40 mm Hg) próximo ao centro da lesão e a presença de fibrina atraiam e
estimulem a multiplicação e migração centrípeta de fibroblastos para a lesão ao longo do
sustentáculo formado por fibrina e fibrinonectina, capacitando-os a se transformarem em
fibroblastos maduros. A proliferação de fibroblastos é, aparentemente, modulada pelos
macrófagos num complexo modelo contra-regulatório, com uma fase de retardamento que
precede a estimulação direta pelo fator de crescimento derivado do macrófago e interleucina-1.
Acredita-se que o fator de crescimento ligado a heparina tem um impacto potente sobre a
proliferação e diferenciação de fibroblastos assim como a neovascularização. A secreção de
colagenase torna possível aos fibroblastos remover o material fibrilar. Alguns dias após
penetrarem na ferida, os fibroblastos começam a sintetizar e recobrir a cavidade da ferida com

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fibras de colágeno do tipo III. Entretanto, a distribuição e orientação destas fibras é feita ao
acaso, não seguindo um padrão definido.

Contração da Ferida
Nas feridas que cicatrizam por granulação e fibroplasia, o fechamento ocorre por contração
das paredes marginais da lesão. Esta ação é realizada pelos fibroblastos ativados, os quais se
diferenciam para miofibroblastos. Os miofibroblastos contém fibras intracelulares de
actinomiosina e formam conecções especializadas, ou fibronexus, com fibras extracelulares e
outras células dentro da cavidade da lesão. Estas propriedades possibilitam aos
miofibroblastos contrair ativamente e gerar a tensão necessária para fechar o defeito. Os
miofibroblastos aproximam as margens da ferida, forçando as fibras de colágeno a se
sobreporem e se interlaçarem e desta maneira dando o suporte para o menor tamanho da
lesão6. Dependendo do tamanho da ferida, formato, espessura dos tecidos circunvizinhos e
forças externas, como movimento, a contração máxima ocorre uma a duas semanas após
ocorrência da lesão. Se o volume ou integridade tecidual é reduzida, a contração pode ser
insuficiente para fechar o defeito, resultando em granulação exuberante ou superfície epitelial
prematura. Mais adiante, a eventual superação da contração lesional pode ser modulada
através de estiramento ou compressão dos bordos da ferida e pela implantação de enxertos de
pele e retalhos pedunculados.

Neovascularização
Neovascularização fornece nutrientes e oxigênio para nutrir o crescente tecido de
reparação na cavidade lesional. O centro da cavidade da ferida é hipóxico, o que
provavelmente inicia a angiogênese tão precocemente como os primeiros dias após o
desenvolvimento da ferida. Os macrófagos liberam o fator de angiogênese derivado de
macrófago, o qual incita brotamento capilar oriundo dos vasos circunvizinhos. Antes que
qualquer proliferação prossiga, as células endoteliais migram ativamente através de fendas na
membrana basal e cruzam a malha de fibronectina em direção à cavidade da lesão. A nova
rede vascular expande-se para o centro da lesão, dando à cavidade lesional uma aparência
rosada e textura, semelhante ao tecido de granulação. À medida que o fluxo sangüíneo e a

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oxigenação são restabelecidos, o principal fator desencadeador da angiogênese é reduzido e os
vasos neoformados começam a diminuir.

Remodelação da Matriz e Colágeno


Ao contrário das outras fases de cicatrização, a remodelação dos componentes do
colágeno e matriz, como ácido hialurônico e proteoglicanas, persistem por longo tempo após o
ferimento e é o período no qual os elementos reparativos da cicatrização são transformados
para tecido maduro de características bem diferenciadas. Durante esta fase, o número de
células diminui, mas aumenta a síntese e a produção de colágeno do tipo I. As fibras de
colágeno, as quais estão dispostas paralelamente às linhas de tensão, formam feixes de várias
unidades, preferencialmente intercruzadas, enquanto as fibras orientadas aleatoriamente são
digeridas pela colagenase. O conteúdo aquoso da matriz diminui, aumentando a agregação das
fibras de colágeno. A resistência da ferida aumenta lentamente durante as primeiras duas
semanas após a injúria, aumentando drasticamente durante o pico de remodelação da matriz e
colágeno. Portanto, ganhos na resistência da lesão progridem assintomaticamente, embora
nunca chegando à resistência original do tecido íntegro.
É possível manipular a cicatrização superando-se os problemas de tensão tecidual. As
técnicas de expansão tecidual em animais têm sido descritas em locais anatômicos onde há
escassez natural de pele para cicatrização, tais como extremidades e face. Devido a falta
relativa de tensão cutânea, o retorno à função e aparência original do tecido cicatricial são
melhores do que aquele alcançado em defeitos cicatriciais naturais.

MANEJO DE FERIDAS

Avaliação do Paciente
A avaliação apropriada de uma lesão em paciente que sofreu injúria traumática inicia-
se pela realização de um exame físico completo e avaliação geral. Emergências onde há risco
de vida, tais como hemorragia descontrolada, ventilação inadequada, descompensação
circulatória e reações de dor intensa, devem ser manejadas primeiramente. Uma lesão, mesmo
pequena, não pode tirar a atenção de problemas mais sérios como traumatismos cranianos e
fraturas. Após estabilização, atenção especial deve ser prestada à lesão e à integridade dos

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tecidos circunvizinhos. A habilidade dos tecidos resistirem à infecção e as decisões do
tratamento dependerão do tempo e mecanismo de injúria, contaminação ambiental e a
presença de corpos estranhos. Em cavalos, a quantificação de bactérias em feridas induzidas
experimentalmente indica que além de um número crítico de bactérias (105 a 106 bactéria) por
grama de tecido, as injúrias traumáticas contaminadas devem ser consideradas infectadas. A
necessidade de antibióticos ou imunização contra tétano deve ser determinada e administrada
se necessário. A história relativa a injúria também deve ser levantada5.
Eqüinos apresentando injúrias com perdas agudas de sangue podem necessitar de
reposição hídrica imediata. Perdas agudas de volume sangüíneo de 30% ou mais podem
resultar em sinais de choque20.

Avaliação da Ferida

Procedimentos do exame
Inicialmente, deve-se fazer distinção entre contaminação e infecção. Na contaminação
tem-se a presença de microrganismos, especialmente bactérias, porém somente se considera a
existência de infecção quando esses microrganismos vencem as barreiras criadas pelo
processo cicatricial e encontram condições favoráveis à multiplicação, agredindo o tecido
lesado. Embora todas as lesões de ocorrência natural sejam consideradas contaminadas, nem
todas se tornam infectadas. A manipulação dos tecidos afetados não deve, portanto, promover
contaminação bacteriana. Além da utilização de técnicas de limpeza e assepsia, o exame inclui
uma avaliação das complicações sensitivas, motoras e vasculares; palpação profunda para
evidências de instabilidades associadas com fraturas subjacentes, danos a tendões ou
ligamentos e determinações de rupturas articulares e penetrações em órgãos cavitários, como
bexiga, ou órgãos parenquimais ou suas estruturas associadas, como uretra ou cavidades
corporais. A aplicação de um torniquete para controlar exsudações pode ser útil para
completar o exame e confirmar o diagnóstico. O exame radiográfico é indicado no momento
da avaliação clínica para se avaliar a integridade dos tecidos subjacentes e indicar o tratamento
subseqüente.

Biomecânica da ferida

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As propriedades biomecânicas de uma lesão influenciam as decisões cirúrgicas
relativamente ao manejo da ferida. Por exemplo, debridamento cuidadoso do tecido de
granulação exuberante será necessário para a cicatrização de feridas abertas localizadas nas
extremidades distais. Concomitantemente, a orientação de uma lesão localizada em uma área
de flexão, como o jarrete, ou de extensão, como o joelho, ou superfície de tensão, como o
tórax, influenciam a qualidade, duração e funcionalidade da cicatrização.

Preparação do Paciente e da Ferida


Ao abordar feridas abertas, o veterinário deve instruir o cliente sobre os cuidados
apropriados da lesão, antes do transporte do animal até a clínica ou a chegada do profissional
ao haras. As instruções resumem-se a não fazer nada mais que aplicar uma atadura de algodão
ou improvisar uma faixa de tecido, as quais devem estar perfeitamente limpas; firmemente no
local. A utilização de fraldas descartáveis é ideal para pequenas lesões. A aplicação de
bandagens ajuda na proteção da ferida, prevenção de contaminações e contenção de
hemorragias. A aplicação de antissépticos, pomadas e pós deve ser evitada desde que eles
podem aumentar a possibilidade de contaminação adicional e provocar irritação química da
lesão, além de tornar a limpeza e o debridamento difíceis se houver condições de fechamento
primário.

Contenção
A escolha do tipo de contenção é ditada pela situação. Muitas feridas podem ser
suturadas com o cavalo em estação, utilizando-se sedação e anestésico local. Entretanto, há
circunstâncias nas quais a anestesia geral deve ser utilizada, tais como lacerações severas em
regiões inacessíveis do corpo e animais intratáveis.
A anestesia de feridas em cavalos em estação pode ser conseguida com bloqueios
nervosos ou infiltração massivas de anestésicos locais. Preferentemente, de algum que não
contenha vasoconstrictor. Os vasoconstrictores podem causar necrose de pele em animais de
derme fina e podem interferir com a cicatrização próxima ao bordo da ferida. O agente
anestésico deve ser infiltrado ao redor da ferida, mas não próximo às margens livres de uma
laceração. Este procedimento minimiza o inchaço e permite uma melhor visualização dos
tecidos durante cirurgia. Se necessário, é possível anestesiar-se a área pretendida acessando-a

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por dentro da ferida, desde que se tenha o cuidado de limpar a lesão antes da infiltração
minimizando o perigo de contaminação para os tecidos subjacentes.

Assepsia
A remoção de pêlos na área da lesão reduz a contaminação superficial das lesões
durante o fechamento. Embora a tricotomia seja um procedimento vantajoso, não exime o
tecido de infecções, tendo sido descrito na espécie humana, uma taxa de infecção em pacientes
após tricotomia 5,6% maior quando comparada com 0,6% após depilação. Além deste fato,
infecções significativamente maiores foram encontradas em pacientes cujos pêlos foram
cortados na manhã da cirurgia, do que naqueles na qual o corte se deu na noite anterior à
cirurgia. O aumento da taxa de infecção associado com a tricotomia está relacionado a danos
aos folículos pilosos, que propiciam uma porta de entrada para a contaminação bacteriana e
conseqüente infecção.
Agentes antimicrobianos ou antissépticos podem ser adicionados às soluções para
lavagem da ferida e redução da contaminação bacteriana local. Embora haja vários agentes
que possam ser adicionados, os mais populares são as soluções diluídas de Iodopovidine (PI) e
clorhexidina, que não causam efeitos deletérios significantes ao tecido traumatizado.
O iodo livre é o ingrediente ativo da solução de PI, na qual se encontra à concentração
de 1% na solução de estoque. A diluição desta solução libera o iodo, aumentando sua
atividade bactericida. Atualmente, as concentrações de iodo recomendadas para lavagem dos
tecidos moles é de 0,1%, ou seja, 1,0 ml da solução de estoque em 100 ml do diluente,
maximizando seu espectro antimicrobiano e minimizando os efeitos citotóxicos. As principais
desvantagens do iodopovidine quando comparado ao clorexidine são a reduzida atividade
residual e a diminuição do efeito na presença de material orgânico.

Debridamento
De forma isolada, provavelmente o fator mais importante no manejo eficaz de uma
lesão contaminada ou infectada é o debridamento. Potencialmente, as defesas do organismo
possuem capacidade para resistir às infecções mais intensas, removendo todo o tecido
desvitalizado, como músculo, gordura e pele, além de ossos, os quais podem amparar o
crescimento bacteriano e inibir a atividade fagocitária dos PMN.

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Uma importante questão quanto ao debridamento é sobre seu limite. A junção entre os
tecidos normais e desvitalizadas não é clara, especialmente logo após a ocorrência da lesão. Os
melhores indicadores da vitalidade dos bordos excisados da lesão são calor, cor e habilidade
para sangrar. A contração muscular após estimulação elétrica e coloração da pele pela
administração sistêmica de corantes fluoroscentes e azul de metileno podem também ajudar na
diferenciação entre os tecidos desvitalizados e os viáveis17.
Embora todos os tecidos necrosados ou em vias de necrose possam ser removidos, o
debridamento conservativo das feridas sobre estruturas vasculares e neurais, articulações e
órgãos especiais é essencial. È importante lembrar que para realização desses procedimentos
podem ser necessários métodos de contenção.

Antimicrobianos
A necessidade de terapia antimicrobiana deve se justificar antes de ser iniciada, uma
vez que os antibióticos podem não ser necessários na terapêutica de todas as feridas. O uso
destes medicamentos é dirigido à prevenção de infecções ou para eliminar infecções já
estabelecidas. A utilização isolada de antibióticos em feridas contaminadas ou infectadas não é
garantia de sucesso no processo cicatricial. Vários fatores determinam se a terapia
antimicrobiana terá ou não sucesso no tratamento de infecções: 1) o tempo e mecanismo de
injúria, 2) o organismo infectante e 3) a integridade fisiológica do tecido lesado. Em estudos
clínicos e laboratoriais, a terapia antibiótica é significativamente mais efetiva quando as
concentrações da droga estão presentes no local da ferida e em concentrações que excedam a
concentração mínima inibitória do organismo.
O exsudato proteináceo oriundo dos vasos interrompidos e do desprendimento
endotelial tem aparentemente uma dupla função em prevenir a efetividade antibiótica e
potencializar as defesas do organismo contra infecções. Por exemplo, o coágulo de fibrina
pode envolver e proteger as bactérias do contato com antibióticos. Simultaneamente, este
coágulo pode vedar os vasos linfáticos e bloquear o fluxo linfático, prevenindo, deste modo, a
disseminação de bactérias.
É essencial a determinação da necessidade de antibióticos em pacientes com elevada
probabilidade de infecção. Vários fatores que determinam a probabilidade de infecção
incluem: 1) sítio anatômico da ferida, 2) aparência da lesão (feridas contendo material

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purulento), 3) feridas consideradas sujas ou contaminadas, 4) dimensões físicas da ferida, 5)
demora na limpeza da ferida e reparo de mais de três ou mais horas, 6) magnitude e
mecanismo de injúria tecidual. Deve-se enfatizar que a terapia antibiótica é um método
auxiliar, antes que uma substituição, para o debridamento.
Drenagem
A drenagem tem tanto vantagens como desvantagens que devem ser consideradas na
avaliação de seus benefícios potenciais no manejo de feridas. A drenagem fornece uma rota
direta para remoção contínua de pus, sangue e outros detritos exsudativos da ferida, deste
modo minimizando os efeitos adversos no controle de infecções e taxa de cicatrização.
O risco potencial dos drenos deve ser considerado todas as vezes, especialmente em
situações quando utilizados profilaticamente ou quando exsudação contínua é antecipada.

Tipos de Reparação de Feridas


Os fatores acima mencionados influenciam profundamente a escolha do tipo de
abordagem da ferida, seja por reparação primária, secundária ou primária tardia.

Fechamento por primeira intenção


O fechamento primário é indicado após incisões cirúrgicas não complicadas e após
feridas naturalmente induzidas nas quais a cicatrização não está correndo riscos de sofrer
tensão excessiva e infecção. O fechamento primário possibilita que a cicatrização tecidual
prossiga com redução da quantidade de colágeno requerido para a remodelação,
neovascularização, contração e repitelização. Entretanto, o fechamento primário das lesões
suprime os mecanismos naturais de defesa do paciente. Desde que muitas injúrias sofridas
pelos eqüinos são caracterizadas por dilacerações e impactos, o fechamento primário pode não
ser garantido devido à freqüentemente substancial quantidade de dano aos tecidos subjacentes,
cutâneo, vascular, músculos e ossos, má definição das margens viáveis da lesão e
contaminações profundamente encarceradas com patógenos bacterianos oriundos do ambiente,
como solo e fezes.

Cicatrização por segunda intenção

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A escolha da cicatrização por segunda intenção é definida quando o fechamento
primário não pode ser utilizado. O fechamento secundário depende inteiramente da
neovascularização e remodelação da matriz para restabelecer o volume tecidual, contração da
lesão para restabelecer a tensão tecidual normal e reduzir o tamanho da cicatriz e repitelização
para fornecer uma superfície de revestimento normal. Os fatores que contribuem para a
decisão de se abandonar o fechamento primário e permitir o fechamento secundário são: 1)
grau de contaminação, 2) perda significativa de tecido e 3) situações nas quais houve falhas no
fechamento primário.

Fechamento tardio por primeira intenção


O fechamento primário tardio de feridas incorpora as vantagens tanto do fechamento
primário como do secundário. O tempo ideal para o fechamento primário tardio de uma lesão
inicialmente contaminada ou infectada deve ocorrer antes do aparecimento de tecido de
granulação, geralmente quatro a sete dias após a injúria. Por este tempo, um bom manejo da
lesão terá diminuído a probabilidade de infecção. O momento para o fechamento primário
tardio correlaciona-se com o final da fase de debridamento e o início da fase proliferativa de
cicatrização da ferida. A justaposição das margens da lesão reduz a necessidade de contração e
repitelização da lesão, minimizando-se o tamanho da cicatriz e aumentando a resistência da
lesão cicatrizada.
Feridas dos membros distais dos eqüinos, as quais freqüentemente se permite a
cicatrização por segunda intenção, podem ser manuseadas com maior sucesso por segunda
intenção (após o aparecimento de tecido de granulação) e imobilização rígida temporária.

FATORES QUE INFLUENCIAM A REPARAÇÃO DE FERIDAS


Embora não se possa definitivamente acelerar o processo de cicatrização, vários fatores
afetam adversamente a taxa de cicatrização das feridas. Entre estes fatores estão a má nutrição,
hipovolemia e hipotensão, hipóxia, hipotermia, infecção, trauma e o uso de medicamentos de
ação anti-inflamatória. A adequada manipulação destes fatores contribui para a manutenção
das condições ideais para ocorrer a cicatrização normal.

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Nutrição
A condição nutricional do paciente influencia profundamente a taxa e qualidade da
cicatrização. As necessidades calóricas aumentam após uma ferida traumática. As dietas
devem incluir proteínas e aminoácidos que são utilizados anabolicamente. A má nutrição
protéica contribui para uma cicatrização defeituosa. Estudos têm demonstrado que a falta de
proteínas antes da ocorrência do ferimento propicia a formação de reações teciduais menos
exuberantes do quando a depleção ocorre após o ferimento; assim organismos com diminutos
níveis de albumina apresentam geralmente ferimentos ou lesões menores.
As vitaminas têm uma função positiva no auxílio da cicatrização normal. A vitamina C
é necessária para o desenvolvimento de fibroblastos e para a hidroxilação de prolina e lisina.
Deficiências de vitamina C produzem diminuição da resistência da ferida à tensão e atrasam a
cicatrização da lesão.
Em eqüinos, os traços de minerais podem participar da cicatrização das feridas. Entre
esses inclui-se o magnésio, o qual é necessário para a síntese de proteínas, e o zinco, os quais
participam de todas as fases da cicatrização. Entretanto, faltam evidências definitivas que
indiquem aumento ou melhora da cicatrização em animais normais cujas dietas sejam
suplementados com aditivos nutricionais12.

Anemia
A anemia não pode, per si, atrasar a cicatrização das lesões, uma vez que as demandas
teciduais do volume de sangue total e as necessidades de oxigênio para o metabolismo celular
são os fatores mais importantes. Se a anemia é secundária à perda de sangue, então o fluxo
sangüíneo na microcirculação da ferida se deteriorará causando deposição de sedimento
intravascular e coagulação, interferindo com a oxigenação e nutrição tecidual.

Oxigênio
Embora as células metabolicamente ativas como leucócitos e fibroblastos requeiram
concentrações normais de oxigênio, a ocorrência de hipóxia no centro da lesão constitui uma
condição essencial para o estímulo da angiogênese e início da síntese de colágeno. Entretanto,
a presença intracitoplasmática de oxigênio nos fibroblastos é necessária para o processo de

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pós-translação de colágeno, essencial para as ligações entre prolina e lisina, secreção e
polimerização de fibras maduras de colágeno.
Estudos com oxigênio hiperbárico não sugerem melhorias na cicatrização de feridas.
Ao contrário, aumentos no conteúdo de oxigênio na lesão podem elevar a pressão do dióxido
de carbono e reduzir a deposição de colágeno. Anormalidades ácido-básicas sistêmicas,
entretanto, podem provavelmente ter pouco efeito na cicatrização de feridas12.

Temperatura
O efeito da temperatura na cicatrização de lesões está aparentemente relacionado ao
seu efeito no tônus vasomotor periférico. Diminuições na temperatura ambiental exercem uma
vasoconstricção reflexa autonômica que reduz a microcirculação local, diminuindo portanto a
microcirculação local através da diminuição da oxigenação e nutrição tecidual.

Agentes anti-inflamatórios
Esteróides
Pela restrição da fase inflamatória da cicatrização, os esteróides possuem efeito
inibitório na taxa e qualidade da cicatrização. Ocorrem, desta forma, atrasos na formação de
tecido de granulação, proliferação de fibroblastos e brotamento capilar na presença de
esteróides. Entretanto, o efeito de uma única dose de esteróides em cavalos pode não criar um
impacto nas diferentes fases de cicatrização.

Anti-inflamatórios não hormonais


Doses elevadas de aspirina diminuem a resistência à tensão de feridas em ratos. A
aspirina não tem nenhum efeito sobre a cicatrização quando administrada em doses
terapêuticas.
Em ratos, o flunixin meglumine diminui significativamente a resistência a tensão de
feridas da pele e linha branca mas não afeta a resistência visceral cinco dias após cirurgia. No
décimo quarto dia, não houveram diferenças histológicas entre animais tratados e controle.
Embora afetando adversamente a fase inflamatória, o flunixin meglumine qualitativamente
não parece influenciar a fase proliferativa ou as fases subsequentes da cicatrização de feridas8.

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Infecção
As infecções afetam adversamente todas as fases da cicatrização. A secreção de
hialuronidase, colagenases, hemolisinas e outros proteases são responsáveis pela ocorrência de
inibição bacteriana durante a cicatrização. As bactérias também inibem a cicatrização através
do prolongamento da fase inflamatória. A presença de um número maior que 105 bactérias por
grama de tecido lesional significa que, se a ferida não tiver assistência, não cicatrizará por
primeira ou segunda intenção10.
O tempo é um fator importante no diagnóstico potencial de contaminação de feridas. O
período de ouro não é simplesmente um tempo que possa ser contado; ele é a quantidade de
tempo antes de um inóculo atingir um nível crítico de 105 bactérias por grama de tecido. Além
disto, este período depende de vários fatores, incluindo o tempo de patogenicidade e
replicação da bactéria e a integridade fisiológica do tecido ao redor da lesão24.
Vários fatores também influenciam a ocorrência de infecção e/ou deiscência, incluindo
corpos estranhos, hematomas, seromas, espaço morto, movimento e edema. Os corpos
estranhos, tais como pêlos, madeira e solo mantém a inflamação e resistem às tentativas de
controlar a infecção. Hematomas e seromas influenciam a infecção através da potencialização
do crescimento bacteriano e interferindo com a oxigenação e nutrição tecidual através da
separação das camadas de tecido. O espaço morto atua “coletando” o material liqüefeito que
recebe a infecção. O movimento interrompe os frágeis leitos capilares e o epitélio cicatricial.
O edema aumenta lentamente a tensão na ferida e interfere com a oxigenação e nutrição
tecidual.

Antissépticos e Pensos
O clorexidine é citotóxico, em meio de cultura, para fibroblastos, mas não interfere
com a cicatrização tecidual in vivo. A cicatrização de lesões e contração são semelhantes em
feridas tratadas com clorexidine e iodopovidine. Entretanto, contaminação e isolamento
bacteriano pode ser menor em feridas tratadas com clorexidine do que naquelas que receberam
povidine-iodine. Em cobaias, o tratamento de feridas cutâneas com clorexidine resulta em
aumento da resistência 14 dias após a injúria. A principal diferença entre as feridas foi a
quantidade de colágeno formado.

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Queimaduras demonstram melhora da epitelização e menor contração e granulação
após tratamento tópico com cremes à 1% de sulfadiazina de prata do que após tratamento com
gel de aloé vera, produzido a partir da planta do mesmo nome, conhecida popularmente pelo
nome de babosa.
As funções dos pensos são: 1) proteger a ferida de contaminação e trauma posteriores,
2) fornecer compressão, 3) aplicar medicações à superfície da ferida e 4) absorver tecido
necrótico drenado e detritos.
Os pensos gessados podem aumentar a cicatrização por segunda intenção em áreas
sujeitas a movimento excessivo, incluindo os bulbos dos talões, quartelas, boletos, joelhos e
jarretes4. Com a formação de um tecido de granulação maduro no leito da ferida, o gesso pode
ser removido e a área injuriada mantida sob bandagem simples ou contida com bandagens
biológicas, adesivos teciduais, cirurgias reconstrutivas ou enxertos de pele.

TERAPIA TÓPICA
Em eqüinos são reconhecidas as dificuldades decorrentes da formação excessiva de
tecido de granulação em feridas cutâneas localizadas em extremidades. Este aspecto, constitui
um desafio para o médico veterinário que elege, para determinados casos, a cicatrização por
segunda intenção como método de tratamento, seja pelas condições locais e tempo decorrente
da lesão ou pela falta de tecido para recobrimento. O profissional vê-se premido pela
necessidade de combater uma possível contaminação e/ou infecção, remover o tecido
desvitalizado e estimular a formação de tecido de granulação para preenchimento do espaço
morto, o que requer a utilização de antissépticos e/ou antibióticos para evitar a proliferação de
germes, assim como de substâncias que estimulem granulação. De outro lado, deve impedir
que o tecido de granulação desenvolva-se excessivamente e acabe dificultando a epitelização e
retração dos bordos cutâneos da ferida.
Se de um lado alguns autores preconizam que o uso de pomadas antibióticas tópicas
não são imprescindíveis para o fechamento de feridas30, por outro lado, inúmeros relatos
referem a importância do emprego de algum tipo de antibiótico ou antissépticos tópicos para
controlar processos bacterianos superficiais quando se manuseia uma lesão antes de fechá-la
ou quando a cicatrização por segunda intenção é elegida11, 2, 29. Têm-se como ideal a utilização
de pomadas que não tenham propriedades irritantes e sejam solúveis em água e,

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conseqüentemente, de fácil remoção. Em que pese a citotoxicidade de alguns antissépticos,
como o iodopividine e o clorexidine (anteriormente comentados), esta é de baixa intensidade
e, nos casos, onde ocorre contaminação, sua atividade bactericida supera seus efeitos
deletérios ao tecido. Algumas pesquisas foram realizadas, em nossas condições, com o
objetivo de comparar a eficiência na cicatrização de feridas de alguns antissépticos13. Esse
trabalho, que teve um grupo tratado com solução fisiológica como controle, avaliou o efeito de
três substâncias: glicerina iodada 5%, timerosal e iodo povinilpirrolidona com açúcar, refere
uma melhor efetividade da primeira solução. Embora esta não tenha sido significativamente
melhor que o timerosal, o qual demonstrou discreta desvantagem quando avaliado macro e
microscopicamente.
Os antibióticos e antibacterianos utilizados diretamente na cicatrização de feridas, na
forma de pomadas, incluem, entre outros a sulfadiazina de prata25, a nitrofurazona e
associações de bacitracina, neomicina e polimixina B. Embora tenha-se constatado sua
eficácia na cicatrização de feridas, esta não diferiu significativamente de tratamentos
realizados com placebos, exceto para a nitrofurazona34. Muita pesquisa clínica é necessária
antes que recomendações, como estas, sejam feitas. Se antibacterianos tópicos são utilizados, a
duração do tratamento deve ser mínima para prevenir o desenvolvimento de resistência
bacteriana. Por enquanto, a utilização de agentes antimicrobianos tópicos é rara, mas confia-se
no uso de bandagens úmidas e/ou secas, combinadas com lavagem antisséptica durante a
mudança de bandagens, para controlar infecção bacteriana5.
O tecido de granulação exuberante formado no início da cicatrização pode ser
controlado tanto pela aplicação tópica de derivados amnióticos como de preparações tópicas à
base de corticosteróides. As combinações de esteróides e antibióticos tópicos diminuem
marcantemente à produção de líquidos, permitindo trocas menos freqüentes de bandagens. A
superfície da ferida torna-se mais lisa, facilitando a migração epitelial e aparentemente, a
associação de antibióticos com esteróides ativa a granulação de retração da lesão9 e ocorre
diminuição do tamanho da lesão logo após sua aplicação3. Em estudo realizado com um
pequeno grupo de animais, as lesões tratadas com esteróides tópicos cicatrizaram mais rápido
do que aquelas nas quais não se utilizou esteróides1. Histologicamente, não se observou
nenhuma diferença entre feridas tratadas com combinação de esteróides e antibióticos e
aqueles tratados de outra maneira3.

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Feridas crônicas, com tecido de granulação exuberante que se projetam acima da
margem cutânea, respondem melhor ao tratamento pela remoção cirúrgica do excesso de
tecido11, 2. A excisão pode ser realizada com o cavalo em estação, pois o tecido de granulação
não é inervado. O excesso de tecido é removido até que sua superfície fique abaixo das
margens teciduais cutâneas. Após excisão, uma bandagem deve ser aplicada com certa pressão
para controlar a hemorragia. Uma vez que a hemorragia esteja controlada, a colocação de uma
outra bandagem contendo corticosteróides é útil para secar e alisar a superfície da ferida.
Outras substâncias têm sido referidas no tratamento de feridas por segunda intenção
com objetivo de auxiliar o processo cicatricial e modular o crescimento do tecido cicatricial,
sem apresentar as desvantagens dos glicocorticóides. A ketanserina, um antagonista do
receptor S2 de serotonina, têm sido eficientemente utilizada na forma de gel com resultados
bastante promissores tanto em eqüinos como em outras espécies domésticas (bovinos e cães),
assim como na espécie humana. Em cães, o uso da ketanserina promoveu o desenvolvimento
mais rápido de tecido de granulação maturo e o fechamento de feridas quando comparado ao
tratamento convencional15, assim como mostrou efeito benéfico na formação de tecido de
granulação e epitelização no tratamento de úlceras de decúbito em pacientes humanos, com
aumento significativo da cicatrização, na fase inicial, quando comparado aos pacientes que
receberam placebo31. Aparentemente, a ketanserina tem um efeito paradoxal na cicatrização de
feridas, pois de um lado estimula a proliferação e síntese de colágeno do fibroblastos da
derme, mas por outro lado inibe a síntese de serotonina e miofibroblastos27. Em eqüinos, são
relatados resultados positivos da aplicação tópica de ketanserina na cicatrização de feridas
cutâneas32.

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