Cientista Social. Máster Internacional de Comunicación y Educación pela Universitat Autònoma de Barcelona – Espanha.. Pós-Graduando em Políticas Públicas pela Universidade Federal de Goiás
Formação dos Homens burgueses
“A burguesia pelo rápido desenvolvimento de todos os instrumentos de produção, pelos meios de comunicação imensamente facilitados, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Em uma palavra, cria um mundo a sua própria imagem”. A partir das palavras de Karl Marx, percebemos claramente a tensão existente durante a transição de um velho regime de costumes para o chamado capitalismo, que acabou por levar a uma influência direta nas culturas. A expansão do chamado Imperialismo Europeu, em suas formas político-econômica e principalmente a penetração do capital Inglês mudou a paisagem urbana e o “estado de espírito” das pessoas no Rio de Janeiro do final do século XIX e inicio do século XX e posteriormente em todo país. Um conto de Lima Barreto (o homem que falava Javanês) serve para precisar este “estado de espírito”, pois mostra o artificialismo da cultura burguesa importada pelas elites do período. Mais do que uma simples influência, tratava-se de um projeto social totalizante por imposição não somente das mudanças materiais, mas de todo um modo de vida. Essas mudanças se deram de forma profundamente autoritária, utilizando-se da força e sem nenhuma consideração com setores sociais que sofreriam com as conseqüências diretas das transformações que estavam em processo, ou seja, a burguesia suprimiu a sociedade a sua forma e desejo. Essas seriam as forças produtivas vista por Karl Marx como os elementos que exercem na sociedade uma influência para modificar uma natureza social bem como a produção dos bens materiais que compreendem os meios de produção e os homens que são utilizados como força de trabalho. Isso levou a um problema, todas as relações sociais entre os indivíduos passaram a ser mediatizadas pelo mercado, que substituiu os laços comunitários que outrora caracterizavam as sociedades anteriores. Com isso, todos os bens passaram a ser mercadorias, ou seja, o acesso a eles passou a ser permitido apenas a quem tivesse o dinheiro para comprá-los. Isso só foi possível mediante a chamada acumulação primitiva do capital, que se caracterizou pela expulsão de camponeses de suas terras e pela destruição dos laços não mercantis do artesanato e da vida cotidiana, formando uma massa de indivíduos destituídos de meios de produção e que nada tinham para oferecer ao mercado senão sua força de trabalho. Esse fato ocorreu inicialmente no Rio de Janeiro final séc. XIX, onde a tensão da transição do capitalismo acabou por levar a uma influência direta na cultura local. A separação do homem dos seus meios de produção é também chamada de proletarização e foi na maioria das vezes imposta pelo Estado. Além disso, os artesãos urbanos não podiam concorrer no mercado com os capitalistas, cujos capitais rapidamente se acumulavam mediante o uso de força de trabalho e pela extração da mais-valia (diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, base da exploração no sistema capitalista) , e esses artesãos falidos contribuiram para aumentar ainda mais a massa de proletários disponíveis para a indústria capitalista nascente. A formação, manutenção e o controle através do aparato repressivo do Estado de uma massa de indivíduos destituídos de tudo e tendo somente a sua força de trabalho para vender, sendo ela qualificada ou não, se tornando condição da acumulação do capital em qualquer lugar, a força de trabalho acaba sendo a única mercadoria que produz mais-valia. No Rio de Janeiro, a emancipação dos escravos e a política imigratória foram os dois processos essenciais na formação do mercado de trabalho capitalista e consequentemente da classe trabalhadora. A imposição do assalariamento ao trabalhador acaba sendo ajudada pela vigilância constante do aparato policial, que rotula de “vadio” os indivíduos que se encontravam nos botequins e nas ruas, e que não conseguiam provar sua condição de trabalhador, ou seja, os indivíduos foram submetidos ao projeto de vida feito para eles. Com a implantação do projeto de sociedade no Rio de Janeiro, sendo feito “de fora para dentro e de cima para baixo” houve uma série de conflitos que envolvia lazer popular, formação de um mercado capitalista de trabalho assalariado e a repressão policial. O mundo do lazer popular, dos botequins e da rua, passou a contar com uma contrapartida, a repressão policial, que acaba se tornando “necessária” para a manutenção da ordem e da moral burguesa. Resumidamente, ou o individuo adaptava-se ao mundo assalariado ou era jogado no xilindró sobre desculpa de vadiagem, vagabundagem etc. É interessante atentar-se sobre como se deu essa imposição, como o pensamento e as forças produtivas burguesas introduziram sua vontade inicialmente na sociedade carioca e que se alastrou por todo país, provocando antagonismos, fazendo com que a transição para a ordem burguesa fosse um processo de luta, de imposições e resistências, e não um caminhar harmônico, linear e tranqüilo.