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03 Jan./Fev./Mar. 2009
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75
DOSSIER
Campanha da Dignidade: Direitos Humanos = Menos Pobreza
EDITORIAL
A Dignidade
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
ENTREVISTA
Alfredo Bruto da Costa, Presidente do Conselho Económico e Social
Desde 2003 à frente do órgão constitucional que promove a participação dos agentes económicos e
sociais nos processos de decisão políticos, Alfredo Bruto da Costa dedica parte da sua vida ao estudo e
investigação sobre questões relacionadas com a pobreza. Autor do livro Um Olhar sobre a Pobreza, falou
ao “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” sobre esta realidade, na véspera do lançamento da
grande campanha da organização: “Exija Dignidade”
Por Cátia Silva
soluções são muito diferentes. Para uma africana, importa referir que a quase ABC: O Banco Alimentar é um indicador
pessoa que vive mal porque não tem re- totalidade dos pobres portugueses não de oscilações. O que eles dizem é que nos
cursos, tenho de resolver o problema da têm qualquer forma de aquecimento, últimos tempos tem aumentado o núme-
carência imediata, mas isso não basta, que quase 40% não possui banheira ou ro de pessoas que não iam ao Banco Ali-
pois tenho de fazer com que a pessoa se chuveiro e que quase 30% não tem re- mentar e agora vão.
torne auto-suficiente. Se uma pessoa tem trete em casa...
AI: Teremos então hoje mais casos
recursos e não sabe utilizá-los correcta-
ABC: É verdade, mas o que para mim foi pontuais e menos de pobreza perma-
mente, a solução não passa por isto.
o mais curioso nas condições de habita- nente?
AI: No seu livro fala ainda de um outro bilidade é que fizemos um gráfico onde
ABC: Antes era uma pobreza mais per-
tipo de pobres, que, apesar de traba- se demonstra quais as condições entre
sistente, sim. Agora há mais pessoas a
lharem, de terem um salário, são po- os pobres e quais as condições de habi-
passar pela pobreza. Há sobretudo os-
bres porque não recebem o suficiente tabilidade entre os não pobres. O que se
cilações. Além disso, com os efeitos da
para satisfazerem as suas necessi- verifica é que as duas curvas são parale-
crise, o tipo de pobreza vai ser ainda
dades básicas... las [ou seja, quando uma é maior, a outra
mais diversificado.
também é]. Dá a impressão de que, na-
ABC: Exactamente, mas este não é um
quilo em que somos fracos, são aspectos AI: Há quem diga ainda que com o de-
novo tipo de pobres e não é uma situa-
estruturais da sociedade. E nesses as- senvolvimento das novas tecnologias
ção que esteja ligada à crise. É antiga
pectos a curva dos pobres é mais baixa, temos hoje um outro tipo de pobreza,
em Portugal e é um caso de pobreza per-
o que é natural. em termos de capacidades, de infoex-
sistente.
clusão...
AI: No seu livro fica ainda provado que
ABC: A pobreza é sempre um problema de
há maior incidência de pobres na zona “A ideia de pobreza tem capacidades. É a teoria do Amartya Sen
rural (57,5% dos pobres), quando mui- sempre por trás a noção de [economista indiano], que olha para os
tas vezes se associa a pobreza aos bair-
ros degradados das grandes cidades
que uma pessoa, para viver, recursos como um meio para adquirir ca-
precisa de um mínimo de pacidades para funcionar normalmente
(onde estão 38,4% dos pobres)...
na sociedade. Por outro lado, há uma
ABC: Exacto. Normalmente o que acon-
condições de vida” outra maneira de olhar para o problema
tece, embora isto esteja a deixar de ser da pobreza, pensando na liberdade, um
costume, é pensarmos que nos meios AI: Sim, mas também é verdade que direito fundamental. É outra vez a ideia
rurais as pessoas conseguem aguentar- sendo a curva dos pobres sempre mais de Amartya Sen, que diz que uma pessoa
-se melhor, porque há uma solidariedade baixa, as condições em que vivem ajuda que tem fome não é livre. Primeiro, não
informal, ao nível de parentes e vizinhos, a perpetuar a sua situação de pobreza. é livre de comer e, consequentemente,
coisa que não acontece nos centros ur- Não é assim? Por exemplo, uma crian- para fazer muitas outras coisas. Por isso
banos. A minha ideia é que nas cidades ça que não tem luz não pode estudar, eu costumo dizer que não faz sentido de-
o pobre está mais isolado e não pode alguém que vive numa casa fria adoece fender o direito à liberdade, sem defender
contar com grandes ajudas informais. mais vezes e falta mais à escola ou ao o direito às condições para o exercício da
Nesse aspecto pode ser diferente o rural trabalho... liberdade. Assim chegamos à conclusão
do urbano, embora haja quem diga que a de que a pobreza é uma violação aos di-
solidariedade informal em Portugal tam- ABC: Claro. Uma das noções importantes reitos humanos.
bém está a cair em desuso. no conceito de pobreza é que as carên-
cias não aparecem isoladas. Há uma AI: Uma dedução lógica, mas só a 4 de
AI: Essa solidariedade é tanto mais im- rede de carências. Uma puxa as outras. Julho do ano passado a pobreza foi as-
portante se ressalvarmos que as pes- Isto porque a maior parte das coisas sim reconhecida pela Assembleia da
soas que estão mais vulneráveis à po- de que precisamos temos de comprar República, na resolução n.º 31/2008. Os
breza são as crianças e jovens (73%) no mercado. Para isso precisamos de Estados, ou os Governos, já entendiam
e os idosos (cerca de 70%). Ou seja, dinheiro. Assim, se não tenho dinheiro a pobreza como uma violação aos di-
pessoas dependentes. suficiente, sou carenciado em todos os reitos humanos?
ABC: Exactamente, embora o que tam- aspectos que dependam de ter dinheiro ABC: Não, ou melhor, pelo menos não de
bém tenha sido curioso ver nos estudos para ir comprar no mercado. forma tão clara. E mesmo a resolução da
é que a pobreza atinge todas as idades. AI: Recentemente, a Presidente do Ban- Assembleia da República adoptada não
Nenhum grupo etário fica livre da pobre- co Alimentar veio registar um aumento foi clara. Diz que pode conduzir a que a
za, mas efectivamente a vulnerabilidade no número de pedidos de ajuda. Mas no pobreza seja vista como uma violação
está mais nos extremos. seu livro é apontado que no primeiro aos direitos humanos, mas não afirma
estudo sobre pobreza em Portugal, de que, em si própria, a pobreza constitui
AI: O seu livro apresenta ainda dados
Manuela Silva, que data do tempo da uma violação aos direitos humanos. Para
chocantes relativos às condições de
ditadura, já se falava em pobres. Temos mim, a Assembleia da República não foi
habitabilidade em Portugal. Assim,
hoje mais ou menos pobreza? tão longe quanto seria desejável.
apesar de estarmos longe da realidade
AI: Mas mudaria alguma coisa ter ido caminho a seguir... solidariedade tem de ser uma coisa ins-
mais longe? titucionalizada e os mecanismos mais
ABC: Sim, porque a taxa de pobreza po-
directamente relacionados com isso são,
ABC: Pode mudar, se depois se tirarem de ter baixado, mas não sabemos se foi
por um lado, os impostos, por outro, a se-
as consequências políticas disso, ou devido às políticas adoptadas ou a outros
gurança social.
seja, se a ideia for depois convertida em factores, como o crescimento económico,
legislação. etc. AI: A esse nível pagariam mais os que
mais podem...
AI: Isso passaria, por exemplo, por AI: Estamos então, em termos de políti-
definir uma linha de pobreza para Por- cas públicas, talvez numa fase ainda ABC: Claramente.
tugal? embrionária. No entanto, defende tam-
AI: Perante as soluções que aponta e
bém que a sociedade tem um papel
ABC: Poderia ser, porque ao definirmos diante do que tem sido feito, o que é
muito importante no combate à po-
isso estaríamos a definir tacitamente possível esperar para o futuro em ter-
breza...
um limiar de pobreza para Portugal. mos da pobreza em Portugal?
Temos hoje o Rendimento Social de In- ABC: Muito importante mesmo...
ABC: A esperança depende de vários fac-
serção [que pretende contribuir para a
AI: Numa entrevista que deu ao jornal tores, alguns dos quais não dependem
satisfação das necessidades essenciais
Sol, publicada na edição de 7 de Feve- de nós. Por exemplo, a nossa economia
e favorecer a inserção laboral, social e
reiro, afirma que “se transferíssemos depende muito das exportações e se
comunitária], mas este não garante que
4% do consumo dos não pobres para os países para onde exportamos se re-
o seu valor seja o suficiente para viver,
os pobres, não havia necessidade de traírem a esse nível, não podemos fazer
porque a lei não exige que este esteja re-
recursos em Portugal”... nada senão o que algumas empresas es-
ferenciado àquilo que é necessário para
tão a fazer: diversificar, ou seja, exportar
uma pessoa viver. Seria um avanço muito ABC: Exactamente. E a nível mundial é
para outros países que não estão ainda
grande definir o limiar da pobreza. até mais impressionante. Se transfe-
tão afectados pela crise. Mas este é só
rirmos 1% do consumo dos 20% mais
um factor que contribui para a pobreza.
ricos para os 20% mais pobres, duplica
“Se transferíssemos 1% do o consumo destes últimos. E falamos do
Um segundo tem a ver com a nossa Ban-
consumo das pessoas 20% ca, que tem de estar estabilizada para
consumo e não dos rendimentos.
que o crédito seja normalizado. E a ter-
mais ricas para as 20% mais AI: Sendo tão simples assim, o que falta ceira condição para um futuro melhor é
pobres, duplicava o consumo para se passar à prática? Os portu- cada um de nós ver o que pode fazer para
destes últimos” gueses não estariam dispostos a aju- vencer a crise e não ficar à espera que
dar? seja o Governo ou outros a resolverem. E
ABC: Li um artigo de uma socióloga por- esta é uma atitude que não é muito cor-
AI: Mesmo sem esse valor definido, sa- rente em Portugal. Também importante,
bemos que ao nível da pobreza estamos tuguesa, publicado há alguns anos, onde
dizia que a ideia de que em Portugal há, mas mais a longo prazo, é preciso haver
na cauda da Europa, certo? alterações no próprio sistema financeiro,
de forma geral, uma “almofada” de apoio
ABC: Estamos na cauda, embora Portugal e ajuda, é falsa. que deu provas de que estava completa-
não seja necessariamente o último. Faz mente entregue aos “bichos”. É preciso
concorrência com a Grécia, às vezes com AI: Os portugueses, de forma geral, são uma fiscalização e uma regulação muito
a Irlanda,... Mas sim, é um dos que tem pouco solidários? mais séria.
taxas de pobreza mais altas. Nos últimos ABC: A solidariedade dos portugueses
10 ou 15 anos temos vindo a reduzir esta existe para coisas eventuais, por exem- Entrevista completa em:
taxa, mas a um ritmo muito baixo. plo, quando há uma campanha do Banco www.amnistia-internacional.pt
AI: Poderá essa redução estar ligada Alimentar ou de outra coisa. Coisas es- (Aprender/Boletim)
ao facto de o Governo estar mais alerta porádicas. Mas se dissermos que vamos
para a pobreza em Portugal? aumentar os impostos, por motivos de
solidariedade, e que assim sistematica-
ABC: Os valores que nós temos não nos mente todos teríamos de dar, a sociedade
permitem concluir nada, porque o último portuguesa não quer.
valor que temos é de 2005. Os inquéritos
que são utilizados para estudar a taxa de AI: E para si, a solução para a pobreza
Os temas abordados nesta entrevista ba-
pobreza produzem resultados com uma passaria por esse aumento dos impos- searam-se no estudo coordenado por Al-
décalage muito grande. O importante tos? fredo Bruto da Costa, com o apoio de Isabel
seria os Governos terem inquéritos que Baptista, Pedro Perista e Paulo Carrilho, re-
ABC: Sim, também. Não quer dizer que ao alizado entre 1995 e 2001. A investigação
fossem rápidos, que nos permitissem nível voluntário não se recolham muitos está publicada no livro Um Olhar Sobre a
avaliar uma política na primeira metade fundos, mas isso torna a solução depen- Pobreza: Vulnerabilidade e Exclusão So-
do ano seguinte à sua aplicação. dente da maior ou menor boa vontade. cial no Portugal Contemporâneo, editado
Não resolve o problema. Eu defendo que a em Junho de 2008 pela Gradiva.
AI: Seria essencial para perceber o
RETRATO
Guadalupe Marengo, Directora da Campanha “Exija Dignidade”
À frente do grande desafio da organização
Guadalupe Marengo chegou a Inglaterra com quase trinta anos. Estava longe de imaginar que iria traba-
lhar para a Amnistia Internacional, mas o seu espírito voluntário e activista trouxe-a para a promoção
dos direitos humanos. Hoje, é uma das pessoas mais influentes na organização não governamental, pois
dirige a próxima Campanha, denominada “Exija Dignidade”
Por Cátia Silva
© Amnistia Internacional
Guadalupe Marengo fala à comunicação social enquanto campaigner do Programa Regional das Américas da Amnistia Internacional.
eram comuns os desaparecimentos e as sofrem também de insegurança e de voltada para alguns países, em destaque pela sua
execuções extrajudiciais. Violações que exclusão social. Todos os seus direitos violação constante aos direitos humanos, de que
são exemplo a China, o Irão, entre muitos outros.
eram cometidas tanto pelo Estado, como têm de ser protegidos se pretendemos
A terceira forma de acção é a de que lhe falamos
pelo grupo armado de oposição conhecido erradicar a pobreza”, defende. neste Retrato: as Campanhas, que são projectos
por Sendero Luminoso. “Perante dificul- desenvolvidos a longo prazo e que têm um objec-
Reconhecendo então que muitas das
dades tão terríveis para a população tivo concreto e pré-determinado. Actualmente,
violações aos direitos humanos são a Amnistia Internacional faz Campanha pelo
civil, a Amnistia Internacional estava a
cometidas sobre os mais pobres, a Am- Controlo ao Comércio de Armas, pelo Combate
trabalhar a tempo inteiro para acabar
nistia Internacional vai trabalhar para ao Terrorismo com Justiça, pelo Fim da Violência
com as atrocidades que vinham de
acabar com os problemas que ajudam sobre as Mulheres, pela Não Discriminação e pela
ambos os lados”, recorda. Um trabalho Abolição da Pena de Morte.
a perpetuar a pobreza. Um número in-
que exigiu grande rigor, objectividade e
findável de situações que, nesta fase de 2. A Amnistia Internacional tem programas re-
imparcialidade. Qualidades pelas quais
arranque da campanha, foram restringi- gionais que abrangem todo o mundo e que estão
a organização é internacionalmente re- divididos em: Américas, Médio Oriente e Norte de
das a três grandes áreas de actuação.
conhecida. África, Europa e Ásia Central, Ásia e Pacífico e, por
“Iremos focar-nos nas violações liga- último, África.
das à mortalidade maternal, que atinge
sobretudo mulheres desfavorecidas e 3. A Amnistia Internacional conta com mais de
À FRENTE DA CAMPANHA DA DIGNIDADE 2,2 milhões de membros e apoiantes em todo o
marginalizadas. Iremos também focar- mundo, unidos em torno de um mesmo movimento
Em Julho de 2008 o destino de Guada- -nos nos direitos das pessoas que e de um mesmo objectivo: promover e defender
lupe Marengo torna a mudar, quando é vivem em bairros degradados, pois se os direitos humanos de todas as pessoas. Estes
nomeada para dirigir a Campanha “Exi- hoje a maioria das pessoas vive em am- activistas são chamados a intervir, em diversas
ja Dignidade”, que a partir de 28 de Maio bientes urbanos, muitas das que vivem ocasiões, pelas várias secções da organização,
irá levar a Amnistia Internacional por um presentes em mais de 70 países do mundo. A Am-
em pobreza habitam instalações infor-
nistia Internacional Portugal é uma delas.
caminho até agora inexplorado: o com- mais erguidas nas cidades ou em seu
bate à pobreza4. Para a dirigente, esta redor. Iremos, por último, focar-nos 4. Até hoje, a Amnistia Internacional nunca tra-
expansão do trabalho da AI faz todo o balhou assuntos relacionados com a Pobreza, ten-
não apenas na responsabilidade do Es-
do esta temática estado sempre associada a ONG
sentido. “A Amnistia Internacional tra- tado de assegurar a todas as pessoas de cooperação e voltadas para o desenvolvimento.
balhou sempre para os mais desfavore- uma vida com dignidade, mas também Entre as temáticas que mais facilmente associa-
cidos. No Peru, por exemplo, o relatório na responsabilidade das empresas e no mos à AI, estão: os prisioneiros de consciência, a
da Comissão de Verdade e Reconcilia- papel que as corporações devem as- pena de morte, as crianças-soldado, a violência
ção sobre os 20 anos de conflito desco- sumir para fazer deste um mundo me- sobre as mulheres, o comércio de armas, os de-
saparecimentos forçados, os refugiados, os povos
briu que a grande maioria das vítimas lhor para todas as pessoas”5. indígenas, a justiça internacional e o combate
vivia numa situação de pobreza. Agora, ao terrorismo com justiça. A pobreza vem agora
com a Campanha Exija Dignidade, va- juntar-se a este trabalho.
mos fazer campanha por todos os seus 1. O trabalho da Amnistia Internacional pode ser
dividido em três formas de acção ou em três gru- 5. Para saber mais sobre a Campanha “Exija
direitos, porque pessoas a viver em po- pos-alvo. Primeiro, a que é feita em nome de pes- Dignidade” da Amnistia Internacional, não perca
breza sofrem privações – como a falta soas individuais que sofreram violações aos seus o Dossier desta revista.
de acesso à educação e à saúde –, mas direitos enquanto seres humanos. Uma segunda
EM FOCO
FRANÇA E ÁUSTRIA AGENTES DA POLÍCIA ACIMA DA LEI ropa, nos dois países a maioria dos casos
não chega sequer a tribunal e os que con-
seguem transitar para um processo ju-
dicial acabam por se deparar com um
sistema muito tendencioso.
Acrescente-se ainda que a Amnistia
Internacional registou uma tendên-
cia crescente, por parte da polícia, de
acusar criminalmente as vítimas de
abusos que denunciam os maus tratos
e a discriminação de que foram vítimas.
As acusações referem alegados insultos
e agressões aos agentes policiais. Uma
situação que tem contribuído para o
aumento dos sentimentos de injustiça
© AP/PA Photo/Baz Ratner e de impunidade por parte dos cidadãos
dos dois países, quando o papel prepon-
A França e a Áustria são dois dos países Uma realidade particularmente alar- derante dos agentes da polícia exigiria
que têm estado na mira da Amnistia In- mante na Áustria, onde o racismo está confiança e cooperação de toda a socie-
ternacional, pela conduta da sua polícia. fortemente institucionalizado, tanto na dade.
Em dois relatórios recentemente publica- polícia, como no sistema judicial. Mais informações sobre estas situações
dos, para cada um dos países, ficou clara Apesar de muitos destes crimes terem sido nos relatórios da Amnistia Internacional
a impunidade que de facto existe para os denunciados às autoridades, as investi- disponíveis na Internet: “France: The
agentes policiais destes Estados. Mortes gações continuam a ficar muito aquém Search for Justice”, publicado em 2005,
ilegais, espancamentos, abusos raciais dos padrões estipulados pela lei interna- “Public Outrage: Police Officers Above
e uso excessivo da força são algumas cional. Como exemplo, refira-se que em the Law in France”, de 2009, e “Victim
das muitas queixas que foram ouvidas França, em 2005, foram apresentadas or suspect: A question of colour. Racial
pela Amnistia Internacional no terreno. A 663 queixas, que resultaram em apenas Discrimination in the Austria Justice
maioria, destaque-se, provém de mino- 16 despedimentos. Segundo o investiga- System”, de 2009.
rias étnicas ou de cidadãos estrangeiros. dor da Amnistia Internacional para a Eu-
Ao oferecer também pode ajudar o trabalho de promoção e defesa dos direitos humanos.
Dê! Ofereça Presentes Solidários!
Mais informações pelo telefone 213 861 652 ou pelo email boletim@amnistia-internacional.pt
DOSSIER
Campanha - “Exija Dignidade”
Chegaram tempos de mudança. No ano 2000, os Estados das Nações Unidas definiram oito Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio, mas poucos progressos foram registados. Neste ano de 2009, a Amnistia
Internacional propõe uma nova estratégia
© Genna Naccache
Na favela Rocinha, no Brasil, um casal sai com o filho de casa enquanto se desenrola uma operação policial, que já se tornou rotina no bairro.
O mapa mundo que apresentamos nas Um apelo que dá nome àquela que é a ocorrer em muitos Estados e que, acr-
próximas duas páginas é esclarecedor. maior Campanha alguma vez lançada editamos, ajudam a perpetuar a pobreza
Nove anos depois de terem sido definidos pela Amnistia Internacional, que tem no mundo.
os oito Objectivos de Desenvolvimento também um dos objectivos mais am-
Para a Amnistia Internacional, acabar
do Milénio, quando os Estados de todo o biciosos de sempre: quebrar o ciclo de
com este flagelo exige quebrar o ciclo que
mundo perceberam que era fundamen- pobreza, que é também um dos Objecti-
o rodeia e mantém, ou seja, solucionar
tal unir esforços e tornar o planeta Terra vos de Desenvolvimento do Milénio. Para
as violações aos direitos humanos que
mais equitativo, continuamos com uma tal, não iremos actuar no terreno, como
estão na sua origem e são perpetuadas
geografia extremamente desigual. Na o fazem dezenas de outras organizações
por decisores políticos e outros actores
verdade, vários estudos revelam que o não governamentais, chamadas de de-
internacionais. Situações que fogem ao
mundo está hoje mais desproporcional, senvolvimento. A Amnistia Internacional
controle das próprias vítimas de pobreza
com os países mais ricos a distancia- vai aliar-se a elas, mas vai lutar com as
e que fazem com que alguém que vive
rem-se dos mais pobres. Por tudo isto, a suas próprias “armas”: fazendo lobby,
com um dólar por dia dificilmente deixe
Amnistia Internacional traçou uma nova junto dos Governos e de outros actores
de ser pobre. Em primeiro lugar, porque
estratégia para os próximos seis anos e internacionais, como as empresas pri-
não tem recursos. Não tem água potável
vai “gritar”, já partir do próximo dia 28 vadas; e denunciando violações graves
que lhe dê saúde ou electricidade que lhe
de Maio: EXIJA DIGNIDADE ! aos direitos humanos que continuam a
permita estudar. E não tem, para além
disso, uma sociedade que o apoie. Vive à todos dependem de decisões às quais a participação activa das populações
margem, excluído, sem acesso à justiça estes não têm acesso. Por isso, a Amnis- nas decisões políticas que afectam as
ou à informação, ferramentas essenciais tia Internacional vai pressionar para que suas vidas e, assim, criar as condições
para exigir os seus direitos. Além disso, sejam adoptadas decisões que acabem para que sejam tomadas decisões con-
a maioria dos pobres vive uma insegu- com a pobreza. Porque erradicá-la não trárias àquelas que directa, ou remota-
rança diária. Considerados marginais depende só de ensinar as populações a mente, geraram a pobreza. Vamos juntos
pelas autoridades, ficam entregues aos pescarem. É preciso ir mais longe e: res- exigir um mundo diferente. Vamos “Exi-
grupos criminosos que se movimentam ponsabilizar os que cometem os abusos gir Dignidade”, para que em 2015, meta
nas zonas onde habitam. aos direitos humanos que perpetuam a definida pelos Objectivos de Desenvolvi-
pobreza; facilitar o acesso dos pobres aos mento do Milénio, a geografia mundial
Falta de recursos, exclusão social e in-
recursos de que precisam para lutarem seja bem diferente da que mostramos
segurança são então três aspectos de
pelos seus próprios direitos; e encorajar em seguida.
uma mesma realidade: a dos pobres. E
CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE
População com acesso a saneamento adequado1 (2004)
Chade • 9%
Eritreia • 9%
Burquina Faso • 13%
Etiópia • 13%
Níger • 13%
Camboja • 17%
Gana • 18%
Guiné • 18%
Etiópia • 22%
Afeganistão • 39%
Papua Nova Guiné • 39%
Camboja • 41%
Chade • 42%
Guiné Equatorial • 43%
Moçambique • 43%
ACESSO À EDUCAÇÃO
Crianças que completam a educação População que completa o ensino secundário 1
primária2 (2000-2007) (2005)
Índia • 44%
LEGENDA
Iémen • 41%
Níger • 40% Elevado Nível de Desenvolvimento Humano
Bangladesh • 39%
Nepal • 39% Médido Nível de Desenvolvimento Humano
Sudão • 38% Baixo Nível de Desenvolvimento Humano
1 Dados retirados do Human Development Report 2007/2008, publicado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Acessível em http://hdr.undp.org/en/
2 Dados retirados do Atlas Online do Índice de Desenvolvimento Humanos, elaborado pelo Banco Mundial. Acessível em http://devdata.worldbank.org/atlas-mdg/
Face ao mundo desigual que os mapas acesso das populações aos recursos que pobreza” a três problemas de direitos
continuam a apresentar quando estu- continuam a faltar para que mudem de humanos que muito têm contribuído para
damos o índice de desenvolvimento vida e assegurar a sua participação nos a persistência de um mundo desigual: a
humano, para a Amnistia Internacional processos de decisão política. Só mudan- mortalidade maternal, uma vez que em
está na altura de mudar de estratégia, do estas realidades, que “encurralam” a muitos países as mulheres são a fonte de
para que até 2015 se consigam, efecti- pobreza, é possível contribuir para a sua sustento da sociedade; os bairros degra-
vamente, alcançar os oito Objectivos de erradicação. dados, que são uma das faces mais
Desenvolvimento do Milénio e erradicar a visíveis da pobreza; e a impunidade na
Nesta fase de arranque da campanha,
pobreza do mundo. A perspectiva tem de qual muitas empresas privadas operam
agendada para o próximo dia 28 de Maio,
ser a dos direitos humanos. E os objecti- e que tem contribuído para um desenvol-
a Amnistia Internacional vai começar por
vos a alcançar são três: responsabilizar vimento muito pouco sustentável. Saiba
aplicar a sua “estratégia de combate à
os que violam estes direitos, garantir o mais. Indigne-se. “Exija Dignidade”!
A Amnistia Internacional promete nos os bairros degradados não são um pro- comummente justificadas com o facto
próximos anos promover estas boas blema exclusivo dos países em desen- destas instalações serem ilegais. Há,
práticas. Mas cabe a cada um de nós volvimento. Para que se perceba como no entanto, muitos outros países que
pressionar os actores internacionais para está alastrado pelo mundo, refiram-se aparentemente disponibilizam serviços
que ponham fim às violações aos direitos os bairros de comunidades ciganas na básicos a toda a sociedade, mas que os
humanos que continuam a matar, todos Europa, em países como a Roménia e a colocam em locais inacessíveis para as
os anos, milhares de mães. Esteja atento. Eslováquia, ou as zonas povoadas por populações mais pobres.
Indigne-se. “Exija Dignidade”! indígenas no Canadá e na Austrália, ou
O isolamento é, aliás, uma das carac-
ainda os bairros pobres dos Estados Uni-
terísticas mais marcantes dos bairros
dos da América, como Nova Orleães, que
degradados, seja para o fornecimento
em 2005 chocou o mundo. Instalações
de bens ou serviços, ou para questões
BAIRROS informais onde vivem pessoas privadas
de recursos, excluídas da sociedade e in-
de segurança. Os seus habitantes vivem
OS PRÓXIMOS PASSOS
Um futuro sem pobreza exige acabar com
todas as violações aos direitos humanos
que limitam as vidas dos habitantes dos
bairros degradados.
Em primeiro lugar, é urgente apelar
aos Governos para que assegurem o
acesso equitativo de todas as pessoas
aos serviços que deveriam ser públicos,
como sejam: educação primária, cuida-
dos básicos de saúde, acesso a água po-
© Maude Dorr
tável e a resolução das mais prementes
carências alimentares. Uma exigên-
cia fundamental numa altura em que Fábrica da Union Carbride, de onde em 1984 um acidente libertou toneladas de químicos mortíferos, em Bhopal, na Índia. Entre 7 a 10
mil pessoas morreram de imediato e muitas mais ficaram afectadas.
muitos Governos começam a privatizar
estes serviços, demitindo-se ainda do No Gana, uma ruptura numa mina da e influência junto de muitos Governos.
seu dever de fiscalizar se estão a chegar Omai Gold Mines Ltd. contaminou um Uma realidade que, como referimos, podia
a todos os cidadãos. dos maiores rios do país, afectando o ajudar a solucionar a pobreza, tivesse a
Também essencial quando se almeja um ambiente e as populações. Não houve liberalização sido acompanhada da res-
futuro diferente para os mais pobres é compensação para as vítimas, tal como ponsabilização social dos investidores.
acabar com os desalojamentos forçados. tem acontecido em muitos países onde Pelo contrário, temos assistido a desres-
A solução para os problemas urbanís- operam empresas multinacionais. A sua peitos vários aos direitos humanos e a
ticos das “novas cidades”, que estão a actividade surge repleta de esperança, uma impunidade que os tem permitido.
ser erguidas em várias partes do mundo, com a criação de postos de trabalho e Isto afecta, sobretudo e uma vez mais,
não pode anular os direitos humanos das a melhoria da economia, que possibilita os mais pobres.
pessoas que aí habitavam. Mesmo quan- serviços públicos de qualidade. No en-
A título de exemplo, refira-se que, para
do desalojar é o único recurso disponível, tanto, a realidade tem sido outra, com
que muitas empresas desenvolvam a
estes têm de ser realizados nos termos dezenas de empresas a violarem os di-
sua actividade de extracção de recur-
da lei e com a garantia de alternativa reitos humanos dos habitantes e os Go-
sos naturais, centenas de pessoas têm
viável para os moradores, bem como uma vernos a renegarem a sua missão de os
sido deslocadas à força para terrenos
compensação financeira justa. Para tudo proteger. Tudo isto em nome de negócios
longínquos, perdendo as suas raízes e as
isto, é essencial o diálogo. Os habitantes rentáveis, mas pouco transparentes. É
suas formas tradicionais de subsistên-
locais têm de ter um papel activo nos a esta actividade empresarial, que tem
cia. Mesmo quando não são desaloja-
processos de tomada de decisão políti- ajudado a acentuar a pobreza, que a
das, acabam, muitas vezes, por ter de
cos que os afectam tão directamente. Amnistia Internacional vai dedicar, nos
abandonar as suas terras, seja porque a
próximos anos, particular atenção.
A Amnistia Internacional promete nos indústria criada ergue em seu redor ci-
próximos anos promover estas boas As principais preocupações com a ac- dades que destroem os recursos naturais,
práticas. Mas cabe a cada um de nós tividade das empresas prendem-se com seja porque estes se esgotaram com a
pressionar os actores internacionais para a extracção de recursos naturais em exploração. Também comum é ocorrerem
que ponham fim às violações aos direitos países em desenvolvimento. Na maioria desastres, como o do Gana.
humanos que continuam a perpetuar a das vezes, as violações aos direitos dos
Para além destes problemas, a activi-
pobreza nos bairros degradados. Esteja habitantes são cometidas por privados
dade das empresas pode transformar
atento. Indigne-se. “Exija Dignidade”! estrangeiros que, com a globalização e a
negativamente a realidade social lo-
abertura dos mercados, ganharam poder
abusos aos direitos humanos cometidos panha do Milénio das Nações Unidas, ciou-se ao Instituto Marquês de Valle
no país ou nos territórios onde actuam, com o objectivo de pressionar os Gover- Flôr, que há mais de 50 anos se dedica
seja ao nível dos negócios ou em termos nos e de sensibilizar a opinião pública às populações mais desfavorecidas nos
de cooperação e ajuda humanitária. Em para os oito Objectivos de Desenvolvi- países de língua oficial portuguesa e que
segundo lugar, assegurar que os mais mento do Milénio. Isto porque muitas tem uma vasta experiência na análise de
pobres, em Portugal e no mundo, tenham pessoas continuam a não saber que os políticas europeias e nacionais. Juntos
acesso aos recursos necessários para Estados das Nações Unidas assumiram vamos exigir dos Governos maior respon-
saírem do ciclo de pobreza em que se en- o compromisso de, até 2015, erradicar sabilidade e coerência nas suas obriga-
contram. Por último, encorajar e permitir a pobreza do mundo; adquirir ensino ções e nas decisões tomadas em relação
que todas as pessoas participem activa- primário universal; alcançar a igualdade à pobreza e aos direitos humanos.
mente nas decisões políticas e económi- de género; acabar com as mortalidades
Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal”, tornamos a apresentar uma análise da
situação financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro
SITUAÇÃO ECONÓMICA E O resultado final do passado ano de 2008 Fruto da boa situação financeira da Sec-
FINANCEIRA foi de €110.713,62, pois ao saldo apre- ção, estão em dia todos os pagamentos
sentado na Tabela 1 (€123.337,79) devem a fornecedores e ao Estado.
Após apresentação, na edição ante- retirar-se €5.861,62 referentes a amor-
rior da revista, dos dados referentes aos tizações, €6.464,27 correspondentes ao RECEITAS € 698.670,90
primeiros oito meses de 2008, são agora saldo da conta de proveitos e custos fi-
apresentados os totais do ano, após fecho DESPESAS € 575.333,11
nanceiros e €298,28 relativos ao imposto
da contabilidade da Amnistia Internacio- sobre o rendimento do exercício. SALDO € 123.337,79
nal (AI) Portugal.
TABELA 1 - Receitas e Despesas - 2008
CONSIGO VAMOS MAIS LONGE excluídas as desistências ou cancela- enquanto apoiantes e activistas.
Evolução de Membros e Apoiantes mentos.
Apesar de se verificar um aumento no
Como sabe, a AI enquanto organização O projecto de angariação de fundos “Face número de apoiantes ao longo dos anos,
não governamental depende sobretudo do to Face”, realizado já em mais de 20 ci- continua a ser uma preocupação cons-
contributo dos seus membros e apoiantes. dades portuguesas, retomou o trabalho no tante a adopção de estratégias de fideliza-
No gráfico 1 pode observar a evolução do passado dia 18 de Fevereiro, tendo sido ção, para que todos os nossos apoiantes e
número de membros e apoiantes entre os já registados 536 novos apoiantes, neste membros possam manter-se informados,
anos de 2005 e 2008. Os números referi- primeiro trimestre do ano. Agradecemos, sentindo-se parte da Al, enquanto agen-
dos na tabela incluem apenas apoiantes e mais uma vez, às mais de 10.000 pes- tes principais do seu crescimento, bem
membros activos, ou seja, que continuam soas que, desde 2006, pararam nas ruas como activistas de direitos humanos.
a fazer o seu donativo, estando por isso para nos ouvir, juntando-se a esta causa,
A AI Portugal continua também a imple-
mentar e testar novas estratégias de an-
12000 gariação de fundos, paralelas ao Projecto
11.378
10000
8.132 “Face to Face”, de modo a garantir a esta-
8000 bilidade financeira quando este terminar,
6000 em 2011. Exemplos deste tipo de acções
4.101
4000 são a campanha com a Payshop, a ade-
1.777
2000 são à Kazoo e a acção com os Magnolia
0 Caffé, a decorrer entre 8 de Abril e 8 de
Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Maio em Lisboa.
© Amnistia Internacional Portugal
GRÁFICO 1 - Evolução do número de membros e apoiantes activos entre 2005 e 2008 Procure-nos!
Todos nós julgamos conhecer a realidade TANTAS MULHERES, UMA tes de droga, por se ter recusado a reve-
da violência urbana no Brasil através de HISTÓRIA lar o paradeiro do seu marido.
filmes como Cidade de Deus, Cidade dos
“Eu vivo dopada, tomo remédio de Kátia tranca os seus filhos em casa
Homens ou o mais recente Tropa de Elite.
maluco! Aquele Diazepan para dormir. quando vai para o trabalho. Tem medo
Os filmes não estão errados. Nem nós. No
Porque se estou lúcida não consigo que, se saírem, possam ser seduzidos a
entanto, a realidade das favelas do Bra-
dormir, com medo. Dopada, pego na juntar-se a um qualquer grupo crimino-
sil, principalmente aquela que as mulhe-
minha filha, me jogo no chão para me so. Não pode pagar a ninguém para que
res carregam diariamente, está longe de
proteger do tiroteio, e durmo a noite tome conta deles.
qualquer imaginário. Sente-se na pele e
açambarca toda a espécie de sentimen- toda. Se minha filha perder a chupeta Patrícia vê-se forçada a atravessar a
tos. Porém, no feminino, significa deixar [na rua], ela vai chorar a noite toda, cidade para fazer exames pré-natais.
o medo para trás e, através da impulsão porque deu oito horas da noite eu não São viagens longas, dispendiosas e in-
de uma força desconhecida, lutar por ob- saio mais de casa”. convenientes, mas o centro de saúde lo-
jectivos no dia-a-dia. Joana e Maria têm 14 anos. Quase todos cal fica numa área controlada por uma
os dias passam horas escondidas de- facção rival.
Através de relatos recebidos pela Am-
nistia Internacional sobre a experiência baixo da cama para escapar aos tiroteios Estas são histórias de vida que se repe-
das mulheres com a violência urbana diários entre os grupos criminosos da tem em várias cidades do Brasil e que
brasileira, desfilam histórias de dor e de sua comunidade. ilustram a batalha diária de todas as
luta, lembrando que a brutalidade entre O filho de Bárbara foi morto pela polí- mulheres que, por entre a violência do
os homens também traz consequências cia. Ela chora sempre que conta os anos crime e a da polcia, têm que continuar
profundas e desconcertantes para a vida e os tormentos de tentar fazer com que os as suas vidas e criar os seus filhos em
das mulheres, a partir das quais se dão agentes responsáveis sejam presentes à comunidades socialmente excluídas.
os sucessivos recomeços das famílias justiça. A sua luta ainda continua. Porém, motivadas pelas suas lutas pes-
que se desintegram por morte ou prisão soais, têm vindo a desempenhar um
A filha de Paula foi morta por trafican-
de um pai ou de um filho.
papel preponderante na busca por pro- como meios de apoio. Nas últimas duas tia dos direitos das mulheres. Por exem-
tecção e promoção de direitos e de aces- décadas, assistimos a um aumento si- plo, o Governo de Lula da Silva criou uma
so universal à justiça. gnificativo do número de mulheres a dar Secretaria Especial para a Mulher, que
entrada no sistema prisional, sendo que se espera que, em breve, se transforme
uma grande parcela delas é encarcerada em Ministério, demonstrando claramente
LEI MARIA DA PENHA por problemas relacionados com o tráfico que a administração brasileira tem olha-
Maria da Penha suportou anos de violên- de drogas e porte de arma. do com mais respeito para a problemáti-
cia nas mãos do marido, até ao dia em ca dos direitos da mulher.
A relação entre as mulheres e os trafi-
que este a baleou, deixando-a paraplé- cantes de droga, em comunidades bastan- Está em marcha outra medida conhecida
gica. Apelou para tribunal e apesar de o te controladas por grupos criminosos, é como PRONASCI, um programa nacional
acusado alegar que havia sido atacada muito complexa: elas têm vindo a sentir- para o combate à insegurança. Entre os
durante um assalto, Maria da Penha -se atraídas por eles, na mesma medida principais eixos do Pronasci destacam-
marcou o seu nome naquele que foi um em que permanecem um dos seus alvos se a valorização dos profissionais de
grande passo legal para as mulheres no principais. A tendência observada nos segurança pública; a reestruturação
Brasil: em 2001, a Comissão Interameri- últimos anos mostra que as mulheres e do sistema penitenciário; o combate à
cana de Direitos Humanos, após avaliar as jovens adolescentes, em troca de pro- corrupção policial e o envolvimento da
o seu caso, concluiu que o país falhou tecção e status social, têm vindo a inte- comunidade na prevenção da violência.
no seu dever de proteger as mulheres e grar os gangues criminosos em cada vez Além dos profissionais de segurança
que o mesmo se devia não apenas a uma maior número, funcionando, na maioria pública, o Pronasci tem também como
tendência nítida de tolerância para com dos casos, como correios de droga ou público-alvo jovens dos 15 aos 24 anos
a violência doméstica, mas também à de armas, e até mesmo como moeda de à beira da criminalidade, que se encon-
ineficácia do sistema judicial. Maria da troca em pagamentos de dívidas. tram ou já estiveram em conflito com a
Penha Maia Fernandes ficou imortalizada lei, presos ou egressos do sistema pri-
Uma das centenas de reclusas da peni-
como precedente que levou à criação de sional.
tenciária Talavera Bruce (Rio de Janeiro),
uma lei, em 2006, que responsabiliza o
de 31 anos, condenada por tráfico de A Amnistia Internacional congratula-se
Estado a agir com a devida diligência em
droga, foi atraída pelo status social: “Eu com as iniciativas, no entanto, temos a
casos de violência doméstica.
acho que tudo é a embriaguez do po- convicção profunda que é imperativo que
No entanto, apesar de ter sido um passo der, do sucesso...as meninas acham que tanto a criação do Ministério da Mulher,
inovador, a desconfiança em relação às o cara que tá portando uma arma, ele como a implementação do PRONASCI
instituições do Estado é frequente entre pode dar uma posição para ela de des- sejam medidas, de facto, eficazes e di-
as mulheres, uma vez que os seus direi- taque”. Já Beatriz, com apenas 17 anos reccionadas para a resolução dos pro-
tos são violados pelo próprio sistema de e condenada por porte de arma e assalto blemas das mulheres e não apenas
várias maneiras: através do apoio a práti- à mão armada, terá sido apenas mais meras declarações de intenções. É par-
cas policiais que resultam em execuções uma das muitas meninas e mulheres ticularmente importante que o PRONASCI
extrajudiciais; através da perpetuação de que são escolhidas pelos traficantes por tenha em consideração as diferenças de
um sistema que demonstra que o acesso estarem menos sujeitas a serem revista- género já que, uma vez que as mulheres
à justiça é, além de profundamente das, dada a predominância de agentes fazem parte do problema, não é possível
desigual, praticamente impossível; e do sexo masculino – numa tentativa de deixá-las de fora da solução.
através da condenação dessas mulheres controlar o tráfico de droga, é habitual os
a cenários de privação económica inten- residentes das favelas serem sujeitos a
sa uma vez que estas se vêem forçadas, Saiba mais pelo relatório da Amnistia Inter-
revistas à entrada ou saída dos bairros:
na-cional intitulado “Por Trás do Silêncio:
não podendo deixar os filhos ao cuidado “Eu nunca usei arma. Mulher não...é Experiências de Mulheres com a Violência
de ninguém, a ficar em casa, a viver de mais homem. Ah...mas já vi muita me- Urbana no Brasil”, acessível em www.amnis-
rendimentos claramente insuficientes, nina levar arma para o garoto, para ele tia-internacional.pt (Aprender / Revista da Am-
sem receber apoios do Estado. Segundo roubar. Leva até ele, depois ele faz o nistia Internacional).
as próprias, a vergonha maior é a de te- assalto e depois entrega a ela para ela Assista ainda ao documentário “Elas da Fave-
rem que lutar por uma compensação que la”, disponível em www.youtube.com/user/
levar de volta para a favela”. aiportugal
se revela, na grande maioria das vezes,
meramente simbólica.
ORDEM E PROGRESSO
Apesar de todos os relatos que dão conta
VAMOS APELAR EM NOME DAS
AS MULHERES E O CRIME MULHERES BRASILEIRAS
de vidas difíceis, de perdas várias, de
Infelizmente, a precariedade profunda longas lutas e de algumas escolhas er- É urgente apelar às autoridades brasileiras para
obriga as mulheres, enquanto única que tenham em conta as necessidades especí-
radas, o facto é que, tal como se pode
ficas das mulheres que habitam as violentas
fonte de sustento para toda a família, ler na bandeira do Brasil, o país tem favelas existentes no país. Participe enviando
a adiarem as suas lutas por justiça e a feito progressos no sentido da criação de ao Ministro da Justiça o postal que se encontra
afastarem-se das instituições estatais políticas públicas de protecção e garan- no interior desta revista.
NACIONAL
A Amnistia Internacional Portugal do Interior ao Litoral
No seguimento das remodelações que têm ocorrido no “Notícias da Amnistia Internacional Portugal”, esta
secção da revista sofreu uma mudança. Ao invés de apresentarmos as acções realizadas nos últimos
meses pelos grupos e núcleos da organização, como temos feito, vamos em cada edição conhecer por
dentro duas das estruturas locais da Amnistia Internacional, para que fique a saber como funcionam e
para que conheça as actividades planeadas para os próximos meses. Neste número viajamos do Interior
para o Litoral português
NÚCLEO DE ESTREMOZ nos intervalos das sessões do cinema. O organizar tertúlias mensais, no Atejazz
A ILUMINAR O ALENTEJO Núcleo de Estremoz está também a pre- Café, a fazer sessões sobre direitos hu-
parar actividades para Maio, das quais manos em escolas, procurando sensibili-
podemos já anunciar uma sessão pública zar os mais novos, a enviar cartas-apelo,
para falar sobre liberdade religiosa. para que as violações aos direitos huma-
nos terminem e a divulgar a actividade
Acções de promoção dos direitos humanos
da AI. Tudo, garantem, com um enorme
que o núcleo da AI promove desde Janeiro
orgulho. “Sentimo-nos reconfortados
de 2006, embora a ligação à organização
com a ideia de podermos fazer alguma
exista há mais anos. Na altura, recorda
coisa, por pequena que seja, em defe-
Maria do Céu Pires, coordenadora do nú-
sa dos Direitos Humanos. Sentimo-nos
cleo, “lancei o desafio a colegas e ami-
ligados a uma espécie de «cadeia uni-
gos para criarmos um grupo local da AI
versal» em defesa da dignidade dos
Portugal”. Recorde-se que cada secção
seres humanos”. Até porque, “como
da ONG, nos vários países do mundo, tem
pode um ser humano ser feliz convi-
apenas um ou dois escritórios, pelo que
vendo passivamente com a injustiça, a
o seu trabalho só pode chegar a todas
falta de liberdade, a pobreza e todas as
as pessoas se houver vo-luntários que
© AI Portugal outras situações violadoras dos mais
acreditam no movimento e que queiram
Alguns elementos do Núcleo, na Feira das Escolas. elementares direitos?”.
lutar por (e com) ele no resto do país. Céu
Pires conseguiu descobrir quase uma Se é de Estremoz, junte-se ao Núcleo!
A fechar o mês de Março, o Núcleo de
dezena e meia destas pessoas, a maioria Eles estão à sua espera...
Estremoz da Amnistia Internacional (AI)
professores da Escola Secundária Rai-
Portugal esteve na Feira das Escolas, um
nha Santa Isabel, no entanto, não es-
evento de grande visibilidade na região,
conde que este é o maior obstáculo
para divulgar o trabalho da organização
com que o grupo se depara. “A barreira
não governamental (ONG) de defesa e
mais difícil de vencer é o alheamento
promoção dos direitos humanos. Logo
perante os problemas de que tratamos. FICHA TÉCNICA
depois arregaçou as mangas para pre- Núcleo de Estremoz da AI Portugal
As pessoas estão imersas na rotina do
parar a exposição que antecipa os 28
quotidiano e interiorizam a ideia de que
anos da secção portuguesa da AI (que se COORDENADORA: Maria do Céu Pires
não vale a pena fazer nada...”
celebra a 18 de Maio), patente durante
todo o mês de Abril no Teatro Bernardim Para a coordenadora, este é um mal ge- LOCAL DE ENCONTRO: Escola Secundária
Ribeiro, em Estremoz, por ocasião dos ral, mas sente-se muito no interior por- Rainha Santa Isabel
festejos do 25 de Abril. Nesse mesmo tuguês. “Estremoz é uma cidade par- PERIODICIDADE DAS REUNIÕES: Men-
mês, e no mesmo local, vai ser ainda ticularmente fechada. As pessoas têm sais
possível conhecer alguns dos anúncios pouco espírito de cidadania”, lamenta.
CONTACTO: amnistiaetz@gmail.com ou
publicitários feitos pela AI Portugal ao Uma indiferença que não contagia os 13
213 861 652
longo dos anos, que serão transmitidos elementos do núcleo, que continuam a
JOVEM
Está também nas vossas mãos
Para a Amnistia Internacional Portugal, os jovens são o futuro e a esperança num mundo melhor.
Acreditamos que podem fazer a diferença e, por isso, temos várias acções e ideias pensadas exclusiva-
mente para vocês. Deixamos aqui algumas delas, para que te juntes à Amnistia Internacional. Vem ser
um defensor dos direitos humanos
A AMNISTIA INTERNACIONAL
E AS NOVAS FERRAMENTAS NA
INTERNET
© AI Portugal © AI Portugal
© AI Portugal
O “NOTÍCIAS DA AMNISTIA
INTERNACIONAL PORTUGAL”
PEDE DESCULPA...
... ao Nelson Évora, Medalha de Ouro
de Triplo Salto dos Jogos Olímpicos de Se ainda não existe um Grupo da Amnistia
Pequim, porque na última edição da re- Internacional na tua escola, podes ser tu
© AI Portugal vista foi publicada a sua fotografia e um a criá-lo. Nós dizemos como. Escreve-nos
pequeno texto onde, por lapso, a última para l.marques@amnistia.internacio-
No próximo dia 28 de Maio, a Amnistia In- frase ficou cortada. Agradecemos uma nal.pt ou telefona para o 213 861 652 e
ternacional completa 48 anos de existên- vez mais o incentivo que o atleta quis fala com Luísa Marques.
cia. Lançamos-te, por isso, um desafio: deixar a todos os activistas da Amnistia.
BOAS NOTÍCIAS
EUA / GUANTÁNAMO dania inglesa, com 30 anos de idade, as torturas de que foi alvo. “Passei por
BINYAM MOHAMED FOI LIBERTADO detido nas instalações norte-americanas uma experiência que nunca esperei
de Guantánamo desde 2004, por ale- encontrar nem nos meus pesadelos
gadamente conspirar com a Al Qaeda e mais sombrios”. Sente, por isso, que
apoiar materialmente o terrorismo. A boa tem o dever de assegurar que o mesmo
notícia, da libertação de Binyam, che- não acontece a mais ninguém. “Não
gou a 23 de Fevereiro, quando aterrou estou a pedir vingança; apenas que a
no aeroporto da força aérea britânica de verdade seja conhecida, para que mais
Norholt. ninguém no futuro tenha que suportar o
que eu suportei”. A Amnistia Internacio-
Recorde-se que o etíope foi sistemati-
nal pede agora ao governo britânico que
camente torturado e privado de vários
investigue as acusações de maus tratos
outros direitos humanos, razão pela
a Binyam Mohamed e a outros detidos de
qual, à chegada a Inglaterra, não con-
Guantánamo.
seguiu enfrentar a comunicação social.
Não quis deixar, no entanto, de expres- No momento da libertação, foram recor-
sar a sua gratidão a todas as pessoas dados os 240 prisioneiros que continuam
que apelaram em seu nome, numa carta em Guantánamo, muitos deles inocentes
divulgada pelo seu advogado. “Eu sei como Binyam. No seu caso, conseguimos
© Privado que não estaria de regresso a casa, no fazer justiça. Obrigada a todos os que
Na edição de Setembro do “Notícias da Reino Unido, se não fosse pelo apoio enviaram apelos em seu nome. As vossas
Amnistia Internacional Portugal” foi de todos. Na verdade, não estaria vivo cartas fizeram toda a diferença!
lançado um Apelo Mundial em nome de sequer”.
Binyam Mohamed, um etíope de cida- Acrescenta, contudo, que não esquece
APELOS MUNDIAIS
O movimento da Amnistia Internacional começou com a indignação do advogado londrino Peter Benen-
son, perante a notícia de prisão de dois jovens portugueses, que no início dos anos 60 brindaram “Viva
à Liberdade”. Hoje Portugal está longe desta realidade, mas em muitos países do mundo há milhares
pessoas que continuam a ser injustamente presas ou condenadas.
Nas páginas seguintes apresentamos quatro situações urgentes de pessoas iguais a nós, que sofreram
violações graves aos seus direitos enquanto seres humanos.
É URGENTE QUE SEJA FEITA JUSTIÇA!
ELAS PRECISAM DA NOSSA AJUDA! E A SUA ASSINATURA PODE FAZER TODA A DIFERENÇA!
GUINÉ EQUATORIAL
Nove pessoas detidas sem qualquer acusação
Marcelino Esono, Santiago Asumu, Juan Ekolo, Filémon Ondó, António Otogo, Beatriz
Ondó e Gerardo Micó, são sete cidadãos da Guiné Equatorial, do partido da oposição
União Popular, que, entre os dias 18 de Fevereiro e 1 de Março, foram detidos sem man-
dato ou acusação na cidade de Bata e em Malabo. Dois outros homens, Norberto Nsue
Micha e Luís Nzo Ondó, do mesmo partido, foram presos a 22 de Março.
As detenções ocorreram no seguimento do ataque ao Palácio Presidencial de 17 de
Fevereiro, que resultou na morte de um dos atacantes após um intenso tiroteio com os
guardas. O Presidente do país, Teodoro Nguema, não se encontrava na residência ofi-
cial, mas dias depois veio dizer, na televisão nacional, que houve cidadãos guineenses
a colaborar e a financiar a tentativa de golpe de Estado. Admitiu não saber quem
foram, mas garantiu que seriam julgados por “agressão e terrorismo”.
As nove pessoas que referimos foram entretanto levadas para a prisão de Malabo, mas
© PRAWA
continuam sem qualquer acusação formal ou julgamento, numa clara contradição com a lei nacional, que exige um mandato de
captura para o aprisionamento e estipula que os presos devem ser informados das acusações de que são alvo e presentes a tribunal
num prazo de 72 horas.
A Amnistia Internacional acredita que os nove foram detidos apenas pela sua filiação política, o que os torna prisioneiros de cons-
ciência. Acrescente-se que não é a primeira vez que alguns deles são presos. Desta vez, pelo menos dois dos nove detidos, Marcelino e
Santiago, denunciaram terem sido torturados durante os interrogatórios. Perante as detenções ilegais, é urgente exigir às autoridades
a libertação imediata dos nove prisioneiros de consciência e investigar os alegados maus tratos. Participe! Contamos consigo.
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)
RÚSSIA
Caso de Anna Politkovskaya volta ao início
Aos 48 anos, a jornalista e defensora dos direitos humanos russa Anna Politkovskaya
foi assassinada no elevador do prédio onde morava, em Moscovo, a 7 de Outubro de
2006. Refira-se que era conhecida por denunciar as atrocidades cometidas pelo exér-
cito russo contra o povo checheno. Ao mesmo tempo tecia duras críticas ao seu governo,
tornando pública a corrupção entre as estruturas estatais e a brutalidade policial. Pela
sua coragem, era reconhecida em todo o mundo, mas recebia também fortes ameaças,
que culminaram no seu assassinato.
Pouco depois do crime, foi aberto um inquérito na Procuradoria-Geral. Em Junho de
© Katja Tahja 2008 quatro homens foram acusados de ajudarem a organizar o assassinato de Anna.
Segundo a Procuradoria, o ex-polícia Sergei Khadzhikurbanov teria sido o responsável
por contratar os criminosos. Entre eles estariam os irmãos Dzhabrail e Ibragim Makhmudov, que mantinham Politkovskaya sob vi-
gilância. No dia do crime, o primeiro e um outro irmão, Rustam, teriam ido até ao prédio de Anna e cometido o assassinato. Face às
provas reunidas, foram acusados dois irmãos Makhmudov, Sergei Khadzhikurbanov e um ex-tenente-coronel dos serviços secretos
russos, Pavel Riaguzov, por transmitir informações sobre a jornalista aos autores materiais do crime.
O julgamento dos quatro homens começou a 17 de Novembro de 2008, em Moscovo, tendo terminado a 19 de Fevereiro, quando o
júri decidiu que as provas apresentadas suscitavam dúvidas, não sendo suficientes para condenar os réus. O caso regressou ao
Comité de Investigação da Procuradoria-Geral. A Amnistia Internacional lamenta que nada tenha ficado provado, mas, como disse a
advogada de acusação: “Anna não teria querido que alguém fosse sentenciado por um crime que não tivesse cometido”.
Assim, o mais importante agora é apelar para que as investigações prossigam e para que a morte de Anna Politkovskaya não fique
impune. É também fundamental exigir à Rússia maior liberdade para os jornalistas no território. Participe! Contamos consigo.
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)
Em 1998, o marido de Olga Salanueva, René González, foi detido com outros quatro
homens, todos de nacionalidade cubana, acusados de “actuarem como agentes não
registados de um governo estrangeiro”. O seu julgamento decorreu entre Novembro de
2000 e Dezembro de 2001, tendo René sido condenado a quinze anos de prisão. Ainda
antes disso, Olga foi deportada para Cuba, alegadamente porque o marido recusou
negociar a sua pena, o que permitiria a permanência da família nos Estados Unidos da
América, onde, acrescente-se, estavam legais.
Já em Cuba, em Março de 2002, Olga solicitou às autoridades norte-americanas um
visto temporário para visitar o marido. A entrada foi-lhe concedida, mas poucos dias
antes da viagem o visto foi revogado. Segundo as autoridades, tal prendeu-se com
questões de segurança nacional, pois acreditam que esteja envolvida com o terrorismo
© Privado e a espionagem. Ressalve-se que a cubana nunca foi acusada de nada. Olga tornou
então a pedir vistos temporários, mas estes foram-lhe sempre negados, por nove vezes,
sob diferentes justificações. No passado mês de Março, Olga recebeu a última recusa e foi informada que está permanentemente
inelegível para vistos de entrada no país, ou seja, que nunca mais os poderá solicitar.
Com tudo isto, Olga Salanueva não vê o marido há quase nove anos e a filha mais nova do casal, Ivette, ficou sem ver o pai até 2006,
quando teve idade suficiente para viajar acompanhada de outro familiar. Embora a Amnistia Internacional não tenha tido acesso
às provas nas quais o Governo norte-americano assenta as recusas do visto, impedir a visita dos familiares dos prisioneiros é uma
forma de punição desnecessária e que contradiz os padrões internacionais que exigem o tratamento humano dos detidos.
É imperativo apelar às autoridades norte-americanas para que cumpram as suas obrigações internacionais e permitam que Olga
Salanueva visite o marido. Participe! Contamos consigo.
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)
MYANMAR
Penas severas para defensores dos direitos humanos
AGENDA
INDIE LISBOA 2009 novos, e os seus pais, para a importância Mais informações brevemente em www.
dos brinquedos na formação das crian- amnistia-internacional.pt ou pelo email
ças. As “armas” podem ser entregues na boletim@amnistia-internacional.pt
Amnistia Internacional ou nas escolas
básicas que se associem ao projecto.
Se a escola do seu filho, ou a instituição UM MUNDO REUNIDO
Entre os dias 23 de Abril e 3 de Maio, onde trabalha, ainda não aderiu a esta EM FAMÍLIAS
vai decorrer mais uma edição do festi- iniciativa, escreva-nos para boletim@
val internacional de cinema indepen- amnistia-internacional.pt
dente Indie Lisboa, ao qual a Amnistia
Internacional Portugal está associada há
cinco anos. À semelhança das edições EM NOME DA LIBERDADE
anteriores, vai ser distinguido, no dia 2 DE EXPRESSÃO
de Maio, o filme que melhor representar Quando se assinala o Dia da Liberdade
a dignidade humana, ao qual será en- de Imprensa, a 3 de Maio, a Amnistia In- No próximo dia 28 de Maio, quando a
tregue o Prémio Amnistia Internacional, ternacional e a Associação de Cartoonis- Amnistia Internacional lança a cam-
no valor de 1.000 euros. Quatro curtas tas FECO Portugal realizam uma tertúlia panha “Exija Dignidade”, vai ser inau-
metragens e oito longas estão a concor- para reflectir sobre a temática, que con- gurada uma exposição impactante, que
rer a esta distinção. Mais informações tinua muito actual 35 anos depois do 25 poderá visitar, durante um mês, em fren-
em www.indielisboa.com ou em www. de Abril. O debate servirá de mote para te ao Planetário, em Belém, Lisboa. A
amnistia-internacional.pt. Não perca! a inauguração de uma exposição inter- exposição, que vem pela primeira vez a
nacional de cartoons sobre o tema “A Portugal graças a uma parceria entre a
Liberdade é um Risco”, que estará a- Amnistia Internacional e a empresa Terra
ENTREGA-NOS AS TUAS ARMAS berta ao público na Biblioteca Municipal Esplêndida, percorre o mundo através de
Orlando Ribeiro, em Telheiras, entre os retratos de famílias. O fotógrafo, o alemão
dias 3 e 30 de Maio. Mais informações Uwe Ommer, viajou durante quatro anos
em www.amnistia-internacional.pt por dezenas de países para registar, em
imagens, as famílias de todo o Planeta.
Estas provam, uma vez mais, que apesar
ABERTO CONCURSO PELA de sermos todos diferentes, temos muito
DIGNIDADE HUMANA em comum, neste caso, a família. Uma
A 28 de Maio, quando a Amnistia In- exposição a não perder.
ternacional lança a campanha “Exija
Dignidade”, que visa nos próximos anos
acabar com as violações aos direitos hu- PARABÉNS AMNISTIA
manos que perpetuam situações de po- INTERNACIONAL
breza, a secção portuguesa da organiza- O mês de Maio traz bons motivos para
No âmbito da campanha da Amnistia
ção vai lançar o concurso: “Arte para afinar a voz e cantar os Parabéns. Logo
Internacional “Controlar as Armas”,
a Dignidade”. Dividido em quatro ca- no dia 18, a secção portuguesa da Am-
está a ser lançado um desafio aos mais
tegorias – escultura, pintura, fotografia nistia Internacional completa 28 anos
pequenos activistas para que, até ao fi-
e conto – o concurso dirige-se a artistas, de existência e dez dias depois, a 28 de
nal de Junho, entreguem à organização
profissionais ou amadores. As inscrições Maio, celebra-se a criação da Amnistia
os seus brinquedos que sejam armas.
estão abertas até 15 de Julho e as obras, Internacional por Peter Benenson, em
Estes irão depois ser transformados,
uma por artista, deverão ser entregues 1961. Por isso afine a sua voz e cante.
pela reconhecida artista Joana Vascon-
até 1 de Outubro. Um júri (a anunciar) irá Saiba mais na rubrica “Em Acção Jovem”
celos, numa escultura que será tornada
analisar os trabalhos e distinguir os três desta revista. O Núcleo do Oeste/Caldas
pública no Dia Internacional dos Direitos
melhores de cada categoria, sendo os re- da Rainha da Amnistia Internacional
Humanos, a 10 de Dezembro. Com o
sultados anunciados a 10 de Dezembro, pede ainda que, em ambos os dias, todas
título “A Guerra não é um Brinquedo”,
Dia Internacional dos Direitos Humanos. as pessoas da região acendam uma vela
esta acção pretende sensibilizar os mais
junto à janela. Mais informações sobre sariado das Nações Unidas para os Refu-
estas e outras acções em breve em www. giados. Neste Dia Mundial do Refugiado, TOME NOTA
amnistia-internacional.pt. a Amnistia Internacional vai estar no
Espaço Polivalente da Fundição de Oei-
ras para debater este flagelo, numa ini- • 3 DE MAIO
VAMOS CAMINHAR PARA ciativa da Câmara Municipal de Oeiras. Dia Mundial da Liberdade de Im-
ACABAR COM A FOME No local vai estar também patente uma prensa
Às 10 horas do dia 7 de Junho, o mundo exposição sobre um quarto de século de
• 18 de MAIO
inteiro vai unir-se para mais uma Mar- actividade da secção portuguesa da Am-
cha Contra a Fome. O evento, que se nistia Internacional. Aniversário da secção portuguesa da
Amnistia Internacional
realiza na mesma data e à mesma hora
em centenas de países, tem como objec- • 28 de MAIO
tivo angariar fundos para minimizar as
AINDA HÁ VÍTIMAS DE TORTURA
• Aniversário da Amnistia Interna-
carências alimentares e educacionais No ano em que se assinalam os 25 anos cional
das crianças. Cada pessoa contribui com da criação da Convenção contra a Tortu- • Lançamento do Relatório Anual
cinco euros e vai marchar, em Lisboa e no ra e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, da AI
Porto, com a t-shirt e o boné do evento, Desumanos ou Degradantes, a 26 de Ju- •Lançamento da Campanha “Exija
para que o mundo recorde a urgência de nho, a Amnistia Internacional e o Insti- Dignidade”
acabar com a fome. As inscrições poderão tuto de Ciências Sociais da Universidade • 4 de JUNHO
ser feitas na TNT, empresa organizadora de Lisboa vão reflectir sobre os resultados
Assinalam-se 20 anos sobre o Mas-
do evento em Portugal, em algumas do European Social Survey. Este projecto
sacre de Tiananmen, na China
agências do BES e nas lojas SportZone. consistiu num inquérito, desenvolvido
Mais informações em www.tnt.com entre 2001 e 2005, em mais de 20 países • 20 de JUNHO
da União Europeia, que procurou analizar Dia Mundial do Refugiado
as mudanças de atitudes e de valores na
RELEMBRAR OS MILHÕES • 26 de JUNHO
Europa, ao nível, por exemplo, da imigra-
DE REFUGIADOS ção e da cidadania, entre muitos outros Dia Internacional de Apoio às Víti-
aspectos. Informações mais detalhadas mas de Tortura
No próximo dia 20 de Junho é tempo de
lembrar que, em todo o mundo, há pelo sobre o evento, mais perto da data, em • 17 de JULHO
menos 11 milhões de refugiados e 26 www.amnistia-internacional.pt
Dia Mundial da Justiça
milhões de pessoas deslocadas inter- Internacional
namente, segundo dados do Alto Comis-
Por Rodrigo de Matos
A Dignidade Humana
CRÓNICA
Em nome da liberdade
Por Rui Costa Pinto*
TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL
TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!
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• Tornando-se membro (e passando a participar nas reuniões e assembleias da Amnistia Internacional Portugal)
• Tornando-se um apoiante regular
• Enviando um donativo esporádico
• E participando activamente nas actividades que lhe propomos durante todo o ano
1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
DESEJO TORNAR-ME MEMBRO (SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Secção Por-
Quota Anual: €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
DESEJO TORNAR-ME APOIANTE
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €25 €50 €100 €250 Outro: apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Semestral Trimestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
DESEJO FAZER UM DONATIVO PONTUAL 5. Tenho conhecimento de que, caso algum débito (efectuado
No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
dias úteis para reclamar junto da minha entidade bancária,
QUERO APENAS A REVISTA TRIMESTRAL (poupando sobre o preço da capa) que me devolverá o montante em causa.
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