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Pós-Graduação lato sensu

Políticas e Gestão em Segurança Pública

ARLEI BALBINO DOS SANTOS

PREVENÇÃO E CONTROLE DO CRIME NO GRANDE RIO:


POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA INTEGRADA.

Rio de Janeiro
Fevereiro de 2008
PREVENÇÃO E CONTROLE DO CRIME NO GRANDE RIO:
POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA INTEGRADA.

Monografia apresentada à Universidade Estácio


de Sá como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Políticas e Gestão em
Segurança Pública.

Orientadora: Profa. Dra. Cristiane Brasileiro

Rio de Janeiro
Fevereiro 2008
DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a minha esposa e filhas, que


tanto apoio e compreensão tiveram pelo meu
afastamento do lar durante a realização do Curso
de Políticas e Gestão em Segurança Pública e a
perenização dessas humildes idéias aqui
esboçadas.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que tiveram a grande


sabedoria e sutileza de se privarem de
inúmeras coisas materiais, durante minha
formação, polarizando o possível para
minha educação, o que jamais esquecerei.
A quebra de hábitos, pré-requisito para
mudanças e renovação, necessita de algo
mais que uma simples decisão de fazer:
exige motivação, coragem e vontade.
Robert H. Waterman
RESUMO

Este estudo enfoca, indicadores de avaliação do trabalho policial militar no


contexto operacional e tem por máximo propósito contribuir com a Policia Militar do
Estado do Rio de Janeiro e com a política de segurança pública integrada, propondo-se a
analisar os mecanismos institucionais de controle da oferta de paz social à sociedade
fluminense, para refletir também sobre a possibilidade da utilização de novos indicadores
mais adequados a construção da polícia moderna, competente e cidadã.
Os participantes deste estudo foram o Chefe do Estado-Maior Geral (EMG), o Chefe
da Assessoria de Planejamento Orçamento e Modernização (APOM), a Diretora Presidenta do
Intituto de Segurança Pública (ISP), os oficiais superiores comandantes das Unidades Operacionais
(UOp) e oficiais e praças das Unidades Operacionais (UOp) alvos do estudo a seguir: 1º BPM
(Estácio-Centro-Rio), 17º BPM (Ilha do Governador), 7º BPM (Alcântara), 12º BPM (Niterói), 10º
BPM (Barra do Piraí), 28º BPM (Volta Redonda), 20ºBPM (Mesquita), 24º BPM (Queimados), bem
como uma comunidade de moradores de cada área de atuação das unidades policiais citadas, num
universo de 380 policiais militares e 800 civis.
É possível hoje uma avaliação do desempenho do trabalho policial com base em
resultados estatísticos das atividades operacionais, baseadas no estudo das oportunidades e
mecanismos que afetam escolhas racionais dos indivíduos criminosos, no entanto ainda há
uma imensa dificuldade de aferição da percepção social dos serviços que prestamos à
sociedade.
Acreditamos que os participantes do estudo sintetizam uma visão crítica
possibilitando uma amostragem comprometida com os ideais democráticos.
Apresenta ao final sugestões para modificar os atuais indicadores e propõe a
utilização de novos indicadores.
ABSTRACT

This study focus in, indicators of evolution of the military police work in the
operational context and it has the ultimate propose to contribute with the military police of
Rio de Janeiro and with the politics of the integrated public security, proposing to analyze
the institutional mechanism of controlling the offer of social peace to the fluminense
society, so as the reflect also upon the possibility of utilization of new indicators, suitable
to the construction of citizen, competent and modern.
The participants of this study were General State Chief, the Modernization
Planning and Budget Chief, The Public Security of the Institute Directory and the officers
e privates of Operational units targets of the following studies: 1º BPM (Estácio-Centro-Rio),
17º BPM (Ilha do Governador), 7º BPM (Alcântara), 12º BPM (Niterói), 10º BPM (Barra do Piraí),
28º BPM (Volta Redonda), 20ºBPM (Mesquita), 24º BPM (Queimados), as well as a community
of people living in the action area of the police units mentioned, in a universe of 380
military policemen and 800 civilians.
It’s possible today one evaluation of the performance of police work based on
the results of the operational activity, based on studies of opportunities and mechanism
that affect rational choices of the criminal citizen, however there’s still a tremendous
difficult of checking the social perception of the services that we do for the society.
We believe that the people who participate in the study have a critical vision
of showing commitment with the democratic ideals.
It shows final suggestion to change the indicators and propose the use of new
indicators.
SUMÁRIO

Página
CAPÍTULO

I - O PROBLEMA 1

Introdução
Objetivos do Estudo
Justificativa

Questões Investigadas

II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 7
Distintas abordagens teóricas sobre a criminalidade
A criminologia clássica, as escolas positivistas e a ênfase no indivíduo passivo
Teorias sociológicas, relativismo cultural e o foco na sociedade
A força da cultura e do aprendizado nas escolas culturalistas
A escola marxista, a criminologia crítica e o Estado criminoso.
Abordagem ecológica da sociologia empírica e o foco no indivíduo ativo
Nova perspectiva para o controle do crime
Queda de violência muda táxis em NY.
Número de homicídios chegou a 2.245 em 1990
Campanha permanente de posse de armas
Realidade social e políticas públicas no Brasil
Os agravantes estruturais do crime no caso brasileiro
Construindo a polícia moderna - O Ethos Policial

III - METODOLOGIA 36
Participantes da Pesquisa
Instrumentação
Coleta e Tratamento dos Dados

IV – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 38

V – PREVENÇÃO E CONTROLE DO CRIME 72

VI – CONCLUSÃO E PROPOSTAS DE AÇÃO 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 79

ANEXO Página
LEI Nº 3329 DE 28 DE DEZEMBRO DE 1999 88
RESOLUÇÃO DOS CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA 95
RESOLUÇÃO DO FÓRUM PERMANENTE DOS CCS 97
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS 99
QUESTIONÁRIO PARA POLICIAIS MILITARES 101
QUESTIONÁRIO PARA CIVIS 103
1

CAPÍTULO I
O PROBLEMA
Introdução

O tema violência e criminalidade acompanha o homem desde a sua origem.


Entretanto, nos dias de hoje, percebe-se que vem ocupando um espaço cada vez maior no debate
político, na mídia, no meio acadêmico e nas conversas domésticas.
A partir dos anos 60, o trabalho policial alcançou um grau de visibilidade
pública que nunca gozara anteriormente. As circunstâncias em que a polícia passou a
receber direção dos holofotes envolvem uma grande variedade de tendências de mudança
social. Duas dessas tendências podem ser consideradas como tendo sido de importância
decisiva: o movimento dos direitos civis e a chamada luta contra a pobreza, que levou a
Organização das Nações Unidas a colocar o tema na agenda política de prioridades do
milênio.
Dentro do contexto das ocupações que lidam com pessoas, somente a polícia,
durante todo o século XX, não levantou questões sobre a natureza de seu mandato, não
tendo se mobilizado, de uma maneira sustentada, em direção a uma auto-análise e uma
autocrítica de sua atuação, também não tentou estabelecer, em suas operações, um
programa de estudos e pesquisas, isto é, a polícia foi a única corporação que, por conta
própria, não desenvolveu um programa de pesquisas e estudos. Outras ocupações, como
médicos, sacerdotes, professores, advogados, enfermeiros, assistentes sociais, vendedores,
e militares fizeram, em algum momento deste século, uma avaliação sobre sua profissão,
focalizando questões relacionadas à qualificação, práticas e seus papéis na sociedade.

O monopólio do uso da força é do Estado e nele inclui-se o controle do crime e


em especial o violento, a ascenção do crime violento passa a manifestar-se como um
problema social, que evolui para público e atinge todas as sociedades. Modifica o
comportamento das pessoas, reflete-se na arquitetura e urbanização das cidades
( NAHON, 2001), bem como no desempenho de atividades econômicas. Tendo o crime
potencializado seus efeitos nas sociedades pós-modernas, onde o capiltalismo global se
estabeleceu dominante, a competividade tem a guerra como norma, a todo tempo tendo um
que vencer o outro, esmagando-o para tomar o seu lugar.
Transformações sociais evidenciaram a gradativa passagem da sociedade
panóptica (Foucault, 1996), consolidada no século XIX através da internalização das
2

normas de controle social pelos indivíduos, e sobretudo na constância da vigilância,


controle e punição das pessoas, principalmente dos operários das fábricas que eram reféns
desse modelo e que de certa forma induzia a mortificação de suas personalidades.
Instituições totais, como ficou conhecido o modelo panóptico em face da arquitetura das
construções que obrigava o indivíduo a se ver no outro sendo controlado, vigiado e punido
assim como a si próprio, forçado à reflexão e expiação de sua culpa, tendo sido empregado
tal método nos presídios, quartéis, igrejas, etc. Como tal modelo foi gradativamente sendo
humanizado, pelas idéias iluministas, solidárias e fraternas, valores morais e éticos passam
a ser questionados, momento em que as instâncias informais de controle social, como
família, escola, igreja, e outras mais, passam a ter valor maximizado em oposição ao
ambiente externo para o que Beck (1992) denomina sociedade de risco.

Segundo Beato (1998, p.4) “A emergência do crime como um problema


público está relacionado ao consenso geral da incapacidade dos cidadãos em tratar do
assunto e da atribuição de sua propriedade ao Estado”. É delegada ao poder estatal a
autoridade de buscar soluções para a criminalidade através do poder legislativo e seus
agentes do sistema criminal. Uma vez problema de governo, o crime deve ser controlado
pela política pública, logo não necessita obrigatoriamente identificar as causas e pode,
apenas, ‘Pautar-se por metas claras, factíveis e definidas a serem alcançadas. Por
instrumentos de medidas confiáveis para avaliação desses objetivos e pelos meios
disponíveis para sua realização de forma democrática” (Silva, 1997, p.68).

Diversos óbices comprometem a elaboração de políticas para controle do


problema público do crime, tais como: a heterogeneidade dos fatos sociais envolvidos e a
escassez de informações que possibilitem estudos comparativos, seja pela limitação
quantitativa de dados, seja pela baixa confiabilidade desses, fazendo com que “ A pouca
clareza analítica e a pobreza teórica da sociologia tendam a ser substituídas pela retórica
da indagação moral” (Paixão, 1995, p.2); e a globalização da política capitalista neoliberal
de diminuição do welfare state (Leibfried, 1994, p.16) e a crescente adoção de modelos
importados de controle social que reforçam o estado policial e penitenciário, disseminando
mundialmente políticas públicas de controle social fundamentadas no que Wacquant
(2001, p.47) conceitua como a contemporânea divisão de classes: os competentes e
os incompetentes, e acabam por estabelecer uma ditadura sobre os pobres.
Para comprometer ainda mais a elaboração de políticas de segurança pública,
Bayley (1994) aponta em seus estudos o que chama de um dos grandes segredos da vida
3

moderna: a polícia não previne o crime. Duas são as evidências desta contundente
afirmação: (1) repetidas análises têm fracassado em encontrar conexão entre o número
de policiais e a taxa de crime; e, (2) as estratégias adotadas pelas organizações policiais
têm mostrado ter pouco ou nenhum efeito sobre o controle da criminalidade.

Ao alvo criminal correspondem indicadores de desempenho relativamente


precisos, produção do serviço policial; se acaso não a evolução da delinqüência, que
depende de muitos outros fatores, tais como, ìndice de desenvolvimento humano,
oportunidades de emprego, educação, distribuição de renda, alicerçe familiar, saúde, além
da intensidade de sua repressão, pelo menos as taxas de elucidação das diferentes
categorias de delitos registrados, e na proporção da confiabilidade do registro (veremos
que, como as violências, relatadas com muita desigualdade pelas vítimas, através de
pesquisas de vitimização, a taxa de elucidação de delitos não tem grande sentido; em
compensação, a taxa de elucidação dos roubos a mão armada contra estabelecimentos
financeiros ou transportadoras de valores ou pessoas é um bom indicador da qualidade da
penetração no meio pela polícia criminal). A ordem política não se mede diretamente, ou
seja a ausência de desordem é percebida com mais naturalidade, mas o custo do
restabelecimento da ordem se avalia, entre o restabelecimento da ordem a qualquer preço,
a força deve restringir se a lei e o restabelecimento da ordem ao menor custo, que implica
que a força não deve restringir se a lei em todas as circunstâncias e não importa o preço,
ocasião em que os órgãos do sistema criminal podem cometer excessos e abusos de poder
objetivando justificar o fim através dos meios utilizados em prol da garantia da lei e da
ordem. Enfim desde que se faça uma pesquisa qualitativa com a sociedade, será possível
medir, senão o sentimento de segurança de uma população, pelo menos apreender suas
evoluções.

Uma das características constantes do discurso dos policiais a respeito de sua


atividade, é que tal discurso sempre inclui uma avaliação dessa atividade e de cada uma
das várias tarefas realizadas pelos policiais e enumeradas. A avaliação múltipla, segundo
critérios objetivos focados em resultados e metas factíveis, procurando enaltecer a
meritocracia como conseqüência positiva do resultado dessa atividade, cujo foco seja a
oferta de paz e cidadania é muito oportuna e bem vinda.

Diversos fatores concorrem para a elaboração de políticas, sobretudo na área de


segurança pública, de forma que possivelmente o crime passa a ser problema público e não
4

social, o que lhe credencia a ser alvo de políticas, logo haverá limitações à sua elaboração,
bem como sua aplicação em face do cenário político e social brasileiro.
Dentro do contexto, onde várias disciplinas corroboram para facilitar o
entendimento da prevenção e do controle da violência e do crime e, sobretudo da dinâmica
da atividade de segurança pública na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com o rigor
acadêmico para produzir resultados válidos, buscaremos respostas às seguintes questões de
estudo:

1. Se existe alguma avaliação, da atividade realizada pela polícia, em caso


afirmativo esta avaliação corresponde às expectativas das corporações policias, e da
sociedade em geral, no que diz respeito à sua eficiência? Por quê?

2. Como as avaliações realizadas podem contribuir para uma maior eficiência


da atividade realizada pela polícia?

3. Os indicadores resultantes dessa avaliação da atividade policial podem ser


modificados para melhor cumprirem seus objetivos ou novos indicadores poder ser
utilizados? Como?

4. Os indicadores resultantes da avaliação da atividade policial utilizados pela


Secretaria Estadual de Segurança Pública têm ligação direta com a sua rotina profissional?
De que forma?

5. Quais os óbices em avaliar o desempenho da atividade policial ?

Tem-se como hipótese a ser comprovada no presente estudo se os indicadores


constituidos como produção policial das polícias fluminenses possibilitam a efetiva
aferição do desempenho de suas atividades, bem como seu reconhecimento social, e ainda
se existem metas factíveis de redução de violência e criminalidade a serem atingidas
levando-se em conta a inteligência, informação, estratégia, planejamento, resultado e
meritocracia.
5

Objetivos do Estudo

É mister evidenciar o modelo teórico de controle da criminalidade que dá


suporte à atividade operacional das polícias estaduais fluminenses, analisando os fatores
peculiares à realidade brasileira que interferem na elaboração de políticas governamentais
na área da segurança pública, identificando se as mesmas priorizam investimento em
prevenção do crime e violência ou simplesmente gastos no seu controle e garantia da lei e
da ordem, de modo que se possam identificar os pontos principais (estruturais) da política
de segurança pública integrada do Estado do Rio de Janeiro e ratificar a integração pessoal
e institucional entre os agentes públicos de ambas as instituições policiais utilizando para
esse propósito o mesmo banco de dados e estratégias compartilhadas, tendo como base o
planejamento operacional em conjunto e a devida prestação de contas a sociedade,
analisando cientificamente os instrumentos de medidas confiáveis para avaliação de
desempenho no alcance das metas traçadas pela política pública de segurança integrada,
utilizados pelas polícias estaduais, bem como estudar analiticamente os mecanismos de
controle, utilizados pelas instituições policiais fluminenses, para verificar até que ponto
são confiáveis na aferição da oferta de paz social na região metropolitana do Rio de
Janeiro.

Justificativa

A sociedade fluminense ainda de forma tímida começa a participar mais


diretamente das discussões sobre segurança pública através dos Conselhos Comunitários
de Segurança e com mais freqüência e nesse contexto a importância em priorizar suas
demandas nos faz certamente avaliar o desempenho efetivo da atividade policial e
aplicação desses recursos públicos de forma que o cliente do serviço possa ser a sociedade
e não o estado.

O presente estudo teve por máximo propósito contextualizar a atividade


policial em face das distintas abordagens teóricas sobre criminalidade e contribuir com
6

a política de segurança pública integrada, juntamente com a Secretaria Nacional de


Segurança Pública (SENASP), propondo-se a analisar os mecanismos institucionais de
controle da oferta de paz social à sociedade fluminense, e poder analisar ainda os
indicadores mais adequados para verificar o desempenho da polícia moderna,
competente e cidadã.
O tema além de ser atual e ter conseqüência imediata na vida em sociedade
insere no contexto a Universidade Estácio de Sá, entidade de educação superior
privada, que poderá a partir de então, fazer parte desse debate de negociação da ordem
social antes exclusivo das esferas públicas, podendo ainda contribuir para reconstruir a
imagem de um profissional totalmente desacreditado e marginalizado por vários
segmentos sociais.
A pesquisa buscou comparar dados sistematizados pela análise criminal, que
certamente passam pelo objetivo de colocar a todo o tempo as corporações em teste de
sua razão de existência, de buscar o bem comum, a garantia da lei e da ordem, o
interesse coletivo, o bem-estar social e a cidadania.
Dessa maneira, a oportunidade de se desenvolver essa pesquisa pareceu ao
mesmo tempo importante, necessária, oportuna e pertinente.

Metodologia e Análise dos Dados:

Foram analisados dados estatísticos da Secretaria Estadual de Segurança


Pública e do Instituto de Segurança Pública. Foram utilizados ainda a pesquisa
bibliográfica, pesquisa na internet e comparações e análise de dados estatísticos oficiais do
Instituto de Segurança Pública sobre análise criminal e demanda dos Conselhos
Comunitários estaduais de segurança pública por áreas integradas de segurança pública no
Grande Rio.
7

CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
DISTINTAS ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A CRIMINALIDADE

Ao contrário do que se acredita a violência não é um produto recente


da urbanização e industrialização, pelo contrário acompanha o homem desde a
sua origem, manisfestando-se das primeiras sociedades até as contemporâneas
formas de vida social e não é restrita a área urbana, estando presente também no
campo.

Procurando tentar entender as limitações e possibilidades dos modelos


teóricos que no momento orientam a polícia fluminense, as seções deste capítulo
apresentarão algumas das principais teorias sobre o fenômeno social “crime”, de
forma bem sintética, uma vez que a história social do crime não é o objeto do
presente estudo.

O marco de significativas mudanças em relação ao crime é o século


XVIII, onde a preservação da ordem se sobrepunha de forma arbitrária e cruel
à liberdade individual (FOUCAULT, 1996). A prática penal, sobretudo a
francesa que deriva das ordenações religiosas de 1670, regulava o ritual do
suplício, que segundo (FOUCAULT, 1996), seria uma produção diferenciada de
sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação
do poder que pune, não seria absolutamente a exasperação de uma justiça que
esquecendo seus princípios, perdesse todo o controle. Nos excessos dos
suplícios, se investe toda a economia do poder, tudo isso através do processo
secreto. A lei se consagrava a expressão da vontade do soberano e sua quebra,
indiferente a gravidade do ato seria uma agressão ao próprio governante.

A criminologia clássica, as escolas positivistas e a ênfase no indivíduo passivo.

Cesare Becaria (1738 – 1794) e Jeremy Benthan (1748 – 1832) objetivaram


humanizar o sistema altamente arbitrário e cruel de punições do ancient régime, período
este, que segundo TOCQUEVILLE, citado por (SENNET – 1998), a burocracia comercial
e administrativa se desenvolve nas nações, paralelamente à manutenção da persistência de
privilégios feudais, época esta que se inaugura o período marcado pelo positivismo
8

normativo e a sobriedade punitiva, ou seja, alguns princípios começam a ser introduzidos


no contexto criminal, como a reserva legal que explicita que: não há crime sem lei anterior
que o defina nem pena sem prévia cominação legal, a própria definição de crime, a
uniformidade das leis, o dano causado por servidores públicos e magistrados corruptos, a
natureza dissuasória da punição, proporcionalidade da punição ao crime e oposição a
torturas judiciais.
O texto de Cesare Becaria Dei delitti e delle pene (1764), influenciou monarcas
europeus como Gustavo III da Suécia, Catarina II da Rússia, Maria Teresa da Áustria, filósofos
como Willian Blackstone, revolucionários da América colonial tais como: Thomas Jefferson e
John Adams e, sobretudo, os filósofos franceses D'Alembert, Diderot, Hevétius, Buffon e Voltaire.
Nesta obra existem embrionárias conceitos da criminologia como "crime", "criminoso" e "causas
do crime" e o que nos impressiona a todos, seria a reflexão sociológica a respeito da natureza das
leis:

O que são essas leis que eu devo respeitar, e que conduzem a uma grande
distância entre mim e os homens ricos e poderosos que jamais visitaram os
esquálidos barracões dos pobres, que nunca tiveram que repartir um
borolento pedaço de pão entre os inocentes soluços de suas crianças
famintas e esposas. Deixe-nos quebrar esses laços que são tão daninhos
para a maioria e úteis para um punhado de tiranos indolentes; deixe-nos
atacar a injustiça na sua fonte (BECCARIA, 1764 p.51).

Defendiam o predomínio da razão na organização dos delitos e penas, em


oposição à noção religiosa do crime "pecado". Pregavam a definição do crime pelo mal
causado à sociedade, onde o rigor do castigo tem menor importância que a certeza da
punição.
Adolphe Quetelet (1796-1874), da mesma forma, insere-se em um contexto de
transformações em relação às estratégias penais, projetando-as como mecanismos de
vigilância, que seriam as inclusões no código criminal napoleônico de novas categorias de
delinqüência, uma gendarmerie profissional, sistemas de passaporte e identidade e redes
de informantes e espiões. Acredita-se que tenha sido tal iniciativa a precursora do
lombrosianismo e a futura abordagem da escola de Chicago. Entre suas idéias mais
importantes estão as constâncias do crime e as propensões criminais, uma vez que
trabalhava no Compté Généreal de L’administration de la Justice Criminelle en France
(1827), e observou a quantidade de crimes ocorridos e os analisou estatisticamente,
procurando estabelecer regras para a mecânica social do crime, ou seja, regularidades
9

racionais encontradas no mundo natural e social, tendo algumas de suas observações


permanecidas válidas a exemplo da importância de gênero e idade como predição do
comportamento criminoso. Observou a permanência das taxas de crime e concluiu que a
constância das taxas de crime é inevitável e independente de vontades particulares.

Embora todas as pessoas tivessem a propensão natural ao crime, no


homem médio essa propensão não se transforma em crime. Isto porque,
dentre as virtudes do homem médio, estariam os hábitos racionais, a
temperança, controle sobre as paixões e previsibilidade de
comportamento (BEIRNE, 1987, p. 1140).

Quando o autor se refere ao homem médio toma como antítese os ciganos,


vadios, classes inferiores, pessoas de estoque moral inferior etc. Baseando-se em um
conjunto de valores médios, estabelecidos sobre o homem belga, a partir da análise
estatística das taxas de mortalidade, das medidas biométricas, idade, sexo, da ocupação e
da região geográfica.
Nesse contexto Adolphe Quetelet considera o crime uma manifestação
naturalmente esperada na sociedade de forma que sua teoria se amolda à transformação das
estratégias penais racionais projetadas como instrumento de controle social das classes
perigosas que surgiram na Europa e que evoluíram, no século XIX, para os mecanismos de
vigilância, controle e correção aos quais Foucault denominou panoptismo. De forma clara,
percebe-se que Adolphe Quetelet preserva pré-noções que são reflexos do pensamento
criminológico clássico, ou seja, a criminologia clássica busca explicar o crime – ou o não
crime através de uma ótica pontual e fundada nas características do indivíduo.
Para Cesare Lombroso (1835 – 1909), em sintonia com Darwin, os seres humanos
são sujeitos à lei da natureza tal quais os outros animais. Realizando necropsias, estudou certos
padrões físicos para comprovar sua tese de que existiam características atávicas relacionadas a
pessoas que nasciam criminosas, tais como: desvios no tamanho e forma do crânio comum a
certas raças e regiões dos quais vinham os criminosos, assimetria do crânio e da face, defeitos e
peculiaridades nos olhos, orelhas muito grandes ou muito pequenas, dentição anormal, etc.
Enfatizou a necessidade de se analisar características individuais, utilizando
métodos estatísticos e dados antropológicos, sociais, geográficos e econômicos. Sua
suposição básica era a existência da natureza biológica do caráter e comportamentos
humanos: o positivismo biológico.
A teoria positivista biológica não oferece de fato uma teoria para o crime,
derivada de uma teoria geral do comportamento. Limita-se a descrever um rol de dados
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constituídos indutivamente, a fim de identificar padrões e formular uma tipologia de


criminosos.

Teorias sociológicas, relativismo cultural e o foco na sociedade.

Com uma inaudita interpretação das relações entre o crime e a sociedade,


DURKEIM (1932) inaugura, ao final do séc. XIX, a sociologia criminal e marca a virada das
explicações da escola positivista em favor das teorias sociológicas.

Através da recolha e interpretação de dados estatísticos, procurou estudar a


permanência do crime na sociedade, a partir da compreensão de que não existe sociedade
sem crime e, passando a interpretar o crime como um fato social, ou seja, todo fato capaz
de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, logo, deixou de buscar explicações na
figura do delinqüente ou, para Quetelet, no não delinqüente.
Seu estudo apresenta a divisão do trabalho social, consolidada a partir do incremento
da especialização profissional, como determinante do individualismo presente nas sociedades
complexas ou pós-revolução industrial. Nessas sociedades, os indivíduos estão ligados por um
sentimento de complementaridade, isto é, as atividades distintas se completam de forma
harmônica através de uma força de coesão social, a que Èmile Durkeim chamou de
solidariedade orgânica.
Nas sociedades complexas, com alto grau de diferenciação entre indivíduos, é
esperado que algumas manifestações individuais sejam divergentes da coincidência
comum. As divergências são, em geral, democraticamente aceitas, ainda que, por vezes
reprovadas socialmente, mas, em casos extremos, podem vir a se constituírem crimes
penalizados em lei. A gênese do crime é resultado de diferentes processos políticos.
O crime é normal, afirma Durkeim, e a partir do sentido ritual da pena, o crime
é ainda necessário e útil à sociedade, pois ao suscitar uma punição, isto é, a ritualização da
consciência coletiva sobre aquele fato, o crime consolida valores e fortalece laços sociais.
Dando continuidade à sociologia criminal, MERTON (1968) apresenta seu estudo
com ênfase na mobilidade social, afirmando que a ausência de canais legítimos de ascensão
social gera problemas que provocam alguma adaptação individual, manifestada na forma de
uma resposta anônica, cada qual com distinta interação entre as metas culturais e os meios
institucionais disponíveis.
11

O pensamento de Robert Merton é persuasivo explica de forma convincente


que mudanças estruturais, tais como o processo de industrialização que provocou a
urbanização desordenada de cidades (dado a incapacidade de absorção da grande massa migrante
de população rural), o isolamento moral de indivíduos (afastados de sua família, da comunidade e
da religião) e as decorrentes condições de pobreza, podem provocar respostas anômicas
individuais. Os sonhos que emergem naturalmente da revolução social acabam por se mostrar
incompatíveis com as alternativas institucionais convencionais disponíveis (trabalho e salário) para
tornar real aspirações individuais: a privação relativa.
Seguindo o pensamento mertoniano, conclui-se que a enorme desigualdade
social, hoje reforçada pela desenfreada cultura consumista é a fonte de diversas respostas
anômicas individuais e, nos indivíduos onde os vínculos sociais (família, escola, trabalho,
etc.) são mais frágeis, as respostas podem se resumir ao simples julgamento racional entre
as vantagens de se rebelar contra o sistema ou se conformar com a miséria. Assim,
indivíduos decidem racionalmente ignorar as normas legais que regulam a vida em
sociedade para satisfazer suas aspirações pessoais de forma criminosa.
Certamente, é do consenso comum que a teoria da anomia representa uma
importante obra no estudo do comportamento desviante, por se opor à abordagem
tradicionalista que tenta explicar comportamentos sociais "anormais" com manifestações
endógeno-patogênicas dos indivíduos. Merton, assim como Durkeim, aponta a estrutura
sócio-cultural como determinante de diferentes comportamentos sociais. Ao observar essa
mudança de enfoque no estudo do comportamento desviante, Velho (1985) ressalta: saiu-
se, portanto, de uma patologia do indivíduo para patologia do social.

Contudo, mesmo que esta teoria encontre respaldo no discurso de criminosos


encarcerados, agentes do sistema criminal, políticos e na opinião popular, ela representa
uma abordagem simplista e pontual do estudo da criminalidade. Ao estigmatizar os pobres
como classe perigosa e associar a criminalidade à pobreza, ignoram outras variáveis e
fatores criminógenos. A inferência de seus preceitos não é possível no estudo de outras
sociedades onde enormes desigualdades sociais existentes não refletem necessariamente
elevadas taxas de crime, a exemplo da Índia.
Tampouco, a teoria da anomia possibilita estudar crimes como os de
"colarinho branco", cometidos por integrantes da elite social, que tiveram a sua
disposição meios institucionais legítimos para conseguirem seus anseios, mas
cometeram crimes.
12

A força da cultura e do aprendizado nas escolas culturalistas

Os autores da teoria da subcultura, CLOWARD e OHLIN (1993, p.58),


consolidaram-se entre os principais críticos do estudo de Merton, muito embora sua
proposta não rompa com os supostos mais centrais da teoria mertoniana, ou seja, a idéia
de um universo valorativo comum servindo de referência para a definição de
comportamentos delinqüentes. Igualmente, os autores enfatizam a integração da
sociedade, representando-a como perfeita e harmônica, com objetivos e meios de realizá-
los institucionalmente definidos, restritos e legítimos para todos os seus membros.
O super dimensionamento da ação coercitiva, exterior e geral do fato social
(QUITANEIRO et al., 1999) não observa a incapacidade natural da participação do
indivíduo em todos os elementos de sua cultura seja por limitações cronológicas ou
culturais e se contrapõe ao processo cumulativo dos valores tradicionais, bem como a
capacidade humana de questionar seus próprios hábitos e modificá-los.

A pluralidade dos distintos estados culturais que existem dentro de uma mesma
sociedade fortalece o processo dinâmico de modificação dos seus valores, suas regras
sobre relações e modos de comportamento. Nem as pequenas e mais simples sociedades
tendem a ser estáticas e, tampouco, se os indivíduos internalizam os valores sócio-
culturais de forma geral e homogênea, explica MALINOWISKY (1976). A idéia de que
um grupo social estabelece um modelo único é rígido é ainda mais surrealista ao se
estudar as sociedades modernas, urbanas e industriais, onde o caráter multifacetado,
complexo e dinâmico dos valores culturais se manifesta a cada momento.
O individualismo moral, afirmado por Alex de Tocqueville (SENNET, 1998),
passa a regular a vida social e tornar fictício se acreditar em uma hierarquia valorativa
comum. A individualidade natural do ser humano, para o qual concorrem fatores
biológicos, psicológicos, sociais e ou culturais, faz com que apareçam em divergências
nas percepções pessoais dos códigos consensuais vigentes. Distintas sensibilidades
jurídicas (GEERTZ, 1978) elegem valores que não são os mesmos da cultura oficial: a
subcultura.
Mas, sob quais condições emergiria a subcultura delinqüente? Os autores
desta teoria apontam a necessidade da existência de um ambiente especializado para que
a subcultura delinqüente possa florescer. Portanto, o ingresso a uma carreira delinqüente
13

é facilitado em vizinhanças onde o crime é comum. Isto se dá porque a integração entre


criminosos de diferentes faixas etárias, para transmissão de técnicas de valores
necessários ao desempenho do papel, torna-se mais fácil.
Outra forma de potencialização da subcultura criminosa se dá na sua estreita
vinculação com carreiras convencionais e legítimas, a exemplo dos contatos de
criminosos com policiais, agentes da justiça, políticos, advogados e diversos outros
profissionais, que contribuem para o maior desenvolvimento de habilidades necessárias
para o mundo ilegítimo. O extremo da promiscuidade entre o mundo legal e ilegal pode
se dar na forma do crime organizado, através de uma rede de relações entre viciados,
receptadores, policiais, advogados e "financiadores do crime".

O proposto neste modelo é que o ingresso a uma carreira criminosa não é


apenas questão de vontade individual, mais de um processo de seleção que envolve
socialização, valores e habilidades. O que se tem, portanto, é uma teoria onde se postula
que as aspirações são diferenciais entre membros de distintos grupos. Isto induz a
conclusão de que jovens de classe média, que conviverem com profissionais liberais,
banqueiros ou empresários, aspirariam a essas posições; em contraste, jovens de classe
baixa, vivendo em locais dominados por bandidos e delinqüentes, aspiram por se tornarem
bem-sucedidos "profissionais" no mundo do crime.
Um diferente enfoque para a questão dos valores da subcultura é sua relação
com valores da classe econômica baixa. Tomando como exemplo o caso das gangues, a
cultura mais importante na modelagem do comportamento criminoso não é a própria
gangue, mais o sistema cultural de classe baixa, que tem como preocupações focais: (1)
evitar problemas com as autoridades na forma de confusões e comportamentos ilegais; (2)
manifestação de dureza, demonstração de força física, habilidades atléticas e masculinidade;
(3) astúcia na conquista de bens com o mínimo esforço físico e o máximo de esperteza; (4)
excitação e fortes emoções (consumo de álcool e jogo); (5) crença na fatalidade do destino; (6)
autonomia para buscar o status que lhe é negado e o reconhecimento social. São estas seis
preocupações focais que atuam com motivadores comportamentais, determinando a forma
como se organizam grupos de adolescentes, pressionados para a conformidade com tais regras
locais e não gerais.
Observa-se, portanto, que o modelo da subcultura mantém ainda certo
conservadorismo ao analisar a sociedade e sua diversidade cultural com limites bem
demarcados, tendo como premissa uma estrutura social não problematizada, isto é,
14

funcionando normalmente. Parte de sua problemática reside na definição, simplista e


relativista, do modelo orgânico social tido como saudável.

A teoria da associação diferencial, proposta por SUTHERLAND (1993,


p.194), oferece uma abordagem mais ampla ao estudo da criminalidade. Tem como foco o
processo de aprendizado pelo qual o indivíduo se torna criminoso. Do modelo mertoniano
de mobilidade social, reconhece e enfatiza a influência das condições estruturais no
comportamento criminoso. Aceita que os meios institucionais legítimos de ascensão social
não estão universalmente à disposição das pessoas. Da teoria da subcultura, observa a
existência de valores culturais que não são os mesmos da cultura oficial, o que igualmente
exerce influência sobre a inclinação criminal do indevido.
O modelo apresentado na teoria da associação diferencial leva em
consideração tanto variáveis estruturais e culturais quanto a possibilidade de análise da
ação individual, pois parte da premissa de que o comportamento criminoso não é herdado,
mas sim aprendido através de interações interpessoais no interior de grupos íntimos, ou
melhor, subgrupos culturais onde a linguagem representa o principal veículo de
socialização.
Este processo de socialização dos indivíduos pertencentes ao subgrupo
criminoso inclui mecanismos de aprendizagem semelhantes aos observados em qualquer outro
processo de aprendizagem que possibilitam a assimilação de conhecimentos técnicos do crime. Os
conhecimentos empíricos acumulados ao longo da carreira criminosa são repassados aos novatos
na "profissão", isto é facilmente observado nas atividades criminosas que requerem conhecimento
específico mais apurado, por exemplo: furtadores de veículos, arrombadores, seqüestradores, etc.
O processo de socialização também internaliza nos indivíduos impulsos à ação
criminosa, que são motivadas pela definição de códigos legais mais favoráveis ou
desfavoráveis à ação criminosa. A existência de um sistema criminal ineficiente é
determinante para potencializar a inclinação à criminalidade. O crime não é apenas
resultado da socialização do indivíduo, mas envolve o cálculo racional dos custos e
benefícios da ação criminosa. Portanto, a associação criminosa é resultado de um conflito
de forças contraditórias, onde as definições favoráveis à violação das leis se sobrepõem às
desfavoráveis.

A partir do jargão popular “as prisões são as universidades do crime", pode-se


compreender a proposta da associação diferencial ou, em outras palavras, da teoria do
aprendizado sócio-cultural do desvio (AKERS, 1996, p. 229). A junção de indivíduos
15

condenados por crimes normativamente semelhantes, mas absolutamente distintos entre si,
seja pela suas histórias singulares ou pelos diferentes graus da real periculosidade social
do próprio ato delituoso em um mesmo espaço insalubre e absolutamente isolado dos
mecanismos de internalização dos valores sócio-culturais consensuais da sociedade
política e economicamente dominante, valores estes que, por estarem presos, supostamente
já evidenciaram não os terem naturalizado, acaba por contribuir para o crescimento da
subcultura delinqüente e criminosa.
O dia-a-dia da subumana realidade prisional evidencia explicitamente a
dicotomia "cidadãos de bem versus escória de criminosos” e faz com que os indivíduos
rotulados homogeneamente como criminosos reproduzam a lógica do sistema e se
identifiquem pertencentes ao subgrupo distinto e antagônico dos cidadãos de bem.
A lógica hierarquizadora do sistema criminal reforça a segregação social, pois
condena apenas pobre enquanto as elites cometem crimes infinitamente mais danosos à
sociedade sem serem punidos ou quando são, recebem privilégios e tratamento especial.
Na verdade, a prisão que ideologicamente tem por fim a mediação da reintegração dos
desviados a sociedade se apresenta como a estrutura discriminatória destinada a preservar a
condição desviante para segregar aqueles que se pretende excluir do convívio social. Nesse
universo, interações de dominação subordinação possibilitam que as experiências empíricas sejam
repassadas verbalmente e assim, sejam criados ou reforçados valores culturais criminosos.
Críticas ao modelo proposto por Sutherland surgiram no sentido de reformular
sua teoria. Uma das propostas interessantes é feita pela teoria da neutralização, onde
SYKES e MATZA (1993, p.180-184) tratam da neutralização do comportamento
criminoso:
Muita delinqüência é baseada no que é essencialmente uma extensão
desconhecida de defesas de crimes, na forma de justificações para os
desvios que não são vistos como válidos pelo delinqüente, mas não
para o sistema legal da sociedade como um todo.

A justificação para o comportamento criminoso é buscada na própria


"estrutura de valores e provas" da sociedade, que fornecerá o vocabulário e a sintaxe dos
motivos utilizados para se referirem aos atos criminais. Isto significa que os criminosos,
de certa maneira, ainda permanecem socializados nos valores da cultura convencional,
transportando o vocabulário de motivos para suas infrações como forma de se
justificarem de acordo com o modelo da sociedade convencional. Ou seja, a norma
16

convencional não tem a força de um imperativo categórico e as pessoas podem


racionalizar suas condutas de desviantes na mesma sintaxe do mundo convencional.
Para justificar o desvio, pode-se buscar a negação da responsabilidade,
reivindicando a condição de vítimas quer seja por um "acidente" momentâneo, quer seja
por ter cometido o delito por circunstâncias sociais e econômicas que estão além de seu
controle. Pode-se negar o mal causado nos crimes sem vítimas tais como a venda de
drogas, prostituição etc., e o que estaria em questão, portanto, seria um processo moral.
Outra justificação é a negação da condição de vítima como, por exemplo, no caso de
homicídios de homossexuais. Ou ainda condenar os condenadores, considerando-os
hipócritas, desviantes dissimulados ou impedidos por questões pessoais. Uma forma
pode também ser rejeitada em favor da lealdade a outras normas e valores, a exemplo da
valorização cultural da "malandragem" e do "malandro", bastante familiar aos
brasileiros.

A escola marxista, a criminologia crítica e o Estado criminoso.

A criminologia crítica centraliza seu estudo nos processos sociais originados


do conflito social (CARDARELLI, 1993). O conflito pelo poder de sobrepor sua vontade
aos demais se estabelece através de um jogo político onde as distinções de idade, sexo,
etnia e classe social (YONG, 1980) explicam diferenças no grau em que os grupos assim
diferenciados podem fazer regras para os outros. Aqueles cuja posição social lhes confere
poder econômico são mais capazes para impor suas regras em âmbito geral, onde
concorrem diretamente o aparelho estatal e os mecanismos difusos de controle social. Os
códigos legais são as manifestações mais fortes do controle social para a proteção dos
padrões morais e comportamentais impostos pela elite econômica e politicamente
dominante; o desvio destes códigos legais é definido como crime.
Ideologicamente, o Estado e suas leis visam o bem estar social, em
conformidade com a manutenção das estruturas de poder. Mas, de fato, retratam uma
relação dinâmica e conflitante, onde a aceitação não se estabelece de forma pacífica e se
manifesta em uma continua luta pelo poder, Maquiavel ensinava que a condição de saúde
dos Estados não reside na harmonia forçada, mais sim no conflito, que corresponde à
primeira proteção da liberdade (BOBBIO, 2000).
17

A criminologia crítica se opõe ao mundo clássico por entender uma imagem


ideal do ser humano, dono e senhor absoluto de si e de seus atos. Para os clássicos,
comportamento delitivo só pode ser atribuído ao mau uso da liberdade, o crime é um
profundo mistério e o criminoso é um pecador que optou pelo mal, embora pudesse e
devesse respeitar a lei (MOLINA, 2001). Opõe-se, igualmente, ao positivismo
criminológico, que apresenta o comportamento do indivíduo inserido na dinâmica de
causa e efeitos que rege o mundo: o criminoso é um prisioneiro de seu determinismo
biológico ou social. Também contraria o positivismo jurídico de leis que não refletem a
realidade social, mas apenas legalizam a exploração e a injustiça reproduzindo "espaços de
clandestinidade" que possibilitam o uso da máquina burocrática estatal e do poder de
polícia em benefício particular do funcionário público.
Procura, por sua vez, explicar o crime com uma disfunção do capitalismo (com
enfoque na estrutura econômica), afirmando que é a partir de um jogo de poder político
que se constrói socialmente o crime e o criminoso, de acordo com os interesses das elites
corporativas capitalistas. Chamam a atenção para crimes cometidos pelo Estado contra seu
povo (os direitos humanos), dirigindo a atenção para as inter-relações entre Estado, lei,
crime e modo de produção capitalista.

É interessante a obra de WACQUANT (2001) que aconteceu texto a hiperinflação


carcerária americana indiferente a índices de criminalidade estáveis, fruto da política de
controle social intolerante, segregacionista, que defende a criminalização e penalização da
miséria, impondo uma verdadeira ditadura sobre os pobres que condena os socialmente
indesejáveis aos campos de concentração de pobres.
Igual relevância tem o texto de ARENDT (1999) que, 1961, ao acompanhar o
julgamento de Eichmann, descreve o "monstro" que conduziu milhões de judeus a morte:
um funcionário público honesto e obediente, cumpridor de suas metas, que não fizera mais
do que agir conforme a ordem legal vigente na Alemanha: um pai de família exemplar, um
homem comum; diante da anormalidade do algoz nazista, analisa a forma banal de sua
maldade como resultado da ausência da capacidade de reflexão e conclui: a distância da
realidade e esse desapego podem gerar mais devastação que todos os maus instintos
juntos.
Sob o prisma do pensamento da criminologia crítica renasce o horror despótico
da máquina burocrática, porém, reproduzido na forma de violência difusa praticada por
18

políticas públicas que pregam a diminuição do estado social e o fortalecimento do estado


penal, sobre as minorias pobres e discriminadas, através do agressivo sistema carcerário.

Abordagem ecológica da sociologia empírica e o foco no indivíduo ativo.

As teorias do autocontrole, do interacionismo e dos rótulos partem do


indivíduo para explicar o comportamento desviante, operam ao nível de interação face a
face de indivíduos e procuram estudar como atores se definem uns aos outros e como
definem a situação. A noção de desvio emerge, portanto, de construções sociais da
realidade e não como propriedades de uma macro estrutura de valores e interesses.

George H. Mead fundamenta a teoria do interacionismo simbólico e o estudo


do processo interacional de definição das identidades observando a importância dos
mecanismos informais de controle social e focalizando a problemática da definição da
identidade realmente relevante ao indivíduo. (COULON, 1995, p.61).
No processo de socialização, a identidade é formada parcialmente em situações
específicas enfrentadas por cada indivíduo onde, em primeiro momento, os indivíduos
assumem os papéis das pessoas consideradas relevantes e, posteriormente, assumem
valores de grupos de referência. Definindo-se ao longo do tempo, a identidade criminosa é
formada por hábitos e pela alto-apreciação resultante de percepções seletivas dependentes
do tipo de situações problemáticas enfrentadas por cada indivíduo.

Seguindo esta linha de raciocínio, a teoria dos rótulos de H. BECKER (1977:


p.53), distingue-se ao focalizar os efeitos das respostas sociais, estigmatização e
segregação, no processo de redefinição de identidades, na exclusão de oportunidades
convencionais e no conseqüente incremento da possibilidade de novos desvios. Afirma
que as leis e normas convencionais podem ser concebidas sobre perspectivas diferentes,
pois individualidades psicológicas e sócio-culturais concorrem para a formação de
distintas sensibilidades, percepção e naturalização dos valores normatizados.
O poder político-econômico é determinante no processo de definição do
desvio. O desvio está menos relacionado à qualidade do ato que a pessoa comete que a
conseqüência da aplicação, por outras pessoas, de regras e sanções a um transgressor.
Assim, o considerado desvio por um grupo pode ser um atributo desejado por outro. Em
razão das pessoas pertencerem a muitos grupos simultaneamente, uma pessoa pode
quebrar as regras de um grupo pelo simples ato de obedecer às regras do outro.
19

Portanto, por esta lógica, todos são igualmente desviantes e essa afirmação leva
a seguinte problemática: se todos são igualmente desviantes, por que alguns dão vazão a
seus impulsos e outros não?
A teoria dos rótulos busca explicação para esta questão no enfraquecimento dos
vínculos com a sociedade convencional, nos desvios eventuais e na “rotulação pública”
como fator importante no ingresso de uma carreira desviante, na redefinição de identidade
e do novo status. Aponta que afinidade existente entre os desviantes, bem como a má
performance na escola ou total aversão a ela são evidências importantes na explicação da
propensão à criminalidade. Contudo, a tese da correlação entre crimes e o
enfraquecimento dos vínculos sociais não encontra consistente suporte empírico, conforme
os dados levantados em populações carcerárias.
Com lógica contínua ao processo interacional-simbólico de definição das
identidades das teorias do interacionismo e dos rótulos, e considerando juntamente as
observações empíricas que as questionam, a teoria do autocontrole, apresentada em
GOTTFREDSON e HIRSCHI (1990), segue a premissa de que os criminosos não são
diferentes dos não criminosos, o que pode levar a supor equivocadamente sua
concordância direta com as teorias do interacionismo e dos rótulos. Contudo, essa
semelhança não se expressa na condição universal do desviante, mais sim na tendência
universal do indivíduo para a maximização do seu próprio prazer, conforme já afirmavam
outros pensadores como Hobbes e FREUD (1997).
Em adição, a teoria do autocontrole propõe uma abordagem mais centralizada
nos indivíduos desviantes, afirmando que os criminosos se diferenciam dos demais pela
incapacidade em internalizar o controle social (FOUCAULT, 1999). Isto é, o criminoso
constrói sua realidade social como um indivíduo maximizador de prazer imediato obtido
com pouco esforço; esse processo acaba por tender a torná-lo autocentrado, insensível e,
finalmente, com instáveis relações interpessoais. A causa do baixo autocontrole é a falha
no processo de socialização infantil e tem como fontes a forma de educação e o grau de
em internalização do controle social da criança.

É oportuno ressaltar as distintas interpretações do papel social da escola na


determinação do comportamento desviante. Se para a teoria do internacionalismo
simbólico a escola e significativa no processo de definição das identidades; para a teoria
dos rótulos a escola termina por estigmatizar os adolescentes e concorrer para seus
comportamentos desviantes; enquanto que na teoria do autocontrole a escola representa o
20

local com horários e disciplinas absolutamente indesejáveis para indivíduos com baixo
grau de autocontrole.
Outra significativa diferença é a tese da carreira desviante como conseqüência
de estigma, o que não é defendido na teoria do autocontrole, pois a natureza hedonista do
criminoso impõe uma versatilidade que não aceita limitações à carreira criminosa.

Nova perspectiva para o controle do crime

Um recente estudo busca oferecer uma base teórica alternativa: a prevenção


situacional do crime. Apoia-se no estudo analítico das atividades de rotina e escolhas racionais
criminosas, realizado através da metodologia de pesquisa, que possibilita distintas técnicas de
redução de oportunidades e um corpo de práticas avaliadas, que inclui o estudo do deslocamento
espacial e temporal das manchas de crime.
Como formas de abordagem alternativa ao problema da criminalidade, Derek
Clarke e Ronald Cornish focalizaram seus estudos na deliberação racional dos criminosos
ao cometerem crimes, entendendo o criminoso como um ator racional. A teoria das
oportunidades oferece, assim, uma abordagem sólida e relevante do ponto de vista da
formulação das políticas públicas de segurança para prevenção e controle do crime.

A teoria das oportunidades parte da premissa da concepção do criminoso não


como um agente passivo de forças externas a ele resultantes de determinações sócio-
psicológicas determinadas e propõe um criminoso responsável por suas decisões pessoais.
Possibilita o estudo dos mecanismos das escolhas individuais, a partir da compreensão da
racionalidade da iniciação, aprendizado e socialização do criminoso na carreira criminosa.
É certo que as teorias coletivistas de buscar explicações sociológicas para o crime.
Acertadamente se opõe ao positivismo criminológico que representa o criminoso como prisioneiro
de seu determinismo biológico ou social, bem como ao positivismo jurídico das leis que não
refletem a realidade social, mas apenas legalizam a exploração e a injustiça. Possibilitam como
resultado, uma abordagem mais humanista ao entendimento da criminalidade. Esta condição é,
indiscutivelmente, emergencial para que os agentes do sistema de justiça criminal possam
desenvolver capacidade de refletir sobre suas ações, sobretudo aqueles que detêm o monopólio
legítimo do uso da força e o poder de impor sua vontade aos demais indivíduos.
Por outro lado, outros estudos, como a criminologia crítica, possibilitam a
percepção da necessidade imperativa da defesa dos mecanismos democráticos de controle
21

do poder público e de inserção das minorias políticas. São importantes por chamarem a
atenção para o surgimento de governos criminosos, com Leis que legitimem a intolerância
e a segregação sócio-racial. Mantém viva a reflexão filosófica de Hanna Arendt sobre a
capacidade destrutiva da burocratização da vida pública como a maior ameaça às
sociedades democráticas: a temível banalidade do mal.
Em adição, a teoria das oportunidades e o estudo analítico da criminalidade possibilitam a
implementação de políticas públicas mais eficientes, com reflexos externos imediatos perceptíveis no seio
da sociedade. Corroboram com a missão estratégica nos órgãos de segurança pública de conquistar
vantagens competitivas da oferta do bem público e “segurança”, em curto prazo, acompanhando a
metamorfose do meio social.

Modelos baseados na teoria das oportunidades estão contribuindo com aparente


sucesso no desempenho dos órgãos de segurança pública em diversas sociedades. Talvez o
mais conhecido exemplo seja o de New York, onde os índices de criminalidade
diminuíram bastante a partir da introdução das novas estratégias de controle social, em
1994. A Polícia de New York iniciou o processo inovador de mapeamento e análise
estatística informatizada COMPSTAT (DAVIS, 1999), para localizar ocorrências de
crimes e atribuir responsabilidades aos comandantes pelo controle de suas respectivas
áreas jurisdicionais.
Abaixo se transcreve matéria publicada no jornal O Globo da Correspondente
internacional Helena Celestino na quarta-feira, 10 de agosto de 2005.

Queda de violência muda táxis em NY

Veículos deixaram de ter divisórias que desde 1960 separam passageiros dos
motoristas.
New York. É de matar de inveja os cariocas. O número de homicídios em
Nova York despenca e a prefeitura já pensa em aproveitar a queda livre nas estatísticas da
violência para mudar o desenho do interior dos tradicionais táxis amarelos, retirando a feia
divisória à prova de balas que há 45 anos separa motoristas de passageiros. Por absoluta
falta de necessidade, vai cair a barreira erguida em 1960 para proteger os motoristas de
assassinatos e roubos. Em vez de plásticos feitos para resistir a balas de revólveres calibre
38, os táxis vão ser equipados com monitores de vídeo e leitores de cartão de crédito.
22

As previsões indicam que este ano, pela primeira vez desde 1961, o número de
homicídios em New York deverá ficar abaixo de 500 e que o índice de assassinatos está
abaixo da média nacional.

Número de homicídios chegou a 2.245 em 1990.

Virou história do passado a época em que o crack entrou no mercado de drogas de


Nova York e elevou para dos 2.245 o número de mortes violentas, um recorde de triste
lembrança registrado em 1990. A partir daí, o número vem caindo progressivamente e a
última vez que um taxista foi assassinado foi em 1997.

Os passageiros vão ter espaço para esticar as pernas. A maioria gosta da idéia,
pois ficará livre da sensação de circular numa gaiola e passará a ter direito a uma vista
desimpedida da paisagem da cidade. Já os motoristas estão divididos. Os indiferentes de
sempre, acham que a divisão nunca garantiu totalmente a segurança, pois é preciso abri-la
para o passageiro indicar o rumo e pagar a corrida. Muito mais estimulante e a discussão
sobre o que fez reduzir tanto na vida real as cenas clássicas do cinema americano: assaltos
com mortes a postos de gasolina e lojas de conveniência abertas de madrugada.
Especialistas afirmam que a queda do número de homicídios não é resultado do
aumento de prisões, pois permanece inalterada há décadas a estatística indicando que 40%
dos crimes ficam sem solução e 60% deles os criminosos estão na cadeia.
A principal razão estaria num programa de computador incrivelmente sofisticado
chamado Compstat, que, baseado em dados estatísticos, sociais, raciais e ficha criminal, alerta
sobre quem pode cometer um assassinato, quando, onde e por quê. Estas indicações têm
permitido com sucesso uma ação preventiva da polícia.

Campanha permanente de posse de armas.

Além disto, existe uma campanha permanente contra a posse de armas e a


polícia de Nova York mantém uma severa política de punir quem comete crimes
menores a famosa tolerância zero contra vandalismo, desobediência civil, desrespeito às
leis de circulação e desenvolve uma campanha permanente.
Melhor de tudo é a discussão da moda. É possível domar a natureza humana e
acabar com crimes provocados por ciúmes, raiva, inveja? Se em 1990 os criminalistas
23

debatiam até onde o número de homicídios poderia crescer, o debate de 2005 é até onde
pode cair.

James Foz, criminologista da Universidade do Nordeste, analisa os índices de


criminalidade das 40 maiores cidades americanas e os ajusta a fatores demográficos, primeiro
separa por raça e depois os relaciona à pobreza e fragilidade da estrutura familiar, dos motivos que
levam ao crime. Com base neste modelo, acha que é possível, num bom ano o número de
homicídios em Nova York ficarem em torno de 385, e voltar a 2.047 num momento muito ruim.
Numa cidade de mais de 8 milhões de habitantes, onde em 2004 foram cometidos 55.000 crimes
violentos, sempre ocorrerão homicídios, premeditados ou não, cometidos por assassinos frios ou
por um homem enlouquecido de ciúme ou ainda numa briga em um bar após consumo excessivo
de bebidas. A conclusão dos especialistas é que instintos perversos são dificilmente controlados e
estarão sempre contribuindo para as estatísticas da criminalidade, mas policiamento mais efetivo
na porta de bares e clubes nas noites de sexta-feira e sábado pode prevenir assassinatos.
No Brasil, algumas poucas iniciativas tentam reproduzir a experiência norte-
americana, a exemplo do trabalho que vem sendo realizado pela Polícia Militar de Minas
Gerais, em parceria com o Centro de Estudo da Criminalidade e Segurança Pública –
CRISP, da Universidade Federal de Minas Gerais.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro com o apoio técnico-acadêmico do Instituto
de Segurança Pública também procura seguir o modelo teórico proposto pela teoria das
oportunidades e, assim busca localizar e controlar as manchas criminais na região
metropolitana, levantadas a partir de relatórios estatísticos periódicos contendo os
logradouros públicos com maior número de ocorrências criminais. Os efetivos policiais
são então, distribuídos e as ações implementadas para diminuir (por probabilidade) as
oportunidades de ações criminosas.
É importante observar que a adoção de modelos estrangeiros bem sucedidos de
controle da criminalidade não se faz de forma simples e com resultados homogêneos em
sociedades distintas. A especificidade da realidade social brasileira apresenta agravantes
estruturais que comprometem a implementação de políticas públicas de segurança.

Realidade social e políticas públicas no Brasil

A implementação de teorias e modelos de abordagens sobre o crime não se faz


de forma homogênea em distintas sociedades. A especificidade da realidade social
24

brasileira apresenta agravantes estruturais que devem ser considerados na implementação


de políticas públicas segurança que buscam o controle da criminalidade no Brasil.
Todavia, para entender a complexidade que envolve a política de segurança
pública no cenário político e social brasileiro, preliminarmente, faz-se necessário estudar a
transformação do crime de um problema social para problema público para esclarecer que
políticas de segurança pública apresentam limitações e encontram diversos fatores que
interferem e tanto na sua elaboração, quanto na execução.

Os agravantes estruturais do crime no caso brasileiro

A imprensa anunciou recentemente que o Brasil é um dos países mais violentos


do mundo, ocupando a terceira posição entre as maiores taxas de homicídio por habitante e
o quinto lugar no tocante à roubo (pesquisa da Organização das Nações Unidas). Segundo
os cálculos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que leva em conta os prejuízos
materiais, tratamentos médicos e horas de trabalho perdidas, o crime roubou no Brasil
cerca de 10% do PIB nacional, mais de 100 bilhões de reais por ano.

Ao longo da historiografia brasileira, indiferente à influência dos mais distintos


fatores e a todas as transformações político-sociais, é possível observar a manutenção de
estruturas de controle sociais coloniais no sistema criminal brasileiro, sobretudo nas
instituições policiais. Apesar do progresso jurídico-democrático da Constituição Federal de
1988, a Constituição Cidadã, tal democratização não se estendeu às relações de poder e formas
de controle social do Brasil, pois o sistema criminal continuou a representar a vontade do
Estado contra o cidadão, apoiado em uma estrutura excludente que não reconhece minorias e,
concordando com KANT DE LIMA (1999, p.24), não legitima uma nova ordem social
negociada, mas ao contrário, reprime conflitos proibidos e mantém cada um dentro do
esqueleto hierarquizante de nossa sociedade (DA MATTA, 1997, p.184).
Nessa sociedade, o indivíduo é mais importante que a coletividade. O espaço
público é local dos conflitos, que surgem como aberrações, ameaças graves ao sistema e
são administrados pela imposição forçada da conciliação, visando ao restabelecimento da
harmonia e do status quo, necessários para manter a hierarquia e a complementaridade
entre os seus elementos. É, portanto, perigoso e como tudo que representa é, em princípio,
negativo. O problema estaria sempre no coletivo e na multidão, esses estados seriam o
inverso do indivíduo que o sistema consagra como normal e ideal (DA MATTA, 1985).
25

Assim, na visão social corrente, o espaço público é algo movimentado,


propício a desgraças e roubos, local onde pessoas podem ser confundidas com indigentes e
tomadas pelo que não são (DA MATTA, 1985).
Por outro lado, na sociologia do crime e do controle social brasileiro,
(PAIXÃO, 1995, p.2) observa que dois mitos clássicos ainda se manifestam: os mitos do
marginal criminoso e das classes perigosas.
O mito do marginal criminoso determina uma correlação entre a pobreza
marginalizada e o crime, através de um foco penal individualista, como bem evidencia o
sistema criminal brasileiro. De forma simplista, expressa que na definição dos crimes o
peso social das elites político-econômica estabelecerá sobre as classes pobres
marginalizadas, quais serão as condutas criminosas.
O mito das classes perigosas é o desdobramento do mito do marginal
criminoso no plano da ação coletiva. Apresenta-se de duas formas da sociedade brasileira:
(1) no autoritarismo político e na existência de mecanismos de inclusão de
minorias que possibilitem a negociação e o estabelecimento de uma nova ordem social,
através de uma relação dialética que amplia a marginalidade social dessas classes, e
fortalecendo a expectativa de manifestações de violência das classes perigosas como sua
única forma de manifestação pública;

(2) na percepção do processo de democratização como fator de incremento da


adesão dos membros das classes perigosas ao crime organizado.
Sempre houve a preocupação social com as classes perigosas. O tema apareceu na
França, durante o período da restauração, mas foi somente através do estudo de Frégier (1840),
sobre a criminalidade urbana que ele foi popularizado. Incluiu larga variedade de categorias
morais e foi utilizado para justificar repressões militares que, porém, foram incapazes de conter e
enquadrar as classes perigosas.

CONSTRUINDO A POLÍCIA MODERNA

O ethos policial

A sociedade cobra cada vez mais de seus governantes mudanças nas


organizações policiais, sobretudo na forma como as instituições se relacionam com o
cidadão.
26

É necessário acreditar na possibilidade da Gênesis de um ethos policial, não


mais penalista ou militarista, que possibilite a construção da polícia "verdadeiramente"
moderna, deve-se primeiro definir o entendimento da sociedade democrática.
Como modelo de sociedade democrática, entende-se aquele onde o espaço
público se apresenta como um espaço coletivo negociado pelo público que dele faz parte
(KANT DE LIMA, 1999, p.24), que pertence ao local e que se compromete a conviver
com suas diferenças existentes, que foram explicitamente discutidas e aceitas.
Uma sociedade que garante tratamento igualitário às distintas individualidades
e estabelece uma igualdade formal onde todos têm direito iguais a sua diferença, desde que
ela seja expressa em termos aceitáveis pela sociedade local. A localidade dessa negociação
é determinante para a legitimação do acordo e, portanto, da ordem resultante.

Na ordem democrática se obedece às regras universais explícitas e os caminhos


individuais são trilhados de forma distinta e independente, através dos meios
institucionalmente definidos, legítimos e disponíveis igualmente para todos os seus
membros. Assim, os indivíduos alcançam posições sociais diferenciadas de acordo com
seus esforços e méritos próprios.
Desde o início, uma trajetória particular não implica impedimento para
realização de metas alheias, pois as linhas de ascensão social são paralelas e, portanto, não
convergentes. A previsibilidade sobre a normalidade do sistema se dá pela garantia das
escolhas individuais em concordância com as regras universais e, portanto, não se pode
querer o que não está oferecido explicitamente (KANT DE LIMA, 1999). Esse modelo
representa um sistema de inclusão das minorias, onde os conflitos, considerados
inevitáveis para vida social, aparecem como fonte de ordem quando devidamente
solucionados, através de negociações e barganhas, em que todos perdem um pouco e
ganham um pouco para que uma nova ordem consensual, dotada de maior abrangência,
torne possível o convivo social.
Correlacionada ao conceito de sociedade democrática, a polícia se apresenta
como sua única ferramenta capaz de forçar, por meios não violentos, o cumprimento
pacífico da lei, isto é, a polícia se constituirá na força legítima para to enforce the law. (dar
força a lei).
Na ordem democrática a obediência à lei é produto da negociação e do
consenso de uma determinada coletividade, de um certo espaço público, para preservar
seus diferentes interesses e que se fará cumprir pelo reconhecimento da legitimidade do
27

aparelho policial. A legitimidade repousará na aceitação da coletividade específica, local e


momentânea e cabe, portanto, a polícia negociar a utilização do espaço público com
autonomia, discricionariedade e responsabilidade para cumprir sua missão institucional.

A partir da compreensão do conceito de sociedade democrática e do verdadeiro


papel do seu aparelho policial é que se pode perceber que nem tudo a que se chama polícia
é polícia de fato para entender o que é "polícia moderna", deve-se regressar a Inglaterra do
início do século XIX, Sir Robert Peel, em 1829, a partir de princípios racionais, criou a
Polícia Metropolitana de Londres, para atender à necessidade de existência de uma força
profissional destinada a manter a ordem social, estruturada com base na hierarquia e
disciplina, orientada por ideais iluministas para ser capaz de produzir paz social através de
meios pacíficos e da resposta as insatisfações públicas motivadas pelas intervenções
arbitrárias e violentas do exército, tanto os instrumentos de segurança particulares,
verdadeiros exércitos privados, como o emprego das Forças Armadas se mostraram
ineficientes para o controle social, a despeito de sua ilimitada brutalidade (MUNIZ, 1999,
p.26).
Para que esta força civil pudesse se afirmar como mediadora das tensões sociais e
lutas pela garantia e expansão dos direitos civis e assegurar ao Estado o monopólio legal do uso
da força, deveria ser apartirdária, ser voltada para servir e proteger o povo e estar sob o
controle de seu representante legítimo, o Parlamento. Deveria ser exatamente o oposto da
temível Polícia Francesa de Fouchè, ferramenta autoritária a serviço de Napoleão
(MUNIZ, 1999, p. 25). Portanto, ao contrário do senso comum, polícia moderna não é
invenção recente.
Para Robert Peel, a missão básica para qual a polícia existe é prevenir o crime
e a desordem, pois, conforme sua própria origem histórica, ela surge da necessidade da
existência de uma força profissional destinada a pôr fim à crise de crimes de conflitos
urbanos que assolavam a Inglaterra, nos primórdios do século XIX. Essa é a missão básica
atribuída à polícia: o desempenho profissional, em tempo integral, da mediação dos
conflitos que constituem naturalmente o ambiente democrático, buscando estabelecer a
paz social através de meios também pacíficos, executando ações preventivas que visem
combater o crime ou repressivas com emprego de força comedida, quando for necessário
restabelecer a ordem social.

Sua atuação deve ser entendida como uma alternativa à sua repressão (do
crime e da desordem) pela força armada, pois as estruturas burocrática, logística e o
28

operacional militar, geram reflexos do Espírito combativo dos que são preparados para a
guerra, se mostrou inadequada para atuar em um contexto democrático e fracassou em
manter a ordem, usando violência para conter a violência.
O uso da repressão armada não apresentou efeito dissuasivo e contribui apenas
para o aumento da insatisfação pública, motivada por intervenções arbitrárias,
descontínuas e violentas do exército nos conflitos sociais (Muniz, 1999, p. 26), Em adição,
é igualmente esperado que a polícia moderna possa mediar a tensão entre o mundo das leis
e as leis do mundo (Muniz, 1999, p. 36), oferecendo uma opção viável ao controle da
criminalidade do que a incessante produção de novas leis ou o incremento da severidade
da punição legal.
A assimetria de poder entre grupos em uma sociedade resulta em conflitos político-
sociais onde alguns são mais influentes que outros e lutam para manter suas posições. Em geral,
códigos legais criminalizam aquilo que mais ameaça aos interesses das elites politicamente
dominantes, contudo, não encerram por definitivo o conflito uma vez que os grupos não satisfeitos
com a situação cristalizada em leis continuam suas lutas pelo reconhecimento e ampliação dos
seus direitos civis.
Das distintas sensibilidades jurídicas, naturalmente emergem choques entre o
estático ordenamento jurídico e o movimento dinâmico dos direitos difusos e emergentes,
neste espaço de tensão, cabe a polícia moderna mediar o rigor de normas abstratas que
regulam relações sociais gerais às diversas realidades circunstanciais do dia-a-dia
(MUNIZ, 1999, p.168).

O aparelho policial moderno atua no amplo e multifacetado ambiente urbano,


no espaço público, em constante interação com os indivíduos, acompanhando a dinâmica
político-social de produção da cidadania e da própria ordem pública. Necessita se adequar
às críticas e demandas da sociedade para poder servir a sociedade conforme se propõe
ideologicamente (MUNIZ, 1999. p.34), deve reafirmar a cada momento sua legitimidade
para que possa ofertar segurança como bem público e preservar a ordem social
pacificamente.
Peel afirma que a habilidade da polícia para realizar sua tarefa é dependente
da aprovação pública de sua existência, ações, comportamento e capacidade de
assegurar e manter o respeito público. A polícia moderna se apresenta como instituição
dotada de conhecimento profissional específico, que tem como razão da própria existência
o exercício legítimo e discricionário do “poder de polícia”, na negociação dos conflitos
29

sociais e produção da obediência civil por meios pacíficos, por mais complexo que seja o
vasto mundo da preservação da ordem pública (MUNIZ, 1999.p.267).
A interação cordial "policial e cidadão" é fundamental para a eficiência do trabalho
de preservação da ordem pública, desta forma, a polícia deve sustentar cooperação pública nas
tarefas de observância às leis. Através da aproximação com todos os segmentos da sociedade,
as áreas de tensão e os espaços de real e necessário emprego da força policial serão
identificados, assim como a cooperação geral pode ser estabelecida voluntariamente, seja pela
legitimação do trabalho policial e o livro consentimento da observância à ordem vigente
diminuindo o número de ocorrências policiais ou ainda auxiliando a fiscalização da sua
preservação potencializando a ação policial através da vigilância de cada cidadão.

Uma vez interagindo com a sociedade, a polícia moderna deve buscar e


preservar a confiança pública pela imparcialidade na aplicação das leis através da ação
profissional, universal e explícita, consolidada por valores éticos que não aceitem
distinções de idade, sexo, etnia e classe. Para tal, deve possuir "completa independência da
política", a fim de não servir como instrumento de opressão das minorias em prol de elites
dominantes. A polícia deve romper os grilhões da sociedade hierarquizadora e pessoalista
(DA MATTA, 1997, p.195), conscientizando-se a respeito da realidade social e do seu
verdadeiro papel político: provedora de democracia através da garantia da segurança como
um bem público, assegurado cotidianamente pela oferta de serviços individualizados e
amigáveis para todos os cidadãos sem distinção de riqueza ou padrão social.
Atendendo a sua destinação pública, deve orientar suas ações em conformidade
com os mesmos valores iluministas e humanitários com que foi concebida inicialmente,
concentrando todos seus esforços no sacrifício de proteger e preservar a vida, o bem
maior de todos os seres humanos.
Na sociedade moderna, urbana e industrial, o caráter multifacetado, complexo e
dinâmico de distintos valores culturais se manifesta intensamente e o individualismo
niilista passa a regular cada vez mais a vida social, tornando fictício acreditar em uma
hierarquia valorativa comum. Assim, constantemente, ocorrem rupturas na ordem vigente e
a mediação da polícia não consegue estabelecer um acordo voluntário para a reconstrução da
normalidade. Segundo Peel, torna-se imprescindível usar a força física (policial, a partir do
momento em que) os recursos da persuasão forem insuficientes para garantir a
observância às leis e restaurar a ordem. A polícia moderna, nestas situações, deve-se
sempre usar o mínimo de força necessária para alcançar os objetivos policiais.
30

Deve reconhecer sempre que a cooperação do público diminui


proporcionalmente ao emprego da força física para alcançar os objetivos policiais, uma
vez que a violência desnecessária e desmedida é amplamente condenada e repudiada por
todos, fazendo com que interação policial-cidadão, aos poucos acabe por se desintegrar
comprometendo a legitimidade fundamental para atividade policial.
Em contrapartida, deve se sustentar em todos os momentos o relacionamento
com o público para tornar concreta a tradição de que polícia é o público e o público é a
polícia. Essa identificação recíproca possibilita a humanização dos policiais em mão
dupla. Por um lado, a comunidade passa ver o policial como um ser humano normal,
cidadão com iguais direitos e deveres, qualidades e defeitos, apenas treinado para exercer
com exclusividade à atividade essencial de preservação da ordem pública.
Por outro lado, o policial reforça a imagem do cidadão como aquele a quem
deve servir e proteger, os policiais são apenas membros do público que são pagos para
dar atenção integral às obrigações dos cidadãos de manter o bem-estar de suas
comunidades.
A polícia se apresenta para sociedade como a encarnação mais concreta e
cotidiana da autoridade formal e legal do Estado, capaz de responder operativamente as
distintas e emergenciais demandas por ordem pública (MUNIZ, 1999, p.34). Então,
Robert Peel ressalta que deve reconhecer sempre a necessidade da estrita adesão às
funções executivas de polícia e abster-se de procurar usurpar os poderes do judiciário.
A ampliação informal dos limites legais da atuação policial cria espaços de
clandestinidade, onde os mecanismos excludentes de nossa sociedade são reproduzidos e
reforçados através de um atendimento personalizado, de acordo com o status quo dos
envolvidos, o nível de relacionamento pessoal destes com as autoridades policiais ou
ainda, os interesses particulares em jogo que podem ser transformados em benefícios
financeiros para os representantes da lei; para Robert Peel, isto faz com que se dêem os
direitos de assumir as vinganças individuais, de julgar e punir. Exemplos pontuais desta
triste realidade são vez por outra divulgados na mídia como a Favela Naval, Carandiru etc.
e corroem integralmente a imagem das Instituições Policiais.
Há incoerência em discursos políticos e políticas públicas de segurança que não
procuram reconhecer sempre que o teste da eficiência da polícia é a ausência de crime e
desordem, e não a evidência das ações visíveis de polícia em tratar com eles. Cabe a
polícia moderna a preservação da ordem social, através de uma ação preventiva que visa o
31

não acontecimento do ato delituoso; uma ação que, por sua própria ostensividade, obtém
resultados positivos, ainda que de baixa visibilidade pública (MUNIZ, 1999, p.270).

Ao final da reflexão sobre os princípios que norteiam a polícia moderna nas sociedades
democráticas, de antemão, observa-se que a democracia não se estende no Brasil por inteiro, e que
existem espaços aonde a cidadania ainda não chegou, e que esta alarmante realidade é facilmente
evidenciada na atuação das organizações policiais:
Há, de fato, dois brasis, bem de baixo de nossos narizes, vivendo em
dimensões ou universos inteiramente distintos, nem sempre
intercomunicáveis. A maior diferença entre eles é que a legalidade
democrática só tem plena validade para os que habitam o mundo
privilegiado das classes superiores. O maior indicador do abismo que
separa a “cidade partida” é o comportamento policial e as reações da
mídia a brutalidade policial (SOARES, 2000, p.41).

As polícias brasileiras atuam no paradoxo entre a manutenção das estruturas de


poder da sociedade hierárquica e o dever de respeitar leis do estado democrático, tão
enaltecido em discursos políticos demagógicos e cobrado diariamente pela mídia. Ainda
que as causas deste quadro caótico fujam a competência da polícia Luiz Eduardo Soares
tem razão ao afirmar que há muito a fazer na área da segurança pública.
É possível buscar o controle da criminalidade através de políticas públicas de
segurança responsáveis, que almejem reestruturar e civilizar as nossas polícias, segundo os
princípios de Robert Peel, perfeitamente válidos e atuais. A construção da nova polícia
verdadeiramente moderna aponta para a qualificação técnica, a modernização tecnológica
e gerencial, o resgate da auto-estima profissional, a moralização ética das instituições, a
participação comunitária e, sobretudo, a compreensão de que é possível atingir a eficiência
policial respeitando indivíduo. As polícias devem como ponto de partida, redirecionar o
foco do combate ao crime e sintonizar seus serviços com a verdadeira razão de existência
das polícias modernas: servir e proteger os cidadãos.

Conforme afirmou o então Secretário de Segurança Pública do Pará, em suas


reflexões publicadas no ano de 2002, o sistema de segurança pública do Pará tem
consciência de que o modelo policial brasileiro é voltado para o combate ao crime e não
tem como atender a maioria das demandas de segurança da sociedade (SETE CÂMARA,
2002, p.147). Seu esforço de construir uma nova relação entre a polícia o cidadão, vem
estimulando a sociedade a desempenhar um papel mais ativo na segurança coletiva.
32

O tratamento estatístico da criminalidade e do trabalho policial no Brasil é


recente, e a criação de indicadores confiáveis ainda está em andamento. Nesse sentido
(SETE CÂMARA, 2002, p.26) explica:

Não pensem que é fácil mensurar a qualidade da segurança do


cidadão. Os dados sobre a criminalidade são importantes, mas não
esgotam o assunto. Há de se medir e analisar as chamadas de
emergência, avaliar as medidas práticas adotadas pelo aparelho
policial, identificar o grau de resolução das ocorrências registradas
(procedimentos concluídos e remetidos à justiça), cotejar as estatísticas
de acidentes / delitos de trânsito e, finalmente, promover e avaliar
pesquisas de opinião do cidadão sobre sua polícia.

A utilização de pesquisas de vitimização como um indicador complementar,


para melhor aferição do desempenho do serviço policial está em harmonia com o proposto
de uma política de segurança pública integrada, pois possibilita maior comunicação entre
as instituições policiais e o cidadão. O novo indicador permitirá, enfim que as instituições
policiais contabilizem a percepção social da segurança pública.
Max Weber subscrevia à afirmação de Trotski: "Todo o estado é baseado na
força", e desenvolvia, mais sociologicamente, o Estado contemporâneo é uma
comunidade humana que, nos limites de um território determinado, reivindica com
sucesso por sua própria conta o monopólio da violência física legítima. Essa
reivindicação se sustenta de várias maneiras, ideológicas, jurídicas, mas antes de tudo
pragmáticas: pela criação, manutenção e comando de uma força física suscetível, por sua
superioridade, de impedir a qualquer outra pessoa o recurso à violência, ou de contê-lo nos
quadros (nível, formas, objeto) que o próprio Estado autoriza. Essa força pública é mais
comumente denominada polícia.
A generalização da forma estatal na superfície do planeta foi acompanhada pela
estatização de instituições policiais; disso não decorre, de forma alguma, que seja sempre
em toda parte, ou mesmo jamais, satisfeita totalmente a reivindicação dos Estados
(diretamente ou por instâncias delegadas) de exercer o monopólio do uso legítimo da força
física. Pode ocorrer que polícias sejam submergidas pela sublevação popular ou pelo golpe
de Estado militar, e a ilusão do monopólio se espatifa. Pode acontecer que segmentos
inteiros do corpo social neguem qualquer autoridade à força pública, e a pretensão à
legitimidade se revela infundada. Não se trata, pois de definir a polícia como a expressão e
a realização do monopólio estatal da violência legítima. A realidade do monopólio, a
extensão da legitimidade são questões de fato, que dependem, para cada sociedade
33

considerada de um levantamento (enquête), de resto, difícil. Em compensação, a


inspiração weberiana permanece essencial para compreender a polícia como expressão, e
como instrumento, da reivindicação permanente inerente às comunidades políticas e não
só à comunidade estatal de deter em seu território o monopólio dos empregos legítimos da
força.
Se é possível fazer-se uma sociografia dos aparelhos policiais, não seria,
portanto, o caso de elaborar uma sociologia "da polícia" apreendendo-a como órgão em si,
isolável do conjunto das relações sociais de que ela é a aposta e o produto. Do mesmo
modo que não há uma sociologia da arte, mas sim da produção e do julgamento social das
obras simbólicas, do mesmo modo que não há uma sociologia da escola, mas mecanismos
instituídos de socialização e de transmissão dos saberes, não existe sociologia da polícia,
mais uma sociologia dos usos sociais da força e da legitimação do recurso à força nas
relações políticas (isto é, nas relações sociais em que uma instância política é
protagonista). Quando se trata de saber "o que faz a polícia", isso será no duplo sentido da
expressão: empírico (descritivo) e teórico (funcional).

No sentido empírico ou descritivo: numa dada sociedade, um conjunto de


instâncias, poderes, autoridades, administrações, corporações, serviços, quadros, se
identifica como "polícia". Trata-se de compreender seu funcionamento, desde o
recenseamento das normas que a instituem até a franca exposição das práticas cotidianas
de seus agentes. Esse primeiro tempo obrigatório do andamento de pesquisa não tem
especificidade alguma: ele recorre a todos os métodos de levantamento possíveis
(observações de campo, em entrevista, questionário, sondagens, análises secundárias etc.)
e mobiliza todas as subdisciplinas da sociologia (sociologia do trabalho, das profissões, da
organização, sociologia política, análise estratégicas etc.). Sobretudo, esta fase de
desconstrução do objeto não o especifica à primeira vista: as operações de pesquisas são
idênticas àquelas que seriam empregadas por um questionamento da escola, do hospital,
da empresa, da profissão de padeiro ou de pesquisador. É, ao mesmo tempo, a fecundidade
e o limite dessa diligência. Fecundidade, por exemplo, da análise organizacional, quando
ela mostra que em toda a organização hierarquizada e complexa manifestam-se círculos
viciosos burocráticos: assim, o saber acumulado pela empresa (por exemplo) pode se
revelar útil para compreender o funcionamento de uma delegacia. Mas também limite,
quando a empresa e a delegacia são reduzidas ao que elas têm em comum, e, portanto
interpretadas sem referência aos próprios fins.
34

Reintroduzir essas finalidades próprias, as finalidades da polícia, é, portanto o


segundo tempo obrigatório da análise, que depende da conceitualização sociológica, ou
reconstrução. Trata-se então de especificar o objeto polícia, isto é interrogar "o que faz a
polícia" nas relações sociais, identificar papel próprio, irredutível e insubstituível (se é que
existe), que ela preenche. Ou, caso se prefira, de pensar as questões colocadas pelas
relações sociais em que, nas sociedades políticas, a resposta foi criar instâncias
denominadas "polícia".

Desconstrução e reconstrução se sustentam reciprocamente, no sentido de que


cada uma opera como crítica da outra. Assim, a análise empírica do trabalho policial
mostra imediatamente que a ação policial é posta em movimento, cotidianamente numa
delegacia, por três fontes. Certas tarefas são prescritas de maneira imperativa pela
hierarquia superior: serviço deve fornecer no dia tal, à hora tal, tantos agentes para uma
transferência de detentos, a guarda do departamento ou uma expulsão de vagabundos.
Outras são respostas mais ou menos obrigatórias às solicitações do público: notadamente,
a apresentação de queixas ou recursos à "Polícia de Resgate". Outras enfim são de
iniciativa policial: tal observação, informação ou acontecimento suscitou interesse de um
policial, o da patrulha, ele ou ela acompanha o caso. Esta simples observação permite
inferir que o aparelho policial é indissociavelmente:
- um instrumento do poder, que dá ordens;
- um serviço público, suscetível de ser requisitado por todos;
- uma profissão, que desenvolve seus próprios interesses.
Tripla determinação que não tem razão alguma para fundir se em perfeita
harmonia. Ao contrário, essas três dimensões podem se confrontar como lógicas de ação
distintas e concorrentes. O funcionamento policial cotidiano é a resultante de tensões
perpétuas (conflitos, compromissos) entre essas três lógicas, e em toda "teoria" da polícia
(coisa que não falta) que lhe serve de função ou razão, é inválido haver um só desses três
termos pela incapacidade de sozinho dar conta do conjunto das práticas observadas. É a
mesma polícia, são os mesmos policiais, que, ao final de uma operação particularmente
truculenta de manutenção da ordem, acabam com o engarrafamento, salvam os feridos no
acidente, acolhem e tranqüilizam uma mulher agredida, põe fim a um caso com refém,
dominam um demente ameaçador, ficham os supostos opositores do poder, e, de dia,
fazem funcionar um circuito de motos para os jovens de uma cidade que, à noite eles
perseguirão. Nada é mais enganador do que a distinção de uma “boa” polícia, que protege,
35

em oposição à “má” polícia que reprime. Sabe-se, aliás, que a divisão dos papéis entre o
bruto ameaçador e o salvador compreensivo é uma das mais velhas técnicas do
interrogatório policial.
36

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Este capítulo trata dos aspectos metodológicos utilizados e refere-se aos


participantes do estudo, a instrumentação, coleta e tratamento dos dados.

Participantes da Pesquisa

Os participantes deste estudo são o Chefe do Estado-Maior Geral (EMG), o Chefe da


Assessoria de Planejamento Orçamento e Modernização (APOM), a Diretora Presidenta do Intituto
de Segurança Pública – ISP, os oficiais superiores comandantes das Unidades Operacionais (UOp) e
oficiais e praças das Unidades Operacionais (UOp) a seguir: 1º BPM, 17º BPM, 7º BPM, 12º BPM,
10º BPM, 28º BPM, 20ºBPM, 24º BPM, bem como uma comunidade de moradores de cada área de
atuação das unidades policiais citadas, num universo de 380 policiais militares e 800 civis.
Foram entrevistados o Coordenador dos Conselhos Comunitários de
Segurança do Estado do Rio de Janeiro do Instituto de Segurança Pública, Robsom
Rodrigues da Silva, o Analista Criminal Renato Coelho Dirk e o Analista Criminal Marcus
Ferreira.

Instrumentação

Foram realizadas entrevistas de maneira informal com o Chefe do EMG da


PMERJ, o Chefe da APOM e a Diretora Presidente do ISP; e, foram aplicados
questionários com perguntas fechadas e abertas aos oficiais e praças das UOp, com o
propósito de coletar dados da experiência e da visão que estes possuem a respeito dos
37

indicadores de avaliação de segurança da nossa sociedade e foram distribuídos questionário


fechados às comunidades.

Coleta e Tratamento dos Dados

As autoridades, as quais foram solicitadas as entrevistas, foram colocadas a


par do teor deste estudo, no momento em que foi realizado o primeiro contato. Foram
realizados contatos com os comandantes das OPM e os presidentes das associações de
moradores das áreas de interesse selecionadas, solicitando permissão para aplicação dois
questionários no horário a ser estipulado pelos respectivos chefes.
Os dados coletados foram tabulados estatisticamente, de forma a expressar
frequência e percentuais e, apresentados em gráficos e tabelas que somados às entrevistas
permitirâo uma análise e interpretação que conduzirá a conclusões do estudo realizado.
38

CAPÍTULO IV

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Objetivando tornar a apresentação estruturada, as respostas às entrevistas e aos


questionários foram grupadas nas referências das questões investigadas.

Considerando se existe alguma avaliação no campo operacional do trabalho


realizado pela PMERJ e se este corresponde às expectativas da Corporação e da sociedade no
que diz respeito a sua eficiência, a Drª. Ana Paula Mendes de Miranda, Presidenta do Instituto
de Segurança Pública, afirma que os responsáveis pela execução do trabalho policial são
ineficientes e ineficazes, tendo como subjetivo os mecanismos de controle, segundo sua visão
deve haver uma avaliação geral sistêmica e uma individual focada em metas e resultados, de
forma meritocrática, tal sistema de avaliação não existe no Brasil, cujos critérios são objetivos
focados na competência, no esforço e na meta, diferente do critério por merecimento, cujos
critérios de avaliação são subjetivos e susceptíveis de erros e injustiças. Segundo a
entrevistada e preciso avaliar a qualidade do serviço de forma que a população possa dizer
claramente o que ela espera do serviço policial objetivando forçar os órgãos de segurança a
redirecionarem suas metas através do planejamento fundamentado. Finaliza dizendo que todo
sistema de avaliação dever ser revisto e aprimorado, sendo único em todo Estado, porém com
instrumentos diferenciados, de forma que a estatística não seja o único mecanismo de
avaliação.

Segundo o Chefe do Estado Maior da PMERJ a avaliação é importante,


entretanto deve ser ampla e sistêmica envolvendo a sociedade como um todo. Não
obstante os dados serem estatísticos destaca-se em ordem de importância a prevenção, a
repressão e o afastamento do marginal do seio da sociedade com apoio inequívoca da
mesma, desta forma comprova-se que antes dos dados serem estatísticos, não
matemáticos, e as informações são sociais.
Na opinião dos Comandantes das Unidades Operacionais das áreas entrevistadas há
uma unanimidade em considerar o sistema de avaliação como um simples acompanhamento dos
índices de cada Área Integrada de Segurança Pública.
39

Quanto à questão de avaliação do trabalho policial militar, utilizado


atualmente pela Secretaria de Segurança Pública, estatisticamente obteve-se o seguinte
resultado com os policiais militares: não responderam 39,47%, consideraram satisfatório o
atual modelo 28,42% e consideram injustos 32,10%.
No que tange ao método de avaliação dos Policiais Militares, os mesmos julgam
serem avaliados da seguinte forma: 25% através das apreensões que realizam 35,52% através das
prisões e 39,47% através do controle da criminalidade.

A opinião da comunidade, com relação ao atual modelo de avaliação, 10,85%


considera que se deve adotar outro modelo; 20% encontram-se insatisfeitos; 29,25% não
responderam e 39,25% consideram o atual modelo incompleto.

Gráfico 1
O Atual modelo de avaliação do trabalho policial militar na opinião da comunidade

39,25%
40,00%
Outro Modelo
35,00% 29,25%
30,00%
Insatisfeito
25,00% 20%
20,00% Não Responderam
15,00% 10,85%
10,00% Incompleto
5,00%
0,00%

Verifica-se que 53.25% dos cidadãos civis já utilizaram os serviços da polícia


militar e 46,75% não os utilizaram. Dos que utilizaram os serviços da Polícia Militar,
30,78% dizem terem sido bem atendidos, e 41,79% dizem não terem sido bem atendidos e
25,55% foram bem atendidos em parte.
40

Na opinião de 81,87% das pessoas questionadas um rápido atendimento de


uma ocorrência, desde a solicitação através do telefone 190, até a chegada da viatura é
um importante instrumento de mediação do trabalho da Polícia Militar. Apenas 18,13%
entenderam que não.

No que se refere ao modo de atuação da PMERJ, 31,62% das pessoas


questionadas entendem que este modo deve ser escolhido pela própria sociedade, 29,75%
pela Secretaria de Segurança Pública, 22,87% pelo Governador, 14,37% pelo Comandante
da PM e 1,37% pelos quatro juntos.

Gráfico 2
Escolha do modo de atuação da polícia militar

31,62%
35,00% 29,75%
Sociedade
30,00% 22,87%
Sec. Seg.
25,00%
20,00% Governador
14,37%
15,00% Cmt Geral
10,00% Todos
1,37%
5,00%
0,00%

Analisando o teor da questão investigada com base nas entrevistas e


questionários, ficou evidenciado que as autoridades públicas e a sociedade civil
caminham na mesma direção no sentido da sociedade ser ouvida no que tange ao
trabalho policial. Quanto ao atual método de avaliação as idéias também convergem
para o mesmo caminho.

Investigando se os policiais militares estão realizados profissionalmente com as atuais


avaliações feitas pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro
(SESEG/RJ), a Presidenta do ISP disse que a avaliação que existe é de iniciativa da própria
Corporação, e não da Secretaria de Segurança Pública. O Chefe do Estado Maior da PMERJ entende
41

que os policiais militares estão satisfeitos. Já os Comandantes, em suas entrevistas, entendem que o
atual método atende aos propósitos a que se destina, muito embora entendam que os policiais não
estejam satisfeitos.
Em questionários distribuídos aos Policiais Militares para descobrir se a atual
avaliação condiz com os objetivos do trabalho policial, foi observado que 71,84%
entendem que sim e 28,16% entendem que não.

Gráfico 3
Entendimento dos policiais se a atual avaliação condiz com os objetivos do trabalho
policial

28,16%

Sim
Não

71,84%

Foi também respondido pelos policiais militares se o atual modelo de avaliação


ajuda o mesmo a ter uma melhora no serviço, sendo respondido por 55,78% que sim e
44,21% que não.

Gráfico 4
Entendimento dos policiais se o atual modelo ajuda o policial a melhorar o seu
trabalho

4 4 ,2 1 %
S im
N ão

5 5 ,7 8 %
42

Analisando as entrevistas e gráficos acima se verifica que ocorre um


predomínio por parte dos policiais militares, no sentido de acharem que a atual avaliação
está condizente com o trabalho policial, bem como com o seu progresso. Comunga com a
mesma idéia o Senhor Chefe do Estado Maior da PMERJ, diferentemente dos
comandantes entrevistados.
Investigando as avaliações realizadas podem de alguma forma contribuir para
uma maior eficiência ao trabalho a ser executado pela PMERJ, o Senhor Chefe do Estado
Maior ao ser entrevistado disse que a sociedade está sempre em transformação, em
evolução, logo haverá no futuro necessidade de modificar o sistema de avaliação para ter
melhores indicadores. Atualmente os existentes atendem às necessidades.
Em entrevista aos comandantes das Unidades Operacionais elencados no
estudo, estes afirmam que melhores indicadores devem ser implementados
gradativamente, de acordo com as demandas verificadas.
Em relação aos policiais militares questionados foi observado que 56,31%
entendem que esta avaliação é correta e 43,69% entendem que não. Dos questionados do
mesmo público, 60% entendem que quando há diminuição das estatísticas dos principais
crimes em suas áreas de atuação os seus superiores notam como sendo positivo, 40%
entendem que não.

Gráfico 5
Percepção do policial militar no que tange a correção da atual avaliação.

43,69%

Sim
Não

56,31%
43

Em relação a opinião das comunidades questionadas, quanto a atual assistência


que a polícia militar vem dando a sua comunidade, verificou-se que 25,25% estão
satisfeitos, 31,37% estão parcialmente satisfeitos e 43,37% não estão satisfeitos.

Quanto ao conceito dado pelas comunidades trabalho policial militar foi


observado o seguinte: 6,61% ótimo, 25,45% bom, 56,03% regular e 11,9% insuficiente.

Gráfico 6
Conceito dado pela comunidade ao trabalho

56,03%
60,00%

50,00%

40,00%

30,00%
25,45%

20,00% 11,03%
6,61%
10,00%

0,00%
Ótimo Bom Regular Insuficiente

Analisando as entrevistas e as respostas dos questionários, evidenciou-se que a


população de modo geral não se encontra satisfeita com a atual assistência que lhe esta
sendo dispensada, entretanto os policiais militares questionados acreditam em sua maioria
que não existe motivo para mudanças.
Com o objetivo de investigar se os indicadores atuais podem ser modificados para
melhor cumprirem seus objetivos ou novos indicadores devem ser investigados, em entrevista
com a Presidenta do Instituto de Segurança Pública a mesma ratifica que todo sistema de
avaliação deve ser revisto e aprimorado.

Segundo o Chefe do Estado-Maior da PMERJ, o mesmo afirma que no


momento atual satisfaz inteiramente às necessidades, muito embora, como já foi dito
anteriormente, entende mesmo que por motivo de dinamismo da sociedade haverá
necessidade de mudanças no futuro.
44

Em entrevista aos comandantes das Unidades Operacionais elencados estes


afirmam que melhores indicadores devem ser implementados gradativamente, de acordo
com as demandas verificadas.

Em relação aos questionários distribuídos ao público interno, foi observado


que 31,31% entendem que existem outras maneiras de se avaliar que não seja a forma
atual, não responderam 22,36%, e diminuição da criminalidade 19,73%, opinião pública
15,26% e 11,31% acham que o atual sistema é satisfatório.

GRAFICO 7
A melhor maneira de avaliar o serviço policial militar

Outras maneiras
31,31%
35,00%
Não responderam
30,00% 22,36%
25,00% 19,73%
Diminuição da
15,26%
20,00% 11,31%
criminalidade
15,00% Opinião pública
10,00%
Satisfatório
5,00%
0,00%

Quanto a avaliação que o próprio policial militar dá ao serviço da Polícia


Militar como usuário deste, verificou-se o seguinte resultado: 40% acham bom, 36,84%
acham regular, 14,21% acham ótimo e 8,94% julgam ser insuficientes.

Em relação ao questionamento feito às comunidades de qual seria a melhor


maneira de avaliar o trabalho policial, foi apurado o seguinte: 71,75% não responderam,
19,12% responderam que deveria ter o número de assaltos reduzidos, 4,87% responderam
que deveria ser feito através de cálculos estatísticos e 4,25% responderam que deveriam
ser feito através pesquisa popular.
Foi perguntado também se um rápido atendimento de uma ocorrência, desde a
solicitação, através do telefone 190, até a chegada viatura é um importante instrumento de
medição do trabalho da polícia militar, sendo respondido que sim por 81,87% e não por
18,13% dos questionados.
45

Gráfico 8
Atendimento do telefone 190 como um importante instrumento de medição do
trabalho da polícia

18,13%

Sim
Não

81,87%

Analisando as entrevistas e respostas dos questionários acima se observa que é


difícil determinar indicadores que possam mensurar qualitativamente o trabalho policial
militar e que a própria sociedade não tem referencial.

Investigando se os indicadores utilizados pela SESEG/RJ, em relação ao


trabalho policial militar e seus resultados tem ligação direta com sua rotina profissional,
em entrevista com a Presidenta do ISP/RJ, já foi ratificado anteriormente, que tal iniciativa
de avaliação com os critérios de número de prisão, apreensão de armas e tóxicos, não foi
iniciativa da SESEG/RJ e sim das corporações PMERJ / PCERJ. O senhor chefe do
Estado Maior da PMERJ, ratifica que os indicadores têm relação com a rotina e são
sugestões dos comandantes das unidades operacionais. Segundo os comandantes das
unidades operacionais, a missão primordial é a manutenção da ordem pública e o critério
utilizado para alcançá-lo é a aplicação racional do efetivo, tendo por base os índices de
incidência criminal, os anseios sociais e a percepção das mazelas que atingem a
comunidade atendida. Metas secundárias, tais como quantidade de armas a serem
apreendidas, servem mais como um paramento de atuação.
Nos questionamentos feitos aos policiais militares alvos do estudo, se os
mesmos acham que todas as missões executadas em suas jornadas de trabalho são
efetivamente de função policial, ficou evidenciado que 88,16% entendem que não e
11,84% entendem que sim.
46

Gráfico 9
Percepção do policial militar se as missões executadas em sua jornada de trabalho
são consideradas função policial.

11,84%
Sim
Não

88,16%

Dando continuidade ainda foi questionado ao policial militar se ele acredita


que a boa apresentação pessoal, a educação, o bom senso, o profissionalismo e a
preocupação com os resultados são importantes para o seu trabalho, tendo sido respondido
sim por 78,94%, em parte 16,57% e não 4,47%.

Em relação à opinião das comunidades estudadas acerca do mesmo


questionamento acima se obteve o seguinte resultado: 79% sim, em parte 16,37% e não
4,62%. Dando continuidade, questionou-se o que o cidadão considera mais importante,
prender marginais da lei e apreender armas e tóxicos ou atuar diretamente na prevenção e
nos pequenos delitos diários que agem diretamente no sentimento de impotência da
comunidade e medo coletivo e na resolução de conflitos, obteve-se o seguinte resultado:
64,62% acham mais importante a prevenção, 33,50% acham a prisão de marginais e
apreensão de armas e tóxicos e 1,88% ambas.

Gráfico 10
Percepção dos cidadãos sobre qual seria a melhor forma de atuação da PMERJ

1,88% Prevenção
33,50% Prisão e apreensão
Ambas

64,62%
47

Analisando as entrevistas e respostas dos questionários, percebe-se que a


sociedade tem uma visão bem próxima do que pensa os profissionais de segurança
pública, contrariando alguns mitos existentes na corporação sobre a participação da
mesma no planejamento operacional.

Investigando quais são os óbices em avaliar o desempenho operacional


segundo a Presidenta do Instituto de Segurança fica creditado como maior dificuldade a
ausência de critérios objetivos de avaliação. No modo de ver dos comandantes das
unidades estudadas, o campo da segurança pública não pode ser tratado de forma
simplória, trata-se de um aspecto complexo que requer uma abordagem multifacetada e
extremamente dinâmica.

Questionando o policial militar se ao cumprir uma missão da Seção de


Planejamento e Operação Policial (P/3) da sua unidade operacional, se sente realizado
profissionalmente com a execução de feito simplesmente ou se compromete e se preocupa
com o efetivo resultado, obteve-se como resposta a preocupação com o resultado 53,15%,
não se sente realizado profissionalmente 27,89% e 18,94% a simples execução do feito.
Foi interpelado ainda se o policial militar acredita ter autoridade e poder de decisão
suficiente para levar uma ocorrência policial a bom termo, ou necessita de mais
informação, conhecimento profissional e poder, obteve-se o seguinte resultado: 57,89%
entendem que precisam de mais conhecimento, informação e poder, 20,78% entendem que
possuem autoridade suficiente, 17,89% entendem que é impossível na atual conjuntura
levar uma ocorrência policial a bom termo e 3,42% não observaram tal questionamento.

Gráfico 11
Entendimento do Policial Militar acerca de sua Capacidade de bem Administrar
uma Ocorrência Policial

57,89% Precisam de mais


60,00% conhecimento e Poder

50,00% Autoridade suficiente

40,00%
Impossível chegar a
30,00% 20,78%
17,89% bom termo
20,00% Não observaram
3,42%
10,00%

0,00%
48

Analisando estas respostas nos sentimos preocupados com o percentual de


profissionais de segurança pública que não tem comprometimento com os resultados de
seu trabalho e a constatação da carência de informação.

O CAMINHO DA INFORMAÇÃO SOBRE DELITOS NA POLICIA DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDO RENATO COELHO DIRK
ANALÍSTA CRIMINAL DO NÚCLEO DE PESQUISA DE JUSTIÇA CRIMINAL
DO INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO.

Pretende-se descrever e analisar os caminhos que a informação percorre desde


o primeiro momento, na chegada do policial ao local do fato, até a confecção do banco de
dados pelo Grupo Executivo do Programa Delegacia Legal (GEPDL), passando pelo
registro de ocorrência em Delegacia de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Deste
modo, pode-se perceber como é gerado o banco de dados dos registros de ocorrência da
Polícia Civil. Devido às mudanças de órgãos responsáveis pela conformação destes dados,
serão analisados somente os caminhos e descaminhos da informação a partir de 2005,
quando a consolidação dos dados passou à responsabilidade do Grupo Executivo do
Programa Delegacia Legal. Antes, o órgão responsável pela consolidação dos dados era a
Assessoria de Planejamento e Controle da Polícia Civil (ASPLAN).
Apenas os fatos registrados em Delegacias de Polícia constam desse banco de
dados. É importante ressaltar, também, as chamadas subnotificações, representadas pela
grande quantidade de delitos que não chegam a ser registrados. Porém, neste trabalho,
estamos enfocando somente os homicídios dolosos, cuja subnotificação é menor se
comparada, por exemplo, com o roubo a transeunte ou com os crimes contra os costumes,
como estupro e atentado violento ao pudor nos quais as vítimas têm vergonha ou medo de
informar os fatos às autoridades - e que têm taxa de subnotificação historicamente alta.
As subnotificações podem ser altas ou baixas dependendo da dinâmica,
complexidade ou objeto do delito. Assim como no homicídio, nos casos de roubo e furto
de automóveis as taxas são baixas, uma vez que é necessário o registro de ocorrência (RO)
para dar entrada no seguro ou, ainda, para que a vítima possa se resguardar de possíveis
delitos cometidos por quem estiver de posse do veículo roubado/furtado.
49

Aqui observaremos como são registrados os atendimentos da Polícia Militar,


sua comparação com os registros de ocorrência da Polícia Civil e o fluxo das ocorrências
até sua transformação em informação e posterior publicação em Diário Oficial e internet.
Veremos ainda quais as etapas percorridas pela Polícia Civil para a
classificação de eventos, bem como as possíveis maneiras de discernir entre os vários tipos
de classificação de um evento com morte, buscando uma definição mais apropriada para
cada caso que envolva o falecimento de pessoas.

A base de dados da Polícia Civil

Todos os delitos e fatos administrativos registrados em Delegacias de Polícia


Civil do Estado estão concentrados num banco de dados no Rio de Janeiro. No período de
1997 a 2004 esses dados foram contabilizados pela Assessoria de Planejamento e Controle
da Polícia Civil (ASPLAN). Desde 2005, com a publicação do Decreto nº 36.872, de 17 de
janeiro do mesmo ano, a responsabilidade pela organização do banco de dados dos
registros de ocorrência ficou a cargo do Grupo Executivo do Programa Delegacia Legal
(GEPDL). A base de dados da Polícia Civil tem microdados desde 2000, porém, para
dados agregados existem informações quantitativas desde 1991. Valendo-se disso, o
Governo estadual publica mensalmente os principais delitos no Diário Oficial, por região
do Estado, por Área Integrada de Segurança Pública (AISP) e por Delegacia de Polícia
Civil, desde 1999.
O GEPDL foi criado com o intuito de implementar o Programa Delegacia
Legal, que foi concebido para promover uma reestruturação completa da Polícia Civil do
Estado do Rio de Janeiro. Uma das principais funções do Programa é descrito da seguinte
maneira:

A Delegacia Legal, segundo seus idealizadores, visa melhorar a


produtividade e a qualidade dos serviços policiais a fim de aumentar a
confiança popular na capacidade que esta instituição tem de exercer seu
papel e restabelecer a imagem da polícia para acabar com a
desconfiança da população em entrar numa delegacia (Paes, 2004:16).

A reforma a que se propõe o Programa Delegacia Legal tem dois níveis, que
nem sempre andam juntos. O primeiro nível é o físico-estrutural, onde o próprio prédio da
Delegacia de Polícia, bem como seus equipamentos e, conseqüentemente, suas condições
de trabalho, são profundamente alteradas:
50

No nível estrutural, as mudanças abrangem a reforma física das


delegacias para dar conforto ao cidadão e melhores condições de
trabalho aos policiais; a reestruturação dos processos de trabalho
intradelegacia para transformar as delegacias em plataformas de
atendimento imediato; e a informatização dos serviços policiais, que
permite que os procedimentos sejam totalmente realizados com
softwares especialmente desenvolvidos para as Delegacias Legais e que
sejam criados mecanismos de controle e acompanhamento da própria
ação policial (Paes, 2004:16-17).

O segundo nível, um pouco mais ambicioso, propõe uma mudança cultural no


que se refere às práticas cartorárias e às práticas investigativas, na medida em que oferece
cursos visando o aperfeiçoamento do policial civil, que vão desde português e redação, até
práticas investigativas e módulo gerencial - este último voltado para o software utilizado
nas Delegacias Legais.
Os policiais que trabalham em Delegacias Legais recebem uma gratificação
que é vinculada à presença nos cursos do Programa, com pelo menos 15 horas mensais. De
todo modo, para além de bem vinda a obrigatoriedade dos cursos, o fato é que os policiais
aprendem seu ofício com outros policiais, e que realisticamente, “(...) a transformação da
cultura de uma instituição não é algo que possa se dar repentinamente” (Paes, 2004:17).
Entretanto, a obrigatoriedade dos cursos de aperfeiçoamento é mais um passo na direção
de uma reestruturação da cultura policial.
O diferencial que acabou por dividir as Delegacias do estado do Rio de Janeiro
em dois tipos - o novo, a Delegacia Legal, e o velho, a Delegacia Tradicional - foi, além
da questão físico-estrutural e da tentativa de mudança cultural, a introdução da tecnologia
computacional.
Com o advento da informatização nas Delegacias Legais esperava-se resolver
dois problemas das Delegacias Tradicionais: de um lado, o esclarecimento dos crimes, de
outro, o controle das investigações, conforme afirma Paes (2006):

A idéia do programa é a de que a democratização da informação


poderia auxiliar, por um lado, no esclarecimento dos crimes, pois a
base de dados policiais é uma importante fonte de investigação e, por
outro, no controle mais severo sobre o andamento das investigações.
(Paes, 2006:91).

Uma vez em rede, os dados das Delegacias Legais passaram a ser mais
facilmente acessados pelos vários agentes do governo. Dessa forma, a informação passa a
51

ter um caráter universal. Pode parecer uma mudança pouco significativa, mas, nas
Delegacias Tradicionais, ela não circulava ou não estava disponível com facilidade e,
desta maneira, o policial tornava-se o “dono” da informação:

Isso ocorria porque os autos dos inquéritos são de responsabilidade


individual do policial encarregado. Os inquéritos tornam-se, assim, de
certa maneira, sua ‘propriedade particular’. Tal fato se reflete na
forma de se referir aos inquéritos - eles se tornam ‘meu inquérito’, ‘seu
inquérito’. Consequentemente, só os policiais diretamente ligados a um
determinado inquérito policial podem fornecer informações sobre ele.
Portanto, eles têm de ser encontrados e solicitados pessoalmente por
qualquer das partes interessadas. (Kant de Lima, 1995:68).

Com a informatização em rede entre as Delegacias Legais, e até entre outros


órgãos do Governo, “as informações referentes aos procedimentos seriam destituídas do
policial e da delegacia em sua unidade para estarem disponíveis para auxiliar o trabalho
conjunto das Delegacias Legais, a informação se tornaria pública para todas as delegacias”
(Paes, 2006:91). Contudo, é sabido que ainda persistem práticas pelas quais os policiais
não inserem as informações no sistema de dados do Programa Delegacia Legal, como por
exemplo, o registro em software Word, o não-preenchimento de campos importantes no
registro de ocorrência, entre outras práticas. Deste modo, devemos ter muito cuidado ao
analisar a amplitude em que pode chegar esta circulação de informações, uma vez que:

Com relação à técnica de armazenamento das informações, existe


atualmente um discurso favorável à modernização do sistema. A
informatização surge como o instrumento capaz de resolver todos os
problemas relativos à circulação de informação. Porém, na sociedade
brasileira, é preciso se destacar um aspecto, fundamental para a
compreensão da circulação das informações: a apropriação privada da
informação transforma as pessoas em ‘donos do saber’ (Miranda,
2000:71).

O Programa Delegacia Legal, iniciado em 1999, provocou outro fenômeno no


Estado do Rio Janeiro, que seria a distinção entre os tipos de Delegacias: a Legal, que é
digital, esteticamente valorizada e moderna, e a Delegacia Tradicional, analógica e
estruturalmente “atrasada”. Nesta mesma época, foram criadas as Áreas Integradas de
Segurança Pública (AISP), que se referem à delimitação geográfica correspondente à área
de atuação de um Batalhão de Polícia Militar e de uma ou mais circunscrições de
Delegacias da Polícia Civil. As AISP’s correspondem igualmente aos bairros da capital e
áreas dos municípios do restante do estado.
52

Para cada AISP da capital há um agrupamento de bairros e, para as AISP do


resto do Estado, o agrupamento é feito segundo os municípios. Em resumo, existem AISP
em quantidade exatamente igual à quantidade de batalhões da Polícia Militar, exceto os
Batalhões de Polícia Especializados, que têm atuação em todo o Estado e a 1ª Companhia
Independente de Polícia Militar – 1ª CIPM, que é responsável pela segurança do Palácio
Guanabara, sede oficial do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O principal objetivo da
implantação das AISP era avaliar o desempenho das Polícias que nelas atuam, a partir do
diagnóstico das áreas com base em indicadores sociais e econômicos.
Quando ocorre um homicídio, por exemplo, o fato acontece numa localidade
que corresponde a uma circunscrição de Delegacia e a uma área de um Batalhão qualquer,
portanto, dentro de determinada AISP. Assim sendo, quem atende à ocorrência é o
Batalhão referido e quem investiga o caso é a Delegacia da circunscrição, mesmo que o
registro de ocorrência não tenha sido feito naquela área. Assim, quando um delito
acontece, ele pode ser registrado em qualquer Delegacia de Polícia (DP), não importando a
área onde ocorreu o fato. Nestes casos, a Delegacia que registrou o fato irá remeter um
expediente oriundo de outra Unidade de Polícia Judiciária e Administrativa (UPAJ), e a
DP da área onde ocorreu o fato fará a investigação.
Desde a primeira descrição do fato, com o preenchimento do talão de registro
de ocorrência (TRO) feito pela Polícia Militar até o registro de ocorrência (RO)
propriamente dito, que é lavrado na Delegacia de Polícia, uma variedade grande de
informações é coletada e acrescida ao banco de dados. Até 2004, para a consolidação dos
números oficiais, ao fim de cada mês, todas as Delegacias do Estado remetiam uma cópia
de todos RO’s para a ASPLAN, por meio da Empresa de Correios e Telégrafos. Um
problema enfrentado à época era que, em determinados momentos, houve atraso no
pagamento do serviço prestado pela Empresa de Correios e Telégrafos, que parava de
recolher os malotes, ocasionando atraso da digitação dos registros de ocorrência. A
ASPLAN, na medida em que recebia os RO de todas as Delegacias, efetuava a digitação
das informações constantes nesses registros, formando, assim, um grande banco de dados
que cobria todo o estado do Rio de Janeiro. O registro feito numa Delegacia Legal, que já
era informatizada, tinha que ser impresso e enviado para a ASPLAN, para ser redigitado.
Naquela época, todos os registros de ocorrência eram digitados pela ASPLAN,
independente do tipo de Delegacia de origem. À medida que o número de Delegacias
Legais foi crescendo, criou-se um paradoxo, porque a Polícia Civil ficava com dois bancos
de dados, com diferentes abrangências geográficas. Um formado somente pelos registros
53

das Delegacias Legais e outro - banco de dados da ASPLAN - com todos os registros de
todas as delegacias, tanto Legais quanto Tradicionais.
Sem considerar o fato da duplicação de trabalho e dos gastos de recursos
públicos, a redigitação provocava outro problema porque freqüentemente implicava na
mudança de títulos de registros de ocorrência, uma vez que a classificação dos títulos da
ASPLAN era diferente da classificação dos títulos provenientes das Delegacias Legais, e
isso sem a prévia comunicação às Delegacias de origem, gerando, também, margem à
manipulação de informações.
Pelas considerações acima referidas, em fins de 2004, a Secretaria de Estado de
Segurança Pública decidiu que o GEPDL seria responsável pela consolidação dos registros
de ocorrência de todas as Delegacias do Estado, digitando somente os registros
provenientes das Delegacias Tradicionais, uma vez que os dados das Delegacias Legais já
se encontravam em meio digital. Esta mudança provocou a redução na quantidade de
registros de ocorrência que seriam digitados, uma vez que a consolidação dos registros das
várias Delegacias Legais é feita por métodos computacionais, evitando a redigitação de
dados. Cumpre ressaltar também que o volume de atendimentos nas Delegacias Legais era
bem superior ao das Delegacias Tradicionais já em 2004, reduzindo o tempo para a
consolidação das bases de dados mensais. Cabe mencionar, ainda, um terceiro fator: a
partir de janeiro de 2005, os órgãos da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro
podem realizar consultas parciais sobre os registros na medida em que eles vão sendo
adicionados ao banco de dados principal. Um quarto diferencial refere-se aos registros de
aditamento, que são incluídos dia-a-dia acrescentando e/ou modificando informações no
inquérito e, desse jeito, permitindo acesso às informações atualizadas dos registros. Este
fato permite controlar todas as informações que são alteradas no registro e no inquérito
policial, diferente do que ocorria na ASPLAN, que digitava os aditamentos em meses
subseqüentes e somente os fornecia a quem os solicitasse.
Como a maioria dos fatos delituosos são primeiramente atendidos por policiais
militares é importante esclarecer a ação destes profissionais no atendimento das
ocorrências, bem como o que acontece com informações coletadas por eles.

O registro de informações da Polícia Militar

Conforme o artigo 144 da Constituição Federal de 1988, o papel de polícia


ostensiva e de preservação da ordem pública nos estados brasileiros fica a cargo da Polícia
54

Militar. É o tipo de policiamento preventivo que na PMERJ é subdividido de três formas, a


saber: policiamento ostensivo ordinário, complementar e extraordinário. Os tipos de
policiamento ostensivo são:

O policiamento ostensivo ordinário abrange as formas de policiamento


executado normalmente pela Corporação. Ele constitui a base das
medidas preventivas: é de execução regular, sendo readaptado
periodicamente pelas UOp (Unidade Operacional) de acordo com as
normas de policiamento emanadas do Estado-Maior da Corporação.
O policiamento ostensivo complementar tem por finalidade a
dinamização do POO (Policiamento Ostensivo Ordinário) e a
realização de missões específicas, que excedam este policiamento.
Responde elasticamente às situações imprevistas criadas pela ação da
criminalidade. O planejamento abarca diferentes tipos de operações de
aspecto preventivo-repressivo, visando identificar e prender os agentes
da criminalidade.
O policiamento ostensivo extraordinário é o desenvolvimento de
atividade em eventos programados, tais como jogos esportivos de
qualquer espécie, desfiles cívicos e carnavalescos ou quaisquer outras
festas populares. Pode ser desenvolvido também em situações de
emergência em presídios, catástrofes, inundações, etc. Neste último
caso, em coordenação com as medidas de Defesa Civil desenvolvidas
pelo órgão competente. Possui planejamento prévio, e a execução é
completa para cada missão.

Deste modo, conforme mencionado anteriormente, nesse tipo de policiamento a


maioria dos fatos delituosos são primeiramente atendidos por policiais militares ou até
mesmo pela Guarda Municipal, embora haja casos onde a Polícia Militar ou a Guarda não
sejam chamadas. Podemos citar o roubo ou o furto de automóvel, quando o proprietário do
veículo subtraído poderá se dirigir diretamente à Delegacia de Polícia para registrar a
ocorrência sem acionar a Polícia Militar.
Deve-se lembrar que, em quase todo tipo de delito, a vítima poderá se dirigir à
Delegacia de Polícia sem a necessidade do policial militar e, nestes casos, não haverá o
preenchimento do talão de registro de ocorrência (TRO).
Em qualquer atendimento da Polícia Militar é preenchido o TRO, documento
que todo policial deve possuir, devendo ser lavrado para fins de controle e estatística,
conforme as Bases Doutrinárias para Emprego da PMERJ. Polícia Militar do Estado do
Rio de Janeiro. Estado-Maior, 1983.. Ele serve igualmente
Na realidade é um relatório das ações do policial quando ele sai para atender
um chamado ou se depara com qualquer fato, seja delituoso ou não. O TRO atende,
também, à elaboração de estatísticas mensais da Polícia Militar, que deveriam servir de
55

subsídio para ações estratégicas de policiamento, mas que acaba não se tornando
instrumento efetivo para ações de polícia.
“O Talão de Registro de Ocorrência (...) é o instrumento formal de
comunicação de ocorrências policiais atendidas por policiais militares, destinado ao
registro dos dados relevantes, relativos a quaisquer ocorrências atendidas, devendo ser
encarado como uma pré-autuação.”
No talão de registro de ocorrência consta variáveis como formas e tipos de
policiamento, quantidade de policiais aplicados, número de viaturas, número de
ocorrências, tipo de delitos, apreensão de armas e drogas e outros materiais, vítimas fatais
e não-fatais presos, policiais feridos e mortos, envolvidos e algumas de suas
características, além de outras variáveis. Observando os talões de registros de ocorrência,
temos que:
O acompanhamento dessas informações pode reduzir a margem de
desinformação e a possibilidade de erro na distribuição dos recursos
direcionados à segurança pública, havendo, inclusive, a possibilidade
de agregar determinadas informações que de outra forma não seriam
obtidas, e que têm relevância na aplicação de recursos e definição de
políticas como, por exemplo, o tempo gasto pela PM no atendimento de
cada ocorrência (Ferreira, 2004:14).

O grande problema sobre estas informações, que seriam de grande importância


para análise da dinâmica do atendimento policial ou para estudos comparativos entre o que
é atendido pela PMERJ e o que é registrado pela PCERJ, assim como para vários outros
fins, é que elas não são digitadas, ou tampouco há a transformação do conjunto dos talões
de registros de ocorrência em uma base de dados que recupere as suas informações de
modo automático, permitindo assim que os dados sejam reorganizados num conjunto
lógico de informações relevantes e utilizáveis. Eles são somente contados e agregados em
relatórios pelos respectivos Batalhões e enviados para a Assessoria de Planejamento,
Orçamento e Modernização da Polícia Militar - APOM, de uma forma resumida. Os
resultados dos talões de registros de ocorrência são computados na 4ª Sub-Assessoria da
Assessoria de Planejamento e Estatística do Estado Maior Geral da PMERJ.
Entre os atributos da 4ª Sub-Assessoria constam a organização e
funcionamento do sistema de estatística, intercâmbio com a Secretaria de Segurança
Pública, apoio ao Estado-Maior Geral, no que se refere a dados estatísticos, orientações às
Unidades Operacionais (UOp) na coleta de dados estatísticos relacionados à criminalidade,
bem como aos Comandantes, Chefes e Diretores na busca de informações estatísticas
56

necessárias. Ou seja, a APOM, por meio da 4ª Sub-Assessoria de Planejamento e


Estatística, é o órgão que concentra todos os dados de atendimento da Polícia Militar e
desempenha o papel de consultor para os outros órgãos da corporação.
O relatório de 2002, disponibilizado pelo sítio do Instituto de Segurança
Pública, da Secretaria de Estado de Segurança Pública sobre o atendimento do ‘190’ do
Centro de Operações da Polícia Militar/Comando de Policiamento da Capital
(COPOM/CPC), demonstrou que a maioria dos atendimentos feitos pela Polícia Militar
nada tem a ver com crimes (50,9%), ou ainda, são atendimentos considerados
“assistenciais”. Segundo relatos dos próprios policiais, a Polícia Militar é chamada para
resolver “qualquer coisa”, desde falta de energia elétrica até condução de parturientes.
Somente 19,6% têm natureza criminosa, as contravenções somaram 6,8%, e atendimentos
de trânsito corresponderam a 22,7% do total das naturezas de ocorrências.
Todos esses fatos, delituosos ou não, são descritos no TRO e, desta maneira
percebe-se a gama de informações contidas nesses talões que, efetivamente, só circulam
dentro da própria corporação. Tais fatos ou são atendimentos assistenciais que não
carecem de registro de ocorrência na Polícia Civil, ou as vítimas não querem registrar o
fato ou a vítima é desestimulada a comparecer à DP, e desta maneira, não consta dos
registros de Delegacia de Polícia Civil.

Registro de ocorrência e talão de registro de ocorrência

Os atendimentos, mesmo sendo de natureza criminosa, podem ou não ser


registrados em Delegacia de Polícia, e isso depende do tipo de delito. Aqueles de ação
pública condicionada à representação e ação penal de iniciativa privada dependem da
vontade da vítima em registrar a ocorrência. Desse modo, o atendimento finaliza-se
quando a vítima não deseja fazer o registro ou quando as partes acabam entrando em
acordo com ou sem a atuação dos policiais militares.

Volume de Chamadas Segundo Natureza da Ocorrência


Agosto a Novembro de 2002 - Acumulado
Trânsito 22,7%
Contravenções 6,8%
Criminosas 19,6%
Não-Criminosas 50,9%
57

Fonte: COPOM/PMERJ; Relatório Análise das Ocorrências do COPOM - 190 (PMERJ),


2002.

Decorre daí que, mesmo as ocorrências de natureza criminosa, não são


totalmente registradas, embora sejam atendidas primeiro pela Polícia Militar. “A ação
penal pública condicionada é aquela cujo exercício se subordina a uma condição. Esta ou é
a manifestação de vontade no sentido de proceder, externada pelo ofendido ou por quem
legalmente o represente (...)”
(Tourinho Filho, 2000: 332). Os delitos de ação pública condicionados à
representação são aqueles de menor potencial ofensivo11, tais como lesões corporais leves
e lesões culposas, e dependem da vontade da vítima para ser levado a termo.
Na ação penal pública incondicionada “o órgão do Ministério Público a propõe,
sem que haja manifestação de vontade de quem quer que seja. Desde que provado o crime,
(...) o órgão do Ministério Público deve promover a ação penal, sendo até irrelevante
contrária manifestação de vontade do ofendido ou de quem quer que seja.” (Tourinho
Filho, 2000: 322).
Assim sendo, os delitos de ação pública incondicionada não dependem da
vítima para o seu registro, tais como homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte,
latrocínio etc., pois são delitos de natureza grave. Os dois tipos de ação penal, tanto a
condicionada quanto a incondicionada, são promovidas pelo Ministério Público, embora
uma dependa da vítima em proceder e a outra independa de sua vontade. Em
contraposição, existe a ação penal de iniciativa privada, que é aquela que depende do
ofendido para ser levada a termo, e é provida por advogado particular. Tais delitos têm
como exemplo a calúnia, a difamação etc.
Dessa maneira, tanto a ação penal pública condicionada quanto a ação penal de
iniciativa privada dependem da vontade da vítima. Esta é uma das potenciais distinções
entre os números de TRO, em ocorrências criminais, e o número de RO, uma vez que em
determinados delitos a vontade da vítima é imperiosa para a confecção do RO em
Delegacia de Polícia. Ocorre também o caso da vítima não querer efetuar o registro de
ocorrência, mesmo em casos de delitos de natureza grave, tais como as lesões dolosas,
estupros etc. Nestes casos, as vítimas, por razões pessoais, se manifestam contrárias ao
registro de ocorrência em Delegacia de Polícia.
58

Outra vertente é a disposição do policial militar em conduzir, ou não, os


envolvidos até a Delegacia. Dependendo do caso, alguns policiais militares tentam
dissuadir a vítima a não comparecer à Delegacia de Polícia para registrar o fato, por uma
série de motivos, desde a gravidade do delito até a pressa do agente policial quando se
aproxima o horário da sua rendição.
Nestes casos, o preenchimento do TRO ocorre, mas o RO não, e em outros
casos nem mesmo o TRO é preenchido.
Mesmo quando o policial militar leva o caso até a Delegacia, ou mesmo
quando a vítima se dirige até lá sem o auxílio do policial militar, pode haver a resistência
do policial civil em registrar a ocorrência, pelos mesmos motivos acima citados para os
policias militares.
Ainda observando a distinção entre os números de TRO e de RO, temos a
diferença de classificação de um mesmo delito segundo cada corporação. Como exemplo,
podemos citar um fato delituoso em que o policial militar se deparou e registrou como
homicídio doloso no TRO.
Porém, a autoridade policial civil, ou seja, o Delegado de Polícia tem indícios
de que o ocorrido é um roubo seguido de morte e o RO é titulado como latrocínio. O
Delegado de Polícia é a Autoridade competente para titulação do RO, ou seja, somente ele
deve descrever a titulação do registro de ocorrência de um fato delituoso ou não, e ainda,
somente ele poderá mudá-lo em caso posterior de registro de aditamento. Um registro de
aditamento é a troca de titulação ou outras partes de um RO, bem como acréscimo de
informações que não foram recolhidas anteriormente. Vale lembrar que o RO é a primeira
descrição do fato e que, conforme outras informações são recolhidas na fase do inquérito
policial, pode ser necessária mudanças ou acréscimos em algumas partes do RO. Nesse
caso, é produzido um RA, (Registro Aditamento), que deverá ser anexado ao RO original.
O inquérito, ao chegar ao Ministério Público, poderá sofrer outra alteração de título. O
promotor pode oferecer denúncia sob outro título, diferente daquele capitulado pela
Autoridade Policial. E ainda, o juiz pode promulgar a sentença sob outro título, diferente
do promotor e da autoridade policial. Nesses termos, a titulação da autoridade policial é
provisória, uma vez que pode ser alterada no decorrer do processo penal. Porém durante
todo o inquérito policial, o Delegado de Polícia Civil é quem detém o poder de capitular o
registro de ocorrência até o seu encaminhamento ao Ministério Público.
Os artigos 4º ao 23º do Código de Processo Penal definem as atribuições dos
Delegados de Polícia Civil com relação à instauração do inquérito policial. No primeiro
59

parágrafo do artigo 5º percebem-se quais as informações necessárias para o preenchimento


do registro de ocorrência. As informações referem-se à narração dos fatos e de todas as
circunstâncias do mesmo; a descrição pormenorizada do indiciado e suas razões, assim
como a listagem das testemunhas, com descrição da profissão e residência.
As informações constantes no registro de ocorrência excedem, em muito, pelo
menos no estado do Rio de Janeiro, o que a lei determina. Estas informações são de suma
importância, tanto para o andamento do inquérito ao qual estão ligadas, como para o
andamento de outros inquéritos - devemos lembrar que essas informações formam um
conjunto organizado de dados que pode ser acessado por qualquer policial. Tais
informações podem ser apropriadas para pesquisas voltadas para a área de segurança
pública, violência, criminalidade etc., para formulação de políticas públicas e, também,
para distribuição e alocação de recursos policiais, entre outras.
Em resumo, considerando todos os percalços dos acontecimentos, a peça
fundamental para construção do banco de dados da Polícia Civil é o registro de ocorrência.
Sem ele, para todos os efeitos, o fato não ocorreu, pelo menos para a Polícia Civil, ou
ainda, mesmo sendo composto por fatos delituosos ou não o imperativo aqui é o registro
em si, sabe-se que na prática, muitas vezes, quem confere titulação ao registro de
ocorrência é o agente policial e não o delegado de policia civil, ou postula a máxima
jurídica: “O que não está nos autos não está no mundo” (Correa, 1983).
Cabe lembrar que este banco de dados foi projetado para subsidiar o trabalho
investigativo policial e não para ser utilizado em pesquisa social, portanto, a base pode
apresentar restrições analíticas que não podem ser superadas, tais como a impossibilidade
de inferências sobre o total de delitos ocorridos, já que as subnotificações, por definição,
não constam dos registros de ocorrência.

O fluxo das ocorrências

Desde a ocorrência do evento, sua chegada até a Delegacia e sua divulgação,


muitos caminhos e descaminhos são percorridos pelo dado até este virar informação. O
organograma da Figura 1.1 descreve os rumos tomados pelos eventos, delituosos ou não,
até sua publicação ou sua inserção na subnotificação.
Observando o organograma do fluxo da informação, percebem-se três
dimensões distintas, porém dependentes umas das outras, são elas: a dimensão dos
60

Acontecimentos, a dimensão do Acionamento das Instituições, e a dimensão do Fluxo dos


Registros de Ocorrência.
A primeira dimensão é a dos Acontecimentos, ou seja, das ocorrências de
eventos que, por sua natureza, deveriam ser levados ao conhecimento da polícia. Esta
dimensão abrange os eventos e as subnotificações, estas últimas estão contidas nos
eventos. Quando um determinado evento ocorre, ele pode, por suas características, virar
subnotificação, sem nenhum conhecimento das autoridades ou mesmo sendo do
conhecimento das autoridades, tal evento pode não ser registrado em Delegacia de Polícia.
No primeiro caso, o caminho será chamado de subnotificação desconhecida,
pois nenhum dos agentes da segurança pública tomou conhecimento do fato, ou ainda, o
evento ocorreu e não houve nenhum acionamento institucional. Como exemplos podemos
citar a ocultação de cadáver, a violência doméstica entre outros. Importante ressaltar que,
os fatos podem ser comunicados diretamente à Polícia Civil por meio do Disque-
Denúncia, da Mídia e de outras instituições.
Na segunda dimensão, chamada de Acionamento das Instituições, entram em
cena as Polícias e/ou a Guarda Municipal, porém isto não garante que o fato será
registrado. No primeiro exemplo, o atendimento pode ser feito pela Guarda Municipal que
pode encaminhar o caso para a Polícia Militar ou à Polícia Civil, como também pode
desestimular as partes envolvidas para que não sigam adiante com o registro da
ocorrência, e, deste modo, o evento não é notificado.
Este é um caso de subnotificação conhecida, que ocorre quando o evento
mesmo chegando ao conhecimento das instituições não é registrado porque os seus
funcionários não se propuseram a fazê-lo. Também ocorre quando os envolvidos, por
vontade própria, não querem fazer o registro na Delegacia de Polícia.
Também é considerada subnotificação conhecida quando o evento chega ao
conhecimento dos policiais militares, que preenchem o talão de registro de ocorrência e,
logo após, o encaminha para a Polícia Civil. Neste caso, pode acontecer das partes não
quererem registrar o ocorrido, ou de os próprios policiais desestimularem os envolvidos a
fazer o registro.
Então, na primeira dimensão a subnotificação é composta por subnotificações
desconhecidas dos agentes da segurança pública e por subnotificações conhecidas por tais
agentes, pois chegaram a ter algum contato como o evento e, por circunstâncias diversas,
não registraram o acontecido.
61

Mas, se tudo corre como o previsto, ao chegar à Delegacia o evento é


registrado e assim a ocorrência segue para a dimensão do Fluxo dos Registros de
Ocorrência. Neste ponto o policial civil registra a ocorrência e, dependendo do caso,
procede à verificação das informações para constatação do fato. Quando o fato é
registrado em Delegacia de Polícia é gerado um documento chamado de registro de
ocorrência. Este documento segue para o Grupo Executivo do Programa Delegacia Legal
(GEPDL), por meio eletrônico, se o caso for registrado em Delegacia Legal, ou por meio
de malote, se registrado em Delegacia Tradicional. Os registros de ocorrência originários
de Delegacias Tradicionais são digitados no sistema para consolidar o banco de dados.
Esta digitação é processada nas próprias dependências do GEPDL.
O GEPDL consolida os vários documentos num banco de dados e libera o
acesso para a Corregedoria Interna da Polícia Civil (COINPOL) fazer a conferência.
Quando a COINPOL encontra qualquer anormalidade, entra em contato com o Delegado
responsável pelo registro para que ele proceda à correção por meio de aditamento. Caso
não seja constatada nenhuma incongruência ou o erro já tenha sido corrigido, o banco de
dados é liberado para o GEPDL.
Neste ponto, o GEPDL aciona o Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão
responsável pela análise e divulgação dos dados policiais. O ISP é “uma autarquia, criada
em dezembro de 1999, para planejar e implementar políticas públicas e auxiliar a
Secretaria de Segurança Pública na execução de ações no estado do Rio de Janeiro”.
Entre as várias atribuições do ISP, as que competem aos dados estatísticos são
descritos pelo Artigo 2º do Decreto Nº 36.872, de 17 de janeiro de 2005:

Art. 2º - Compete ao Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio


de Janeiro - RIOSEGURANÇA a análise de dados estatísticos relativos
à segurança pública, finalizando promover a otimização da gestão
administrativa das Polícias Civil e Militar, da seguinte forma:
I - centralizar, consolidar e divulgar os dados estatísticos oficiais
relativos à segurança pública;
II - fornecer à Secretaria de Estado de Segurança Pública, dados
estatísticos consolidados, permanentemente atualizados, para análise e
planejamento das ações de segurança pública.
III - fornecer informações e análises estatísticas necessárias aos órgãos
e entidades da Administração Pública, quando demandado, para
desempenho de suas funções.
IV - atender às demandas do Sistema Nacional de Estatísticas de
Segurança Pública e Justiça Criminal - SNESP, da Secretaria Nacional
de Segurança Pública - SENASP.
62

V - dar publicidade da incidência criminal e de outros dados


relacionados à segurança pública, de acordo com critérios previamente
estabelecidos pela Secretaria de Estado de Segurança Pública.
VI - promover o intercâmbio de informações, na área de segurança
pública, com as administrações públicas federais e municipais.

Tendo em vista o cumprimento do disposto no parágrafo V do Artigo 2º, acima


citado, o ISP publica mensalmente 38 títulos no Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro e também os disponibiliza na internet. Tais dados estão subdivididos segundo
Áreas Integradas de Segurança Pública e Delegacias de Polícia. Os títulos divulgados pelo
ISP, bem como a listagem das AISP, constam do Anexo A e B, respectivamente. Além de
dar publicidade aos dados, o ISP produz os relatórios internos para subsidiar ações de
polícia, bem como atende às diversas demandas da Secretaria de Segurança, dos
responsáveis pelo policiamento preventivo e estratégico, de pesquisadores, da mídia e da
sociedade civil. Competem também ao Instituto o desenvolvimento e coordenação de
estudos sobre justiça criminal e segurança pública, visando o aprimoramento profissional
dos policiais.
Trata-se de um órgão que pretende promover a integração entre a
metodologia acadêmica de pesquisa e a avaliação institucional do
trabalho policial. Tradicionalmente, a gestão dos recursos policiais e o
planejamento das ações têm sido orientados apenas pela ‘experiência’
e ‘bom senso’ dos agentes (investigadores, inspetores e oficiais de
cartório) e autoridades policiais (Delegados). Neste sentido, considera-
se que a realização de diagnósticos, a definição de metas, critérios de
avaliação e a elaboração de medidas de desempenho consistentes é um
trabalho que pode auxiliar tanto na avaliação desse trabalho, quanto
possibilitar o gerenciamento profissional da polícia, de forma a
constituir-se numa política pública de segurança. A padronização da
informação faz parte de um esforço de estruturação e organização das
instituições policiais, como forma de centralizar o acesso aos dados na
administração central e com o objetivo de reduzir o arbítrio policial.
Trata-se de buscar formas de controle institucionais que assegurem a
qualidade e a padronização da informação e do trabalho policial
(Miranda, 2006).

A utilização de informações policiais pode contribuir para a identificação de


padrões criminais bem como, auxiliar no processo de produção de estratégias preventivas,
além de gerar modelos de controle sobre o trabalho da polícia.
O caminho da informação para se consolidar como estatística oficial é
complexo. Esta complexidade se dá desde a primeira dimensão, onde verdadeiramente
ocorrem, passando pela caracterização deste como fato policial, até chegar ao Fluxo dos
63

Registros de Ocorrência. Isto demonstra que nas estatísticas oficiais não constam, nem vão
constar, as ocorrências relegadas à subnotificação.
É nestes termos que se configura a base de dados da Polícia Civil do Estado do
Rio de Janeiro, subsídio para as análises quantitativas deste estudo. Pode haver casos em
que um homicídio doloso não foi registrado, figurando nas subnotificações, mesmo assim,
é possível avaliar o grau de violência letal a que está submetida a sociedade fluminense e
tentar analisar sua dinâmica, por meio de uma base de dados pouco utilizada por
pesquisadores.
Neste ponto uma pergunta se faz necessária: em que medida e como são
classificados os registros de ocorrência quando chegam à Polícia Civil?

A classificação de eventos

Formalmente, a titulação do fato cabe somente ao Delegado de Polícia Civil.


Ele é a autoridade responsável pela primeira definição da ocorrência. Existem mais de mil
títulos possíveis para a classificação de fatos delituosos ou fatos administrativos à
disposição da autoridade policial do estado do Rio de Janeiro. Tais títulos são baseados no
Código Penal e em Leis Especiais, e têm características que remetem ao tipo de local de
ocorrência, res furtiva, ao modus operandi, ou mesmo ao tipo de instrumento utilizado
para a consecução do fato. Esta classificação é chamada de classificação policial porque
difere, um pouco, da classificação puramente jurídica do fato (aquela que se baseia
somente no Código Penal), e tem a intenção de fornecer subsídios na hora da instauração
do inquérito policial, bem como auxiliar no andamento das investigações. Cumpre
ressaltar que o registro de ocorrência não reproduz o discurso da vítima, e sim o
reinterpreta em termos burocráticos e jurídicos, chegando ao extremo do “cortar e colar”
declarações, ou seja, a utilização de textos já padronizados.
Um exemplo de classificação do fato, segundo o local de ocorrência, é o título
“Roubo em Coletivo” ou “Roubo em Estabelecimento Comercial”. Neste tipo de
classificação a polícia prioriza o local onde aconteceu o fato, se dentro de um coletivo ou
com o indivíduo na rua, ou mesmo na residência da vítima. Exemplos de classificação do
fato segundo res furtiva são os títulos “Furto de Veículo” e “Roubo de Aparelho Celular”.
Este tipo de classificação incide prioritariamente sobre o objeto que foi subtraído da
vítima. A “Extorsão com momentânea privação da liberdade” e o “Roubo com condução
para saque em instituição financeira” são tipos de títulos que se baseiam no modus
64

operandi do autor do delito. Alguns exemplos de delitos classificados de acordo com o


instrumento utilizado para o seu fim são “Homicídio doloso provocado por projétil de
arma de fogo”, “Lesão corporal provocada por paulada” e “Lesão Corporal seguida de
morte provocada por emprego de arma branca”. A Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro possui um manual que todo Delegado deve, ou pelo menos deveria, seguir nos
casos de detalhamento de delitos. Ou seja, é uma tentativa de coordenar o trabalho de
classificação do fato de maneira mais ou menos homogênea para todas as unidades
policiais do Estado, servindo também como apoio para dirimir dúvidas de casos que
admitem múltiplas interpretações.
Segundo o Manual de Delitos e Detalhamento de Delitos do Sistema de
Controle Operacional, suas diretrizes principais são:

a) Elaborar uma relação que possibilitasse englobar a correta


nomenclatura legislativa penal e as necessidades de atender aos
parâmetros estatísticos policiais capazes de gerar informações corretas
e úteis.
b) Possibilitar atingir o universo de variações clássicas que englobam
os delitos qualificados pelo aumento de penas, as tentativas e os
concursos formais e materiais, bem como o crime continuado.
c) Tornar a relação estável, não permitindo que qualquer título fosse
incorporado ou modificado pela vontade exclusiva dos usuários.
d) Estabelecer regras claras para o preenchimento uniforme,
possibilitando a padronização dos títulos (Barros, 2003).

Mais adiante avaliaremos os diversos tipos de mortes e como são classificadas


pela Polícia Civil, buscando melhor entender como são detalhados tais delitos ou fatos
administrativos. Focaremos nossa análise na seção “morte”, pois é nela que são
encontrados os registros das vítimas classificadas como provenientes de homicídio doloso.

A classificação do evento morte

Dar este ou aquele título ao falecimento de uma pessoa não é tarefa simples
devido à multiplicidade de eventos concorrentes para o desfecho do fato, ou ainda, nem
toda morte é crime, nem todo crime é doloso, nem todo dolo provém de homicídio. Assim
sendo, devemos apresentar os vários tipos de mortes, que podem ou não ser confundidos
com o homicídio doloso, até chegarmos ao homicídio doloso propriamente dito.
65

No Manual de Delitos e Detalhamento de Delitos da Polícia Civil, para cada


evento, existem quatro tópicos que devem ser observados para a correta titulação do fato,
são eles:
(i) parâmetro, que explica, de uma maneira simples e direta, do que se trata o
título em questão; (ii) exemplo, mostrando uma situação hipotética qualquer; (iii)
fundamento, ou ainda, quais as bases legais sobre o título; e (iv) conflito aparente, que
mostra quais os outros títulos que poderiam ser confundidos com o evento atual.
Um dos primeiros títulos, analisados pelo Manual, que pode ser confundido
com o homicídio doloso é o “Desaparecimento”. Segundo o Manual:

A expressão “Desaparecimento” possui uma enorme gama de


desdobramentos, impossíveis de serem detectados por ocasião da
realização do registro de ocorrência. Preliminarmente, o único fato
realmente detectado é o desaparecimento da pessoa sem razão
aparente, possuindo a Autoridade Policial 15 (quinze) dias para
solucionar o caso (Barros, 2003: 44).

Um exemplo clássico se refere ao caso de ocultação de cadáver onde, muito


possivelmente, o primeiro registro sobre o fato será o de desaparecimento e se, e somente
se, o corpo for encontrado é que haverá aditamento para o título “homicídio doloso”.
Outros possíveis casos que conflitam com o título de desaparecimento são: extorsão
mediante seqüestro, homicídio culposo, fato atípico - medida assecuratória de direito
futuro, seqüestro ou cárcere privado.
Nestes casos, à primeira vista, fica registrado o desaparecimento, mas no
decurso da investigação isso poderá mudar para outro título. O grande problema dos
registros de desaparecimento é que quando a vítima é achada, por qualquer motivo que
não seja a morte da mesma, na maioria dos casos isso não é comunicado à Polícia.
Outro título que tem conflito aparente com o homicídio doloso é o de
“Encontro de cadáver”. A Polícia Civil argumenta a validade deste tipo de título:

Título de ocorrência empregado por ocasião do surgimento de um


cadáver onde, pelas características apresentadas, não se pode indicar a
existência de infração penal ou administrativa. Não se deve usar este
título para corpos que são removidos de hospitais para necropsias
junto ao IML e sim a infração penal que está sendo investigada. O
título estabelecido nesse segmento merece redobrada atenção. Objeto
de contestação, pelos sociólogos e estatísticos, acusado de camuflar o
número correto de crimes contra a vida, o título ‘ENCONTRO DE
CADÁVER’ é necessário para preencher algumas situações limítrofes
(...). O título deve ser empregado da forma mais contida possível,
66

evitando-se generalizar seu emprego para todo cadáver que é


encontrado. Portanto, não se usa o título ‘Encontro de Cadáver’:
a) no homicídio onde o corpo é encontrado horas ou dias depois;
b) no suicídio; e principalmente;
c) na remoção de corpos de hospitais ou clínicas com destino ao
Instituto Médico Legal para serem necropciados.

Deste modo, o título “Encontro de cadáver”, na avaliação da polícia, deveria


ser aplicado somente nos casos onde não exista a possibilidade aparente de se indicar a
infração penal ou administrativa. Por exemplo, ao se deparar com um cadáver a
Autoridade Policial não vê a possibilidade de classificá-lo nem como homicídio nem como
suicídio, nem como qualquer outro título, uma vez que o evento pode ter sido inclusive,
proveniente de morte natural. Assim sendo, a classificação é dada pelo título “Encontro de
Cadáver” que, no transcurso da investigação, poderá sofrer alteração de titulação.
No caso do título “Encontro de partes do corpo humano”, possivelmente o
registro de ocorrência será aditado para “Homicídio doloso” na maioria dos casos, e
aditado para “Homicídio culposo” em raras exceções.
O título “Encontro de ossada” é definido da seguinte forma: “O fato delimita-se
pelo título “Encontro de cadáver” foi e ainda é objeto de contestação pois, para além de
categoria necessária, é também categoria provisória e deveria ser trocada por outra
categoria mais apropriada, na medida em que avança o inquérito policial ou quando o
Delegado recebe o resultado do exame cadavérico. O que ocorre na prática é que, uma vez
na denominação de categoria provisória, o título do registro de ocorrência acaba por ficar
com esta denominação, e muito pouco do que é classificado como “Encontro de cadáver”
recebe uma titulação mais adequada posteriormente. No passado existia o título “Morte
suspeita” que funcionava como paliativo ou servia como título de “escape” ante uma
melhor especificação do evento morte, e que servia também, em grande medida, para
reduzir os números de homicídios dolosos. Tais práticas sempre foram objeto de
contestação de pesquisadores envolvidos com o tema, pois diminuíam as incidências do
delito sem, na verdade, reduzir os números da violência letal.
Encontro de ossos do corpo humano, sem possibilidade de identificar se há
ocorrência de ilícito penal, desta forma, ossos encontrados com perfurações de projéteis de
arma de fogo no crânio não deverão ser classificados como “Encontro de ossada”, pois o
fato implica necessariamente em ilícito penal. Porém, existem casos que a ossada
encontrada não tem nenhum aspecto que denuncie a prática de delito ou suicídio e,
somente nestes casos, dá-se a titulação provisória de “Encontro de ossada”.
67

O “Encontro de feto” é outro título que pode apresentar conflito aparente com o
“Homicídio doloso”, uma vez que a distinção entre feto e recém-nascido não é de fácil
determinação. Nestes casos, quando ocorre o encontro de um feto e não há indícios de
ilícito penal aparente, o título usado será o de “Encontro de feto”. Outros conflitos
aparentes para o título “Encontro de feto” são: aborto, aborto provocado por terceiros,
infanticídio, encontro de cadáver e exposição ou abandono de recém-nascido.
O “Evento Morte” é utilizado para “situações onde há ocorrência da morte de
um ser humano, inexistindo qualquer vislumbre de responsabilidade penal para terceiros”
(Barros, 2003:
Alguns títulos podem ser exemplificados: morte por afogamento, morte por
eletroplessão (ocasionada por descarga elétrica), morte por fulguração (ocasionada por
descarga elétrica proveniente de raio), morte por projeção de altura, morte por
queimadura, morte por soterramento ou desabamento, morte provocada por ingestão de
substância tóxica, morte sem assistência médica e morte por colisão com ponto fixo. Em
alguns destes casos pode haver conflito aparente com homicídio doloso, homicídio
culposo, encontro de cadáver, suicídio etc. Se tais conflitos forem confirmados, a
autoridade policial, responsável por sua investigação, deverá proceder à alteração do título
para aquele mais apropriado.
O título “Remoção para verificação de óbito” é outro que pode gerar conflito
aparente com o “Homicídio doloso”. Sua definição é dada da seguinte maneira: (i)
“atender uma situação específica, ou seja, a necessidade de se estabelecer a causa mortis
de um detento que faleça no interior de um estabelecimento prisional, desde que esta
morte não possua características de uma morte violenta” e (ii) “remoção de cadáver para
verificação de óbito de unidade hospitalar localizada em circunscrição diversa de onde foi
confeccionado o Registro de Ocorrência, a fim de apurar indícios de autoria e
materialidade” (Barros, 2003: 54).
Um fato delituoso é por si só uma ocorrência que a lei proíbe, portanto deve ser
registrado e apurado pela polícia. Já um fato atípico é uma ocorrência que, mesmo não
aparentando crime, carece de investigação policial para comprovação de que realmente
não houve delito algum: são os casos de suicídio, desaparecimento etc. O “Fato atípico”
reúne alguns eventos que, embora não tenham a característica de delito, necessitam de
instauração de inquérito para comprovação ou não de algum tipo de crime. Segundo
Barros:
68

Certos fatos apresentados à Autoridade Policial não encontram


adequação a nenhuma infração penal. Não obstante, seu registro se faz
necessário por razões administrativas ou para realmente descartar ou
não a existência da prática de ilícito penal, fato a ser constatado no
desdobramento de uma investigação preliminar (Barros, 2003: 54).

Alguns títulos que compõem os fatos atípicos são: Autorização para translado
ou Autorização para sepultamento de membro. Porém, o mais importante deles é o
“Suicídio”, classificado como fato atípico, mas que carece de instauração de inquérito
policial para descartar ou não hipóteses de homicídio doloso, ou outro tipo penal qualquer.
O suicídio só deve ser capitulado pela autoridade policial “quando afastada a existência de
ilícito penal, principalmente o ‘Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio’” (Barros,
2003: 58). Mesmo assim, como citado anteriormente, o registro de ocorrência é a primeira
documentação do fato e, desse modo, deve haver instauração de inquérito para
averiguações e investigações posteriores para esclarecimento do acontecido, e até mesmo
a mudança do título da ocorrência.
Cumpre ressaltar que as possibilidades de titulação de ocorrências envolvendo
morte são muito extensas e imbricadas, ou ainda, qualquer evento pode, à primeira vista,
ser confundido com outro. Conforme mencionado anteriormente, o Manual de Delitos e
Detalhamento de Delitos está disponível à Autoridade Policial e é com base neste Manual
que os conflitos aparentes da titulação podem ser minimizados, e mesmo, eliminados.
Várias etapas devem ser seguidas para a correta capitulação do registro de ocorrência nos
casos de crimes contra a vida.
A primeira etapa decorre da diferenciação entre morte natural e morte violenta,
onde a morte natural deriva da “falência de um ou mais órgãos vitais, decorrente de causas
naturais, não havendo responsabilidade da vítima ou de terceiros (alheia) a apurar”
(Barros, 2003: 66). Assim sendo, encontrando a Autoridade Policial o caso de morte
natural, não há necessidade de passar, pelo menos por hora, para as etapas posteriores.
Caso contrário, havendo vestígios de morte violenta, uma segunda etapa será cumprida na
busca por evidências de morte provocada por exclusiva ação da vítima. Ou ainda:

A Autoridade Policial não logrando êxito em classificar a morte como


natural, obviamente estará diante de uma morte violenta (acidental,
homicida ou suicida). Passamos a questionar se a morte violenta foi
provocada pela ação exclusiva da vítima, ou seja, se não houve direta
ou indiretamente responsabilidade penal de terceiros na causa mortis e
se não ocorreu qualquer ação (ou omissão) de terceiros que contribuiu
para a morte (Barros, 2003: 66).
69

Desse modo, se existem evidências de que a morte ocorreu por ação exclusiva
da vítima, a Autoridade Policial não necessita passar para as etapas posteriores,
classificando o evento como acidente ou suicídio, muito embora seja necessária a
instauração de inquérito. Do contrário, se há evidência da ação de terceiros deve-se seguir
a uma terceira etapa:
Afastada a morte natural e a morte violenta provocada pela ação
exclusiva da vítima, verificaremos a participação direta (ou indireta)
de terceiros, na ação (ou omissão) que contribuiu para o evento morte.
Em outras palavras, pelas evidências apresentadas na investigação
preliminar desenvolvida na Unidade Policial, foi verificada (em tese) a
existência de dolo ou culpa de terceiros. A infração penal (em tese) é
identificada, devendo investir-se na apuração do fato. A escolha da
infração penal entre os diversos delitos e detalhamentos da relação do
sistema (SCO) norteará o caminho da complementação da
investigação, não obstante a imediata identificação ou não da autoria
(Barros, 2003: 67).

É nesta terceira etapa da titulação que se inscreve o homicídio doloso, ou ainda,


é nesta altura da tentativa de classificação do ilícito penal pela Autoridade Policial que se
subscreve o homicídio doloso, embora haja outros tipos de delitos que nesta etapa possam
dar título ao registro de ocorrência, tais como: homicídio culposo; induzimento, instigação
ou auxílio ao suicídio; infanticídio; aborto com morte da gestante; lesão corporal seguida
de morte; roubo seguido de morte, entre outros.
Se até aqui não houve possibilidade de capitulação do evento morte, ainda resta
uma última etapa a ser cumprida pela Autoridade Policial para resolver o problema da
titulação do fato. A quarta etapa é o estágio provisório, ou seja, são títulos que
temporariamente irão capitular o registro de ocorrência até que a Autoridade Policial, no
decorrer do inquérito, possa melhor definir o evento morte por meio de novas informações
recolhidas.
Nesta etapa, a Autoridade Policial esgotou todos os esforços iniciais
para enquadrar o fato nas etapas anteriores. Ela não possui elementos
para classificar como a morte da vítima foi provocada. Não encontra
imediatamente a resposta para determinar ‘o que’ ou ‘quem’ provocou
a morte da vítima. Apenas o corpo evidencia a ocorrência de morte,
sem qualquer outro fato que permita enquadrá-lo em um dos delitos e
detalhamentos acima. A Autoridade Policial escolherá um dos delitos e
detalhamentos considerados não definitivos, ou seja, delitos que
representam situações que podem e devem evoluir para uma das etapas
anteriores. (Barros, 2003: 68).
70

Na fase quatro, os títulos possíveis são: encontro de cadáver; encontro de partes


do corpo humano; encontro de ossada e encontro de feto. Neste ínterim, tal estágio é
permeado de títulos provisórios, ou ainda, deverão ser trocados posteriormente, no decurso
do inquérito, para um título mais definido.
A classificação entre doloso ou culposo para os casos de homicídios, e também
para outros títulos, depende exclusivamente da interpretação da Autoridade Policial e das
informações recolhidas quando da inspeção do local do fato, conversas com testemunhas
etc. Assim sendo, a distinção entre dolo e culpa advém da experiência de cada Delegado
de Polícia, lembrando sempre que a classificação policial é uma classificação provisória,
uma vez que, encaminhado o processo ao Ministério Público, o promotor poderá oferecer
denúncia sobre outro tipo de ilícito penal.
O exposto acima serve para demonstrar que a Autoridade Policial pode e deve
usar o Manual de Delitos e de Detalhamento de Delitos do SCO para classificar os fatos
envolvendo mortes de pessoas. O manual serve como livro de consulta e norteador de
procedimentos, porém, nada mais obriga a Autoridade Policial a utilizá-lo. Contudo, este
último não pode inventar títulos para as ocorrências, porque todos os títulos já estão
definidos pela Polícia Civil e apenas estes devem ser utilizados para a capitulação de
delitos e fatos administrativos. Segundo relatos dos próprios policiais, ir até o local do fato
não é uma prática comum. A descrição do ocorrido, em geral, é passada pelo policial
militar que atendeu a ocorrência para o policial civil que registra a ocorrência. Ver
Miranda et al, 2005.
Embora o Manual de Delitos e de Detalhamento de Delitos do SCO esteja
longe de se tornar padrão para a Polícia Civil, uma vez que há resistência ao SCO por
parte dos próprios policiais. O Manual é uma tentativa de normatização das classificações
de polícia, que não encontra padronização em parte alguma do Brasil, ao contrário das
Declarações de Óbitos, que é padronizada para todo o território nacional. Além de ser um
passo importante para uma futura padronização dentro da Polícia Civil do estado do Rio
de Janeiro, o Manual é, possivelmente, uma semente para que as classificações das várias
polícias do País sejam padronizadas. Apontamos esta possibilidade a partir da observação
de a SENASP ter tomado como base a categorização de delitos e fatos administrativos
criados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro para tentar uniformizar os códigos utilizados
pelas polícias do País.
Deste modo, temos na Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro um banco de
dados que reúne todos os registros de ocorrência lavrados em Delegacia de Polícia, os
71

quais têm cobertura geográfica para todos os municípios do Estado, o que permite uma
visualização de todo o território fluminense no que tange às ocorrências policiais.
Observaram-se os caminhos percorridos pelo fato até se tornar registro de ocorrência e,
conseqüentemente, integrar informação relevante para a produção de relatórios que
possam subsidiar ações de polícia, entre outras coisas. Mais ainda, observaram-se quais os
procedimentos devem ser adotados para uma melhor titulação dos registros de ocorrência,
visando a uniformização da classificação da informação sobre delitos contra a vida.
72

CAPÍTULO V

PREVENÇÃO E CONTROLE DO CRIME.

A violência como fenômeno multidisciplinar acaba por agregar conhecimentos


diversos, que facilitam sua compreensão e suscita a união de todas as instâncias nos três
níveis de poder do estado brasileiro.
Nesse mister todas as soluções possíveis passam por dois grupos de ações:

a) Prevenção da violência;
b) Controle da violência;

A prevenção busca a solução na correção de distorções sociais, diminuindo a


pobreza, melhorando a educação, distribuindo melhor a renda, medidas estas, conhecidas
como “soluções brandas”, enquanto o controle, ou “soluções duras”, para os crimes
violentos apontam para uma maior quantidade e disponibilidade de recursos policiais,
prevenção secundária e disponibilidade de vagas no sistema prisional, prevenção terciária
é preciso ainda ter em mente que ambas as ações precisam ter efetividade e devem ser
observados seus efeitos nas condutas futuras.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no que se refere à
prevenção, aponta alguns caminhos, que chama de monitoração ou vigilância
epidemiológica, que consiste na coleta, análise e interpretação sistemática de dados para
sua utilização no planejamento, execução e avaliação de políticas públicas e de programas
contra a violência e criminalidade e segundo o Banco se compõe de quatro etapas que são:

1- Definição do problema e coleta de dados confiáveis;


2- Identificação das causas e fatores de risco;
3- Desenvolvimento e teste das intervenções;
4- Análise e avaliação da efetividade das ações preventivas contra a violência.

Nesse sentido podemos concluir que a epidemiologia se configura numa


ferramenta bastante útil na construção de sistemas de informações acessíveis em todos os
níveis da ação governamental, que de certa forma acabam reduzindo o sub-registro das
73

mortes e lesões violentas possibilitando a identificação dos fatores de risco associados a


estes eventos.
Analisando estudos realizados em países industrializados o BID constatou que
ações de prevenção tendem a ser mais eficientes que ações de controle.
Estimativas nos Estados Unidos da América (EUA) confirmam que para cada
dólar americano investido em prevenção poderiam ser economizados cerca de 6 a 7
dólares investidos em programas de controle, ainda assim a maioria dos investimentos dos
governos se destinam a combater o crime uma vez já ocorrido e ao tratamento das vítimas
desses crimes.

ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO

A regra básica da prevenção é quanto mais cedo se atuar na vida de um


indivíduo evitando o desenvolvimento de condutas violentas, mais efetiva será a ação
preventiva, chamada de prevenção primária, que tem seu alicerce nas instâncias informais
de controle social, tais como a família, a escola, a igreja, os clubes sociais, as lojas
maçônicas, organizações não governamentais, etc.
Nesse mister as estratégias de prevenção devem estar orientadas previamente à
redução dos fatores de risco de violência e /ou criminalidade ou o aumento dos fatores de
proteção contra a violência e / ou criminalidade.

As ações de prevenção objetivam:

1. Modificar fatores estruturais ou proximais;


2. Modificar fatores sociais ou situacionais;
3. Modificar fatores específicos de risco e/ou proteção (programas
pontuais) ou modificar um conjunto de fatores (programas integrais);
4. Alcançar toda a população (prevenção primária), grupos de alto risco
(prevenção secundária), agentes violentos e/ou suas vítimas (prevenção
terciária).

Prevenção Estrutural.
Redução da pobreza e da desigualdade social são duas medidas de prevenção
estrutural de longo prazo, que ao alterar as relações e incentivos do mercado de trabalho,
74

bem como o acesso a este, tendem a reduzir a privação e a frustração e, por conseqüência,
a probabilidade de condutas violentas e/ou criminosas futuras.
Urge que se aumentem as oportunidades econômicas para os jovens em
situação de pobreza, que se constituem em sua maioria, vítimas e autores da violência
social e da criminalidade, agregando ações de prevenção de violência doméstica e contra
as mulheres.
Prevenção Proximal ou Imediata.
São ações que visam alterar ou modificar o curso de eventos contingentes, que
produzem ou instigam a violência e/ou criminalidade, como o fácil acesso às armas de
fogo, drogas e álcool.
Prevenção Social.
Atua sobre grupos de alto risco, cuja probabilidade de ser autor ou vítima de
violência e/ou criminalidade é latente, inclui um rol de ações bem diversificadas, que vão
desde acompanhamento de pré-natal e pós-natal de mães em situação de extrema pobreza
ou alto risco, programas educacionais infantis, programas de incentivo ao término dos
estudos secundários para jovens pobres, resolução pacífica de conflitos.
Prevenção Situacional.
Reduz as probabilidades de alguém ser vítima potencial da violência e/ou
criminalidade, através da redução das oportunidades, criando dificuldades para os autores
de crimes, tais como: obstáculos físicos, controle de acesso, sistema de vigilância e
monitoramento, etc.
Prevenção Pontual e Integral.
Prevenção localizada sobre um grupo reduzido de fatores de risco de violência
e/ou criminalidade, por terem multicausalidades, devem ser atacadas através de um
conjunto de medidas tanto no âmbito da prevenção como de controle, isto requer alto grau
de coordenação interinstitucional.
75

CAPÍTULO VI.

CONCLUSÃO E PROPOSTAS DE AÇÕES.

A elaboração de políticas públicas de segurança apresenta limitações e


enfrenta diversas dificuldades, pressionadas pelo capitalismo global e a importação de
modelos neoliberais de controle social, que propõe a diminuição do welfare state e
reforçam o Estado policial e penitenciário, cristalizando desta forma a percepção de que é
individualmente vantajoso se quebrar leis socialmente aceitas. A própria efetividade da
ação policial no controle da criminalidade vem sendo questionada.
O Brasil um país de imensas desigualdades, de estrutura social hierarquizada,
que não reconhece o conflito como mecanismo de construção de uma nova ordem
negociada. Nega-se o conflito e se impunha a conciliação forçada. O indivíduo é mais
importante que o coletivo e o espaço público é, portanto, negativo. Em adição, os mitos do
marginal perigoso e das classes perigosas que estigmatizam minorias e classes de menor
poder econômico e a pouca produção de estudos sociológicos sobre o crime no país têm,
igualmente, efeitos sobre os modelos de controle da criminalidade.

Assim, no cenário brasileiro, iniciativas políticas que tratam do problema da


criminalidade se limitam a propor mudanças estruturais no Sistema de Segurança Pública,
principalmente ensejando a criação de polícias municipais ou da unificação das polícias
estaduais. Contudo, o tema unificação não é homogeneamente entendido, o que dificulta a
implementação de uma política pública.

A política alternativa de integração que vem sendo implementada pelo


Governo do Estado do Rio de Janeiro, através do Plano Estadual de Política Pública Para
Segurança Justiça e Cidadania, datado do ano de 2000, da nova configuração ao sistema
de segurança pública estadual e busca atender a pressão social de melhoria da prestação
dos serviços do aparelho policial, incrementando o nível de defesa e proteção do cidadão
fluminense. Suas inovações podem ser resumidas em quatro modificações estruturais:

a) Projeto “Áreas Integradas de Segurança Pública” (AISP);


b) Integração Polícia Civil e Polícia Militar nos Cursos de Especialização e nas
Delegacias Especializadas;
c) Instituto de Segurança Pública
76

d) O Centro de Comando e Controle

A Secretaria de Estado de Segurança Pública Fluminense vislumbrou uma


perspectiva prevencionista incorporada de ações sociais "prevenção primária". Foi um acerto ter
alargado o conceito de segurança pública, para fugir da visão policialesca, armadilha na qual os
próprios constituintes de 1988 caíram. Não só reduziram a segurança pública a uma listagem de
órgãos policiais (não nos esqueçamos de que "todos", sem especificação, é o mesmo que
"ninguém"), como a viram com o paradigma da segurança nacional na cabeça. Colocaram o
capítulo da “Segurança Pública” (Cap. III) no Título dedicado à defesa do Estado: “Da Defesa
do Estado e das Instituições Democráticas” (Título V). Os dois outros capítulos desse Título são:
“Do Estado de Defesa e do Estado de Sítio” (Cap. I); e “Das Forças Armadas” (Cap. II). Ora, se
os próprios constituintes não viram a polícia como um instrumento de defesa da cidadania, e sim
do Estado, fica clara a dificuldade de fazer com que os policiais se vejam como servidores da
população, dos cidadãos.
É possível hoje uma avaliação do desempenho do trabalho policial com base em
resultados estatísticos das atividades operacionais, baseadas no estudo das oportunidades e
mecanismos que afetam escolhas racionais dos indivíduos criminosos, no entanto ainda há uma
imensa dificuldade de aferição da percepção social dos serviços que prestamos à sociedade.
A partir dos dados apresentados e analisados de acordo com as questões
investigadas, alcançaram-se pontos conclusivos na pesquisa e foram buscadas algumas
sugestões.
Este estudo tambem enfocou, indicadores de avaliação do trabalho policial
militar no contexto operacional e tem por máximo propósito contribuir com a Policia
Militar do Estado do Rio de Janeiro e com a política de segurança pública integrada,
propondo-se a analisar os mecanismos institucionais de controle da oferta de paz social à
sociedade fluminense, para refletir também sobre a possibilidade da utilização de novos
indicadores mais adequados a construção da polícia moderna, competente e cidadã.
Objetivando investigar se existe alguma avaliação no campo operacional do
trabalho realizado pela PMERJ e este corresponde às expectativas da corporação no que
diz respeito a sua eficiência, constatou-se que oficialmente não existe qualquer índice que
avalie qualitativamente o serviço policial militar, entretanto a PMERJ considera como
referencia para planejamento operacional as estatísticas de criminalidade.
77

Pesquisando se os policiais militares encontram-se realizados


profissionalmente com as atuais avaliações definidas pela Secretaria de Estado de
Segurança Pública, constatou-se que não existe avaliação definida pela SEGEG/RJ, e sim
um acompanhamento estatístico de ocorrências que ajudam e contribuem para o
planejamento operacional pela PMERJ, entretanto os policiais militares que participaram
da pesquisa consideram-se realizados.
Com vistas a investigar se as avaliações realizadas podem de alguma forma
contribuir para uma maior eficiência ao trabalho a ser executado pela PMERJ, verificou-se
que as mesmas são incompletas e não atingem o objetivo de mensurar a qualidade do
serviço.
Objetivando buscar respostas a questão se os indicadores atuais podem ser
modificados para melhor cumprirem seus objetivos ou novos indicadores devem ser
utilizados, constatou-se que é necessário modificar os atuais indicadores e também criar
novos indicadores, como a pesquisa de vitimização, dados de corretoras de seguros,
valores atribuídos ao IPTU, etc.
No intuito de se verificar os indicadores utilizados pela Secretaria Estadual de
Segurança Pública em relação ao trabalho do policial militar e seus resultados, tem ligação
direta com a sua rotina profissional, pode constatar-se que a grande maioria dos
profissionais de segurança pública não relaciona suas rotinas com o trabalho realizado pela
PMERJ, entretanto há uma coincidência numérica sobre o ponto de vista da população
civil no que se refere a boa apresentação pessoal, a educação, o bom senso, o
profissionalismo e a preocupação com o resultado como sendo importantes para o
profissional de segurança pública.

E finalmente ao analisar e identificar os óbices em avaliar o desempenho


operacional militar concluiu-se que 46,83% dos entrevistados não se sentem
comprometidos com o resultado de seu trabalho.

PROPOSTAS.
78

O presente estudo visou compreender cientificamente e com rigor


metodológico a dificuldade que as Polícias do Estado do Rio de Janeiro encontram na
aferição do reconhecimento social da política de integração proposta pela Política Pública
para a Segurança Justiça e Cidadania e modificar e criar novos indicadores de avaliação do
desempenho do trabalho policial militar no contexto operacional e administrativo.
Apresentam-se abaixo, algumas medidas sérias e exeqüíveis que poderão ser
implementadas em curto prazo e com relativa simplicidade, modificando os atuais
indicadores e propondo a utilização de novos indicadores:

• É necessário aferir qualitativamente o desempenho da atividade preventiva,


ou seja, aferindo a mediação dos conflitos no espaço público, a seletividade do uso da
força, a penetração social dos seus serviços.
• É mister a utilização de pesquisas de opinião da sociedade bem como
pesquisas de vitimização periódicas como um indicador complementar, bem como uma
maior comunicação com o cidadão fluminense, permitindo que se contabilize a percepção
social da atuação da PMERJ.
• Urge que as unidades operacionais tenham maior gerência sobre todo o
policiamento, sobretudo o rádiopatrulhamento motorizado, podendo modificar ou suprimir
roteiros e setores com maior rapidez e objetivos determinados e pontuais na busca de
resultados planejados antecipadamente, na busca da pro atividade.
• Ênfase durante a formação policial de técnicas de resolução de conflitos e
relacionamento interpessoal.
• Maior poder de decisão na ponta da linha, ou seja, os executores deverão ter
maior conhecimento e maior poder de decisão.
• Mais integração e formação única de policiais civis e militares.
• E efetivamente um forte investimento e recursos humanos e informacionais.
• Implantação sistêmica e imediata de planejamento operacional alicerçado
em dados e índices produzidos pelo Instituto de Segurança Pública – ISP.
A inovação é um processo organizacional sistêmico e globalista; mesmo que
envolva apenas parte da organização, as causas e conseqüências da inovação afetam todo o
sistema.
79

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86

ANEXOS
87

ANEXO 1
88

LEI Nº 3329 DE 28 DE DEZEMBRO DE 1999

CRIA O INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO - RIOSEGURANÇA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - Fica criado o INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DO


RIO DE JANEIRO - RIOSEGURANÇA, com a finalidade de assegurar, executar, gerenciar
e administrar, de forma uniprocedimental, por intermédio das Polícias Civil e Militar, a
política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, promovendo, ainda, o
aprimoramento profissional dos membros daquelas corporações.

Parágrafo único - O RIOSEGURANÇA deverá promover a otimização da gestão


administrativa da Polícia Civil e da Polícia Militar, e desenvolver procedimentos que visem à
compatibilização das doutrinas aplicadas por aquelas instituições.

Art. 2º - O RIOSEGURANÇA, na consecução de suas finalidades, atenderá


obrigatoriamente, aos seguintes princípios:
I - proposição de sistema eficiente de segurança públlica, a ser implementado por intermédio
de ações coordenadas, integradas e solidárias das Polícias Civil e Militar;
II - compatibilização das doutrinas das Polícias Civil e Militar;
III - assessoramento na gestão de todo e qualquer serviço de segurança que tenha por
finalidade a preservação da ordem pública;
IV - aprimoramento, técnica e permanentemente, dos policiais civis e militares para o
desempenho de suas funções, promovendo o desenvolvimento de uma polícia científica;
V - valorização da dignidade dos policiais civis e militares submetidos à sua gestão.
VI - proposição de plano de carreira para a Polícia Civil, e planejamento de promoções dos
quadros da carreira policial militar, na forma da Lei nº 443, de 1º de julho de 1981;

VII - estudo e proposição de medidas destinadas ao aperfeiçoamento do regime jurídico e


disciplinar das Polícias Civil e Militar, bem como outras que busquem a valorização da
dignidade dos profissionais da área de segurança pública, em especial as seguintes:
89

regime disciplinar que elimine as punições administrativas restritivas da liberdade individual.


b) proposta de fixação em Lei da jornada de trabalho, remunerando-se o serviço
extraordinário.
VIII - definição de áreas e de progressividade de implantação do novo sistema que integra as
ações e procedimentos das Polícias Civil e Militar, avaliando seu cumprimento com
periodicidade a ser estabelecida;
IX - desenvolvimento de estudos e proposição de critérios de classificação de pessoal, tendo
em vista as finalidades de transformação, aperfeiçoamento e criação de um novo modelo de
gestão e emprego das forças de segurança pública, considerando o previsto no inciso anterior,
incluindo o aproveitamento em atividades internas dos profissionais da área de segurança,
portadores de necessidades especiais.

Art. 3º - O RIOSEGURANÇA é uma autarquia vinculada diretamente à Secretaria de Estado


de Segurança Pública, ou a quem vier a sucedê-la, dotada de personalidade jurídica de direito
público, patrimônio e receitas próprias, e gestão administrativa, técnica, patrimonial e
financeira descentralizada.

Parágrafo único - O RIOSEGURANÇA operará com contas distintas das pertencentes ao


Tesouro Estadual.

Art. 4º - O RIOSEGURANÇA, com sede e foro na Capital do Estado, goza, em toda a sua
plenitude, no que se refere a seus bens, serviços e ações, das prerrogativas, inclusive
processuais, e imunidades do Estado.

Art. 5º - Ao RIOSEGURANÇA, para inibir ações criminosas e estabelecer a ordem pública,


compete:

I - elaborar o planejamento da Força Policial face aos cenários existente e futuro:


II - promover estudo sobre a qualidade dos atos atinentes à Polícia Judiciária, dos processos
sumários, e sobre atividades repressivas interrogatórias, em consonância com o Ministério
Público;
III - desenvolver as áreas de pesquisa e inteligência;
IV - desenvolver estudos táticos para implementação das ações policiais;
V - elaborar normas e procedimentos de conduta policial para as operações;
90

VI - analisar e avaliar o material bélico e os equipamentos operacionais;


VII - propor currículos e cursos para aperfeiçoamento, face às novas diretrizes;
VIII - promover o planejamento da operação de segurança para eventos especiais;
IX - elaborar orçamentos de investimentos para os programas, projetos e atividades da área
que lhe compete;
X - dirimir conflitos de competência envolvendo as Polícias Civil e Militar;
XI - promover estudos sobre a qualidade do serviço público de sua competência, com vista a
sua maior eficiência e eficácia;
XII - elaborar, em conjunto com as Polícias Civil e Militar, desde que determinado pelo
Secretário de Estado de Segurança, planos de operações policiais extraordinárias, em eventos
que contem com a presença de número elevado de pessoas, ações estas que serão
implementadas, exclusivamente, pelos comandos das Polícias Civil e Militar.

Parágrafo único - O RIOSEGURANÇA poderá solicitar a colaboração dos órgãos técnicos


e administrativos do Estado, quando necessário.

Art. 6º - Caberá ao Governo do estado fixar os padrões salariais e demais vantagens


concedidas ao pessoal do RIOSEGURANÇA.

Art. 7º - O RIOSEGURANÇA contará, na sua estrutura diretiva, com um cargo em


comissão de Diretor-Presidente, símbolo PR; com um de Vice-Presidente, símbolo VP; e com
quatro Diretores Executivos, símbolo VP, cujos ocupantes serão nomeados pelo Governador.

§ 1º - A Presidência do RIOSEGURANÇA será ocupada pelo Secretário de Estado de


Segurança Pública, não sendo permitida a percepção remuneratória cumulativa.

§ 2º - Os cargos em comissão de Direitos Executivos serão denominados de: Diretor de


Polícia Ostensiva, dirigido por um Oficial Superior da Polícia Militar; Diretor de Polícia
Judiciária, dirigido por um Delegado de Polícia dos Quadros da Polícia Civil de 1ª Categoria;
Diretor Jurídico, dirigido por membros da Procuradoria Geral do Estado, da Defensoria
Pública Geral do Estado ou do Ministério Público do Estado; e Diretor Administrativo
Financeiro.

Art. 8º - As atribuições dos Diretores serão estabelecidas no decreto regulamentador, que


91

fixará, também, a estrutura básica do RIOSEGURANÇA, classificado como autarquia do


Grupo A, consoante o art. 1º da Lei nº 1.272/87, com cargos em comissão e funções de
confiança a serem criados, sem aumento de despesa, mediante transformação.

§ 1º - O quadro de pessoal administrativo inicial do RIOSEGURANÇA poderá ser formado


por servidores públicos civis ou militares, cedidos ao instituto, mediante disposição.

§ 2º - Os Policiais Militares em exercício no RIOSEGURANÇA não serão considerados


agregados, como dispõe o Art. 79 e seus incisos e parágrafos do Estatuto dos Policiais
Militares.

§ 3º - Para exercer suas atribuições, o RIOSEGURANÇA requisitará os servidores, sem


prejuízo de suas atividades normais, para contribuir na área de sua competência.

§ 4º - O ingresso no quadro de pessoal administrativo efetivo dar-se-á, exclusivamente,


mediante prévia aprovação em concurso público de provas e títulos.

§ 5º - Em nenhuma hipótese os membros da Direção do RIOSEGURANÇA terão funções de


comando sobre policiais civis e militares em ações de repressão a ilícitos e de policiamento,
excetuando-se sobre aqueles lotados no Instituto, estritamente para cumprimento de funções
administrativas.

Art. 9º - A seleção dos policiais civis e militares, que terão exercício no RIOSEGURANÇA,
dar-se-á por critérios objetivos, dentre os quais se considerarão, obrigatoriamente, a
capacitação e a avaliação técnico-profissional, bem como o exame do perfil psicológico e da
ficha funcional do interessado.

§ 1º - A seleção referida neste artigo será feita por um Conselho Paritário, formado por
profissionais especializados, representantes da Secretaria de Segurança, da Polícia Militar, da
Polícia Civil e da Secretaria de Administração, nos termos do regulamento desta Lei, e
baseada em critérios claros e transparentes.

§ 2º - Os policiais civis e militares selecionados, na forma deste artigo, para terem exercício
no RIOSEGURANÇA, ficam com a lotação originária mantida, e serão regidos pelos
92

estatutos próprios, em vigor nas respectivas instituições.

§ 3º - As metas de desempenho do RIOSEGURANÇA, bem como o resultado de suas ações,


poderão ser objeto de contrato de gestão, na forma do art. 37, § 8º, da Constituição da
República, e conforme o que vier a ser disposto em Lei.

§ 4º - O RIOSEGURANÇA oferecerá cursos de aperfeiçoamento técnico-profissional, no


Brasil e no exterior, para a capacitação e a especialização de policiais civis e militares.

§ 5º - Os fatos desabonadores para o ingresso no Instituto de Segurança Pública são sobretudo


os que se referem ao envolvimento comprovado com a criminalidade, a corrupção, a extorsão
e a tortura. Faltas de natureza administrativa e disciplinar não constituirão, obrigatoriamente,
um impeditivo absoluto ao ingresso do policial no RIOSEGURANÇA.

Art. 10 - O RIOSEGURANÇA é representado por seu Diretor-Presidente.

Parágrafo único - O patrocínio judicial do RIOSEGURANÇA será exercido pela


Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, que não terá poderes para receber citação.

Art. 11 - O RIOSEGURANÇA adotará a sistemática financeira e orçamentária aplicável ao


Estado, atuando sempre com base nos princípios de eficiência e economicidade.

Art. 12 - Na gestão orçamentária, financeira, econômica e patrimonial, serão observadas, no


que couber, as normas de controle do sistema contábil do Estado.

Art. 13 - A publicação do balanço patrimonial do RIOSEGURANÇA será feita no Diário


Oficial do Estado, no prazo estabelecido em legislação própria.

Art. 14 - O balanço geral do RIOSEGURANÇA e seus demonstrativos serão remetidos ao


Tribunal de Contas do Estado nos prazos fixados na legislação em vigor, por intermédio da
Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Art. 15 - Os recursos financeiros do RIOSEGURANÇA serão depositados,


obrigatoriamente, no estabelecimento bancário utilizado pelo Estado, podendo ser
93

movimentados somente mediante cheques e ordens de pagamento assinados, conjuntamente,


pelo Diretor-Presidente e pela autoridade designada em regulamento.

Art. 16 - Além dos créditos orçamentários que lhe forem transferidos pelo Estado, bem como
das receitas que lhe são inerentes como entidade autárquica, constituem fontes de receita
específicas do RIOSEGURANÇA:

I - recursos do Fundo Especial da Secretaria de Segurança Pública - FUNESSP, instituído


pela Lei nº 2.571, de 11 de junho de 1996, e regulamentado pelo Decreto nº 23.001, de 18 de
março de 1997;
II - os valores arrecadados a título de taxa de prestação de serviços extraordinários de
segurança, conforme o que vier a ser disposto em Lei, cobrada de pessoas ou instituições que
venham a promover eventos, com fins lucrativos ou não, que criem um risco potencial maior
à ordem pública;
III - os valores não pagos decorrentes da taxa prevista no inciso anterior e inscritos em dívida
ativa do Estado;
IV - as doações, legados e rendas extraordinárias ou eventuais que lhe forem destinadas;
V - os valores das multas impostas na área de segurança pública, de acordo com a legislação
pertinente, ressalvados aqueles também decorrentes da multa, porém com destinação especial,
na forma da Lei;
VI - o produto auferido em razão de contratos de gestão; e
VII - outras receitas que lhe forem atribuídas por Lei.

Parágrafo único - estão excluídas da cobrança da taxa de prestação de serviços


extraordinários as atividades e manifestações sociais, sindicais, políticas, ecológicas,
filantrópicas e religiosas de qualquer natureza, que exercitem os direitos constitucionais de
liberdade de expressão e não tenham natureza comercial ou lucrativa.

Art. 17 - O RIOSEGURANÇA deverá, no prazo máximo de 1 (um) ano a contar da


publicação desta Lei, compatibilizar os currículos das Escolas e Academias formadoras de
Oficiais da Polícia Militar, Delegados da Polícia Civil e demais integrantes das carreiras,
criando a Escola de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, à qual competirá a
formação daqueles profissionais
94

* Art. 18 – O RIOSEGURANÇA dará prioridade, a partir da promulgação desta Lei, na


contratação de mão de obra de policiais civis e militares que tenham adquirido algum tipo de
deficiência no exercício de suas funções, e que se encontrem na inatividade.

Parágrafo único – A contratação mencionada no “caput” deste artigo será efetivada através
de entidade de representação dos beneficiários, preferencialmente as Associações de
reabilitação de ex-policiais.
* ( Veto derrubado. Publicado no DOII de 03/04/99)

Art. 19 - O patrimônio do RIOSEGURANÇA será constituído de bens móveis, imóveis e


direitos aquisitivos que lhe forem transferidos pelo Estado, bem como de outros bens que
venha a adquirir.

Parágrafo único - Em caso de extinção do RIOSEGURANÇA, todo o seu patrimônio


passará, obrigatoriamente, a integrar o patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, que o
sucederá em todos os seus direitos e obrigações.

Art. 20 - O Poder executivo regulamentará esta Lei no prazo máximo de 90 (noventa) dias da
data de sua publicação.

Art. 21 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.

Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1999.

ANTHONY GAROTINHO
Governador

RESOLUÇÃO SSP Nº 629, DE 19 DE MAIO DE 2003.


95

Revitaliza os Conselhos Comunitários das Áreas Integradas de Segurança Pública


(AISP), e dá outras providências.

O SECRETÁRIO DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA, no uso de suas


atribuições legais; e Considerando que as Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP)
têm como um de seus objetivos a interação entre os órgãos policiais, as comunidades e as
agências públicas e civis prestadoras de serviços essenciais à população; e Considerando
que com a implantação das AISP’s foram instalados Conselhos Comunitários das Áreas
com a finalidade de aproximar as instituições policiais da comunidade, aprimorar o
controle da criminalidade através do apoio dos que convivem mais de perto com os
problemas e elevar o grau de consciência comunitária sobre a complexidade do tema,

R E S O L V E:

Art. 1º - Determinar a revitalização dos CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE


SEGURANÇA compostos pelo Comandante do Batalhão da Polícia Militar e pelo(s)
Delegado(s) de Polícia Civil que atuam nas respectivas Áreas Integradas de Segurança
Pública (AISP), e por todos os representantes de entidades da Sociedade Civil
(associações, igrejas, escolas etc.) da área que desejarem participar.

Art. 2º - O Conselho Comunitário de Segurança deve reunir-se quinzenalmente,


mensalmente ou na periodicidade conveniente à maioria de seus membros, nas Unidades
da Polícia Militar, nas Delegacias Policiais ou em outros locais designados pela
Comunidade, preferentemente em sistema de rodízio, para que todos tenham a
oportunidade de receber a visita dos membros do Conselho.

Art. 3º - Nas reuniões do Conselho Comunitário de Segurança a pauta, dentre outros


temas de interesse, incluirão necessariamente: a) avaliação das ações desenvolvidas pelos
órgãos policiais no período anterior; b) consignação, em atas ou relatórios, das ações
seguintes a serem desenvolvidas.

Art. 4º - Independentemente das reuniões do Conselho, os Comandantes de cada Batalhão


receberão mensalmente para um café da manhã os Delegados de Polícia e os líderes
comunitários das AISP’s para troca de idéias, sugestões, orientações e/ou reclamações.
96

Art. 5º - Os Comandantes de Unidades da PM deverão disponibilizar as quadras, campos


de futebol, auditórios, e outros espaços para utilização por parte das comunidades.

Art. 6º - Os Conselhos Comunitários de Segurança estão definidos nas Instruções


Provisórias para as Áreas Integradas de Segurança Pública, Anexo II, da Resolução SSP nº
263 de 26 de julho de 1999.

Art. 7º - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as


disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 19 de maio de 2003.


ANTHONY GAROTINHO
97

RESOLUÇÃO SESEG Nº 20 DE 27 DE FEVEREIRO DE 2007.

Institui o Fórum Permanente dos


Conselhos Comunitários de Segurança
na Região Metropolitana, e dá outras
providências.

O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA, no uso de suas atribuições


constitucionais e legais,
Considerando:

- que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro concentra a maior parte da


população e dos registros criminais do Estado do Rio de Janeiro;

- que a instituição do Fórum Permanente é um meio de integração entre os


Conselhos Comunitários de Segurança dessa Região Metropolitana;
- e, finalmente, o que consta do processo administrativo nº E – 09/033/5000/2007

R E S O L V E:
Art. 1º - Fica instituído o Fórum Permanente dos Conselhos Comunitários de
Segurança da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de
propor e acompanhar a implementação das políticas públicas desenvolvidas na área de
Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro.

Art. 2º - Deverão participar das reuniões, como autoridades integrantes da mesa


principal:

I) O Secretário de Estado de Segurança;

II) O Comandante-Geral da Polícia Militar;

III) O Chefe de Polícia Civil;

IV) O Corregedor-Geral da Corregedoria Geral Unificada;

V) O Presidente do Instituto de Segurança Pública;

VI) O Ouvidor de Polícia.


98

Parágrafo Único – As autoridades mencionadas no caput, deverão enviar


representantes em caso de impossibilidade de comparecimento às reuniões.

Art. 3º - Ao Instituto de Segurança Pública, através de sua Coordenação dos Conselhos


Comunitários de Segurança, incumbe criar a metodologia e o acompanhamento das
reuniões do Fórum ora instituído.

Art. 4º - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.


Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2007.

JOSÉ MARIANO BENINCÁ BELTRAME


Secretário de Estado de Segurança

ROTEIRO PARA ENTREVISTAS

NOVAS POLÍCIAS
O ELO INSTITUCIONAL (PMERJ – ISP – UFF – UERJ – ONGS –
GRUPOS DAS MINORIAS)
99

INTEGRAÇÃO x UNIFICAÇÃO
CICLO COMPLETO
CONTROLE INTERNO
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA
LEGITIMIDADE E RECONHECIMENTO
COMO AVALIAR
É PRECISO?
QUAIS OS ÓBICES?

1) O QUE O SENHOR ACHA DO ATUAL SISTEMA DE AVALIAÇÃO


DO TRABALHO POLICIAL UTILIZADO PELA SECRETARIA DE SEGURANÇA
PÚBLICA?

2) O SENHOR ACREDITA QUE OS POLICIAIS MILITARES ESTÃO


SATISFEITOS COM AS ATUAIS AVALIAÇÕES?

3) O SENHOR ACREDITA QUE ALGO POSSA SER MELHORADO NO


SISTEMA DE AVALIAÇÃO OU ATENDE ÁS NECESSIDADES?

4) O ESTADO DO RIO DE JANEIRO POSSUI DIFERENTES REGIÕES,


CADA UMA COM SUAS PECULIARIDADES, ADOTAR UM SISTEMA ÚNICO DE
AVALIAÇÃO, NÃO SERIA ADOTAR UM CRITÉRIO DESIGUAL?

5) QUAL O CRITÉRIO UTILIZADO PARA CHEGAR ÁS METAS


ESTABELECIDAS PELO COMANDO DA CORPORAÇÃO?

6) EXISTEM BATALHÕES QUE NÃO ATINGEM AS METAS E


OUTROS QUE ATINGEM, O CONCEITO DE MELHOR ADMINISTRAÇÃO SÓ
ESTARIA LIGADO A ESTATÍSTICAS OU EXISTE OUTRO ÍNDICE?

7) EM SUA OPINIÃO, A SENSAÇÃO DE SEGURANÇA ESTÁ LIGADA


A ESTATÍSTICAS DE APREENSÃO DE ARMAS E TÓXICOS OU EXISTEM
OUTROS FATORES?
100

8) O SENHOR ACREDITA QUE COM AS METAS ATINGIDAS SE


PODE AFIRMAR QUE EXISTE SEGURANÇA EM UMA DETERMINADA ÁREA OU
NÃO?

QUESTIONÁRIO PARA POLICIAIS MILITARES

1) O atual sistema de avaliação utilizado pela Secretaria de Segurança Pública para


mensurar o trabalho policial militar se prende a estatísticas de diversos tipos de crimes dentre os
quais se destacam apreensão de tóxicos e armas e prisões em flagrante delito. O que o senhor
acha desse modelo?
101

Resposta:

2) Como o senhor acha que seu rendimento profissional é avaliado?


( ) nº. de apreensões.
( ) nº. de prisões
( ) controle da criminalidade e violência e resolução de conflitos.

3) No seu entendimento esta avaliação condiz com os objetivos do trabalho


policial?
( ) sim
( ) não

4) Esta avaliação ajuda você a melhorar o seu serviço?


( ) sim
( ) não

5) No seu entendimento esta avaliação é correta?


( ) sim
( ) não

6) Se as estatísticas dos principais crimes em sua área de atuação diminuem


isso é visto como positivo pelos seus superiores?
( ) Sim ( ) Não

7) Qual seria a melhor maneira de avaliar o serviço da polícia militar?


Resposta:

8) Como cidadão já precisou do serviço policial militar, em caso positivo,


como avaliou o desempenho do trabalho?
( ) Ótimo
( ) Bom
( ) Regular
( ) Insuficiente
102

9) Ao longo de uma jornada de trabalho o senhor acha que todas as missões


executadas são efetivamente funções policiais?
( ) sim
( ) não

10) O senhor acredita que a boa apresentação pessoal, a educação, o bom


senso, o profissionalismo e a preocupação com os resultados são importantes para o
trabalho policial militar?
( ) sim
( ) não
( ) em parte

11) Ao cumprir uma missão da P/3 da unidade operacional, o senhor se sente


realizado profissionalmente com a execução do feito simplesmente ou se compromete e se
preocupa com o efetivo resultado do trabalho?
( ) execução do feito
( ) resultado
( ) não me sinto realizado profissionalmente

12) O senhor acredita que tem autoridade e poder de decisão suficiente para
levar uma ocorrência policial a bom termo, ou necessitaria de mais informação,
conhecimento profissional e poder?
( ) autoridade suficiente
( ) mais conhecimento, informação e poder
( ) não observado
( ) impossível na conjuntura atual
QUESTIONÁRIO PARA CIVIS

1) O atual sistema de avaliação utilizado pela Secretaria de Segurança


Pública para mensurar o trabalho policial militar se prende a estatísticas de diversos tipos
de crimes dentre os quais se destacam apreensão de tóxicos e armas e prisões em flagrante
103

delito. O que o senhor acha desse modelo? Ele poderia ser considerado completo?
Existem, no seu entender, outras maneiras dessa avaliação ser feita?

Resposta:

2) O senhor está satisfeito com atual assistência que a Polícia Militar vem
dando a sua comunidade?

( ) sim
( ) não
( ) parcialmente

3) O senhor já precisou utilizar os serviços da Polícia Militar?

( ) sim
( ) não

4) Em caso positivo qual foi o motivo?

Resposta:

5) O senhor foi bem atendido no momento da solicitação (190), no


transcorrer da ocorrência e em determinados casos nas conseqüências que advem da
ocorrência.
( ) sim
( ) não
( ) em parte
6) Em sua opinião qual seria a melhor maneira de avaliar o trabalho policial?

Resposta:

7) Atualmente a PMERJ vem realizando reuniões periódicas, com propósito


de tratar de assuntos de segurança pública, com as comunidades da área de atuação dos
respectivos batalhões. O senhor já participou de alguma e qual a sua opinião a respeito?
104

Resposta:

8) Qual o conceito que o senhor daria para o trabalho policial militar em sua
região?

( ) Ótimo
( ) Bom
( ) Regular
( ) Insuficiente

9) O senhor acredita que a boa apresentação pessoal, a educação, o bom


senso, o profissionalismo e a preocupação com os resultados são importantes para o
trabalho policial militar?

( ) sim
( ) não
( ) em parte

10) O que o senhor considera mais importante, prender marginais da lei e


apreender armas e tóxicos ou agir diretamente na prevenção e nos pequenos delitos diários
que agem diretamente no sentimento de impotência da comunidade e medo coletivo e na
resolução de conflitos.

( ) prender e apreender tóxicos


( ) prevenção, controle da criminalidade e violência e resolução de conflitos.

11) O senhor acredita que o Governador do Estado, ou o Secretário Estadual


de Segurança ou o Comandante Geral da PMERJ deveriam dizer como a polícia deveria
agir ou através das resoluções dos conflitos e a evolução da sociedade a própria sociedade
deveria fazê-la?

( ) Governador do Estado
( ) Secretário de Segurança
105

( ) Comandante Geral
( ) A própria sociedade

12) O senhor acredita que um rápido atendimento de uma ocorrência, desde a


solicitação através do telefone 190, até a chegada da viatura é um importante instrumento
de medição do trabalho da polícia?

( ) Sim ( ) Não

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