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Universidade Federal de Alagoas

Campus Arapiraca
Curso Superior de Licenciatura em Matemática

FUNÇÕES CONVEXAS E A
DESIGUALDADE DE JENSEN

Claudio Roberto Pereira Silva

ARAPIRACA - AL
2010
Claudio Roberto Pereira Silva

FUNÇÕES CONVEXAS E A
DESIGUALDADE DE JENSEN

Monografia apresentada à banca exami-


nadora do Curso Superior de Licenciatura
Matemática da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL), como requisito parcial à
obtenção do tı́tulo de Graduado com Licen-
ciatura Plena em Matemática.

Orientador: Prof. MsC. Ében Alves da Silva

ARAPIRACA - AL
2010
Claudio Roberto Pereira Silva
Funções convexas e a desigualdade de Jensen

Esta monografia foi apresentada no dia 22 de Dezembro de 2010 e julgada


adequada para a obtenção de tı́tulo de Graduado com Licenciatura Plena
em Matemática, por ter sido aprovada em sua forma final pela banca exa-
minadora do Curso de Licenciatura Plena em Matemática da Universidade
Federal de Alagoas, Campus Arapiraca.

Prof. Dr. José da Silva Barros


Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Matemática - UFAL

Banca examinadora:

Prof. MsC. Ében Alves da Silva


Orientador - UFAL

Prof. MsC. José Arnaldo dos Santos


Examinador - UFAL

Prof. MsC. Moreno Pereira Bonutti


Examinador - UFAL

ARAPIRACA - AL
2010
Dedicatória

Dedico este trabalho a todos os que acreditaram e estiveram junto comigo


em toda a construção e além de tudo, aqueles que estiveram ao meu lado em
todas as pedras do curso de matemática. Dedico este trabalho a cada leitor
que se interessar a lê-lo e compreendê-lo, só assim saberei que este trabalho
teve um fundamento realmente importante.

”O primor vem com muito esforço e dedicação”


Claudio Pereira
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por estar sempre ao meu lado e ter me


dado a oportunidade de viver para poder estar nesses momentos. Logo em
seguida agradeço aos meus pais Paulo de Oliveira Silva e Ivanilda Pereira
Silva por ter me dado todo o amparo necessário para que eu pudesse chegar
até o fim dessa caminhada. Agradeço aos meus irmãos Paulo Roberto Pereira
Silva e Rodrigo Pereira Silva e também a minha cunhada Débora Ramos, pois
sem esses três talvez nem tivesse ingressado na Universidade. Devo muito e
muito a minha tia Nauza, pois sem ela nada dessa luta seria possı́vel, ou no
mı́nimo ficaria muito mais difı́cil.
Dessa forma, gostaria de agradecer a todos aqueles que torceram por mim
e me ajudaram ao longo dessa caminhada, dentre essas pessoas vou destacar
meus professores MsC. José Arnaldo que me fez renascer das cinzas dentro
do curso e ao meu orientador e grande companheiro MsC. Ében Alves, além
dos meus grandes amigos e companheiros nesta batalha representados por
James Miguel e Otavio Araujo.

”Para evoluir e somar conquistas é preciso adicionar persistência em tudo”


Nuno Cobra
Resumo

Esse tema foi trabalhado a partir das idéias de meu professor e orientador
MsC. Ében Alves da Silva, que deu a sugestão do tema e eu decidi dar
progresso a essa idéia. A Desigualdade de Jensen trata sobre desigualdades
entre funções convexas, por conta deste fato, decidimos agrupar esses dois
temas. É muito interessante principalmente para alunos que buscam apoio
para as Olimpı́adas de Matemática. Pois, essa desigualdade é rotineiramente
presente em provas nacionais e esse tipo de função não é visto no nı́vel de
ensino que esses alunos se encontram.
Para embasar nosso tema principal, trataremos nos capı́tulos iniciais
temas como topologia na reta, funções contı́nuas, limite e derivada. Que
o leitor deve ter como pré-requisito para o estudo de funções convexas e a
desigualdade de Jensen. Podemos fazer uma ressalva para o leitor que já pos-
suir conhecimento sobre tais assuntos bases, esses leitores poderão, sem perda
de compreensão, ir diretamente para o estudo do capı́tulo 6 que trata sobre
funções convexas, assim podendo estudar os capı́tulos 7 e 8, Desigualdade de
Jensen e aplicações, respectivamente.

Palavras-chave: Desigualdade de Jensen; funções convexas; Olimpı́adas


de Matemática; alunos; Ensino Médio.
Abstract

This theme was worked out from the ideas of my teacher and mentor MsC.
Eben Alves da Silva, who gave the suggestion of the theme and I decided to
progress this idea. The inequality is Jensen convex functions on inequalities
between, due to this fact, we decided to group the two themes of this work
and produce a very simple way. This is a very interesting topic, especially
for high school students who seek support for the Math Olympics. Well, this
inequality is routinely present in national tests and that kind of function is
hardly seen in the level of education these students are.
To support our main theme, in the early chapters treat topics such as
topology in straight, continuous functions, limits and derivatives. The reader
must have as a prerequisite for the study of convex functions and Jensen’s
inequality. We can make an exception for the reader who already have knowl-
edge about such matters bases, these readers may, without loss of under-
standing, go directly to the study of Chapter 6 which deals with convex
functions, thus being able to study Chapters 7 and 8, Inequality Jensen and
applications, respectively.
Keywords: Convex functions; Jensen’s inequality; students, high school,
Math Olympics.
Sumário

1 Nota histórica 12

2 Topologia na reta 15
2.1 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3 Continuidade 24
3.1 Função contı́nua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2 Propriedades das funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . 28

4 Limite 30
4.1 Analisando os limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Propriedades básicas de Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

5 Derivadas 36
5.1 Continuidade e existência da derivada . . . . . . . . . . . . . . 38

6 Função convexa 46
6.1 Conjunto convexo de Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
6.2 Função convexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.3 Propriedades de funções convexas e côcavas . . . . . . . . . . . 53

8
7 Desigualdade de Jensen 57
7.1 Observando a desigualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
7.2 A Desigualdade de Jensen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

8 Aplicações 64
Introdução

Este trabalho trata sobre a Desigualdade de Jensen, uma desigualdade


que auxilia bastante na resolução de questões referentes a função côncava
e convexa. Este trabalho têm o intuito de auxiliar muitos matemáticos
que gostam do tema e principalmente buscam apoio para as Olimpı́adas de
Matemática. Pois, infelizmente, esse tema não é abordado nas salas de aula
do Ensino Médio. O tema, de uma maneira geral, é tratado de uma maneira
bem simples e de fácil compreensão, além de todos os exemplos que facilitam
a compreensão de todos.
O tema ”principal”desse trabalho é a Desigualdade de Jensen, além de
suas aplicações, que são colocados nos dois últimos capı́tulos deste trabalho.
Contanto, para facilitar a compreensão e formar bases estruturadas para
tal compreensão, foram colocados nos capı́tulos que precedem estes dois
capı́tulos alguns temas necessários, assim como Topologia na Reta, Con-
tinuidade, Limites, Derivadas, Função Convexa (côncava). Porém, o leitor
que já tiver conhecimento prévio suficiente sobre tais temas, poderá, sem
perda de conteúdo, partir para a leitura inicial dos capı́tulos 7 e 8.
No capı́tulo 1, faremos uma breve introdução histórica, contando um
pouco da vida de Valdemar Jensen, autor da desigualdade que trabalharemos,
a qual leva seu nome. No capı́tulo 2 tratamos da topologia na reta, assim

10
como conjuntos aberto, fechado e compacto. No capı́tulo 3 falaremos sobre
continuidade, funções contı́nuas e propriedades. No capı́tulo 4, temos li-
mites, alguns teoremas importantes e propriedades. No capı́tulo 5 trataremos
sobre derivadas, alguns teoremas importantes com as demonstrações somente
dos considerados principais, além de algumas propriedades. No capı́tulo 6
temos as funções convexas (côncavas) e algumas propriedades. No capı́tulo
7 trataremos da desigualdade de Jensen e alguns teoremas sobre as formas
da desigualdade mais simples e mais generalizada. E por fim, no capı́tulo 8,
trazemos algumas aplicações da Desigualdade de Jensen.

11
Capı́tulo 1

Nota histórica

Figura 1.1: Valdemar Jensen

Johan Ludwig William Valdemar Jensen nasceu na cidade de Nakskov -


Dinamarca, no dia 8 de maio de 1859. Seu pai era diretor administrativo de
uma empresa em uma pequena cidade ao norte da Dinamarca. Além disso,
o pai de Jensen pode ser considerado um grande sonhador, adorava idealizar
coisas novas, se autonominava um grande empreendedor e até, as vezes um
inventor. Apesar de sua boa educação e estilo culto, seus projetos sempre

12
acabavam resultando em grandes perdas financeiras para sua famı́lia. O que
fez com que eles acabassem tendo que se mudar para a cidade de Copenhagen,
capital do paı́s.
Isso proporcionou para Jensen, a chance de concluir seus estudos na ca-
pital de seu paı́s. No ano de 1876, ele ingressou na Faculdade de Tecnolo-
gia de Copenhagen, onde acabou demonstrando bastante interesse por uma
grande diversidade de assuntos cientı́ficos, incluindo a matemática, fı́sica e
quı́mica. Contudo, foi com a matemática que ele mais se identificou, dizendo-
se apaixonado pela disciplina em sua totalidade. A partir de então, começou a
se relacionar com a matemática mais intimamente e acabou deixando de lado
as outras disciplinas que também havia chamado sua atenção. Foi também
nesse perı́odo que Jensen começou a escrever seus primeiros artigos como
estudante da Faculdade de Tecnologia de Copenhagen.
Jensen era um engenheiro de telecomunicações, que nas horas vagas tra-
balhava como um matemático amador. Apesar disso, ele produziu pesquisas
de alto nı́vel no ramo da matemática, mesmo trabalhando paralelamente
como engenheiro. Ele foi um espetacular autodidata ao fazer pesquisas em
matemática sem nunca ter tido uma formação acadêmica exclusiva na área
da pesquisa. Houve uma fase em sua vida em que a matemática era a única
matéria que realmente o interessava. Foi nesse perı́odo que ele alcançou
grande êxito em suas pesquisas. Nessa mesma época, ele aceita um emprego
em uma empresa de telefonia. Porém isso não foi capaz de afastá-lo de seus
desejos em fazer pesquisas na área da matemática. Antes disso, ele não tinha
um emprego para conseguir se sustentar e para continuar com a matemática.
Em 1890, Jensen tornou-se chefe de departamento técnico dessa mesma com-
panhia, à qual ele continuou a trabalhar até 1924.
Apesar de não ser tão conhecido, Jensen teve algumas produções que

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contribuı́ram bem para o avanço da matemática. Jensen contribuiu para
a hipótese de Riemann provando um teorema que foi enviado para Mittag-
Leffler e que foi publicado em 1899. O teorema é importante, mas não traça
a direção completa para a hipótese de Riemann, como Jensen esperava e
expressou o principal valor do logaritmo do valor absoluto de uma função
Holomorfa sobre um cı́rculo para o significado para a distância dos zeros do
centro e o valor no centro.
Ele também estudou séries infinitas, a função gamma e as inequações
para as funções convexas. Em um artigo publicado em 1906 na Acta Ma-
thematica, Jensen provou uma desigualdade para as funções convexas, a qual
será apresentada neste trabalho, que é bastante utilizada hoje para resolver e
provar questões envolvendo inequações, que estão constantemente presentes
nas Olimpı́adas de Matemática atuais.
Valdemar Jensen acabou falecendo na data de 05 de março de 1925, com
65 anos incompletos, na cidade de Copenhagen, capital da Dinamarca, onde
concluiu seus estudos e produziu suas publicações, cidade a qual lhe possi-
bilitou o prazer de estudar e criar suas publicações na matemática.

14
Capı́tulo 2

Topologia na reta

A topologia, em si, se preocupa com grande generalidade, com noções


sobre as formas, os limites, com as propriedades das funções contı́nuas e dos
conjuntos onde tais funções são definidas e tomam seus respectivos valores
de reta.
Ao longo deste capı́tulo, serão apresentadas algumas notações sobre a
topologia na reta. Então, devemos deixar claro para o leitor que, sempre
que falarmos sobre números, devemos ter claramente a idéia que estamos
tratando de um número real. Logo, podemos notar que, os números reais
podem ser representados por pontos de uma reta através de suas abscissas.
É bastante costumeiro utilizarmos a palavra ”ponto”em lugar de ”número”;
dessa forma, um determinado ponto x representa um número real x e vice-
versa. Um outro importante fato com o qual devemos ter conhecimento é
a definição de uma sequência de números reais que se representa por uma
função x : N → R tal que:

x:N→R
x(n) = xn , ∀ n ∈ N

15
Visto isso, apresentaremos agora, então, algumas definições básicas que
devemos conhecer sobre conjuntos, retas e pontos.

2.1 Conjuntos abertos

Definição 2.1 Ponto interno ou ponto interior


Dizemos que um ponto x é ponto interno ou interior a um conjunto A,
se esse conjunto contém um intervalo (a, b), tal que possui x como um de
seus elementos, isto é, x ∈ (a, b) ⊂ A. De acordo com essa definição, todos
os pontos de um intervalo aberto (a, b) são pontos do interior do intervalo.
O interior de um conjunto A é o conjunto de todos os seus pontos interi-
ores. Assim o intervalo (a, b) é seu próprio interior e é também o interior do
intervalo fechado [a, b].
Se o conjunto A possui algum ponto interior, ele deve conter pelo menos
um intervalo aberto, logo é infinito. Assim, se tomarmos A = {a1 , a2 , ..., an }
como sendo um conjunto finito, nenhum de seus pontos é interior, ou seja,
temos int(A) = ø. De outra maneira, temos também que, como todo in-
tervalo aberto é um conjunto não-enumerável, se int(A) 6= ø, então A é
não-enumerável.

Definição 2.2 Conjunto aberto


Um subconjunto A ⊂ R chama-se conjunto aberto quando todos os seus
pontos são interiores a ele próprio, isto é, quando int(A) = A.
Assim A é um conjunto aberto se, e somente se, para cada x ∈ A existe
um intervalo aberto (a, b) tal que x ∈ (a, b) ⊂ A.

16
Observação 2.1 Um conjunto vazio é um conjunto aberto. Como efeito
desse fato, temos que um conjunto H só pode deixar de ser aberto se existir
em H algum ponto que não seja interior a ele. Como não existe ponto algum
em um conjunto vazio, somos forçados a admitir que um conjunto vazio é
sempre aberto.

Teorema 2.1 a) Se A1 ⊂ R e A2 ⊂ R são abertos, então A1 ∩ A2 é aberto.


b) Seja (Aλ ) λ ∈ L uma famı́lia arbitrária de conjuntos abertos Aλ ⊂ R.
[
A reunião A = Aλ é um conjunto aberto.
λ⊂L

Demonstração.
a) Seja x ∈ A1 ∩ A2 . Então x ∈ A1 e x ∈ A2 . Logo existem intervalos tais
que x ∈ (a1 , b1 ) ⊂ A1 e x ∈ (a2 , b2 ) ⊂ A2 . Sejam a o maior dos números a1 , a2
e b o menor dos números b1 , b2 . Então x ∈ (a, b) = (a1 , b1 )∩(a2 , b2 ) ⊂ A1 ∩A2 .
Portanto, temos que todo ponto x ∈ A1 ∩ A2 é interior e portanto esta
intersecção é um conjunto aberto.

b) Seja x ∈ A = ∪Aλ . Então existe λ ∈ L tal que x ∈ Aλ . Como Aλ é


um conjunto aberto, então podemos um intervalo um intervalo (a,b) tal que
x ∈ (a, b) ⊂ Aλ . Como Aλ ⊂ A, temos x ∈ (a, b) ⊂ A. Com isso, temos que
todo ponto x ∈ A é um ponto interior e portanto A é aberto.

Definição 2.3 Vizinhança de números


Dado um número x0 ∈ A, chama-se de vizinhança  de x0 a todos os
números x pertencentes ao intervalo (x0 − , x0 + ). Daqui por diante, de-
notaremos uma vizinhança por V (x0 ). Podemos observar que a condição
x ∈ V (x0 ) pode ser colocada na forma:

17
|x − x0 | <  ⇔ − < x − x0 <  ⇔ x0 −  < x < x0 + 

De uma maneira mais geral, podemos notar que vizinhança de um ponto


x0 é qualquer conjunto que contenha um intervalo aberto (x0 − , x + ) cen-
trado em x0 para um dado  > 0, tomado arbitráriamente próximo de 0.
Mas, a menos que o contrário seja dito, uma vizinhança significaria sempre
um intervalo aberto. Porém, as vezes é mais interessante para nós que con-
sideremos uma vizinhança de V (x0 ) de x0 , excluindo o próprio ponto, a esse
tipo de vizinhança chamamos de vizinhança perfurada de x0 . E denota-se
por:

V0 (x0 ) = V (x0 ) − x0 = x ; 0 < |x − x0 | < 

Definição 2.4 Ponto de acumulação


Diz-se que um ponto x0 é o ponto de acumulação de um conjunto A se
toda vizinhança de x0 contém pontos de A, ou seja, se para todo  > 0 a
vizinhança V (x0 ) contém infinitos pontos de A diferente de x0 . Em sı́mbolos
temos que:

V0 (x0 ) ∩ A 6= ø

Importante:

Um ponto de acumulação de um conjunto A pode ou não pertencer ao


conjunto. Por exemplo, os extremos do intervalo aberto (a, b) são pontos de
acumulação do intervalo e não pertencem ao intervalo. E todos os pontos do
interior do intervalo também são seus pontos de acumulação e pertencem a
ele.

18
Definição 2.5 Ponto isolado
Um ponto x de um conjunto A, diz-se isolado se não for ponto de acu-
mulação de A. Isso é equivalente a dizer que existe  > 0 tal que V0 (x) não
contém qualquer elemento de A. Logo, temos que:

∃  > 0 | V0 (x) ∪ A 6= ø

Dizemos que um conjunto A é discreto ou enumerável, quando todos os seus


pontos são isolados. Veja o exemplo abaixo.

Exemplo 2.1  
1 2 3 4 n
A= , , , , ... , , ...
2 3 4 5 n+1

Definição 2.6 Ponto aderente


Diz-se que um ponto x é aderente a um conjunto A ⊂ R quando x for
limite de uma sequência de pontos xn ∈ A.
Todo ponto x ∈ A é aderente a A. Para percebermos isso, basta que
tomemos a sequência de pontos xn = x. Mas pode-se ter x aderente a A sem
que x pertença a A.

Exemplo 2.2 Se A = (0, +∞), então temos que 0 ∈


/ A, mas 0 é aderente a
1 1
A pois, 0 = lim , onde ∈ A para todo n positivo.
n→∞ n n

Observação 2.2 Podemos definir o limite de uma sequência da seguinte


forma: lim xn = x se, e somente se dada qualquer V (x), ∃ n0 ∈ N tal que
n > n0 , tem-se xn ∈ V (x).

19
Teorema 2.2 Um ponto x ∈ R é aderente a um conjunto A ⊂ R se, e
somente se, para todo ε > 0 tem-se A ∩ (x − ε, x + ε) 6= ø.

Demonstração.
Se x é aderente a A, então x = lim xn , onde xn ∈ A para todo n ∈ N.
Tomemos arbitráriamente um ε > 0, então xn ∈ (x − ε, x + ε) para todo n
suficientemente grande. Com isso (x − ε, x + ε) ∩ A 6= ø. Reciprocamente,
supondo que esteja satisfeita essa para cada n ∈ N podemos en-
 condição, 
1 1
contrar xn ∈ A tal que xn ∈ x − , x + . E com isso, definimos uma
n n
1
sequência de pontos xn ∈ A tais que |xn − x| < . Logo lim xn = x e
n
portanto x é aderente a A. O que termina nossa demonstração.

Outra forma de mostrarmos que um ponto é aderente, é dizendo que um


número x0 é ponto aderente do conjunto A, se qualquer vizinhança de x0
contém algum elemento de A. Isso quer dizer que x pode ser um elemento
do conjunto A ou não. Mas se não for, certamente será ponto de acumulação
de A.
O leitor deve ficar atento para não confundir ponto de acumulação e
ponto de aderência. No caso, quando temos uma sequência de números reais
(xn ) ; n ≤ 1, um ponto de aderência pode ou não coincidir com os elementos
da sequência, e se não coincidir temos um ponto de acumulação do conjunto
de valores da sequência.
O conjunto dos pontos aderentes a A é chamado de fecho ou aderência
de A, e é costumeiramente representado por A. Como podemos notar, A é a
união de A com o conjunto de seus pontos de acumulação, denotado por A0 ,
logo A = A ∪ A0 .

20
Definição 2.7 Conjunto denso
Diz-se que um conjunto A é denso em um conjunto B se todo ponto de B
que não pertence a A é ponto de acumulação de A. Dito de outro modo, todo
ponto de B, ou já está em A, ou é ponto de acumulação de A, de tal modo
que se juntarmos a A e seus pontos de acumulação, o conjunto resultante
conterá B.
Em particular, A ser denso em R significa que todo número real é ponto de
acumulação de A. Por exemplo, o conjunto Q é denso em R; analogamente,
também é denso em R o conjunto dos números irracionais.

2.2 Conjuntos fechados

Definição 2.8 Conjunto fechado


Chamaremos de conjunto fechado ou fecho do conjunto A ao conjunto
formado por todos os pontos aderentes a A, representamos isto escrevendo
A. Evidentemente tem-se A ⊂ A para todo A.
Um conjunto A será dito fechado quando todo ponto aderente a A per-
tencer ao próprio conjunto A, ou seja, A = A.
Assim, para que A seja fechado, é necessário e suficiente que A cumpra a
seguinte condição:

Se xn ∈ A para todo n ∈ N e lim xn = a, então a ∈ A

21
Observação 2.3 Um conjunto A ⊂ R é fechado se, e somente se, seu com-
plementar, R − A, for aberto.

Definição 2.9 Intervalo aberto


Dizemos que o intervalo (a, b) ∈ A é aberto se todo ponto deste intervalo
é interno a A, isto é, se todos os números estiverem compreendidos entre a e
b. E podemos denotar das seguintes formas:

• a<x<b

ou

• (a, b)

ou ainda na forma de conjunto,

• {x | a < x < b}

É esse o caso de um intervalo (a, b) ser um intervalo aberto, como já vinha
sendo chamado anteriormente.

Exemplo 2.3 Um intervalo aberto pode ser (0, 1), isto é, o intervalo que
vai de 0 à 1, porém não inclui o ponto 0, nem o ponto 1. De outra forma,
0 < x < 1.

Definição 2.10 Intervalo fechado


Dizemos que um intervalo [a, b] de um conjunto A é fechado quando inclui
os seus termos a e b, isto é, A = A = A ∪ A0 , onde A0 é o conjunto dado
e tem-se que A0 ⊂ A. Podemos denotar um intervalo fechado das seguintes
formas:

22
• [a, b]

ou

• a≤x≤b

ou ainda, em forma de conjunto,

• {x | a ≤ x ≤ b}

Exemplo 2.4 Como exemplo de um intervalo fechado, temos os pontos [2, 3]


da reta, que formam uma semi-reta que vai do ponto 2 até o ponto 3. De
outra maneira 2 ≤ x ≤ 3.

23
Capı́tulo 3

Continuidade

3.1 Função contı́nua

Diz-se que a função f é contı́nua no ponto x = a se existir o limite de f (x)


com x tendendo a a e esse limite for igual a f (a); e diz-se que f é contı́nua
em seu domı́nio, ou contı́nua, simplesmente, se ela for contı́nua em todos os
pontos de seu domı́nio.

Uma outra forma com a qual podemos definir função contı́nua é a que se
segue: Dizemos que uma função f : X → R é contı́nua em um ponto a ∈ X,
quando para todo  > 0 dado arbitráriamente, pode-se obter γ > 0 tal que
x ∈ X e |x − a| < δ implica em |f (x) − f (a)| < .
E mostrando através de sinais, temos:

∀  > 0; ∃ δ > 0; x ∈ X ; |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < 

24
Observação 3.1 Ao contrário da definição vista em limite, só se tem sen-
tido fazer a análise se f é contı́nua no ponto a, quando a ∈ X, ou seja, a
pertence ao domı́nio da função.

Observação 3.2 Se a é um ponto isolado do conjunto X, então toda função


f : X → R é contı́nua no ponto a. (Seja dado qualquer  > 0, basta que
tomemos δ > 0 de forma que (a − δ, a + δ) ∩ X = {a}. Com isso, temos que
|x−a| < δ com x ∈ X, o que implica x = a e portanto |f (x)−f (a)| = 0 <  ).
Em particular, se todos os pontos de X são isolados, então qualquer função
f : X → R é contı́nua.

Exemplo 3.1 Toda função f : Z → R é contı́nua, porque todo ponto de


Z é isolado. Por
 essa mesmarazão, temos que toda função definida no
1 1 1
conjunto X = 1, , , ..., , ... é contı́nua. Por outro lado, notamos que,
 2 3 n
1 1
se Y = 0, 1, , ..., , ... então uma função f : Y → R é contı́nua se, e
2 n
somente se é contı́nua no ponto 0 (já que todos os demais pontos de Y são
todos isolados).
 Em  outras palavras f : Y → R é contı́nua se, e somente se,
1
f (0) = lim f .
n→∞ n

A continuidade de uma função pode ser tida como um fenômeno local, ou


seja, se uma função f coincide, nas proximidades de um dado ponto a, com
uma outra função que é contı́nua em a, então f também é contı́nua nesse
ponto.

25
Teorema 3.1 Se f : X → R é contı́nua no ponto a ∈ X, então f é limitada
em alguma vizinhança de a, isto é, existe algum δ > 0 de forma que, pondo
Uδ = X ∩ (a − δ, a + δ), o conjunto f (Uδ ) é limitado.

Teorema 3.2 Se f, g : X → R são contı́nuas no ponto a ∈ X e f (a) < g(a),


então existe δ > 0 tal que f (x) < g(x) para todo x ∈ X com |x − a| < δ.

Corolario 3.1 Sejam dadas f : X → R uma função contı́nua no ponto


a ∈ X e k ∈ R uma constante qualquer. Se f (a) < k, então existe δ > 0, tal
que f (x) < k para todo x ∈ X com |x − a| < δ.

Demonstração.
Sendo f (a) < k, tomamos então  = k − f (a) < 0. Pela definição vista
em Função Contı́nua, para este  corresponde um δ > 0 tal que x ∈ X,
|x − a| < δ ⇒ f (a) −  < f (x) < f (a) + . Mas, temos que f (a) +  = k. Logo
todo ponto x ∈ X, cuja distância do ponto a seja menor que a do ponto δ
cumpre f (x) < k.

Evidentemente o resultado análogo também é válido, ou seja, se f (a) > k;


existe um δ > 0 tal que x ∈ X e |x − a| < δ ⇒ f (x) > k. O mesmpo fica
claro para f (a) 6= k, pois se f (a) 6= k, então ou f (a) > k, ou f (a) < k, o que
já está demonstrado.

26
Teorema 3.3 (Teorema do Valor Médio) Seja f : [a, b] → R contı́nua. Se
f (a) < d < f (b) então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

Demonstração.
Seja dado um conjunto A = {x ∈ [a, b] | f (x) < d}. A não é vazio pois
f (a) < d. Nesse conjunto afirmamos que nenhum elemento de A é maior
que todos os outros. Com efeito, tomemos α ∈ A. Como f (α) < d, vemos
que α 6= b, logo α < b. Tomamos então ε = d − f (α), a continuidade de
f no ponto α nos dá um δ > 0 (que neste caso tomaremos pequeno, de
modo que tenhamos [α, α + δ] ⊂ [a, b]) tal que, para todo x ∈ [α, α + δ)
tenhamos f (x) < f (α) + ε, ou seja, f (x) < d. Dessa forma, todos os pontos
do intervalo [α, α + δ) pertencem a A. Agora peguemos c, onde c é limite de
uma sequência de pontos xn ∈ A, daı́ temos f (c) = lim f (xn ) ≤ d. Como A
não possui maior elemento, não se tem c ∈ A. Portanto não vale f (c) < d, o
que nos leva a concluir que f (c) = d.

Corolario 3.2 Seja f : I → R contı́nua num intervalo I (que pode ser


fechado ou não). Se a < b pertencem a I e f (a) < d < f (b), então existe
c ∈ I tal que f (c) = d.

Demonstração.
Seja f ∈ [a, b], onde [a, b] ⊂ I então o Teorema mostrado e demonstrado
acima nos afirma que exite um c ∈ (a, b), de tal maneira que f (c) = d.

Corolario 3.3 Seja f : I → R contı́nua num intervalo I. Então f (I)


também será um intervalo.

27
Exemplo 3.2 Seja f : R → R dada por f (x) = x2 + x. Então tomemos ao
acaso um intervalo I = (−1, 2), dessa forma temos f (I) = [0, 6).

3.2 Propriedades das funções contı́nuas


1. Sejam f, g : X → R contı́nuas no ponto a ∈ X com f (a) < g(a). Existe
um δ > 0 tal que f (x) < g(x) para todo x ∈ X ∩ (a − δ; a + δ).

2. Sejam f : X → R contı́nua no ponto a ∈ X: Se f (a) 6= 0 existe um


δ > 0 tal que, para todo x ∈ X ∩ (a − δ, a + δ), f (x) tem o mesmo sinal
de f (a).

3. Dados f, g : X → R contı́nuas, sejam Y = {x ∈ X : f (x) < g(x)} e


Z = {x ∈ X : f (x) ≤ g(x)}. Existem A ⊂ R aberto e F ⊂ R fechado,
tais que Y = X ∩ A e Z = X ∩ F . Em particular, se X é aberto então
Y é aberto, e se X é fechado então Z é fechado.

4. Se f, g : X → R são contı́nuas no ponto a ∈ X; então são contı́nuas no


f
ponto a ∈ X as funções f + g; f . g : X → R bem como a função ,
g
se, e somente se, g(a) 6= 0.

5. Se f, g são funções contı́nuas em X ⊂ R então sua composta f ◦ g


também é contı́nua em X.

6. Seja f : I → R uma função contı́nua injetiva, definida num intervalo


I. Então f é monótona, sua imagem J = f (I) é um intervalo e sua
inversa f −1 : J → R é contı́nua.

28
Exemplo 3.3 Sejam f, g : R → R funções tais que f (x) = x2 e g(x) = ex ,
ambas contı́nuas em todo seu domı́nio. Portanto, pela Propriedade 5 temos
2 2
que f ◦ g = ex = e2x e g ◦ f = ex = e2x também são contı́nuas, que neste
caso em especial são iguais.

x
Exemplo 3.4 Sejam f, g : R → R funções de maneira que f (x) =
x+1
e g(x) = ex . Ambas contı́nuas no ponto a = 0, então pela Proposição 4,
temos que f (a) + g(a) e f (a) . g(a) também são contı́nuas, além disso, como
f (a)
g(a) 6= 0, temos que também é contı́nua.
g(a)

29
Capı́tulo 4

Limite

4.1 Analisando os limites

Observação 4.1 Apartir deste capı́tulo utilizaremos alguns exemplos trigono-


métricos, e deixaremos aqui claro que, sempre que aparecer a função sin, na
verdade estamos utilizando a função trigonométrica seno. E aproveitamos
para deixar convencionado para o restante do trabalho.

Definição 4.1 Seja dada uma função f : X → R com valores reais definida
sobre um subconjunto X ⊂ R, com isso temos que f é uma função real de
uma variável real. Seja a ∈ R um ponto de acumulação de X, ou seja,
a ∈ X 0.

Seja L um número real qualquer, tal que L é o limite de f (x) quando


x tende para a, e escrevemos lim f (x) = L para significar que para cada
x→a

30
número real ε > 0, dado arbitráriamente, podemos encontrar δ > 0 de modo
que se tenha |f (x) − L| < ε sempre que x ∈ X e 0 < |x − a| < δ.

Simbolicamente, temos:

∀ ε > 0, ∃ δ > 0 | x ∈ X, 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < ε

Com isso, podemos notar que simbólicamente 0 < |x − a| < δ é o mesmo


que dizer que o número x pertence ao intervalo aberto (a − ε, a + ε) e é
diferente de a.

Podemos ainda interpretar o limite de uma função de uma outra forma,


como podemos ver a seguir: lim f (x) = L significa que, para todo intervalo
x→a
aberto (L − ε, L + ε), existe um intervalo também aberto (a − δ, a + δ) tal
que, pondo-se Vδ = (X − a) ∩ (a − δ, a + δ), vale f (Vδ ) ⊂ (L − ε, L + ε).
Onde Vδ representa o conjunto {x ∈ X | 0 < |x − a| < δ}. Ou seja, podemos
tornar f (x) tão próximo de L quanto desejamos, desde que se tome x ∈ X
diferente de a, porém suficientemente próximo de a.

Observação 4.2 Só tem sentido escrever lim f (x) = L quando a é ponto de
x→a
acumulação do domı́nio X de f (x).

Observação 4.3 Quando consideramos o lim f (x), não exigimos, necessáriamente


x→a
que a pertença ao domı́nio da função f , podendo assim a ser um ponto fora
do domı́nio da função.

31
Observação 4.4 Se lim f (x) = L então o ponto L é aderente ao conjunto
x→a
f (X − {a}), pois cada intervalo aberto de centro L contém pontos deste con-
junto. E ainda mais, para cada δ > 0, pondo-se Vδ = (X − a) ∩ (a − δ, a + δ),
temos L ∈ f (Vδ ).

Teorema 4.1 (Unicidade do limite). Sejam X ⊂ R, f : X → R, a ∈ X 0 .


Se lim f (x) = L1 e lim f (x) = L2 , então L1 = L2 .
x→a x→a

Demonstração.
Seja dado qualquer ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0, de maneira que para
x ∈ X, temos
ε
0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f (x) − L1 | <
2
e também
ε
0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f (x) − L2 | < .
2
Façamos também δ = min{δ1 , δ2 }. Como a ∈ X 0 , podemos obter x ∈ X, de
tal forma que 0 < |x − a| < δ. Então temos

ε ε
|L1 − L2 | ≤ |L1 − f (x)| + |f (x) − L2 | < + = ε,
2 2

o que resulta
|L1 − L2 | < ε.

Como todo ε é tomado arbitráriamente, isto implica que L1 = L2 .

Teorema 4.2 (Confronto). Sejam X ⊂ R, f, g, h : X → R e ainda a ∈ X 0 .


Se, para todo x ∈ X, com x 6= a, forem observadas as seguintes desigualdades

32
f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) e além disso, tivermos lim f (x) = lim h(x) = L, então
x→a x→a
temos que lim g(x) = L.
x→a

Demonstração.
Tomemos arbitráriamente um ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0, tais que,
para x ∈ X, temos

0 < |x − a| < δ1 ⇒ L − ε < f (x) < L + ε

e também
0 < |x − a| < δ2 ⇒ L − ε < h(x) < L + ε.

Seja, então δ = min{δ1 , δ2 }. Então, x ∈ X, e ainda

0 < |x − a| < δ ⇒ L − ε < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε,

donde lim g(x) = L.


x→a

 
1
2
Exemplo 4.1 Quanto vale lim x sin ?
x→0 x

Solução.    
2 1 2 1
Note que não podemos fazer lim x sin = lim x . lim sin . Pois
x→0 x x→0 x→0 x
o limite da função sin x1 não existe. Porém, lembre-se que


 
1
−1 ≤ sin ≤ 1.
x

Daı́, multiplicando tudo por x2 , temos que,


 
2 2 1
−x ≤ x sin ≤ x2 .
x

33
Agora, aplicamos lim novamente em todas as parcelas, que resulta em,
x→0
 
2 1 2
lim −x ≤ lim x sin ≤ lim x2 ,
x→0 x→0 x x→0

logo, resolvendo os limites que conseguimos, temos,


 
2 1
0 ≤ lim x sin ≤ 0.
x→0 x
Com isso, pelo Teorema do Confronto mostrado acima temos que
 
2 1
lim x sin = 0.
x→0 x
Que põe fim à questão.

4.2 Propriedades básicas de Limites

Agora iremos contemplar algumas propriedades básicas dos limites. Para


que possamos trabalhar essa abordagem, tomaremos alguns resultados, como
lim f (x) = L e lim g(x) = M , dessa forma, temos:
x→a x→a

1. lim c = c onde c é uma constante;


x→a

2. lim [c f (x)] = c lim f (x) = c · L


x→a x→a

3. lim [(f ± g)(x)] = lim f (x) ± lim g(x) = L ± M


x→a x→a x→a

4. lim [(f · g)](x) = lim f (x) · lim g(x) = L · M


x→a x→a x→a
h in
5. lim [(f )n (x)] = lim f (x) = Ln
x→a x→a

 
f lim f (x) L
6. lim (x) = x→a = desde que M 6= 0
x→a g lim g(x) M
x→a

34
p q √
n
7. lim n
f (x) = n lim f (x) = L se temos que n ∈ N∗ e a raiz n-enésima
x→a x→a
de f (x) é um número real definido.

Exemplo 4.2 Seja f : R → R, com f (x) = x. É evidente que lim f (x) = a


x→a
para qualquer a ∈ R. A propriedade 4 nos diz que lim (f (x) . f (x)) = a2 , ou
x→a
2 2
seja, lim x = a . A mesma conta feita aplicando n − 1 vezes, nos fornece
x→a
lim xn = an , para todo n ∈ N.
x→a

x
Exemplo 4.3 Seja f : R − {0} → R definida por f (x) = x + (isto
|x|
significa dizer que f (x) = x + 1 quando x >0 ef (x) = x − 1 quando
 x < 0).
1 1
Dessa forma, podemos observar que lim f = 1 e lim f − = −1.
x→∞ x x→∞ x
Ou seja, não existe limite neste caso, pois uma única função não pode ter
como resultado dois limites diferentes ao mesmo tempo.

35
Capı́tulo 5

Derivadas

Seja f : I → R uma função definida em um intervalo I qualquer. Usare-


mos a seguinte notação {c} para designar o conjunto formado por um único
elemento c.
Fixemos um ponto c, o qual pode ser do interior de I ou então, ser a
extremidade esquerda de I, no caso de esta pertencer ao intervalo I. Con-
sideremos a função q : I\{c} → R, definida por

f (x) − f (c)
q(x) = .
x−c

f (x) − f (c)
A função q : x → está definida no conjunto I − {c}. Geo-
x−c
metricamente, q(x) representa a inclinação (coeficiente angular) da tangente
ao gráfico da função f que passa pelos pontos (c, f (c)) e (x, f (x)) quando
x → c.
Quando temos um determinado c ∈ I ∩ I+0 (ou seja, quando c é um ponto
de acumulação à direita de I, e a ele pertence), então, podemos definir a
derivada à direita da função f no ponto c, como sendo o seguinte limite (se
existir):

36
f (x) − f (c) f (c + h) − f (c)
f+0 (c) = lim+ = lim+ .
x→c x−c x→0 h

Analogamente podemos definir a derivada à esquerda da função f , ou


seja, f−0 (c) quando c é um ponto de acumulação à esquerda e pertence ao
domı́nio de f .

Se a função f for derivável à direita e à esquerda em c, e as derivadas


laterais em c forem iguais, dizemos que f é derivável em c. O valor comum
das derivadas laterais em c é chamado a derivada de f em c, e pode ser
denotada por f 0 (c). É claro que a função f é derivável em c, se a função q
tiver limite no ponto c, e temos, então

f (x) − f (c)
f 0 (c) = lim .
x→c x−c

Se fizermos h = x − c, ou seja, x = c + h a derivada de f no ponto


c ∈ I ∩ I 0 , então teremos:

f (c + h) − f (c)
f 0 (c) = lim
h→0 h

Podemos denotar uma função derivada de outras formas, além de f 0 (c),


df
podemos denotar como: Df (c) ou ainda (c), porém, isso é somente questão
dx
de notação, não altera os valores.

Exemplo 5.1 Seja f : R → R constante, ou seja, existe c ∈ R tal que


f (x) = c para todo x ∈ R. Então, f 0 (y) = 0, para todo y ∈ R. (A derivada
de qualquer constante é sempre nula, ou seja, zero).

37
Exemplo 5.2 Seja f : R → R dada por f (x) = kx + d. Então, para todo
f (x) − f (c)
c ∈ R, f (x) − f (c) = k(x − c), de modo que o quociente = k, o
x−c
que é constante e, portanto, f 0 (c) = k para todo c ∈ R.

Exemplo 5.3 Utilizando a fórmula do Binômio de Newton, podemos obser-


n
X n
X
var que p(x) = ai xi é um polinômio, então, p0 (x) = i . ai xi−1 para
i=0 i=1
qualquer x ∈ R.

Exemplo 5.4 A função f (x) = |x| tem as derivadas laterais no ponto x = 0,


as quais são f−0 (0) = −1 e f+0 (0) = 1. Como essas derivadas laterais são
diferentes, f não é derivável em x = 0.

5.1 Continuidade e existência da derivada

Como vimos no exemplo anterior, a continuidade da função em um ponto


c não implica na existência da derivada nesse ponto. Mas a implicação
contrária é verdadeira, isto é, a existência da derivada num ponto c implica
na continuidade da função nesse ponto.

Teorema 5.1 Seja f : I → R uma função definida no intervalo I.

1. Se f é derivável à direita em um ponto c ∈ I, então f é contı́nua a


direita em c.

38
2. Se f é derivável à esquerda em um ponto c ∈ I, então f é contı́nua a
esquerda em c.

3. Se f é derivável à direita e a esquerda em um ponto c ∈ I, então f é


contı́nua em c. Em particular, se f for derivável em c, ela é contı́nua.

Demonstração.
Faremos aqui a demonstração de (1). Suponhamos que f não seja contı́nua
à direita de em c. Logo, ou f (c+ ) não existe ou, se existe, f (c) 6= f (c+ ). Em
qualquer um dos casos, segue-se que existe uma sucessão (xn ) decrescente
convergindo para c e tal que f (xn ) não converge para f (c). Então, façamos

d > 0 e uma subsucessão (xnj ) de (xn ) tal que f (xnj ) − f (c) > d. Daı́
decorre que

q(xn ) = f (xnj ) − f (c) > d .

j x n − c x − c
j nj


Portanto, temos xnj → c e q(xnj ) → +∞, o que acaba contradizendo a
nossa hipótese inicial de que q(xn ) converge para f+0 (c). As demonstrações
dos outros dois pontos são análogas.

Observação 5.1 Seja f : I → R uma função real derivável em todos os


pontos do interior de I. Usaremos a notação int(I) para designar o interior
de I. A função definida por x → f 0 (x) é chamada a função derivada ou,
df
simplesmente, derivada. Usa-se também a notação dx
(ou df /dx) para a
derivada de f . Porém, cabe uma observação com a qual, df /dx não é um
quociente, mas simplesmente, um sı́mbolo para representar uma função.

39
Teorema 5.2 Sejam f, g : I → R deriváveis no ponto a ∈ I∩I 0 . Então f ±g,
f
f . g e (caso g(a) 6= 0) são deriváveis nesse mesmo ponto. Portanto, temos
g
1. (f ± g)0 (a) = f 0 (a) ± g 0 (a)

2. (f . g)0 (a) = f 0 (a) . g(a) + f (a) . g 0 (a)


 0
f f 0 (a) . g(a) − f (a) . g 0 (a)
3. (a) =
g (g(a))2

Demonstração. Faremos a demonstração (1), análogamente à definição


de derivadas, temos,
(f ± g)(x + h) − (f ± g)(x)
(f ± g)0 (x) = lim
h→0 h

f (x + h) ± g(x + h) ∓ f (x) ∓ g(x)


= lim
h→0 h

f (x + h) ∓ f (x) ± g(x + h) ∓ g(x)


= lim
h→0 h

f (x + h) ∓ f (x) g(x + h) ∓ g(x)


= lim ±
h→0 h h

f (x + h) ∓ f (x) g(x + h) ∓ g(x)


= lim ± lim
h→0 h h→0 h

= f 0 (x) ± g 0 (x)
o que mostra (1). As outras definições são análogas, por esse motivo não
faremos aqui.

Corolario 5.1 Se  c∈ R, então (c . f )0 = c . f 0 . Temos também que, se


0
1 −f 0 (a)
f (a) 6= 0, então (a) = .
f (f (a))2

40
Teorema 5.3 (Regra da cadeia) Sejam f : X → R e g : Y → R, f (X) ⊂ Y ,
a ∈ X ∩X 0 , b = f (a) ∈ Y ∩Y 0 . Se existirem f 0 (a) e g 0 (b), então g◦f : X → R
é derivável no ponto a, valendo (g ◦ f )0 (a) = g 0 (b) . f 0 (a).

Demonstração.
Temos,

 f (a + h) = f (a) + [f 0 (a) + ρ].h, onde
 lim ρ(h) = 0
h→0
 g(b + k) = g(b) + [g 0 (b) + σ].k,
 onde lim σ(k) = 0.
k→0

Estamos escrevendo, por questão de simplicidade, ρ e σ em vez de ρ(h) e


σ(k) respectivamente. Fazendo,

k = f (a + h) − f (a) = [f 0 (a) + ρ] . h, temos f (a + h) = b + k

(g ◦ f )(a + h) = g[f (a + h)] = g(b + k) = g(b) + [g 0 (b) + σ] . k


= g(b) + [g 0 (b) + σ].[f 0 (a) + ρ] . h
= g(b) + [g 0 (b).f 0 (a) + θ] . h ,

Com θ(h) = σ(f (a + h) − f (a)).[f 0 (a) + ρ] + g 0 (b) . ρ . Como f é contı́nua


no ponto a e σ é contı́nua no ponto 0, então, temos lim ρ(f (a+h)−f (a)) = 0
h→0
com isso lim θ(h) = 0, o que prova o teorema.
h→0

Corolario 5.2 (Derivada de uma função inversa) Seja f : X → Y ⊂ R


uma função que possui inversa g = f −1 : Y → X ⊂ R. Se f é derivável no
ponto a ∈ X ∩ X 0 e g é contı́nua no ponto b = f (a), então g é derivável no
1
ponto b se, e somente se, f 0 (a) 6= 0. No caso afirmativo, g 0 (b) = 0 .
f (a)

41
Demonstração.
Como g é contı́nua no ponto b, temos lim g(y) = g(b) = a. Além disso,
y→b
y ∈ Y − {b} ⇒ g(y) 6= a. Com isso
g(y) − g(b) g(y) − a
lim = lim
y→b y−b y→b f (g(y)) − f (a)
 −1
f (g(y)) − f (a) 1
= lim = 0 .
y→b g(y) − a f (a)

1
E temos g 0 (b) existe e é igual a quando f 0 (a) 6= 0. Reciprocamente, se
f 0 (a)
existe g 0 (b), então como g ◦ f = idX .

Observação 5.2 A continuidade de g no ponto b será consequência da con-


tinuidade de f no ponto a quando f for contı́nua em todos os pontos de X
e, além disso, X pode ser um intervalo ou X pode ser compacto.

Exemplo 5.5 A função f : R → R, definida por f (x) = x3 , é uma bijeção



contı́nua, com inversa contı́nua g : R → R, g(y) = 3 y. Claramente, temos
f 0 (a) = 3a2 . Portanto f 0 (a) 6= 0 para todo a 6= 0, porém, podemos observar
que f 0 (0) = 0. Com isso, observamos que g não possui derivada no ponto
0 = f (0). E ainda, para a 6= 0 e b = a3 o corolário acima nos dá que
1 1
g 0 (b) = 2 = √3 2
fórmula que, claramente, não faz sentido para b = 0.
3a 3 b

Seja f : [a, b] → R uma função derivável em todos os pontos x ∈ [a, b].


Se f 0 (a) < d < f 0 (b) então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = d. Essa afirmação
nos mostra a existência do valor intermediário para a derivada. E daı́ decorre
que, se f : I → R é derivável num intervalo I, então f 0 não pode ter descon-
tinuidade de primeira espécie em I.

42
Teorema 5.4 (Rolle) Seja f : [a, b] → R contı́nua, tal que f (a) = f (b). Se
f é derivável em (a, b) então existe um ponto c ∈ (a, b) onde f 0 (c) = 0.

Demonstração. Se f é constante em [a, b] então f 0 (c) = 0 para todo


c ∈ (a, b). Caso contrário, f atingirá seu mı́nimo m ou seu máximo M num
ponto interior c ∈ (a, b), pois, se ambos fossem atingidos nas extremidades,
terı́amos m = M , e dessa forma f seria constante. Como f é contı́nua no
compacto [a, b], então o máximo e o mı́nimo de f em [a, b] são atingidos, com
isso temos que f 0 (c) = 0.

Exemplo 5.6 Seja f : [0, 1] → R uma função definida por f (x) = x se


x ∈ [0, 1) e f (1) = 0. Então f (0) = f (1) e f é derivável em (0, 1) mas
f 0 (x) = 1 para 0 < x < 1 qualquer. Isto se dá porque f não é contı́nua no
intervalo fechado [0, 1].

Exemplo 5.7 Seja agora h : [−1, 1] → R, tal que h(x0 = |x|. Temos h
contı́nua em [−1, 1] e temos h(−1) = 1, porém não existe c ∈ (−1, 1) de
forma que h0 (c) = 0. O motivo é porque h não tem derivada no ponto 0.

Teorema 5.5 (Teorema do Valor Médio, de Lagrange) Seja a função f :


[a, b] → R contı́nua. Se f é derivável em (a, b), então existe c ∈ (a, b), tal
que
f (b) − f (a)
f 0 (c) =
b−a

Demonstração. Seja g(x) o polinômio de grau menor ou igual a 1,


tal que g(a) = f (a) e g(b) = f (b). Então g 0 (x) é constante e, de fato,

43
f (b) − f (a)
g 0 (x) = para todo x ∈ [a, b]. A função h : [a, b] → R, definida
b−a
por h(x) = f (x) − g(x), que satisfaz as hipóteses do Teorema de Rolle, logo
existe c ∈ (a, b), de tal forma que h0 (c) = 0, o que conclui o que esperávamos.

f (b) − f (a)
Observação 5.3 Analisando geometricamente, f 0 (c) = significa
b−a
dizer que a tangente ao gráfico de f no ponto c é paralela à secante que con-
stitui o gráfico de g.

Corolario 5.3 Se f, g : [a, b] → R são contı́nuas, deriváveis em (a, b), e


f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b) então existe algum c ∈ R de maneira que
g(x) = f (x) + c, para todo x ∈ [a, b].

x
Observação 5.4 A função f : R − {0} → R, definida por f (x) = , não é
|x|
constante, embora cumpra f 0 (x) = 0 para todo x ∈ R − {0}. Isso ocorre por
conta de que o domı́nio de f não é um intervalo.

Corolario 5.4 Seja f : I → R derivável no intervalo aberto I. Se existe


k ∈ R de forma que |f 0 (x)| ≤ k para todo x ∈ I então, quaisquer que sejam
x, y ∈ I, teremos
|f (x) − f (y)| ≤ k|x − y|

Com efeito desse Teorema, sejam dados x, y ∈ I, f é contı́nua no inter-


valo fechado cujas extremidades são x e y, e é derivável no intervalo aberto
correspondente. Com isso, f (x) − f (y) = f 0 (c)(x − y), onde c é um ponto
entre x e y. Como |f 0 (c)| ≤ k, vem |f (x) − f (y)| = |f 0 (c)||x − y| ≤ k . |x − y|.

44
Dessa forma, uma função que possui derivada limitada num intervalo
aberto é do tipo lipschitziana, e portanto uniformemente contı́nua nesse in-
tervalo.

Observação 5.5 Se f é contı́nua em [a, b] e derivável em (a, b), segue-se


por passagem ao limite que a desigualdade |f (x) − f (y)| ≤ k . |x − y| ainda
é válida para x, y ∈ [a, b], desde que |f 0 (x)| ≤ k para todo x ∈ (a, b).

1
Exemplo 5.8 Seja a função f : (0, +∞) → R, definida por f (x) = sen ,
x
não possuindo limite à direita no ponto 0, tem derivada ilimitada em qualquer
−1 1
intervalo do tipo (0, δ). Sabemos que, para x 6= 0, f 0 (x) = 2 cos .
x x

45
Capı́tulo 6

Função convexa

6.1 Conjunto convexo de Rn

Definimos um Conjunto Convexo de Rn como sendo todo conjunto que,


se contiver dois pontos distintos, então contém também todos os pontos per-
tencentes ao segmento de reta que os une, e podemos observar a afirmação a
seguir:

A é convexo ⇔ ∀ x, y ∈ A, ∀ λ ∈ [0, 1]; λ . x + (1 − λ) . y ∈ A.

Observação 6.1 Se fizermos a intersecção entre dois ou mais conjuntos


convexos, então teremos que esse novo conjunto também será convexo, e
podemos observar a afirmação a seguir:

k
\
∀ i ∈ {1, ... , k} , Ai é convexo ⇒ A = (Ai ) = A1 ∩ ... ∩Ak é convexo.
i=1

46
6.2 Função convexa

Definição 6.1 Podemos definir como sendo uma função Convexa, a função
f : [a, b] → R cuja região sobre o seu gráfico, ou seja, o conjunto

(x, y) ∈ R2 | y ≥ f (x)


for um conjunto convexo. Isto se equivale a afirmar que, para quaisquer x e


y pertencentes a [a, b] e para todo λ ∈ [0, 1], tem-se

f (λ . x + (1 − λ)y) ≤ λ . f (x) + (1 − λ)f (y).

De maneira análoga, uma função será estritamente convexa se, para quais-
quer x e y pertencentes ao intervalo fechado [a, b] e para todo λ ∈ [0, 1],
tivermos:
f (λ . x + (1 − λ)y) < λ . f (x) + (1 − λ)f (y).

Figura 6.1: Interpretação geométrica da definição analı́tica

O significado geométrico mostrado de convexidade é bem claro. Considere


a Figura 6.1 mostrada acima, considere o segmento que une o ponto (x, f (x))

47
ao ponto (y, f (y)). Dizer que f é convexa significa dizer que, para todo x, y
em I, e dado um z em (x, y), o ponto (z, f (z)) do gráfico de f está abaixo
do segmento que une (x, f (x)) a (y, f (y)).

Definição 6.2 Podemos reconhecer uma função convexa ainda de outras


maneiras, como por exemplo, observando o epigrafo de f , que é um conjunto
convexo e é definido por

epif := {(x, r)|x ∈ Domf, r ≥ f (x)}.

Epigrafo de f pode ser resumido em uma simples frase:


”Epigrafo de f é tudo que está acima do gráfico”.

Figura 6.2: Epigrafo

48
Proposição 6.1 Sejam Px0 = (x0 , y0 ), Pu = (u, v) e Px1 = (x1 , y1 ) três
pontos distintos sobre f : R → R, onde f é convexa, com u ∈ (x0 , x1 ). Então
as três propriedades seguintes são equivalentes

(a) Pu está abaixo de Px0 Px1 ;

(b) inclinação (Px0 Pu ) ≤ inclinação (Px0 Px1 );

(c) inclinação (Px0 Px1 ) ≤ inclinação Pu Px1 .

Figura 6.3: A propriedade fundametal de um epigrafo convexo

Demonstração.
(a) ⇒ (b): A propriedade (a) que dizer que a imagem de u por f está
abaixo da reta que une Px0 e Px1 (e passa por Pz ). A equação dessa reta é
dada por
y1 − y0
y−z = (x − u). (i)
1 − x0

49
Como qualquer ponto da reta que une Px0 e Px1 satisfaz a equação (i), em
particular o ponto Px0 , façamos x = x0 e y = y0 , logo

y1 − y0
y0 − z = (x0 − u).
1 − x0

Com isso a imagem de u pela reta é dada por

y1 − y0
z = y0 + (u − x0 ).
x1 − x0

Sabemos que a imagem de u por f é menor que a imagem de u pela reta


dada por (i), ou seja, v ≤ z, ou

y1 − y0
v ≤ y0 + (u − x0 ).
x1 − x0

Visto que u − x0 > 0, temos

v − y0 y1 − y0
≤ ,
u − x0 x 1 − x0

que é justamente a propriedade (b).

(b) ⇒ (c):
v − y0 y1 − y0
≤ .
u − x0 x 1 − x0
Como u − x0 > 0 e x1 − x0 > 0, podemos então reescrever a desigualdade
assim
(v − y0 )(x1 − x0 ) ≤ (y1 − y0 )(u − x0 , )

vx1 − vx0 − y0 x1 + y0 x0 ≤ uy1 − y1 x0 − uy0 + yo x0 ,

vx1 − vx0 − y0 x1 ≤ uy1 − y1 x0 − uy0 .

Somando agora x1 y1 em ambos os membros da desigualdade, obtemos

x1 y1 − y0 x1 + uy0 − uy1 ≤ x1 y1 − y1 x0 − vx1 + vx0 ,

50
x1 (y1 − y0 ) − u(y1 − y0 ) ≤ y1 (x1 − x0 ) − v(x1 − x0 ),

(x1 − u)(y1 − y0 ) ≤ (y1 − v)(x1 − x0 ),

como (x1 − u) > 0 e (x1 − x0 ) > 0, então

y1 − y0 y1 − v
≤ .
x1 − x0 x1 − u

(c) ⇒ (a): Mais uma vez, temos

y1 − y0 y1 − v
≤ .
x1 − x0 x1 − u

Como (x1 − u) > 0 e (x1 − x0 ) > 0, então

(x1 − u)(y1 − y0 ) ≤ (y1 − v)(x1 − x0 ),

x1 y1 − y0 x1 + uy0 − uy1 ≤ x1 y1 − y1 x0 − vx1 + vx0 ,

vx1 − vx0 − y0 x1 ≤ uy1 − y1 x0 − uy0 ,

Agora somamos x0 y0 a ambos os membros da desigualdade, e obtemos

x0 y0 + vx1 − vx0 − y0 x1 ≤ x0 y0 + uy1 − y1 x0 − uy0 ,

agora organizando tudo,

v(x1 − x0 ) − y0 (x1 − x0 ) ≤ u(y1 − y0 ) − x0 (y1 − y0 ),

(v − y0 )(x1 − x0 ) ≤ (u − x0 )(y1 − y0 ),

como (x1 − x0 ) > 0, então

y1 − y0
v ≤ y0 + (u − x0 ).
x1 − x0

Que conclui a nossa demonstração.

51
De acordo com o que vimos, a desigualdade vista na (Definição 6.1) que
define uma função convexa pode ser generalizada para mais de dois pontos,
ou seja, para uma coleção {x1 , x2 , ..., xn } de pontos em um intervalo I e
qualquer coleção de números {a1 , a2 , ..., an } que satisfaz ai ≥ 0 para qualquer
n
X
i = 1, 2, ..., n e que tenha-se ai = 1, formando-se assim a desigualdade de
i=1
Jensen (que será melhor explicada no Capı́tulo 7).

n
! n
X X
f ai x i ≤ ai f (xi ).
i=1 i=1

E ainda, dizemos que um subconjunto X de um espaço vetorial real ou


complexo é convexo quando todo segmento de reta ligando dois pontos de X
está contido em X, ou seja, ∀ x, y ∈ X ; ∀ λ ∈ [0, 1], tem-se:

(1 − λ)x + λ . y ∈ X

Se o subconjunto X não for convexo, dizemos que ele é côncavo. O menor


conjunto convexo que contém um subconjunto X designa-se por involucro
convexo de X.

A razão incremental de funções reais convexas definidas num intervalo de


R é crescente. A condição de convexidade implica a continuidade das funções
reais no interior do seu domı́nio. A caracterização das funções convexas
deriváveis através da sua comparação com a reta de apoio ao seu gráfico e a
relação com a monotonia crescente da sua derivada, ou com a positividade
da segunda derivada.

52
6.3 Propriedades de funções convexas e côcavas

Um importante conceito visto em convexidade é que quando presente


numa função, garante que seu mı́nimo local é também mı́nimo global, pois
este é único.

Observação 6.2 Aqui é interessante que observemos que a função côncava


admite as mesmas propriedades da função convexa, porém, admite o sinal
00
contrário, ou seja, se a função convexa tem ≤00 , então a função côncava
00
admite sinal ≥00 . Resultado que será importante para o estudo da de-
sigualdade de Jensen.

Observação 6.3 Durante a exploração das propriedades expostas a seguir,


admitiremos que f e g são funções convexas e h é crescente e convexa.

1. Combinação linear positiva: ∀ α, β ∈ R∗+ , α . f + β . g convexa.

2. Transformção crescente e convexa: h ◦ f convexa.

3. Extremos: max(f, g) (min(f, g)) convexa.

4. Uma função convexa em [a, b] é sempre contı́nua em (a, b).

5. Uma função contı́nua num intervalo I é convexa se e somente se:


 
x+y f (x) + f (y)
f ≤
2 2

para quaisquer x e y ∈ I.

6. Uma função diferenciável é convexa num intervalo se, e somente se a


sua derivada é monótona não decrescente nesse intervalo.

53
7. Uma função continuamente diferenciável de uma variável é convexa
num intervalo, se, e somente se:

f (y) ≥ f (x) + f 0 (x)(y − x)

para todos x e y no intervalo.

8. Uma função duas vezes diferenciável de uma variável é convexa num


intervalo se, e somente se, a sua segunda derivada é maior ou igual a
zero em todo o intervalo.

9. Se a sua segunda derivada é estritamente positiva então a função é


estritamente convexa.

10. Se uma função convexa possui um mı́nimo local, ele também será um
mı́nimo global.

11. Uma função estritamente convexa possui no máximo um mı́nimo.

12. O máximo de funções convexas também é uma função convexa.

Exemplo 6.1 A função f : R → R, definida por f (x) = x2 é convexa.

Seguindo a definição de função convexa dada na seção (1.3) deste capı́tulo,


façamos x, y ∈ R, e ainda λ ∈ [0, 1]. O que nos permite o auxilio da seguinte
desigualdade:

f (λx + (1 − λ)y) ≤ λf (x) + (1 − λ)f (y)

54
Como a função que estamos tratando é f (x) = x2 , temos os resultados a
seguir:

(λx + (1 − λ)y)2 ≤ λ(x)2 + (1 − λ)(y)2

Agora, iremos resolver os quadrados,

λ2 x2 + 2λx(1 − λ)y + (1 − λ)2 y 2 ≤ λx2 + (1 − λ)y 2

λ2 x2 + 2λx(1 − λ)y + (1 − 2λ + λ2 )y 2 ≤ λx2 + (1 − λ)y 2

Ainda resolvendo os parenteses, temos

λ2 x2 + 2xyλ − 2xyλ2 + y 2 − 2λy 2 + λ2 y 2 ≤ λx2 + y 2 − λy 2

λ2 x2 + 2xyλ − 2xyλ2 + y 2 − 2λy 2 + λ2 y 2 − y 2 + λy 2 ≤ λx2

λ2 x2 + 2xyλ − 2xyλ2 − λy 2 + λ2 y 2 ≤ λx2

λ2 x2 − 2xyλ2 + λ2 y 2 ≤ λx2 − 2xyλ + λy 2

λ2 (x2 − 2xy + y 2 ) ≤ λ(x2 − 2xy + y 2 )

λ(x − y)2 ≤ (x − y)2

ou seja,
λ ≤ 1.

Portanto, como fizemos logo no inı́cio λ ∈ [0, 1], a desigualdade é verdadeira,


valendo a igualdade somente quando λ = 1, e para quaisquer outros valores
de λ, temos que λ < 1.

55
Exemplo 6.2 O valor absoluto é uma função convexa, ou seja, f (x) = |x|
é uma função convexa.

De maneira análoga ao exemplo anterior, podemos facilmente observar a


veracidade dessa nova afirmação colocada como exemplo, obtendo no final a
seguinte desigualdade,
xy ≤ |xy|,

que é uma das propriedades da função modular.

56
Capı́tulo 7

Desigualdade de Jensen

No decorrer deste capı́tulo, estaremos tratando da Desigualdade de Jensen,


o ponto que foi tomado como sendo a parte principal deste trabalho. Este
capı́tulo detalha essa desigualdade que é bastante eficaz na resolução de
muitas questões que frequentemente estão presentes em provas como a das
Olimpı́adas de Matemática. O nosso intuito é explicar como se dá essa de-
sigualdade na teoria, para que possamos aplicá-las em alguns problemas que
veremos no próximo capı́tulo.

7.1 Observando a desigualdade

Nesta primeira parte deste capı́tulo trataremos sobre a forma mais simples
e compacta da Desigualdade de Jensen, que também é colocada como a mais
utilizada, portanto, mais vista em trabalhos publicados, a ver essa forma a
seguir.

57
Observação 7.1 E importante que se deixe claro que, sempre que falamos
que a desigualdade vale para funções convexas, podemos estender isso à
funções côncavas, com a única diferença já colocada no capı́tulo anterior
00
que é a mudança do sentido do sinal, de ≤00 para 00
≥00 , ou vice-versa,
assim mudando o sinal da desigualdade.

Teorema 7.1 (Desigualdade de Jensen) Seja dada uma função, de forma


que f : (a, b) → R, duas vezes diferenciável. Se f 00 (x) ≥ 0, ou seja, con-
vexa em todo o intervalo (a, b), ∀ x1 , x2 , x3 , ..., xn ∈ (a, b), vale a seguinte
desigualdade,  n
X

 xi  n
 i=1  X f (xi )
f
  ≤
 n  i=1 n

que é equivalente a
 
x1 + x2 + x3 + ... + xn f (x1 ) + f (x2 ) + f (x3 ) + ... + f (xn )
f ≤ .
n n

E ainda, por outro lado, se f 00 (x) ≤ 0, ou seja, côncava em todo o intervalo


(a, b), valerá a desigualdade
 n
X

 xi  n
 i=1  X f (xi )
f
  ≥
 n  i=1 n

que equivale a
 
x1 + x2 + x3 + ... + xn f (x1 ) + f (x2 ) + f (x3 ) + ... + f (xn )
f ≥ .
n n

58
Demonstração.
Faremos a demostração do caso onde f 00 (x) ≥ 0.
Utilizaremos indução finita sobre n. Então, testaremos a desigualdade
para n = 1, o que nos dá,
x  f (x1 )
1
f ≤ ,
1 1
ou seja
f (x1 ) = f (x1 ),

o que mostra a veracidade para n = 1, porém, somente n = 1 não nos fornece


resistência suficiente. Agora, suponhamos que seja verdadeiro para n = k,
então,
 
x1 + x2 + x3 + ... + xk f (x1 ) + f (x2 ) + f (x3 ) + ... + f (xk )
f ≤ .
k k
Com isso, vamos mostrar que vale para n = k + 1. E obtemos,
 
x1 + x2 + ... + xk + xk+1 f (x1 ) + f (x2 ) + ...f (xk ) + f (xk+1 )
f ≤ .
k+1 k+1

Agora, para diminuir o número de carácteres na nossa visualização e


diminuir algumas passagens, além de facilitar a nossa compreensão, façamos
x1 + x2 + x3 + ... + xk = c e f (x1 ) + f (x2 ) + f (x3 ) + ... + f (xk ) = p. Após
isso, queremos mostrar que,
 
c + xk+1 p + f (xk+1 )
f ≤ , ∀ x ∈ (a, b)
k+1 k+1

 
p + f (xk+1 ) c + xk+1
Façamos agora g(xk+1 ) = −f . E derivando
k+1 k+1
g(xk+1 ), temos,
f 0 (xk+1 )
 
0 1 0 c + xk+1
g (xk+1 ) = − f .
k+1 k+1 k+1

59
c + xk+1 c
Se fizermos xk+1 = ⇒ xk+1 = , observe que
k+1 k
!
0 c ck+c
f ( ) 1
g 0 (xk+1 ) = k
− f0 k
,
k+1 k+1 k+1

então
f 0 ( kc )
 
1 c(k + 1)
− f0
k+1 k+1 k(k + 1)
f 0 ( kc ) f 0 ( kc )
− = 0.
k+1 k+1
Utilizando agora o fato de que de que f 0 (x) é crescente em (a, b), pois estamos
c
supondo que f 00 (x) > 0, podemos inferir que, se xk+1 < , então temos que
c k
g 0 (x) < 0 e, da mesma forma, se xk+1 > , temos que g 0 (x) > 0. Portanto,
c k
podemos inferir que o ponto xk+1 = é um ponto de mı́nimo global de g(x)
k
no intervalo (a, b). Desse fato, segue que:

k f kc

c p
g(x) ≥ = − ≥ 0,
k k+1 k+1

pois,
p c
≥f ,
k k
por hipótese de indução. As condições de igualdade dependem das condições
da função f . O que prova a nossa hipótese. A demonstração de f (x) ≤ 0 é
análoga a esta, e não será apresentada aqui.

7.2 A Desigualdade de Jensen

Agora trataremos a forma mais generalizada da Desigualdade, que é


também a foma mais completa dessa desigualdade.

60
Teorema 7.2 (Desigualdade de Jensen - generalizada). Seja dada a função
f : (a, b) → R duas vezes diferenciável. Sejam x1 , x2 , ..., xn ∈ (a, b) e
a1 , a2 , ..., an ∈ R, tais que a soma de todos os ai seja igual a 1. Se f 00 (x) ≥ 0
em (a, b), ou seja, convexa, temos,
n
! n
X X
f ai x i ≤ ai f (xi )
i=1 i=1

que equivale a

a1 f (x1 ) + a2 f (x2 ) + ... + an f (xn ) ≤ f (a1 x1 + a2 x2 + ... + an xn ).

Se, análogamente tivermos f 00 (x) ≤ 0 em (a, b), côncava, a desigualdade


permanece, só mudando o sinal,
n
! n
X X
f ai xi ≥ ai f (xi )
i=1 i=1

que equivale a

a1 f (x1 ) + a2 f (x2 ) + ... + an f (xn ) ≥ f (a1 x1 + a2 x2 + ... + an xn ).

Demonstração.
Faremos a demonstração de f 00 (x) ≥ 0. Será utilizado o sistema de
indução finita sobre n. Observe que é verdadeiro para n = 1, pois,

a1 f (x1 ) ≤ f (a1 x1 )

como a soma de todos os ai ∈ R tem que ser igual a 1, então temos que neste
caso a1 = 1, logo,
f (x1 ) = f (x1 ).

Agora, suponha que seja verdadeiro para n = k, assim temos que,

a1 f (x1 ) + a2 f (x2 ) + ... + ak f (xk ) ≤ f (a1 x1 + a2 x2 + ... + ak xk ).

61
Agora vamos mostrar que também é verdadeiro para n = k + 1, com isso
temos,

a1 f (x1 ) + a2 f (x2 ) + ... + ak+1 f (xk+1 ) ≤ f (a1 x1 + a2 x2 + ... + ak+1 xk+1 ).

Para simplificar as contas, faremos a1 f (x1 ) + a2 f (x2 ) + ... + ak f (xk ) = c


e a1 x1 + a2 x2 + ... + ak xk = p, logo,

c + ak+1 f (xk+1 ) ≤ f (p + ak+1 xk+1 ).

Façamos agora g(xk+1 ) = c + ak+1 f (xk+1 ) − f (p + ak+1 xk+1 ), e derivando


g(xk+1 ), temos,

g 0 (xk+1 ) = ak+1 f 0 (xk+1 ) − ak+1 f 0 (p + ak+1 xk+1 ).

p
Note que se fizermos xk+1 = p + ak+1 xk+1 ⇒ xk+1 = , então
1 − ak+1
teremos
   
0 0 p 0 p(ak+1 )
g (xk+1 ) = ak+1 f − ak+1 f p + ,
1 − ak+1 1 − ak+1

então     
p p(1 − ak+1 ) + p(ak+1 )
ak+1 f 0 −f 0
1 − ak+1 1 − ak+1
    
p p − p(ak+1 ) + p(ak+1 )
ak+1 f 0 −f 0
1 − ak+1 1 − ak+1
    
0 p 0 p
ak+1 f −f = 0.
1 − ak+1 1 − ak+1
Utilizando novamente o fato de que de que f 0 (x) é crescente em (a, b), pois
p
estamos supondo que f 00 (x) > 0, podemos inferir que, se xk+1 < ,
1 − ak+1
p
então g 0 (xk+1 ) < 0 e, análogamente temos que, se xk+1 > , então
1 − ak+1
g 0 (xk+1 ) > 0. Portanto, com uma pequena análise na função, podemos inferir

62
p
que o ponto xk+1 = é um ponto de mı́nimo global de g(xk+1 ) no
1 − ak+1
intervalo (a, b). E desse fato, segue que:

p
g(xk+1 ) ≥ ≥ 0.
1 − ak+1

Neste caso, as condições de igualdade dependem diretamente das condições


da função f . O que prova nossa hipótese. A demonstração de f (x) ≤ 0 é
análoga a esta, e por este motivo não será apresentada aqui.

Somente a nı́vel de curiosidade, temos que, f 00 (x) > 0, ou seja, f será es-
tritamente convexa, visto em ambos Teoremas e em suas respectivas demons-
trações acima, se, e somente se ocorrer, a igualdade x1 = x2 = ... = xn .

Observação 7.2 Podemos aplicar a Desigualdade de Jensen também em


intervalos infinitos, desde que estes sejam abertos e que a função f seja
convexa ou côncava em todo o intervalo.

63
Capı́tulo 8

Aplicações

Neste capı́tulo, que encerra nosso trabalho, estaremos colocando algumas


aplicações da Desigualdade de Jensen na forma de exemplos. Após todo um
trabalho de estruturação dessa desigualdade, mostrando toda a teoria, agora
vamos ver algumas questões que foram de grandes eventos de matemática, as
quais iremos resolver utilizando a Desigualdade de Jensen. Se o leitor tiver
curiosidade suficiente, poderá também encontrar facilmente questões deste
tipo na internet, e resolvê-las utilizando os conteúdos expostos durante este
trabalho.

Exemplo 8.1 (Seleção para IMO - 99) Para reais positivos satisfazendo a
igualdade a + b + c = abc, mostre que:

1 1 1 3
√ +√ +√ ≤ .
1+a 2 1+b 2 1+c 2 2

64
Solução.
Inicialmente, para que resolvamos esse problema, vamos fazer uso do fato
que a função tangente percorre todo o conjunto dos números reais, de outra
forma, temos que se existe a ∈ R, então existe também um α ∈ (−π/2, π/2)
de forma que tg α = a e nesse intervalo a função é bijetiva. Ainda mais, se
tomarmos a > 0, então temos que α ∈ (0, π/2).
Agora, olhando para nossa questão, podemos fazer a = tg θ, b = tg α e
c = tg β, onde θ, α, β ∈ (−π/2, π/2) e substituir em
1 1 1 3
√ +√ +√ ≤ .
1 + a2 1 + b2 1 + c2 2
Então conseguimos que
1 1 1 3
p +p +p ≤ .
2
1 + tg θ 2
1 + tg α 2
1 + tg β 2
Porém, da trigonômetria, temos que
1 1 1 3
+ + ≤
sec θ sec α sec β 2
3
cos θ + cos α + cos β ≤ .
2
Se fizermos f (x) = cos x teremos que f 00 (x) = − cos x, e ainda podemos
observar que no intervalo (0, π/2), a função f 00 (x) = − cos x ≤ 0, logo é
côncava, e ainda satisfaz a condição

tg θ + tg α + tg β = tg θ . tg α . tg β.

Agora, consideremos que θ, α, β sejam ângulos internos de um triângulo,


logo obtemos que θ + α + β = π. Visto que a função f (x) = cos x é côncava
no intervalo (0, π/2), então iremos utilizar nossa arma, a Desigualdade de
Jensen. Dessa forma, temos
 
f (θ) + f (α) + f (β) θ+α+β
≤f
3 3

65
cos θ + cos α + cos β π 
≤ cos
3 3
cos θ + cos α + cos β 1

3 2
3
cos θ + cos α + cos β ≤
2
π
Se tivermos a igualdade θ = α = β = , teremos
3
π  √
a = b = c = tg = 3
3

Exemplo 8.2 Utilizando a função logaritmo natural e a desigualdade de


Jensen, vamos dar outra prova da desigualdade entre as médias aritmética e
geométrica.

Solução.
Sejam a1 , a2 , ..., an reais positivos. Então, temos que existem reais x1 , ..., xn
de tal maneira que aj = ln xj para todo j.
1
Podemos notar que f (x) = ln x é uma função côncava, pois, f 0 (x) = e
x
00 1 00
f (x) = − 2 , logo, f (x) ≤ 0. Com isso, podemos aplicar a desigualdade de
x
Jensen, portanto, temos
 
f (x1 ) + f (x2 ) + ... + f (xn ) x1 + x2 + ... + xn
≤f ,
n n

ou seja,  
ln x1 + ln x2 + ... + ln xn x1 + x2 + ... + xn
≤ ln
n n

 
ln(x1 x2 ... xn ) x1 + x2 + ... + xn
≤ ln
n n

66
 
1 x1 + x2 + ... + xn
ln (x1 x2 ... xn ) ≤ ln
n ,
n
o que resulta em
 
√ x1 + x2 + ... + xn
ln n
x1 x2 ... xn ≤ ln .
n

Como a função f (x) = ln x é crescente, concluı́mos nossa solução.

Exemplo 8.3 (Índia - 95) Sejam x1 , x2 , ..., xn reais positivos cuja soma é
igual a 1. Prove que:
r
x x2 xn n
√ 1 +√ + ... + √ ≤
1 − x1 1 − x2 1 − xn n−1

Solução.
Consideremos a função

x
f : (0, 1) → R∗+ ; f (x) = .
1−x

Derivando essa função, temos:

x(1 − x)−3/2
f 0 (x) = (1 − x)−1/2 +
2

e derivando novamente, obtemos,

3x(1 − x)−5/2
f 00 (x) = (1 − x)−3/2 + .
4

67
Como a função é tal que f : [0, 1] → R∗+ , então temos que f 00 (x) ≥ 0, ou seja,
convexa. Dessa maneira, utilizando a Desigualdade de Jensen, temos
 n  n
X X
 x1  f (xi )
 i=1  i=1
 n ≤
f ,

  n

que implica em,


 
x1 + x2 + ... + xn f (x1 ) + f (x2 ) + ... + f (xn )
f ≤ ,
n n
x1 +x2 +...+xn √ x1 + √ x2 + ... + √ xn
n 1−x1 1−x2 1−xn
q ≤ ,
1− x1 +x2 +...+xn n
n

como a soma x1 + x2 + ... + xn = 1, então temos que,


1 √ x1 + √ x2 + ... + √ xn
n 1−x1 1−x2 1−xn
q ≤ ,
1− 1 n
n

segue que,
r
n−1 x1 x2 xn
≤√ +√ + ... + √ .
n 1 − x1 1 − x2 1 − xn

Que conclui o que querı́amos mostrar.

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Conclusão

Este trabalho é muito interessante para alunos de matemática que gostam


de desafios e, sobretudo procuram algum incentivo para a realização das
provas das Olimpı́adas de Matemática. Esperamos com esse trabalho estar
ajudando esses estudantes de alguma forma e estar dando uma nova saı́da
para novos estudos nessa área. Porém, para o aluno se aprimorar no estudo da
Desigualdade de Jensen, ele deve ter uma boa compreensão sobre a topologia
na reta, limite e derivada, para que como isso ele possa entender o que
acontece com uma função convexa (côncava) e ainda conseguir identificá-la
facilmente.
Porém, como qualquer outro conteúdo matemático, existem questões que
não são tão difı́ceis de serem resolvidas e existem outras que não são muito
fáceis, como pôde ser visto durante todo o trabalho. O desenvolvimento e a
facilidade acontecem com a prática sucessiva e com a dedicação, portanto, o
trabalho constante traz o primor e o sucesso.

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Referências Bibliográficas

[1] FIGUEIREDO, Djairo Guedes de, Análise I, 2a Edição, LTC-Livros


Técnicos e Cientı́ficos, 1996.

[2] LIMA, Elon Lages, Curso de Análise, volume 1, 12a edição, Associação
Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, Projeto Euclides,
Rio de Janeiro, 2009.

[3] ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Análise Matemática Para Licen-


ciatura, volume 1, 2a edição revista e ampliada, editora Edgard Blücher,
São Paulo, 2005.

[4] STEWART, James, Cálculo, volume 1, 5a edição, editora Thomson


Learning, São Paulo, 2008.

[5] NETO, A.C.M., Desigualdades Elementares, Eureka!, no 5. OBM, 1999.

[6] CAMINHA, Antonio Muniz Neto, Desigualdades Elementares. v.9, p.40-


45, 2002. Disponı́vel em http://www.obm.org.br/eureca/eureca9.Doc

[7] SOARES, Leonardo Ferreira, A desigualdade de Jensen, Monografia


de graduação, Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia,
Juazeiro do Norte - CE, 2009.

70
[8] MARTINS, Alessandro Santana, Interpretação eletrostática e zeros de
polinômios, Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista,
São José do Rio Preto - SP, 2005. (Encontrado no site www.google.com
no dia 25 de Março de 2010).

[9] Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa; Apon-


tamentos Cálculo II. Encontrado no dia 02 de Março de 2010
no site http://docentes.fe.unl.pt/ pchaves/1302/Ficheiros/Lista 7.1 -
Formas Quadraticas; Conjunto Convexo; Funcao Convexa.pdf .

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