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Princípios do desenvolvimento.
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Desde o princípio da formulação teórica do maturacionismo que se procuram os
princípios ordenadores do desenvolvimento motor. No caso do desenvolvimento
humano, esta foi uma busca inglória, porquanto os princípios ordenadores tiveram
primeiro que ser deduzidos da observação da transformação do comportamento e,
depois, do conhecimento que as neurociências foram produzindo sobre os processos
maturativos. É claro que, tratando-se de ramos distintos do conhecimento e com
metodologias, senão linguagens, também distintas, a unificação do conhecimento foi
sempre difícil. Aqui e ali surgiram autores capazes de produzir sínteses inovadoras. O
primeiro caso foi Myrtle McGraw que, bem suportada no trabalho da escola
maturacionista de Arnold Gesell, se permitiu propor uma visão neurocomportamental
do desenvolvimento interessante
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possibilidade de exploração visual. É pelo 6º mês que a extensão completa e sustentada
dos braços permite uma elevação satisfatória do tronco e a rotação razoavelmente
controlada da cabeça. Nesta idade a posição de sentado sem ajuda já é observada, e a
mobilidade da cabeça potencia a leitura visual do envolvimento.
O controlo da coluna tem início pelas 4-6 semanas na posição de deitado ventral
e evolui para o domínio da posição de sentado, com idades cronológicas de
aparecimento muito variáveis. Um valor de referência para a posição de sentado situa-se
pelos 6 meses, embora esteja muito dependente do tipo de apoio e suporte da posição,
sendo também variável a sua cronologia conforme a população estudada ou a própria
definição de posição de sentado. São particularmente importantes o ângulo do tronco
com o solo, o suporte das pernas e mesmo a posição da cabeça. Observações sobre a
posição de sentado detectam claramente não a existência de uma mas de várias
alternativas possíveis (Pikler, 1969). Um processo idêntico ocorre na posição bípede,
extremamente dependente do tipo de ajuda e dos apoios de que a criança faz uso.
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Figura XX: Intervalos para aquisições posturais e locomotoras no primeiro ano de vida, com
base em Koupernik (1954), Bayley (1969), Sheridan (1975), Holt (1977), Hurlock (1978),
Stangler, Huber e Routh (1980), Pickler (1985) e Illingworth (1987).
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McGraw (1943) identificou 5 fases na evolução motora conducente à marcha,
com base na lei céfalo-caudal do desenvolvimento, isto é, de que o controlo motor
segue numa direcção da cabeça para as extremidades inferiores da coluna:
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utilização de vestuário que permitissse liberdade de movimentos, redução do tempo de
transporte ao colo das crianças como modo de estimular formas de locomoção,
descalçar as crianças tanto quento possível para que pudessem experimentar sensações
essenciais para a locomoção, ou a criação de dificuldades de acesso a brinquedos como
encorajamento para a actividade, etc.
Alguns factores parecem ter maior importância no trajecto evolutivo individual:
(1) os de ordem morfológica, já que grande parte do desenvolvimento motor está
associado a um suporte estrutural adequado, (2) a qualidade da estimulação específica,
sendo regra que se aprende mais depressa e melhor aquilo que mais é estimulado, e, (3)
as condições gerais de desenvolvimento (espaço disponível, mobilidade permitida,
modelos e interacções sociais com outras crianças e com adultos, estabilidade
emocional, etc.).
Se considerarmos a influência destes factores e o seu efeito cumulativo nas
aquisições prévias à marcha, então facilmente compreendemos que a idade de
aparecimento da marcha autónoma possa ser extremamente variável sendo
relativamente frequentes valores entre os 10 e os 16 meses.
A segunda fase nos movimentos locomotores é posterior ao primeiro ano de vida
e compreende movimentos que vão evoluir ainda durante alguns anos até atingir uma
estabilidade comportamental. Esses movimentos, como o correr ou o saltar serão
tratados noutro capítulo.
DESENVOLVIMENTO DA PREENSÃO.
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preensão evolui de uma pega palmar, estruturalmente semelhante ao reflexo de preensão
inclusivamente na sequência temporal de acção dos dedos (médio-anelar-mínimo-
indicador), para uma pega com inclusão do polegar e, posteriormente para uma pega em
pinça com oposição indicador-polegar. Por volta dos 10 meses têm início formas
evoluidas de preensão, possibilitando diferentes ajustamentos a variações específicas
dos objectos e uma diversidade de aproximações conforme a forma do objecto ou a
finalidade da acção.
A observação de que crianças muito pequenas quando suportadas e com
liberdade para mover os braços exibem movimentos de aproximação a objectos,
conduziu a uma série de estudos que procuram reapreciar as reais potencialidades para
agarrar (Hofsten, 1982). Uma primeira noção é a de que o controlo dos movimentos dos
braços no recém-nascido é organizado num espaço visuo-manual (Rader & Stern,
1982). Hofsten (1982) observou tentativas de agarrar em bebés de 5 dias, desde que o
objecto esteja em movimento; quando a criança não olha para o objecto a frequência de
tentativas esboçadas de agarrar é significativamente inferior. Contudo, "the synergistic
properties of neonate reaching does not seem to be influenced by vision. Wether the
infant looked at the target or not, in a majority of cases, the reaching hand would open
before or during the extension of the arm" (p.172).
A combinação alcançar-agarrar pode ser adequada a características do objecto,
nomeadamente a sua orientação espacial. Entre as 18 e as 34 semanas o ajustamento da
mão em relação à orientação do objecto pode ser observada (Hofsten & Fazel-Handy,
1984).
Aos 5 meses é possível verificar a correcção da orientação manual para o
objecto quando a visão é distorcida por prismas ópticos (McDonnell, 1975) sugerindo
que o controlo desta fase do agarrar não é feito por modo exclusivamente visual mas
visuo-proprioceptivo. A evolução processa-se no sentido da independência sequencial
de duas fases de acção: uma fase inicial, balística, de aproximação ao objecto, e uma
fase lenta de precisão com a finalidade de estabelecer contacto ajustado.
As formas mais primitivas de preensão são de natureza reflexa (reflexo de
preensão) e sinergias musculares elementares podem ser observadas no período fetal a
partir das 10.5 semanas (Ajuriaguerra, 1978, Prechtl, 1986). Antes que a preensão
voluntária possa ocorrer é preciso, contudo, que alguns pré-requisitos estejam reunidos,
nomeadamente a capacidade de abrir voluntariamente a mão contrariando a tendência
comportamental do recém-nascido para a manter fechada e a capacidade de orientar
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visualmente a mão para o objecto. Por volta das 12 semanas e às vezes mais cedo, o
bebé é capaz de reter um objecto colocado na sua mão. Nesta altura evidencia desejo de
agarrar objectos embora não se oriente para eles. Gradualmente e de forma
imperceptível as mãos orientam-se para o objecto até que, por volta dos 4 meses, a mão
e a visão estão orientadas mas a preensão ainda não surge.
Uma distinção importante deve ser feita quanto à categorias de comportamento
manipulativo. Basicamente podem surgir três formas: o alcançar (reaching), o agarrar
objectos imóveis (grasping) e o agarrar objectos móveis (catching). O agarrar objectos
imóveis pode surgir sobre forma reflexa ou voluntária quando o objecto é colocado em
contacto com a mão ou pode implicar e associar-se ao movimento de alcançar. Nesta
acção sequencial foram detectadas, em adultos e também em crianças (Hofsten,1982),
duas fases: uma primeira de controlo visuo-proprioceptivo com o objectivo de
aproximação ao alvo, muito rápida e cobrindo a maior parte da aproximação, e uma fase
final guiada visualmente detinada a assegurar um agarrar suave. Nesta última fase a
posição do alvo e da mão são visualmente tratadas para controlar os ajustamentos finos
que aí têm lugar (Hofsten & Lee, 1982).
Aos 5 meses pode agarrar claramente um objecto colocado próximo das suas
mãos, e um mês mais tarde pode trocar objectos de mão (Illingworth, 1986), evoluindo
rapidamente para formas muito precisas de agarrar e para o intercâmbio de objectos
entre mãos (7-8 meses). Por volta dos 9 meses a preensão em pinça indicador-polegar é
observável. A partir desta idade são frequentes os jogos de dar e receber tipicamente
repetitivos, com domínio das mãos, da posição de sentado, da coordenação mão-visão e
da comunicação entre criança e adulto ou criança-criança.
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Mãos fechadas e polegar para dentro
Alcançar descontrolado
Desaparece o reflexo de preensão
Segura objecto entre mão e tronco.
Preensão cúbito e rádio-palmar
Preensão palmar
Preensão radial
Muda objecto de mão
Preensão em pinça rudimentar
Preensão em pinça com precisão
Dá objectos a pedido
Primeiras formas de lançar
Quase agarra objectos em movimento
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Figura XX: Intervalos para aquisições manipulativas no primeiro ano de vida, com base em
Illingworth (1987), Halverson (1931), Koupernik (1954), Haywood (1988), Bayley (1969) e
Eckert (1993).
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O DESENVOLVIMENTO DO ANDAR
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1. movimentos diversos dos membros inferiores em posição vertical suportada;
a criança não suporta o seu peso.
2. posição bípede com suporte fixo, eventualmente com pequenos
movimentos de deslocação.
3. locomoção com ajuda do adulto nas duas mãos.
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cada estádio, e, 3) a identificação dos factores determinantes do tempo de aparecimento
ou da duração de cada fase (Espenschade e Eckert, 1980).
O desenvolvimento do Andar manifesta-se, nas suas primeiras fases, entre os 9 e
os 17 meses de idade com períodos críticos diferentes de autor para autor. Nesta
primeira fase a acção das pernas é pouco eficiente e o padrão motor caracteriza-se por
uma passada muito curta, pequena extensão da perna e contacto com o solo com o
joelho em flexão. Os pés são colocados lateralmente ao sentido do deslocamento, com
um afastamento muito pronunciado, numa tentativa de controlar os desequilíbrios
laterais muito frequentes nesta fase. Os primeiros passos não são ritmados nem fluidos,
e, frequentemente, hesitantes. Os trajectos são curtos e não há mudanças de direcção.
Não existe rotação do tronco e os braços conservam uma posição relativamente
alta sem alternância coordenada com a deslocação dos apoios, prevendo a protecção em
caso de queda. Este último aspecto segue uma evolução curiosa com o abaixamento
progressivo dos braços para uma posição de "guarda" mais baixa (cerca de 45 graus em
relação ao tronco) até estabilizarem na posição vertical típica da locomoção do adulto.
Só posteriormente se verificará o movimento de balanço alternado e em oposição ao
movimento dos membros inferiores.
O desenvolvimento do Andar passa por certas transformações quer de ordem
motora quer de ordem morfológica. Com base no trabalho de Wickstrom (1977) e de
Espenschade & Eckert (1980) podemos identificar:
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4. redução da amplitude do afastamento lateral dos apoios e orientação dos mesmos no
sentido do deslocamento;
A ESTIMULAÇÃO DO ANDAR
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Durante muitos anos o determinismo maturacionista reduziu a um papel
insignificante a estimulação durante os primeiros tempos de vida. Como processo
fisiológico internamente regulado e sujeito a leis precisas, o fenómeno da maturação
parecia explicar quase toda a evolução não só na coordenação em geral mas também no
tempo de aquisição de habilidades motoras. No entanto surgem dúvidas quando estudos
devidamente controlados e realizados por cientistas de reconhecida competência
observam valores muito discrepantes para a idade de aquisição da marcha autónoma:
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destes dois exemplos aponta sempre no sentido de que a facilitação excessiva ou a
redução de actividade por condições diversas atrasa o momento de ocorrência normal de
aquisições motoras na primeira infância.
Mais recentemente foi colocada a questão de se saber até que ponto a
estimulação específica, quer por via de cuidados maternais diferenciados quer por via
experimental, pode alterar o curso do processo normal de desenvolvimento.
Duas posições persistem quanto a este problema. Por um lado autores como
Delacato (1963) e Doman (1964) afirmam que o "saltar de etapas" no processo normal
de desenvolvimento pode implicar negativamente com o sucesso de aquisições
posteriores, não só no plano motor mas também no domínio cognitivo em geral. Nesta
perspectiva, de base maturacionista, todas as fases evolutivas devem ser respeitadas de
forma a garantir uma integridade e correcção do desenvolvimento.
Contrariamente a esta posição, autores como Roberton (1978) e Zelazo (1983)
contrapoem o papel da estimulação precoce como modo de acelerar etapas e o próprio
curso normal de desenvolvimento sem que se vislumbrem implicações negativas no
futuro da criança. Zelazo (1983) demonstra que movimentos reflexos como o da
marcha, que normalmente desaparece por volta das oito semanas, podem persistir se
ocorrer uma estimulação metódica deste movimento pela repetição do estímulo
elicitador. A estimulação activa deste reflexo aumenta a frequência da resposta (número
de passos) enquanto que a estimulação passiva não produz qualquer efeito de
persistência do reflexo. Adicionalmente os efeitos desta estimulação fazem-se notar no
aparecimento precoce da marcha autónoma (menos 2 meses que o grupo de controlo
que não beneficiou de qualquer tipo de estimulação).
Konner (1973) observou o facto de que as crianças do Deserto do Calahari no
Botswana, sendo sujeitas a uma estimulação tradicional dos movimentos de marcha
reflexa que se prolonga por todo o primeiro ano de vida, sob a forma de um jogo/dança
que produz estimulação idêntica á de Zelazo (1983), conservam o reflexo durante o
tempo em que persiste a estimulação. O estudo de Super (1976), similar ao de Konner
(1973) mas realizado no Quénia, produz resultados idênticos, verificando-se a extensão
do reflexo a todo o primeiro ano de vida em 86 % da amostra estudada.
Está contudo por esclarecer se o reflexo prolongado se incorpora na marcha
autónoma e se, de forma sistemática, a beneficia. A estimulação suplementar de carácter
cultural que as mães estudadas provocam nos seus filhos, descrita por Super (1976),
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incide não só na exercitação do reflexo de marcha, mas também na posição de sentado e
de pé.
A estimulação que diferentes culturas proporcionam ás suas crianças no tocante
a movimentos rudimentares e fundamentais está bem patente no levantamento
complementar levado a efeito por Super (1976). Este autor mostra que para grupos
africanos constituintes de uma amostra altamente diversificada (doze grupos da Árica
Oriental) é importante a estimulação de movimentos como o Sentar e o Andar, ao
contrário da prática corrente nas culturas europeias.
O DESENVOLVIMENTO DO CORRER
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regularidade. Contudo, a habilidade de parar repentinamente ou de mudar de direcção é
incipiente; a corrida é apenas observável em linha recta. As re-orientações espaciais são
resolvidas graças a uma redução da velocidade de deslocamento, para formas de andar
suficientemente lentas para poder proceder à mudança de direcção. O padrão inicial
regista ainda uma extensão quase total do membro inferior e uma irregularidade
sensível do comprimento e frequência da passada (Eckert, 1987). A frequência de
passada pode atingir valores de 170 apoios por minuto aos dois anos e meio
(Espenschade & Eckert, 1967) e a velocidade de deslocamento pode chegar a cerca de 2
metros por segundo (Cratty, 1986). A evolução da velocidade de deslocamento é
importante atingindo um valor de 3.6 m/s aos 5 anos (Jenkins, 1930).
Uma forma de corrida suficientemente elaborada para poder ser incluida em
actividades de jogo não é geralmente observada antes dos 4 anos e a semelhança com
padrões adultos ocorre apenas pelos 5-6 anos (Espenschade & Eckert, 1980).
17 meses
37 meses
53 meses
66 meses
A evolução do padrão de corrida é mais notória dos 2 para os 4 anos do que dos
4 para os 6 anos (Fortney, 1983). São características dos 2 anos a elevação dos
calcanhares abaixo da altura dos joelhos e um ângulo inferior a 90º entre o pé e a perna.
Aos 4 anos este ângulo é já superior a 90º e a altura atingida pelo calcanhar durante a
mudança de apoio é claramente superior à altura do joelho da perna de apoio. Uma
terceira característica é o aumento do ângulo coxa-perna com a idade. Estas
modificações podem estar na origem de alguns factos observados por Clouse (1959);
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com a idade verifica-se um aumento da velocidade de corrida, do tempo de trajectória
aérea e do comprimento da passada, assim como uma redução da trajectória vertical do
centro de massa. A estas transformações, McGlenaghan & Gallahue (1985) e Dittmer
(1962) acrescentam ainda a redução do tempo de contacto com o solo (duração do
apoio) com a idade. Haywood (1986) refere a evolução para uma extensão completa da
perna no final da fase de contacto e, por último, Wickstrom (1977) refere a redução do
ângulo braço-antebraço até um valor próximo dos 90º em crianças que exibem um
padrão maturo.
Uma boa sistematização da evolução da corrida seguindo uma perspectiva de
estádio é apresentada por Seefeldt, Reuschlein e Vogel (1972):
FASE 1 braços elevados, contacto completo do pé, passada curta com reduzida flexão do joelho
FASE 3 contacto c/ o solo iniciado pelo calcanhar, acção mais vigorosa dos braços, rotação do tro
FASE 4 contacto com a extremidade anterior do pé, oposição dos braços e coordenação com os ap
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Referenciais do desenvolvimento.
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Entre o Saltita em pés alternados Escreve algarismos de 1 a 5
5º e o 6º Salta à corda Exibe preensão matura de lápis
ano Anda de patins ou skate Lateralidade bem estabelecida
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