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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PROCURADOR DA RÉPUBLICA DA

2 PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO PAULO

6 PR-SP 00021378/2011

10

11 HAMILTON WILLIAM DOS SANTOS, brasileiro, solteiro, OAB/SP


12 303864, R.G. 22.433.929-1, C.P.F. 172.495.578-07, residente e domiciliado à Av Bernardo
13 Mendes da Silva, 275, CEP 02952-000, São Paulo, Capital, por meio de seu advogado (art. 39,
14 CPC), que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, acostar novos
15 documentos aos autos da REPRESENTAÇÃO PARA INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO
16 CRIMINAL em face do Deputado Federal do Partido Progressista (PP-RJ), JAIR MESSIAS
17 BOLSONARO.
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19 1. Cuida-se de juntada do Voto da ADI 4277 e ADPF 132-RJ1, da lavra do Senhor Ministro
20 Relator Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, que conferiu ao “art. 1.723 do Código Civil
21 interpretação conforme à Constituição, para dele excluir qualquer significado que impeça o
22 reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
23 „entidade familiar‟, entendida esta como sinônimo perfeito de „família‟”.
24
25 2. Trata-se, destarte, de um leading case, emanado do órgão da cúpula do Poder
26 Judiciário, responsável pela guarda da Constituição Federal. Esta decisão tem, portanto, o
27 condão de vincular as demais decisões sobre o tema em todo o país. Além disso, o voto do
28 Ministro Ayres Britto elucida, de forma clara e definitiva, vários preceitos constitucionais
29 basilares à boa convivência social – totalmente violados e ignorados pelo deputado Jair
30 Bolsonaro-, de modo que vale sublinhar seus pontos mais importantes a esta douta

1
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4277.pdf
31 Procuradoria da República, a fim de aclarar ainda mais a ilicitude dos atos do
32 denunciado, para eventual persecução criminal do mesmo.
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34 3. No que se refere à questão da preferência sexual, afirma o Ministro Britto, preliminarmente,
35 que „nada incomoda mais as pessoas do que a preferência sexual alheia, quando tal
36 preferência já não corresponde ao padrão social da heterossexualidade. É a perene
37 postura de reação conservadora aos que, nos insondáveis domínios do afeto, soltam por inteiro
38 as amarras desse navio chamado coração‟. (§ 3º, p. 4)
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40 4. No mérito, afirma o Ministro Ayres Britto que é na Lei das Leis que „que se encontram as
41 decisivas respostas para o tratamento jurídico a ser conferido às uniões homoafetivas,
42 que se caracterizem por sua durabilidade, conhecimento do público (não-
43 clandestinidade, portanto) e continuidade, além do propósito ou verdadeiro anseio de
44 constituição de uma família’. Como se vê, as relações homoafetivas, diferentemente do que
45 constantemente afirma, de modo discriminatório e preconceituoso, o deputado Bolsonaro, não
46 se constituem numa oposição à „família‟, quando se procede a uma intepretação desta matéria
47 conforme a Constituição Federal.
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49 5. Outrossim, pondera, com bastante acuidade, o eminente Ministro Britto que “o sexo das
50 pessoas, salvo expressa disposição constitucional em contrário, não se presta como
51 fator de desigualação jurídica. É como dizer: o que se tem no dispositivo constitucional
52 aqui reproduzido em nota de rodapé (inciso IV do art 3º) é a explícita vedação de
53 tratamento discriminatório ou preconceituoso em razão do sexo dos seres humanos.
54 Tratamento discriminatório ou desigualitário sem causa que, se intentado pelo comum
55 das pessoas ou pelo próprio Estado, passa a colidir frontalmente com o objetivo
56 constitucional de “promover o bem de todos” (este o explícito objetivo que se lê no
57 inciso em foco)”. Ora, é exatamente este tratamento discriminatório e preconceituoso que o
58 representante do povo Deputado Jair Bolsonaro, cujo salário, custos das instalações e
59 agregados são pagos com o dinheiro do Estado, está constantemente a proferir. Assim, com
60 seu discurso e ações „desigualitárias‟, o denunciado procura mostrar, com sua verborragia, que
61 a promoção do bem de todos, tipificada na Lei Maior, não passa de uma quimera.
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63 6. Em relação à discriminação de cunho racial feita pelo Deputado Bolsonaro, cabe citar o
64 proferido no voto do Ministro Ayres Britto, quando ele afirma que o “preâmbulo da nossa Lei
65 Fundamental” consagra o „Constitucionalismo fraternal‟, “que se volta para a integração
66 comunitária das pessoas (não exatamente para a „inclusão social‟), a se viabilizar pela
67 imperiosa adoção de políticas públicas afirmativas da fundamental igualdade civil-moral (mais
68 do que simplesmente econômico-social) dos estratos sociais historicamente desfavorecidos e
69 até vilipendiados. Estratos ou segmentos sociais como, por ilustração, o dos negros, o dos
70 índios, o das mulheres, o dos portadores de deficiência física e/ou mental e o daqueles que,
71 mais recentemente, deixaram de ser referidos como „homossexuais‟ para ser identificados pelo
72 nome de „homoafetivos‟. Isto de parelha com leis e políticas públicas de cerrado combate ao
73 preconceito, a significar, em última análise, a plena aceitação e subseqüente
74 experimentação do pluralismo sócio-políticocultural. Que é um dos explícitos valores do
75 mesmo preâmbulo da nossa Constituição e um dos fundamentos da República Federativa do
76 Brasil (inciso V do art. 1º). Mais ainda, pluralismo que serve de elemento conceitual da própria
77 democracia material ou de substância, desde que se inclua no conceito da democracia dita
78 substancialista a respeitosa convivência dos contrários. Respeitosa convivência dos
79 contrários que John Rawls interpreta como a superação de relações historicamente servis ou
80 de verticalidade sem causa. Daí conceber um „princípio de diferença‟, também estudado por
81 Francesco Viola sob o conceito de „similitude‟ (ver ensaio de Antonio Maria Baggio, sob o título
82 de “A redescoberta da fraternidade na época do „terceiro‟ 1789”, pp. 7/24 da coletânea “O
83 PRINCÍPIO ESQUECIDO”, CIDADE NOVA, São Paulo, 2008).
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85 7. No que se refere ao conceito de preconceito, o eminente Ministro Ayres Brito resume, de
86 forma precisa, esta anomalia da qual o deputado Bolsonaro procura fazer uso constante em
87 suas falas enquanto representante do povo, senão vejamos: “Mas é preciso lembrar que o
88 substantivo „preconceito‟ foi grafado pela nossa Constituição com o sentido prosaico ou
89 dicionarizado que ele porta; ou seja, preconceito é um conceito prévio. Uma formulação
90 conceitual antecipada ou engendrada pela mente humana fechada em si mesma e por isso
91 carente de apoio na realidade. Logo, juízo de valor não autorizado pela realidade, mas
92 imposto a ela. E imposto a ela, realidade, a ferro e fogo de u‟a mente voluntarista, ou sectária,
93 ou supersticiosa, ou obscurantista, ou industriada, quando não voluntarista, sectária,
94 supersticiosa, obscurantista e industriada ao mesmo tempo. Espécie de trave no olho da razão
95 e até do sentimento, mas coletivizada o bastante para se fazer de traço cultural de toda uma
96 gente ou população geograficamente situada. O que a torna ainda mais perigosa para a
97 harmonia social e a verdade objetiva das coisas. Donde René Descartes emitir a célebre e
98 corajosa proposição de que „Não me impressiona o argumento de autoridade, mas, sim, a
99 autoridade do argumento‟, numa época tão marcada pelo dogma da infalibilidade papal e da
100 fórmula absolutista de que „O rei não pode errar‟ („The king can do no wrong‟). Reverência ao
101 valor da verdade que também se lê nestes conhecidos versos de Fernando Pessoa, três
102 séculos depois da proclamação cartesiana: „O universo não é uma idéia minha./A idéia que eu
103 tenho do universo é que é uma idéia minha‟”. Verifica-se nesta parte do voto alguns adjetivos
104 importantes muito pertinentes para definir o deputado Bolsonaro, quais sejam, pessoa com
105 uma „mente obscurantista, superticiosa, sectária, fechada em si mesmo‟, sem base na
106 realidade, que tem uma „trave no olho da razão e até do sentimento‟, „autoritária‟ e que oferece
107 „perigo a harmonia social‟ e à „verdade objetiva das coisas‟.
108
109 8. Além disso, afirma o eminente Ministro Britto que “há mais o que dizer desse emblemático
110 inciso IV do art. 3º da Lei Fundamental brasileira. É que, na sua categórica vedação ao
111 preconceito, ele nivela o sexo à origem social e geográfica da pessoas, à idade, à raça e à cor
112 da pele de cada qual; isto é, o sexo a se constituir num dado empírico que nada tem a ver com
113 o merecimento ou o desmerecimento inato das pessoas, pois não se é mais digno ou menos
114 digno pelo fato de se ter nascido mulher, ou homem. Ou nordestino, ou sulista. Ou de pele
115 negra, ou mulata, ou morena, ou branca, ou avermelhada. Cuida-se, isto sim, de algo já
116 alocado nas tramas do acaso ou das coisas que só dependem da química da própria Natureza,
117 ao menos no presente estágio da Ciência e da Tecnologia humanas”. Com este argumento,
118 fica claro que o ideário e a pretensão de superioridade emanadas das palavras do deputado
119 Bolsonaro, seja em relação a negros, seja em relação a homossexuais, não encontra guarida
120 no entendimento do Supremo Tribunal Federal, obtido de acordo com tipificado na Constituição
121 da República Federativa do Brasil.
122

123 9. Um outro aspecto notado pelo Ministro Ayres Britto (§18), refere-se ao fato já aludido pelo
124 Autor desta Representação na Inicial (linhas 193-297, §48) de que, conforme expressa
125 disposição constitucional, „ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em
126 virtude de lei‟. E, como a Constituição Federal silencia sobre o modo como os indivíduos devem
127 dispor sobre sua sexualidade e intimidade, isto significa, à maneira de Kelsen, que „tudo que
128 não estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido‟. Não cabem,
129 destarte, considerações, ingerências, interferências e abusos morais autoritários por parte do
130 Deputado Federal Jair Bolsonaro, ou de quem quer que seja, na intimidade, na vida privada e
131 no modo com que cada pessoa deseje dispor de sua vida sexual, privacidade e intimidade, sob
132 pena de lei.
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134 10. Além disso, é vedada a discriminação em relação aos homoafetivos na seguinte passagem
135 do §25 do voto do Ministro Ayres Britto, em que ele afirma que „há um direito constitucional
136 líquido e certo à isonomia entre homem e mulher: a)de não sofrer discriminação pelo
137 fato em si da contraposta conformação anátomofisiológica; b) de fazer ou deixar de fazer
138 uso da respectiva sexualidade; c) de, nas situações de uso emparceirado da
139 sexualidade, fazê-lo com pessoas adultas do mesmo sexo, ou não; quer dizer, assim
140 como não assiste ao espécime masculino o direito de não ser juridicamente equiparado
141 ao espécime feminino − tirante suas diferenças biológicas −, também não assiste às
142 pessoas heteroafetivas o direito de se contrapor à sua equivalência jurídica perante
143 sujeitos homoafetivos. O que existe é precisamente o contrário: o direito da mulher a
144 tratamento igualitário com os homens, assim como o direito dos homoafetivos a
145 tratamento isonômico com os heteroafetivos’. Destarte, fica claro que o argumento de que
146 homossexuais devem tomar umas „palmadas‟, „uma surra‟, „um couro‟ para se „corrigirem‟ de
147 suas tendências homoafetivas, tal como defende o Deputado Bolsonaro, não passa de mais
148 uma tentativa do denunciado de tentar mostrar a sua suposta „força‟ e „imunidade‟, a ideia de
149 que estaria „acima da lei‟ e da Constituição do país, e que, portanto, poderia sair „impune‟, caso
150 a violasse.
151
152 11. Por fim, o eminente Ministro Ayres Britto coloca de forma inequívoca que o conceito de
153 Família tipificado no art. 226 da Carta Política, não deve ser interpretado restritivamente, tal
154 como o faz o Deputado Bolsonaro, para quem „família‟ se refere apenas ao casal
155 homem/mulher. A Família “que recebe proteção Estatal”, afirma o Ministro, é aquela “em seu
156 coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou
157 informalmente constituída, ou se integrada por casais heterossexuais ou por pessoas
158 assumidamente homoafetivas. Logo, família como fato cultural e espiritual ao mesmo tempo
159 (não necessariamente como fato biológico)”. Trata-se, destarte, de mais uma explicação que
160 faz erodir a „interpretação‟ de senso comum proveniente do deputado Bolsonaro, a qual,
161 reitere-se, não encontra guarida no ordenamento jurídico pátrio, devendo ser rechaçada de
162 plano.
163
164 12. Isto posto, o Autor reafirma o pedido para que esta douta Procuradoria acolha sua
165 representação criminal em face do deputado federal Jair Bolsonaro por crimes de racismo e
166 homofobia, encaminhando-se a mesma ao Supremo Tribunal Federal, por ser medida de
167 Justiça!
168
169 Nestes Termos,
170
171 Pede Deferimento,
172
173 São Paulo, 06 de maio de 2011.
174
175
176 Hamilton William dos Santos
177 OAB/SP 303864

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