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Introdução
O êxodo rural em São José do Norte configura-se como a única alternativa dos
trabalhadores rurais em sobreviverem e sustentarem suas famílias. Na verdade, tal
acontecimento só contribuiu para o aumento desmedido e desenfreado, sem
planejamento da cidade, engrossando o cinturão de miséria da mesma.
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Pedagoga, Mestranda em Educação Ambiental do PPGEA - Fundação Universidade Federal do Rio
Grande – FURG, Rio Grande/RS. Profª de Séries Iniciais do Município de São José do Norte/RS e Profª
de Didática no Departamento de Educação e Ciências do Comportamento – DECC / FURG, Rio
Grande/RS.
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Neste mesmo movimento, as escolas rurais, as quais em sua maioria surgiram
como reivindicação das comunidades locais e que antes eram “pensadas” como uma
política de fixação do homem ao campo, acabam relegadas e abandonadas como os
agricultores, sofrendo tanto as intempéries do tempo quanto o descaso do poder público.
Sempre que pensamos em Escola Rural nos lembramos daqueles espaços onde
as políticas, diretrizes e tecnologias educacionais nunca chegaram.
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O problema do mestre é indiscutivelmente dos mais graves. Sua solução
ainda está longe. Os professores mandados para o interior estudaram na
capital ou nas grandes cidades, cujos problemas são urbanos. [...] Vão
ensinar nos meios matutos e sertanejos, por programas manipulados na
capital, cuja distribuição de matérias e cujos métodos preconizados só por
descuido cogitam das necessidades e realidades da vida no interior. Sua
aspiração é correr, seu pensamento está na cidade e na família distantes, [...]
sua atitude é de aversão ao meio que eles não compreendem e que, em
retribuição, com eles antipatiza (LEÃO, 1953:281).
No mesmo sentido em que Miguel Arroyo (1999: 29), afirma que a cultura
dominante, eminentemente urbana, concebe os costumes, valores, crenças do campo
como algo distante da sua realidade sócio-cultural, tratando os sujeitos romanticamente,
como se estes possuíssem valores ultrapassados, distantes dos conhecimentos científicos
da modernidade. Desta forma “[...] que o modelo de educação básica queira impor para
o campo currículos da escola urbana, saberes e valores urbanos como se o campo e sua
cultura pertencessem a um passado a ser esquecido e superado. Como se os valores, a
cultura, o modo de vida, o homem e a mulher do campo fossem uma espécie em
extinção”.
Neste contexto, penso e entendo que Escola do Campo como afirma Kolling,
Nery e Molina, deva ser:
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difícil desenvolver atividades que contemplem todas as dimensões dos indivíduos
envolvidos no processo educacional.
• Os processos de Nucleação
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Dinheiro Direto na Escola/PDDE-MEC, ficando a cargo das Secretarias Municipais e
Estaduais de Educação manter seu funcionamento.
Vale considerar que, na maioria dos casos, as escolas rurais estão isoladas no
tempo/espaço, além do fato de o professor estar sem apoio didático-político-pedagógico
e não possuir qualificação profissional. Esses fatores contribuem para as tentativas em
se criar as Escolas Rurais Nucleadas, vindo a constituir-se em um modelo alternativo
para a educação rural.
[...] se tais adaptações não estiverem embutidas num projeto educacional que
tenha como base o respeito pelas condições de vida, de trabalho e de
aprendizagem de crianças e grupos sociais, que não estabeleça princípios
claros acerca de uma educação democrática e um ensino com base num
currículo que desenvolva as potencialidades do aluno a partir de suas
habilidades, conhecimentos e experiências, não terão sucesso e dificilmente
conseguirão ser implantadas na sua integralidade (VENDRAMINI, 2000:
167).
Outro fator indispensável neste debate, é a perda da identidade social-cultural-
histórica da comunidade em que a escola está inserida. Uma vez que estas, além de
promoverem a construção de conhecimentos, são utilizadas como referência nas
localidades do interior. Suas festas religiosas, as novenas, os encontros comunitários
são todos realizados nesta instituição e, na medida em que são desativadas, os sujeitos
que convivem na referida comunidade se sentem desamparados. “A comunidade tem
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caráter cultural/histórico. É cultural por seus valores, usos e costumes, normas e crenças
comuns; é histórica pelas transformações e provações sofridas ao longo do tempo”
Morin (2001: 67).
Por todas estas questões é que se faz necessário e urgente buscar modelos
alternativos para a Educação do Campo e as Escolas Rurais. A escola Rural Nucleada
não é o único modelo, mas se constitui, sem dúvida, em uma importante proposta para
as mesmas.
Embora já não se tenham tantos professores leigos como havia antes, por
influência da Lei 9394/96, LDBEN, no município de São José do Norte, ainda os
encontramos nas escolas rurais multisseriadas, isoladas a quilômetros da sede, relegadas
à margem das políticas educacionais, em especial para a Formação de Professores.
Alguns autores como Tardif (2002), Gauthier (1998) afirmam que os saberes
provenientes da experiência docente são indispensáveis para a construção e constituição
do ser professor. Os saberes experienciais são constituídos ao longo da profissão
docente. “Esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-
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se à experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-
fazer e de saber-ser”. (TARDIF, 2002: 39). Para Gauthier (1998: p.32-34) os saberes
experienciais subdividem-se em outros três: os saberes da tradição pedagógica que são
aqueles que, mesmo sem ter feito um curso de formação profissional, já se tem, na
medida em que as representações de escola e sala de aula já estão presentes na
consciência de cada um; os saberes experienciais que são considerados como uma
construção privada e individual do professor; para o autor “[...] o que limita o saber
experiencial é exatamente o fato de que ele é feito de pressupostos e de argumentos que
não são verificados por meio de métodos científicos” (GAUTHIER, 1998: 33); e o saber
da ação pedagógica que “[...] é o saber experiencial dos professores a partir do momento
em que se torna público e que é testado através das pesquisas realizadas em sala de
aula”.
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Ao visitar a referida escola constatei que a parte física da mesma encontrava-se
extremamente comprometida; o prédio estava quase caindo, com as janelas tapadas com
madeira, sem água, luz elétrica, banheiro. Na parte interna parecia uma “casinha de
bonecas”, limpa e cheirosa, com cortinas decoradas... Para tanto, haviam matriculados
no ano letivo de 2005, quatro alunos – dois de 1ª série, um de 3ª e um de 4ª, sendo que a
professora que lecionava ali, era leiga e estava se aposentando.
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Conclusão
Referências Bibliográficas
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GAUTHIER, Clermont. Por uma Teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o
Saber Docente. Ijuí, RS: Editora UNIJUÍ, 1998.
KOLLING, Edgar Jorge; CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli Salete (orgs).
Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas. - Brasília, DF: Articulação Nacional
Por uma Educação Básica do Campo, 2004. (Coleção Por uma Educação Básica do Campo, nº4)
_________; NERY, Ir. Israel José; MOLINA, Mônica Castagna (orgs.). Por uma Educação
básica do Campo. (Memória). 3ª ed. - Brasília, DF: Articulação Nacional Por uma Educação
Básica do Campo, 1999. (Coleção Por uma Educação Básica do Campo, nº1).
MOLINA, Mônica; JESUS, Sonia Meire Azevedo (orgs). Por uma Educação do Campo:
contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. - Brasília, DF:
Articulação Nacional Por uma Educação Básica do Campo, 2004. (Coleção Por uma Educação
Básica do Campo, nº5)
MORIGI, Valter. Escola do MST: uma utopia em construção. Porto Alegre: Mediação, 2003.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reformar, reformar o pensamento. 5a ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 4ª ed.– Petrópolis, RJ: Vozes,
2004.
VENDRAMINI, Célia Regina. Terra; Trabalho e Educação: experiências sócio- educativas
em assentamentos do MST. – Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2000. (Coleção ciências sociais)
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