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FERREIRA, S. C.

Urbanização e rede urbana brasileira: orientação teórica e metodológica preliminar

URBANIZAÇÃO E REDE URBANA BRASILEIRA: ORIENTAÇÃO


TEÓRICA E METODOLÓGICA PRELIMINAR

Sandra Cristina Ferreira1

1. Introdução
O modelo de desenvolvimento brasileiro, pautado fortemente no viés econômico
vinculado aos interesses políticos e às estratégias de avanço e reprodução do capital
internacional, fundamentou grande parte do setor industrial, segundo relações externas
mais fortes que internas. Assim, a sociedade urbana originada sob esse contexto
político-econômico, manteve a tendência incisiva em assimilar valores efêmeros no
tocante ao consumo, aliado tanto a necessidade quanto ao desejo.
A informatização tornou o território e a sociedade articulada e funcional, mas
desarticulado quanto ao comando local das ações que nele se exercem. Essa adequação,
estreita a distância e o tempo para que a reprodução do capital nacional e internacional
aconteça. E, por meio da reincidente concentração de renda, infra-estrutura e poder
político-econômico, apenas algumas parcelas do espaço e da sociedade usufruem dessas
inovações. Temos então, a formação de uma sociedade urbana que cria e fortalece a
rede urbana sob diferentes níveis de intensidade, provocando diferentes transformações
em sua forma e em seu conteúdo.
A fim de estudar e compreender a formação dessa rede urbana, especificamente
no recorte regional, propomos discutir caminhos teóricos e metodológicos, alguns
clássicos como a questão da hierarquia e centralidade urbana, ,entretanto sob novas
leituras e agregando novos elementos ao debate, buscando assim, propiciar o avanço em
pesquisas dessa natureza.

2. Perspectivas de análise da rede de cidades contemporânea

O cenário urbano, revela um desenho espacial com múltiplos núcleos urbanos de


tamanho e natureza variadas, sendo que das 5.564 cidades, grande maioria são de

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UNESP/Presidente Prudente . Programa de Pós Graduação em Geografia (Doutorado).

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pequeno porte, sendo 43% até 5 mil habitantes e as demais até 100 mil2. Esta categoria
de cidades, entretanto, abriga apenas 2,4% da população. As cidades entre 100 e 500 mil
habitantes que em 1970, eram 56 cidades, chegando a 173 cidades em 2000 (IBGE,
2000 ), apontando uma nova realidade para a rede urbana brasileira, a emergência de
cidades de porte médio como centros que representam importantes nós na rede urbana
brasileira (CORRÊA, 2007), sendo as grandes cidades, número menos significativo,
embora com alto índice populacional.
A compreensão das vicissitudes na condução da produção sócioespacial, exige
novos exercícios intelectuais, convidando a repensar os pressupostos epistemológicos
vigentes, assim como as questões metodológicas e conceituais no âmbito da Geografia
em suas diferentes vertentes. No que tange a rede urbana e a urbanização brasileira e o
movimento que permeia tais processos, requer desviar a preocupação demasiada com as
coerências e atentar para as imprecisões, as rupturas, continuidades e períodos de
transição com suas dissimetrias, ampliando o caminho para a perspectiva dialética. Uma
compreensão fragmentada-articulada, direcionada para a aproximação com o real,
desprovido de perfeições e de resultados evidentes, definitivos ou estanques.
Tais esforços são válidos frente a intensificação do fluxo produtivo entre as
cidades, ao percebermos que “as especializações do território são a raiz da
complementaridade regional: há uma nova geografia regional que se desenha, na base
da nova divisão territorial do trabalho que se impõe”. SANTOS (1993, p. 64),
estabelecendo assim, novos arranjos na rede urbana. As proposições de Milton Santos,
se confirmaram e, atualmente tais arranjos apresentam-se consolidados e com grande
poder de mutabilidade e expansão.
Assim como a industrialização no país é incompleta e concentrada, também a
urbanização, as relações em rede e configuração dos arranjos produtivos não acontecem
na mesma intensidade entre as mesorregiões brasileiras. Contudo, “a concentração de
pessoas e atividades econômicas em poucas cidades não deve ser vista como um algo
permanente, e a complexidade do padrão de urbanização atrela-se ao fato da cambiante
concentração e desconcentração industrial” (SOUZA, 2001, p.392). E diga-se ainda, da
concentração agroindustrial e dos agronegócios, entre outras atividades econômicas
voláteis, próprias do capital no momento atual, onde predomina a capacidade de

2
Adotamos o critério para definição do tamanho das cidades proposto pelo IBGE segundo o número de
habitantes, no qual, até 100 mil considera-se pequeno porte, e 100 à 500 médio e mais de 500, grande
porte.

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desorganização e reorganização das relações sócioprodutivas. Essas ações dominantes,


tem repercussão ampla sócioespacialmente, podendo redimensionar a forma e o
conteúdo da rede urbana, inclusive, por intensificar ou restringir o papel3 das cidades
médias em seu contexto regional.
A cidade precede a industrialização e a urbanização, portanto, ela é o elemento
norteador da construção da sociedade urbana que toma novos rumos com a produção
industrial. Da própria industria emergem outras atividades derivadas e expande o
comércio e os serviços no modo de vida urbano, alimentando as relações em rede. Tal
processo, tem sido consagrado como o advento industrial que recria a problemática
urbana à luz do mundo das mercadorias. Nesse mundo, a velocidade proporcionada por
meio dos fluxos materiais e imateriais, condiciona a vitalidade da rede urbana em várias
escalas.
Em sua natureza, a cidade não é produto da economia capitalista, e está presente
enquanto aglomeração humana, com funções e formas construídas segundo diferentes
influências políticas e econômicas, culturais ou religiosas no decorrer do tempo
histórico. Entretanto, é real que sua existência ganhou força e maior significado
enquanto rede de cidades com o modo de produção vigente e, desde a fase pré-
capitalista era possível vislumbrar que a cidade assumia novo posicionamento na
reorganização do espaço sócio-produtivo.
A intensificação das trocas comerciais e crescente movimento populacional
permitiu a formação dos sistemas de cidades e a definição de papeis às urbes com a
especialização produtiva em diferentes contextos segundo a DTT (Divisão Territorial
do Trabalho), de maneira que segundo Corrêa (1989, p.87), através da rede urbana
verificam-se os “processos de criação, apropriação e circulação do valor excedente”.

XXX

Essa rede acontece com diferentes intensidades segundo o potencial do capital


humano existente e sua capacidade de aceitar, assimilar e acompanhar as mudanças,

3
Tais ações são viabilizadas por meio das condições tecnológicas e científicas existentes na cidade e em
seu contexto regional, de maneira que possa atrair e manter inovações que ampliem a produção, o
consumo e intensifique as infra-estruturas responsáveis pela elevação da qualidade de vida. No entanto,
cabe lembrar, que tais mudanças são seguidas geralmente de um processo excludente e segregador de
pessoas e espaços intra-urbanos e inter-urbanos, que ao nosso ver, podem ser tratados por meio de
políticas públicas locais articuladas com a sociedade e outras escalas do poder administrativo.

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sobretudo, no campo das técnicas, da ciência e da informação, como qualidades


importantes para a inserção das cidades na rede. O paradoxo constitui-se no
distanciamento entre desenvolvimento humano e urbano, quando a qualidade de vida
está pautada no ciclo produção-consumo, ou seja, no conceito economicista apenas.

A urbanização brasileira seguiu tal modelo de desenvolvimento, permanecendo


intrinsecamente vinculado á economia. O posicionamento do país na DIT, desprovido
de investimento no bem estar social mantendo alto nível de desigualdade sócio-
econômica também pode ser evidenciado por meio das redes urbanas regionais.
Compartilhamos da afirmação de Corrêa (2006, p.27), ao argumentar que a rede urbana
é um reflexo na realidade , “dos efeitos acumulados da prática de diferentes agentes
sociais, sobretudo as grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas que,
efetivamente, introduzem, tanto na cidade como no campo, atividades que geram
diferenciações entre os centros urbanos.”

As redes urbanas mais dinâmicas estão fundamentadas na produção e circulação


de capital em rede, muito vinculada á presença de sedes de multi ou transnacionais e
centros de gestão financeira. No Brasil, o estado e à cidade de São Paulo, concentram e
apresentam em sua hinterlândia atividades de natureza, tipos e quantidades diferentes,
somando-se à capacidade de relacionarem-se e articularem-se com maior número de
outras cidades em diversas escalas. Tais características apontam as regiões Sul e
Sudeste como as mais dinâmicas do país.

A implantação das atividades que promovem a diferenciação espacial


compreende a uma lógica que inclui o desvendamento das motivações dos diversos
agentes sociais, bem como o entendimento dos conflitos de interesses entre eles e suas
aparentes soluções (CORRÊA, 2006). Nesse contexto, o capital social aparece como
apoio conceitual fundamental para a compreensão dessa complexa trama que é política,
econômica e também social e espacial.

Compreendê-la, implica ainda colocar em evidencia “as práticas que


viabilizaram a articulação entre distintos centros urbanos e suas hinterlândias, bem
como compreender a inércia que, pelo menos durante um certo tempo, cristaliza um
determinado padrão espacial de funcionalidades urbanas” (CORRÊA, 2006, p.27).
Entendemos aqui, o papel fundamental dos grupos sociais que atuam conjuntamente na
produção do espaço geográfico, do espaço urbano e da gênese e evolução a rede.

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Sendo a rede uma produção social, ela expressa o movimento da sociedade que
a produz. A condição e o padrão da rede, contudo, pode sofrer alterações através do
tempo, no qual as redes sociais constituem fonte geradora de transformações tanto no
sentido do acolhimento e geração das condições gerais de produção, como na criação
voluntária ou involuntária de barreiras político, ideológicas e institucionais que limitam
a geração de tais condições, assim como o desenvolvimento do capital humano.

Diante dos processos de globalização, mundialização e internacionalização da


sociedade e da economia, a cidade enquanto dimensão espacial com qualidade
concentradora passa para Harvey (2004), a ser vista como “empresas” incorporando
processos, diversificações e especializações (divisão do trabalho, de funções, estilos de
vida e valores), e esses ambientes construídos no espaço, relacionam-se com
temporalidades e ritmos diferentes. O relacionamento e o ritmo implica em movimento
estabelecido por meio de fluxos que renovam os fixos, trabalhando em conectividade
quando “os elementos fixos em cada lugar permitem ações que modificam o próprio
lugar” (SANTOS, 1988, p.77).

Sobre a análise dos fixos e fluxos para entendimento da rede, Santos(1988,


p.78), esclarece que,

A análise dos fluxos é as vezes difícil, pela ausência de dados. Mas o estudo
dos fixos permite uma abordagem mais cômoda, através dos objetos
localizados: agencias de correio, sucursais bancárias, escolas, fábricas. Cada
tipo de fixo surge com suas características que são técnicas e
organizacionais. E desse modo cada tipo de fixo corresponde a uma
tipologia de fluxo. Um objeto geográfico, um fixo, é um objeto técnico mas
também um objeto social, graças aos fluxos. Fixos e fluxos interagem e se
alteram mutuamente.
A rede elimina a linearidade temporal e espacial estabelecendo uma
superposição de movimentos ao espaço e à sociedade. Diante da complexidade que as
inovações tecnológicas e informacionais apresentam, Santos (2004, p.62) lembra que
atualmente “os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixados ao solo; os fluxos são
cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos e mais rápidos.”
Ao falar em conexão entre os fixos alimentada pelos fluxos, paira a impressão de
que a fluidez permeia todo o espaço e interliga todas as urbes igualmente em velocidade
e intensidade. Tal impressão não é verdadeira pois a noção de rede não condiz a uma
homogeneidade, pelo contrário, a fluidez exclui e como afirma Santos (2004, p.268),
“as redes não são uniformes e num mesmo subespaço há uma superposição de redes que
inclui redes principais e redes afluentes ou tributárias, constelações de pontos traçados

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de linhas.”
Para Fresca (2004, p.38), a rede urbana com seu conjunto de cidades, de infra-
estruturas de transporte, comunicação, informação, dentre outros, “envolve inúmeras
relações de integração interna e externa, e ao mesmo tempo manifesta novos padrões de
desigualdades vinculados aos processos sociais.”
Tais diferenciações estabelecem padrões de redes, e nos países com urbanização
milenar e economia desenvolvida, a rede é mais complexa e tende a ter um padrão mais
difuso com distribuição de núcleos urbanos mais equilibrada. Nos países em
desenvolvimento e urbanização mais recente como o Brasil, a rede apresenta de modo
geral um padrão dendrítico, caracterizado, dentre outros aspectos, pela presença de uma
cidade primaz excentricamente localizada, essa rede constitui-se em um meio através
do qual a hinterlãndia da cidade primaz é drenada em seus diversos recursos
(CORRÊA, 2006).
Embora esse padrão seja menos equilibrado quanto a distribuição, tamanho e
funções das cidades, a complexidade se revela pela formação segmentada no tempo e no
espaço, cujo componente social deriva de diferentes segmentos culturais atribuindo
especificidades ao modelo de formação da rede.
O sentido fragmentado-articulado evidencia-se ao aproximar lugares diferentes,
entretanto, com alguma potencialidade, que também pode ser diferente, mas com valor
atrativo ao universo de relações da sociedade capitalista. Cada lugar é único, e com
especializações produtivas diferentes ou semelhantes, participam da redes por meio da
fluidez simultânea. Percebe-se que “ao tornar livres a população e as coisas para o
movimento territorial, a relação em rede elimina as barreiras, abre para que as trocas
sociais e econômicas se desloquem de um canto para outro” (MOREIRA, 2006, p.162).
Essa construção mental de flexibilidade, liberdade e necessidade de participação da
sociedade em rede, instaura uma outra dimensão do controle do capital sobre a
sociedade e o espaço, um controle ao nosso entender, bem mais impermeável e de difícil
transposição.
As contradições da sociedade em rede são aprofundadas com a soma das
diferenças aparentes, que no cerne do processo produtivo tem o mesmo significado: a
acumulação e a reprodução do capital realizada sob moldes pretéritos, revestida de
técnicas e mecanismos modernos de produção e gestão.
As cidades são nesse processo, os centros gestores e conectores dessa cadeia
produtiva de sonhos e realidade. Por meio de ações desigualmente combinadas entre

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horizontalidade e verticalidade, ocorre a interligação de nós que fazem a conexão entre


os espaço, materializando estruturas necessárias ao fortalecimento das esferas
produtivas, de maneira que,
de um lado, há extensões formadas de pontos que se agregam sem
descontinuidades, como na definição tradicional de região. São as
horizontalidades. De outro lado, há pontos no espaço que separados uns dos
outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia, são
as verticalidades. [...] enquanto as horizontalidades são sobretudo, a fábrica
da produção propriamente dita e o lócus de uma cooperação mais limitada,
as verticalidades dão, sobretudo, conta dos outros momentos da produção
(circulação, distribuição, consumo), sendo o veículo de uma cooperação
mais ampla tanto econômica e política, como geograficamente. (Santos,
2004, p.284)

Percebe-se assim que, mesmo distante uns dos outros, os lugares podem estar
conectados até mais profundamente na rede, por meio da verticalidade que rompe as
barreiras geográficas e a distância. Portanto, independe da localização. Não há
necessidade de contigüidade, e tudo depende de como se estabelecem as correlações de
forças entre seus componentes sociais dentro da conexão em rede (MOREIRA, 2006).
Reforçamos que, nessa correlação de forças, o capital se faz presente como um
elemento fundamental para o fluir dos fluxos, para a intensificação e renovação dos
fixos, assim como, para que pessoas e coisas possam exercer sua “liberdade no
território”. Outro agente que influencia nessa correlação de forças, refere-se a figura do
Estado. A impressão de um Estado neutro e apenas regulador, disseminada pelo
discurso neoliberal, torna-se incoerente frente a sua atuação sistemática em políticas
públicas e decisões que legitimam ações de grupos hegemônicos sobre o território
brasileiro. Seja pela conivência ou negligencia, ele está presente, tanto em comandos
quanto em realizações que abrem passagem para o capital financeiro-empresarial. Este
então, assume em sua trajetória, a forma que lhe é conveniente.
Mesmo diante das amarrações estruturais e superestruturais que comandam
decisões em diferentes escalas, a resistência se manifesta por meio das ações de grupos
sociais que criam e recriam meios de sobrevivência e fogem ao controle imposto,
geralmente, pelo motivo de não ter muito o que perder. Esse movimento contraria a
força do capital e do Estado, e cria outras possibilidades de sobrevivência na rede de
cidades e da produção de bens e serviços. São amálgamas sociais que participam da
construção da rede, não pela participação ativa, mas pela informalidade de suas ações.
Como o processo excludente e segregador é intenso, tais classes somam-se num
volume representativo em quantidade, revelando a construção de uma outra rede que se

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distancia dos benefícios provenientes do modelo que está posto, mas também de seu
controle e inscreve sua história e sua geografia, por meio da não participação,
geralmente involuntária. A avaliação do IDH-M pode revelar o nível de disparidade
socioeconômica de um dado recorte. Dado este, importante na condução de estudos
sobre o papel de cidades de diferentes portes na rede urbana.
O modelo de desenvolvimento atual, parece desprezar, mas se alimenta dessa
desigualdade e estabelece a inter-relação entre os elementos sociais-materiais e
imateriais que lhes são convenientes. Esse jogo de forças, constitui um movimento
dialético que oferece mutabilidade e vitalidade a rede em diferentes proporções segundo
a capacidade de organização dos grupos sociais em torno do processo produtivo.
Conforme Santos (2004, p. 267) “[...] não existe homogeneidade do espaço,
como, também, não existe homogeneidade das redes.” Com tamanhas desigualdades
sociais, como poderia se pensar em espaços homogêneos, se o espaço é expressão das
ações do homem? A heterogeneidade entretanto, não se manifesta como algo
desagregado, desorganizado com realidades isoladas, mas, estabelecendo pontos de
contato que fortalecem as relações desiguais em proveito do capital.
Essa condição desigual e combinada, abre um espaço significativo para o
emprego da hierarquia urbana, não como uma armadura, mas como pressuposto teórico
e metodológico para a análise e entendimento da rede urbana, sobretudo, no contexto
regional. Procurando pensar essa relação, além de uma simples classificação
sócioespacial, mas com outras inter-ligações entre cidades de uma mesma hierarquia
urbana, entre cidades fora do raio de alcance regional com características físicas, sociais
diferentes, inclusive culturalmente.
A busca pela apreensão da rede urbana a partir do recorte regional, exige a
participação de uma complexa gama de sujeitos a serem considerados, pois quanto
menor a escala, maior a quantidade de detalhes a serem apreendidos na investigação
para elucidação das hipóteses e compreensão do objeto de estudo. Todavia, deve-se ter
em mente a hierarquia articulada por vias que permitem a fluidez e a conectividade no
sentido vertical e horizontal promovendo a noção de totalidade.
Embora o conceito de rede urbana remeta a uma idéia geral, passível de ser
apreendida em escala mundial, é importante também ter clareza de que existem vários
tipos de redes frente a conformação da rede mundial de cidades. Isso se relacioana á
posição e ao papel que cada cidade apresenta na rede, segundo o contexto de formação e
o conteúdo sócio-produtivo por ela manifesto.

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2.1. Hierarquia Urbana e Teoria das Localidades Centrais: aportes teórico-


metodológicos na construção de uma pesquisa

Entendemos que o sistema de cidades pressupõe uma estrutura só


aparentemente desorganizada. A hierarquia urbana e as relações de interação ao
longo da rede, são inerentes à estrutura dos serviços e bens que a urbanização
produz. Com isso emergem três níveis de sistemas de localidades, como bem observa
FAISSOL (1994, p. 150):

a) um sistema urbano/metropolitano de grandes cidades, que atrai uma


migração intensa, e que leva a operar em linha contrária à da maior
eficiência que as economias de escala do tamanho fariam supor; b) um
sistema de cidades médias, beneficiárias diretas dos transbordamentos
metropolitanos, que amplia a capacidade do sistema espacial de crescer e se
desenvolver, e que precisa fazer a ligação do sistema metropolitano com as
hierarquias menores do sistema urbano, pois o seu segmento superior (as
capitais regionais já fazem uma razoável ligação com o sistema
metropolitano) praticamente atinge apenas o nível imediatamente abaixo,
que é este nível intermediário; c) um sistema de cidades pequenas, em geral
sem centralidade (e às vezes muito pequenas até mesmo em termos de um
conceito de cidade; elas existem por força de um definição legal de cidade-
sede de município) ... Em conjunto com os centros de zona ... farão a ligação
com o sistema de cidades médias, de um lado, e com a economia rural de
outro, assim integrando todo o sistema.

Diante dessa combinação de definições sobre os níveis de cidades e sua


participação enquanto sistema na rede, justificamos nossa posição em empregar a
hierarquia e a centralidade urbana, como proposta de estudo e considerar a
heterogeneidade presente entre as cidades em geral. Concordamos com Motta e Ajara
(1999, p. 54) ao afirmarem que,

os diversos tipos de articulação e integração espacial existente entre os


centros urbanos, ao mesmo tempo que expressam sua inserção e o papel
desempenhado na estrutura produtiva, refletem os diversos arranjos
possíveis e engendram uma configuração espacial peculiar para cada
segmento da rede urbana.

A inviabilidade desse estudo se justificaria, se fosse realizado nos moldes


pretéritos da Teoria das Localidades Centrais segundo as proposições de Christaller
(1933). Nessa teoria, está presente o princípio da homogeneidade, inviabilizada frente à
formação sócioespacial brasileira,, assim como, de outros países, no tocante a dinâmica
econômica apresentada no atual momento histórico.
No período de sua elaboração, Walter Christaller buscou compreender a

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dinâmica das cidades, sobretudo no Sul da Alemanha, a partir de conceitos como


centralidade, localidade central, região de influencia das cidades e polarização
Fundamentou a proposta numa relação hierárquica entre os centros urbanos, quanto ao
fluxo de distribuição de bens e serviços das localidades centrais para suas hinterlândias,
envolvendo o tamanho, o número e a distancia entre as localidades.
Certamente o contexto histórico e geográfico em que a teoria foi elaborada, deve
ser levado em consideração, assim como as possibilidades interpretativas. A
incorporação do modelo teórico e conceitual para análise atual da rede urbana, exige
uma releitura, a consideração da realidade estudada e a apreensão de outros elementos
econômicos, políticos e sociais inerentes à cada cidade mesmo pertencendo a um nível
hierárquico.
Apesar das críticas, a teoria mencionada tem sido tomada como referência para
estudos sobretudo de hierarquia urbana, que segundo Correa (2006) são os mais
numerosos e tradicionais entre aqueles sobre rede. Atentando para as relevâncias
necessárias, como as questões de ordem histórico-social, os aspectos culturais e não
menos importante, os físicos, além da não homogeneidade, os estudos de hierarquia
urbana contribuem para a caracterização e compreensão dos papéis das cidades na rede.
Segundo essa proposta metodológica (CORRÊA, 1994) identifica e define
alguns tipos de centros existentes na rede urbana brasileira: Metrópole Regional, aquele
que apresenta a maior gama de bens e serviços; Capital Regional, a qual não possui os
bens e serviços de maior complexidade tecnológica; Centro Sub-Regional, detendo bens
e serviços com níveis intermediários de complexidade; e Centros de Zona, que
apresentam bens e serviços inferiores aos do Centro Sub-Regional, e os Centros Locais
como as menores unidades administrativas e que possuem os bens e serviços mais
simples, de maneira que a concentração de bens e serviços vai diminuindo quanto mais
se distancia da cidade pólo.
Demonstra-se por meio desses estudos, não somente os principais agentes e
elementos que compõem e constroem a rede, como a diferencia ao constatar as
especificidades de cada sistema de cidades ao mesmo tempo em que oferece subsídios
para questões de planejamento. Contemporâneo a Christaller, o também alemão August
Lösch, elaborou a Teoria do Equilíbrio Espacial Geral (1967), original em alemão de
1939, na qual, também considerava a hierarquia de cidade. Em sua teoria, dedico
especial atenção à definição das áreas de mercado e o determinante da escolha da
localização é a maximização do lucro dos produtores, enquanto para Christaller, o

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determinante é a minimização dos custos de deslocamento dos consumidores.


Várias são as teorias elaboradas com a finalidade de entender o espaço seja rural,
urbano ou industrial e organizá-lo segundo o desenvolvimento econômico. Autores
como Johann-Heinrich Von Thümen (1826), Alfred Weber (1909), François Perroux
(1955-6), Albert Hirschiman (1958) ilustraram esse cenário e continuam a embasar
pesquisas e suscitar debates.
Diante das teorias clássicas, percebemos que a hierarquia entre cidades desvia-se
de um modelo unívoco e sistematizador, mas, estabelece no decorrer da construção
socioespacial, a convergência e divergência de processos que orientam as
transformações e redefinições de papéis e formas da rede.
No atual momento histórico, cabe ressaltar que as cidades, embora possam
estabelecer relações hierárquicas, não se limitam a ela e, muitas vezes uma cidade
participa numa determinada rede urbana mas também em outra(s), não necessariamente
com a mesma representatividade, uma vez que, “as diversas formas que a hierarquia
assume constituem a mais importante característica diferenciadora encontrada segundo
Corrêa (2006, p.22).”
Na Alemanha de Christaller, previa-se a distância de até 6 km entre cada núcleo
e a cidade pólo, orientando a criação de núcleos urbanos segundo a potencialidade do
lugar. Para nós, um evento de difícil manipulação, mesmo que sobre forte ação
planejadora, uma vez que a demanda sócioeconômica parece criar um ordenamento
espacial próprio, segundo lógicas próprias.
No Brasil por exemplo, a distância entre cada cidade é bastante variável,
dependendo do(s) processo(s) sob o(s) qual(is) a cidade foi originada e evoluiu. Tem-se
regiões densas enquanto outras são rarefeitas quanto ao número e tamanho das cidades
e índice populacional.
As redefinições dos arranjos produtivos no país frente a novas determinações
políticas de produção no campo e na cidade, tem ampliado a possibilidade de
interiorização populacional e econômica, conduzindo a novas dinâmicas socioespaciais
nas cidades médias e pequenas. Fatores que conduzem a dispersão populacional e
econômica, é de difícil previsão, salientando que existe diferenças entre os processos
que conduzem um e outro movimento. Pressupõe-se no tocante a população, a
precarização das condições de vida nas metrópoles, falta de empregos e moradia,
poluição e a intensificação da violência urbana em detrimento da solidariedade.
Quanto a economia, a dimensão tecnológica tem ampliado a acessibilidade e a

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condição de estabelecimento de empresas em localidades menos centrais, assim como,


os indicadores sócioambientais em torno da qualidade de vida tem atraído mercado
consumidor em cidades sobretudo de porte médio que buscam equipar-se com infra-
estrutura e serviços, podendo disseminar tal dinâmica para cidades menores, desde que,
haja condições tecnológicas e capital humano para o desempenho de atividades
comerciais e prestação de serviços.
Tais condições evidenciam a importância de políticas públicas na áreas social,
sobretudo em educação, como um meio de oferecer autonomia às classes sociais
desfavorecidas, diminuir a desigualdade e ampliar a qualificação profissional, não
apenas para ampliar o potencial de consumo, mas estimular a consciência de classe no
sentido do pertencimento, a elaboração de idéias e a liberdade de pensamento e atuação.

3. Algumas considerações Finais


Metodologicamente, a Teoria das Localidades Centrais, oferece base para novas
reflexões e considerações enquanto orienta novas propostas de estudos considerando a
hierarquia urbana. estudos como a “Caracterização e Tendências da rede urbana do
Brasil” elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), em 1998,
com a parceria do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e
NESUR/UNICAMP. Também o estudo de “Região de Influência das Cidades –
REGIC” realizado pelo IBGE em 1993 e 2007 foram e são edições importantes nessa
área e serão adotados como orientação metodológica na discussão e na pesquisa que
aqui se apresenta.
Mesmo tendo sido proposta provenientes de necessidades governamentais para
o reconhecimento da realidade brasileira, não podemos desmerecer e negligenciar o
comprometimento dos(as) pesquisadores(as) com a elaboração e divulgação de
resultados dos mesmos.
Apesar das transformações recentes pelas quais tem passado a rede urbana
brasileira, incluindo-se a possibilidade de interações horizontais ampliadas, articulando
os grandes centros do país, bem como, a existência de cidades com capacidade
tecnológica e condição econômica para relacionarem-se mundialmente, sendo inclusive
estas as que mais se beneficiam da economia mundializada, “ainda existem no país
amplos espaços em que é inegável a determinação de relações tradicionais de
articulação e hierarquização dos diversos centros em regiões onde a atividade
econômica é comandada por setores tradicionais e a renda gerada é relativamente

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ISBN: 978-85-88454-15-6
FERREIRA, S. C.
Urbanização e rede urbana brasileira: orientação teórica e metodológica preliminar

reduzida." (CARACTERIZAÇÃO, 1998).


Por isso, valorizar o singular diante da totalidade, é ponto crucial para a
construção de estudos na/da rede urbana, sobretudo, em seu enfoque regional, onde a
hierarquia pode manifestar-se em maior ou menor proporção.

4. Referencias Bibliográficas

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IE-NESUR: IPEA;IBGE, 1998. 2v. (Coleção Pesquisa, 3)
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