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MÍDIA E REPRESENTAÇÃO NA CONSTRUÇÃO

DISCURSIVA DO “ESCÂNDALO DO DOSSIÊ”


Autora: Sâmya Raquel Mesquita da Silva1
Co-autora: Thaysa Maria Braide de Moraes Cavalcante2
Orientador: Prof. Dr. Ruberval Ferreira

RESUMO: O presente trabalho se insere no projeto de pesquisa “A construção


discursiva do escândalo político no governo Lula e suas implicações ético-políticas:
um estudo comparativo da grande mídia e da mídia alternativa” (FERREIRA, R. R.,
2007). A partir da análise de alguns textos extraídos da revista VEJA no período do
“escândalo do dossiê”, pretendemos investigar o papel da chamada grande mídia na
construção discursiva de eventos políticos e observar como se comporta a mídia em
suas lutas por representação. Pretendemos também analisar alguns elementos,
comprovando que o lugar que a mídia reivindica para si, o da imparcialidade, é
impossível, tendo em vista que o fenômeno da linguagem é um palco de tensões
sociais e lutas por hegemonia; e por fim tornar perceptível uma forma de se encarar
a linguagem mais crítica possível. A análise possui como referenciais teórico-
metodológicos os conceitos de poder, ideologia, mídia e escândalo político de John
B. Thompson (THOMPSON, 1990, 1995, 2000) e a Análise de Discurso Crítica,
desenvolvida por Norman Fairclough (FAIRCLOUGH, 1999, 2001, 2003) em suas
formas de categorização acerca do significado representacional dos textos.
Comprovaremos o comprometimento ideológico da revista com seu discurso e sua
luta por hegemonia, analisando suas formas de representação. Por fim,
concluiremos afirmando que todo discurso, por mais que seja dito como imparcial, é
comprometido ética, política e ideologicamente, como parte das práticas sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Mídia. Escândalo político. Representação.

1
Aluna do curso de Letras/Português/Bacharelado, da Universidade Estadual do Ceará, e bolsista de
Iniciação Científica pela Universidade Estadual do Ceará (IC/UECE).
2
Aluna do curso de Letras/Português/Licenciatura, da Universidade Estadual do Ceará, e bolsista de
Iniciação Científica pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP).
1
MEDIA AND REPRESENTATION AT DISCURSIVE CONSTRUCTION
OF “ESCÂNDALO DO DOSSIÊ”

ABSTRACT: This work is in the research project “A construção discursiva do


escândalo político no governo Lula e suas implicações ético-políticas: um estudo
comparativo da grande mídia e da mídia alternativa” (FERREIRA, R. R., 2007). With
the analysis of some texts from the magazine VEJA in the period of “escândalo do
dossiê”, we intend to investigate the role of the great media at discursive construction
of political events and to notice how the media behaves in theirs fights for
representation. We intend too analysis some elements, proving that the place that
the media demand for itself, of the impartiality, is impossible, to bear in mind that the
language phenomenon is a scene of social tensions and fights for hegemony; and
ending to made noticed a way to look the language at most possible critical. This
analysis has as theoretical methodological references the concepts of power,
ideology, media and political scandal from John B. Thompson (THOMPSON, 1990,
1995, 2000) and the Critical Discurse Analysis, developed from Norman Fairclough
(FAIRCLOUGH, 1999, 2001, 2003) at theirs categorization ways about the
representational meanings of texts. We going to prove the ideological commitment of
the magazine with its discourse and its fights for hegemony, analyzing theirs
representations ways. And at end, we going to conclude stating that all discourse,
same with it been telled as impartial, it is ethical, political and ideologically commit,
like a part of social events.
KEYWORDS: Media. Political scandal. Representation.

1 INTRODUÇÃO
O escândalo do dossiê é o quarto mais grave de uma série de escândalos
ocorridos no período do governo Lula, tendo este ocorrido no final de seu primeiro
mandato, às vésperas das eleições para a Presidência da República, em 2006. Tal
evento possui ligação direta com o chamado “escândalo dos sanguessugas” – ou
“máfia das ambulâncias”, relacionado ao desvio de dinheiro para compra de
ambulâncias.
Em 15 de agosto, enquanto tinha início as propagandas eleitorais, segundo
a Polícia Federal, eram iniciados contatos entre sete integrantes do PT e a família
2
Vedoin. Nos dias seguintes, Darci Vedoin e Luiz Vedoin ofereceram um dossiê
contra o candidato ao governo do estado de São Paulo, José Serra, contra o
candidato à presidência, Geraldo Alckmin, e contra outros políticos, todos do PSDB.
Entre os dias 14 e 15 de setembro, a Polícia Federal prende Paulo Roberto Trevisan
e Luiz Antonio Vedoin, por chantagem e ocultação de documentos.
Até o fim de setembro, a Polícia Federal não havia disponibilizado as
imagens do dinheiro apreendido para a compra do dossiê. No entanto, algumas
imagens foram veiculadas pela mídia, primeiramente, pelas empresas associadas ao
grupo Roberto Marinho, cedidas pelo delegado superintendente da Polícia Federal
de São Paulo, Edmilson Pereira Bruno, que confessou ter distribuído as fotos a
jornalistas na manhã do dia 29 de setembro. À tarde desse mesmo dia, o site do
jornal “O Estado de São Paulo” mostra as 23 fotos do dinheiro, contidas no CD.
O dossiê, cuja falsidade foi comprovada posteriormente e que não chegou a
ter sua compra efetivada de fato, tinha o objetivo de prejudicar a candidatura de
Serra ao governo do estado, deformar a imagem do PSDB a nível nacional e eleger
o senador Aloízio Mercadante, do PT, como governador de São Paulo.
O modo como o discurso da mídia foi articulado na representação do
escândalo do dossiê teve por objetivo prejudicar a candidatura do então presidente
Lula à reeleição e conduzir as eleições presidenciais ao segundo turno. O referido
objetivo foi atingido, fechando o primeiro turno com uma diferença de menos de 7%,
o que mostra a grande influência da mídia na formação da opinião pública e na
escolha de seus representantes políticos.
Analisaremos textos da revista VEJA, uma das revistas de maior circulação
no país, no período do escândalo do “dossiê”, durante o final do primeiro mandato do
presidente Lula, percebendo os processos discursivos em sua busca por
representação na construção do escândalo.
Pretendemos investigar o papel da chamada grande mídia na construção
discursiva de eventos políticos que circularam o “escândalo do dossiê” e observar
como se comporta a mídia em suas lutas por representação. Pretendemos também
analisar alguns elementos que comprovem que o lugar que a mídia reivindica para si,
o da imparcialidade, é impossível, já que a linguagem é transpassada por tensões
sociais e lutas por hegemonia. Verificaremos como o discurso pode ser observado
através de seu engajamento ético, político e ideológico, atendendo aos interesses de

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um determinado grupo num evento social específico e assim tornar perceptível uma
forma de se encarar a linguagem de forma mais crítica possível.
Porém, é preciso salientar que enxergar a linguagem de forma crítica é ter
um enfoque menos ingênuo com relação ao poder que o discurso pode assumir ao
moldar e ser moldado pela sociedade. Mas antes, pretendemos mostrar algumas
discussões e embasamentos teóricos já existentes sobre esse lugar que a imprensa
moderna reivindica para si, investigar como se dá essa reivindicação em um evento
específico, como esses agentes representacionais são moldados nas edições que
teremos como corpus e que conseqüências isso pode ter em relação ao evento.

2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
Conceitualizando de forma geral, pode-se dizer que as tensões sociais, o
motor dos embates, são a força que impulsiona a mudança social, numa esfera
política, numa eterna luta pela hegemonia de poder.
No sentido mais geral, poder é a capacidade de agir para alcançar os
próprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos
acontecimentos e em suas consequências. No exercício do poder, os
indivíduos [ou instituições] empregam os recursos que lhe são disponíveis.
(THOMPSON, 1995, p. 21, termos em colchetes acrescidos)
Segundo Thompson (1990, p. 80), “dominação” é quando grupos
particulares de agentes possuem poder de uma maneira permanente, e em grau
significativo, permanecendo inacessível a outros agentes (ou grupos de agentes),
independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a acontecer. Assim,
é possível conceitualizar ideologia como
[...] maneiras como o sentido, mobilizado pelas formas simbólicas, serve
para estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer, querendo
significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de
dominação; sustentar, querendo significar que o sentido pode servir para
manter e reproduzir relações de dominação através de um contínuo
processo de produção e recepção de formas simbólicas. (THOMPSON,
1990, p. 78-79)
Fairclough mostra como o conceito de ideologia se articula com os de
hegemonia, política e relações de poder.
Na visão gramsciniana, política é vista como luta por hegemonia, uma forma
particular de conceituar poder que, entre outras coisas, enfatiza a
dependência do poder em relação ao alcance de consentimento ou, pelo
4
menos, aquiescência em vez de uso exclusivo da força, e da importância da
ideologia na sustentação das relações de poder. (FAIRCLOUGH, 2003, p.
3
45, nossa tradução )
Não se pode, entretanto, pensar o político e o ideológico sem o ético. A
dimensão ética da linguagem, indiscutivelmente performativa (AUSTIN, 1990),
depende da movimentação de embates e tensões e das condições sociais em que
se realiza o discurso (práticas sociais). Segundo Ferreira (2007, p. 40-41), as
condições de sucesso e eficácia que um ato de fala promove é assumida como uma
idéia de compromisso do sujeito na realização deste ato. As formações discursivas
(BRANDÃO, 1996, p. 38) moldam o sujeito concreto. Todos os discursos contêm
marcas de determinado posicionamento ideológico por parte de quem as constrói e,
por conseguinte, terão necessariamente implicações éticas.
Na medida em que todo o posicionamento ético envolve a defesa de certos
valores em oposição a outros, ou seja, a hierarquização de valores, a
hipótese tal qual se acha formulada neste trabalho redunda em que todas
as distinções são no fundo hierarquias (às vezes muito bem disfarçadas ou
„maquinadas‟). (RAJAGOPALAN, 2003, p. 56)
Segundo John B. Thompson, a mídia se transformou em instituição
comercial (a partir do século XIX, com o advento da modernidade) quando começou
a ganhar espaço através das inovações tecnológicas, do apoio da sociedade
burguesa, do crescimento do número de leitores e da globalização. Houve, com o
desenvolvimento do estado constitucional moderno, uma crescente diminuição da
dicotomia público e privado na esfera política. O poder tornou-se mais visível. A
partir disso, a mídia tomou o papel de tornar a esfera pública o mais transparente
possível. E esta transparência inclui também administrar a visibilidade política.
Tornou-se, então, essencial para os governantes apresentar-se ética e/ou
moralmente bem ao eleitorado, já que eles eram tão visados pela mídia. E a
explosão de um escândalo político visível pela mídia enfraqueceria o apoio político
do envolvido.
O escândalo político é aquele que envolva um líder ou uma figura política,
situado dentro de um campo político e que pode por em xeque o poder simbólico

3
O texto original é: “In Gramscian view, politics is seen as a struggle for hegemony, a particular way of
conceptualizing power which amongst other things emphasizes how power depends upon achieving
consent or at least acquiescence rather than just having the resouces to use force, and the
importance of ideology in sustaing relations of power.”

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adquirido. Markovits e Silverstein (1988 apud THOMPSON, 2000, p. 124), define que
o escândalo político surge onde a lógica do processo devido (pública, aberta,
universal) se sobrepõe à lógica do poder (privada, secreta, excludente). Ou ainda,
que o âmbito dos escândalos políticos é o transpor do campo midiático ao campo
político. Assim, o escândalo político só se dá através de um discurso midiático.
Aguiar (1993 apud SOARES, 2009, p. 159), afirma que a mídia dispõe o
cenário e os atores, distribui a palavra, elege ou confirma temas para a discussão
pública da política, contribuindo para a construção da própria ideia de política e de
eleições. Desse modo, a mídia é capaz de articular os discursos e eventos políticos,
construindo significados de acordo com seus interesses.
Observemos agora num dos focos teóricos mais importantes deste trabalho,
a Análise de Discurso Crítica, que guiará grande parte de nossa metodologia a partir
das formas de representação das práticas sociais.
A Análise de Discurso Crítica, na vertente desenvolvida por Norman
Fairclough (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2001, 2003) é
uma teoria que pretende transcender trabalhos inspirados pela teoria social e
trabalhos que focam na linguagem de textos (FAIRCLOUGH, 2003, p. 2-3).
Fairclough articula as idéias de diversos teóricos como Foucault, Halliday,
Bakhtin, Bourdieu, Habermas, Gramsci, Laclau e Harvey, entre outros, e constrói um
modelo de análise que sugere a existência de três níveis sociais, que dialogam entre
si: as estruturas sociais, “relativamente” estáveis, que definem as condições e
possibilidades num contexto; as práticas sociais, que promovem a rearticulação das
estruturas; e os eventos sociais, que contém o agente criativo que rearticula a
estrutura. Sendo que a associação destes três níveis se dá no nível do discurso.
Os textos são tipos específicos de eventos que, conforme uma articulação
que Fairclough (2003) faz das funções da linguagem apresentadas por Halliday,
possuem três tipos de significado: o representacional, o acional e o identificacional.
Esses significados se ligam, respectivamente, aos discursos, gêneros e estilos na
prática social.
O discurso como prática social é identificado, na chamada modernidade
tardia, como interação discursiva (CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999). As
estruturas sociais moldam e são moldados pelo discurso, de forma dialética. Práticas

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sociais só acontecem (e sempre acontecem) com embates discursivos, numa
tentativa de hegemonia de um discurso sobre o outro.
O que está em foco aqui é classificação, pré-construídos esquemas
classificatórios ou sistemas de classificação, „pré-construções
naturalizadas... que são ignoradas como tais e que podem funcionar como
inconscientes instrumentos de construção‟ (Bourdieu e Wacquant, 1992).
4
(FAIRCLOUGH, 2003, p. 130, nossa tradução )
Percebendo que os textos são constituídos por representações ideológicas,
e que seu efeito ilocucionário tem influência direta na forma como a estrutura social
é constituída, é imprescindível a análise desta materialidade linguística
(FAIRCLOUGH, 2003). A análise da linguagem não deve ser tomada por si mesma,
mas enquanto análise dos contextos social e cultural de seu uso, enquanto prática
social (FERREIRA, 2007), numa perspectiva crítica.
Um estudo crítico sobre a linguagem é um lugar privilegiado ao identificar
como essas relações discursivas são produzidas através de um plano político,
ideológico e ético. “A linguagem [funciona] como representação, como uma projeção
de posições e perspectivas, como uma forma de comunicar atitudes e suposições.”
(RAJAGOPALAN, 2003, p. 121 apud SIMPSON, 1993, p. 2). Assim, é preciso ter
uma perspectiva verdadeiramente crítica acerca do fenômeno da linguagem para
observar o significado representacional dos textos.
Observando o significado representacional, da qual nos aprofundaremos
neste trabalho, podemos destacar os elementos oracionais básicos: os processos
(manifestados através de verbos), os participantes (manifestados através do sujeito,
objeto direto e objeto indireto) e as circunstâncias (manifestados através de adjuntos
adverbiais de tempo ou lugar). “As representações dos eventos, das atividades, dos
processos acarretam uma necessidade de escolha (nem sempre uma escolha
voluntária, é claro) entre os tipos de processo5” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 144, nossa
tradução). Eles podem ser analisados mais a fundo, observando o modo como se
correlacionam.

4
O texto original é: “What is at issue is classification, preconstructed classificatory schemes or
systems of classification, „naturalized preconstructions... that are ignored as such and which can
function as unconscious instruments of construction‟ (Bourdieu and Wacquant, 1992).”
5
O texto original é: “Representation of events, activities, process, entails choice (not usually conscious
choice, of course) amongst the process types.”

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É possível perceber nas orações, como elementos dos eventos sociais
quanto à exclusão, a inclusão e a proeminência, as formas de ação, as pessoas, as
relações sociais, os objetos, os meios, os tempos e espaços e a linguagem. Quanto
a representação como recontextualização, pode-se analisar o texto percebendo
aspectos como presença, abstração, ordenamento e possíveis acréscimos.
Analisando a representação dos agentes sociais, percebemos aspectos
como inclusão ou exclusão (suprimido ou relegado ao segundo plano), uso de
pronome ou substantivo, a função gramatical (participante, descrito numa
circunstância ou através de substantivo possessivo ou pronome), sua participação
como ativo ou passivo, pessoal ou impessoal, e nomeado ou genérico (no sentido de
generalização).
Concluindo este embasamento teórico, perceberemos com a análise a
seguir o significado representacional através de textos, observando a relação entre o
lugar que a mídia reivindica para si e o que ela realmente assume, na inexistente
possibilidade de imparcialidade.

3 PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS
Dentro de um conjunto de matérias relacionadas à construção discursiva do
escândalo do “dossiê” pela revista VEJA – publicadas em edições semanais entre 20
de setembro e 25 de outubro de 2006 – observaremos especificamente as edições
do dia 27 de setembro – em duas matérias, “Um tiro nos pé às portas da eleição” e
“O vôo cego do petismo” – e 11 de outubro – na matéria “O fenômeno Alckmin”. O
corpus se constituiu destas matérias selecionadas porque são aquelas que mais se
utilizam de aspectos representacionais mais facilmente identificáveis, como uma
grande fonte para análise deste porte, e ao formar uma imagem representacional do
principal agente social do escândalo, o presidente Lula, de modo que percebamos
facilmente o posicionamento político da revista.
Se, segundo Thompson, poder é a capacidade de agir para alcançar os
próprios objetivos ou interesses, o próprio entorno do escândalo foi movido pela
busca por esse poder. Observamos isso quando os petistas, querendo a vitória de
Aloízio Mercadante para o governo de São Paulo e Lula para a presidência, utilizam-
se de meios ilegais para chegar a seu objetivo: pagar por um dossiê que
incriminasse José Serra e Geraldo Alckmin, fortalecendo a base do PT. E também

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quando os partidários do PSDB, aproveitarem-se dessa situação, escancaram o
acontecido, virando o jogo a seu favor para fortalecer a campanha de seus
candidatos.
Percebemos com este escândalo que na política há uma luta por hegemonia
quando o dispositivo midiático VEJA, ao longo das matérias, marca sua ideologia
utilizando-se de um discurso dito “imparcial”. E ao mesmo tempo dá espaço para
que possamos perceber que ela representa uma perspectiva parcial da narrativa do
escândalo, buscando sempre posicionar o leitor para que acredite somente em sua
versão da história.
Se ser ético a nível de estudos de linguagem é ter comprometimento
ideológico com seu discurso, pode-se dizer que VEJA se compromete com o que diz.
Se todos os discursos contêm marcas ideológicas daquele que o construiu, é
possível perceber a defesa de determinados valores em contraposição a outros.
Observamos isto na revista do dia 11 de outubro de 2006, a primeira depois das
eleições do primeiro turno, quando é dedicada uma matéria a Geraldo Alckmin (o
título é “O fenômeno Alckmin”). Além de elevarem o fato de Alckmin ter chegado ao
segundo turno, a revista faz uma comparação entre os dois candidatos, no quadro
“Dois países”.

(VEJA. São Paulo: Abril, ano 1977, n. 40, p. 53, 11 out. 2006)

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Percebemos que há uma separação; uma segregação do “país” que votou
em Lula, mais humilde, e o “país” que votou em Alckmin, de melhor qualidade de
vida (“país” no sentido de totalidade de estados em que foi cada candidato foi
vitorioso nas votações, em que recebeu o maior número de votos). Isto mostra uma
clara separação entre os dois “países”, induzindo o leitor a pensar que aqueles que
votaram em Alckmin têm melhor nível de instrução, renda e informação, e que são
mais “aptos” a escolher o futuro do país, ao contrário dos que votaram em Lula.
Quanto à análise segundo o significado representacional de Norman
Fairclough, separei dois fragmentos de textos da revista do dia 27 de setembro de
2006. Cada texto será analisado de acordo com duas perspectivas metodológicas. O
primeiro, “Um tiro nos pé às portas da eleição”, será observado tendo em vista a
representação dos elementos oracionais, em processos, pessoas envolvidas e
circunstâncias, e os eventos sociais na representação como forma de
recontextualização. O segundo, “O vôo cego do petismo”, será observado tendo em
vista os eventos sociais e suas formas de exclusão, inclusão e proeminência e a
representação dos agentes sociais (FAIRCLOUGH, 2003).
Observe o trecho da matéria “Um tiro nos pé às portas da eleição”.
“O episódio é fruto de desgoverno, da colonização do aparelho de estado
por militantes petistas contaminados pela notória ausência de ética e moral
da esquerda quando esquadrinha a chance de chegar ao poder – e, depois,
de mantê-lo a qualquer custo. Sobre essa delituosa sopa primordial paira a
figura complacente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele se jacta de
ter afastado os amigos, os companheiros de viagem política, ministros e
funcionários de alto escalão pegos com a mão na cumbuca.
Lula os afastou, mas não perdeu uma única chance de passar a mão na
cabeça dos caídos, de dizer que continuam seus „amigos‟, seus „meninos‟,
que democracia „não é só coisa limpa‟ e que não cometeram delitos, mas
„simplesmente erraram‟. Por ter criado e mantido um ambiente propício à
propagação da corrupção em seu governo – e sem prejuízo de todas as
sanções legais a que se expôs como candidato e presidente –, Lula é o
patrono da desastrada compra com dinheiro sujo do falso dossiê.” (VEJA.
São Paulo: Abril, ano 1975, n. 38, p. 59, 27 set. 2006)
Analisaremos o trecho acima tendo em vista a representação dos elementos
oracionais: os processos, as pessoas envolvidas e as circunstâncias
(FAIRCLOUGH, 2003).

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Percebemos em “O episódio é fruto de desgoverno”, um processo relacional
1 com o verbo “é”: o portador é o “episódio” (escândalo do dossiê) e o atributo é
“fruto de desgoverno”. Aqui fica clara a relação de causa, o “desgoverno”, e as
consequências de Lula como presidente, o escândalo.
Já em “Sobre essa delituosa sopa primordial paira a figura complacente do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, percebemos um processo material com o verbo
“paira”: o ator é o “a figura complacente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva” e o
afetado é “Sobre essa delituosa sopa primordial”. Aqui percebemos que Lula é
colocado como agente ativo da corrupção em seu governo, comandando e
sobrevoando qualquer ação de seus subordinados.
No trecho “Lula os afastou”, há um processo material com o verbo “afastou”:
o ator é “Lula” e o afetado é “os”, se referindo ao trecho do parágrafo anterior “os
amigos, os companheiros de viagem política, ministros e funcionários de alto
escalão pegos com a mão na cumbuca”, com clara forma da ação do agente.
E ainda, em “Lula é o patrono da desastrada compra”, há novamente um
processo relacional 1, com o verbo “é”. O portador é novamente “Lula‟ e o atributo é
“patrono da desastrada compra”. Aqui, percebemos uma tentativa de colocar Lula
como responsável, colocando-o como alguém sabia da compra do dossiê,
incriminando-o.
Analisaremos agora o trecho tendo em vista a representação como forma de
recontextualização nos eventos sociais (FAIRCLOUGH, 2003).
Observando o princípio da presença, pode-se perceber que está presente no
texto a corrupção e ganância dos petistas através da negligência do presidente Lula
com relação a ética de seus companheiros (observe isto em “O episódio é fruto de
desgoverno, da colonização do aparelho de estado por militantes petistas
contaminados pela notória ausência de ética e moral da esquerda quando
esquadrinha a chance de chegar ao poder – e, depois, de mantê-lo a qualquer
custo.”), ficando em destaque o fato de Lula se mostrar como inocente, mas
complacente com os envolvidos no escândalo (observe isto em “Lula os afastou,
mas não perdeu uma única chance de passar a mão na cabeça dos caídos, de dizer
que continuam seus „amigos‟, seus „meninos‟, que democracia „não é só coisa limpa‟
e que não cometeram delitos, mas „simplesmente erraram‟.”). Fica ausente, no
trecho, a forma como a mídia, neste caso a revista VEJA, teve acesso às

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informações e ao material do dossiê e os seus interesses políticos em tratar o
escândalo de maneira que prejudique ao máximo Lula e o PT. Além disso, ela deixa
em segundo plano o fato de Lula ter se afastado dos envolvidos no escândalo,
deixando margem para que se pense que ele ainda compactua com eles, no sentido
de ter também cometido um crime, e ter “perdoado o erro” de seus companheiros.
O nível de abstração é intermediário, pois se insere num conjunto de
eventos sociais: os interesses políticos de certo grupo (com suas ideologias e busca
por hegemonia), sua influência sobre a mídia e os veículos de comunicação em
massa, a compra do dossiê, a denúncia e o escândalo e como se deu.
Não há princípio de ordenamento no trecho do texto, pois não se constitui de
uma narrativa direta, em que os fatos vão se desencadeando aos poucos até chegar
ao desfecho ou clímax do fato. É constituído como forma de “revelação”: os “fatos”
(ou a construção de “verdades”, segundo quer demonstrar a revista) são descritos
no evento social e tem por objetivo acusar o agente social Lula. O esforço da
construção discursiva é convencer o leitor de que Lula sabia da compra do dossiê e
que mancomunou com os corruptos.
Há vários acréscimos ao discurso. O fragmento do texto é repleto de
adjetivos que não só qualificam o presidente Lula e o PT (generaliza-se toda a
instituição) como integrantes ativos da compra do dossiê. Veja os trechos “militantes
petistas contaminados” e “paira a figura complacente do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva”. Classifica-os como instituição criminosa, e monta um discurso que levam o
escândalo às últimas consequências. Isto se deve ao fato da revista se esforçar a
todo custo em legitimar seu discurso e convencer o leitor de que sua informação é
verídica, impulsionada por sua busca em sobrepujar seu discurso em detrimento de
outros.
Observe agora o trecho da matéria “O vôo cego do petismo”.
“O escândalo do dossiê comprova que a „organização criminosa‟, para usar
as palavras do procurador-geral da República, refinou um método para
reagir aos flagrantes da bandidagem. Assim como no escândalo do
mensalão, agora também a primeira reação foi de negar qualquer
envolvimento com o caso. „O PT não faria isso em hipótese alguma‟, chegou
a dizer Berzoini dois dias antes de ser ele próprio apanhado no esquema. A
outra tática é montar um cordão sanitário em torno do presidente Lula,
dizendo que, se houve algo, ele não sabia de nada. Foi assim no mensalão.
É assim agora. „É uma crise normal, que não atinge em nada o presidente‟,
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diz o ministro Tarso Genro. Até entre setores da oposição, admite-se a
hipótese de que, desta vez, Lula talvez não soubesse mesmo dos detalhes
– da existência do dossiê ou do pagamento de 2 milhões de reais. Admite-
se que talvez tenha sido apenas informado de que uma bomba contra Serra
estava sendo armada e que sua explosão poderia catapultar Mercadante ao
segundo turno no pleito paulista.” (VEJA. São Paulo: Abril, ano 1975, n. 38,
p. 65, 27 set. 2006)
Analisaremos o trecho acima tendo em vista os eventos sociais e as formas
de exclusão, inclusão e proeminência (FAIRCLOUGH, 2003).
Neste trecho, é dada maior importância às formas de ação, ao negar
envolvimento de Lula (“a primeira reação foi de negar qualquer envolvimento com o
caso”), ao ser pego ou descoberto (“chegou a dizer Berzoini dois dias antes de ser
ele próprio apanhado no esquema”), ao proteger Lula (“A outra tática é montar um
cordão sanitário em torno do presidente Lula, dizendo que, se houve algo, ele não
sabia de nada.”), ao pagamento do dossiê (“do pagamento de dois milhões de
reais”) e ao tramar contra Serra (“uma bomba contra Serra estava sendo armada”).
As pessoas envolvidas no evento social são o procurador-geral da
República, Ricardo Berzoini, Lula, Tarso Genro, José Serra e Aluízio Mercadante. As
relações sociais ou formas institucionais são a “organização criminosa” (petistas
envolvidos), o PT (de forma geral) e os setores de oposição. Os objetos do discurso
são o dossiê, os dois milhões de reais pagos, o escândalo que foi gerado e o
“escândalo do mensalão” (referindo-se a um escândalo anterior e aproximando-o do
atual escândalo). Os meios ou tecnologias são excluídos, assim como os tempos e
espaços – mas neste caso é possível situar o “escândalo do dossiê” em comparação
ao “escândalo do mensalão”, dando uma breve noção de tempo, mas não de forma
concreta. E por fim a linguagem é culta, mas não imparcial: ela quer aparentar ter
sido construída num alto nível intelectual, mas seu posicionamento ideológico é
claro.
Agora analisaremos o trecho tendo em vista a representação dos agentes
sociais (FAIRCLOUGH, 2003). Os agentes sociais aqui representados são a
“organização criminosa”, o “procurador-geral da República”, o PT, Ricardo Berzoini,
o presidente Lula, Tarso Genro, José Serra e Aluízio Mercadante.
Em “organização criminosa”, o agente é incluído, pois aparece em primeiro
plano. Está sob a forma de substantivo e é participante de acordo com sua função

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gramatical. É ativo, mas representado impessoalmente, pois qualifica o agente. Ele é
classificado (categorizado) e especificado num grupo. Percebe-se ai uma fonte
extremamente forte de caracterização, mostrando o condicionamento ideológico e
político do vinculador da informação.
Em “procurador-geral da República”, o agente é incluído, pois aparece em
primeiro plano. Está sob a forma de substantivo e é descrito em uma determinada
circunstância de acordo com sua função gramatical. É ativo e representado
pessoalmente. Ele é classificado (categorizado) e especificado num grupo. Aqui
percebemos que o procurador é citado para que a opinião do mesmo possa influir na
do leitor, neste caso, pejorativamente ao escândalo.
O agente PT é incluído, pois aparece em primeiro plano. Está sob a forma
de substantivo e é participante de acordo com sua função gramatical. É ativo e
representado pessoalmente. Ele é classificado (categorizado) e generalizado com
relação ao grupo. Percebe-se que quer se generalizar em todo o partido a
participação de alguns membros do caso, para fazer com que todo o PT saia
prejudicado com o escândalo.
O agente Ricardo Berzoini é incluído, pois aparece em primeiro plano. Está
sob a forma de substantivo e é descrito em uma determinada circunstância de
acordo com sua função gramatical. É ativo e representado pessoalmente. Ele é
nomeado e especificado num grupo. Este agente só é citado para que o partido
perca sua credibilidade com o leitor, já que o agente aqui citado não teria um
discurso confiável (“„O PT não faria isso em hipótese alguma‟, chegou a dizer
Berzoini dois dias antes de ser ele próprio apanhado no esquema”).
O agente Lula, o mais explorado ao longo da matéria, é incluído, pois
aparece em primeiro plano. Está sob a forma de substantivo. É participante de
acordo com sua função gramatical, mas também aparece descrito em uma
circunstância por sua função, “presidente”. É passivo, representado pessoalmente,
nomeado e especificado num grupo. Esta é uma das poucas vezes em que Lula
aparece passivamente, pois em alguns momentos ela o coloca como ativo em todo o
desenrolar do escândalo, mas neste foco ele aparece à mercê de seus
subordinados. VEJA quer insinuar que isso é uma tática criada, por ele ou por seus
aliados, para inocentá-lo (“A outra tática é montar um cordão sanitário em torno do
presidente Lula, dizendo que, se houve algo, ele não sabia de nada. Foi assim no

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mensalão. É assim agora.”). E ainda há uma menção à Lula no trecho “talvez tenha
sido apenas informado...”: o agente é excluído, mas relegado ao segundo plano
(Lula). É descrito em uma determinada circunstância de acordo com sua função
gramatical e é passivo. Aqui VEJA apenas supõe, não dando material concreto e
verídico para averiguação dos fatos.
O agente Tarso Genro é incluído, pois aparece em primeiro plano. Está sob
a forma de substantivo e é participante de acordo com sua função gramatical. É
ativo, representado pessoalmente, nomeado e especificado num grupo. VEJA cita o
ministro para comprovar o que diz anteriormente sobre a tática de montar um cordão
de isolamento em volta do presidente Lula.
Em “Admite-se a hipótese de que,...” e “Admite-se que...”, o agente social é
excluído e suprimido: Não há nenhuma menção no texto sobre quem seja (Quem
admite?). O que se sabe é que este agente é participante e ativo. VEJA não cita este
agente por não querer comprometer-se com suas fontes, sejam elas quais sejam.
O agente José Serra é incluído, pois aparece em primeiro plano. Está sob a
forma de substantivo e é descrito em uma circunstância de acordo com sua função
gramatical. É passivo, representado pessoalmente, nomeado e especificado num
grupo. VEJA não entra em muitos detalhes sobre José Serra, pois não busca
comprometê-lo. Para ela, Serra é apenas uma vítima do suposto dossiê.
O agente Aluízio Mercadante é incluído, pois aparece em primeiro plano.
Está sob a forma de substantivo e é descrito em uma circunstância de acordo com
sua função gramatical. É passivo, representado pessoalmente, nomeado e
especificado num grupo. Mercadante é apenas citado como um dos tomariam
proveito do dossiê que iria também contra Serra, seu adversário político.

4 RESULTADOS
Observamos, com estas análises, alguns fatos que antes pareciam
obscuros, mas inquietantes. E agora são tão claros quanto verificáveis.
Ao utilizar-se de sua capacidade de alcance às grandes massas, a mídia
fortalece sua busca por poder e hegemonia, quando se utiliza de subterfúgios para
influenciar discursos através de sua ideologia. Ela se diz imparcial, e reforça essa
forma de pensamento, mas mostra, ao contrário, que não só se manifesta
ideologicamente, como influi na formação ideológica dos sujeitos. Isto é perceptível

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na matéria “O fenômeno Alckmin”, não só quando VEJA faz um jogo de apoio à
Alckmin, mas quando se percebe intrinsecamente a segregação e o preconceito com
relação a certos grupos sociais.
O papel que a mídia adquire no escândalo político é de grande importância,
pois é ela quem decide quem são os “vilões” e quem são os “mocinhos”, como num
jogo em que quem deve vencer são aqueles da qual ela apóia. Ela constrói o
escândalo político de modo a favorecer seus interesses, numa eterna luta por
representação social e hegemonia ideológica.
VEJA sempre quer mostrar Lula como um agente social ativo, ator, e não um
afetado pelas circunstâncias do escândalo. Em muitas vezes relaciona a corrupção
como conseqüência do seu modo de governar.
A revista também manipula seu discurso de forma a ressaltar elementos
como a corrupção, a desordem, a negligência ética e os próprios escândalos.
Quando ressalta que Lula foi complacente, mas não dá detalhes sobre o fato dele ter
se afastado dos envolvidos, ou do modo como a própria mídia teve acesso às
informações restritas da Polícia Federal: VEJA quer dar mais ênfase ao que julga de
maior importância para alcançar seus objetivos.
A utilização quase que constante de adjetivos completa e confirma esta
hipótese de que o dispositivo midiático quer qualificar e classificar Lula de modo a
formar esse agente ativo em meio à corrupção. E o esforço em ressaltar as formas
de ação e os objetos do discurso (e não mostrar em grande escala o tempo, o
espaço e as relações sociais) mostra que o objetivo é destacar seu posicionamento
ideológico, e não um possível ordenamento dos fatos.
Por fim observamos como a construção dos agentes sociais se dá no nível
representacional, favorecendo certos agentes em detrimento de outros. A noção de
verdade é relegada ao segundo plano, já que as fontes das informações são
suprimidas. O interesse maior é em divulgar seu posicionamento de modo a ser
aceito como “verdade”.
Percebemos que a condição ética está presente em todo o discurso
vinculado, pois o nível de comprometimento da revista com o que diz e manifesta é
perceptível. Assim, o objetivo de se analisar criticamente o discurso midiático foi
alcançado, pois o comprometimento político, ideológico e ético foi observado.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciar este trabalho, tratamos do “escândalo do dossiê” do modo como
nos foi noticiado pela mídia: a suposta compra do dossiê, os envolvidos, o escândalo
e as consequências. Mas fomos além: observamos o fato como um evento social
inserido nas práticas sociais, transpassadas por lutas por representação de um
grupo – a mídia – ao se aproveitar de sua visibilidade para tornar seu discurso
hegemônico.
Observamos os conceitos de poder, dominação, hegemonia, ideologia,
política e ética, importantes para se construir uma análise criticamente responsável
de um determinado discurso, e a construção da mídia como veículo de informação e
sua relação com a política moderna, que condiciona os escândalos políticos. Vimos
que a mídia tem em suas mãos o poder de manifestar-se de modo a atender seus
interesses, deixando margem a se pensar no fenômeno da linguagem como um
campo de batalha: um jogo da qual o vencedor obtém hegemonia.
Através da Análise de Discurso Crítica, percebemos que o lugar que a mídia
reivindica para si não pode ser alcançado, pois suas lutas para tornar suas formas
de representação hegemônicas estão inseridas nas práticas sociais, que mudam de
acordo com o contexto histórico e social presente.
Assim, percebemos que a mídia é um vasto campo para pesquisas
transdisciplinares, percebendo que a esfera social não pode ser dividida em áreas
do conhecimento. Uma perspectiva crítica e ética, não só da linguagem, mas de toda
uma sociedade, deve ser aprimorada em posteriores estudos, não apenas com
relação à mídia, mas em todos os aparelhos sociais. Ressaltando sempre que a
constante formação da estrutura social é dialética, passível de alteração por todos
que se inquietem e lutem para transpor o sistema atuante, caindo o mínimo possível
nestas armadilhas da linguagem.

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