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Avaliação do impacto dos vãos envidraçados no conforto térmico

de fracções autónomas de habitação


Alexandra Costa 1, Vasco Rato2
1
ISEL, Rua Conselheiro Emídio Navarro 1, 1959 - 007 LISBOA, Portugal
2
ISCTE-IUL, Avenida das Forças Armadas, 1649 - 026 LISBOA, Portugal

RESUMO
A procura de condições de conforto térmico foi desde sempre um dos objectivos a atingir pelo
Homem. De facto, a construção tradicional mostra-nos como os povos se defenderam da acção
agressiva do clima, adaptando a arquitectura aos agentes climáticos locais. Com o evoluir das
técnicas de construção, assistiu-se ao abrir das fachadas para inclusão de grandes vãos
envidraçados sem considerar a influência da sua orientação ou a localização onde se insere a
habitação, verificando-se um aumento significativo de situações de sobreaquecimento pelo efeito dos
ganhos solares, tanto na estação de arrefecimento como também na de aquecimento [1,2,3]. Com
este trabalho pretende-se tirar ilações sobre a influência da dimensão dos vãos envidraçados no
comportamento térmico das habitações, face a diferentes situações de orientação e protecções
solares, tendo por base um caso de estudo e os parâmetros definidos na regulamentação em vigor.
Para tal propõe-se o “índice de conforto térmico”, que engloba as relações entre as necessidades
nominais anuais de energia para aquecimento e para arrefecimento, respectivos limites e a duração
das estações convencionais. Através da análise deste parâmetro, obtiveram-se valores para as
melhores relações entre a dimensão de vãos envidraçados, a área de pavimento e a dimensão de
sombreamentos para as diferentes orientações.

Palavras-chave: conforto térmico, envidraçados, RCCTE, sombreamentos.

INTRODUÇÃO
As fachadas envidraçadas têm sido amplamente utilizadas no nosso país, sem considerar a
localização onde se insere a habitação e, muitas vezes, nem sequer a orientação das fachadas.
Portugal, comparando com os restantes países da Europa, tem um clima ameno, com temperaturas
médias na estação de Verão na ordem dos 19ºC a 23ºC e no Inverno entre os 7ºC e os 14ºC. Ainda
assim, consideramos como muito agressivos os climas do interior Norte e do interior Sul do país os
quais, aliados a concepções arquitectónicas desadequadas e a deficientes práticas construtivas,
tornam a grande maioria do parque habitacional recente bastante desconfortável.
Como é do conhecimento geral, no nosso país, as fachadas orientadas a Sul recebem os maiores
valores de radiação solar durante as estações mais frias, enquanto que no Verão, para além de
receberem menores níveis de radiação solar que as orientações a Este/Sudeste e a Oeste/Sudoeste
(pelo facto de a altitude solar ser mais elevada), são facilmente protegidas através de elementos de
sombreamento (palas) horizontais.As fachadas envidraçadas, quando orientadas a Este ou a Oeste,
recebem baixa intensidade de radiação solar no Inverno, pelo facto de o Sol incidir apenas ao
amanhecer e ao entardecer, com pequenos ângulos de incidência. Já na estação de arrefecimento, a
radiação solar é excessiva, incidindo durante grandes períodos da manhã a Este, ou da tarde a
Oeste, e com ângulos de incidência praticamente perpendiculares aos envidraçados [4,5].
Com este estudo pretende-se tirar ilações sobre a influência da dimensão dos vãos envidraçados no
comportamento térmico das habitações, face a diferentes situações de orientação e protecções
solares, tendo sempre por base a análise prevista na regulamentação em vigor [6,7], que possam ser
utilizadas pelos projectistas com vista à melhoria das condições de conforto dos ocupantes e ao
cumprimento dos novos desafios lançados na reformulação da Directiva Europeia do Desempenho
Energético dos Edifícios [8]. Com esse propósito, foi escolhido um projecto de uma fracção autónoma
de habitação, caracterizada por uma arquitectura com uma única fachada com área envidraçada, à
qual se aplicou a metodologia prevista no RCCTE para diferentes percentagens de áreas de
envidraçado, situações de sombreamento e orientações.
PARAMETRIZAÇÃO
A arquitectura que serviu de base ao presente estudo é um apartamento intermédio de um edifício de
habitação que, por questões orográficas, está totalmente encostado ao terreno na empena tardoz
através de uma zona técnica fortemente ventilada. Os compartimentos secundários da fracção não
possuem iluminação natural e confinam com a zona técnica do edifício a tardoz e com as fachadas
laterais cegas. Os compartimentos de habitação encontram-se junto à fachada principal, única
fenestrada. Em planta, a fracção autónoma (FA) contacta com uma FA de habitação, a zona técnica e
uma comunicação horizontal. O limite superior da FA em estudo confina totalmente com uma FA de
habitação. A fracção autónoma em estudo é um T4 com 208 m2 de área útil e pé-direito médio de
2,60 m. A ventilação processa-se de forma natural.
Para a realização deste estudo, adoptaram-se para a envolvente opaca os valores de coeficiente de
transmissão térmica de referência previstos no RCCTE. Para a envolvente transparente, optou-se por
uma solução de envidraçados constituída por vidro duplo corrente e caixilharia metálica de correr sem
corte térmico, protegidos por persianas exteriores de cor clara tendo-se adoptado os valores
constantes na ITE50 [9] e no RCCTE para as características de transmissão de energia térmica e
solar.
O estudo baseia-se na variação sistemática de alguns parâmetros: a percentagem da área de vãos
envidraçados, o seu sombreamento por palas horizontais, a orientação e o zonamento climático.
Desta forma, para além de uma área de vãos envidraçados correspondente a 28 % da área de
pavimento (100% da fachada principal), foram adicionalmente estudadas percentagens menores, que
correspondem a áreas de pavimento de 22%, 15% e 10%, respectivamente [figura 1].

Figura 1 – Configurações da fachada principal, para áreas de envidraçados


iguais a 10%, 15%, 22% e 28% da área de pavimento

Conforme referido, foi também objecto de estudo a dimensão dos elementos de sombreamento
horizontal. Foram deste modo verificadas três situações: i) sem sombreamento; ii) com palas
horizontais a formarem 30º com o envidraçado; iii) com palas horizontais a formarem 60º com o
envidraçado [figura 2].

Figura 2 – Configurações em corte da fachada principal, sem elementos de


sombreamento e com sombreamentos horizontais a 30º e a 60º

A localização da fracção é um factor de grande importância no estudo da influência da área dos vãos
envidraçados no comportamento térmico das habitações. Segundo a classificação de Köppen-Geiger,
Portugal Continental, encontra-se no grupo dos climas temperados (C) em que a estação de chuvas
ocorre no Inverno (s); esta classificação subdivide-se ainda em dois subtipos climáticos: um de clima
temperado com Inverno chuvoso e Verão seco e quente (Csa) e outra de clima temperado com
Inverno chuvoso e Verão seco e temperado (Csb). As duas zonas climáticas da classificação de
Köppen-Geiger que se encontram em Portugal Continental, podem ser ainda ser divididas, devido à
influência marítima ou continental, obtendo-se quatro zonas climáticas bem diferenciadas. Desde a
agressividade extrema nas duas estações convencionais do interior Centro e Norte do país (Csa com
influência continental), ao clima ameno dos concelhos do litoral Oeste do Centro e Sul do país (Csb
com influência marítima), passando por zonas de Invernos severos com climas amenos no Verão de
alguns concelhos do interior Norte (Csb com influência continental), até ao Sul interior do país com
Verões muito quentes e Invernos amenos (Csa com influência continental). Apresentam-se na tabela
1 os dados climáticos de referência para as localizações em estudo.

Tabela 1 – Dados climáticos de referência para as localizações em estudo


Csa - continental Csa - maritima Csb - continental Csb - maritima
I3-V3N I1-V3S I3-V1N I1-V1S
(Tarouca) (V R Sto. António) (Montalegre) (Oeiras)

Valor mensal de graus dia de aquecimento na 425 245 365 205


base 20ºC - GD20 (ºC/mês) (2670ºC/ano) (1060ºC/ano) (2820ºC/ano) (1230ºC/ano)
média curta longa média
Duração da estação de aquecimento
(6.3 meses) (4.3 meses) (7.7 meses) (6 meses)
S 90 108 90 108

Energia solar média mensal incidente na SO 76 91 76 91


estação de aquecimento numa superfície
a Sul
Xj x GSul (kWh/(m2.mês)) O 50 60 50 60

N 24 29 24 29
Valor médio da temperatura do ar na estação
22 23 19 21
de arrefecimento - atm (ºC)
S 400 400 380 380

Intensidade da radiação solar na estação SO 460 470 430 440


de arrefecimento Ir
(kWh/m2) O 450 460 420 430

N 200 210 200 200

Relativamente à orientação da FA, de acordo com o RCCTE, ocorrem pequenas diferenças para os
valores de radiação solar para a estação convencional de arrefecimento apenas para as zonas
climáticas V1S, V3S e para o arquipélago da Madeira, entre os valores da radiação solar, para
elementos orientados no quadrante Este em relação ao quadrante Oeste. Nestes casos, o parâmetro
Ir, assume valores ligeiramente superiores (cerca de 3%) nas orientações no quadrante Oeste. Razão
pela qual se descartaram as orientações no quadrante Este. Orientações a Noroeste não foram
consideradas como representativas, já que os ganhos solares na estação de arrefecimento são
baixos e é expectável que, na estação de aquecimento, lhe corresponda um comportamento
intermédio às orientações segundo Oeste e Norte.
Tendo por base os pressupostos antes mencionados, e de acordo com o RCCTE, foi construída uma
folha de cálculo com a possibilidade de efectuar estudos para os diferentes valores de áreas de vãos
envidraçados, alterando simultaneamente cada um dos outros parâmetros em estudo. Foi assim
possível a elaboração de análises comparativas entre cada hipótese, de modo a pesquisar padrões
de comportamento e o correspondente relacionamento entre as variáveis consideradas.
A metodologia seguida para a obtenção das diferentes situações estudadas pode ser esquematizada
através da tabela 2 onde se apresentam as variáveis de base do estudo paramétrico.
Após a obtenção dos resultados correspondentes, foi feita a análise do impacto da dimensão dos
vãos envidraçados e das protecções solares através dos valores obtidos para os índices e
parâmetros regulamentares.

RESULTADOS
Apresentam-se nesta secção os resultados da primeira fase relativa aos casos estudados. Todos os
índices e parâmetros foram calculados de acordo com o RCCTE. Foi estudada cada uma das
estações convencionais (aquecimento e arrefecimento) separadamente, e para cada uma delas, as
repercussões das diferentes relações de vãos envidraçados para cada uma das orientações da
fachada principal e para cada caso de sombreamento por palas horizontais, em cada uma das quatro
localizações.
Tabela 2 – Variáveis de base do estudo paramétrico

Área envidraçados/ Sombreamentos Orientação Protecções Factor solar do Total de


Localização Caixilharia
Área de pavimento horizontais da fachada móveis envidraçado casos

Csa - continental
10% I3-V3N Sul
0º (Tarouca)
Csa - maritima
15% I1-V3S Sudoeste
(V R Sto. António) Metálica Persiana vidro duplo
160
30º sem corte exterior de incolor + incolor
casos
Csb - continental térmico cor clara com 6+5mm
22% I3-V1N Oeste
(Montalegre)

60º Csb - maritima


28% I1-V1S Norte*
(Oeiras)

*(consideradas apenas sem elementos de sombreamento horizontais)

A análise dos resultados foi realizada com base na variação da percentagem das áreas dos vãos
envidraçados, considerando-se fixos todos os outros parâmetros. De forma sistemática, foram
verificadas todas as alterações no comportamento energético da fracção.

Estação de aquecimento
Na figura 3 estão representadas as relações entre os ganhos solares úteis e as necessidades brutas

Fracção em Csa com influência continental - I3 V3 Fracção em Csa com influência marítima - I1 V3
70% 35000 70% 35000
60% 30000 60% 30000
50% 25000 50% 25000

kWh/m2.ano
kWh/m2.ano

40% 20000 40% 20000

30% 15000 30% 15000

20% 10000 20% 10000

10% 5000 10% 5000

0% 0 0% 0
0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%


ângulo das palas horizontais ângulo das palas horizontais
área de envidraçado área de envidraçado

Fracção em Csb com influência continental - I3 V1 Fracção em Csb com influência marítima - I1 V1
70% 35000 70% 35000

60% 30000 60% 30000

50% 25000 50% 25000


kWh/m2.ano

kWh/m2.ano

40% 20000 40% 20000

30% 15000 30% 15000

20% 10000 20% 10000

10% 5000 10% 5000


0% 0 0% 0
0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%


ângulo das palas horizontais ângulo das palas horizontais
área de envidraçado área de envidraçado

Necessidades brutas de aquecimento


Sul Sudoeste Oeste Norte

Figura 3 - Relação entre os ganhos solares úteis e as necessidades brutas de aquecimento, para
cada orientação da fachada fenestrada e valor das necessidades brutas de aquecimento em função
da área de envidraçado e ângulo das palas horizontais
de aquecimento para cada percentagem de área de envidraçado, em função da sua orientação . Em
abcissas encontram-se as três hipóteses estudadas para de sombreamento por elementos horizontais
(0º, 30 e 60º) no contexto de cada valor de percentagem de área de envidraçado (relativamente à
área de pavimento), exceptuando-se os casos orientados a Norte, nos quais apenas foi estudada a
situação sem elementos de sombreamento.
Verifica-se que as perdas por condução pela envolvente aumentam proporcionalmente à área de
envidraçados, já que o coeficiente de transmissão térmica do envidraçado com caixilharia metálica
sem corte térmico é cerca de quatro vezes e meia superior ao considerado para a envolvente opaca
exterior (Uref). Ainda assim, qualquer que seja o ângulo do sombreamento horizontal, o acréscimo
das perdas por condução devido à maior dimensão dos vãos envidraçados é largamente
compensado pelo aumento dos ganhos solares úteis, sobretudo em orientações no quadrante Sul.
Nos climas com influência marítima (I1), os grandes vãos envidraçados (28% da área de pavimento),
orientados a Sul, sem elementos de sombreamento ou com palas horizontais de pequena dimensão,
cobrem uma percentagem significativa das necessidades de aquecimento (superior a 60%). Para as
zonas climáticas com períodos de aquecimento com condições mais severas (influência continental),
ainda que a radiação solar total ao longo da estação seja consideravelmente menor que para as
zonas com Invernos mais suaves, os ganhos solares úteis são consideravelmente superiores devido
à evolução do factor de utilização de ganhos, já que para situações de maiores ganhos solares brutos
(os únicos que variam neste estudo), a sua eficiência diminui na obtenção de conforto térmico.
É necessário ainda realçar que o valor do parâmetro regulamentar que traduz a severidade da
estação de aquecimento (GD20) não deve ser considerado isoladamente, já que a maior ou menor
duração desta estação tem influência nos ganhos solares, como se pode verificar através da
comparação entre a energia solar média mensal incidente numa superfície vertical e o valor mensal
de graus dia de aquecimento na base 20.

Estação de arrefecimento
Para todas as localizações estudadas, a orientação de envidraçados menos exigente quanto aos
valores das necessidades de arrefecimento é a Norte, seguida dos casos com fachada fenestrada
orientada a Sul, como se pode verificar através dos resultados da figura 4, onde se apresenta a
relação entre as necessidades de arrefecimento devido aos envidraçados e as necessidades de
arrefecimento totais para cada orientação e o valor das necessidades totais de arrefecimento. Nas
orientações a Oeste e a Sudoeste pode verificar-se a inversão da tendência entre fachadas com e
sem sombreamento. Nos casos onde existe sombreamento, as fachadas com envidraçados a Oeste
apresentam maiores valores para as necessidades totais de arrefecimento que quando orientadas a
Sudoeste. Por sua vez, quando não existem elementos sombreadores, a orientação dos
envidraçados a Sudoeste é mais desfavorável. A razão entre as necessidades de arrefecimento
devido aos envidraçados e as necessidades de arrefecimento totais, nestas duas situações, têm
valores muito próximos, já que a diminuição dos ganhos solares entre Sudoeste e Oeste, quando não
existem elementos sombreadores, é muito baixa (inferior a 2%).
A Norte, as necessidades totais de arrefecimento apresentam pequenas variações em torno de um
valor médio, observando-se contudo menores valores para as situações com maiores vãos. Esta
redução é o resultado da conjugação de dois factores: o primeiro é o facto dos ganhos solares nesta
orientação serem muito baixos, e o segundo é que, com o aumento da área de envidraçados,
aumentam as perdas pela envolvente, causando a inerente diminuição do factor de
sobreaquecimento (1-factor de utilização de ganhos) e, consequentemente, reduzindo o valor das
necessidades.
As necessidades de arrefecimento aumentam sempre com a área envidraçada a Sudoeste e a Oeste,
qualquer que seja a dimensão do sombreamento. A Sul, esta situação verifica-se apenas quando não
existem elementos de sombreamento. De facto, com a existência de palas horizontais nos
envidraçados a Sul, o aumento da área de envidraçados (e o consequente aumento das perdas pela
envolvente e por renovação do ar interior) provoca um aumento do factor de utilização de ganhos,
reduzindo assim o valor das necessidades de arrefecimento. Este valor pode mesmo chegar a ser
inferior ao obtido para vãos orientados a Norte, para áreas de envidraçado iguais a 22% ou 28% da
área de pavimento.
Nos casos sem sombreamento, o aumento da dimensão dos vãos provoca um aumento das
necessidades de arrefecimento sobretudo nas orientações a Oeste e Sudoeste, sendo o caso com a
orientação dos envidraçados a Sul menos sensível pelo facto da radiação solar nesta orientação ser
consideravelmente menor. Com a existência de elementos horizontais de sombreamento, as
diferenças entre estas três orientações revelam-se pouco representativas.
Fracção em Csa com influência continental - I3 V3 Fracção em Csa com influência mariítima - I1 V3
70% 4500 70% 4500
4000 4000
60% 60%
3500 3500
50% 50%
3000 3000

kWh/m2.ano

kWh/m2.ano
40% 2500 40% 2500

30% 2000 30% 2000


1500 1500
20% 20%
1000 1000
10% 10%
500 500
0% 0 0% 0
0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%

Fracção em Csb com influência continental - I3 V1 Fracção em Csb com influência marítima - I1 V1
70% 4500 70% 4500
4000 4000
60% 60%
3500 3500
50% 50%
3000 3000

kWh/m2.ano

kWh/m2.ano
40% 2500 40% 2500

30% 2000 30% 2000


1500 1500
20% 20%
1000 1000
10% 10%
500 500
0% 0 0% 0
0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%

relação entre necessidades de arrefecimento devido aos envidraçados e necessidades de arrefecimento totais
Sul Sudoeste Oeste Norte
necessidades totais de arrefecimento
Sul Sudoeste Oeste Norte

Figura 4 - Relação entre as necessidades de arrefecimento devidas aos envidraçados e as


necessidades de arrefecimento totais para cada orientação da fachada fenestrada e valor das
necessidades totais de arrefecimento em função da área de envidraçado e ângulo das palas
horizontais

Nas localizações caracterizadas por verões quentes (Csa), verifica-se o aumento das necessidades
totais de arrefecimento devido não só a uma maior temperatura exterior (menores perdas pela
envolvente), como a um maior valor da radiação solar (maiores ganhos solares).

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO


Da análise dos resultados obtidos, conclui-se que, para a estação de Inverno, se consegue satisfazer,
através dos ganhos solares, uma maior percentagem das necessidades de aquecimento nos casos
onde coexistem maiores vãos envidraçados, sem sombreamentos, com orientações a Sul. Como foi
já referido, as necessidades de aquecimento aumentam para as situações estudadas com grandes
percentagens de vãos envidraçados, pelo facto do coeficiente global de perdas aumentar uma vez
que o envidraçado tem um coeficiente de transmissão térmica de valor muito superior ao da parede;
por outro lado, o aumento das necessidades de aquecimento é mais significativo quanto maior for o
valor de graus dia na base 20 da localização estudada.
Para a estação de arrefecimento os melhores resultados obtêm-se para os casos onde existem
simultaneamente menores vãos, orientados a Sul, protegidos com elementos de sombreamento
horizontais.
Estas conclusões apontam para soluções arquitectónicas antagónicas quando se analisam as duas
estações convencionais, indiciando que uma habitação confortável na estação de aquecimento não o
será na estação convencional de arrefecimento por ser demasiadamente quente, e se for confortável
no Verão, os ganhos solares serão insuficientes durante a estação mais fria. Refira-se ainda que
estas ilações foram retiradas unicamente a partir dos resultados obtidos, não considerando a
participação de qualquer sistema mecânico para aquecimento ou arrefecimento ambiental, já que o
objectivo do estudo se centra neste ponto: a obtenção dos melhores índices de conforto com o
consumo energético mínimo.
De acordo com o RCCTE, a caracterização do comportamento térmico dos edifícios faz-se através de
índices térmicos fundamentais: as necessidades nominais anuais de energia útil para aquecimento
(Nic) e para arrefecimento (Nvc), as necessidades nominais anuais de energia para produção de
águas quentes sanitárias (Nac), bem como as necessidades globais de energia primária (Ntc).
Os parâmetros que têm influência no conforto térmico dos ocupantes de uma habitação são o Nic e o
Nvc, os quais quantificam as necessidades energéticas anuais na estação de Inverno e de Verão,
para as condições de conforto de referência: temperatura do ar de 20ºC para a estação de
aquecimento, e uma temperatura do ar de 25ºC e 50% de humidade relativa para a estação de
arrefecimento.
Tal como definido, o valor de Ntc considera não só os dois parâmetros anteriores (afectados pelas
eficiências nominais dos equipamentos de aquecimento e arrefecimento, e respectivos factores de
conversão entre energia útil e energia primária), como também o valor de Nac (dependente
fundamentalmente da existência de sistemas para aproveitamento de energias solar e de
equipamentos de apoio de elevada eficiência), afastando-se assim do conceito de conforto térmico,
para se aproximar do conceito de eficiência energética.
Neste estudo, pretendeu-se determinar uma forma de contabilizar o conforto térmico, a partir
unicamente dos parâmetros regulamentares, introduzindo na mesma expressão os valores
regulamentares das necessidades energéticas e seus limites (verificada cada uma por si no texto
regulamentar), e a duração de cada um dos períodos de potencial desconforto térmico. As diferentes
soluções arquitectónicas e construtivas, em diferentes localizações, podem ser ordenadas após uma
análise de sensibilidade dos valores obtidos a partir de um único parâmetro, que tem em
consideração as duas estações convencionais e a sua correspondente duração.
Ao parâmetro supramencionado atribuiu-se a designação de “índice de conforto térmico” [equação 1],
o qual engloba as relações entre as necessidades nominais anuais de energia para aquecimento e
para arrefecimento, os respectivos limites e a duração das estações convencionais, conforme já antes
mencionado. A duração da estação convencional de arrefecimento é constante para todas as zonas
climáticas e é igual aos quatro meses de Verão (Junho, Julho, Agosto e Setembro). A duração da
estação convencional de aquecimento é maior em zonas climáticas Csb de influência continental, e
menor nas regiões Csa de influência marítima. Esta situação está transposta no RCCTE através da
duração da estação convencional de aquecimento (m), que equivale ao período do ano com início no
primeiro decêndio posterior a 1 de Outubro em que a temperatura média diária é inferior a 15°C, e
termo no último decêndio anterior a 31 de Maio em que a referida temperatura ainda é inferior a 15°C
(em Portugal Continental verifica-se 4,3 ≤ m ≤ 8). A expressão de cálculo do índice de conforto
proposto está indicada na equação 1.

  Nic Nvc  
  Ni  m  Nv  4  
ic  1    
[1]
 m4 
 
 

Através da expressão anterior, não só se considera o grau de conforto durante as duas estações
convencionais, mas também o intervalo de tempo em que esse nível de comodidade está presente ao
longo do período de um ano, fazendo com que a estação de maior duração tenha um maior peso no
cômputo do índice. É de realçar que, no âmbito do RCCTE, é mais difícil cumprir os limites das
necessidades nominais de energia útil para aquecimento que os limites das necessidades nominais
de energia útil para arrefecimento, o que se traduz num maior nível de desconforto térmico através da
expressão de ic.
Com base neste critério foram reanalisados todos os casos já referidos, mas tendo por finalidade a
avaliação do comportamento das fracções ao longo de todo o ano.
A figura 5 mostra para cada localização o valor do índice de conforto em função da orientação da
fachada envidraçada. Em abcissas encontram-se as três hipóteses estudadas para o sombreamento
por elementos horizontais (0º, 30 e 60º) no contexto de cada valor de percentagem de área de
envidraçado (relativamente à área de pavimento), exceptuando-se os casos orientados a Norte, nos
quais apenas foi estudada a situação sem elementos de sombreamento.

Fracção em Csa com influência continental - I3 V3 Fracção em Csa com influência marítima - I1 V3
80% 80%

70% 70%

60% 60%

50% 50%

ic
ic

40% 40%

30% 30%

20% 20%

0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%


ângulo das palas horizontais ângulo das palas horizontais
área de envidraçado área de envidraçado

Fracção em Csb com influência continental - I3 V1 Fracção em Csb com influência marítima - I1 V1
80% 80%

70% 70%

60% 60%

50% 50%
ic

ic

40% 40%

30% 30%

20% 20%
0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º 0º 30º 60º

10% 15% 22% 28% 10% 15% 22% 28%


ângulo das palas horizontais ângulo das palas horizontais
área de envidraçado área de envidraçado

Sul Sudoeste Oeste Norte

Figura 5 - Índice de conforto por orientação da fachada envidraçada em função da percentagem de


área de envidraçado (relativamente à área de pavimento), e das dimensões do sombreamento por
elementos horizontais. Assinalam-se, com contorno, as soluções que não verificam os limites
regulamentares das necessidades nominais de energia útil para aquecimento

Em zonas Csb de influência marítima e envidraçados com orientação a Sul, os maiores vãos
oferecem melhores condições de conforto, sobretudo quando protegidos com palas horizontal a 30º.
Aos elementos sombreadores de grandes dimensões correspondem maus resultados, já que
penalizam demasiadamente a estação de aquecimento, não beneficiando de forma sensível os
meses de Verão. A Sudoeste, nesta região climática, o factor predominante é a dimensão das palas
horizontais, obtendo-se os melhores resultados para vãos protegidos com sombreamentos de 30º. Tal
como acontece nos vãos orientados a Sul, também na orientação Sudoeste vãos não protegidos
conduzem a melhores resultados anuais do que os vãos com elementos de obstrução de grandes
dimensões. Para orientações a Oeste e a Norte, as grandes dimensões de vãos envidraçados são
penalizadoras. A Norte corresponde uma radiação solar muito baixa, não se conseguindo na estação
de aquecimento, com o acréscimo dos ganhos solares, compensar o acréscimo das perdas por
condução pelos vãos envidraçados. A Oeste, obtêm-se as melhores condições de conforto para os
vãos de menores dimensões, com sombreamentos horizontais de 30º. Nesta orientação, sendo
benéfico na estação de aquecimento a existência de grandes vãos envidraçados não protegidos, nos
meses de Verão esta situação é muito desfavorável.
Nas regiões Csa de influência continental, caracterizados pela severidade do clima tanto no Inverno
como no Verão, as fracções com vãos de menores dimensões têm o melhor comportamento térmico
em todas as orientações. Nos casos com fachadas envidraçadas orientadas a Sul e a Sudoeste,
obtêm-se melhores desempenhos quando sombreadas com elementos a 30º. Já a Oeste, face a uma
orientação e a uma estação de arrefecimento penalizadora, os melhores valores para o índice de
conforto resultam da existência de grandes palas (60º).
Em regiões de influência continental, mas de verões amenos – Csb - os melhores comportamentos
obtêm-se para a gama dos menores vãos (10% e 15% da área de pavimento), sem sombreamento ou
com sombreamento de pequenas dimensões. Os grandes vãos são mais uma vez penalizados face a
uma estação de Inverno muito severa e, por sua vez, os sombreamentos de grandes dimensões
penalizam o conforto das habitações com envidraçados orientados no quadrante Sul. Nas fachadas
com envidraçados a Oeste faz-se sentir o efeito dos ganhos solares na estação de arrefecimento,
obtendo-se melhores valores com a existência de palas sombreadoras, seja qual for a área de
envidraçado.
Ainda em zonas de influência marítima, mas em que os verões são caracterizados por temperaturas
muito elevadas (Csa) a utilização de grandes elementos de sombreamento é sempre
contraproducente em fachadas orientadas a Sul, obtendo-se para esta orientação os melhores
índices de conforto com sombreamentos de 30º. Nestas regiões, os envidraçados orientados no
quadrante Oeste devem ter pequenas dimensões com protecções horizontais.
Em qualquer das localizações estudadas, o comportamento das habitações é sempre penalizado com
a existência de grandes vãos orientados a Norte.

CONCLUSÕES
O presente trabalho consistiu no estudo do impacto da dimensão dos vãos envidraçados no
comportamento térmico das habitações, face a diferentes hipóteses de orientação e sombreamento
horizontal. O objectivo foi o de concluir sobre quais as relações dimensão de vão/sombreamento
horizontal, para determinada orientação e características climáticas, que correspondem a melhores
desempenhos térmicos.
Com este propósito, foi analisada uma arquitectura caracterizada por possuir vãos envidraçados
numa só fachada, com valores térmicos de referência para a envolvente, com quatro níveis de áreas
de envidraçado, em quatro orientações consideradas representativas, em quatro localizações com
padrões climáticos característicos de Portugal Continental e com três padrões de sombreamento.
Foram efectuados todos os cálculos para 160 casos de estudo obtidos de acordo com a metodologia
definida no RCCTE. Após o tratamento dos valores resultantes para as duas estações convencionais,
tal como definido na regulamentação em vigor, considerou-se pertinente proceder à formulação de
um índice com o qual se pudesse avaliar o desempenho do conforto térmico das habitações, relativo
ao período de um ano, i.e. englobando as duas estações.
Na tabela 3 encontra-se a conjugação de factores (percentagem de área de envidraçados e dimensão
de palas horizontais) para cada orientação e em cada localização para as quais se obtiveram os
valores máximos (correspondente ao maior conforto), e mínimos obtidos para o “índice de conforto
térmico”.
Como corolário poder-se-á ainda referir que:
 para todas as localizações estudadas, os melhores resultados para o índice de conforto obtêm-se
para vãos envidraçados orientados Sul, e os piores para fachadas envidraçadas orientadas a
Norte. Para as orientações intermédias – Sudoeste e Oeste, obtêm-se valores bastante próximos
para o índice de conforto, sendo os valores obtidos para fachadas fenestradas orientadas a
Sudoeste ligeiramente melhores;
 as grandes áreas de vãos envidraçadas apenas são sinónimo de conforto térmico nas orientações
do quadrante Sul, quando complementadas com sombreamentos de dimensão média em zonas
climáticas caracterizadas por Invernos e Verões suaves – Csb de influência marítima;
 nas restantes zonas climáticas, e ainda para o quadrante Sul, os vãos devem ser de pequenas
dimensões e ser protegidos com sombreamentos de dimensão média, podendo a protecção ser
reduzida se estiver numa zona climática com estações de arrefecimento amenas.
 vãos com orientações a Oeste devem ter pequenas dimensões e ser sombreados;
 os vãos orientados a Norte devem ser sempre tão pequenos quanto possível.

O estudo agora elaborado teve como principais limitações o facto de ter sido baseado numa única
arquitectura, e de estar limitado a uma análise dos diferentes casos restringida aos parâmetros e
critérios previstos na regulamentação.
Tabela 3 – Conjugação de factores (Valores máximos e mínimos obtidos para o “índice de conforto térmico”,
em função da localização, área de envidraçado, ângulos dos sombreamentos horizontais e orientação dos vãos).

Orientação das áreas envidraçadas

Sul Sudoeste Oeste Norte


% de área de
baixa baixa baixa baixa
envidraçado
Máximo
dimensão da pala
Csa - continental média média grande -
horizontal
I3-V3N
(Tarouca) % de área de
elevada elevada elevada elevada
envidraçado
Mínimo
dimensão da pala
grande sem pala sem pala -
horizontal
% de área de
média baixa baixa baixa
envidraçado
Máximo
Csa - maritima dimensão da pala
média média média -
I1-V3S horizontal
(V R Sto. % de área de
António) elevada elevada elevada elevada
envidraçado
Mínimo
dimensão da pala
grande sem pala sem pala -
horizontal
% de área de
baixa baixa baixa baixa
envidraçado
Máximo
dimensão da pala
Csb - continental sem pala média média -
horizontal
I3-V1N
(Montalegre) % de área de
elevada elevada elevada elevada
envidraçado
Mínimo
dimensão da pala
grande grande sem pala -
horizontal
% de área de
elevada elevada baixa baixa
envidraçado
Máximo
dimensão da pala
Csb - maritima média média média -
horizontal
I1-V1S
(Oeiras) % de área de
média grande grande elevada
envidraçado
Mínimo
dimensão da pala
grande grande sem pala -
horizontal
*a negrito assinalam-se as soluções que não verificam os limites regulamentares das necessidades nominais de energia útil
para aquecimento

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Lamberts, R., Dutra, L., Pereira, F., Eficiência energética na arquitetura, PW Editores, São Paulo,
(1997).
2. Mendonça, P., Habitar sob uma segunda pele, Tese de Doutoramento em Engenharia Civil,
Universidade do Minho, (2005).
3. Santamouris, M., Presentation of the current state in Greece (NKUA). Summer comfort - and
cooling, AIVC Workshop, Barcelona, Spain (31 March & 1 April 2009).
4. Gonçalves, H., Mariz Graça, J., Conceitos Bioclimáticos para os Edifícios em Portugal, DGGE / IP-
3E, (2004).
5. Gonçalves, H., Cabrito, P., Oliveira, M., Patricia, A. Edifícios solares passivos em Portugal, INETI,
(1997).
6. Decreto Lei 78/2006 de 4 de Abril. Sistema nacional de certificação energética e da qualidade do ar
interior nos edifícios (SCE). Lisboa, Portugal, (2006).
7. Decreto Lei 80/2006 de 4 de Abril. Regulamento das características de comportamento térmico dos
edifícios (RCCTE). Lisboa, Portugal, (2006).
8. EU Official Journal. Directive 2010/31/EU of the European Parliament and of the Council (2010).
9. Pina dos Santos, C. e Cordeiro Matias, L. ITE 50 - Coeficientes de transmissão térmica de
elementos da envolvente dos edifícios. ICT Informação técnica. LNEC, (2006).

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