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MATEMÁTICA DE ALUNOS DE PEDAGOGIA
RESUMO
Este trabalho relata a experiência com ferramentas da web 2.0 na formação de alunos de Pedagogia da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), durante uma disciplina voltada para o ensino da Matemática.
Objetivou-se, além da formação docente para o uso pedagógico de tecnologias digitais (TD) na Educação
Matemática (EM), promover o contato de futuros pedagogos com ferramentas que possibilitam
compartilhamento de materiais digitais com potencial educativo. O poder público tem adotado políticas
afim de disseminar a informática educativa nas escolas, haja visto pesquisas relatam que recursos digitais,
como softwares educativos (SE) e objetos de aprendizagem (OA), auxiliam o processo de ensino e
aprendizagem. No caso da EM contribuem para apreensão de conceitos matemáticos, dentre outros
aspectos. Contudo, para efetivação dessas possibilidades, é imperiosa a formação docente para uso desses
“novos” recursos didáticos. O referido curso de Pedagogia reserva pouco espaço no currículo para a
formação em tecnologia. Como forma de proporcionar maior contato dos estudantes com as TD, a unidade
Informática Educativa e a Geometria, da referida disciplina, teve suporte no ciberespaço onde foram
utilizadas ferramentas de edição colaborativa de conteúdo e compartilhamento de arquivos. Para isto,
procedeu-se a criação de um blogue para disponibilizar materiais de apoio didático como: textos, slides e
um instrumental para análise de SE e OA de Matemática. É possível dizer que essa experiência
proporcionou aos discentes aprendizagem colaborativa, uma vez que puderam socializar seus planos de
aula na web e comentar os trabalhos dos colegas. Sobre isso, os estudantes de Pedagogia sinalizaram como
bastante positivo. Esperamos que esta experiência seja disseminada em outras disciplinas do curso e que os
alunos a integrem também em suas futuras práticas docente, seja para o ensino da Matemática como em
outras áreas do conhecimento.
INTRODUÇÃO
Castro Filho et al. (2007) ressaltam que diversas pesquisas corroboram essa ideia.
Estudos como os de Bittar (2010), Gladcheff, Zuffi e Silva (2001) dentre outros, indicam que
o uso de tecnologias digitais (TD) para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem em
* Aluno do curso de Mestrado Acadêmico em Educação da UECE e membro pesquisador do Grupo de Pesquisa
Matemática e Ensino (MAES).
** Aluno do curso de Licenciatura em Pedagogia da UECE e membro do MAES.
***Professora da UECE e coordenadora do MAES (Orientadora).
Educação Matemática (EM), pode contribuir para a apreensão de conceitos matemáticos, além
do desenvolvimento de competências, como raciocínio lógico, dedução, e outros aspectos.
Freire (2011) observa que as TD têm sido utilizadas nas aulas de Matemática para
complementar situações de ensino em que recursos analógicos não são suficientes. Neste
sentido, Mendes (2009) acrescenta que o computador pode exercer um papel decisivo no
ensino de Matemática.
1 A depender de sua finalidade e uso, um software pode ser educativo ou educacional. Educativo é aquele desenvolvido
para o propósito de ser uma ferramenta no auxílio do aprendizado. Já educacional é o programa que não foi idealizado
com o caráter pedagógico, mas pode ser utilizado para esse fim, como uma planilha eletrônica, por exemplo.
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Além da disciplina Tecnologias Digitais em Educação, que tem um caráter mais
geral, englobando conceitos e teorias sobre informática educativa, no caso específico da
Educação Matemática, os futuros pedagogos formados pela UECE têm as disciplinas de
ensino da Matemática2, que recentemente reservaram espaço em seus programas a inserção
das tecnologias digitais como estratégia de ensino. Com isto, entendemos que os espaços para
que os futuros pedagogos vivenciem o uso de tecnologias digitais, ferramentas de
aprendizagem colaborativa em rede, dentre outros recursos disponíveis, inclusive na internet,
ainda são muito restritos.
O objetivo da experiência aqui relatada foi, além da formação docente para o uso
pedagógico de tecnologias digitais na EM, promover o contato de futuros pedagogos com
ferramentas que possibilitam compartilhamento de materiais digitais com potencial educativo.
Tais recursos possibilitam uma maior interação entre os pares no ciberespaço, e cria um
ambiente que favorece a aprendizagem colaborativa. Como sugere Valente (2009, p. 104)
2 Existem duas disciplinas para o ensino de Matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Enquanto Matemática I é destinada aos conteúdos de Aritmética (Números e Operações e Tratamento da Informação),
Matemática II foca a Geometria (Espaço e Forma e Grandezas e Medidas).
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A DISCIPLINA DE ENSINO DE MATEMÁTICA COM USO DA WEB 2.0
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A web 2.0 e suas relações com a educação
Uma vez que essas tecnologias intelectuais materializam-se nos artefatos digitais
de alta plasticidade, facilidade de alteração, reprodução e transferência, trabalhar com estes
objetos culturais, estabelece um outro patamar potencial ao desenvolvimento da inteligência
individual e coletiva dos grupos inseridos neste cenário, implicando mudanças profundas à
prática de educação e formação.
Reconhecemos o computador como ferramenta de maior destaque dentro deste
contexto de mudanças sociais. Porém a invasão dessas máquinas nos diferentes ambientes
educacionais e o uso de tecnologias intelectuais, mediadas por elas, não foram ainda
devidamente aprofundadas e estão, estas mesmas tecnologias, sujeitas ao constante ritmo de
mudanças que seus usos implementam na sociedade.
Portanto, julgamos oportuno trabalhar dentro da disciplina com elementos
vinculados ao uso do computador conectado à rede mundial de computadores, pela
possibilidade de experimentar essas características anunciadas por Lévy (1999). É importante
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ressaltar, porém, que estas podem ser apreciadas com maior profundidade através do que vem
sendo chamado de web 2.0.
Utilizaremos este termo, mesmo reconhecendo que “ainda existe um enorme
desacordo sobre o que significa web 2.0, com alguns menosprezando a expressão - como
sendo um termo de marketing sem nenhum sentido e outros aceitando-a - como a nova forma
convencional de conhecimento” (O'REILLY, 2005. p. 1). Considerando isto, nos apoiaremos
no conceito difundido por Anderson (apud Martins, 2008, p. 108) que concebe a web 2.0
como “um conjunto de tecnologias associadas aos termos: blog, wiki, podcast, rss, feeds etc
que facilita uma conexão mais social da web e onde toda a gente pode adicionar e editar
informação”.
Tal opção pelo termo pode ser melhor compreendida quando observamos as
principais características emanadas dos usos da internet desde sua popularização. Até meados
da década de 1990, a internet tinha uma maior ênfase em seu uso a partir da compreensão da
mesma como um enorme repositório mundial de informações e conteúdos que permitiriam
que seus usuários de diversos locais, colaborassem entre si, porém de forma restrita. Essa
estrutura pode ser comparada à estrutura hierarquizada onde os pares podem facilmente ser
identificados enquanto provedor e usuário.
No entanto, a própria dinâmica do uso da rede em relação às atividades locais e
globais passaram a delinear outras posturas das empresas que utilizavam-na para negociar
produtos e serviços, bem como dos novos usuários que, enfim, legitimam usos e demandam
mudanças nos padrões estabelecidos.
O delineamento da web como plataforma, onde serviços e produtos passam a
diferenciar-se cada vez menos, requer outra postura do usuário, estabelecendo outra cultura
tecnológica. A crescente descentralização e redefinição das características dos usuários faz
com que, cada vez mais, todos os usuários da web sejam autores e operadores das
informações, ao invés de simples usuários ou destinatários dos artefatos presentes na rede.
A mudança em questão atinge profundamente as relações entre estes elementos e a
esta mudança axial, é o que O'Reilly batiza por web 2.0, compreendendo a rede como um
lugar sem fronteiras rígidas mas, pelo contrário caracterizada por um centro gravitacional
estabelecido sobre as seguintes características, quais sejam: i) serviços ao invés de software
“empacotado”; ii) arquitetura de participação; iii) escalabilidade de custo eficiente; iv) fonte e
transformação de dados remixáveis; v) software em mais de um dispositivo; e vi) emprego da
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inteligência coletiva (O'REILLY, 2005).
A nova organização estabelecida facilita o acesso e a navegabilidade na web
requerendo menos habilidades técnicas, deslocando o foco para o uso da rede de modo a
estimular a participação dos usuários em outro nível de interação social, seja através de
comentários em sites de grandes jornais, ou pela possibilidade de criar paginas pessoais onde
podemos lançar para usuários do mundo inteiro nossas próprias produções.
Ao discutir a web 2.0, com foco na educação, Marinho (2010, p. 201) ressalta a
possibilidade dos usuários poderem “se tornar, além de (co)autor ou (co)produtor, distribuidor
de conteúdos, compartilhando a sua produção com os demais indivíduos imersos em uma
cibercultura”. Carvalho (2008, p. 8), por seu turno, ao estabelecer uma correspondência entre
atividades na web 2.0 e educação afirma que:
Escrever on line é estimulante para os professores e para os alunos. Além
disso, muitos dos alunos passam a ser muito mais empenhados e
responsáveis pelas suas publicações (RICHARDSON, 2006). Neste
momento, os agentes educativos podem, com toda a facilidade, escrever on
line no blogue, gravar um assunto no podcast ou disponibilizar um filme no
YouTube. O ambiente de trabalho deixa de estar no computador pessoal do
professor e passa a estar online, sempre acessível, a partir de qualquer lugar
do planeta com acesso à internet.
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conteúdos desenvolvidos ao longo do curso de formação, no entanto, o mesmo não prescinde
ou pode ocorrer de modo apartado da habilitação para o uso destas tecnologias. Acreditamos
que este é o sentido que devemos imprimir à nossa prática educacional, apresentando recursos
e aplicações, potenciais e limites ao uso das tecnologias digitais na educação. É necessário
compreender que “as ideias apresentadas, por exemplo, num blogue são, como salienta
Siemens (2002), o ponto de partida para o diálogo, não o ponto de chegada” (CARVALHO,
2008. p.12).
Apresentaremos a seguir as ferramentas da web 2.0 que utilizamos em nossa
prática, considerando objetivos de aprendizagem a serem alcançados.
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diferentes serviços que permitam compartilhamento e edição, inclusive simultânea, de
arquivos criados pelos seus usuários.
Atualmente a referida suíte de aplicativos on line é composta por: processador de
texto, programa de apresentações, planilha eletrônica, gerenciador de formulários e editor de
imagens. Alguns dos recursos mais peculiares são a portabilidade de documentos, que permite
a edição do mesmo documento por mais de um usuário e o recurso de publicação direta em
blogue ou site.
No caso da disponibilização de conteúdo em domínio público assume certa
relevância em virtude da ideia de socializar o conhecimento construído. Utilizando o
GoogleDocs, por exemplo, é possível produzir um artigo coletivo, criar um formulário para
coleta de dados de uma pesquisa e depois tabulá-los numa planilha eletrônica, dentre outras
possibilidades. Nessa experiência, o serviço do GoogleDocs foi utilizado para a criação de um
questionário submetido aos alunos sobre a concepção deles acerca de sua formação para uso
pedagógico de tecnologias digitais.
Contudo, no que compete ao uso da ferramenta à luz dos objetivos de
aprendizagem do curso, diz respeito ao instrumental de classificação dos recursos explorados
na disciplina. A função formulários do GoogleDocs foi utilizada na montagem de um
questionário para avaliação de softwares e objetos de aprendizagem apresentados aos alunos,
denominado Formulário para classificação de recursos digitais para o ensino da Geometria 4.
Os alunos foram convidados a preenchê-lo a partir das discussões feitas em sala e das leituras
relacionados ao assunto. Para essa atividade os alunos puderam consultar os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) de Matemática, o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCN), utilizados como referências bibliográficas, ambos em versões
digitais, além dos slides da apresentação da aula e outros textos indicados.
Para essa atividade os estudantes tinham que preencher itens do formulário,
considerando:
• Nome do recurso ou da seção para que no documento final pudesse ser
identificado;
• Tipo de recurso, se tratava-se de um OA ou SE;
• Abordagem pedagógica em que se baseia. De acordo com as referências
estudadas, os recursos poderia ser construcionista ou instrucionista;
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• Público alvo a que se destina, pois considerando que o espaço de atuação do
pedagogo, os recursos tinham que ser classificados quanto à faixa etária escolar
(Educação Infantil, 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental);
• Bloco de conteúdo de Geometria explorado, segundo as diretrizes curriculares
oficiais. Os estudantes tiveram que considerar se o recurso estaria apto para o
trabalho com Espaço e forma ou Grandezas e medidas;
• Identificar conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, explorados pelas
diretrizes curriculares oficiais como elementos importantes para o processo de
ensino e aprendizagem; e
• Indicar sugestões aos recursos visando sua melhoria seja no âmbito técnico, como,
principalmente, de ordem pedagógica.
Ao final, os estudantes puderam ter um único documento com uma série de
recursos classificados e que poderá contribuir para suas futuras práticas docente.
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Compartilhamento e produção de apresentações através do Slideshare
Na mesma filosofia da ferramenta anterior, o SlideShare constitui uma
comunidade mundial de compartilhamento de apresentações de slides. A ferramenta serve de
ambiente para criação e compartilhamento de apresentações que podem ser incorporados às
outras ferramentas da web 2.0, permitindo uma divulgação de profundo alcance.
O serviço do SlideShare foi utilizado na disciplina para que, além da
disponibilização das apresentações das aulas, os alunos estruturassem a atividade final. A
ideia era fazer com que as produções servissem como uma espécie de portfólio para os alunos,
em que eles pudessem consultar quando desejassem. Assim, foi indicado que o trabalho fosse
apresentado em forma de slides, disponibilizado no referido repositório on line e depois
incorporado ao blogue para que todos tivessem acesso. Importa observar que eram elementos
necessários na apresentação: i) apresentação com imagem do recurso; ii) objetivos da aula;
iii) metodologia adotada; iv) material utilizado e, v) forma de avaliação.
Em seguida, uma vez as propostas de aula incorporadas ao blogue em forma de
apresentação, os alunos tiveram que acessar as atividades dos colegas e tecer comentários.
Com esta prática pretendeu-se, não apenas instrumentalizar os alunos acerca dos recursos
digitais explorados na disciplina e os processos pedagógicos envolvidos, mas também
permitir que houvesse interação e trocas entre eles, dentro da perspectiva da aprendizagem
colaborativa em rede.
Como esta atividade compunha parte da nota final, todos os alunos comentaram,
pelo menos, cinco planos de aulas de colegas. Convém registrar que não observamos a
presença de tímidos-virtuais (BORBA; MALHEIROS; ZULATTO, 2001). Pelo contrário.
Acreditamos, a exemplo de experiências passadas, que a apresentação virtual foi mais
proveitosa do que o encontro presencial. Os estudantes participaram de fato, comentando os
trabalhos dos demais, apresentando sugestões e, devido a necessidade da conclusão da tarefa,
assistiram a apresentação, não necessariamente no horária de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Lévy (1999) “toda e qualquer reflexão séria sobre o devir dos sistemas de
educação e formação na cibercultura deve apoiar-se numa análise prévia da mutação
contemporânea da relação com o saber”. A experiência relatada busca auxiliar a construção
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desse devir junto aos professores em formação no curso de Pedagogia da UECE.
A experiência proporcionou aos envolvidos na disciplina uma oportunidade de
aprendizagem colaborativa, seja através da socialização dos planos de aula na web,
comentários feitos aos trabalhos dos colegas e ainda pelo esforço de utilizar o computador e a
web 2.0 como recursos didáticos. Ademais todos vivenciaram espaços diferentes de aula.
Além da experiência de aprendizado em um espaço físico diferente, tiveram ainda acesso a
práticas do ciberespaço.
Outro ponto relevante foi a percepção de que a Matemática pode ser trabalhada
em outra perspectiva. Os estudantes assumiram em suas colocações que passaram a conhecer
estratégias de ensino com uso de TD que focavam desde o lúdico, devido as práticas com uso
de jogos educativos de Matemática, a propostas que visavam o desenvolvimento formal de
diferentes modos de pensar.
Sobre as práticas que vivenciaram, os estudantes de Pedagogia sinalizaram como
uma oportunidade bastante positiva. Com isto, esperamos que esta experiência seja
disseminada em outras disciplinas e cursos voltados para a formação de professores.
Esperamos contribuir deste modo para os pedagogos egressos da UECE possuam uma
formação que auxilie na integração destes recursos em futuras práticas docente, para o ensino
da Matemática e em outras áreas do conhecimento.
REFERÊNCIAS
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aprendizagem. Uberlândia: EDUFU, 2007.
MARINHO, S. P. P. Redes sociais virtuais: terão elas espaço na escola? In: DALBEN, Â. I. L.
de F.; PEREIRA, J. E. D.; LEAL, L. de F. V.; SANTOS, L. L. de C. P. (Orgs.).
Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte:
Autêntica, 2010, p. 197-213 – (Didática e prática de ensino).
O’REILLY, T. O que é Web 2.0. padrões de design e modelos de negócios para a nova
geração de software. 2005. nov/2006. Disponível em
<http://www.oreillynet.com/lpt/a/6228>. Acesso em 13/04/2011.
SOUZA, M de. F. C.; CASTRO FILHO, J. A de.; PEQUENO, M. C.; BARRETO, D. C.;
BARRETO, N. C. Desenvolvimento de habilidades em tecnologias da informação e
comunicação (TIC) através de objetos de aprendizagem. In: PRATA, C. L.; NASCIMENTO,
A. C. A. de A. (Orgs). Objeto de aprendizagem: uma proposta de recurso pedagógico.
Brasília: MEC/SEED, 2007. p. 161.
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Fonte (Belo Horizonte), v. 5, p. 105-113, 2009.
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