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que se perde pelo primeiro e sés adquire pelo segundo, sendo os direitos derivados
da concessão próprios do Estado, mas transferidos ao concessionário, como ocorre
com a concessão de serviço público e obra pública, concessões patrocinadas e
administrativas.
Já a concessão constitutiva é aquela em que o Estado, amparado em poder
próprio, confere a concessionário poder menos amplo, como quando há concessão
de uso de bem público. Entende que, no aspecto formal, é sempre contrato
administrativo sujeito a um regime público, e no aspecto material, na concessão
translativa é delegação de parte dos poderes estatais, direitos, vantagens para o
concessionário; na modalidade constitutiva, há apenas consentimento estatal para
que o concessionário utilize de parte de bem público, todavia o direito exercido pelo
concessionário sobre o bem não tem a mesma natureza daquele que o Estado
exerce sobre ele.
Em qualquer dos casos, observa Di Pietro, há uma reserva feita pelo ente
estatal de direitos, poderes e vantagens, por exemplo, fiscalizar, punir e rescindir
unilateralmente o contrato.
Passando a outro ponto importante, quanto à concessão de serviços públicos,
a autora comenta que deve ser entendida não em sentido restrito, conforme o que
define a Lei Federal nº 8.987/1995, no artigo 2º, inciso II. Por isso conceitua como
sendo “o contrato administrativo pelo qual a Administração Pública delega a outrem
a execução de um serviço público, para que o execute em seu próprio nome, por
sua conta e risco, mediante tarifa paga pelo usuário ou outra forma de remuneração
decorrente de exploração do serviço” (p. 75).
O serviço público encerra idéias antitéticas, que permitem dimensioná-lo. Por
um lado, refere-se a serviço focalizado em interesse geral embasado em autoridade
da Administração, de outro diz respeito a empresa capitalista interessada em
maximizar seu ganho econômico.
A concessão é decorrência não de determinação legal em si, autorizando-a,
mas do poder regulamenter inerente à Administração Pública. Por sua vez, envolve
prerrogativas concedidas ao concessionário, que têm direta ligação com o que é
próprio do exercício do poder público, mas não estão dissociadas dos princípios
informadores para toda execução de um serviço público, como por exemplo,
princípio da continuidade do serviço público, condição sine qua non para a
adequabilidade do serviço, com as exceções legais, previstas no artigo 6º, parágrafo
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há como uma pessoa jurídica política (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)
instituir uma pessoa jurídica para desempenhar atividades que são próprias do ente
instituidor deixando-a fora do âmbito de atuação do Estado, como se tivesse sido
instituída pela iniciativa privada” (p. 241).
A partir da lei citada, para a autora, os consórcios devem ser considerados
pessoas jurídicas políticas, dotadas de personalidade de direito público ou direito
privado, criadas por meio de autorização legislativa, para que realização associada
de certos serviços públicos.
Já com relação às parcerias com o terceiro setor, destaca-se a emergência
deste no cenário de redução do tamanho do Estado, no contexto das reformas da
Administração Pública, constituindo uma forma de responder às demandas relativas
ao interesse público.
Segundo o ensinamento da autora, o terceiro setor é constituído por
entidades privadas, constituídas a partir da iniciativa privada, realizando serviços de
interesse público não exclusivos do ente estatal, com ele colaborando, podendo
receber auxílio ou incentivo, neste caso ficando sob o controle da Administração
Pública e pelo Tribunal de Contas.
Um instrumento importante é o contrato de gestão com organizações sociais,
pelo qual busca-se oferecer parâmetros de desempenho adequados aos propósitos
da realização eficiente dos serviços, a partir de mecanismos de subsídio oferecidos
pelo Estado, em troca da possibilidade de controle dos resultados. Para a autora, é
um mecanismo importante para viabilizar a consecução de metas e objetivos de real
interesse social, observando porém, no caso das organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIPS), desvirtuamentos finalísticos, principalmente pelo fato de
não se limitarem à realização de atividades privadas de efetivo interesse público.
De outro lado, o Estado não pode atuar senão para fomento, não sendo
admissível delegar a elas serviços públicos ou contratá-las para execução de
serviços ou de obras na forma de empreitada, ou mesmo somente para fornecer
mão-de-obra. Quando admissível tal contratação, é indispensável observância às
leis de licitação, não cabendo a parceria.
Por fim, a autora comenta sobre a utilização indevida da parceria com o setor
privado como forma de fugir ao regime jurídico publicístico. Afirma que se trata de
subterfúgio pelo qual as chamadas fundações de apoio, em princípio criadas para
colaborar com a Administração Pública em prol do interesse coletivo, estabelecem
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formas de favorecimento dos recursos públicos sem que venham a ser integradas ao
regime da Administração Pública Indireta por força do repasse de verbas públicas,
de modo que, como observa Di Pietro “os dirigentes dessas entidades ditas de
apoio, que complementam seus vencimentos com receitas oriundas da utilização do
patrimônio público” (p. 285).
Com isso, estabelece-se situação singular, pois não está prevista na
Constituição, que fala apenas em instituições do Poder Público ou instituídas e
mantidas pelo Poder Público, todavia a singular forma como se constituem e atuam
as fundações de apoio permite estabelecer uma sistemática paralela de usufruto das
benesses do Poder Público por meio da captação de recursos sem que sejam
diretamente controladas.
Para Di Pietro, é inadmissível a celebração de acordos de cooperação com
essas entidades, pois são, na verdade, contratos e como tal não podem ser
realizados sem licitação, entendendo que se caracterizam como contratos de
gestão, para prestação de serviços remunerados por meio de taxa de administração.
Ainda que o critério da eficiência seja elemento justificador para realizar tais
acordos, é preciso o rigor do controle legal e a melhor disciplina nesse campo.
Por fim, quanto aos riscos para o princípio da legalidade, Di Pietro suscita a
necessidade preocupação com a questão, já que o Direito Administrativo brasileiro
não nasce de decisões judiciais, como ocorre na França, mas do direito positivo, e
como no Brasil burlar a lei é sempre algo buscado ou uma tentação, não faltam
iniciativas e estratégias, inclusive no campo da reforma administrativa, daí a
relevância da estrita atenção a um processo legislativo prévio, que tende a ser
desconsiderado inclusive pelo Estado, neste caso com a justificativa de que a lei
obsta e atrasa as reformas necessárias em várias áreas.
Daí resulta uma contradição: a Administração Pública nasce e se desenvolve
sob o amparo legal, e ao mesmo tempo, na vida da modernização, se encaminha
para formas alternativas de estruturação ou atuação paralelamente ao direito
positivo que lhe deu origem.
Nas palavras da autora: “No entanto, ao invés de flexibilizar os meios de
atuação da Administração Pública, pela alteração dos dispositivos legais e
constitucionais que a emperram, prefere-se manter a rigidez do direito positivo e a
procura de formas paralelas à margem desse mesmo direito.” (p. 297).