Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Poucos temas têm merecido tanta atenção hoje, como o da violência. Para muitos
autores, um dos signos da contemporaneidade é a insegurança, a impotência, o
medo de que os mais diversos tipos de violência nos atinjam, quer como membro
de uma coletividade, quer no plano da vida privada, desestabilizando
individualidades (ver entre outros, Boudon, 1993 e Bourdieu, 1997).
Enquanto um conceito mais restrito pode deixar de fora parte das vítimas, uma
definição muito ampla recorre no perigo de não levar em conta as micro violências,
a violência verbal, a violência simbólica, moral, do cotidiano.
Roché (1994) aponta que violências delimitadas pelo Código Penal consistem
apenas em um dos níveis da violência - o mais elevado, sem dúvida; mas elas não
são as mais comuns, nem as mais freqüentes e não são necessariamente as que
causam angústia e perturbam os sujeitos no seu dia a dia. Desse modo, a
categorização proposta pelo Código Penal (crimes e delitos contra a pessoa, a
propriedade e a Nação, o Estado e a vida pública) é útil, mas não dá conta da
extensão do fenômeno.
Roché (idem) também considera limitada a abordagem que restringe o conceito de
violência à violência física, na medida que tal definição não leva em conta que
pode existir um componente forte de subjetividade no entendimento que um
indivíduo tem do fenômeno. E, mais do que isso, tal leitura desconsidera que a
percepção do que é ou não violência, nem sempre se sustenta em fatos
concretos, e sim em sensações e em “rumores” que circulam no social - um
exemplo é o que se conhece como sentimento de insegurança, que leva as
pessoas a se recolherem em si mesmas e nos espaços privados, às vezes
simplesmente porque têm medo do risco de serem vítimas de violência.
Juventudes
Quando questionados sobre o marco que define o início da juventude 42,7% dos
respondentes concentraram-se nas opções que englobaram a faixa etária de 13 a
15 anos. É válido apontar, conforme a tabela em destaque, que desses 20,6
assinalaram a opção de 15 anos, como marco que inaugura a juventude, o que
coincide com os parâmetros dos que trabalham sobre as juventudes. No entanto
um número significativo considera ser jovem dos 10 aos 12 anos de idade (20%),
mostrando que a condição de passar de criança ao reconhecimento de ser jovem
é esperada, com certa ansiedade, mesmo que seja em termos formais.
Tabela - Distribuição da População Jovem segundo idade em que a pessoa deixa de ser
criança e passa a ser jovem, Brasil - 2004
Foi perguntado ao jovem: Na sua opinião, qual a idade que uma pessoa deixa de ser criança e se transforma em um
jovem?
Segundo Pais (1977: 22) nas representações mais comuns sobre juventude, os
jovens são tomados como fazendo parte de um grupo “unitário”. Mas o que se
coloca como importante para a sociologia é poder explorar tanto as similaridades
como as diferenças sociais que existem entre os jovens, ou seja, a sua
diversidade.
Há (idem: 23) duas tendências para se analisar a juventude:
1- Quando prevalece a busca de aspectos uniformes e homogêneos que
caracterizam esta fase da vida
2- Quando se considera a juventude como um conjunto social diversificado,
levando em conta a classe social, situações econômicas, interesses,
facilidades e dificuldades.
Mas o que é ser jovem na nossa sociedade, qual a situação dessa vasta camada
da população, tão escondida até recentemente e descoberta em função de suas
transgressões, de denúncias sobre o seu comportamento, de comentários sobre
sua forma de vestir, de falar, sobre seus piercings e sua música?
Viver em grupo, ser veloz, buscar de forma incessante novidades é quase uma
condição do ser jovem. Ser transgressor, com aspas e sem aspas, pode
desencadear comportamentos violentos ou abrir margem para a discussão de
soluções para os problemas que tenham como base as capacidades e os recursos
que os jovens possuem são características das Juventudes.
Os jovens vivem em uma época onde acontecem profundas transformações
econômicas e de valores na nossa sociedade, o que afeta a sua transição para a
vida de adulta. Existem muitos e diversos grupos juvenis, com características
particulares e específicas, que sofrem influências multi-culturais e que de certa
forma são globalizados, além da presença que os bens de consumo possuem em
suas vidas. Vivemos em uma sociedade de consumo ostentatória que suscita no
conjunto das juventudes aspirações e frustrações, no seio de uma sociedade que
apresenta fortes desigualdades sociais.
Características da juventude
Ano
População
1970 1980 1991 2000
Total da População
93.139.037 118.562.549 146.639.039 169.799.170
Brasileira
Jovens de 15 a 29 anos 25.043.157 34.531.408 41.220.428 47.930.995
Proporção de Jovens em
26,9% 29,0% 28,1% 28,2%
Relação a População Total
Classe Socioeconômica N %
Classe A 621.158 1,3%
Classe B 5.393.905 11,2%
Classe C 15.112.448 31,6%
Classe D 19.798.177 41,4%
Classe E 6.906.983 14,4%
Total 47.832.671 100,0%
*
Classe segundo critério de classificação econômica Brasil, ver metodologia.
Quando se trata especificamente dos jovens, tem-se que 53,5% desses se auto-
33,5% e os que se referem como negros 11,4%. 0,9% dos jovens brasileiros
movimento negro e vários autores sobre a questão racial no Brasil forem seguidos,
ou seja, de considerar como da raça negra, os que se declaram quer como pardos
ou morenos, quer como negros têm-se que os jovens da raça negra perfazem
Condição do
N %
Município
Urbano
14.517.107 30,3%
Metropolitano
Urbano não
19.317.137 40,4%
Metropolitano
Rural 13.998.427 29,3%
Total 47.832.671 100,0%
Não há dúvida que vivemos épocas difíceis onde a violência permea os espaços
que freqüentamos que convivemos. Os jovens são os mais atingidos em nossa
sociedade, pela violência. Segundo o Mapa da Violência, do ano 2000, 2/3 de
nossos jovens morreram por causas externas e o maior responsável foi o
homicídio principalmente nas capitais brasileiras. O Mapa da Violência de 2004
mostra que a taxa de homicídios dos jovens em 1993 era de 34,5 em 100.000
habitantes enquanto que em 2002 elevou-se para 54,7. Se a análise é realizada
por raça/cor. Enquanto que a dos jovens negros é de 68,4 por 100.000 habitantes
de jovens brancos é de 39,2.
2- a juvenilização da criminalidade
3- a violência policial
Porcentagem
Tipo de Agressão N de
Respostas
Foi assaltado 4.395.357 30,3%
Foi ameaçado por alguma
3.765.097 25,9%
pessoa
Foi furtado e/ou roubado 3.129.238 21,5%
Sofreu tentativa de homicídio 597.230 4,1%
Sofreu agressão policial 1.825.088 12,6%
Sofreu agressão a mais de 2
281.919 1,9%
anos
Nenhuma destas 535.196 3,7%
Total 14.529.126 100,0%
OCORRÊNCIAS
DE VIOLÊNCIA
SEXO Total
NO BAIRRO
QUE MORA
MAS FEM
Brigas 11.774.438 12.954.579 24.729.017
24,6% 27,1% 51,7%-1
Violência policial 2.312.428 1.519.363 3.831.790
4,8% 3,2% 8,0%
Tiroteios 3.157.973 3.287.098 6.445.071
6,6% 6,9% 13,5%
Casos de estupro e/ 449.148 1.017.649 1.466.797
0,9% 2,1% 3,1%
Extorsão por parte d 215.048 210.255 425.304
0,4% 0,4% 0,9%
Ameaças 2.174.257 1.901.983 4.076.239
4,5% 4,0% 8,5%
Presença de
1.839.201 2.063.634 3.902.834
“gangues
3,8% 4,3% 8,2%
Consumo de drogas 10.167.203 10.936.481 21.103.684
21,3% 22,9% 44,1%-2
Tráfico 4.691.492 3.941.536 8.633.028
9,8% 8,2% 18,0%-4
Trânsito 2.517.897 2.121.391 4.639.287
5,3% 4,4% 9,7%
Assaltos 6.502.179 7.452.762 13.954.942
13,6% 15,6% 29,2%-3
Nenhuma destas 3.451.606 3.388.833 6.840.439
7,2% 7,1% 14,3%
Não opinou 492.235 506.512 998.747
1,0% 1,1% 2,1%
Total 23.696.849 24.135.821 47.832.671
49,5% 50,5% 100,0%
Hoje menos se escuta falar sobre gangues e o tráfico tomou um vulto conhecido
por todos nós. Esse fenômeno está, sem dúvida, relacionado com aprofunda crise
de nossas instituições, já que há determinadas metas de sucesso que os jovens
não podem atingir por meios legítimos ( Merton, 1949), o que acarreta um grande
sentimento de impotência individual, com desconfiança na sociedade , eclodindo
as relações de cidadania, criando sub-culturas do crime e ditando suas próprias
regras, códigos de valores e comportamentos alheios aos da sociedade em geral,
com efeitos dramáticos para a juventude.
A perspectiva de trabalho, de uma rápida ascensão social faz com que jovens
façam a opção pelo tráfico ou como dizia um dos entrevistados de uma pesquisa
realizada no Rio de Janeiro: Eu sei que vou viver pouco, mas quero viver bem:
um Nike, roupa de marca ,e uma loira.
O futuro é uma incógnita, visto com um real pessimismo: O futuro, se ele existe-
não vou ter futuro não- é (...) fora da lei e perto da morte e depende de conseguir
sair vivo de uma guerra de poder sobreviver cada dia.
E ser traficante pode significar um sonho e uma realidade:O que que a gente tem
chance de ser? O máximo que chega é ser traficante. O máximo de sonho que a
gente tem. O futuro da gente depende deles. O futuro da gente aqui é ser
traficante. Eu penso em ter uma casa, um carro, uma família, mas não dá. Se a
gente quiser ter futuro.vamos ser traficantes.
Dowdney( 2003) analisa os principais atrativos que fazem com que crianças e
jovens entrem no mundo do tráfico:
3- emoção e adrenalina
TABELA
Quando inquiridos a dizer, em relação à vida que vem levando hoje, 6% dos
jovens brasileiros responderam estar muito satisfeito, 69% satisfeitos, 22%
insatisfeitos e 2% muito insatisfeitos. Isto significa dizer que 75% dos jovens
brasileiros, ou 3/4 da população entre 15 a 29 anos de idade, estão muito
satisfeitos e satisfeitos.
A família é a principal razão de 43% dos jovens para estar satisfeito ou muito
satisfeito. A segunda razão mais apontada é a saúde (26%), seguida pelo
emprego (8%).
Michaud (1989
(Lipovetsky, G. 2005).
Peralva(2000)
Wieviorka (2004
– José Machado Pais Culturas Juvenis, Imprensa Nacional, casa da Moeda, Lisboa,-
CONFIRMAR- 1997).
PERALVA, Angelina. Violência e Democracia - O paraíso Brasileiro. Paz e Terra, São Paulo, 2000.