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A LEITURA COMO FORMA SIMBÓLICA: O LETRAMENTO IDEOLÓGICO

Marlei Gomes da Silva Malinoski


Mestre em Educação
Universidade Tuiuti do Paraná

INTRODUÇÃO

O objeto de investigação é a leitura e sua representação como forma estruturada de


cultura nas práticas escolares. Questiona-se até que ponto o ensino de leitura nas escolas
privilegia a leitura parafrásica, aquela que repisa o dito pelo autor e que foi registrado
como código na forma de texto; ou polissêmica em que se percebem as múltiplas vozes
ditas e as fronteiras possíveis do discurso lido. Como foi expresso por (BAKHTIN,
2002 p.111) de que não há território interior no domínio cultural, apenas os que estão
situados nas fronteiras da vida cultural do indivíduo, fora dessas fronteiras ele perderá
seu terreno e se tornará vazio e morrerá. Morrerá, pois não encontrará significado ou
representação no outro.

As fronteiras da leitura escolar podem estar vinculadas aos projetos de letramento


adotados como práticas de reflexão. Como apresentado por Kleiman (2001, p.45) o
letramento configura-se “como as práticas sociais de leitura e de escrita adquiridas por
uma coletividade”, ou seja, o letramento será diretamente proporcional aos eventos de
letramento de uma sociedade, compreendendo eventos de letramento como situações
variadas de leitura, que promovam, ou não, relações de sentido e culturais.

Os dois modelos de letramento escolar enunciados por Street (1984)1: são o autônomo e
o ideológico. No modelo autônomo a escrita e dela a leitura são vistas como blocos
completos em si mesmos e o letramento é compreendido como um fenômeno isolado de
contextos de interação. Desta forma, não se considera fatores sociais de produção e
interpretação.

A leitura é compreendida como ato isolado do indivíduo, mera ação cognitiva de


decifrar um código registrado sobre um texto. O que demonstra uma ação sobre o lido
equivocada, pois não há como interpretar uma informação ignorando a forma como essa
se processa no indivíduo e ecoa nas suas percepções culturais

1
STREET, V. B. (1984)
O segundo modelo, o ideológico, apresenta uma retomada crítica da escrita e da leitura,
compreende que as práticas de letramento dependem da sociedade e das ideologias
veiculas e que a leitura é uma forma de construção de identidade e de percepção dos
jogos de poder social. Dessa forma, a investigação busca delinear o quanto a não
compreensão leitora na Educação Básica é gerada pela Violência Simbólica. O termo
será tratado na pesquisa segundo a definição dada por Bourdieu: “violência simbólica:
termo que explicaria a adesão dos dominados em um campo: trata-se da dominação
consentida, pela aceitação das regras e crenças partilhadas como se fossem “naturais”, e
da incapacidade crítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais regras impostas pelas
autoridades dominantes de um campo”. Isso em conformidade a detenção de um capital
cultural e social que facilite a participação e a construção do habitus.

OBJETIVOS

A abordagem, da pesquisa, visa compreender como a leitura é apresentada nas práticas


cotidianas da escola, que modelo de letramento configura e como essas refletem nos
índices de avaliação institucional, que indicam um fracasso escolar nas práticas de
leitura e o surgimento crescente de analfabetos funcionais, investigando a relação das
práticas realizadas nas escolas e as questões propostas na PROVA BRASIL.

O enfoque na avaliação se prioriza, pois o processo de avaliação abrange todas as


facetas do ato de educar, entendendo-se por avaliação um processo mais amplo do que a
simples aferição de conhecimentos constituídos pelos alunos em um determinado
momento de sua trajetória escolar.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Levantamento teórico sobre o tema leitura e violência simbólica

Utilizando a indagação, que intitula um dos artigos de Orlandi (2006): leitura seria uma
questão lingüística, pedagógica ou social? O autor alerta para o perigo de incutirmos no
erro de dissociarmos as categorias, pois a leitura é ao mesmo tempo lingüística,
pedagógica e social, pois só se efetiva como prática discursiva, como aponta Orlandi:
Não acredito que se deva restringir a reflexão da leitura ao seu caráter mais técnico. Isso
conduz ao tratamento da leitura apenas em termos de estratégias pedagógicas
exageradamente imediatistas. E a leitura deve ter, na escola, uma importante função no
trabalho intelectual geral. Na perspectiva imediatista, as soluções propostas colocam à
disposição do aluno apenas mais um artefato escolar pronunciadamente instrumental.
Visando a urgência de resultados escolares, se passa por cima de aspectos fundamentais
que atestam a história das relações com o conhecimento tal como ele se dá em nossa
sociedade, assim como sobre a história particular de nossas instituições do saber e seus
programas. (ORLANDI, 2006 p.36).

Pesquisa de Análise de Conteúdo

A pesquisa desenvolveu uma análise sobre o ensino de leitura apresentado na escola e


avaliado pelos sistemas educacionais e estabelecer “o conflito de valorização simbólica”
estabelecida por não se compreender a leitura como símbolo cultural e veículo de
ideologias, o que propicia um direcionamento de abstração dos sentidos de um texto,
possibilitando o que Bourdieu enunciou como “violência simbólica”, ou seja, uma
forma de dominação consentida pela aceitação de regras não significadas e desta forma
não expostas à crítica. Para tanto utilizou as Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná
e os modelos disponibilizados de questões da PROVA BRASIL, edições de 2005 e
2007.

A hipótese inicial, que permeia a investigação é a de que a leitura, quando não valorada
como símbolo cultural torna o sujeito cada vez mais favorável às relações de dominação
por ideologias, o que reitera uma relação desigual de poder. Para melhor compreender
esse raciocínio recorreu-se a Thompson para definir o que vem a ser uma ideologia
crítica.

(...) as maneiras como o sentido é construído e transmitido pelas formas simbólicas e


serve, em circunstâncias particulares, para estabelecer e sustentar relações sociais
estruturadas das quais alguns indivíduos e grupos se beneficiam mais que outros, e que
alguns indivíduos ou grupos têm um interesse em preservar, enquanto outros procuram
contestar. (THOMPSON, 2007, p. 96).

O que nega um dos pressupostos estabelecidos nas avaliações institucionais, que seria o
de subsidiar políticas que propiciassem a qualidade e a equidade educacional, sem
privilegiar a um grupo específico.

Os discursos “oficiais” escolares reforçam a idéia de que ler é uma questão de hábito ou
gosto, que se adquire por vontade individual, independentemente dos vínculos sociais
estabelecidos pelo sujeito. O que demonstra uma interpretação equivocada, pois não há
como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no
indivíduo e nas suas relações individuais com a cultura.
Se pensarmos na leitura como um fenômeno social, que por sua vez é representado de
forma simbólica, compreenderemos a luz de Bourdieu, (1998) que o hábito de leitura
não existe e sim o habitus do leitor, que não é uma característica inata do indivíduo é
uma determinação de trocas significativas de cultura entre pares sociais, que
naturalmente determinarão a percepção, aceitação ou refutação do lido.
A pesquisa encontra-se na elaboração do relatório final e do artigo conclusivo.

Bourdieu (2001, p.212) declara que “diante de um livro estamos frente a diferentes
instrumentos de compreensão”. A leitura é um processo de apropriação do
conhecimento, assim obedece às mesmas leis de outras práticas culturais. Pois, não há
como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no
indivíduo e nas suas relações individuais. Para Bourdieu (2001, p.245) a leitura pode ser
substituída por uma série de palavras que designa uma espécie de consumo cultural. O
autor afirma que :

“(...) numa civilização de leitores, restam inúmeros pré-saberes que não se veiculam
pela leitura, mas que contudo a orientam.” (BOURDIEU, 2001 p.248)

Pois é inútil, como expõem Britto (2004, p.163), levar as massas populares a um modo
de dizer a palavra e não possibilitar a essa mesma sociedade utilizar a palavra como
intervenção em seu meio político. Pois possibilitar a intervenção do sujeito social pela
palavra é garantir a cidadania ativa2.

Bourdieu (2008) afirma que de todas as funções ideológicas da escola a de legitimação


da ordem social seja a mais dissimulada:

Porque o sistema de ensino tradicional consegue dar a ilusão de que sua ação de
inculcação é inteiramente responsável pela produção do habitus cultivado ou, por uma
contradição aparente, que essa ação só deve sua eficácia diferencial às aptidões inatas
dos que a ela são submetidos, e que é por conseguinte independente de todas as
determinações de classe, embora nada mais faça do que confirmar e reforçar um habitus
de classe que, constituído fora da Escola, está no princípio de todas as aquisições
escolares, tal sistema contribui de maneira insubstituível para perpetuar a estrutura das
relaçõs de classe e ao mesmo tempo para legitimá-la ao dissimular que as hierarquias

2
Cidadania ativa é o aclaramento do indivíduo de seus direitos e deveres em suas relações
interpessoais. Relações que nesse estudo, se registram por meio da linguagem e do diálogo.
(MION, 2002, p. 33).
escolares que ele produz reproduzem hierarquias sociais. (BOURDIEU, Pierre;
PASSERON, Jean-Claude. 2008. p. 244).

Espera-se com esse estudo contribuir para um aclaramento sobre o que reflete os índices
das avaliações institucionais e o “fracasso escolar” nas práticas de leitura. Sugere-se um
repensar sobre a leitura, mais ainda sobre a cultura veiculada no ato de ler e se o dito
fracasso escolar não estaria justamente nas formas de representação de sentido da leitura
dado pelas práticas reprodutoras da escola.

Pois, considera-se que a idéia principal, o resumo, a síntese se constroem no processo da


leitura e é produto da interação entre os propósitos que a causam, o conhecimento
prévio do leitor e a informação aportada pelo texto. A leitura se realiza então na
convergência do texto com o leitor; o discurso escrito tem, forçosamente, um caráter
virtual e político, pois não pode ser reduzido nem à realidade do texto, nem as
disposições caracterizadoras do leitor. Político, sim, pois o ato de ler só se efetiva
quando houver um encontro entre leitor e texto.

Palavras chave: leitura; letramento; violência simbólica; PROVA BRASIL

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