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INTRODUÇÃO
Os dois modelos de letramento escolar enunciados por Street (1984)1: são o autônomo e
o ideológico. No modelo autônomo a escrita e dela a leitura são vistas como blocos
completos em si mesmos e o letramento é compreendido como um fenômeno isolado de
contextos de interação. Desta forma, não se considera fatores sociais de produção e
interpretação.
1
STREET, V. B. (1984)
O segundo modelo, o ideológico, apresenta uma retomada crítica da escrita e da leitura,
compreende que as práticas de letramento dependem da sociedade e das ideologias
veiculas e que a leitura é uma forma de construção de identidade e de percepção dos
jogos de poder social. Dessa forma, a investigação busca delinear o quanto a não
compreensão leitora na Educação Básica é gerada pela Violência Simbólica. O termo
será tratado na pesquisa segundo a definição dada por Bourdieu: “violência simbólica:
termo que explicaria a adesão dos dominados em um campo: trata-se da dominação
consentida, pela aceitação das regras e crenças partilhadas como se fossem “naturais”, e
da incapacidade crítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais regras impostas pelas
autoridades dominantes de um campo”. Isso em conformidade a detenção de um capital
cultural e social que facilite a participação e a construção do habitus.
OBJETIVOS
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Utilizando a indagação, que intitula um dos artigos de Orlandi (2006): leitura seria uma
questão lingüística, pedagógica ou social? O autor alerta para o perigo de incutirmos no
erro de dissociarmos as categorias, pois a leitura é ao mesmo tempo lingüística,
pedagógica e social, pois só se efetiva como prática discursiva, como aponta Orlandi:
Não acredito que se deva restringir a reflexão da leitura ao seu caráter mais técnico. Isso
conduz ao tratamento da leitura apenas em termos de estratégias pedagógicas
exageradamente imediatistas. E a leitura deve ter, na escola, uma importante função no
trabalho intelectual geral. Na perspectiva imediatista, as soluções propostas colocam à
disposição do aluno apenas mais um artefato escolar pronunciadamente instrumental.
Visando a urgência de resultados escolares, se passa por cima de aspectos fundamentais
que atestam a história das relações com o conhecimento tal como ele se dá em nossa
sociedade, assim como sobre a história particular de nossas instituições do saber e seus
programas. (ORLANDI, 2006 p.36).
A hipótese inicial, que permeia a investigação é a de que a leitura, quando não valorada
como símbolo cultural torna o sujeito cada vez mais favorável às relações de dominação
por ideologias, o que reitera uma relação desigual de poder. Para melhor compreender
esse raciocínio recorreu-se a Thompson para definir o que vem a ser uma ideologia
crítica.
O que nega um dos pressupostos estabelecidos nas avaliações institucionais, que seria o
de subsidiar políticas que propiciassem a qualidade e a equidade educacional, sem
privilegiar a um grupo específico.
Os discursos “oficiais” escolares reforçam a idéia de que ler é uma questão de hábito ou
gosto, que se adquire por vontade individual, independentemente dos vínculos sociais
estabelecidos pelo sujeito. O que demonstra uma interpretação equivocada, pois não há
como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no
indivíduo e nas suas relações individuais com a cultura.
Se pensarmos na leitura como um fenômeno social, que por sua vez é representado de
forma simbólica, compreenderemos a luz de Bourdieu, (1998) que o hábito de leitura
não existe e sim o habitus do leitor, que não é uma característica inata do indivíduo é
uma determinação de trocas significativas de cultura entre pares sociais, que
naturalmente determinarão a percepção, aceitação ou refutação do lido.
A pesquisa encontra-se na elaboração do relatório final e do artigo conclusivo.
Bourdieu (2001, p.212) declara que “diante de um livro estamos frente a diferentes
instrumentos de compreensão”. A leitura é um processo de apropriação do
conhecimento, assim obedece às mesmas leis de outras práticas culturais. Pois, não há
como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no
indivíduo e nas suas relações individuais. Para Bourdieu (2001, p.245) a leitura pode ser
substituída por uma série de palavras que designa uma espécie de consumo cultural. O
autor afirma que :
“(...) numa civilização de leitores, restam inúmeros pré-saberes que não se veiculam
pela leitura, mas que contudo a orientam.” (BOURDIEU, 2001 p.248)
Pois é inútil, como expõem Britto (2004, p.163), levar as massas populares a um modo
de dizer a palavra e não possibilitar a essa mesma sociedade utilizar a palavra como
intervenção em seu meio político. Pois possibilitar a intervenção do sujeito social pela
palavra é garantir a cidadania ativa2.
Porque o sistema de ensino tradicional consegue dar a ilusão de que sua ação de
inculcação é inteiramente responsável pela produção do habitus cultivado ou, por uma
contradição aparente, que essa ação só deve sua eficácia diferencial às aptidões inatas
dos que a ela são submetidos, e que é por conseguinte independente de todas as
determinações de classe, embora nada mais faça do que confirmar e reforçar um habitus
de classe que, constituído fora da Escola, está no princípio de todas as aquisições
escolares, tal sistema contribui de maneira insubstituível para perpetuar a estrutura das
relaçõs de classe e ao mesmo tempo para legitimá-la ao dissimular que as hierarquias
2
Cidadania ativa é o aclaramento do indivíduo de seus direitos e deveres em suas relações
interpessoais. Relações que nesse estudo, se registram por meio da linguagem e do diálogo.
(MION, 2002, p. 33).
escolares que ele produz reproduzem hierarquias sociais. (BOURDIEU, Pierre;
PASSERON, Jean-Claude. 2008. p. 244).
Espera-se com esse estudo contribuir para um aclaramento sobre o que reflete os índices
das avaliações institucionais e o “fracasso escolar” nas práticas de leitura. Sugere-se um
repensar sobre a leitura, mais ainda sobre a cultura veiculada no ato de ler e se o dito
fracasso escolar não estaria justamente nas formas de representação de sentido da leitura
dado pelas práticas reprodutoras da escola.