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O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano publicou pela primeira vez

em 1971 sua famosa obra As veias Abertas da América Latina. Desde então, este
livro tem sido um referencial para todos aqueles que se propõem a compreender
melhor a história deste continente. Trata-se de uma obra rica em detalhes e
escrita com fervor apaixonado por um homem que se reconhece como parte
desta história, uma vez que, como latino-americano, tem consciência de que a
ordem social na qual está inserido é uma resultante do que a conquista e a
colonização européia legou a todos nós. Citando Tzvetan Todorov, em seu A
conquista da América – a questão do outro: “Somos todos descendentes diretos
de Colombo, é nele que começa nossa genealogia” (anotação da capa).
O livro retoma, portanto, à época da descoberta, passando pela conquista
do território e pelo longo período de colonização, para depois entrar no assunto
da influência do imperialismo britânico e norte-americano na vida do latino-
americano. O trabalho de Galeano é alinear: ele vai e volta no tempo, constrói
relações históricas entre períodos diferentes, faz analogias e comparações, tudo
isso em meio a uma profusão de detalhes do cotidiano e da cultura material, além
de inúmeros dados estatísticos.
Não é possível afirmar que o livro é uma leitura fácil; pelo contrário, é
bastante complexo e com certeza requer uma segunda leitura mais demorada e
profunda. No entanto essa leitura não é uma árdua tarefa (talvez pela
identificação com o tema da América Latina) e a obra nos prende desde o
primeiro momento pela lucidez com que o autor denuncia os séculos de
exploração desta terra, fazendo com que o “tom” rancoroso e irritado do livro, que
de início choca um pouco, passe a ser visto como algo plenamente justificável
pelas próprias verdades históricas.
Galeano afirma que seu trabalho trata de uma história da pilhagem da
América Latina. E essa é uma grande verdade – desde o primeiro momento em
que os europeus descobriram a existência do nosso continente, só o que fizeram
foi aproveitar-se desta terra e de seus habitantes. Tiraram inúmeras vantagens
dos indígenas, visto o menor desenvolvimento tecnológico destes e acabaram por
exterminá-los nos trabalhos forçados da busca gananciosa por ouro e prata, ou
ainda com suas enfermidades trazidas do outro lado do mar e que antes
simplesmente não existiam aqui.
Galeano explicita em vários momentos esse desprezo pelo outro,
mostrando que os índios eram vistos pelos europeus como seres de segunda
categoria; e fora até mesmo necessário que uma bula papal confirmasse que
estes eram mesmo gente e que possuíam alma.
Não houve qualquer respeito pela diferença entre indígenas e europeus.
Estes últimos, em sua enorme ansiedade por descobrir riquezas e vendo que os
índios poderiam ser de grande valia nesta empreitada, trataram logo de incluir a
Igreja Católica na aventura, para justificar ideologicamente o fato de que estavam
matando os índios indiscriminadamente, transformando atos de violência em atos
de caridade e fé pois, se os matavam, era para que fossem purificados, em nome
de Deus, de suas terríveis heresias, tais como o canibalismo, as danças rituais, a
nudez e adoração de ídolos de pedra.
Uma outra obra que pode enriquecer esta análise é A Civilização Asteca,
do francês Jacques Soustelle. Neste pequeno volume, Soustelle explicita, assim
como Galeano, que inicialmente os espanhóis procederam ao saque de todas as
riquezas que poderiam encontrar pela frente, ou seja, ouro e todo o tipo de metal
ou pedras preciosas; na obra do francês também se pode perceber a indiferença
com relação à cultura dos povos americanos: além do ouro, os astecas
praticavam uma finíssima arte da plumagem, mas nada disso interessou aos
conquistadores.
A expedição de Hernán Cortez foi uma das primeiras a desembarcar na
América com a finalidade de usurpar riquezas aos povos latino-americanos. Este
conquistador conseguiu submeter ao poder da Coroa espanhola toda a civilização
mexicana, devido à sua superioridade tecnológica, pois já conheciam o aço, as
armas de fogo, as armas de fogo e meios de transporte como o cavalo. Essa
justificativa do maior avanço tecnológico é defendida por Galeano e reafirmada
por outros autores como o já citado Soustelle e também Ruggiero Romano (Os
Mecanismos da Conquista Colonial: Os conquistadores – p.13-17).
O autor de As Veias Abertas faz também uma demorada análise dos
principais ciclos de mineração da América Latina, quais sejam, a exploração da
prata em Potosí, na atual Bolívia, e do ouro e diamantes em Minas Gerais. Fica
óbvio nesta leitura o caráter de depredação desses ciclos, que extraíram tudo o
que puderam do subsolo latino-americano até a exaustão dos filões de ouro,
consumindo até o fim toda uma montanha de prata em Potosí.
Esses metais preciosos eram todos enviados à metrópole espanhola ou
portuguesa (caso do ouro de Minas Gerais) e sustentaram os luxos dessas
Cortes, que compravam tudo aquilo que necessitavam dos outros países
europeus, pagando-os com o ouro e a prata americanos, distribuindo, assim, a
riqueza deste continente entre a próspera burguesia nascente da Europa.
O capital que ficava na América Latina também servia às classes
dominantes, que não o reinvestiam aqui: gastavam tudo comprando produtos
importados da Europa. O desenvolvimento urbano dessas cidades no meio da
selava foi soberbo; esbanjavam riqueza em suas festas e o desperdício deste
cotidiano luxuoso era imenso. Os indígenas de Potosí e os negros de Ouro Preto,
por sua vez, eram obrigados ao trabalho nas minas e morriam aos montes nesta
dura tarefa, para a qual eram também mal alimentados e muitos deles morriam de
fome ou desnutrição.
Um outro aspecto da exploração indiscriminada é o da destruição da
natureza. Galeano cita várias conseqüências desse garimpo: o assoreamento dos
rios, a erosão e a infertilidade dos solos, a contaminação da terra e dos lençóis
freáticos que impediam uma agricultura de subsistência, entre outros.
Esses períodos de riqueza terminavam quando se esgotavam as minas.
Com isso, os grandes proprietários de minas e os ricos mercadores da Colônia
migravam para outros lugares em busca de novas terras virgens e mais metais
preciosos. Sobrevinha então a decadência dessas cidades: em meio a igrejas
ricamente ornamentadas jaziam os grandes palácios, outrora cheios de móveis
feitos pelos melhores artesãos europeus e decorados com as mais finas
tapeçarias do Oriente e que então transformaram-se em bodegas ou prostíbulos,
ou ainda em pensões; a estas cidades restou apenas a lembrança do esplendor
do passado; a realidade era de pobreza e fome.
A população nativa tem em comum com os negros trazidos da África o fato
de que sofreram um processo tão forte de aculturação que, na fusão entre os
resquícios de sua cultura com a cultura branca européia foram submetidos a um
processo de despersonalização. O nativo e o negro foram animalizados pelo
europeu (o negro era, antes de tudo, uma mercadoria muito cara) e sua
identidade cultural aniquilada.
É claro que algumas das tradições sobreviveram aos séculos, mas em
geral, o modus vivendi desses povos foi completamente alterado, resultando em
algo que poderia chamar-se de identidade latino-americana, por uma agregação
de outras culturas (indígena e negra) a uma cultura dominante (européia), mas
esta é uma afirmação temerária, visto que ainda hoje a América Latina apresenta-
se como um difuso painel de identidades diversas.
Após a febre dos metais preciosos, com as atividades de mineração em
decadência, portugueses e espanhóis passaram a empreender atividades
agrícolas voltadas à exportação. Essas grandes monoculturas, tais como o
açúcar, o café, o algodão e o cacau foram todas fundadas num modo de
produção extensivo, baseado no latifúndio. A América Latina continuou, portanto,
submissa aos desígnios de suas distantes metrópoles e as plantações aqui
cultivadas pertencem a uma pequena oligarquia colonial.
Novamente, tudo o que aqui é produzido, tanto os produtos quanto a
riqueza, é enviado à Europa, como na época da mineração; a Colônia, explica
Galeano, não se preocupou jamais em desenvolver-se internamente, fazendo
com que uma crônica ausência de infra-estrutura impedisse na América Latina o
crescimento de uma indústria própria, mesmo com toda a riqueza de matérias-
primas aqui existentes.
A maior e mais importante monocultura da América Latina foi o açúcar do
Nordeste brasileiro, das Antilhas Holandesas e de Cuba. O açúcar estava sendo
difusamente utilizado nos países europeus e rendeu vultosos lucros para aqueles
que o produziam. Todavia, na Colônia a situação era outra. A quantidade de
negros que foram utilizados nesse processo é assombrosa, visto que o açúcar
exigia grandes contingentes de mão-de-obra.
Além de castigar os negros, no Nordeste o açúcar prejudicou também os
trabalhadores livres, pois não havia espaço para cultivar nada que não fosse
cana-de-açúcar, os produtos vindos da metrópole eram todos caros e isso
estimulou muitos camponeses e pequenos profissionais liberais a sair da Zona da
Mata, no litoral nordestino e povoarem o semi-árido dessa área do Brasil, onde
puderam desenvolver uma agropecuária com muitíssimas dificuldades, visto ser
esta a zona crítica da seca; Eduardo Galeano, a respeito do tema, indica a leitura
do romance Vidas Secas, obra-prima de Graciliano Ramos sobre o tema.
Outro aspecto interessante abordado no livro é o das lutas sociais. O autor
descreve e analisa várias delas, sendo uma das principais o movimento
revolucionário e messiânico liderado por Tupac Amaru, que em fins do século
XVIII sitiou Cuzco, no Peru, um das principais cidades da América do Sul
dominada pelos espanhóis. No período em que esteve no poder, Amaru,
descendente direto dos imperadores incas, libertou os escravos, proibiu a
cobrança da mita em Potosí, aboliu todos os impostos e ganhou o apoio de toda a
população. Entre vitórias e derrotas, Amaru chefiou o Peru durante algum tempo;
entretanto, foi traído por um de seus chefes e entregue aos espanhóis, que
torturaram e mataram a ele e sua família.
O mesmo final triste ocorreu com diversas revoltas e levantes de escravos,
índios ou populares ao longo da história latino-americana, dentre eles, o Quilombo
dos Palmares, liderado por Zumbi e, num outro momento, o movimento zapatista
no México. Não faltaram também os banhos de sangue em nome do
expansionismo espanhol, como o massacre dos índios yaquis na Argentina e da
revolta camponesa na Colômbia.
Galeano, ao tentar clarificar os mecanismos que impediram o crescimento
econômico e industrial da América Latina faz um contraponto desta com as
colônias americanas do norte, que tiveram uma constituição totalmente diversa. O
autor dedica uma parte do livro à consolidação das treze colônias em país, pois
destas nasceu a maior potência mundial da atualidade, que subjugou não só a
América, mas também o mundo: os Estados Unidos.
Afirmando a “importância de não nascer importante”, o autor ressalta que
as colônias do norte não ofereceram qualquer atrativo imediato à sua metrópole –
a Inglaterra – tais como ouro em abundância ou terras férteis; por este motivo,
estabeleceu-se ali uma colônia de povoamento, não de exploração (até então
tratava-se da Nova Inglaterra); os peregrinos puritanos do navio Mayflower
estavam preocupados em trabalhar para si mesmos e em garantir a sua fixação
naquele território, ocupando-se, portanto, em desenvolver sua auto-suficiência e
gozando de relativa liberdade com relação à metrópole.
Galeano explica que:
“Os colonos da Nova Inglaterra, núcleo original da civilização norte-americana,
não atuaram nunca como agentes coloniais da acumulação capitalista
européia; desde o princípio, viveram ao serviço de seu próprio
desenvolvimento (...) ao contrário dos puritanos do norte, as classes
dominantes da sociedade colonial latino-americana não se orientaram
jamais para o desenvolvimento interno.” (p.145)

Essa postura indolente dos detentores de capital da América Latina custou


ao continente, ao longo dos séculos, sua independência econômica e o
desenvolvimento interno. O crescimento das nações latinas foi construído a partir
de capitais estrangeiros e atendeu aos interesses das nações ricas que
expandiam seus mercados utilizando-se da mão de obra barata dos latino-
americanos (em muitos casos gratuita mesmo).
O povo latino americano trabalhou sempre por baixos salários que
enriqueceram mais ainda os países ricos, deixando que a América Latina fosse
invadida por capitais e produtos internacionais.
A questão do imperialismo é analisada por Galeano em dois momentos: há
o imperialismo britânico, ocorrido entre o século XVIII e XIX; e o imperialismo
norte-americano, que se consolidou a partir de fins do século XIX.
O imperialismo inglês aconteceu concomitantemente à Revolução
Industrial; altamente provida de capitais, a Inglaterra expandiu seus mercados
consumidores pelas frágeis economias latinas e de outros lugares do globo, como
a Índia (antiga colônia inglesa); a infra-estrutura desses países pobres foi
melhorada, porém, atendendo a interesses ingleses; inúmeras ferrovias foram
construídas aqui com o minério de ferro que era exportado para a Inglaterra e
voltava à América já fundido, beneficiado.
As indústrias têxteis inglesas espalharam seus produtos por toda a América
e todos vestiam as mesmas roupas vindas da Inglaterra, produzidas a partir do
algodão mexicano, que pagava salários de fome aos camponeses. Essa
padronização no consumo acelerou ainda mais a perda de identidade da América
Latina, e também sufocou a incipiente indústria nacional que não tinha condições
de concorrer com os produtos ingleses, bem mais baratos por que feitos com
matéria-prima de baixo custo e alta qualidade, além do fato de que os navios
ingleses obtinham muitas vantagens alfandegárias nos portos da América Latina,
pois os governos desses países pobres sempre funcionaram como procuradores
dos interesses imperialistas, dispondo sobre as alíquotas e taxações conforme os
interesses dominantes.
Em fins do século XIX, o poder hegemônico do mundo capitalista passou
às mãos dos Estados Unidos. Com isso, a América Latina passou a desempenhar
um importante papel de provedora das riquezas norte-americanas.
Galeano esclarece que a fragilidade da conjuntura industrial dos países
subdesenvolvidos e a sua carência de capitais possibilitou aos Estados Unidos,
através de suas grandes corporações, tais como mineradoras e bancos, a
oportunidade de apoderar-se desses mercados, tornando seus os setores chaves
da indústria local pela injeção de grandes quantidades de capital na economia do
país a título de empréstimos pelos quais essas nações pagavam altos juros e
acabavam mergulhando em monstruosas dívidas externas; a América do Norte
goza ainda de grandes facilidades aduaneiras que permite a entrada de seus
produtos a baixos preços no mercado interno dos países pobres, aniquilando a
competitividade das indústrias nacionais.
Para o autor, esta nova forma de imperialismo aparenta uma imagem de
que os norte-americanos são um povo que promove o desenvolvimento dos
países pobres, colaborando para o progresso destes. Na verdade, este
desenvolvimento e esta urbanização realmente acontecem nas metrópoles
desses países (por exemplo, no eixo Rio – São Paulo), contudo, nas outras áreas,
as disparidades sociais se aguçam e o desemprego torna-se alto.
No Brasil, a invasão do capital estrangeiro já vinha ocorrendo desde
sempre mas se consolidou de maneira mais drástica durante a ditadura militar.
Obras faraônicas de infra-estrutura foram executadas pelo governo brasileiro
utilizando-se de capital norte-americano. Havia todo um clima de progresso no
país que ocultava a verdadeira situação econômica e social; há quem se lembre
da ditadura militar como um período ótimo no Brasil porém, durante a década de
1980, com a volta da democracia, a sociedade brasileira pôde ver a falência do
Estado brasileiro causada pelos militares. Os anos oitenta são chamados de “a
década perdida”, mas o que aconteceu foi que na década anterior o país foi
enganado pela aparência de prosperidade financiada pelo capital dos Estados
Unidos, que lucrou montanhas de dinheiro com a venda do Brasil pelos militares.
Ao final de seu trabalho, o jornalista Eduardo Galeano afirma que a
América Latina tornou-se o que é hoje em decorrência não apenas das
sucessivas explorações às quais foi constantemente submetida ao longo de sua
história, mas também pela fragmentação territorial que ocorreu com a
independência dos países latino-americanos e que tanto prejudica a construção
de uma identidade real do povo deste continente, tão unido pela dor, mas
impotente para se unir e tentar reverter seu destino.
Para encerrar, fica a mensagem um tanto utópica, mas cheia de
esperança, retirada do último parágrafo da obra:

“A causa nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social: para


que a América Latina possa renascer, terá de derrubar seus donos, país
por país. Abrem-se tempos de rebelião e mudança. Há aqueles que
crêem que o destino descansa nos joelhos dos deuses, mas a verdade é
que trabalha, como um desafio candente, sobre as consciências dos
homens.” (p.281)

Bibliografia:

GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.

ROMANO, Ruggiero. Os Mecanismos da Conquista Colonial: Os Conquistadores. São Paulo:


Perspectiva, 2007.

SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América – A questão do outro. São Paulo: Martins Fontes,
2003.

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