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O BRASIL EM RELEVO: DA CONSTRUÇÃO DE MAQUETES DE

RELEVO, COMO TRABALHO ESCOLAR, A SUA UTILIZAÇÃO COMO


RECURSO DIDÁTICO POR ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS.

Maria Alcina Quintela


Colégio Estadual México (CEM)
aquintela@ibest.com.br

RESUMO
O propósito deste trabalho é relatar e compartilhar os resultados obtidos a partir de uma experiência didático-
pedagógica de construção de maquetes de relevo por alunos do Ensino Médio público noturno. Destaca-se, além da
importância assumida por esta atividade como instrumento da aprendizagem significativa dos conhecimentos
cartográficos na escola, sua contribuição na elevação da auto-estima dos alunos e o fato de possibilitar aos mesmos
atuarem como agentes sociais, ao adaptarem as maquetes para serem utilizadas por alunos deficientes visuais.

ABSTRACT
The purpose of this work is to relate and share the results obtained from a pedagogical experience of relief
models construction by high school students at nocturnal public education. Beyond the importance assumed by this
activity as an instrument to the significant learning of cartographic knowledge at the school, emphasis is given too to
it’s contribution in the improvement of the students selfsteem and in the fact of enable them to act as social agents,
since their decision to adapt the models to be utilized by blind students as well.

1 APRESENTAÇÃO presente, sub-representados nessa etapa da


escolaridade.
No Brasil, a partir da década de 80, o Ensino
Médio foi o que mais se expandiu. Essa hipótese de que a expansão quantitativa
vem ocorrendo pela incorporação de grupos sociais até
Considerando o número de matrículas, de então excluídos da continuidade de estudos após o
1985 a 1994, o crescimento foi em média de mais de fundamental fica reforçada quando se observa o padrão
100%, enquanto no Ensino Fundamental foi de 30% de crescimento da matrícula: concentrado nas redes
(Brasil-MEC-INEP, 1998). públicas e, nestas, predominantemente nos turnos
noturnos, que representam 68% do aumento total
Entretanto, esse crescimento das matrículas no (Brasil-MEC-INEP, 1998).
Ensino Médio no Brasil tem características que
refletem as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade. Todavia, apesar da ampliação do número de
matrículas e das recentes mudanças legais e
Grande parte dessa demanda pelo Ensino curriculares, o Ensino Médio continua perversamente
Médio tem partido dos segmentos já inseridos no dual no Brasil. O ensino público médio expandiu-se às
mercado de trabalho que aspiram a melhoria salarial e custas de espaço físicos e recursos financeiros e
social e precisam dominar habilidades que permitam pedagógicos do Ensino Fundamental, “qual passageiro
assimilar e utilizar produtivamente recursos clandestino de um navio de carências” (Brasil-MEC-
tecnológicos novos e em acelerada transformação. SEMTEC, 1999). Essa situação gerou uma
Assim, a clientela do Ensino Médio tende a tornar-se padronização desqualificada
mais heterogênea, tanto etária quanto sócio-
economicamente, pela incorporação crescente de Dados do SAEB (Sistema de Avaliação do
jovens e adultos originários de grupos sociais, até o Ensino Básico) sugerem que a diferença de
desempenho entre alunos de escolas públicas e
privadas é de mais de 20%, diferença esta também compreensão de uma variedade mais ampla de temas
observada entre os períodos diurno e noturno (apud do que era necessário anteriormente"(Taylor, 1992).
Oliveira, 2002).
Podemos dizer que o mapa é uma
Tal diferença reforça e, ao mesmo tempo, representação da realidade e não a realidade em si. É
acaba sendo reforçada por uma tendência geral de uma representação gráfica bidimensional da
baixa auto-estima dos alunos do Ensino Médio público informação num contexto espacial e um importante
e, dentre estes, os do período noturno, em especial. instrumento de comunicação. O mapa permite
identificar e localizar lugares e áreas; identificar
Estes, em esmagadora maioria, já trazem direções; calcular distâncias; identificar, localizar e
interiorizada e compartilham entre si a idéia de que analisar a distribuição de dados territoriais, físicos,
“não são capazes” e/ou de que “não têm condições de populacionais e sócio-econômicos; fazer inferências
aprendizagem”. Idéias estas que, infelizmente, acabam por meio de comparação com outros mapas e
sendo re-alimentadas pelo próprio corpo docente destas espacializar relações sociais. O mapa reflete o
escolas públicas noturnas, ao utilizarem como medidas ambiente próximo e o distante e sua importância é
de verificação da aprendizagem os mesmos critérios de inegável.
avaliação, criados para outra clientela, em outras
condições de aprendizado e de desenvolvimento Além dessas situações, em nosso cotidiano o
pessoal. uso de mapas vem crescendo em jornais, revistas e
televisão, para organização de viagens, no
Além disso, o distanciamento entre os deslocamento dentro das cidades etc.
conteúdos programáticos e a experiência dos alunos
contribui, sobremaneira, ao desinteresse por parte do Assim, o indivíduo que não domina as
alunado e, conseqüentemente, à evasão escolar. variadas formas de representação desses
Conhecimentos selecionados a priori tendem a se conhecimentos está impedido de pensar sobre aspectos
perpetuar nos rituais escolares, sem passar pela crítica do território que não estejam registrados em sua
e reflexão dos docentes, tornando-se, desta forma, um memória. Então, uma das funções da escola consiste
acervo de conhecimentos quase sempre esquecidos ou em preparar o aluno para compreender a atual
que não se consegue aplicar, por se desconhecer suas organização da sociedade, dando-lhe acesso às novas
relações com o real. formas de representação da informação espacial:
mapas, fotografias aéreas, imagens de satélites.
Ao invés de aprendizado, o que se dá é um
simplório mecanismo de memorização, através do qual Esta função, contudo, acaba sendo muito
os fatos, mas não as idéias, circulam de uma folha de prejudicada pela grande dificuldade apresentada por
papel a outra, do livro didático para o caderno e do professores (e alunos) para lidarem com conteúdos de
caderno para a prova caindo em esquecimento no dia Cartografia, em todos os níveis de escolaridade.
seguinte, por não encontrarem ressonância nem Reflexo de um ensino que traz forte tradição calcada na
fazerem sentido para quem lê, fala, ouve ou escreve. transposição e simplificação de conceitos científicos,
ensinados, geralmente, por meio de práticas repetitivas
Tal situação, apesar comum às várias áreas de e pouco explicativas. Problema também relacionado
conhecimento, sempre foi fortemente associada à com a formação do professor, pois uma cartografia
Geografia, como disciplina escolar. Para o fato de escolar ainda não se constituiu como saber construído
sempre ter sido encarada como “decoreba” pelos nas escolas, nem como uma disciplina dos cursos de
alunos, em muito contribuiu a grande dificuldade em formação de professores (Almeida, 2001).
fazer com que o seu código específico de comunicação
— o mapa — permitisse uma fácil leitura, análise e Situação esta que, por sua vez, dificulta a
interpretação. plena realização de uma das competências e
habilidades a serem desenvolvidas em Geografia,
Entretanto, o mapa é tão antigo como a segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
história humana e está presente em todas as sociedades. Ensino Médio (PCNEM): “ler, analisar e interpretar os
No início, era utilizado para localização de fontes de códigos específicos da geografia (mapas, gráficos,
alimento e rotas. tabelas, etc.), considerando-os como elementos de
representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou
Por muito tempo, o uso do mapa ficou espacializados” (Brasil-MEC-SEMTEC, 1999).
associado à localização de coisas e lugares. Em nossa
época atual, não se pode restringir essa utilização para A leitura acima permite constatar uma nova
os mapas, pois, "na era da informação eles precisam orientação para a utilização do mapa nos estudos de
também responder a uma variedade de outras questões Geografia. Ele passa a ser encarado como uma
como 'por que', 'quando', 'por quem' e 'para que linguagem e não mais como um objeto do
finalidade', e precisam transmitir para o usuário a conhecimento em si mesmo, quando se isolava suas
partes ou elementos a serem ensinados um a um escuros para áreas mais altas, e claros para áreas mais
(localização escala, projeção e legenda). baixas), apresentam também a distribuição da rede
hidrográfica (os rios correm para as áreas mais baixas).
A importância dessa nova orientação decorre Mas para entender esse mapa é preciso ter noção, por
do fato de que a linguagem se refere a uma forma de exemplo, das relações entre a drenagem e a morfologia.
dizer algo (conteúdo), portanto, o domínio da Então, a linguagem cartográfica no ensino deixa de ser
linguagem somente é possível quando as formas são um item isolado no programa, um capítulo em que se
sabidas e, ao mesmo tempo, se tem conhecimento a ensina tudo sobre mapas de uma só vez! Se for
respeito do que é dito, ou o que significa o conteúdo linguagem, deve servir para “ler” os mapas impressos,
apresentado. No caso da linguagem cartográfica, é bem como para “escrever” a respeito de algo ob-
preciso ensinar como os conteúdos espaciais são servado, discutido ou obtido em diversas fontes
apresentados, ao mesmo tempo em que é preciso saber (Almeida, 2001).
o que eles significam.
Assim, após estudarem a estrutura geológica,
a gênese e o modelado brasileiro em teoria, através de
2 OBJETIVOS mapas de relevo do Brasil (modelos bidimensionais),
os alunos das quatro turmas da segunda série, divididos
Todo o conhecimento é socialmente em grupos, confeccionaram uma maquete (modelo
comprometido e não há conhecimento que possa ser tridimensional) do relevo de cada uma das cinco
aprendido e recriado se não se parte das preocupações regiões geográficas brasileiras, segundo o IBGE. Após
que as pessoas detêm. a integração dos diferentes grupos tivemos, como
resultado da dedicação das quatro turmas, quatro
Portanto, visando estimular a construção do maquetes do relevo brasileiro, na escala 1: 5.000.000.
conhecimento, através de uma educação significativa e
também contribuir para a elevação da auto-estima dos
alunos e professores, foi criado, em 1999, o projeto 3 PROCEDIMENTOS
GEOMOSTRA, exposição anual dos trabalhos
desenvolvidos nas aulas de Geografia pelos alunos do As maquetes foram elaboradas a partir do
Colégio Estadual México (CEM), típico colégio de mapa físico do Brasil, na escala 1:5.000.000 disponível
Ensino Médio, público e noturno, situado no bairro de na escola (fig.1).
Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Tais trabalhos são idealizados a fim de


permitir a aplicação de habilidades manuais na
demonstração prática dos fundamentos teóricos
aprendidos em sala de aula. A partir dos poucos
recursos materiais disponíveis e do estímulo à
utilização da criatividade e das habilidades manuais
específicas dos próprios alunos (muitos dos quais são
pequenos artesãos, costureiras, mecânicos, eletricistas
de auto, etc), os conceitos teóricos tomam a forma
prática, concreta, através da construção de maquetes.
O resultado final é, portanto, o conhecimento
“construído” e materializado pelas mãos dos próprios
alunos.

A culminância desse processo é a exposição


anual, para a comunidade escolar, das melhores
maquetes, ou seja, das mais representativas, segundo
critérios científicos e estéticos. Uma oportunidade de
divulgação dos trabalhos, valorização dos mesmos e, Fig. 1: Mapa Informativo do Brasil (Físico) - 1: 5.000.000.
por conseguinte, da elevação da auto-estima de seus
autores.
Neste mapa, a representação do relevo é feita
No ano de 2001, o tema trabalhado pela pelas cores hipsométricas, segundo o método das
segunda série do Ensino Médio do Colégio Estadual isolinhas ou isarítmico, que pressupõe o uso das curvas
México foi: o Relevo Brasileiro. de nível ou curvas hipsométricas como limites de
superfícies de altitudes, as quais são identificadas por
Os mapas de relevo do Brasil, ao apresentar a cores diferenciadas em uma escala cromática
distribuição das altitudes por meio de tonalidades (tons preestabelecida e convencional. No conjunto, a
combinação das cores permite a sensação de volume,
assim como a identificação da compartimentação do
modelado terrestre. Complementa, obviamente, esse
tipo de representação a rede hidrográfica, tanto mais
completa quanto possível, dependendo da escala de
redução e da localização das principais formas de
relevo (serras, montes, planaltos, planícies, etc.)
(Bochicchio, 1993).

Assim a realização das maquetes do relevo


brasileiro foi precedida de um rigoroso cuidado na
aplicação das noções de escala, de curvas de nível e
altimetria, da disposição das formas de relevo e de seu
relacionamento com a rede hidrográfica e com os
limites estaduais. Ou seja, foi precedida de uma
Fig. 3 – Maquete (Folhas de isopor)
“leitura” atenta do conteúdo representado no mapa de
relevo do Brasil.

Somente após essa “leitura” se procedeu à 4 RESULTADOS ESPERADOS E ALCANÇADOS


“escrita”, isto é: a (re)construção do conteúdo lido no
mapa através da elaboração das maquetes do relevo Uma maquete é um modelo reduzido e
brasileiro. simplificado da realidade. Sendo elaboradas pelos
próprios alunos, as maquetes de relevo das grandes
Utilizando-se materiais como folhas de isopor regiões brasileiras, segundo o IBGE, permitiram aos
ou placas de E.V.A. (Edil Vinil Acetato), os grupos grupos de alunos assumirem o papel de construtores de
procuraram destacar as principais classes de cotas seu próprio conhecimento e da própria “construção do
altimétricas, seus modelados e localizações específicas Brasil” pois, somente através da integração com os
no território brasileiro. outros grupos é que se obterá o produto final: a
maquete do relevo brasileiro como um todo.
Tais feições, seguindo as cinco classes de
altitude definidas a priori pelo mapa (de 0 a 200 m; de Esta “construção simbólica” do Brasil será
200 a 500 m; de 500 a 800 m; de 800 a 1200 m e acima tanto mais perfeita quanto maior tiver sido a
de 1200 m) e devidamente entalhadas nas folhas dos integração, a troca de informações, a discussão entre os
materiais citados acima, foram então sobrepostas e cinco grupos, uma vez que o encaixe de cada uma das
pintadas seguindo a mesma legenda cromática do mapa partes (regiões) do mapa (elaboradas por cada grupo),
original. sem solução de continuidade nas características básicas
do relevo brasileiro, é que garantirá a obtenção de uma
Também foram representados e devidamente maquete coerente do relevo para o Brasil como um
identificados: a rede hidrográfica, os limites estaduais e todo.
os acidentes do relevo. (Fig. 2 e 3)
Neste sentido, essa atividade, não ajudou a
desenvolver apenas habilidades e competências
cognitivas e motoras, mas também a capacidade de
trabalhar em equipe, de modo a permitir a realização de
projetos comuns e a gestão inteligente dos conflitos
inevitáveis. Permitiu assim, colocar em prática as
quatro premissas apontadas pela UNESCO como eixos
estruturais da educação na sociedade contemporânea:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
e aprender a ser.

O interesse pelo trabalho, o capricho na


execução dos entalhes das representações das formas
de relevo, ressaltadas pela pintura com cores e tons
homogêneos, para identificar as diferentes faixas de
altitude, além da localização precisa e da identificação
de várias informações geográficas (serras, rios, picos,
Fig. 2 – Maquete (Placas E.V.A.)
limites estaduais, etc.) tornaram as quatro maquetes os
destaques da exposição GEOMOSTRA/2001 e fizeram
com que seus autores fossem muito elogiados e
valorizados perante a comunidade escolar (fig. 4).
cordões de diferentes espessuras para dar a idéia da
hierarquia fluvial.

Quanto ao relevo, para permitir aos deficientes


visuais a identificação quantitativa da altitude (os
valores em metros), uma vez que, nesse caso, a legenda
cromática não tinha utilidade, os alunos acrescentaram
à legenda adaptada símbolos tridimensionais de cinco
diferentes espessuras, cada uma com a mesma
espessura daquela utilizada para representar as
superfícies de altitudes “sentidas” na maquete, e
associaram a estes símbolos a informação em Braille
Fig. 4: Alguns alunos e suas maquetes do valor em metros da cota altimétrica a que
(GEOMOSTRA/2001) correspondiam (fig. 5 e 6).

5 RESULTADOS NÃO ESPERADOS E


ALCANÇADOS

Durante a exposição era comum os alunos


visitantes passarem a mão sobre as maquetes de relevo
do Brasil, no que eram vivamente repreendidos pelos
orgulhosos autores das mesmas:

“Oh ‘fulano’, você vê é com os dedos, é ?!”

Dessa enfática repreensão surgiu a idéia de


adequar as maquetes do relevo brasileiro para que elas
pudessem literalmente ser “vistas com os dedos”, ou
Fig. 5: Maquete com legenda adaptada
seja, aproveitar seu “apelo tátil” e adaptá-las para que
pudessem servir como auxiliar nos estudos do relevo
brasileiro por alunos deficientes visuais.

Inicialmente surpresos, os alunos duvidaram


de sua capacidade em realizar tal tarefa. Entretanto, ao
serem desafiados a fazê-la, demonstraram um
entusiasmo contagiante.

Com o apoio do Instituto Benjamin Constant


(RJ), instituição dedicada à assistência e educação de
deficientes visuais, que interessou-se por nossos
trabalhos, obtivemos uma adaptação para a linguagem
Braille da toponímia representada nas maquetes.

Assim, as informações geográficas visuais das


Fig. 6: Maquete com legenda adaptada
maquetes (nomes de serras, de rios, de picos, de
planaltos, de planícies, etc.) eram identificadas por um
número em Braille, ao qual se associava sua As maquetes assim adaptadas foram
denominação também em Braille, na legenda. apresentadas então numa exposição no próprio Instituto
Benjamin Constant (RJ).
Muito motivados, os alunos da segunda série
realizaram essa adaptação da legenda e se dedicaram a O sucesso dessa exposição foi muito grande.
pensar formas possíveis de representar os rios, os Os alunos com visão sub-normal e com deficiência
limites estaduais e as classes de altitudes de maneira visual demonstraram grande interesse pelas maquetes e
que pudessem também ser “lidas” pelos deficientes pareciam, durante a exposição, utilizá-las de uma
visuais. maneira muito proveitosa.
Os grupos que criaram maquetes a partir Espontaneamente, os alunos definiram uma
folhas de isopor preferiram “escavar” com estilete, no forma de leitura da maquete da qual participavam
isopor, o percurso dos rios. Já na maquete de placa duplas que depois se revezavam. Um componente da
E.V.A., os rios tiveram seus percursos delineados por
dupla tateava a maquete, percebendo as formas e Os percursos de rios “entalhados” no isopor
identificando seu número em Braille. O outro ficava eram os que mais atraíam a atenção dos alunos
junto da legenda e procurava nela o número dito pelo deficientes visuais, principalmente o do Amazonas que,
colega para que pudesse assim, através de sua legenda após ser “percorrido” com os dedos, era sempre
em Braille, identificar de que se tratava (fig. 7). acompanhado de uma manifestação de surpresa pelo
seu tamanho (fig. 8).

Fig. 7: Professora e alunos deficientes visuais utilizando as maquetes de relevo adaptadas (em isopor).

Fig. 8: Alunos deficientes visuais utilizando as maquetes de relevo adaptadas (em E.V.A.).
O sucesso dessa exposição, junto aos alunos Podem ser estabelecidas relações entre a
deficientes visuais, deu a estes trabalhos escolares uma construção de maquetes de relevo, como atividade
função social, não imaginada inicialmente, mas que, escolar, e a construção da cidadania?
por sua vez, reforçou sobremaneira um dos objetivos
iniciais da realização dos mesmos que era o resgate e o A princípio, a resposta parece negativa.
aprimoramento da auto-estima dos alunos que os Entretanto, a resposta positiva se materializou na
realizaram, ao se perceberem como agentes promotores adaptação pelos alunos das maquetes de relevo, por
da expansão da cidadania. eles elaboradas, para que pudessem ser utilizadas como
recursos didático por alunos deficientes visuais do
Instituto Benjamin Constant (RJ). Tal atitude
6 CONCLUSÕES contribuiu para a conscientização do aluno a respeito
do seu papel de agente social, podendo assim interferir
A utilização de maquetes de relevo, como na sociedade.
recurso didático, não constitui novidade no campo
pedagógico. Ainda que seu uso não seja muito Assim sendo, a experiência aqui relatada
freqüente, devido à pequena oferta de mapas demonstra que a construção de maquetes de relevo,
tridimensionais, ela é um instrumento fundamental na inicialmente encarada como um simples trabalho
superação da dificuldade inerente que temos de escolar, pode ganhar dimensões que lhe permitam ser
entender a forma dos lugares, que estamos classificada como um exemplo de atividade
acostumados a ver em três dimensões, num mapa educacional comprometida com o desenvolvimento
plano. total da pessoa.

Neste sentido, o presente trabalho procurou


demonstrar que não apenas a utilização, mas, 7 BIBLIOGRAFIA
principalmente, a construção de maquetes de relevo
pelos alunos apresenta um caráter didático-pedagógico Almeida, R.D. de, 2001. Do desenho ao mapa:
muito importante. Tal atividade permite a iniciação cartográfica na escola, Contexto, São Paulo.
re(construção) do conteúdo cartográfico devidamente
“lido” e interpretado nos mapas planos, que usam Bochicchio, V.R., 1993. Manual de cartografia. In
apenas contornos, sombreados ou cores para indicar a Atlas Atual: geografia, Atual, São Paulo, 32 páginas.
altitude, por exemplo. Todavia, a pequena difusão
dessa prática escolar pode ser vista como uma Brasil. MEC. Secretaria de Educação Média e
conseqüência direta da dificuldade compartilhada, em Tecnológica (SEMTEC), 1999. Parâmetros curriculares
ambos os casos, por professores e alunos em lidar com nacionais: ensino médio. MEC/SEMTEC, Brasília, 364
conteúdos de cartografia, em todos os níveis de ensino. páginas.

A partir de nossa experiência com a Brasil. MEC. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
construção de maquetes do relevo brasileiro por turmas Educacionais (INEP), 1998. Plano Nacional de
do Ensino Médio público noturno, observamos que Educação. Proposta do Executivo ao Congresso
essa atividade pode se constituir também num Nacional. MEC/FINEP, Brasília.
instrumento alternativo de avaliação do conteúdo. Isto
porque, na sua elaboração, são requisitadas habilidades Oliveira, J.B.A. e, 2002. Uma radiografia do ensino
manuais que muitos alunos exercem em suas atividades brasileiro. Disponível em:
cotidianas do trabalho e que quase nunca são http://www.socialtec.org.br/download/pesquisa_downl
solicitadas ou valorizadas pela escola. O que quero oad/radiografia_ensino_brasileiro.doc. Acesso em: 24
dizer é que esses alunos conseguiram demonstrar, jul. 2003.
através da construção de maquetes do relevo brasileiro,
todo o conhecimento adquirido sobre o mesmo, o qual Taylor, D.R.F., 1992. Uma base conceitual para a
não seria devidamente avaliado se a forma de Cartografia: novas direções para a era da informação.
apresentação fosse uma dissertação ou uma prova Caderno de Textos - Série Palestras, LEMADI- Depto.
escrita sobre o tema: o relevo brasileiro. Geografia-FFLCH-USP, Ano I, Nº 1, pp.11-19.

Neste sentido, também a auto-estima desses


alunos em grande medida é estimulada e impulsionada,
por serem usados critérios de avaliação que valorizam
outras habilidades que não apenas aquelas habituais,
estabelecidas pelos tradicionais sistemas de avaliação
escolar.

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