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Cultura e novas profissões

Actualmente, constata-se que as relações entre as políticas culturais e o mercado obedecem a dois
tipos de inter-relações: as políticas culturais tendem a corrigir as distorções criadas pelo mercado
ou dão-se por satisfeitas desde que regulem os seus mecanismos.

No primeiro caso, os governos verificam que as indústrias culturais não se desenvolvem sem o apoio estatal
(veja-se a posição da União Europeia, do Conselho da Europa e dos próprios Estados relativamente às
indústrias cinematográficas nacionais face à "ameaça" de Hollywood; no segundo, as organizações são
incentivadas a comportarem-se como empresas comerciais, sendo frequentemente geridas pelo próprio
Estado, caso dos museus que, para além dos apoios estatais, têm as suas receitas próprias de
financiamento (entradas, cafés, lojas, etc.) e ainda apoios mecenáticos. Assim, no quadro europeu, cada
vez se torna menos nítida a fronteira outrora existente entre o sector público e o privado no âmbito da
cultura.
De acordo com o Relatório "La Culture au Coeur", do Conselho da Europa (CE) "A mundialização da
economia, a evolução tecnológica e a preocupação de preservação das indústrias nacionais levaram os
poderes públicos a manter as suas indústrias culturais comerciais e a regular de diversos modos os
mecanismos do mercado, através de concessão de apoios financeiros, redução de impostos, criação de
fundos de apoio destinados a áreas diversas".
O conceito de cultura foi sofrendo profundas alterações no decurso do século XX. Em Portugal, sobretudo
no final dos anos 80 e 90 ¿ a cultura como ornamento, como geradora de um certo desenvolvimento
económico, a cultura como um ramo da economia. Os modelos culturais passam a ser copiados dos
modelos empresariais, até mesmo no que se refere aos processos de marketing. As regras da cultura não
se distinguem das regras do mercado. Sobretudo nos anos 90, surgem novas profissões no âmbito do
sector cultural, como a de gestor cultural. As grandes empresas passam a investir no domínio cultural, nos
equipamentos tecnológicos e no mercado de lazeres. Os grandes empreendimentos culturais como a
Europália (1991), a Lisboa 94, a Expo 98 exigem igualmente especialistas, dando assim origem ao
aparecimento de novas profissões, nomeadamente, programadores culturais, comissários, especialistas em
marketing cultural, em turismo cultural, em informática, em audiovisual e multimédia.
Actualmente, mantém-se este quadro de novas profissões, prevendo-se o seu crescimento. É, pois,
premente que se formem profissionais competentes nestes ramos de actividades e se fuja a um certo
amadorismo que tem vindo a dominar. Como afirmam Ritva Mitchell e Rod Fisher sobre a gestão cultural na
sociedade moderna, toda a legitimidade implica um certo grau de profissionalismo. O crescimento destas
novas profissões no sector cultural e artístico levou ao aparecimento de um leque variado de oferta de
formações especializadas a nível europeu, que ultrapassam o número de postos de trabalho disponíveis.
Segundo António Pinto Ribeiro estas novas profissões ou actividades não se podem considerar totalmente
novas, pois algumas remontam ao século XVIII. Contudo, a revolução da informação e a globalização
vieram reforçar a sua necessidade. São profissões de mediação entre os artistas e os públicos, os artistas e
os produtores, os produtores e os públicos, os artistas e as escolas. A responsabilidade destes novos
profissionais é muito grande, na medida em que têm um papel activo na formação de gostos, na escolha de
repertórios, na selecção do "melhor" do património herdado e também do novo património de vanguarda.

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Falta formação
Em Portugal não existe uma formação académica específica para estas novas profissões; cada um tem o
seu percurso pessoal normalmente determinado por apetências culturais e artísticas, mas não se assume
uma posição única no campo cultural. Vejamos: nas instituições culturais (CCB e Culturgest) e/ou nos
mega-projectos culturais (Lisboa 94 e Festival dos 100 Dias), os programadores são recrutados por convite,
vindos de outras profissões, mas assumindo um papel profissional bem demarcado como programadores;
nos projectos cíclicos, por exemplo, festivais (Citemor, Almada e Ponti), acumulam funções artísticas nas
organizações a que pertencem, não ressaltando, por vezes, o seu papel de programadores.
Pode contudo estabelecer-se um conjunto de requisitos essenciais: reportórios e histórias das artes e
línguas estrangeiras, economia, contabilidade, história dos espaços de exposição e apresentação, técnicas
de comunicação para os programadores e comissários, modelos de produção, teorias das artes e de
interpretação, entre outros.
Grosso modo, podemos dizer que os programadores decidem a que produtos culturais os públicos devem
assistir, sendo as suas opções sempre legitimadas por uma determinada noção de públicos consumidores,
públicos múltiplos, públicos especializados, entre outros. Os produtores criam as condições necessárias
adequadas à implementação dos projectos. Os gestores culturais têm em vista uma melhor utilização e
rentabilização do conceito de recursos humanos, técnicos e financeiros de uma estrutura cultural. Os
comissários dedicam-se à preparação, organização e apresentação de eventos culturais, nomeadamente
exposições, salões do livro, feiras de indústrias culturais. Os animadores culturais são mediadores entre os
produtos culturais e os públicos, facilitando uma aproximação e "compreensão" entre ambos. Os
especialistas em marketing cultural criam o desejo e a necessidade nos públicos de consumirem
determinados produtos culturais.

Empregos Criativos
O CE no relatório já citado, avança contributos pertinentes relativos à definição de estratégias na procura de
empregos criativos. O nível de desemprego na Europa atingiu níveis tão elevados que os governos
começaram a ver o sector cultural numa perspectiva económica ¿ a cultura geradora de potenciais
empregos. Para esta nova visão governamental muito contribuiu o crescimento das indústrias culturais, em
particular o audiovisual e a música, domínios em que surge um número considerável de pequenas
empresas. O projecto "Culture et Quartiers" do CE emergiu de forma impressionante, criando uma
interacção entre empresas e cultura. Este tipo de estratégia estabelece uma ligação muito estreita das artes
e das indústrias culturais no desenvolvimento do comércio e dos negócios.
É importante manter e simultaneamente transformar as actividades comerciais tradicionais (livrarias,
discotecas, cinemas¿) e fomentar as novas actividades (estúdios de som, "ateliers" de artesanato e/ou
"design", bem com as empresas culturais multimédia). Esta articulação entre o antigo e o moderno cria
postos de trabalho diversificados no sector cultural.

À guisa de conclusão
Podemos dizer que cada vez mais se caminha para uma visão economicista da cultura. O capitalismo em
plena crise, na era da mundialização conseguiu já reconverter o cultural num bem de rendimento
praticamente infinito, o cultural como objecto de apropriação em termos de mercadoria, através da nova

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função que os multimédia lhe conferiram. Hoje o cultural tem um estranho poder de sedução. Os
Rockefeller, os Ford como os ex-Rostchild do capitalismo clássico não são os senhores da era da
mundialização, mas os John Malone, os Barry Diller, ¿Trip¿ Hawkins e outros Ruppert Murdoch (Eduardo
Lourenço).
Será a cultura como mercadoria a nova estrela salvadora da sociedade contemporânea em crise?

Teresa Duarte (Chefe de divisão do IPAE - Ministério da Cultura );


http://www.consumidor.pt/pls/ic/doc?id=5091&pmenu_id=5061&p_tipo_pai=2&p_acc=0

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