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Nesta sacra celebração, com a qual damos solene início ao ministério de Supremo
Pastor que foi posto sobre os nossos ombros, o primeiro pensamento, de adoração e
de súplica, vai para Deus, infinito e eterno, o qual, com uma sua decisão
humanamente inexplicável e com a sua benigníssima dignação, Nos elevou à Cátedra
do bem-aventurado Pedro. Sobem-Nos aos lábios espontâneas as palavras de São
Paulo:     !   " p #$     
    %    # (& . 11, 33).

O Nosso pensamento dirige-se, seguidamente, com paterno e afectuoso saudar, para


toda a Igreja de Cristo: para esta assembleia que aqui a representa, neste local Ͷ
impregnado de piedade, de religião e de arte Ͷ que guarda ciosamente o túmulo do
Príncipe dos Apóstolos; e àquela Igreja, depois, que Nos vê e Nos escuta nesta hora,
através dos modernos meios de comunicação social.

Saudamos todos os membros do Povo de Deus: os Cardeais, os Bispos, os Sacerdotes,


os Religiosos, as Religiosas, os Missionários, os Seminaristas, os Leigos comprometidos
no apostolado e nas diversas profissões, os homens da política, da cultura, da arte, da
economia, os pais e as mães de família, os operários, os migrantes, os jovens e as
donzelas, as crianças, os doentes, os que sofrem e os pobres.

Mas queremos dirigir também o Nosso respeitoso e cordial pensamento para todos os
homens do mundo, que Nós consideramos e amamos como irmãos, porque filhos do
mesmo Pai celeste e todos irmãos em Jesus Cristo (Cfr. ' . 23, 8 ss).

Quisemos iniciar esta Nossa homilia em latim, porque Ͷ como é conhecido Ͷ ele é a
língua oficial da Igreja, da qual exprime, de maneira palmar e eficaz, a universalidade e
a unidade.

A Palavra de Deus, que acabamos de ouvir proclamar, apresentou-nos, como que num
crescendo, em primeiro lugar a Igreja: ela é prefigurada e entrevista pelo profeta Isaías
(Cfr. . 2, 2-5), como o novo Templo, ao qual afluem as gentes de todas as partes,
desejosas de conhecer a Lei de Deus e de a observar docilmente, ao passo que as
terríveis armas de guerra são transformadas em instrumentos de paz.

Este novo Templo misterioso, entretanto, pólo de atracção da humanidade nova,


conforme nos recorda São Pedro, tem uma sua pedra angular viva, escolhida, precios a
(Cfr. 1 „ . 2, 4-9), que é Jesus Cristo, o qual fundou a sua Igreja sobre os Apóstolos e a
edificou sobre Pedro, chefe dos mesmos Apóstolos (Cfr. Const. dogmática (  
)   , 19).

*  + „        %   ,     - (' . 16, 18): são as palavras


graves, elevadas e solenes que Jesus, em Cesareia de Filipe, dirige a Simão, filho de
João, depois da sua profissão de fé, a qual não foi o resultado da lógica humana do
pescador de Betsaída, ou a expressão de uma sua particular perspicácia, ou ainda o
efeito de uma sua moção psicológica; mas sim fruto misterioso de uma autêntica
revelação do Pai celeste. E Jesus muda o nome de Simão em Pedro, significando com
isso a colação de uma especial missão; promete-lhe que há-de edificar sobre ele a
própria Igreja, a qual não será vencida pelas forças do mal ou da morte; e comete-lhe
as chaves do reino de Deus, nomeando-o assim responsável máximo da sua Igreja, e
dá-lhe o poder de interpretar autenticamente a lei divina. Perante estes privilégios, ou
para dizer melhor, perante estas tarefas sobre-humanas confiadas a Pedro, Santo
Agostinho adverte-nos: "Pedro por natureza era simplesmente um homem; por graça,
era um cristão; e por uma graça ainda mais abundante, era um e, ao mesmo tempo, o
primeiro dos Apóstolos" (Santo Agostinho,  .  /0  0, 124, 5: „( 35,
1973).

Com atónita e compreensível trepidação, mas também com imensa confiança na


poderosa graça de Deus e na ardente oração da Igreja, Nós aceitámos tornar-Nos o
Sucessor de Pedro na sede de Roma, assumindo o "jugo" que Cristo quis pôr sobre os
Nossos frágeis ombros. E afigura-se-Nos ouvir, como se a Nós fossem dirigidas, as
palavras que Santo Efrém faz dizer por Cristo a Pedro: "Simão, meu apóstolo, eu
constituí-te fundamento da Santa Igreja. Eu chamei-te de antemão Pedro porque tu
hás-de suster todos os edifícios; tu és o superintendente daqueles que edifi carão a
Igreja sobre a terra; .. tu és a nascente da fonte, à qual se vai haurir a minha doutrina;
tu és o chefe dos meus apóstolos; ... eu dei -te as chaves do meu reino" (Santo Efrém,

        , 4, 1; LAMY T. J..


0 /%  
1  1 
  , I, 412 ).

Desde o primeiro momento após a Nossa eleição e nos dias que imediatamente se
seguiram, ficámos profundamente impressionado e encorajado pelas manifestações
de afecto dos Nossos filhos de Roma e também daqueles que, de todas as partes do
mundo, Nos têm feito chegar o eco da sua incontível exultação pelo facto de Deus uma
vez mais ter dado à Igreja o seu Chefe visível. E assim, vêm encontrar eco
espontaneamente no Nosso espírito as comovidas palavras que o Nosso grande e
santo Predecessor, São Leão Magno, dirigia aos fiéis de Roma: "Não cessa de presidir
na sua sede o beatíssimo Pedro; e está estreitamente conjunto ao eterno Sacerdote
numa unidade que jamais virá a faltar... E por isso, todas as demonstrações de afecto,
que por dignação fraterna ou piedade filial haveis querido dirigir, vão para aquele a
cuja sede Nos alegra-mos não tanto por presidir, quanto por poder servir" (São Leão
Magno,
 V, 4-5: „( 54, 155-156).

Sim, a Nossa presidência na caridade é um serviço; e, ao afirmá-lo, Nós pensamos não


apenas nos Nossos Irmãos e Filhos católicos, mas em todos aqueles que procuram
também ser discípulos de Jesus Cristo, honrar a Deus e trabalhar para o bem da
humanidade.

Neste sentido, Nós dirigimos uma saudação afectuosa e reconhecida às Delegações


das outras Igrejas e Comunidades eclesiais que aqui estão presentes. Irmãos não ainda
em plena comunhão, nós voltamo-nos conjuntamente para Cristo Salvador,
progredindo uns e outros na santidade em. que Ele nos quer e simultaneamente no
amor mútuo sem o qual não há cristianismo, preparando as vias da unidade na fé, no
respeito da sua Verdade e do Ministério que Ele confiou, para a sua Igreja, aos
Apóstolos e aos seus Sucessores.

Além disto, Nós devemos dirigir uma saudação particular aos Chefes de Estado e aos
Membros das Missões Extraordinárias. Estamos muito sensibilizado com a vossa
presença: quer de vós que presidis aos altos destinos do vosso País, quer de vós que
representais os vossos Governos ou Organizações internacionais; a todos agradecemos
vivamente. Vemos numa tal participação a estima e a confiança que vós depositais na
Santa Sé e na Igreja, humilde mensageira do Evangelho a todos os povos da terra, para
ajudar a criar um clima de justiça, de fraternidade, de solidariedade e de esperança,
sem o qual o mundo não poderá viver.

Que todos, aqui, grandes e peque-nos, fiquem certos da Nossa disponibilidade para os
servir, segundo o Espírito do Senhor!

Circundado pelo vosso amor e amparado pela vossa oração, iniciamos o Nosso serviço
apostólico, invocando como estrela esplendorosa da Nossa caminhada a Mãe de Deus,
Maria,
 „ % &  e ' /  , que a Liturgia venera de modo particular
neste mês de Setembro. A Virgem Santíssima, que guiou com delicada ternura a Nossa
vida de criança, de seminarista, de sacerdote e de Bispo continue a iluminar e a dirigir
os Nossos passos, para que, feito voz de Pedro, com os olhos e a mente fixos no seu
Filho, Jesus, proclamemos no mundo, com jubilosa firmeza, a Nossa profissão de fé: * 
+ 2     p  (' . 16, 16). Ámen!

© Copyright 1978 - Libreria Editrice Vaticana

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„  3   (   

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Agradeço de coração ao Cardeal Vigário as delicadas palavras com que Ͷ também em


nome do Conselho Episcopal, do Cabido Lateranense, do Clero, dos Religiosos, das
Religiosas e dos fiéis Ͷ quis expressar a dedicação e o propósito de colaboração
prática, na diocese de Roma. O primeiro testemunho concreto desta colaboração
pretende ser a soma ingente recolhida entre os fiéis da diocese e posta à minha
disposição a fim de prover de igreja e de estruturas paroquiais um bairro periférico da
Cidade, ainda destituíd o destes essenciais auxílios comunitários de vida cristã.
Agradeço, sinceramente comovido.

1) O mestre de cerimónias escolheu as três leituras bíblicas para esta liturgia solene.
Julgou-as a propósito e eu vou procurar explicá -las.

A primeira leitura, Isaías 60, 1-6, pode ser referida a Roma. Ë de todos sabido que o
Papa adquire autoridade sobre toda a Igreja porque é Bispo de Roma, isto é, sucessor,
nesta cidade, de Pedro. E especialmente graças a Pedro, pode a Jerusalém, de que
falava Isaías, ser considerada figura, prenúncio de Roma. Também de Roma, como sé
de Pedro, lugar do seu martírio e centro da Igreja católica, se pode dizer:
 
  5  
   6   0378   %   ! (.
60, 2). Recordando as peregrinações dos Anos Santos e as que se vão realizando nos
anos normais com ininterrupta afluência, pode-se com o profeta apostrofar Roma
deste modo: (       " 9    :000   ,          000
%  ,          ,   %      (. 60, 4-
5). Realizar-se isto é honra para o Bispo de Roma e para vós todos. Mas é também
responsabilidade. Encontrarão aqui os peregrinos um modelo de verdadeira
comunidade cristã? Com a ajuda de Deus, seremos nós capazes, Bispos e fiéis, de
realizar aqui as palavras de Isaías, escritas antes das supracitadas? Refiro-me a estas:
.    ,   "  000    %     -   (.
60, 18.21). Há poucos minutos, o Profess or Argan, Presidente da Câmara de Roma,
dirigiu-me corteses palavras de saudação e bons votos. Algumas das suas palavras
trouxeram-me ao espírito uma das fórmulas que, sendo criança, eu repetia com a
minha mãe. Eram as seguintes: "Os pecados que bradam ao céu são... opressão de
pobres..., não pagar o salário a quem trabalha". Por sua vez, o pároco interrogava -me
no catecismo: "Os pecados, que bradam vingança diante de Deus, porque são eles dos
mais graves e funestos?". E eu respondia segundo o catecismo de Pio X: "Porque são
directamente contrários ao bem da humanidade e são odiosíssimos, tanto que
provocam, mais que os outros, os castigos de Deus" (2   „ ;, n. 154). Roma
será verdadeira comunidade cristã, se Deus for nela honrado não só com a afluência
dos fiéis às igrejas, não só com a vida privada, vivida morigeradamente, mas também
com o amor aos pobres. Estes Ͷ dizia o diácono romano Lourenço Ͷ são os
verdadeiros tesouros da Igreja; devem, portanto, ser ajudados, por quem pode, a
terem e serem mais, sem receberem humilhações e ofensas com riquezas ostentadas,
com dinheiro esbanjado em coisas fúteis e não investido Ͷ quando possível Ͷ em
empresas de utilidade comum.

2) A segunda leitura, Hebreus 13, 7-8; 15-17; 20-21, adapta-se aos fiéis de Roma.
Escolheu-a, como disse, o Mestre de cerimónias. Confesso que, falando ela de
obediência, me embaraça um tanto. É tão difícil, hoje, convencer, quando se põem em
confronto os direitos da pessoa humana e os direitos da autoridade e da lei! No livro
de Job é descrito um cavalo de batalha: salta como um gafanhoto e está ofegante;
escava a terra com o casco e depois lança-se com ardor; quando a trombeta dá sinal,
relincha de júbilo; de longe fareja a batalha, a voz atroadora dos chefes e o alarido dos
guerreiros (Cfr. . 39, 15-25). Símbolo da liberdade. A autoridade, pelo contrário,
assemelha-se ao cavaleiro prudente, que monta a cavalo e Ͷ ora com voz suave, ora
usando moderadamente as esporas, o freio e o chicote Ͷ o excita, ou pelo contrário
lhe modera a corrida impetuosa, o enfreia e o faz parar. Pôr de acordo cavalo e
cavaleiro, liberdade e autoridade, tornou-se problema social. E também problema da
Igreja. No Concílio tentou-se resolvê-lo no quarto capítulo da (      . Eis as
indicações conciliares para o "cavaleiro": "Os sagrados pastores conhecem
perfeitamente quanto os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja. Pois aqueles
próprios sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós
de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime
consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e
carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra
comum" ((0)0, 30). E mais ainda: sabem também, os pastores, que, "nas batalhas
decisivas, é às vezes da frente da hoste que partem as mais felizes iniciativas" ( . 37,
nota 3. ). Eis, porém, uma indicação do Concílio para o "ousado cavaleiro", isto é, para
os leigos: "os fiéis devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo, e
Jesus Cristo ao Pai" ( . 27). Peçamos ao Senhor que ajude tanto o Bispo como os
fiéis, tanto o cavaleiro como os cavalos. Foi-me dito que, na diocese de Roma, são
numerosas as pessoas que se dedicam generosamente pelos irmãos, e numerosos os
catequistas; muitos esperam ainda um aceno para intervirem e colaborarem. O Senhor
nos ajude a todos para constituirmos em Roma uma comunidade cristã viva e
operante. Não foi sem motivo que citei o capítulo quarto da (      : é o
capítulo da "comunhão eclesial". O que fica dito refere -se porém, de maneira especial,
aos leigos. Os sacerdotes, os religiosos e as religiosas têm uma posição particular,
ligados como estão ou pelo voto ou pela promessa de obediência. Recordo, como um
dos momentos solenes da minha existência, aquele em que, tendo as minhas mãos
entre as do Bispo, disse: "Prometo". Desde então sinto -me obrigado por toda a vida e
nunca pensei se tivesse tratado de cerimónia sem importância. Espero que os
sacerdotes de Roma pensem do mesmo modo. A eles e aos religiosos recordaria São
Francisco de Sales o exemplo de São João Baptista, que viveu na solidão, longe do
Senhor, embora bem desejoso de estar perto. Porquê? Por obediência; "sabia Ͷ
escreve o Santo Ͷ que encontrar o Senhor, fora da obediência, significava perdê-
l'O"(F. De Sales,   , Annecy, 1896, p. 321).
3) A terceira leitura, Mateus 28, 16-20, recorda ao Bispo de Roma os seus deveres. O
primeiro é "ensinar", propondo a palavra do Senhor com fidelidade tanto a Deus como
aos ouvintes, com humildade mas com franqueza sem timidez. Entre os meus santos
predecessores Bispos de Roma, dois são também Doutores da Igreja: São Leão, o
vencedor de Átila, e São Gregório Magno. Nos escritos do primeiro há um pensamento
teológico altíssimo e cintila nele uma língua latina estupendamente arquitectada; não
julgo poder imitá-lo nem de longe. O segundo, nos seus livros, é "como pai, que instrui
os próprios filhos e lhes comunica os cuidados que toma a fim de que se salvem" (I.
Schuster, ( 
   , vol. I, Turim 1929, p. 46). Desejo fazer o possível por
imitar o segundo, que dedica todo o livro terceiro da sua &   „  ao tema
"qualiter doceat", - isto é, como deve o pastor ensinar. Em nada menos de 40 capítulos
inteiros, indica Gregório de modo concreto várias formas de instrução segundo as
várias circunstâncias de condição social, idade, saúde e temperamento moral dos
ouvintes. Pobres e ricos, alegres e melancólicos, superiores e súbditos, doutos e
ignorantes, atrevidos e tímidos, e assim por diante; naquele livro estão todos, é como
o vale de Josafat. No Concílio Vaticano pareceu novo que fosse chamado "pastoral"
não já o que era ensinado aos pastores, mas o que os pa stores faziam para
corresponder às necessidades, às ansiedades e às expectativas dos homens. Aquele
"novo" Gregório já o fizera vários séculos antes, tanto na pregação como no governo
da Igreja.

O segundo dever, expresso pela palavra "baptizar", refere-se aos Sacramentos e a toda
a liturgia. A diocese de Roma seguiu o programa da Conferência Episcopal Italiana
"Evangelização e Sacramentos"; já sabe que evangelização, sacramento e vida santa,
são três momentos dum caminho único: a evangelização prepara para o sacramento, o
sacramento leva quem o recebeu a viver cristãmente. Desejo que este importante
conceito seja aplicado em medida cada vez mais larga. Desejava também que Roma
desse bom exemplo em matéria de Liturgia celebrada piedosamente e sem
"criatividades" destoantes. Alguns abusos em matéria litúrgica favoreceram talvez,
como reacção, atitudes que levaram a tomadas de posição em si insustentáveis e em
contraste com o Evangelho. Ao apelar, com afecto e com esperança, para o sentido de
responsabilidade de cada um perante Deus e a Igreja, desejaria poder dar a certeza
que todas as irregularidades litúrgicas serão diligentemente evitadas.

E eis-me chegado ao último dever episcopal: "ensinar a observar"; é a diaconia, o


serviço de guiar e governar. Embora eu tenha sido já vinte anos Bispo em Vittorio
Véneto e em Veneza, confesso não ter ainda "aprendido o ofício". Em Roma entrarei
na escola de São Gregório Magno, que escreve: "Esteja (o pastor) perto de cada
súbdito com a compaixão; esquecendo o seu grau, considere-se igual aos súbditos
bons, mas não tenha receio de exercer, contra os malvados, os direitos da sua
autoridade. Recorde-se: enquanto todos os súbditos levantam ao céu o que ele tenha
feito de bem, nenhum se atreve a repreender o que fez de mal; qua ndo ele reprime os
vícios, não deixe de reconhecer-se com humildade igual aos irmãos por si mesmo
corrigidos; e sinta-se diante de Deus tanto mais devedor, quanta mais impunes ficam
as suas acções diante dos homens" (& „ ., Parte segunda, cc.5 e 6 %).
Aqui termina a explicação das três leituras bíblicas. Seja-me permitido acrescentar uma
coisa só: é lei de Deus que não se pode fazer bem a pessoa alguma se primeiro não se
lhe quer bem. Por isso, São Pio X, entrando como Patriarca em Veneza, exclamo u em
São Marcos: "Que seria de mim, Venezianos, se não vos amasse?". Eu digo aos
Romanos coisa semelhante: posso assegurar-vos que vos amo, que só desejo começar
a servir-vos e pôr à disposição de todos as minhas pobres forças, aquele pouco que
tenho e sou.


 ! 


  „

Intimamente unido aos Bispos do Conselho Episcopal de Roma, e ao Cabido


Lateranense, tenho a alegria e a responsabilidade de compendiar os sentimentos de
fé, amor, dedicação, disponibilidade e colaboração que o Clero, Religiosos e povo da
Vossa Diocese Romana hoje desejam manifestar-Vos com limpidez e sinceridade
absoluta.

Ao anunciar esta Vossa visita à Patriarcal Arquibasílica do SS.mo Salvador, do Latrão,


depositária da Cátedra do Bispo de Roma, ousei dizer que se tratava dum encontro
completamente romano, não por falta de respeito ou consideração aos Membros da
Cúria da Santa Sé, que também se chama Romana, ou aos ilustres Representantes de
tantos povos irmãos, aqui presentes a dar-Vos honra, mas para recordar a nós mesmos
uma especial dimensão de vida eclesial e a consequente responsabilidade, que deriva
do nosso vínculo com a Vossa Pessoa.

Somos filhos Vossos, como todos os membros da Igreja Católica, mas com uma
peculiaridade que é única: esta santa Igreja diocesana de Roma pertence só a Vós e
nenhum Irmão no Episcopado pode partilhar convosco a paternidade dela.

Somos Vossa pessoal porção e herança, representada por aquela Cátedra de Pedro, de
que o Latrão é espiritualmente depositário. Com ela herdastes a paternidade e o
Magistério Universal na Igreja Católica.

Temos um título pessoal para receber de Vós alimento e apoio com a P alavra de Deus,
com o exercício da caridade e paciência paternal, com a atenção e solicitude imediata,
a fim de que a nossa Fé não venha a soçobrar e a nossa vida cristã a definhar.

Todavia se nos detivéssemos só nestas considerações seríamos filhos inert es, avaros e
mesquinhos: certamente não seríamos Vossa coroa e alegria.

Agradecemo-Vos este encontro, na tomada de posse da Vossa Cátedra Episcopal,


porque nos dais a alegria de notarmos, mais aguda e filialmente, algumas nossas
responsabilidades activas, graves e estimulantes.
Nós reparamos que, por causa da comunhão íntima do Povo de Deus com o seu Bispo,
somos também dalgum modo participantes da grave missão Vossa, da construção da
Santa Igreja no mundo. Não só em Roma nós devemos estender e intensificar, de
maneira que se faça sentir em toda a parte, a Vossa acção pastoral e a Vossa caridade;
não só como filhos que habitam em casa, devemos ajudar o Pai no acolhimento dos
irmãos que vêm de longe; mas, como nenhum outro, somos ajudados pela Vossa
mesma presença e missão a crescer numa dimensão de Fé verdadeiramente católica,
num testemunho de caridade Ͷ para com os pobres, os humildes, os pequenos e os
marginalizados Ͷ que seja claramente notado pelas outras Igrejas irmãs.

São deveres que a Vossa presença aqui hoje nos recorda, com autoridade única.

Profundamente conscientes das nossas fraquezas, limitações e contradições, que, na


vida eclesial da Cidade se misturam com as suas singulares capacidades de bem e com
as forças vivas cristãs, operantes em todos os níveis culturais, populares, de direcção
ou de comunidade, nós damo -nos conta doutra responsabilidade da "comunhão
eclesial" convosco, nosso Bispo e Pai: nós constituímos para Vós o espaço de
verificação de todo o bem e da dor que, em expressões e dimensões diversas, se move
e estende no mundo. Para usar um termo técnico moderno, a Diocese de Roma
constitui para o Papa a "indagação-amostra" imediata, viva, alegre ou dolorosa, da vida
humana e cristã difundida em todo o mundo.

Talvez por isto as tensões, aspirações, possibili dades operativas, compensações e


desequilíbrios sociais, morais e religiosos Ͷ que existem inevitavelmente em todas as
cidades, talvez mesmo em proporções maiores Ͷ assumem todavia em Roma uni eco
singular e mundial, que imediatamente se adverte. De maneira que, à medida que
fordes conhecendo intimamente a Vossa Igreja diocesana, advertireis misteriosamente
corno pulsa o coração do mundo.

Reflectindo sobre esta situação, sentimo-nos obrigados a dar-Vos um contributo, o


mais possível verdadeiro e autêntico, para facilitar a Vossa missão de Pastor e Pai
universal.

Somos presunçosos? Padre Santo, compadecei-vos de nós, como débeis criaturas que
somos; compreendei-nos como pessoas cheias de boa vontade; amai-nos e fortificai-
nos como filhos sinceros, que vos q uerem ser fiéis.

Seguindo o fio destas considerações, a alegria explosiva da Vossa Igreja, no encontro


com o seu Bispo, torna-se mais reflexiva e consciente. A alegria não pode substituir o
dever; mas, pelo dever notado e cumprido, é consolidada a alegria, portadora de
novos frutos.

Vós Ͷ numa continuação da obra do venerado Papa Paulo VI, tornada tão humana e
sensível nos últimos anos Ͷ já nos destes muito em confiança, em amável paternidade
e mais ainda nos dareis em fortaleza espiritual e em assistênci a magisterial e moral.

Nós, pequenos, que podemos oferecer -vos? Uma dádiva que entre na colaboração de
Fé e de caridade, para auxílio dos mais pobres.
Paróquias, Institutos Religiosos e fiéis corresponderam generosamente ao convite, por
mim lançado, de oferecer-vos a possibilidade de construir uma "casa de Deus e de
caridade fraterna" num arrabalde modesto de Roma: em Castelgiubileo na Via Salária,
onde a paróquia de São Crisanto e Santa Daria está ainda desprovida de todas as
estruturas paroquiais.

Foram recolhidos até agora mais de cem milhões; será a primeira dádiva paternal,
oferecida pelo Papa João Paulo à sua Diocese de Roma.

Abençoai, Padre Santo, o Cardeal Vigário e os Bispos Vossos colaboradores, o


Venerando Cabido e Clero Lateranense, o Presbit ério diocesano com os Seminários e
com os Institutos; mas sobretudo a Cidade e Diocese de Roma, com todos os seus
responsáveis religiosos e civis. e especialmente com os seus filhos, em particular os
mais pobres e os doentes, com o bons auspício de Maria " Salus Populi Romani".

© Copyright 1978 - Libreria Editrice Vaticana

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p  4 3   

     #
p         2 6 #

Chamado pela misteriosa e paterna bondade de Deus à gravíssima responsabilidade do


Supremo Pontificado, enviamo-vos a Nossa saudação; e imediatamente a tornamos
extensiva a todos os homens do mundo, que neste momento nos escutam e nos quais,
segundo os ensinamentos do Evangelho, gostamos d e ver unicamente amigos e
irmãos. Para vós todos, saúde, paz, misericórdia e amor: 3  7  
  .  
2        p      7    /%  
   -     6 (2
2 . 13, 13).

Temos ainda o ânimo prostrado pela lembrança do tremendo ministério para que
fomos escolhido: como Pedro, parece -nos ter posto o pé sobre água insegura, e,
batido pelo vento impetuoso, com ele gritamos ao Senhor:
5 
 (' ., 14,
30). Ouvi-mos, contudo, dirigida também a nós a palavra, a um tempo encorajante e
amavelmente exortadora de Cristo: <     %  ,+ %     = (., 14,
31). Se as forças humanas, por si sós, não podem suportar tão grande peso, a ajuda
omnipotente de Deus Ͷ que guia a sua Igreja através dos séculos, no meio de tantas
contradições e contratempos Ͷ não nos faltará também a Nós, humilde e último
"servo dos Servos de Deus". Com a nossa mão apertada na de Cristo, apoiando-nos
n'Ele, também Nós subimos ao leme desta barca que é a Igreja. Ela tem estabilidade e
segurança, mesmo nas tempestades, porque leva consigo a presença confortante e
dominadora do Filho de Deus. Segundo as palavras de Santo Agostinho, que retoma
uma imagem preferida pela antiga Patrística, a nau da Igreja não deve temer; porque é
guiada por Cristo: "Mesmo agitada, a barca não deixa de ser barca. Só ela transporta
os discípulos e recebe Cristo. Arrosta perigos no mar, mas, sem ela, imediatamente se
perece" (Santo Agostinho,
 75, 3; „( 38, 475). Só nela se encontra a salvação:
sem ela perece-se!

Com esta fé, prosseguiremos. A ajuda de Deus não nos faltará, segundo a promessa
indefectível: /     %        + ,   (' ., 28,
20). A vossa correspondência unânime e a solícita colaboração de todos aliviarão o
peso do nosso múnus quotidiano. Iniciamos esta tremenda missão, com a consciência
do carácter insubstituível da Igreja Católica, cuja imensa força espiritual é garantia de
paz e ordem, e, como tal, está presente no mundo, sendo como tal reconhecida. O eco
que a sua vida produz no mundo todos os dias é testemunho de que, apesar de tudo,
ela está viva no coração dos homens, mesmo daqueles que não partilham a sua
verdade e não aceitam a sua mensagem. Como disse o Concílio Vaticano II, "destinada
a estender-se a todas as regiões, a Igreja entra na história dos homens, ao mesmo
tempo que transcende os tempos e as fronteiras dos povos. Caminhando através de
tribulações, a Igreja é confortada pela força da graça de Deus, que lhe foi prometida
pelo Senhor, a fim de que, por causa da fraqueza da carne, não se afaste da perfeita
fidelidade, mas permaneça esposa digna do seu Senhor e não cesse de renovar-se sob
a luz do Espírito Santo, até que, por meio da Cruz, chegue à luz que não conhece
ocaso" ((   )   , 9). Segundo o plano de Deus, que "convocou todos aqueles
que olham com fé para Jesus, autor da salvação e princípio de unidade e de paz", a
Igreja foi constituída por Ele, "a fim de ser para todos e para cada um o sacramento
visível desta unidade salvífica" ( ).

A esta luz, pomo-nos inteiramente, com todas as energias físicas e espirituais, ao


serviço da missão universal da Igreja, que o mesmo é dizer, ao serviço do mundo, isto
é, ao serviço da verdade, da justiça, da paz, da concórdia, da cooperação no interior
das nações e entre os povos. Exortamos, antes de tudo, os filhos da Igreja a tomarem
consciência sempre mais clara da sua responsabilidade: 6   6 
  !      (' ., 5, 13 ss). Superando as tensões internas, que aqui e além se
puderam criar, vencendo as tentações de identificação com os gostos e costumes do
mundo, e bem assim as atracções de um fácil aplauso, unidos no único vínculo do
amor que deve informar a vida íntima da Igreja como também as formas externas da
sua disciplina, os fiéis devem estar prontos a dar testemunho da própria fé diante do
mundo:
%  %    %   %     ,           
%    !   % 7 (1 „ ., 3, 15).

A Igreja, neste esforço comum de responsabilização e de resposta aos problemas


lancinantes do momento, é chamada a dar ao mundo aquele "suplemento de alma"
que de tantos lados se invoca como coisa única que pode assegurar a salvação. Isto
espera hoje o mundo, que conhece bem a sublime perfeição alcan çada com as
investigações e com a técnica, atingindo um cume, além do qual só há a vertigem do
abismo: a tentação de substituir-se a Deus com a decisão autónoma que prescinde das
leis morais e leva o homem moderno ao risco de reduzir a terra a um deserto, a pessoa
a um autómato, a convivência humana a uma colectivização planificada, introduzindo
não raro a morte lá onde Deus quer a vida.

A Igreja, cheia de admiração e amorosamente inclinada para as conquistas humanas,


pretende, por outro lado, salvaguardar o mundo sedento de vida e de amor Ͷ das
ameaças que lhe estão sobranceiras; o Evangelho chama todos os seus filhos a porem
as próprias forças, e a própria vida, ao serviço dos irmãos, em nome da caridade de
Cristo: > +           %     (. .,
15, 13). Neste momento solene, queremos consagrar tudo o que somos e aquilo que
podemos a este fim supremo, até ao último suspiro, consciente da missão que Cristo
nos confiou: 2 ,      ((., 22, 32).

No cumprimento da nossa árdua tarefa, ajuda-nos a suavíssima recordação dos nossos


Predecessores, cuja amável benignidade e intrépida força nos servirá de exemplo no
ministério pontifício: de modo particular, recordamos as grandíssimas lições de
governo pastoral deixadas pelos Papas mais próximos no tempo, como Pio XI, Pio XII,
João XXIII, que, com a sua sabedoria, dedicação, bondade e amor à Igreja e ao mundo,
marcaram uma presença indelével no nosso tempo atormentado e magnífico. Mas é
sobretudo para o saudoso Pontífice Paulo VI, nosso imediato Predecessor, que vai o
sentimento comovido do Nosso afecto e da Nossa veneração. A sua morte rápida, que
deixou o mundo atónito como os gestos proféticos de que constelou o seu
inesquecível pontificado, pôs na devid a luz a estatura extraordinária daquele grande e
humilde homem, ao qual a Igreja deve a irradiação, que, apesar das contradições e
hostilidades, conseguiu nestes últimos quinze anos, corno também a obra desmedida,
infatigável e sem paragens, por Ele realizada em aplicar o Concílio e em garantir a paz
ao mundo Ͷ       .

O Nosso programa será o de continuar o seu, no sulco já traçado, com tão universal
consenso, pelo grande coração de João XXIII:

Ͷ queremos prosseguir, sem paragens, a herança do Concílio Vaticano II, cujas normas
sábias devem continuar a cumprir-se, velando para que um ímpeto, generoso talvez
mas incauto, lhes não deforme o conteúdo e o significado, e também para que forças
exageradamente moderadoras e tímidas não atrasem o seu magnífico impulso de
renovação e de vida;

Ͷ queremos conservar intacta a grande disciplina da Igreja, na vida dos sacerdotes e


dos fiéis, tal como a celebrada riqueza da sua história a assegurou através dos séculos,
com exemplos de santidade e de hero ísmo, quer no exercício das virtudes evangélicas,
quer no serviço dos pobres, dos humildes e dos indefesos. A este propósito,
promoveremos a revisão dos dois Códigos de Direito Canónico, de tradição oriental e
latina, para assegurar, à linfa interior da santa liberdade dos filhos de Deus, a solidez e
a estabilidade das estruturas jurídicas;

Ͷ queremos recordar a toda a Igreja que o seu primeiro dever continua sendo o da
evangelização, cujas linhas mestras o nosso Predecessor Paulo VI sintetizou num
memorável documento: animada pela fé, alimentada pela Palavra de Deus e nutrida
pelo alimento celeste da Eucaristia, ela deve procurar todos os caminhos e descobrir
todos os meios, %    %    (2 *., 4, 2), para semear o Verbo,
proclamar a mensagem, anunciar a salvação, que introduz nas almas a inquietação da
procura da verdade e as mantém nesta inquietação com o auxílio do alto. Se todos os
filhos da Igreja souberem ser incansáveis missionários do Evangelho, novo
florescimento de santidade e de renovação surgirá no mundo, sequioso de amor e de
verdade;

Ͷ queremos continuar o esforço ecuménico, que vemos como a última indicação dos
nossos imediatos Predecessores, velando com fé intacta, com esperança invencível e
com amor indeclinável pela realização do grande mandamento de Cristo: $   
 -  (. ., 17, 21), em que vibra a ansiedade do seu coração na vigília da imolação
do Calvário. As mútuas relações entre as Igrejas de diversas denominações realizaram
progressos constantes e notáveis, que estão à vista de todos. Mas a divisão não
deixou, por outro lado, de ser ocasião de perplexidade, de contradição e de escândalo
para os não-cristãos e os não-crentes. Por isso, tencionamos dedicar a nossa acurada
atenção a tudo o que possa favorecer a unid ade, sem cedências doutrinais e também
sem hesitações;
Ͷ queremos prosseguir com paciência e firmeza naquele diálogo sereno e construtivo,
que o nunca suficientemente chorado Paulo VI pôs como fundamento e programa da
sua acção pastoral, expondo as linhas mestras na sua excelente Encíclica / 

: que os homens se reconheçam mutuamente enquanto homens; e quando se


trate daqueles que não partilham a nossa fé, que estejamos sempre dispostos a dar-
lhes o testemunho da fé que está em nós e da missão que nos confiou Cristo, , 
      (0 17, 21);

Ͷ queremos, enfim, favorecer todas as iniciativas louváveis e valiosas, que possam


defender e incrementar a paz no mundo conturbado: chamaremos à colaboração
todos os homens bons, justos, honestos e rectos de coração, para que estabeleçam um
dique, no interior das nações, contra a violência cega que só destrói e semeia ruínas e
luto, e para que, na vida internacional, conduzam à mútua compreensão, à conjugação
dos esforços, e favoreçam o progresso social, debelem a fome do corpo e a ignorância
do espírito, promovam a elevação dos povos menos dotados de bens da fortuna,
embora ricos de energias e de vontade.

Irmãos e filhos caríssimos:

Nesta hora, que, para Nós é de hesitação, mas em que também nos sentimos
confortado pelas divinas promessas, dirigimos a Nossa saudação a todos os nossos
filhos: desejá-los-íamos aqui todos presentes, para os vermos e abraçarmos,
infundindo neles a coragem e a confiança, e pedindo para Nós a compreensão e a
prece.

A todos saudamos:

Ͷ aos Cardeais do Sacro Colégio, com os quais partilhámos horas decisivas. Com eles
contamos agora e no futuro, agradecendo-lhes o prudente conselho e a generosa
colaboração que desejarão oferecer-nos, como prolongamento daquele consenso que,
por vontade de Deus, nos elevou a este cume do Múnus Apostólico;

Ͷ saudamos todos os Bispos da Igreja de Deus, cada um dos quais "representa a sua
Igreja; e todos, juntamente com o Papa, representam toda a Igreja no vínculo da paz,
do amor e da caridade" ((   )   , 23), e cuja colegialidade queremos
firmemente valorizar, desejando ardentemente a cooperação dos mesmos no governo
da Igreja universal, quer mediante o órgão sinodal, quer através das estruturas da
Cúria Romana, em que participam segundo as normas estabelecidas;

Ͷ saudamos todos os Nossos dilectos Colaboradores, chamados à perfeita execução


da Nossa vontade e à honra de uma actividade que lhes exige santidade de vida,
espírito de obediência, esforço apostólico e um ardentíssimo amor à Igreja, que aos
outros sirva de exemplo. Amamos a cada um; e, pedindo-lhes continuem a conceder-
nos, como aos nossos Predecessores, a sua comprovada fidelidade, estamos certo de
poder contar com a sua actividade preciosíssima, que nos servirá de grande ajuda ;
Ͷ saudamos os Sacerdotes e os Fiéis da diocese de Roma, aos quais nos liga a
sucessão de Pedro e o cargo único e singular desta Cátedra Romana "que preside à
caridade universal" (Cfr. Santo Inacio, /%0& ., Funk I, 252);

Ͷ saudamos, depois, de modo particular, os membros das dioceses de Belluno, onde


nascemos, e aqueles que, em Veneza, nos foram confiados como filhos
afectuosíssimos e caríssimos, nos quais agora pensamos com sincera saudade, ao
recordarmos as suas magníficas actividades eclesiais e as comuns energias
consagradas à boa causa do Evangelho;

Ͷ abraçamos, depois, todos os Sacerdotes, especialmente os Párocos, e quantos se


dedicam à cura directa das almas, muitas vezes em condições difíceis, ou mesmo de
verdadeira pobreza, mas sustentados maravilhosamente pela graça da vocação e pelo
heróico seguimento de Cristo, %   (1 „ ., 2, 25);

Ͷ saudamos os Religiosos e as Religiosas, quer de vida contemplativa, quer activa, que


não deixam de irradiar sobre o mundo a luz suavíssima da total adesão aos ideais
evangélicos, suplicando-lhes que, sem interrupção, "se esforcem muito por que possa
a Igreja, por meio deles, apresentar Cristo, cada vez com maior clareza, aos fiéis como
aos infiéis" ((  )   , 46.);

Ͷ saudamos toda a Igreja missionária, e enviamos aos homens e mulheres, que, nos
postos avançados anunciam o Evangelho, o nosso encorajamento e o nosso aplauso
mais afectuoso: saibam que, entre quantos nos são caros, eles Nos são caríssimos.
Jamais os esqueceremos nas Nossas orações e na Nossa solicitude, porque ocupam um
lugar privilegiado no Nosso coração;

Ͷ para as associações de Acção Católica, como para os movimentos de várias


denominações, que oferecem energias novas para a vivificação da sociedade e para a
        "a qual é fermento na massa" (Cfr. ' ., 13, 33), vai toda a Nossa
protecção e apoio, pois estamos convencido de que a sua actividade, em colaboração
com a sagrada Hierarquia, é indispensável para a Igreja de hoje;

Ͷ e saudamos os Jovens, esperança de um amanhã mais límpido, mais são, mais


construtivo, admoestando-os a que saibam distinguir o bem do mal, e realizá -lo com as
renovadas energias que possuem, para a vitalidade da Igreja e para o futuro do
mundo;

Ͷ saudamos as Famílias, que são "o santuário doméstico da Igreja" (3%  
3   , 11), direi até; uma verdadeira e própria "Igreja doméstica" ((  
)   , 11), em que florescem as vocações religiosas, em que se tomam as santas
decisões, e onde se prepara o futuro do mundo. Exortamo-las a que se oponham às
ideologias perniciosas do "hedonismo" destruidor da vida, e formem ânimo s fortes,
dotados de generosidade, de equilíbrio, de dedicação ao bem comum;

Ͷ mas por um motivo especial, saudamos todos Aqueles que sofrem no momento
presente: os doentes, os prisioneiros, os exilados, os perseguidos; todos os que não
encontram trabalho ou com dificuldade conseguem satisfazer as exigências da vida;
todos os que sofrem pelo constrangimento a que está sujeita a sua fé católica, que não
podem livremente professar senão à custa dos primordiais direitos que competem aos
homens livres e a cidadãos esforçados e leais. De modo particularíssimo, pensamos na
martirizada terra do Líbano, na situação da Pátria de Jesus, na região denominada
"Sahel", dos aqueles filhos e irmãos que padecem dolorosas privações, quer por causa
das condições sociais e po líticas, quer pelas consequências de desastres naturais.

Homens irmãos de todo o mundo!

Todos estamos comprometidos na tarefa de elevar o mundo a uma justiça cada vez
maior, a uma paz mais estável, a uma cooperação mais sincera. Por isso, a todos
convidamos e rogamos que Ͷ desde as classes mais humildes, que formam o tecido
conjuntivo das nações, até aos chefes responsáveis de cada um dos povos Ͷ de modo
eficaz e "responsável" se empenhem, na introdução de uma ordem nova, mais justa e
mais sincera.

Uma alvorada de esperança paira sobre o mundo, mesmo se, de vez em quando,
trevas densíssimas Ͷ que se distinguem pelos sinistros fulgores do ódio, do sangue e
da guerra Ͷ parecem obscurecê-la. O humilde Vigário de Cristo, que, de ânimo tímido
mas cheio de confiança, inicia a sua missão, está inteiramente pronto a servir a Igreja e
a sociedade civil, sem qualquer discriminação de raças ou de ideologias, com o
objectivo de que para o mundo nasça um dia mais claro e mais suave. Só Cristo pode
fazer que brilhe a luz sem ocaso, porque é o "sol da justiça" (Cfr. '., 4, 2. ). Reclama,
porém, o esforço de todos, e o N osso por certo não faltará.

Pedimos a todos os Nossos filhos que Nos ajudem com as suas orações, pois que nelas
somente confiamos. De bom grado Nos entregamos ao auxílio do Senhor que, tendo -
Nos chamado à missão de O representar na terra, não Nos faltará com a sua graça
omnipotente. A Bem-aventurada Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, será como a
estrela fulgente do Nosso Pontificado. São Pedro,      - (Santo Ambrosio,
/?%0/0 0( , IV, 70: CSEL 32, 4, p. 175), Nos sustenha coro a sua in tercessão e
com o seu exemplo de fé invicta e de generosidade humana; seja São Paulo para Nós o
guia, a quem siga-mos num impulso apostólico, capaz de abranger todos os povos; os
Nossos Santos Patronos nos assistam.

Finalmente, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, concede-mos ao mundo a


Nossa primeira e afectuosíssima Bênção Apostólica.

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p  4 3   

Ontem de manhã fui para a Sistina votar tranquilamente. Nunca poderia imaginar o
que estava para acontecer. Apenas começou o perigo para mim, os dois Colegas que
estavam ao meu lado sussurraram-me palavras de coragem. Um disse: "Coragem! Se o
Senhor dá um peso, concede também a ajuda para levá-lo". E o outro Colega: "Não
tenha receio, em todo o mundo há tanta gente que ora pelo Papa novo". Chegado o
momento, aceitei. Depois tratou-se do nome, porque é perguntado também que nome
se quer tomar, e eu pouco tin ha pensado.

Fiz então este raciocínio: o Papa João quis consagrar-me com as suas mãos, aqui na
Basílica de São Pedro; depois, se bem que indignamente, em Veneza, sucedi-lhe na
Cátedra de São Marcos, naquela Veneza que ainda está inteiramente cheia do Papa
João. Recordam-no os gondoleiros, as Irmãs, todos. Depois o Papa Paulo não só me fez
Cardeal, mas alguns meses antes, numa das pontes então colocadas na Praça de São
Marcos, fez que me pusesse todo vermelho diante de 20.000 pessoas, porque levantou
a estola e ma lançou sobre os ombros! Nunca me tinha posto tão vermelho! Por outro
lado, em 15 anos de pontificado, este Papa mostrou, não só a mim, mas a todo o
mundo, como se ama, como se serve, como se trabalha e como se sofre pela Igreja de
Cristo.

Por isso, disse: "Chamar-me-ei João Paulo". Eu não tenho nem "a sabedoria de
coração" do Papa João, nem a preparação e a cultura do Papa Paulo. Estou, porém, no
lugar deles e devo procurar servir a Igreja. Espero que me ajudeis com as vossas
orações.

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p   
  

Lá em cima, na região de Veneza, ouvia dizer: cada bom ladrão tem a sua devoção. O
Papa, devoções, tem várias; entre outras, a de São Gregório Magno, de que hoje
ocorre a festa. Em Belluno, o Seminário chama-se gregoriano, em honra de São
Gregório Magno. Lá, passei eu sete anos como estudante, e vinte como professor. Dá -
se a coincidência de hoje, 3 de Setembro, ter ele sido eleito Papa e começar eu
oficialmente o meu serviço à Igreja universal. Ele era romano, e subira a primeiro
Magistrado da Cidade. Depois, deu tudo aos pobres, fez -se monge, e veio a ser
Secretário do Papa. Falecido este, elegeram-no a ele mas não queria aceitar. Interpôs-
se o Imperador, e tamhém o povo. Por último, sempre aceitou, mas escreveu ao seu
amigo Leandro, Bispo de Sevilha: "Tenho mais vontade de chorar do que de falar". E à
irmã do Imperador: "O Imperador quis que um macaco se tornasse leão". Vê-se que,
também naqueles tempos, era difícil ser Papa. Que bom que ele era para os pobres!
Converteu a Inglaterra! Sobretudo escreveu livros belíssimos; um é a Regra Pastoral:
ensina aos Bispos o seu ofício, mas, na parte final, tem estas palavras: "Eu descrevi o
bom pastor, mas não o sou; mostrei a praia da perfeição a que é preciso chegar, mas
pessoalmente encontro-me ainda nas tempestades dos meus defeitos, das minhas
faltas. Sendo assim, Ͷ por favor disse ele Ͷ para que não venha a naufragar, lançai-
me uma tábua de salvação com as vossas orações". Eu digo o mesmo; mas não é só o
Papa que precisa de orações, é também o mundo. Um autor espanhol escreveu: "O
mundo vai mal porque há mais batalhas que orações". Procuremos que haja mais
orações e menos batalhas.

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p  @ 
  

Em Camp David, na América, os Presidentes Carter e Sadat, e o Primeiro-Ministro


Begin estão a trabalhar pela paz no Próximo Oriente. De paz têm fome e sede todos os
homens, especialmente os pobres que, nas agitações e nas guerras, pagam mais e
sofrem mais; por este motivo, olham eles com interesse e grande esperança para a
reunião de Camp David.

Também o Papa rezou, fez que se rezasse e continua a rezar para que o Senhor se
digne ajudar os esforços desses políticos. Fiquei muito bem impressionado ao saber
que os três Presidentes quiseram expressar publicamente as suas esperanças no
Senhor por meio da oração. Os irmãos de religião do Presidente Sadat costumam dizer:
"há uma noite negra, uma pedra negra e, em cima da pedra, uma formiguinha; mas
Deus vê-a, não a esquece". O Presidente Carter, que é fervoroso cristão, lê no
Evangelho: "Batei e abrir-se-vos-á, pedi e dar-se-vos-á. Nem um só cabelo da vossa
cabeça se perderá sem que o permita o vosso Pai que está nos céus". E o Primeiro-
Ministro Begin recorda-se que o povo hebraico passou outrora momentos difíceis e se
dirigiu ao Senhor lamentando-se com estas palavras: "abandonaste-nos, abandonaste-
nos!". "Não Ͷ respondeu Ele por meio do Profeta Isaías Ͷ acaso pode uma mulher
esquecer-se do próprio filho? Mas ainda que ela se esquecesse dele, nunca Deus
esquecerá o seu povo".

Também nós, que nos encontramos aqui, temos os mesmos sentimentos; somos
objecto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga. Sabemos que tem os olhos
sempre abertos para nos ver, mesmo quando parece que é de noite. Ele é papá; mais
ainda, é mãe. Não quer fazer-nos mal, só nos quer fazer bem, a todos, Os filhos, se por
acaso estão doentes, possuem um título a mais para serem amados pela mãe.
Também nós, se por acaso estamos doentes de maldade, fora do caminho, temos um
título a mais para que o Senhor nos ame.

Com estes sentimentos vos convido a que oreis, juntamente com o Papa, por cada um
de nós, pelo Pró ximo Oriente, pelo Irão e pelo mundo inteiro.

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Na próxima terça-feira, quase 12 milhões de jovens regressam à escola. O Papa espera


não roubar o cargo ao ministro Pedini com ingerências indevidas, se apresentar os
mais cordiais votos tanto aos professores como aos estudantes.

Os professores italianos sentem-se impelidos por casos clássicos de exemplar apego e


dedicação à escola. Giosué Carducci era professor universitário em Bolonha. Dirigiu -se
a Florença para uma data que era celebrada. Uma tarde despediu-se do Ministro da
Instrução Pública. "Não, disse o Ministro, fique também para amanhã". "Excelência,
não posso. Amanhã tenho aula na Univer sidade e os rapazes esperam-me". "Dispenso-
o eu". "Pode dispensar-me, mas eu é que não me dispenso". O professor Carducci
tinha verdadeiramente alto conceito tanto da escola como dos alunos. Era da raça dos
que dizem: "Para ensinar latim a John não basta saber latim, é necessário também
conhecer e amar John". E ainda: "Tanto vale a lição quanto a preparação".

Aos alunos das escolas elementares desejaria eu recordar o amigo que têm em
Pinocchio; não esse que um dia faltou à escola para ir ver saltimbancos; mas o outro, o
Pinocchio que tomou o gosto à escola, tanto que, durante o ano escolar inteiro, todos
os dias foi o primeiro a entrar na aula e o último a sair.

Os meus votos mais afectuosos dirigem-se, porém, aos alunos das escolas médias e
especialmente das superiores. Estes não têm diante, só problemas imediatos da
escola, mas vêem a distância o tempo a seguir à escola. Tanto na Itália como nas
outras nações do mundo, hoje estão portões escancarados para quem deseja entrar
nas escolas médias e nas universidades; mas quando têm o diploma ou o
doutoramento e saem da escola, só encontram uns biscatos de nada e não trabalho
sério; daí não poderem casar-se. São problemas que a sociedade de hoje tem de
estudar deveras e procurar resolver.

Também o Papa foi aluno de tais escolas: ginásio, liceu e universidade. Mas eu pensava
só na juventude e na paróquia. Ninguém veio dizer -me: "Tu virás a ser Papa". Oh! se
mo tivessem dito! Se mo tivessem dito, teria estudado mais, ter -me-ia preparado. Mas
agora estou velho, não há tempo!

Mas vós, caros jovens que estudais, vós sois verdadeiramente jovens, vós tempo
tendes, e tendes juventude, saúde, memória e inteligência. Esforçai-vos por fazer
render tudo isto. Das vossas escolas há -de sair a classe dirigente de amanhã. Alguns de
vós chegarão a ministros, deputados, senadores, presidentes de câmaras, vereadores
ou então engenheiros, directores clínicos..., ocupareis lugares na sociedade. E hoje
quem desempenha um lugar, deve ter a competência necessária, deve preparar -se. O
general Wellington, o que venceu Napoleão, quis voltar à Inglaterra visitar o colégio
militar onde estudara, onde se preparara; e aos alunos oficiais disse: "Olhai, aqui se
venceu a batalha de Waterloo". O mesmo vos digo a vós, caros jovens: tereis batalhas
na vida aos 30, 40 e 50 anos, mas, se quereis vencê-las, é agora que precisais de
começar, de vos preparar, de ser assíduos no estudo e na escola.

Peçamos ao Senhor que ajude os professores, os estudantes e também as famílias que


olham para a escola com o mesmo afecto e a mesma preocupação que o Papa.

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p  4A 
  

Ontem à tarde fui a São João de Latrão. Por mérito dos Romanos, por gentileza do
Presidente da Câmara e dalgumas autoridades do Governo italiano, foi para mim um
acontecimento agradável. Não agradável, pelo contrário, mas doloroso, foi ler há
poucos dias nos jornais que um estudante romano fora morto por um motivo fútil,
friamente. E mais um de tantos casos de violência que sem descanso vão
atormentando esta nossa sociedade, pobre e inquieta.

E também nestes dias tornou a apresentar-se o caso de Luca Locci, criança de sete
anos, raptada há três meses. As vezes diz-se: "estamos numa sociedade toda
estragada, toda sem moral". Mas tal afirmação não é verdade. Há ainda tanta gente
boa, tanta gente honesta. Pergunte-se antes: Que fazer para melhorar a sociedade? Eu
responderia: Procure cada um de nós ser bom e contagiar os outros com uma bondade
toda penetrada pela mansidão e pelo amor ensinado por Cristo. A regra de ouro de
Cristo foi: "Não fazeres aos outros aquilo que não queres te seja feito a ti. Fazeres aos
outros o que queres te seja feito a ti. Aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração". E Ele deu sempre. Colocado na cruz, não só perdoou aos que o crucificaram,
mas desculpou-os. Disse: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Isto é
cristianismo, são sentimentos que, se fossem postos em prática tanto ajudariam a
sociedade!

Estamos no 30° aniversário da morte de Georges Bernanos, grande escritor católico.


Uma das suas obras mais conhecidas é "Diálogos das Carmelitas". Foi publicada um
ano depois da sua morte. Preparara-a tomando como base a narração da escritora
alemã Gertrude von Le Fort. Concebera-a para o teatro. Subiu de facto ao teatro. Foi
musicada e depois projectada nos "écrans" do mundo inteiro. É conhecidíssima. Pio X,
em 1906, precisamente aqui em Roma beatificara as dezasseis Carmelitas de
Compiègne, mártires durante a revolução francesa.

Durante o processo ouviu-se a condenação: "À morte por fanatismo". E uma, na sua
simplicidade, perguntou: Ͷ "Senhor Juiz, se faz favor, que quer dizer fanatismo?".
Responde o juiz: Ͷ É pertencerdes tolamente à religião". Ͷ "Oh, irmãs!" Ͷ disse
então a religiosa Ͷ "ouvistes, condenam-nos pelo nosso apego à fé. Que felicidade
morrer por Jesus Cristo!". Fizeram-nas sair da prisão da Conciergerie, meteram-nas na
carreta fatal e elas, pelo caminho, foram cantando hinos religiosos; che gando ao palco
da guilhotina, uma atrás doutra ajoelharam-se diante da Prioresa e renovaram o voto
de obediência. Depois entoaram o "Veni Creator"; o canto foi-se tornando, porém,
cada vez mais débil, à medida que iam caindo, uma a uma, na guilhotina, as cabeças
das pobres irmãs. Ficou para o fim a Prioresa, Irmã Teresa de Santo Agostinho; e as
suas últimas palavras foram estas: "O amor sempre vencerá, o amor tudo pode". Eis a
palavra exacta: não é a violência que tudo pode, é o amor que tudo pode.

Peçamos ao Senhor a graça de que uma nova onda de amor para com o próximo
invada este pobre mundo.

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À minha direita e à minha esquerda há Cardeais e Bispos, meus irmãos no episcopado.


Eu sou apenas o irmão mais velho. Para eles vai a minha saudação afectuosa, para eles
e para as suas dioceses.

Há exactamente um mês, em Castel Gandolfo, morria Paulo VI, grande Pontífice, que
prestou à Igreja, em 15 anos, serviços enormes. Os efeitos já agora se vêem em parte,
mas eu creio que se verão especialmente no futuro. Todas as quartas-feiras vinha ele
aqui e falava à gente. No Sínodo de 1977 vários Bispos disseram: "os discursos do Papa
Paulo, nas quartas-feiras, são verdadeira catequese adaptada ao mundo moderno".
Procurarei imitá-lo, na esperança de poder também eu, dalgum modo, ajudar a gente a
tornar-se melhor.

Para sermos bons precisamos, porém, de estar no no sso lugar diante de Deus, diante
do próximo e diante de nós mesmos. Diante de Deus, a posição justa é a de Abraão,
que disse: "Sou somente pó e cinza diante de ti, ó Senhor!". Pequenos mesmo é que
devemos sentir-nos diante de Deus. Quando digo "Senhor, eu creio", não me
envergonho de sentir-me como criança diante da mãe. Acredita-se na mãe, eu acredito
no Senhor, naquilo que ele me revelou. Os mandamentos são um pouco mais difíceis,
algumas vezes bastante difíceis de observar; mas, se Deus no-los deu, não foi por
capricho, não foi por interesse seu, mas unicamente por interesse nosso.

Um sujeito foi uma vez comprar um automóvel a um agente. Este fez-lhe um discurso:
"Olhe que o automóvel é muito bom, trate-o bem. Sabe: gasolina 'super' no depósito;
e nas junturas óleo do fino". O comprador respondeu: "Oh, não, fique sabendo, eu
nem o cheiro da gasolina posso aguentar, e o do óleo também não; no depósito
deitarei vinho espumante, de que tanto gosto, e as junturas untá-las-ei com
marmelada". "Faça como quiser, responde o vendedor; mas não venha lamentar-se, se
vier a parar num precipício com o seu automóvel". O Senhor fez coisa semelhante
connosco: deu-nos este corpo, animado por uma alma inteligente, uma vontade boa.
Disse: "É boa, mas trata-a bem, esta máquina". Eis os mandamentos: honrar pai e mãe,
não matar, não se irar, ser delicado, não dizer mentiras, não roubar... Se fôssemos
capazes de observar os mandamentos, andaríamos melhor nós e andaria também
melhor o mundo.

Depois, há o próximo e a três níveis: alguns estão acima de nós, alguns estão ao nosso
nível, e outros estão abaixo. Acima estão os nossos pais. O catecismo dizia: respeitá-
los, amá-los, obedecer-lhes. O Papa deve inculcar respeito e obediência dos filhos aos
pais. Dizem-me que estão aqui os meninos de coro de Malta. Venha aqui um, por
favor... Os meninos de coro de Malta que, por um mês, fizeram serviço em São Pedro.
"Então, tu. como te chamas?". Ͷ "James!". Ͷ "James. Estiveste alguma vez doente?".
Ͷ "Não". Ͷ "Ah, nunca?". Ͷ "Não". Ͷ "Nunca estiveste doente?. - "Não". Ͷ "Nem
sequer alguma febre?". Ͷ "Não". Ͷ "Oh, que felizardo! Mas, quando um menino está
doente, quem é que lhe leva uma pouca de sopa, os remédios? Não é a mãe? Ora vê:
Tu virás a ser grande e a mãe ficará velhinha. Tu serás um grande senhor, e a mamãe,
pobrezinha, estará doente na cama. Quem é que então lhe levará uma xícara de leite e
os remédios? Quem?". Ͷ "Eu e os meus irmãos". Ͷ "Bravo! Ele e os seus irmãos:
assim disse. Gosto de ouvir isso. Compreendeste?".

Mas não sucede sempre assim. Eu, sendo Bispo de Veneza, ia algumas vezes ao asilo.
Uma vez encontrei uma doente, uma velhinha. Ͷ "Como está, senhora?". Ͷ "Bem, de
comer bem. Calor.., aquecimento...: bem". Ͷ "Então está contente, senhora?". Ͷ
"Não" Ͷ e pôs-se quase a chorar. Ͷ "Mas porque chora?". Ͷ "A minha nora, o meu
filho não vêm nunca ver-me. Queria ver os netinhos". Não basta o calor, a comida, há o
coração; é necessário pensar também no coração dos nossos velhos. O Senhor disse
que os pais devíamos respeitá-los, amá-los, mesmo quando velhos.

Além dos pais, há o Estado, e há os Superiores. Pode um Papa recomendar obediência?


Bossuet, que era um grande Bispo, escreveu: "Onde ninguém manda, todos mandam.
Onde todos mandam, ninguém manda, temos o caos". Algumas vezes vê-se também
neste mundo alguma coisa deste género: Respeitemos, por conseguinte, aqueles que
são nossos superiores.

Depois, há os nossos iguais. E nisto, ordinariamente, são duas as virtudes que temos de
observar: justiça e caridade. Mas a caridade é a alma da justiça. É necessário querer
bem ao próximo, o Senhor tanto no -lo recomendou. Eu recomendo sempre, não só as
grandes caridades, mas também as pequenas caridades. Li num livro, escrito por
Carnegie, autor americano, intitulado "A arte de fazer amigos", este episodiozinho:
Uma senhora tinha quatro homens em casa: o marido, um irmão, e dois filhos grandes.
Ela sozinha fazia as compras, ela lavava e passava a roupa, ela cozinhava, ela fazia
tudo. Um domingo, entram eles em casa. A mesa está preparada para o almoço, mas
no prato há só um punhado de feno. "Oh!", protestam e dizem: "Que é isto? Feno!".
"Não, está tudo preparado, replica a senhora. Deixai que vos diga: esforço -me, vario os
pratos, tenho-vos limpos, faço todos os ofícios. Nunca, nem uma vez diss estes:
'preparaste-nos um bom almocinho'. Dizei alguma coisa! Não sou de pedra. Trabalha-
se de melhor vontade, quando se encontra reconhecimento". São as pequenas
caridades. Na nossa casa, todos temos alguém que espera um cumprimento.

Há também os mais pequenos que nós. Há as crianças, os doentes, até os pecadores.


Como Bispo, estive muito perto também dos que não crêem em Deus. Fiquei com a
persuasão que estes muitas vezes combatem não Deus mas a ideia errada que têm de
Deus. Quanta misericórdia é preciso ter! E também os que erram... É necessário
sermos verdadeiramente o que devemos ser connosco mesmos. Limito-me a
recomendar uma virtude, tão querida pelo Senhor. Disse: Aprendei de mim, que sou
manso e humilde de coração. Arrisco-me a dizer um despropósito, mas sempre o digo:
o Senhor tanto ama a humildade que, às vezes, permite pecados graves. Porquê? Para
que, depois de os cometermos Ͷ esses pecados Ͷ depois, arrependidos, fiquemos
humildes. Não temos assim vontade de nos julgarmos meios santos, meios anjos,
depois de sabermos ter cometido faltas graves. O Senhor tanto recomendou: sede
humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: "somos servos inúteis". A
tendência, porém, em nós todos, é antes em sentido contrário: pormo -nos em vista.
Mas devemos estar baixinhos, baixinha. Faço votos por que a vós suceda a mesma
coisa.

 

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Agora, se dais licença, desejava convidar a que vos unísseis às minhas orações, por
uma intenção que tenho muito a peito. Sou bestes pela imprensa e pela televisão que
hoje, em 2% p nos Estados Unidos, começa uma reunião importante entre os
governantes do Egipto, de Israel e dos Estados Unidos, para se encontrar uma solução
para o conflito do Próximo Oriente. Este conflito, que há para cima de 30 anos se
combate na terra de Jesus, já causou tantas vítimas, tantos sofrimentos Ͷ quer entre
os árabes quer entre os israelianos Ͷ, e como epidemia contagiou os países vizinhos.
Pensai no Líbano, Líbano mártir, desfigurado pelas repercussões desta crise. Por esta
intenção desejaria orar comunitariamente pelo bom resultado da reunião de 2%
p: para que estas conversações aplanem o caminho para uma paz justa e
completa. Justa, isto é, com satisfação dos direitos de todas as partes em conflito.
Completa, sem deixar por resolver nenhuma questão: o problema dos Palestinenses, a
segurança de Israel, a santidade da cidade de Jerusalém.

Peçamos ao Senhor, orando especialmente que ilumine os responsáveis de todos os


povos interessados, para que tenham vistas largas e sejam corajosos em tomar as
decisões que devem levar a serenidade e a paz à Terra Santa e a todo o mundo do
Oriente

***

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3 2      * % 78  6  

Devemos dirigir uma saudação especial aos membros do VII Congresso Internacional
da Sociedade para as transplantações de órgãos. Muito nos sensibiliza a vossa visita,
que é homenagem ao Papa, e sobretudo o vosso desejo de esclarecer e aprofundar os
graves problemas humanos e morais implicados n as investigações ou na técnica
cirúrgica que vos dizem respeito. Nós animamo-vos, neste campo, a que soliciteis o
auxílio de amigos católicos, competentes em teologia e em moral, e muito ao par dos
vossos problemas, devido a terem conhecimento bem certo da doutrina católica e
sentido profundamente humano.

Contentamo-Nos hoje com expressar-vos as Nossas felicitações e a Nossa confiança


pelo trabalho imenso que pondes ao serviço da vida humana, com intenção de a
prolongar nas melhores condições possíveis. Todo o problema está em actuar dentro
do respeito da pessoa e dos seus parentes, quer se trate de dadores de órgãos quer de
receptores, e em nunca transformar o homem em objecto de experiência. Tem de se
contar com o respeito do corpo e também com o respeito do seu espírito. Pedimos a
Deus, Autor da vida, que vos inspire e vos acompanhe nessas magníficas e temíveis
responsabilidades. Ele vos abençoe e juntamente todos os que vos são caros.

3-  

A presença de noivos comove de maneira especial, porque a família é coisa muito


importante. Eu uma vez escrevi um artigo no jornal e atrevi-me a gracejar, citando
Montaigne, escritor francês, que dizia: "O matrimónio é semelhante a uma gaiola: os
que estão fora, tudo fazem para entrar; os que estão dentro, tudo fazem para sair".
Não, não, não. Porém, alguns dias mais tarde, chegou-me a carta dum velho director
de estudos, que escrevera livros e me censurou dizendo: "Excelência, fez mal citando
Montaigne. Eu e minha mulher unimo-nos há 60 anos e cada dia é como o primeiro
dia". E citou-me um poeta francês, em francês, mas eu digo em italiano: "Amo-te cada
dia mais: hoje, muito mais que ontem, mas muito menos que amanhã". Faço votos por
que a vós suceda a mesma coisa.

© Copyright 1978 - Libreria Editrice Vaticana


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A primeira saudação dirijo-a aos meus irmãos Bispos, que vejo serem numerosos.

O Papa João, numa sua nota, que também foi impressa, disse: "Desta vez fiz o retiro
sobre as sete lâmpadas da santificação". Sete virtudes, queria dizer: fé, esperança,
caridade, prudência, justiça, fortaleza e temperança. Esperemos que o Espírito Santo
ajude hoje o pobre Papa a explicar ao menos uma destas lâmpadas, a primeira: a fé.
Aqui em Roma houve um poeta, Trilussa, que procurou também falar da fé. Numa
poesia disse: "Aquela velhinha cega, que encontrei / na tarde em que me perdi no
meio do bosque, / disse-me: Ͷ se o caminho não o sabes / vou acompanhar -te eu, que
o conheço. / Se tens a força de vir atrás de mim / de vez em quando te chamarei, até lá
ao fundo, onde há um cipreste, / até lá acima, onde há uma cruz. Eu respondi: Assim
será... mas acho esquisito / que me possa guiar quem não vê... / A cega, então, pegou-
me na mão / e suspirou: Ͷ Caminha. Ͷ Era a fé". Como poesia, é graciosa. Como
teologia, defeituosa. Defeituosa porque, ao tratar-se de fé, o grande condutor é Deus.
Não disse Jesus?: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair". São
Paulo não tinha a fé, perseguia mesmo os fiéis. Deus espera -o na estrada de Damasco:
"Paulo Ͷ diz-lhe Ͷ não penses sequer em empinar-te, em dar patadas como cavalo
desenfreado. Eu sou aquele Jesus que tu p ersegues. Tenho desígnios sobre ti. É
necessário que tu mudes!". Rendeu -se Paulo; mudou transformando completamente a
própria vida. Passados alguns anos, escreverá aos Filipenses: "Daquela vez, na estrada
de Damasco, Deus apanhou-me; desde então não faço senão correr atrás d'Ele para
ver se dalgum modo O poderei alcançar, imitando-O e amando-O cada vez mais". Eis o
que é a fé: entregarmo-nos a Deus, mas transformando a própria vida. Isto nem
sempre é fácil. Agostinho contou a viagem da sua fé; especialmente nas últimas
semanas, foi terrível; lendo-o, vemos que a sua alma sentia calafrios e se retorcia em
conflitos interiores. Dum lado, Deus que o chama e insiste; do outro, os antigos
hábitos, " 'velhos amigos' Ͷ escreve ele Ͷ; puxavam-me amavelmente pelo meu
vestido de carne e diziam-me: 'Agostinho, que fazes? deixas-nos sozinhos? Olha que tu
não poderás tornar a fazer isto, não poderás tornar a fazer aquilo, assim para sempre!'
". Difícil! Encontrava-me diz Ͷ no estado duma pessoa que está na cama, de manhã,
Dizem-lhe: 'Fora, Agostinho, levanta-te!'. Eu replicava: 'Sim, mais tarde, mais um
bocadinho na cama!'. Finalmente o Senhor deu-me um puxão e levantei-me. É preciso
não dizermos
 000C      . E preciso dizer:
  #
    . Tal é a fé: responder com generosidade ao Senhor. Mas quem é que
diz este sim? Quem é humilde e confia em Deus completamente! ".
Minha mãe dizia-me, quando era já grandinho: Em pequeno foste muito doente; tive
de te levar de médico em médico, e velar-te noites inteiras; acreditas? Como poderia
eu dizer: Ͷ Mãezinha, não te acredito? Sim, acredito-te, acredito no que me dizes,
mas acredito especialmente em ti. Assim é na fé. Não se trata unicamente de crer nas
coisas que Deus revelou mas n'Ele, que merece a nossa fé, que tanto nos amou e tanto
fez por amor de nós.

Difícil é também aceitar algumas verdades, porque as verdades da fé são de duas


espécies: algumas agradáveis, outras desagradáveis ao nosso espírito. Por exemplo, é
agradável ouvir dizer que Deus tem por nós tanta ternura, maior ainda que a duma
mãe pelos seus filhos, como afirma Isaías. Como é agradável e nos parece natural!
Houve um grande Bispo francês, Dupanloup, que aos reitores dos seminários
costumava dizer: Com os futuros sacerdotes, sede pais, sede mães. É agradável.

Diante doutras verdades, pelo contrário, há dificuldades. Deus tem de castigar,


precisamente se eu Lhe resisto. Ele corre atrás de mim, suplica-me que me converta e
eu digo: Não. Quase sou eu que o obrigo a castigar-me. Isto não é agradável, mas é
verdade de fé.

E há uma última dificuldade: a Igreja. São Paulo perguntou: Ͷ Quem és, Senhor? Ͷ
Sou aquele Jesus que tu persegues. Uma luz, um relâmpago, atravessou a sua mente.
Eu não persigo Jesus, nem sequer o conheço: quem persigo são os cristãos. Vê-se que
Jesus e os cristãos, Jesus e a Igreja, são a mesma coisa: coisa inscindível, inseparável.

Lede São Paulo: "O corpo de Cristo que é a Igreja". Cristo e a Igreja são uma só coisa.
Cristo é a Cabeça, nós, Igreja, somos os seus membros. Não é possível ter fé e dizer: eu
creio em Jesus, aceito Jesus mas não aceito a Igreja. É preciso aceitar a Igreja, como ela
é. E como é esta Igreja? O Papa João chamou-lhe "Mãe e Mestra". Também Mestra.
São Paulo disse: "Considerem-nos todos como ministros de Cristo e administradores
dos mistérios de Deus".

Quando o pobre Papa, quando os Bispos e os Sacerdotes propõem a doutrina, não


fazem senão ajudar Cristo. Não é doutrina nossa, é a de Cristo; devemos só conservá -la
e propô-la. Eu estava presente quando o Papa João abriu o Concilio a 11 de Outubro
de 1962. A certa altura disse: Esperamos que, devido ao Concílio, a Igreja dê um salto
para diante. Todos o esperámos; mas salto para a frente, para qual estrada? Explicou -o
logo a seguir: sobre as verdades certas e imutáveis. Não pensou sequer que fossem as
verdades a caminhar, a andar para a frente, e depois pouco a pouco a ir mudando. As
verdades são aquelas determinadas; nós devemos andar pela estrada dessas verdades
Ͷ compreendendo-as embora cada vez mais, actualizando-nos, propondo -as de forma
que se adapte aos novos tempos. O mesmo pensava também o Papa Paulo. A primeira
coisa que fiz, apenas eleito Papa, foi entrar na Capela particular da Casa Pontifícia; lá,
no fundo, o Papa Paulo V I mandou colocar dois mosaicos: São Pedro e São Paulo; São
Pedro que morre e São Paulo que morre. Mas por baixo da imagem de São Pedro há as
palavras de Jesus: Pedirei por ti, Pedro, para que não desfaleça a tua fé. E por baixo da
de São Paulo, que morre à espada: Terminei a minha corrida, conservei a fé. Sabeis
que, no último discurso, de 29 de Junho, Paulo VI disse: Depois de 15 anos de
pontificado, posso agradecer ao Senhor: defendi, conservei a fé.
A Igreja é também mãe. Se é continuadora de Cristo e Cristo é bom, também a Igreja
tem de ser boa; boa para todos. Mas se, por acaso, alguma vez houvesse na Igreja
maus? Contemos ainda com ela, com a mãe. Se a mãezinha está doente, se a minha
mãe por acaso viesse a ficar coxa, eu ainda a amaria bem mais. O mesmo, na Igreja: se
há, e é verdade que há, defeitos e faltas, não há-de desaparecer nunca o nosso afecto
para com a Igreja. Ontem Ͷ e acabo Ͷ mandaram-me o número de "Città Nuova": vi
que apresentaram, reproduzindo-o, um brevíssimo discurso meu, com um episódio.
Certo pregador, Mac Nabb, inglês, falando no Hyde Park, ocupou -se da Igreja. Quando
terminou, um ouvinte pede a palavra e diz: Belos conceitos, os seus. Mas eu conheço
certo padre católico, que não esteve do lado dos pobres e se tornou rico. Conheço
também maridos católicos que enganaram as próprias mulheres; não me agrada tal
Igreja, feita de pecadores. O Padre respondeu: tem algum fundamento, mas deixa-me
pôr uma objecção? Ͷ Oiçamos Ͷ E diz: Desculpe, mas engano-me ou o colarinho da
sua camisa está um pouco sujo? Ͷ Diz: sim, é verdade. Ͷ Mas está sujo, porque não
usou sabão, ou porque usou sabão mas não servia de nada? Ͷ Não, diz o outro, não
usei sabão. Ͷ Aí está. Também a Igreja católica tem sabão, extraordinário: evangelho,
sacramentos, oração. O evangelho lido e vivido, os sacramentos celebrados da maneira
devida, a oração bem usada Ͷ seriam sabão maravilhoso, capaz de nos fazer a todos,
santos. Não somos todos santos, porque não usámos suficientemente este sabão.
Procuremos corresponder às esperanças dos Papas, que decretaram e aplicaram o
Concílio: o Papa João e o Papa Paulo. Procuremos melhorar a Igreja, tornando-nos
melhores. Cada um de nós, toda a Igreja, poderia rezar a oração que eu costumo rezar:
Senhor, aceita-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas faz que
me torne como tu desejas.

Devo dizer uma palavra também aos nossos     , que vejo ali. Sabeis que
Jesus disse: Escondo-me por trás deles; o que é feito a eles, é feito a mim. Portanto,
nas pessoas dos doentes, nós veneramos o Senhor em pessoa e fazemos votos por que
o Senhor esteja perto deles, os auxilie e os conforte.

À direita estão, porém, os -   . Receberam um grande sacramento; fazemos


votos por que este sacramento recebido seja verdadeiramente portador não só de
bens deste mundo, mas mais ainda de graças espirituais. No século passado, viveu em
França Frederico Ozanam, grande professor; ensinava na Sorbona, era eloquente,
óptima pessoa! Era seu amigo Lacordaire, que dizia: "É tão excelente, é tão bom, far-
se-á sacerdote e este chegará a ser grande Bispo!". Não foi assim. Encontrou uma
jovem cheia de qualidades e casaram-se. Lacordaire não ficou satisfeito e disse: "Pobre
Ozanam! Também ele caiu na armadilha!". Dois anos mais tarde, Lacordaire veio a
Roma e foi recebido por Pio IX. "Venha cá, Padre Ͷ disse-lhe Ͷ venha. Sempre ouvi
dizer que Jesus instituiu sete sacramentos; agora vem o Padre e troca-me as voltas:
diz-me que instituiu seis sacramentos... e uma armadilha! Não, Padre, o matrimônio
não é armadilha, é um grande sacramento!". Porque assim é, apresentemos de novo
os nossos melhores votos a estes caros esposos: o Senhor os abençoe!

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Entre as sete "lâmpadas da santificação", a segunda era, para o Papa João, a


esperança. Falo-vos hoje desta virtude, que é obrigatória para cada cristão. Dante, no
seu Paraíso (2  24, 25 e 26), imaginou apresentar -se a um exame sobre o
cristianismo. Funcionava uma comissão categorizada. "Tens fé?", pergunta-lhe,
primeiro, São Pedro. "Tens esperança?", continua São Tiago. "Tens caridade?", termina
São João. "Sim Ͷ responde Dante Ͷ tenho fé, tenho esperança, tenho caridade".
Demonstra-o e fica aprovado por unanimidade.

Disse eu que é obrigatória. Mas não é, por isto, a esperança feia ou dura: pelo
contrário, quem a vive viaja num clima de -confiança e de entrega, dizendo com o
salmista: "Senhor, tu és a minha rocha, o meu escudo, a minha fortaleza, o meu
refúgio, a minha lâmpada, o meu pastor, a minha salvação. Mesmo que um exército se
formasse contra mim, o meu coração não temeria; e se contra mim se levantar a
batalha, mesmo então terei confiança".

Direis: Mas não é exageradamente entusiasta este salmista? lá possível que a ele as
coisas tenham sempre corrido tão bem? Não, não lhe correram sempre bem. Sabe e
diz que os maus são muitas vezes afortunados e os bons oprimidos. Disto se lamentou
até por vezes dirigindo-se ao Senhor; chegou a dizer: "Porque dormes, Senhor? Porque
te calas? Desperta, ouve-me, Senhor". Mas a sua esperança manteve-se firme,
inabalável. A ele, e a todos quantos esperam, se pode aplicar o que disse São Paulo de
Abraão:    %      % 7 (Rom. 4, 18). Direis ainda: Mas
como pode acontecer tal coisa? Acontece, porque nos apegamos a três verdades: Deus
é omnipotente, Deus ama-me imenso e Deus é fiel às promessas. E é Ele, o Deus da
misericórdia, que acende em mim a confiança; por isso não me sinto nem só, nem
inútil, nem abandonado, mas integrado num destino de salvação, que um dia virá a
levar-me ao Paraíso. Aludi aos Salmos. A mesma confiança segura vibra nos livros dos
Santos. Gostaria que lêsseis uma homilia feita por Santo Agostinho no dia de Páscoa
sobre o 3  . O verdadeiro 3   Ͷ diz aproximadamente Ͷ cantá-lo-emos no
Paraíso. Este será o 3   do amor pleno; o de agora, é o 3   do amor faminto,
isto é, da esperança.

Dirá alguém: Mas se eu sou pobre pecador? Respondo-lhe como respondi a uma
senhora desconhecida, que se confessava a mim já lá vão muitos anos. Estava
desanimada porque Ͷ segundo afirmava Ͷ tinha tido uma vida moralmente
borrascosa. Dá-me licença de lhe perguntar: quantos anos tem? Ͷ 35. Ͷ 35! Mas
pode viver outros 40 ou 50, e fazer ainda um bem muito grande. Assim, arrependida
como está, em vez de pensar no passado, projecte-se no futuro e renove, com a ajuda
de Deus, a sua vida. Citei naquela ocasião São Francisco de Sales, que fala das "nossas
caras imperfeições". Expliquei: Deus detesta as faltas, porque são faltas. Mas, por
outro lado, em certo sentido, ama as faltas, enquanto Lhe dão ensejo de mostrar a sua
misericórdia e a nós o de permanecermos humildes e compreendermos as faltas do
próximo e delas nos compadecermos.

Nem todos partilham esta minha simpatia pela esperança. Nietzche, por exemplo,
chama-lhe "virtude dos fracos". Segundo ele, faz do cristão um inútil, um solitário, um
resignado e um estranho ao progresso do mundo. Outros falam de "alienação",
dizendo que afasta os cristãos da luta em favor da promoção humana. Todavia "a
mensagem cristã Ͷ disse o Concílio não afasta os homens da construção do mundo...
impõe-lhes, ao contrário, um dever mais rigoroso" ()   
% , 34. Cfr. nn. 39 e
57; e '   '   „ 2   , de 20 de Outubro de 1962).

Têm surgido de vez em quando no decurso dos séculos afirmações e tendências de


cristãos demasiado pessimistas quanto ao homem. Mas tais afirmações foram
desaprovadas pela Igreja e esquecidas graças a uma falange de santos alegres e
activos, graças ao humanismo cristão, aos mestres de ascética que Saint-Beuve
chamou "les doux" e graças ainda a uma teologia compreensiva. São Tomás de Aquino,
por exemplo, coloca entre as virtudes a     ou seja a capacidade de converter
num sorriso alegre Ͷ na medida e no modo conveniente Ͷ as coisas ouvidas e vistas
(Cf. 2.2ae, q. 168, a. 2). Jucundo deste modo Ͷ explicava aos meus alunos Ͷ foi
aquele pedreiro irlandês, que se precipitou do andaime e quebrou as pernas. Levado
ao hospital, vieram o médico e a Irmã enfermeira. "Pobrezinho Ͷ disse esta última
feriu-se muito caindo". Replicou o ferido: "Madre, não foi precisamente caindo, mas
chegando ao chão é que me feri". Declarando ser virtude gracejar e fazer sorrir, São
Tomás encontrava-se de acordo com a "alegre nova" pregada por Cristo, com a
   recomendada por Santo Agostinho. Vencia o pessimismo, revestia de alegria a
vida cristã, convidava-nos a tomar "animo também com os gozos sãos e puros que se
nos deparam no caminho. Quando eu era rapaz, li alguma coisa s obre Andrew
Carnegie, escocês, que imigrou com os pais para a América e chegou pouco a pouco a
ser um dos maiores ricaços do mundo. Não era católico, mas impressionou -me que
falasse com insistência das alegrias genuínas e autênticas da sua vida. "Nasci na
miséria Ͷ dizia Ͷ, mas não trocaria as recordações da minha meninice com as dos
filhos dos milionários. Que sabem eles das alegrias familiares, da terna figura da mãe
que junta em si os cargos de encarregada de crianças, de lavadeira, de cozinheira, de
mestra, de anjo e de santa?". Muito novo empregara-se numa fiação de Pittsburg com
56 míseras liras mensais de salário. Uma tarde, em vez de lhe dar logo a paga, o
tesoureiro disse-lhe que esperasse. Carnegie tremia: "Vão-me agora despedir". Pelo
contrário, depois de pagar aos outros, o tesoureiro disse-lhe: "Andrew, tenho reparado
atentamente no seu trabalho; concluí que vale mais que o dos outros. Subo-lhe o
salário para 67 liras". Carnegie de corrida voltou a casa, onde a mãe chorou de
contentamento devido à promoção do filho. "Falais de milionários Ͷ dizia Carnegie
muitos anos depois Ͷ, todos os meus milhões colocados juntos não me deram nunca a
alegria daquelas 11 liras de aumento". Certamente, estas alegrias, ainda que boas e
animadoras, não têm o valor todo; são alguma coisa, não são tudo; servem de meio,
não são o fim último; não duram sempre, mas só breve tempo. "Delas usem os cristãos
Ͷ escrevia São Paulo Ͷ, mas como se delas não usassem, porque a aparência deste
mundo passa" (Cfr. 1 2 . 7, 31). Cristo já dissera: „  %          
p  (' . 6, 33).

Para terminar, desejava aludir a urna esperança, por alguns chamada cristã, mas que
só é cristã até certo ponto. Explico -me: no Concílio também eu votei a "Mensagem ao
Mundo" dos Padres Conciliares. Dizíamos nela: o cargo principal de ! não exime
a Igreja do cargo de  ! . Votei a )   
% ; comovi-me e entusiasmei-me
quando saiu a „ %   „   . Julgo que o Magistério da Igreja nunca insistirá
demais em apresentar e recomendar a solução dos grandes problemas da liberdade,
da justiça, da paz e do desenvolvimento; e os leigos católicos nunca se baterão
suficientemente para resolver estes problemas. É, porém, erro afirmar que a libertação
política, económica e social coincide com a salvação em Jesus Cristo, afirmar que o
&   p  se identifica com o &    , que D  (      . Em
Friburgo, no 85° Katholikentag foi tratado, nestes últimos dias, o tema "o , da
esperança". Falava-se do "mundo" que é preciso melhorar, e a palavra "futuro" vinha a
propósito. Mas se da esperança para o "mundo" se passa à esperança para cada alma,
então é necessário falar também de "eternidade". Em Ostia, à beira-mar, numa famosa
conversa, Agostinho e Mónica, "esquecidos do passado e voltados para o futuro,
perguntavam-se que viria a ser a vida eterna" (2 ,8  IX, n. 10.). Tal é a esperança
cristã; a esta se referia o Papa João e a esta nos referimos nós, quando, com o
catecismo, oramos: "Meu Deus, espero da vossa bondade... a vida eterna e as graças
necessárias para a merecer com as boas obras, que eu devo e quero fazer. Meu Deus,
não fique eu confundido eternamente".

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,

Dirigimos uma saudação cordial aos membros da Comissão europeia da Conferência


Mundial das Religiões em favor da Paz, reunidos nestes dias em Roma. Agradecemo -
vos a vossa visita, porque apreciamos a vossa acção em serviço da paz do mundo
graças à oração, aos esforços de educação no sentido da paz, à reflexão sobre os
princípios fundamentais que devem determinar as relações entre os homens. Na
verdade, para que a paz se consiga, a necessidade dela há-de ser profundamente
sentida pela consciência, porque a paz vem duma con cepção fundamentalmente
espiritual da humanidade. Este aspecto religioso leva não só ao perdão e à
reconciliação, mas também ao compromisso para favorecer a amizade e a colaboração
entre os indivíduos e os povos.

Nesta obra vos ajude Deus, que ama todos os homens e quis ser Pai de todos.
%&)&% %%)%$% &()%


  %    5   %    % :

Não quero fazer um discurso extenso, como anunciou algum jornal. Falarei
simplesmente duma experiência minha. Há dois meses, em Veneza, apresentou-se-me
um jovem. sacerdote salesiano, que faz aproximadamente o mesmo que, em Roma,
Don Picchi. Expôs-me as suas dificuldades. Se bem me lembro, desejava que houvesse
duas comunidades concêntricas. Dizia: "Estou quase só. Parece -me que não me
compreendem. Seria necessário que à minha volta e à volta dos que trabalham nesta
obra houvesse uma cadeia de corações que me compreendessem. Trata-se de
doentes, não são delinquentes, são pobres jovens que as circunstâncias da vida
marginalizaram. Têm tanta necessidade de compreensão, e temo-la também nós que
deles nos ocupamos". E depois, há a outra comunidade, mais limitada, a comunidade
terapêutica. Aquele sacerdote explicava-me: "Sabe, estes jovens chegaram à droga ou
porque não se sentiram compreendidos, talvez erradamente, na família, ou não
encontraram um centro de interesse, ou não tinham amizades sérias. Para os
recuperar, é necessário fazer-lhes sentir que são amados. Depois poderemos restitui -
los à família, naturalmente com o auxílio também da religião. A droga tantas vezes
depende de o jovem não saber para que fim se deve viver".

Disse-lhe: "Caro Don Gianni, procurarei ajudá -lo". Depois não pude manter a promessa
porque me fizeram Papa. Mas aquilo que não pude fazer em Veneza, faço-o agora
aqui, diante dos participantes neste Congresso, que abraça quase o mundo inteiro. É
necessário apoiar, compreender essas pessoas, estar perto delas, dessas que se
sacrificam sobretudo para bem dos jovens.

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"Meu Deus, com todo o coração e acima de todas as coisas Vos amo, bem infinito e
nossa eterna felicidade, e por vosso amor amo o meu próximo como a mim mesmo e
perdôo as ofensas recebidas. Ó Senhor, ame -vos eu cada vez mais". É oração
conhecidíssima, com expressões bíblicas embutidas. Foi minha mãe que ma ensinou.
Rezo-a várias vezes por dia, mesmo agora, e procuro explicar-vo-la, palavra por
palavra, como faria um catequista de paróquia. Estamos na "terceira lâmpada de
santificação" do Papa João: a caridade.

3 . Na aula de filosofia dizia-me o professor: Ͷ Tu     a torre de São Marcos?


Ͷ Conheço. Ͷ Isso significa que ela entrou dalgum modo na tua mente: fisicamente
ficou onde estava, mas no teu íntimo ela imprimiu quase um retrato seu, intelectual.
Mas tu, por tua vez,  a torre de São Marcos? Significa isto que aquele retrato te
impele de dentro e te inclina, quase te leva e te faz ir, com o espírito, até à torre que
está fora.

Numa palavra: amar significa viajar, correr com o coração para o objecto amado. Diz a
 7  2  : quem ama "currit, volat, laetatur": corre, voa e alegra-se ( 7 
 2  , 1. III, c. V, n. 4). Amar a Deus é portanto um viajar com o coração para Deus.
Viagem belíssima, embora comporte por vezes sacrifícios. Mas estes não nos devem
fazer parar. Jesus está na cruz: queres beijá-l'O? Não o podes fazer sem te debruçares
sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor
(Cfr. Sales,   , Annecy, t. XXI. p. 153). Não podes fazer a figura do bom São
Pedro, que foi valente em gritar "Viva Jesus" no monte Tabor, onde havia alegria, mas
não deixou sequer que o vissem ao lado de Jesus no monte Calvário, onde havia risco e
dor (  :. t. XV, p. 140). O amor a Deus é também viage m misteriosa: isto é, eu não
parto se Deus não toma primeiro a iniciativa. > + Ͷ disse Jesus Ͷ %     
  „000     (. . 6, 44). Perguntava Santo Agostinho a si mesmo: Mas,
então, a liberdade humana? Deus, que decidiu que ela existisse e construiu essa
liberdade, sabe muito bem como respeitá-la, levando embora os corações ao ponto
que tinha em vista: "parum est voluntate, etiam voluptate traheris"; Deus atrai-te não
só de modo que tu mesmo venhas a querer, mas até de modo que tu gostes de ser
atraído (Augustinus,  0/0 Tr. 26, 4).

2     7 . Faço notar, aqui, o adjectivo "todo". O totalitarismo, em política,


é feio. Na religião, pelo contrário, um totalitarismo nosso, quanto a Deus, está
muitíssimo bem. Foi escrito: 3  
  p       7  
     , 70/     -  %  
          7 0 / 5 5    ,     5 5   
              5        5 0 3 5 5   
     7    5 5   ,        0/ "5 5
  %     %  (p . 6, 5-9).

Aquele "todo", repetido e levado à prática com tanta insistência, é com toda a verdade
a bandeira do maximalismo cristão. E é justo: Deus é demasiado grande, demasiado
merece de nós, para que baste deitar-lhe, como a um pobre Lázaro, unicamente
algumas migalhas do nosso tempo e do nosso coração. bem infinito e será a nossa
felicidade eterna: dinheiro, prazeres e felicidades deste mundo, em comparação com
Ele, são apenas fragmentos de bem e momentos fugidios de felicidade. Não seria
acertado dar muito de nós a estas coisas e dar pouco a Jesus.

3      . Agora entra-se numa comparação directa entre Deus e o
homem, entre Deus e o mundo. Não seria justo dizer: "Ou Deus ou o homem". Deve -se
amar "não só a Deus mas também o homem"; este último, porém, nunca mais do que
Deus ou contra Deus ou tanto como Deus. Por outras palavras: O amor de Deus é
certamente dominador, mas não exclusivo. A Bíblia declara Jacob santo ( p. 3, 35) e
amado por Deus ('. 1, 2; & . 9, 13), mostra-o comprometido a sete anos de
trabalho para conquistar Raquel como esposa; e %  5  %      
         %     ()+. 29, 20). Francisco de Sales tece
sobre estas palavras um comentariozinho: "Jacob Ͷ escreve Ͷ ama Raquel com todas
as suas forças, e, com todas as suas forças ama a Deus; mas nem por isso ama Raquel
como a Deus, nem a Deus como a Raquel. Ama a Deus como seu Deus sobre todas as
coisas e mais que a si mesmo; ama Raquel como sua esposa acima de todas as outras
mulheres e como a si mesmo. Ama a Deus com amor absolutamente e soberanamente
sumo, e Raquel com sumo amor marital; um amor não é contrário ao outro, porque o
de Raquel não inutiliza as vantagens supremas do amor de Deus" (Sales,   , t. V,
p. 175).

/ %            % 6? . Estamos aqui diante de dois amores que são


"irmãos gémeos" e inseparáveis. Algumas pessoas é fácil amá-las. Outras, é difícil: não
nos são simpáticas, ofenderam-nos e fizeram-nos mal. Só se amo Deus a sério, chego a
amá-las a elas, como filhas de Deus e porque Deus mo pede. Jesus fi xou também como
há-de o próximo ser amado: quer dizer, não só com o sentimento, mas com obras. Este
é o modo, disse: Perguntar-vos-ei: Tinha fome, e vós destes-me de comer quando
assim estava faminto? Visitastes-me quando estava doente? (Cfr. ' . 25, 34 ss.). O
catecismo traduz estas e outras palavras da Bíblia no duplo catálogo das sete obras de
misericórdia corporais e sete espirituais. O catálogo não é completo e convinha
actualizá-lo. Entre os famintos, por exemplo, hoje não se trata só deste ou aquele
indivíduo; são povos inteiros. Todos nos lembramos das notáveis palavras do Papa
Paulo VI: "Os povos da fome dirigem -se hoje de modo dramático aos povos da
opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a
responder com amor ao apelo do seu irmão" („ %  „   , 3). Neste ponto, à
caridade junta-se a justiça, porque Ͷ diz ainda Paulo VI Ͷ "a propriedade privada não
constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de
reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o
necessário" ( ., 23). Por conseguinte, "torna-se escândalo intolerável... qualquer
recurso exagerado aos armamentos" ( ., 53).

À luz destas vigorosas expressões vê-se quanto indivíduos e povos estão ainda longe
de amar os outros "como a si mesmos", que é mandamento de Jesus.

Outro mandamento: % E   ,   . A este perdão quase parece que o
Senhor dá precedência sobre o culto:
, %  %      ,  
                           ?   
,      %      5      C %   % 
%      ,  (' . 5, 23-24).

As últimas palavras da oração são estas: 6


  5   !. Também
aqui há obediência a um mandamento de Deus, que estabeleceu no nosso coração a
sede do progresso. Das palafitas, das cavernas e das primeiras cabanas passámos às
casas, aos palácios e aos arranha-céus; das viagens a pé, e sobre o dorso de mula ou de
camelo, aos carros, aos combóios e aos aviões. E deseja-se progredir ainda com meios
cada vez mais rápidos, atingindo metas mais e mais altas: Mas amar a Deus Ͷ já o
vimos - é também uma viagem: Deus quer que ela seja cada vez mais decidida e
perfeita. Disse a todos os seus: 6  !      ( .. v. 8);   
% ,          „     + % ,  ( . v. 48). Isto significa: amar a Deus
não pouco, mas muito; não parar no ponto a que se chegou, mas, com o Seu auxílio,
progredir no amor.

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"Engano-me, ou está aqui uma quinta classe elementar? Um desses meninos pode vir
ajudar o Papa?"0/  %   % ? 5 0F'     ,  :G/ 
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"Olá!, Ͷ   %     ! .   „    Ͷ, este menino é mesmo diferente do Papa!


Eu, quando estava na quarta, dizia: 'Quem me dera chegar depressa à quinta!'. Pois
bem, Daniel, o Senhor colocou dentro de nós um grande desejo de progredir, de andar
para a frente... Mesmo aos grandes... Todos desejamos caminhar para diante". /
 %    %     %  %   p %     
   .

„ ,  %  7   %       5  % 
%   :

"Sabei que o Papa vos compreende e vos ama muito. O Papa esteve oito vezes no
hospital e submeteu-se a quatro operações". / ,      %        
     .

© Copyright 1978 - Libreria Editrice Vaticana

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