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Boom!

Revista

Edição 1 Ano 1

Rolando
dados
Eu sou gay
Baladas Guarapuava
à la carte

editorial
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Experimentando
Gostos jovens p.06 Foram meses de trabalho, pesquisa e empenho, mas agora, finalmente, a
primeira edição da Boom! está pronta. Buscamos produzir uma revista leve e

cabide
colorida, com pautas voltadas ao público jovem guarapuavano que está prestes
a enfrentar a vida adulta e decidir qual rumo tomar. Nosso diferencial é que tam-
bém estamos nessa fase da vida, logo, entendemos e possuímos os mesmos
anseios e desejos dos nossos leitores.
Moda Bechó p. 09 Incertezas são muito constantes em toda a nossa vida, mas na juven-
tude elas aparecem de forma muito mais intensa. Precisamos tomar importantes
decisões e, de forma precoce, decidir o nosso futuro. São dúvidas sobre qual
curso fazer na faculdade, sobre qual área seguir e, principalmente, sobre quais
vitrola

prioridades devemos ter. Se você tem muitos questionamentos sobre o que deve
fazer, não pense que é a única pessoa nesse dilema. Entrevistamos alguns jovens
e vimos que essas sensações são mais constantes do que pensamos.
Há algo de novo no Rock? p.14 Para escrever a edição deste mês visitamos algumas baladas da cidade, des-
de as mais célebres até as que sofrem certo preconceito, e mostramos o que
vocês podem encontrar em cada uma delas. Existe gosto para tudo e não adianta
dizer que não existem lugares para sair em Guarapuava porque comprovamos o
contrário. E no passado, como eram as opções de lazer aqui? Conversamos com
@

algumas pessoas que viveram a juventude na década de 60 e descobrimos como


Rolando Dados p.20
coloquial

as coisas mudaram (ou não).


Muito se questiona sobre os estilos de rock que têm surgido nos últimos tem-
pos. Será que essas bandas realmente são originais ou elas são meras cópias
do que já foi feito antes? No rock’n roll as coisas não funcionam muito diferentes
de como funcionam na vida: por mais que coisas novas surjam, que a tecnologia
impere, alguns elementos, tanto sonoros quanto visuais, sempre são resgatados
Só Protejo o que é “meu” p.24 do passado.
am-pm

Tomamos como base o drama encontrado no romance Dom Casmurro, de Macha-


do de Assis, para mostrar que alguns sentimentos, como o ciúme, são atemporais e,
quando exagerados, podem até mesmo chegar ao status de doença.
Sair a Noite em Guarapuava, sim! p.28 Nos últimos tempos muito tem se discutido sobre a homossexualidade depois
que o Superior Tribunal Federal decidiu reconhecer a união homoafetiva no país.
memória

Mas será que agora ficará mais fácil para os homossexuais se assumirem? Não
é nada fácil declarar sua opção sexual e enfrentar o preconceito da sociedade,
mas algumas pessoas preferem tomar essa atitude para se sentirem mais perto
da felicidade.
Aquilo que o Tempo Não Apaga p.34 Enquanto algumas pessoas consideram que roupas de brechó são fora de
sem tabu

moda e possuem procedência duvidosa, outras costumam frequentar esses lu-


ponta do lápis

gares e garantem que encontram ótimas peças lá. Visitamos alguns estabeleci-
mentos da cidade e mostramos como se pode montar ótimos looks com roupas
do brechó.
Nossa matéria de capa é sobre o RPG, jogo de interpretação que, geralmente,
Eu Sou Gay p.40 é encarado de forma negativa por quem não tem conhecimento real sobre o uni-
verso que o cerca. Jogado de forma consciente e controlada, ele pode servir como
uma ótima ferramenta para o aprendizado e o desenvolvimento da criatividade.
É nosso desejo que, ao ler a Boom!, vocês se identifiquem com o conteúdo da
Futuro Incerto p.43 revista, sintam-se representados e que ela faça jus ao seu nome: que o barulho
crônica

da Boom! repercuta em suas vidas e que possamos contar com vocês na nossa
próxima edição.
Boa e prazerosa leitura a todos!
Anita Hoffmann
Ocaso sobre a Pedra p.48
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O que eu mais

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João Ovitzke - desenhar


gosto de fazer?

Carolina Teles
Danielli Pontarollo - Yoga

Foto: Anita Hoffmann


Carolina Teles

Foto: Anita Hoffmann


Matheus Schran - Tocar bateria

Foto: Anita Hoffmann


Foto: Anita Hoffmann

Foto: Anita Hoffmann

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Moda B r e c
Carolina Teles
Por: Carolina Teles

Alane Marie de Lima- Estudar

Carolina Teles

Carolina Teles
Roberto Corrêa - Tocar Guitarra

S
e o que você sempre so- hoje em dia a maioria de suas roupas azul (foto página 20) encontrado em um
nhou foi comprar roupas são de lá. “Eu tenho vários paletós que brechó famoso da cidade, no qual pa-
originais e fazer a sua eu comprei em brechó, tem um paletó gou R$ 10,00 e usou no casamento de
própria moda, já demo- cinza xadrez que eu gosto muito dele, uma de suas melhores amigas. “Mas
rou para sair em busca eu sei que em qualquer outra loja seria tem que dar sorte”, afirma. Ela também
de bazares e brechós. Em um rápido difícil de achar. Além de ter camisas de nos conta um pouco da arte de garim-
passeio pelo centro de Guarapuava foi flanela xadrez, listradas, pulôver de lã, par, que é imprescindível na hora de
possível encontrar quatro brechós dos suéter de lã”. Luiz afirma que compra comprar. “A gente tem que garimpar; na
mais diferentes tipos. Mas há muito as roupas pela exclusividade que elas verdade, você tem que ir com muita pa-
mais. Neles, podem ser encontradas possuem “Eu sempre gostei de coisas ciência né, porque muita coisa não dá.
roupas dos mais diversos estilos e qua- mais antigas, coisas que você não en- Tem que garimpar.” Assim como Luiz,
lidades; basta ter paciência e um bom contra em lojas comuns. Um dia eu fui Carol vai a brechós para encontrar rou-
olho para achar peças que valem a num brechó e encontrei mais ou menos pas mais alternativas “Eu vou por diver-
Foto: Anita Hoffmann

Foto: Anita Hoffmann

pena. São casacos, camisas, vestidos, o tipo de roupa que eu procurava. E ser são, porque é legal, acha umas coisas
de boa qualidade, originais e baratos. barato também compensa.”, afirma. diferentes do convencional.” Foi com a
Entre os jovens, a moda está cres- Carol Gualdessi, 24 anos, acadêmi- Carol que demos um passeio pela cida-
cendo. Luiz Fernando Santos, 21 anos, ca de serviço social, começou a com- de em busca de peças interessantes,
acadêmico de Publicidade de Propa- prar em brechó há uns seis anos atrás. confira!
ganda, iniciou o hábito de comprar em E Ela possui algumas peças de dar
brechós há uns três anos e conta que inveja, como o vestido de alta costura

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Comprando camisas e casacos,

cabide
Moda Brechó
cabide

você tem mais chances de acertar

Carolina Teles
Se você busca o xadrez, não perca tempo.
Os brechós estão cheios deles!

Carolina Teles
Carolina Teles
Carolina Teles

Além de variedades...

Carolina Teles
... e raridades. Carol pagou R$ 10 neste
vestido novinho e de alta costura
Carolina Teles

Carolina Teles
Carolina Teles

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Há algo de

vitrola
vitrola

novo no rock?

Foto: Divulgação
Bandas atuais são repletas de influências Hard rock
do passado em suas músicas. Twisted Sister - Gênero mais pesado que o rock convencional
- Tem influências do rock psicodélico e do rock de garagem

Mas por onde andam as novidades? - Em alguns momentos, assemelha-se com o heavy metal
- Costuma ter guitarras pesadas e vocais agudos ou roucos
-Bandas: Bon Jovi, Cinderella e Mötley Crüe

Por :Anita Hoffmann

E
m um mês você escuta uma essas sonoridades estão ainda bas-
música insistentemente na tante vivas no nosso cotidiano. Alguns
rádio, vê a banda aparecer jovens gostam tanto do rock mais an-
em todos os programas de TV, tigo que se negam a escutar coisas
mas bastam poucos dias para mais novas; outros buscam bandas do
ela desaparecer e perder seu lugar para passado justamente para encontra-
outra banda do momento. Se você pen- rem as referências feitas pelas bandas
sar um pouco, vai lembrar de muitas atuais que curtem. Talvez Chacrinha
bandas que viraram “febres do verão”, tenha sido fatalista demais ao dizer
mas logo desapareceram como em um que “nada se cria, tudo se copia”, mas
passe de mágica ou ficaram relegadas ele não estava totalmente errado. Se-
ao triste mundo das sub-celebridades. ria mais adequado dizer que “nada se
cria, tudo tem influência do passado”.

Foto: Divulgação
Não somos videntes e nem temos uma
bola de cristal para prever quais bandas O próprio rock’n roll, apesar de inova-
atuais serão influências no futuro, mas dor e transgressor, bebeu da fonte de
uma coisa é certa: por mais que ban- estilos como o blues e o jazz.
das com pouco talento façam sucessos Será que os fãs do happy rock fa- Happy Rock
momentâneos, apenas as que têm um zem ideia de que existiram bandas de - A música tem mais elementos do pop do que do rock
som de boa qualidade permanecem na
memória. E essa constatação não foi in-
ventada agora; basta olharmos para o
hard rock na década de 80 que tam-
bém utilizavam visuais exagerados e
bastante coloridos? Os fãs do emocore
- Gênero inventado no Brasil
- Músicas alegres e com temas amenos
- Roupas coloridas e visual mais infantil
Restart
passado para termos essa certeza. sabem que o estilo se originou dentro -Bandas: Cine e Restart
Por mais distante que possam pare- do hardcore punk na década de 80 e
cer as décadas de 60, 70 e 80, bandas tem bastante influência do visual do
de rock dessa época têm uma influên- rock gótico? E os fãs de bandas de me-
cia enorme na música atual. E quando talcore têm consciência de que
dizemos enorme, é porque realmente
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The Cult

vitrola
vitrola

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Slayer Thrash Metal


- Música pesada e rápida

Gothic Rock - Letras que envolvem críticas sociais e religiosas


- Influência do punk e do heavy metal
- Atmosfera gótica - Bandas: Slayer, Pantera

Foto: Divulgação
- Temas macabros, satânicos e /ou depressivos
- Visual carregado de preto e de maquiagens fortes
- Bandas: The Cult, Joy Division, e Suicide

Simple Plan Guilherme Rocha, 21 anos, o caminho


aconteceu de forma inversa. Primei-
ro, ele curtia as bandas de heavy me-
re era febre entre muitos adolescen-
tes brasileiros. Era comum sairmos às
escutar o estilo com tanta frequência,
mas ainda sabe várias músicas de cor.
ruas e vermos grupos de adolescentes “Gosto muito da atmosfera triste das
tal que inspiraram o metalcore, como vestidos de preto, com longas franjas músicas e, depois que conheci o emo-
Pantera e Slayer, e só depois conheceu no rosto e com maquiagens bastante core, pesquisei outras bandas pareci-
o estilo. O metalcore é um estilo que
Emocore anda em bastante voga atualmente.
fortes. Temas tristes dominavam as le-
tras das músicas e um modo de vida
das. Me encantei profundamente com
o gothic rock do Joy Division e do The
- Influência do hardcore/punk Fã de bandas como As I lay dying, Kill- depressivo era exaltado. Apesar de ter Cure e depois disso acabei escutando
- Roupas pretas, franja comprida e maquiagem switch Engaged e Avenged Sevenfold, feito bastante sucesso em meados dos menos o emo”.
bastante marcada Rocha diz que o que mais o atrai no anos 2000, o emocore surgiu muito an- Não importa qual seja o estilo mu-
- Bandas: My Chemical Romance, NxZero, Simple Plan metalcore é a rapidez e agressividade tes, no começo da década de 80, ins- sical que você curta, pesquisar bandas
do estilo. “Gosto do peso e da raiva pirado pelo hardcore e pelo punk rock. do passado sempre é bom para au-
que essas músicas me transmitem”. Ao Já em relação ao visual, que valoriza mentar o seu repertório musical e para
mesmo tempo em que o metalcore possui bastante o uso do preto, percebe-se abrir sua visão sobre a própria música
vocais guturais e guitarras rápidas, em al- grande influência do rock gótico, mais atual. Por mais que o tempo passe,
guns momentos vocais limpos e bastante conhecido como gothic rock. Mauro Co- que sucessos venham e vão, algumas
melodiosos misturam-se à música. elho, 20 anos, já escutou muito emoco- bandas têm o poder de serem eternas.
o estilo nasceu como uma fusão do gumas pessoas se choquem com as das suas boas condutas e por tratar de Agora a “onda” diminuiu, mas há re na vida. Hoje em dia, ele admite não
peso do heavy metal com o protesto do roupas coloridas, as bandas de happy temas mais amenos nas suas músicas. uns dois ou três anos atrás o emoco-
hardcore? Talvez nem todos saibam so- rock não são nada inovadoras nisso. A estudante Nataly Abdanur Nassar,
bre as influências que suas bandas fa-
voritas têm e, por isso, a Boom! explica
um pouco sobre isso para vocês.
Antes mesmo de os caras do Restart
nascerem, já existiam bandas, prin-
cipalmente nos Estados Unidos, que
14 anos, é superfã do Restart. Ela con-
ta que foi ao show deles aqui em Gua-
rapuava e que conseguiu chegar bem
Killswitch Engage
O que se denomina como happy exageravam no visual e se vestiam, por perto dos seus ídolos; segundo ela,
rock nem ao menos se pode ao certo vezes, como travestis. Bandas de hard para sua felicidade total, um deles deu
considerar como rock. Apesar de ter a
palavra “rock” no nome, a música des-
rock como Twisted Sister, Cinderella e
Mötley Crüe faziam um rock bastante
uma piscadinha para ela. “Eu até tenho
roupas coloridas como as dos caras do
Metalcore
se estilo se parece muito mais com o pesado que contrastava com suas rou- Restart, mas nem costumo usar, o que - Influência do metal e do hardcore
pop do que com o transgressor rock’n pas e com seu visual andrógeno. Basta me chama mais a atenção neles é a - Guitarras pesadas e vocais guturais contrastan-
roll. Roupas coloridas e músicas com escutar o hard rock e o happy rock para música mesmo”. Quando questionada do com vocais melodiosos
letras felizes são características pe- perceber que não existe nada em co- sobre conhecer as bandas da década - Bandas: Avenged Sevenfold, Killswitch Engage,
culiares do estilo musical próprio do mum na sonoridade das bandas, mas de 80 que possuíam visual colorido As I lay dying

Foto: Divulgação
Brasil. Geralmente, o público do happy é inegável que o visual em muito se também, Nataly diz não ter nem ideia.
rock não ultrapassa a faixa etária dos assemelha. Enquanto um estilo busca “Não sabia que existiam bandas assim
18 anos; são as adolescentes que fi- ser transgressor e afrontar a sociedade antes e também não lembro de ter es-
cam doidas e histéricas pelas bandas com letras sobre sexo, dramas e dro- cutado nada delas”.
dos “bons meninos”. Por mais que al- gas, o outro se destaca por orgulhar-se Em relação ao metalcore, com o fã
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Rolando
dados
As aparências às vezes enganam e os juízos precipitados
também. Os jogos de RPG podem ter um papel bastante
importante no desenvolvimento da criatividade e cognição.

Foto: Anita Hoffmann


Por: Anita Hoffmann

Foto: Anita Hoffmann


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“Às vezes acabo ficando


diante de certas situações
em que preciso agir rápido,
pensar em uma estratégia
de uma hora para a outra ”

Foto: Anita Hoffmann


Paulo exibe orgulhoso o livro do primeiro sistema de RPG
que aprendeu, o 3D&T

“Éosadetalhes

Foto: Anita Hoffmann


imaginação e
que
deixam a história

Afonso e seu colega Vinícius jogam RPG juntos há 2 anos
mais envolvente

Foto: Anita Hoffmann


A mestre em Educação, Christine guns livros nacionais como o O desa- mestro para um grupo há dois anos,
Vargas Lima considera os jogos de RPG fio dos Bandeirantes, Descobrimento jogamos praticamente todos os domin-
uma ferramenta lúdica de aprendizado. do Brasil e O resgate dos retirantes.’ gos. Todas as pessoas do grupo se en-
Vampiro: A Máscara é uma das aventuras que Amanda Ela não concorda com todos os aspec- Afonso Henrique Ferreira Cunha tem volvem bastante na história, estudam.
costuma mestrar tos do jogo, principalmente quando se 20 anos e cursa o terceiro ano de Ciên- Tem um cara do grupo que até mesmo

Q
fala em castigos e punições aos joga- cia da Computação. Assim como Paulo aprendeu a falar algumas palavras em
uando se fala em jogos de de histórias. Geralmente são jogados mais envolvente. E é tudo colaboração: dores, mas acredita que as estratégias e Amanda, ele também se interessou japonês para interpretar um samurai”.
RPG (Role Playing Game), por no máximo cinco pessoas. Existem o mestre não é contrário aos jogado- cooperativas podem ser muito úteis pelos jogos ainda na adolescência, Se você tem curiosidade em co-
logo o senso comum asso- vários sistemas de RPG e cada um de- res, os jogadores também não estão na hora da troca de conhecimentos. com apenas 14 anos. “Por gostar bas- nhecer o mundo dos RPGs, pesquise,
cia-os à violência e à alie- les possui suas regras determinadas. em uma disputa; eles geralmente estão Os jogos poderiam ser utilizados como tante de história, o RPG me encantou. arrisque, chame alguns amigos e tente
nação. Esse preconceito Quando um jogador escolhe certo sis- juntos em busca de um mesmo objetivo ferramentas de ensino dentro da sala Apesar de eu acreditar que seria difícil jogar. Mas lembre-se sempre que qual-
geralmente surge pela falta de informa- tema, age de acordo com os limites e os inimigos são os personagens ima- de aula, porém, falta interesse e até os professores ensinarem-no de forma quer coisa em exagero pode ser preju-
ção e pela pouca divulgação dos jogos. impostos. Em todas as mesas (nome ginários da história”. Amanda acredita mesmo tempo de os professores de- completa, se adaptado, ele poderia ser dicial. Utilize os jogos de interpretação
Poucas pessoas, além dos jogadores, dado ao grupo de RPG) é necessário que os RPGs despertam nos jogadores senvolverem ações como essa. Além uma boa opção para conquistar o in- como um espaço lúdico, de entreteni-
conhecem a fundo como funciona o que haja um mestre, pessoa que nar- um interesse natural pela literatura, disso, os livros também costumam teresse das crianças e adolescentes e mento, como um momento de sociali-
universo dos Role Playing Games e ge- ra e cria a história a ser jogada. É o pois, se eles não tiverem uma boa ba- ser caros e é difícil imaginar como desenvolver neles a criatividade”. Para zação, e nunca esqueça que confundir
ralmente só se fala sobre eles na mídia mestre que costuma apresentar as si- gagem cultural, não conseguirão apro- crianças de baixa renda poderiam ad- Afonso, o grande problema nisso é a a sua vida com a dos personagens sig-
quando acontece alguma coisa ruim en- tuações aos jogadores e a história vai veitar a história de forma adequada. quiri-los. A maioria das publicações é questão de tempo, pois os jogos de RPG nifica alienação; por isso, saiba voltar
volvendo-os. Muitos pais ficam com os se desenrolar de acordo com as atitu- Paulo Henrique é um exemplo de estrangeira, mas também existem al- duram horas ou até mesmo dias. “Eu à realidade quando o jogo terminar.
cabelos em pé só de imaginar seus fi- des que cada um tomar. Os jogadores quem descobriu a literatura por meio
lhos participando de jogos assim. É cla- idealizam e criam seus personagens, dos jogos. O estudante de 16 anos co-
ro que não dá pra aceitar que algumas dando-lhes características próprias, tre- meçou a jogar quando era ainda uma
pessoas levem tão a sério esses jogos jeitos e personalidade. Para analisar o criança, com apenas 11 anos. Por ver
de interpretação que acabem matando sucesso ou fracasso de cada ação, ro- seu irmão mais velho e seus amigos
ou morrendo por eles, mas, o que preci- lam-se dados e os resultados serão de jogarem, decidiu aprender também. No

publicidade
sa ficar evidente é que esses são casos acordo com o que o livro de regras diz. começo, sentia bastante dificuldade na
de exceção e que a grande maioria de rp- A publicitária Amanda de Oliveira, interpretação de seus personagens,
gistas (como são denominados os joga- 24 anos, joga RPG há mais de 10 anos mas com o tempo foi percebendo que
dores) não é formada por degenerados. e também costuma “mestrar” de vez era exatamente essa interpretação que
Diferentemente da maioria das mídias em quando para seus amigos. Para ela, fazia tudo ficar mais divertido. “Para
que só mostra o lado negativo desses um dos fatores mais interessantes do mim, o RPG é bastante legal em relação
games, pretendemos, aqui na Boom!, jogo é o fato de ter que pesquisar, ler e à improvisação. Às vezes acabo ficando

Foto: Anita Hoffmann


mostrar como eles podem também ser buscar muita referência histórica para diante de certas situações em que pre-
ótimas ferramentas de aprendizado. compor os seus personagens ou para ciso agir rápido, pensar em uma estraté-
Os RPGs são jogos baseados na in- desenvolver uma trama. “É a imagina- gia de uma hora para a outra. Tem que
terpretação de personagens e criações ção e os detalhes que deixam a história ter muita criatividade e jogo de cintura”.
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Só protejo o

coloquial
coloquial
O ciúme é uma das principais
causas dos términos de
que é “meu” realcionamentos. Mas o que é e
por que as pessoas sentem ciúmes?
Por Camila Souza

B
entinho apaixona-se pela vizinha de infância, úme bateu forte. Principalmente por parte do Emerson,
Capitu. Os dois se casam, mas não são felizes que detesta lembrar-se desse tempo. “É difícil saber
para sempre. O rapaz começa a ficar descon- que a pessoa que você ama ficou com outro. Cla-
fiado e a sentir ciúmes exagerados da amada. Com o ro que ela não fez nada de errado, porque a
tempo, ele passa a acreditar que sua esposa realmente gente não estava junto, mas não posso
o traía. Bentinho transformara-se em Dom Casmurro. dizer que gosto”, conta o namorado ciu-
Esse é o resumo do resumo de Dom Casmurro, o mento.
grande romance realista de Machado de Assis. Uma E não é que o menino é ciumen-
história em que o ciúme do protagonista colocou a to mesmo. Edicléia, a Edi, conta que
felicidade de seu relacionamento em cheque. E, por o namorado já era ciumento antes,
mais que a obra do mestre Machado se passe lá do mas agora, depois desse “break”,
século XIX, o assunto não envelheceu nem um pouco. Emerson fica sempre com o olho
O ciúme romântico (que é diferente, por exemplo, do bem aberto. “Ah se eu passar na
ciúme entre irmãos) é um tema que está sempre em frente da Campo Real”, conta a
destaque. Desde as novelas mexicanas até ali na casa garota explicando que é lá que es-
do vizinho. Os anos passam, mas o ciúme continua habi- tuda o menino com que ela ficou
tando a cabecinha de muitos casais por aí. durante o tempo que houve no
Mas o que é o ciúme romântico? E por que as pessoas namoro. “Quando a namorada é
sentem ciúmes de seus namorados? bonita, a gente tem que cuidar,
Dentro da psicologia, o ciúme romântico pode ser divi- né?”, justifica Emerson.
dido em duas categorias: o patológico e o não-patológico. O André Zinco, 18, namora há
primeiro é ciúme levado às extremas consequências. São aque- um ano. Quando conheceu sua
les casos em que a pessoa se torna irracional e, mesmo sem ter namorada, os dois moravam
provas de uma infidelidade, comete atos inaceitáveis e, às vezes em Guarapuava. Era época de
até crimes. Esses casos são os mais raros, como o do Dom Cas- pré-vestibular e eles estuda-
murro. vam juntos, na verdade, fica-
Comum mesmo é o ciúme não-patológico. Aquele me- vam juntinhos o tempo todo.
dinho de existir um(a) rival ou de pensar na possibilidade Os dois passaram na UFPR,
de uma traição. Esse sentimento não torna o ciumento em em Curitiba, só que ela entrou no
uma pessoa agressiva, como no caso do ciúme patológico. primeiro semestre e André vai entrar
O que acontece é que a pessoa se sente insegura e tende no segundo. Pela primeira vez, eles
a ter comportamentos de investigação e desconfiança. Fa- não se vêem mais todos os dias,
zer vistoria freqüente no Orkut ou Facebook do namorado a saudade aperta e o ciúme che-
ou da namorada já é um indício. ga. André explica que, como ele
A antropóloga Helen Fisher, em seu livro Por continua na mesma cidade, a
que nós amamos: A natureza e a química do Amor Ro- namorada não sente muito ci-
mântico (Editora Record), explica que os dois maiores úme. Mas ele, por outro lado,
motivos para o término de relacionamentos são a trai- sabe que a amada está em um
ção e o ciúme. E essas duas situações têm uma rela- ambiente novo e diferente, com no-
ção íntima. vas possibilidades. E são essas possibi-
Mas isso não acontece por acaso, o ciúme é um lidades novas que o deixam inconfortável.
ato instintivo. O psicólogo e neurolinguísta Steven “Ela está conhecendo pessoas diferentes,
Pinker, em seu livro Como a mente funciona (Compa- fazendo novos amigos e eu continuo aqui.
nhia das Letras), aponta que, de acordo com as leis da Não tem como não ficar pensando nisso”,

Souza
probabilidade, se uma pessoa estiver sempre a procura conta André que já era ciumento antes da

Fotos: Camila
de alguém melhor do que seu companheiro atual, um dia distância e agora ficou mais ainda.
ela encontrará. É matemática pura. E o nosso cérebro sabe A insegurança e a desconfiança são até
interpretar isso direitinho. É daí que vem o ciúme. normais. O importante é segurar a barra
Emerson Shneider, 23 anos e Edicléia Ribas, 22 anos e e não fazer tempestade em copo d’água.
entendem desse assunto muito bem. Namorando há quatro Ou seja, o caso não pode virar um quadro
anos e meio, o casal já passou por muitas fases de ciúmes. patológico. Não deixe que o doce Benti-
No último ano, os namorados terminaram e, nesse período, nho que existe em você se transforme no
20 ficaram com outras pessoas. Quando resolveram voltar, o ci- carrancudo Dom Casmurro.
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Sair à noite em Sair à noite em

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Guarapuava, sim! Guarapuava, sim!


“Não tem o que fazer em Guarapuava. Free Way Sound and Dance
Ô cidadezinha sem lugar para sair... Vamos para Curitiba?” Sob a luz negra da balada e a música eletônica, o pessoal animado
dança na pista. A música que toca na Free Way é o Eletro Funk, uma
Por Camila Souza mistura dos elementos da música eletrônica tradicional com elemen-
tos do funk; antigamente, esse estilo era mais conhecido como remix.
A Free Way é, muitas vezes, julgada por pessoas que não a co-
nhecem. Porém, entre as quatro baladas que a Boom! visitou, a Free

G
Way e o Dallas, são as que tem os maiores espaços físicos. Guarda-
uarapuava é, muitas vezes, encarada como -volume, dois bares e banheiros amplos, o espaço é muito bom. Sem
uma cidade sem muitas opções de diversão. Em contar a caipirinha de vários sabores que o bar oferece. E tem muitos
sabores mesmo, até os inusitados creme e fogo paulista – uma mis-
relação a outras cidades maiores, podemos dizer tura de chocolate com guaraná. Reinaldo Alves, de 19 anos (terceiro
que realmente há menos lugares para sair. Mas isso não na foto), conta que adora as caipirinhas e
quer dizer que não haja opções. A Boom! visitou quatro vai à Free Way porque gosta de
lugares da cidade, desde os mais célebres e bem-vistos dançar. “Quando eu danço ele-
tro, eu me expresso. Aqui é o me-
até aqueles que são considerados de forma negativa por lhor lugar para isso”.
muita gente que não conhece.

Aôôô Buteco
Gente animada e muito
sertanejo. Esse é o Aôôô Buteco.
Localizado nas redondezas do

Fotos Free
Cedeteg, o bar é frequentado por
muitos jovens, na maioria estudantes.

Way: Cam
Além de sertanejo, o Aôôô Buteco
também toca pagode e até reggae.

ila
Mas o forte dessa balada é mesmo o

Souza
bom sertanejo universitário.
Para os sertanejeiros de plantão, o
Aôôô Buteco é uma ótima indicação de
balada. Lis Freitas, de 21 anos (foto),
estudante de veterinária, é fã do estilo
e sempre vai ao Aôôô Buteco. “As du-
Camila Souza plas são muitos boas e aqui está sem-
pre cheio de gente bonita. Você pode
aparecer até numa terça-feira e, além
de estar lotado, o Aôôô Buteco não vai
fechar antes das 5h”.
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Sair à noite em Sair à noite em

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am-pm

Guarapuava, sim! Guarapuava, sim!


London Pub Dallas Country Bar
Por muitos anos, Guarapuava não teve um local específico para
Bailão: essa é a palavra que define o Dallas. Frequentado por
tocar Rock. O London Pub foi inaugurado ano passado e é celebrado
pessoas de todas as idades, o bar é famoso por tocar músicas es-
pelos apreciadores do estilo. Famoso por trazer covers de bandas im-
tilo vanerão. Ao som de “Maria Chá Chá Chá”, conhecemos Taisa
portantes como Beatles e Metallica, o Pub tem uma elegante decora-
Krauss e Jeferson José Bilek, ambos de 22 anos (foto). Taisa conta
ção temática com referências à Londres e ao próprio rock. Elizabete
que gosta muito de dançar e o Dallas é um dos poucos lugares em
França, de 23 anos (com o marido Elias na foto), freqüenta o Pub
que os homens sabem dançar. Jeferson também aponta a dança
justamente por gostar de rock. “Os preços não são os mais baratos,
como principal motivo para ir ao Dallas. “Gosto muito de vir ao baile.
mas as bandas que o Pub traz são muito boas. Para quem ama rock,
Dançar um fandango não faz mal a ninguém.”
como eu, vale a pena”.
O local tem o espaço interno e o estacionamento bastante amplos.
O local tem dois ambientes: na parte superior, funciona o bar e no
E se bater a fome, no meio da noite, o Dallas tem uma lanchonete ao
porão, fica o palco onde as bandas se apre-sentam. Quando o Pub
lado do estacionamento.
fica cheio, geralmente
nos sábados, o espa-
ço se torna pequeno.
Mas para todo bom ro-

Foto
queiro, os inferninhos

allas sD
são os melhores luga-

: Ca
res para curtir o bom

mila
e velho rock’n’roll.

Sou
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Camila Souza

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28 www.twitter.com/_revistaboom 29
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Aquilo que o tempo

memória
memória

não apaga... Por: Catiana Calixto


“A gente ia “piruá”! Quem
não entrava no baile ficava
em frente vendo o movimento.
Mas eu não gostava muito.
Papai não deixava a gente
Lembranças sobre como foi viver a juventude em décadas passadas em dançar com os moços”.
Guarapuava Vilma com o grupo de amigas no Turvo, onde se
encontravam para fazer piquenique
Nelly Crissi

Nessa época, a cidade não era como


hoje, nem em tamanho, nem em costume.
Os tempos eram outros e as pessoas ti-
nham outros pensamentos. Por ser peque-
na, Guarapuava não dava muita opção de
“Namorados, noivos, lugares para os jovens irem e a tradição da
época fazia com que a concepção de diver-
casados, todo mundo ia são que temos hoje fosse muito diferente.
ao cinema! Era a maior “Rara e esporadicamente fazíamos um
piquenique, mas o cinema era a diversão
diversão que tinha, até principal! Namorados, noivos, casados,
todo mundo ia ao cinema, era a maior di-
porque não existia televisão, versão que tinha, até porque não existia
então o cinema era a televisão, então o cinema era a novidade”,
conta Ivo, o marido da Dona Vilma de Je-
novidade”. Ivo Rodrigues sus Crissi Rodrigues. Sim, depois do cine-
minha eles namoraram, noivaram e casa-
ram. Estão juntos até hoje. Passeio em Vila Velha com o grupo de jovens que
Ivo de Oliveira Rodrigues, Vilma de Jesus Crissi Rodrigues, O cinema, que se chamava Cine Gua- participava da liturgia na Catedral
íra, era o point da juventude guarapua-
jovem nos anos 60. jovem da década de 60.
vana e ficava localizado onde hoje está a
sede da Igreja Universal, na rua Senador estava em cartaz, eram exibidos episódios
Pinheiro Machado. Segundo Vilma, havia de um seriado. “Muita gente ia só por cau-
sessões durante a semana, mas ela e Ivo sa do seriado, já que o episódio terminava
iam com mais frequencia aos finais de se- em um momento que fazia você querer

“C heguei em Guarapuava em fevereiro de 1961, eu tinha 18 anos. Dia 11 de


abril, uma terça-feira, do mesmo ano eu conheci a Vilma, eu já havia visto ela antes, mas
mana, já que, após a exibição do filme que voltar na próxima semana para ver o que
ia acontecer. Passava Flash Gordon, Zor-
ro...”, relembra dona Vilma, brincando com
nunca tínhamos conversado, nesse dia aconteceu e combinamos um cinema no domin- as palavras em inglês que aprendeu com
A jovem Nelly (a primeira em pé a esquerda), com os pais e as irmãs
go, dia 16”. O brilho nos olhos e a precisão dos dados fazem com que o fato acontecido os seriados.
há 50 anos na vida de Ivo de Oliveira Rodrigues, de 68 anos, aparente ter sido vivido
sentados a mesa, na década de 40.
Além do cinema, os meninos se diver-
por ele há poucos dias. E como já diriam os mais velhos: aproveitem a juventude, ela tiam nos times de futebol que formavam
acontece apenas uma vez na vida! e nos campeonatos amadores que par-
Muitos jovens de uma Guarapuava do século 21 sequer imaginam que gerações ticipavam. As competições eram sinal de
passadas, ao invés de irem ao London Pub, Pharol ou Aôô Buteco, iam para o Turvo fazer rebuliço e sinônimo de reunião dos jovens.
piquenique, marcavam presença no cinema todo o domingo, e não perdiam os bailes do Enquanto os meninos jogavam, as namo-
Clube Guaíra, que por sinal, é o mesmo Guaíra que você está pensando, aquele onde radas assistiam e aproveitavam para se
acontecem as formaturas (mais para frente você verá que essas formaturas são tradição divertir também, colocando o papo em dia.
meeesmo). Isso significava diversão para toda a geração dos anos 60 em Guarapuava. Ivo conta que, antes de vir para Gua-
rapuava, quando morava no município de
São Carlos do Ivaí, no norte do Paraná, tra-
balhava em um armazém até as 15 horas
do domingo, logo depois ele tinha treino
com o time no qual jogava lá. “Quando o
pessoal descobriu que eu jogava futebol,
quiseram que eu fosse jogar com eles. Eu
34 www.twitter.com/_revistaboom 35
dá suas opiniões a cada assunto.
Dona Vilma se manifesta para con-

memória
tar sobre a sua vida de solteira, tempos
memória
que ia aos circos e parques que se ins-
talavam em Guarapuava. Onde hoje lo-
caliza-se o Terminal da Fonte havia uma
espécie de praça, era ali que o circo se
instalava. Dona Nelly Crissi, guarapua-
vana de 81 anos, conta que quando o
circo chegava, toda a cidade se agita-
va. “Meu pai adorava! Mas como eu e
minhas irmãs só podíamos sair de casa
Ivo (o mais alto de todos) e o time de acompanhadas dele, sempre íamos ao
futebol de São Carlos do Ivaí. circo”, conta a jovem dos anos 40. Ela
nasceu em 1928!
Dona Nelly lembra que as festas que
aconteciam na Paróquia Nossa Senho-
ra de Belém também eram motivo para
agitar a cidade, pois tinha churrasco,
música, bingo e claro, pessoas. Todo jo-
vem sempre gostou de um agito. Esse
era um dos motivos para ela e as irmãs
fugirem dos olhos do pai, à noite, para ir
conferir o agito em frente ao tradicional
Clube Guaíra. “A gente ia “piruá”! Quem
não entrava no baile ficava em frente
vendo o movimento. A gente só entrava
quando papai entrava, mas eu não gos-
tava muito, todo mundo dançava, mas
papai não deixava a gente dançar com
os moços”, revela a veterana no quesito
juventudes passadas.
Os tempos eram outros, a cultura
era outra, mas uma coisa não mudou:
Ivo na Praça 9 de Dezembro, em o jovem ainda quer se divertir e aprovei-
Dona Vilma quando moça, vestindo o uniforme do Colégio Nossa frente a Catedral, no período em que tar enquanto é tempo, pois assim como A jovem Vilma em sua formatura do colegial, no tradicional Clube Guaíra.
Senhora de Belém, onde estudava. A luva, a gravata e a boina também servia ao- Exército. a Dona Vilma, o Seu Ivo e a Dona Nelly,
faziam parte do vestuário. o tempo passou, mas as lembranças “A gente se reunia na casa de um e de outro e ficávamos
que estão mais vivas em suas memó-
rias são esses: as da juventude!
dançando; nessa época tinha bastantes serenatas
lembro que o time ia jogar nas fa- era sinal de respeito com a moça e com também.Essa época era bem divertida, os passatempos,
zendas das redondezas da cidadezi-
nha. Então, ficavam alguns jogadores
a família dela. “O casal só podia sair so-
zinho depois que tivesse namorando há
*As fotos pertencem ao arquivo pessoal das fontes. piqueniques, passeios... Era assim a vida!”,
me esperando fechar o armazém den- algum tempo, caso contrário, sempre Ivo Rodrigues
tro de um jipe. Eu fechava o armazém ia alguém junto. Na casa da namora-
e ia treinar, sempre era o último que da, sentado na sala, bem bonitinho e
chegava; às vezes o time já estava em alguém sempre por perto”, releva Ivo.
campo. Ia trocando de roupa no meio Três anos depois que Ivo e Vilma se
do caminho, chegava lá e já começava casaram, em 1964, passaram a parti-
a jogar! Todo o domingo era assim!”. cipar da equipe de liturgia da Catedral
Nossa Senhora de Belém, que consistia

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NAMORO RETRÔ E MARMELADA em um grupo composto quase que intei-
ramente por jovens. Claro, havia progra-
Quem disse que naquela época mação com piqueniques e festas com
os pais deixavam o namorado buscar danças que duravam a noite toda. “A
Ivo e os colegas que serviram ao
a filha em casa e irem a algum lugar gente se reunia na casa de um e de ou- Exército na década de 60.
qualquer? Que nada! Se tivessem sor- tro e ficávamos dançando; nessa época
te de conseguir a permissão para sair, tinha serenatas também, a gente não
alguém deveria ir junto, isso quando o fazia muito, mas era bem comum. Essa
próprio pai não acompanhava a meni- época da liturgia era bem divertida, os
na. Caso não fossem sair, o casal se passatempos, piqueniques, passeios...
sentava na sala e ficava conversando. Era assim a vida!”, lembra com carinho
Nada de quarto trancado ou deitar em- Ivo, Dona Vilma, sentada do outro lado
baixo das cobertas. Comportar-se assim da mesa concorda com as histórias e
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sem tabu

sem tabu
Eu sou que conviveu, mas que raramente tinha tou para amigos e foi atrás de pessoas

GAY!
afinidades com eles, ao contrário, sem- com as quais se identificasse para po-
pre se relacionou melhor com as meni- der contar sua história a eles e não ser
nas. “Aos 16 anos comecei a ter uma julgado. “Nesse meio tempo, eu procu-
amizade colorida com um menino e tive rei não amigos, mas pessoas que fossem
minha primeira relação homoafetiva.” iguais a mim, não sei se isso foi ou não
Até então, porém, ele se dizia bissexu- uma boa tática, mas foi o que eu adotei
al ou ficava com meninas para não ser pra suprir a falta dos amigos que eu mes-
excluído. Em 2007, em Guarapuava, mo exclui dessa parte da minha vida.”
Samilo conheceu uma colega de jor- A psicóloga Larissa Cabreira afirma
nalismo e, durante uma conversa com que hoje, com mais tecnologia e infor-
ela, escutou que era gay. Ele ficou as- mação, os jovens têm muito mais aces-
sustado com as palavras dela, mas fez so a tudo e, por isso, à percepção da
o que a amiga o havia dito: olhou para sexualidade, se dá após a puberdade.
o espelho e disse: ‘Eu sou gay!’. Porém, “Com a falta de informação as pesso-
Samilo decidiu que não se assumiria, as acabavam casando e tudo mais
pois precisava saber apenas para ele. pra depois descobrir que eram gays.
“Contar para a mãe que você não vai Isso mudou bastante, só que, como o
casar, que não terá filhos do seu san- preconceito ainda é muito forte, princi-
gue porque você gosta de meninos não palmente numa cidade tradicionalista
é simples. Mas, até então, concordando como Guarapuava, eles têm uma gran-
Por: Carolina Teles com duas grande amigas minhas, eu de dificuldade de se aceitar como gays”
não me assumiria, porque eu não pre- Apesar da escolha inicial feita por

V
cisava levantar bandeiras, eu precisava Samilo, as coisas mudaram em 2008,
saber pra mim.” quando ele afirma ter sofrido uma vio-
ivemos em um mundo garante o direito a liberdade do outro.
Mateus* é guarapuavano. Estuda lência homofóbica, na qual foi sufocado
cada vez mais colorido, Agora, imagine como é descobrir-se ho-
aqui, trabalha aqui e toda sua família e quase perdeu os sentidos. “Para mim,
no melhor sentido da pa- mossexual em uma cidade tradiciona-
e amigos são daqui. Ele é bissexual e foi algo muito marcante. Eu tinha medo
lavra. A diversidade, que lista como a nossa. Além da aceitação
desde cedo teve interesse por meninos de sair de casa e chorava muito. Então,
sempre esteve por ai, está pessoal, como se apresentar perante à
e por meninas. “Com 12 anos, dei meu comecei a pensar na minha vida e a co-
cada vez mais em foco. Você já deve ter sociedade? Será que isso é mesmo ne-
primeiro beijo que, por sinal, foi com um nhecer outros homossexuais, suas his-
percebido que assuntos envolvendo a cessário? Afinal, os heterossexuais não
menino. Foi aí que eu criei uma ideolo- tórias e perceber o quanto somos opri-
homossexualidade estão em voga nas precisam dizer e revelar pra família:
midos pela sociedade e suas normas.”
www.twitter.com/_revistaboom
capas dos jornais ultimamente. No ano “Gente, sou hetero!”. Foi para respon- gia própria: Eu me apaixono por pesso-
as, independente do sexo.”. Mesmo se Ele resolveu que não queria que coisas
de 2010 o IBGE (Instituto Brasileiro de der essa e outras perguntas que fomos
percebendo bissexual, ele nunca con- parecidas continuassem acontecendo
Geografia e Estatística) resolveu pela atrás de relatos pessoais e profissionais
primeira vez contabilizar o número de que nos contaram mais sobre a aceita-
casais gays, obtendo como resultado ção e a revelação da homossexualidade.


preliminar mais de 60 mil casais ho- Samilo Takara, natural de Tupã/
mossexuais. Neste ano, o país também SP, 22 anos, jornalista e mestrando
deu passos significativos ao reconhecer a
união estável para casais do mesmo sexo.
em Educação, estudou em Guarapua-
va nos últimos quatro anos. Ele é gay.
Comecei a pensar na minha vida
Mas a luta contra o preconceito está “Ser homossexual ou gay não é algo e a conhecer outros homossexuais,
longe de acabar. Grande parte da nossa que se descobre, assim como ser hete-
população ainda é contrária à garantia rossexual. É uma constatação.” Samilo suas histórias e perceber o quanto
de respeito, igualdade e liberdade aos afirma que desde criança teve relações
somos oprimidos pela sociedade e


homossexuais. Enquanto isso, eles es- homoafetivas (homoafetivo é um termo
tão por ai como todos nós, estudando, recente que visa substitui o termo “ho- suas normas
trabalhando, amando. São professores, mossexual” e dá realce a um aspecto
engenheiros, esportistas, médicos, co- relevante quando se aborda um relacio-
legas seus, que sofrem contra o precon- namento: o afeto existente na relação
ceito de uma população que ainda não entre duas pessoas.) com os meninos
Samilo Takara

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Eu sou Eu AY! Eu

ponta do lápis
sem tabu

GAY! G sou
GAY!
Eu sou
Eu sou GAY! Eu sou
GAY! GAY!

Futuro Incerto
Por : Catiana Calixto
e começou a lutar politicamente contra eles me amam muito, mas contar é numa mentira a gente não é feliz, en-
isso. Juntamente com o hoje assistente muito complicado” A psicóloga Larissa tão temos que enfrentar todo mundo,
social, Rafael Ferrareze, instituciona- fala um pouco desse aspecto: “Na ver- mesmo que seja difícil. Porque a hora
lizaram o Gadih - Grupo Acadêmico de dade eu acredito que não é o pai não que eu conseguir enfrentar os meus
Discussões Interdisciplinares Homocul- vá aceitar ou mãe não vá aceitar, mas medos, eu vou conseguir ser feliz e
turais. E Samilo passou a produzir tex- o quanto isso vai prejudicar na vida de- se eu consigo ser feliz nada importa.”
tos para o site Maringay, Assim, seu pai les. Tanto é que eles saem daqui e vão Porém, esse é problema que vem
e sua mãe acabaram descobrindo sobre para as cidades grandes para serem mais de fora para dentro (sociedade/
sua sexualidade e Samilo se assumiu de eles mesmos né, vestir o que gostam, indivíduo) do que de dentro para fora
vez. Para ele, assumir-se é uma questão frequentar as boates que gostam e ficar (individuo/sociedade). O grande pre-
política. “Nós, que nos mostramos, que- com as pessoas que bem entendem.” conceito ainda existente é o principal
remos ser respeitados. Somos indivídu- “É difícil assumir-se, mas o mais problema na hora de assumir-se. E a
os como todos os outros e cumprimos, difícil é assumir-se pra si. Olhar para nossa cidade ainda precisa avançar
como todos, com as nossas responsabi- o espelho e dizer: ‘Eu sou!’ Depois dis- muito nessa questão. Começando por
lidades. Assumir pra si muda sua vida”. so, qualquer pessoa é outra pessoa e você, jovem leitor. Desta maneira, quem
Mateus ainda não conseguiu falar
com a família abertamente, mas afir-
você começa a perceber que viver na
mentira é horrível. É muito bom gostar
sabe um dia pessoas como Mateus po-
derão sofrer menos com as suas esco-
Quando as decisões relacionadas a carreira profissional batem a porta
ma que sente muita vontade disso. “Na de alguém e ser correspondido. Poder lhas “Eu sinto que nunca serei 100%
Ser jovem é viver uma fase da vida
família é aquela coisa, muitos descon- sair com o amor e saber que você e realizado se eu não puder expor pra
repleta de aventuras e descobertas.
fiam, alguns sabem, mas todos fingem ele/a não estão presos ao fato de os todo mundo quem realmente sou, que
Surgem os primeiros relacionamentos
que nada acontece. Também pelo medo outros falarem ou não de vocês”, afir- eu gosto de meninos e meninas. O
amorosos, a primeira transa, o primei-
da rejeição eu nunca falei sobre o as- ma Samilo. Larissa também concorda que falta da minha parte é coragem,
ro emprego, e mais uma lista repleta
sunto com a minha família, eu sei que com a opinião dele. “Se a gente vive e do mundo o que falta é respeito.”
de primeiros-alguma-coisa de toda sua


vida. Mas junto com essas descober-
tas, vêm de brinde muitas dúvidas e
O que falta da incertezas, principalmente em relação
minha parte é à vida profissional.
Ao sair da adolescência e entrar na
coragem e do
juventude, quando completamos 16 e


mundo o que 17 anos, as exigências da carreira pro-
falta é respeito. fissional batem a porta pela primeira
vez: é hora de decidir o que cursar na
Mateus
faculdade. Bate o desespero com toda
a pressão vinda da família, da própria
escola e da sociedade, que exige do
jovem logo cedo tomar uma decisão
importante, que influenciará direta ou
indiretamente toda a sua vida.
O jovem guarapuavanode 17 anos,

publicidade
Giancarlo Rodrigues Calixto, sonha com
uma vaga na turma de 2012 do primei-
ro ano de Medicina Veterinária da Uni-
centro. “Me interessei em cursar Veteri

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?

ponta do lápis
“As incertezas, as dúvidas,
?? ????
ponta do lápis

o início de uma carreira


“O ingresso em uma
? profissional atordoam”
Aline Fop
faculdade vai depender da
minha preparação. Procuro
vida de estudante passa a ser vida de
fazer isso da melhor forma gente grande de verdade. “A gente per-
possível, pois o mercado cebe, próximo do final da graduação,
de hoje exige muito mais que um diploma não é sinal de emprego.
Isso é bem complicado. Você corre atrás
das pessoas do que elas a graduação toda, chega em dezembro e
próprias exigem de si você não sabe como será. Eu, que mora-
va em Guarapuava para estudar, me per-
mesmas” Yuri Kostiuk. guntava: ‘Se eu não arrumar emprego eu
tenho que voltar para a casa da mãe. E
agora, o que faço?’ É muita pressão ao
mesmo tempo”, confessa.
Outro rebuliço que acontece na ca-
beça do jovem é que, quando conquista
um lugarzinho no mercado de trabalho,

Foto: Catiana Calixto


percebe que muita coisa é diferente
daquilo que aprendeu nos bancos da
universidade. “Na academia nós apren-
demos como produzir as notícias da
maneira mais ética possível, mas no
vez não é escolher uma carreira, agora mercado de trabalho existem muitos
você precisa se fixar como profissional interesses envolvidos”, conta Aline, na
próprias exigem de si mesmas”, revela. do mercado de trabalho e, antes de se sua percepção sobre o Jornalismo.
Yuri se mostra preparado para en- despedir da faculdade, há o receio e o Apesar de estarem em fases da vida
frentar os desafios que o aguardam lá medo de que as coisas não dêem cer- diferentes, os jovens Aline e Giancarlo
“A ideia de cursar engenharia mecâ- na frente e mostra que tem conheci- to. Não é? Acredite, não é só com você têm muita coisa em comum. Estão des-
nica veio quando eu tive contato com mento do que o mundo universitário (maaaaaaais uma vez). cobrindo novas fases e percebendo que
esta área e percebi que poderia exercer espera dele e de todos os calouros que A recém formada em Jornalismo, o futuro como profissionais qualificados
uma profissão relacionada com uma chegam para essa, digamos, nova vida. Aline Fabiane de Oliveira Pinheiro, de depende, além do estudo, da sua pró-
das coisas que eu mais gosto: carros”. “A carreira profissional vai exigir de mim 22 anos, conta que enfrentou muitas pria força de vontade.

Foto: Arquivo pessoal


Yuri pretende prestar os vestibulares e de todas as outras pessoas certa se- indecisões antes de chegar onde che-
oferecidos pela Universidade Federal riedade, um compromisso maior, não gou. Hoje, ela trabalha como jornalis-
do Paraná, Universidade Estadual de permitindo espaço para erros e falhas. ta no jornal O Guarani, em Itararé, São
Ponta Grossa, Universidade Estadual Então uma boa preparação, especiali- Paulo, mas cursou os quatro anos do
de Maringá e a UTFPR, aqui em Guara- zações e algumas experiências no tra- curso de jornalismo aqui em Guara-
puava mesmo. balho, como o estágio, são a melhor op- puava, na Unicentro. Mesmo durante
Mas a responsabilidade exigida do ção para todos os que querem ter uma o curso de Jornalismo, Aline pensou
jovem que está no ensino médio não vida profissional bem sucedida”, diz, várias vezes em desistir. “Pensei em
pára por aí. Ainda existe uma espécie com maturidade Yuri. Mas quem acha desistir do curso no primeiro ano, mas
de autocobrança e insegurança em re- que entrando na faculdade as dúvidas e como já havia começado, decidi ir até
lação ao que acontecerá no futuro. O

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indecisões acabarão, está muito enga- o final. Achei as disciplinas teóricas
que Yuri contou é o que sentem mui- nado. Você acaba com novas perguntas bem chatas, mas hoje entendo a im-
tos jovens vestibulandos. “Assim como mais uma vez. portância delas”.
muitos outros jovens que estão prestes Você passou no vestibular, come- A jornalista define essa fase de
a prestar vestibular, tenho certo medo, morou, encheu a família de orgulho e transição entre a vida de estudante e
incertezas e dúvidas. Será que vou ser satisfação, estudou um, dois, três anos a vida de profissional como uma confu-
feliz fazendo aquilo? Será que vou ter na universidade, tudo parece estar sob são mental. “As incertezas, as dúvidas,
problemas para encontrar emprego? controle até... chegar o último ano da o início de uma carreira profissional
Mas o ingresso em uma faculdade vai faculdade e, mais uma vez, você se atordoam”. Aline ainda comenta que a
depender da minha preparação, então, vê com milhares de escolhas a fazer,
procuro me preparar da melhor forma a maioria delas incerta. A pressão da
possível, pois o mercado de hoje exige
muito mais das pessoas do que elas

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Ocaso sobre a Pedra
crônica

D
epois das aflições de Durante uma pausa para o violonis- criança que ao ter o brinquedo logo en-
um dia de despedidas, ta bebericar seu copo, ouviu-se uma joará dele e o esquecerá em um can-
alguém decidiu que era piada boba que fez todo mundo rir. E to. Entretanto, para nosso desconcer-
preciso beber. Havía- quando os sorrisos foram morrendo, to, assim que começou a cantar, sua
mos esperado por qua- sem que houvesse outra música para voz rouca e desgraçada tirou de nós
se duas horas no balcão da rodoviária encobrir o silêncio, alguém apontou qualquer vontade de falar. Cantava de
até que o ônibus levasse um amigo para o céu alaranjado agonizando so- olhos fechados uma canção em inglês

e
querido para uma nova vida em um bre nós. Seria uma noite quente, boa perfeito, à moda dos antigos blues que
novo lugar. Cansara-se da cidade e para se embebedar sem nenhuma ra- os negros criaram para aliviar suas
das coisas da cidade. Quem sabe até zão, ainda que houvesse tantas. noites de aflição. Cada nota parecia
cansara-se de nós, sem que qualquer Atraído pelo som e pelas garrafas, tão intensa que mesmo muito tempo

ad
um soubesse, até mesmo ele. um homem velho e triste parou e ficou depois não raro nos surpreendíamos
Para compensar a nostalgia que olhando para nós. Ninguém lhe pres- com a melodia na cabeça.
sempre fica depois de quaisquer tou muita atenção, até que depois de Quando terminou, abriu os olhos
despedidas, mesmo as menos expli- um tempo aproximou-se e pediu um e esboçou um meio sorriso sem jeito.
citamente sentimentais, concorda- trago. Seus trajes pareciam tão sur- Pedimos, talvez com demasiado en-
mos que os que ficaram precisavam rados quanto sua expressão. A barba tusiasmo, que tocasse outra música,
da suave ilusão de uns drinks. Todos manchada pela fumaça do cigarro em- mas ele respondeu que já estava tarde
compareceram. Uns trouxeram bebi- prestava-lhe ares de ancião friorento, e que o vento não perdoa. Achamos a

id
da, outros, a vontade de beber. Já en- mas os olhos muito azuis e muito pro- desculpa estranha, já que fazia bom
tardecia enquanto rumávamos para a fundos diziam que já vira mais do que tempo e a noite era agradável. Mesmo
casa de alguém, mas repentinamente qualquer um ali poderia imaginar. assim, tão repentinamente como veio,
decidiu-se que pararíamos no lago Bebeu conosco duas canções e levantou-se, agradeceu a bebida e o
para aproveitar o pôr-do-sol. antes de se retirar, talvez encorajado violão e foi embora.
As mulheres sentaram-se sobre pela vodka que preferiu pura, pergun- Permanecemos calados por alguns

ic
as pedras, falando sobre o tempo, tou se poderia experimentar o violão. momentos até que aquela presença se
enquanto nós disputávamos para ver Suas mãos duras e grossas, de unhas fosse desvanecendo do lugar e de nós.
quem fazia a pedra ricochetear mais sujas e maltratadas pareciam não se Alguém reclamou do trabalho cedo no
longe sobre a superfície da água. De- encaixar sobre as delicadas cordas de outro dia e de uma tímida brisa que co-
pois sentamo-nos todos para ouvir a náilon. Desculpou-se dizendo que já meçava a se fazer notar. Sem qualquer

bl
voz e o violão. A primeira música fa- fazia bastante tempo desde a última discussão, como se um cansaço re-
lava de coisas tristes e adeuses para vez e bateu meio sem jeito em dois pentino nos invadisse os ossos, todos
nunca mais, mas alguém protestou ou três acordes para certificar-se da concordamos que era hora de cada
contra o repertório e então tons ale- afinação. Em seguida, pigarreou e per- um tomar seu rumo. E seguimos, cur-
gres e maiores começaram a soar, guntou se conhecíamos aquela. vados sob nossa própria solidão - até
chamando a atenção de corredores e De início, olhávamos meio zom- que a próxima despedida nos viesse
passarinhos que àquela hora peram- beteiros, esperando que matasse a unir outra vez.

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bulavam ao redor do lago. vontade do instrumento, como a uma

Rogério Camargo
lrcamargo.roger@hotmail.com
Outros textos do autor em http://umcontoparanarciso.blogspot.com

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