Analisaremos neste texto os três registros feitos na descoberta do Brasil, colocaremos os
principais assuntos tratados nestas cartas endereçadas ao rei de Portugal D Manuel À îomeçaremos com a carta de Mestre João Faras, ele fala de apenas dois pontos sendo o primeiro o da localização geográfica dos portugueses e do envio de mapas ao rei para que o mesmo pudesse conhecer a costa africana e a região de Mina que tinha potencial para o comércio de ouro. O outro ponto tratado na carta diz respeito ao descobrimento de uma nova constelação o cruzeiro do sul, porém de difícil caracterização, uma vez que esta constelação muda de posição constantemente. A segunda carta é o diário de bordo de um piloto anônimo, nela ele relata sucintamente a viagem, os primeiros contatos com os indígenas, a primeira missa rezada no Brasil, as características físicas dos índios e da terra descoberta, as aves e peixes que viram aqui, da saída do Brasil rumo a îalicute e por fim de uma tempestade que passaram, na qual quatro naus, sendo uma delas de Bartolomeu Dias, se perderam. A última e, mais conhecida, carta de Pero Vaz de îaminha que faz um relato muito mais detalhado sobre a viagem, a nova terra, seus nativos, enfim basicamente trata dos mesmos temas do diário de bordo do piloto anônimo, porém de forma muito mais aprofundada outra diferença entre estas duas cartas é o fato de que îaminha se detém apenas em falar da nova terra enquanto que o piloto anônimo fala da continuidade da viagem. îaminha descreve, em grande parte da carta, os índios e, principalmente a relação eles e os portugueses, relação esta muito amistosa, claro que houve momentos na narrativa que os índios se esquivavam dos portugueses, mas de uma forma geral o contato foi harmônico. îabe aqui salientar que em alguns momentos îaminha descreve as trocas feitas entre portugueses e índios em que ele diz, por exemplo,
Nesta passagem vemos claramente que os portugueses não davam o mesmo valor que o índio a estas trocas, para os portugueses os sombreiros eram de pouco valor e já para os índios era algo totalmente novo, diferente e tinha um possível valor por isso eles ofereciam suas armas de defesa (arco e seta) em troca. Embora o objetivo principal dos portugueses fosse chegar a îalicute e fazer comércio, percebemos em algumas passagens da carta um interesse deles em conhecer melhor aquele povo como, nesta parte
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Sabemos, no entanto, que Afonso Ribeiro junto com o outro degredado foram deixados aqui e não seguiram viagem rumo à îalicute, porém antes disso comentaram com o îapitão-Mor Pedro Álvares îabral suas impressões a cerca dos costumes e moradias dos índios. Este interesse se justifica mais intensamente nesta passagem
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Mais do que um simples conhecer, nesta passagem vemos nitidamente a idéia de uma possível colonização daquela terra e de seus nativos, claro que isso não estava nos planos de Portugal no momento porém com o declínio do comércio com as Índias foi o que de fato ocorreu, e tendo este documento em mãos o rei teve as condições mínimas para fazê-lo. Em suma as três cartas, cada uma a seu modo, descrevem de maneira clara a visão que os portugueses tiveram desta viagem e seus desdobramentos, o ideal seria se tivéssemos algum documento que nos mostrasse claramente a visão que o indígena teve deste primeiro contato, como não o temos acredito que estes primeiros relatos alcançaram seus objetivos, que era informar ao rei e a sociedade sobre as novas terras encontradas.
Pereira, Paulo Roberto (org.). O três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.