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ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: ANÁLISE E PERSPECTIVA DE AÇÃO

Nájela Tavares Ujiie

Mestre em Educação pela UEPG, Professora do Departamento de Pedagogia, da Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO), Campus de Irati-PR. E-mail: najelaujiie@yahoo.com.br

RESUMO
Este artigo discute o ensino fundamental de nove anos, tendo em vista questões organizacionais e
metodológicas. Deste modo, situa a educação da infância no cenário das políticas educacionais e prima por
refazer o percurso organizacional e de institucionalização do ensino fundamental de nove anos no contexto
educacional brasileiro. Apresenta, em seguida, pontos relevantes das exigências metodológicas e
pedagógicas para o primeiro ano desta etapa de ensino e focaliza a Pedagogia de Projetos como alternativa
metodológica plausível para o trabalho educativo nos anos iniciais do ensino fundamental, proporcionando
uma práxis globalizante e atenta a dinâmica da complexidade que envolve a educação da infância.
Palavras-chave: Ensino Fundamental de nove anos. Políticas educacionais. Práxis educativa. Pedagogia
de projetos.

NINE YEAR-OLD FUNDAMENTAL TEACHING: ANALYSIS AND PERSPECTIVE OF ACTION

ABSTRACT
This paper discusses the nine year-old fundamental teaching, in point of view of organizational and
methodological questions. This way, it places the education of the childhood in the scenery of the
educational politics and it excels for re-doing the course organizational and of institutionalization of the nine
year-old fundamental teaching in the Brazilian educational context. It also presents important points of the
methodological and pedagogic demands for the first year of this teaching stage and it focalizes, the
Pedagogy of Projects as plausible methodological alternative for the educational work in the initial years of
the fundamental teaching, providing a globalizing praxis and it attempts the dynamics of the complexity that
involves the education of the childhood.
Key words: Nine year-old fundamental teaching, Educational Politics, Educative Praxis, Pedagogy of
projects.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 5, n. 2, p. 37-45, dez. 2008


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INTRODUÇÃO a criança e o adolescente como sujeito de


No contexto atual a inclusão de crianças direitos, e, da LDB de 1996, que veio concretizar
de seis anos no ensino fundamental de nove anos a idéia da educação como direito público e
tem provocado uma série de indagações, subjetivo estendido a todo cidadão, novos
controvérsias e debates intensos no âmbito desafios foram impostos e novas perspectivas
educacional. Entretanto, a compreensão da foram apontadas para a área da educação da
realidade presente se fará pelo entendimento de infância brasileira.
questões políticas e educacionais que vem se Para além do reconhecimento da criança
desdobrando em relação aos direitos da criança de zero a seis anos como cidadã de direitos em
desde a Constituição Federal (CF) de 1988, o sua singularidade, a LDB 9394/96, legitima a
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) lei n° Educação Infantil como primeira etapa da
8069, de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica e sinaliza a ampliação do
Educação Nacional (LDB) n° 9394, de 1996. Ensino Fundamental para nove anos ao deixar
Desse modo, o artigo ora apresentado em aberto sua duração no artigo 32, “com
busca situar a educação da infância no cenário de duração mínima de 8 anos”.
estruturação das políticas educacionais e prima Nesse sentido, de lá para cá foram se
por refazer o percurso organizacional e de delineando uma série de debates, discussões e
institucionalização do ensino fundamental de medidas organizacionais que culminaram na
nove anos no âmbito educacional brasileiro. elaboração de diversos documentos, como o
Apresenta, ainda, pontos relevantes das Parecer 20, de 1998, da Câmara de Educação
exigências metodológicas e pedagógicas para o Básica (CEB), do Conselho Nacional de
primeiro ano desta etapa de ensino. Por fim, Educação (CNE), que favoreceu a inclusão de
focaliza, a Pedagogia de Projetos como crianças de seis anos na contagem para o
alternativa metodológica plausível para o trabalho FUNDEF (Fundo de Manutenção e
educativo nos anos iniciais do ensino Desenvolvimento do Ensino Fundamental), e o
fundamental, proporcionando uma práxis Plano Nacional da Educação (PNE) lei n°10172,
globalizante e atenta a dinâmica da complexidade de 2001, com metas e objetivos para dez anos,
que envolve a educação da infância. Ao longo do abrangendo aspectos qualitativos e quantitativos
artigo busca se esclarecer as bases educativas e, cuja meta para o Ensino Fundamental, é a
sobre as quais se assentarão o processo de implantação progressiva do Ensino Fundamental
ensino e aprendizagem das crianças de seis de nove anos, com a inclusão das crianças de
anos, ao serem integradas a segunda etapa da seis anos, em consonância com a universalização
educação básica, por meio do ensino do atendimento na faixa etária de 6 a 15 anos,
fundamental de nove anos. bem como a intencionalidade de “oferecer
maiores oportunidades de aprendizagem no
O CONTEXTO ESTRUTURAL DO ENSINO período da escolarização obrigatória e assegurar
FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS que, ingressando mais cedo no sistema de
A partir das deliberações encaminhadas ensino, as crianças prossigam nos estudos,
pela promulgação da CF de 1988, que deflagrou alcançando maior nível de escolaridade”.
um parâmetro sociopolítico novo de caráter Assim, como iniciativa de regulamentação
eminentemente social, tendo o cidadão como foco de metas a lei n° 11114, de 2005, institui a
central, do ECA de 1990, que passou a enxergar obrigatoriedade da matrícula as crianças de seis

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anos de idade completos no Ensino Fundamental, A partir de tais prerrogativas despontam


sem, contudo alterar a duração do mesmo. uma série de reflexões que se situam no campo
Posteriormente, a lei n° 11274, de 2006, institui o metodológico: Quem são as crianças de seis
Ensino Fundamental obrigatório de nove anos, anos e que educação pretendemos lhes oferecer?
com prazo previsto de vigor até 2010 em todo o Quais são os seus interesses e necessidades?
território nacional, reformulando o artigo 32 da Que direitos precisam ser garantidos a elas?
LDB, “Ensino Fundamental obrigatório com Como o Ensino Fundamental deve se organizar
duração mínima de 9 anos e início aos 6 anos”. administrativa e pedagogicamente para acolher
Neste ensejo, com a aprovação da Lei n° estas crianças? Qual é o papel social da escola
11274/06, será ocasionada a inclusão de um para com a infância? Que trabalho pedagógico
número maior de crianças no sistema educacional será realizado com essas crianças?
brasileiro, especialmente aquelas pertencentes Mediante todas estas questões uma
aos setores populares, uma vez que as crianças conclusão é imanente, o direito efetivo à
de seis anos de idade das classes média e alta já educação das crianças de seis anos não será
se encontravam, majoritariamente, incorporadas garantido exclusivamente pela promulgação da
ao sistema de ensino – na pré-escola ou na lei, pois no Brasil existem distâncias entre o legal,
primeira série do ensino fundamental, de acordo o real e o ideal. Desta maneira tudo dependerá,
com o Censo Demográfico de 2000, do IBGE. essencialmente de aspectos metodológicos e das
Do ponto de vista organizacional ao práticas educativas dos envolvidos diretamente
garantir, por lei, que todas as crianças freqüentem com a implementação da lei, núcleos, secretarias,
a escola a partir dos seis anos de idade, o Brasil escolas, diretores, coordenadores, funcionários e
avança no sentido de oferecer um futuro melhor professores em última instância.
para as novas gerações. Entretanto, do ponto de Dentro de tal perspectiva, segundo
vista metodológico, adaptar todo o sistema de Nascimento (2006, p. 30):
ensino para oferecer um ano a mais está longe de
ser algo simples. Assim, segundo os especialistas Faz-se necessário definir caminhos
pedagógicos nos tempos e espaços
ouvidos por Cristiane Marangon, em reportagem da escola e da sala de aula que
favoreçam o encontro da cultura
à Nova Escola (2007, p. 31), “três são os infantil, valorizando as trocas entre
todos os que ali estão, em que
ingredientes essenciais para garantir que as crianças possam recriar as relações
da sociedade na qual estão
turmas de 6 anos façam uma boa transição para inseridas, possam expressar suas
emoções e formas de ver e de
o Ensino Fundamental: estrutura física adequada significar o mundo, espaços e
tempos que favoreçam a construção
em toda a escola, professores bem formados e da autonomia. Esse é um momento
uma proposta pedagógica clara e consistente”. propício para tratar dos aspectos que
envolvem a escola e do
Neste contexto, Silva (2007, p. 31) afirma conhecimento que nela será
produzido, tanto pelas crianças, a
que partir do seu olhar curioso sobre a
realidade que as cerca, quanto pela
mediação do adulto.

[...] o lado mais promissor da


mudança é a possibilidade que os Nessa mesma direção, Kramer (2007) é
sistemas de ensino e as escolas têm
de repensar suas concepções de perspicaz ao afirmar que embora a Educação
infância para além de uma visão
organizacional e cronológica, com o Infantil e o Ensino Fundamental sejam etapas
objetivo de transformar as interações
com as crianças pequenas em separadas por questões organizacionais, do
experiências significativas,
especialmente no âmbito ponto de vista da criança não há fragmentação.
pedagógico.

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Isto é, a criança de seis anos não mudou por portanto, que neste momento lhe seja roubado o
estar nessa ou naquela etapa da Educação direito à infância, à brincadeira, ao criar e ao
Básica. Assim, para a autora considerar as aprender, para instruí-la a qualquer custo.
crianças não só como alunos, implica ver o É nesse sentido que é válido ressaltar a
pedagógico na sua dimensão mais cultural, como demanda atual de articulação entre Educação
conhecimento, arte e vida, e não só como Infantil e o Ensino Fundamental, mas uma
instrução, que objetiva essencialmente ensinar. educação da infância imbuída de significações, a
Essa reflexão é válida para qualquer fim de que a Educação Infantil contamine o
etapa educacional, uma vez que a Educação Ensino Fundamental com algumas de suas
Básica nos moldes atuais se pretende contínua e práticas, ou melhor, práxis como: espaço flexível,
articulada entre suas três etapas, Educação espaço vivido transformado pelas ações e
Infantil, Ensino Fundamental e Médio, e que seja necessidades do grupo; trabalho diversificado,
qual for a etapa envolvem conhecimentos, momento de liberdade contextualizada de escolha
princípios, afetos, saberes, valores, cuidados, dentre as atividades determinadas, claras e
atenção, objetividade, subjetividade, seriedade, planejadas; lugar de ação lúdica, com momentos
choros e risos, em proporções diferenciadas. de livre expressão e brincadeiras dirigidas com
Desta forma, independente de atuar na intencionalidade; pedagogia de projetos de
Educação Infantil ou no Ensino Fundamental a trabalho; avaliação formativa, processual e
preocupação dos adultos, educadores envolvidos contínua; tempo coletivo e psicológico em
no processo educativo deverá ser o planejamento detrimento do tempo individual e cronológico da
e o acompanhamento das crianças de seis anos sociedade de mercado.
levando sempre em consideração: O tempo da infância é, pois o tempo de
aprender e de aprender com as crianças, numa
[...] a singularidade das perspectiva da educação em que o outro é visto
ações infantis e o direito à
brincadeira, à produção como um eu, com olhos de alteridade, e em que
cultural, na educação infantil
e no ensino fundamental. está em pauta a solidariedade, o respeito às
Isso significa que as crianças
devem ser atendidas nas diferenças e o combate à indiferença e à
suas necessidades (a de
aprender e a de brincar) e desigualdade. As crianças têm o direito de estar
que tanto na educação
infantil quanto no ensino numa escola estruturada e pensada de acordo as
fundamental sejamos
capazes de ver, entender e
muitas possibilidades de organização curricular
lidar com as crianças como que favoreçam a sua inserção crítica na cultura.
crianças e não só como
alunos. A inclusão de Assim, cabe ao Ensino Fundamental
crianças de 6 anos no ensino
fundamental requer diálogo redimensionar sua infra-estrutura, o espaço da
entre educação infantil e
ensino fundamental, diálogo escola: mobiliário, material, brinquedos,
institucional e pedagógico,
dentro da escola e entre as equipamentos em geral; tempos, rotinas do
escolas, com alternativas
curriculares claras. cotidiano; objetivos; estrutura curricular;
(KRAMER, 2007, p. 810-11).
planejamento; avaliação; recursos humanos;
formação de professores, bem como sua função
As crianças da Educação Infantil
social. É necessário assegurar que a transição da
continuam sendo crianças nos primeiros anos do
Educação Infantil para o Ensino Fundamental
Ensino Fundamental e, para muitas delas, o
ocorra da forma mais natural possível, não
ingresso na segunda etapa da Educação Básica é
a primeira experiência escolar. Não é justo,

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provocando nas crianças rupturas e impactos de tempo de forma indivisível, oportunizando a


negativos no seu processo de escolarização. ação educativa e a inserção crítica de seus
Recomenda-se que as escolas participes, crianças e adultos, na cultura e na
organizadas pela estrutura seriada não sociedade.
transformem esse novo ano em mais uma série, De acordo com Ujiie e Pietrobon (2007, p.
com as mesmas características e natureza da 232), ao pensar em tempo e espaço na
primeira série. Assim, o Ministério da Educação educação,
orienta que, nos seus projetos político-
pedagógicos, sejam previstas estratégias de [...] uma das tarefas fundamentais de
um educador da infância é saber
maior flexibilização dos seus tempos, com menos organizar um ambiente estimulante e
possibilitar às crianças, as quais
cortes e descontinuidades. Estratégias que, de interagem nesse espaço, terem
inúmeras possibilidades de ação,
fato, contribuam para o desenvolvimento da ampliando, assim, as suas vivências
de descobrimento e consolidação de
criança, possibilitando-lhe, efetivamente, uma experiências e, conseqüentemente,
de aprendizagem.
ampliação qualitativa do seu tempo na escola.
Nesse sentido, uma alternativa
A organização de tempo e espaço tem
metodológica plausível para o desenvolvimento
significativas implicações pedagógicas nas
das diversas linguagens e múltiplas inteligências,
aprendizagens infantis. Desta maneira, a
em integração interdisciplinar com as diferentes
organização espacial das salas do primeiro ano
áreas do conhecimento de forma criativa e
do Ensino Fundamental de nove anos, deverá
interativa com as necessidades e demandas
romper com posicionamentos rígidos, hora-aula,
infantis, vem sendo a pedagogia de projetos,
divisão disciplinar, carteiras enfileiradas, lugares
amplamente utilizada na educação espanhola e
marcados, planejamento pré-estabelecido, com
italiana e que vem se popularizando nos últimos
começo, meio e fim de antemão, para priorizar
anos no Brasil, a qual será explicitada a seguir.
uma sala organizada em cantos e recantos com
diferentes materiais, temáticas, brinquedos e
Perspectiva de Ação: a Pedagogia de Projetos
objetos, onde seja permitido o livre trânsito e a
Ao trilhar caminhos na direção da
livre expressão infantil.
Pedagogia de Projetos várias são as
Assim, ao mesmo tempo, que
necessidades de redimensionamento impostas ao
proporcionará aprendizagens significativas, os
Ensino Fundamental, dentre as quais estão a
temas dos projetos florescerão e desabrocharão,
necessária revisão da concepção de organização
sendo o tempo e o espaço molas propulsoras no
de tempo e espaço que permeia a prática
andamento metodológico deste tipo de
educativa nesta etapa. O tempo, como afirma
pedagogia. Isto é, um ambiente rico e instigante,
Barbosa e Horn (2008, p. 47), em um projeto “é o
que suscitará muitas dúvidas, interrogações e
tempo da vida”, mediatizado por ações, um tempo
hipóteses as crianças, o que é ponto de partida
mais psicológico que cronológico. O espaço, por
para o desenvolvimento de projetos significativos.
sua vez, é compreendido em perspectiva
Mas afinal o que é Pedagogia de
subjetiva, dialógica e relacional, composto por
Projetos? E como trabalhar com ela? Eis as
diferentes dimensões: a física, a funcional, a
questões que serão buscadas respostas na
emocional e a temporal.
seqüência deste texto, começando pelo esmiuçar
Assim, a construção do espaço é
do que consiste um projeto.
eminentemente social e entrelaçada com a noção

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Segundo o Dicionário Eletrônico Aurélio aprendizagem e se algo se


modificou;
(2004), a palavra projeto significa: h) princípio da eficácia social – a
escola deve oportunizar experiências
de aprendizagem que fortaleçam o
comportamento solidário e
1. Idéia que se forma de executar ou democrático. (BARBOSA; HORN,
realizar algo, no futuro; plano, 2008, p. 18).
intento, desígnio. 2. Empreendimento
a ser realizado dentro de
determinado esquema; 3. Redação
Estes princípios vêm plenamente ao
ou esboço preparatório ou provisório
de um texto; 4. Esboço ou risco de encontro dos esboçados para Educação Básica
obra a se realizar; plano; 5. Arquit.
Plano geral de edificação. em sua segunda etapa, o Ensino Fundamental,
princípios éticos, políticos e estéticos, que
Ou seja, um projeto educacional é um
convergem para solidariedade intelectual e
plano de ação com características e
comportamental; senso crítico e formulação de
possibilidades de concretização futura; é, pois um
pensamento divergente e; sensibilidade empática,
desígnio para encaminhamento e resolução de
artística e cultural. Aspectos relevantes na
problemas, envolto de imprevisibilidade, criação,
constituição da criança cidadã do mundo.
imaginação e ação flexível.
Nesta direção, para implementação da
Dentro de tal concepção Dewey apud
Pedagogia de Projetos no âmbito do Ensino
Barbosa e Horn (2008, p. 18), importante
Fundamental de nove anos pode-se utilizar da
expoente da pedagogia ativa e escolanovista,
educação libertadora de Freire (1970), com seus
afirmava que “projetar e realizar é viver em
temas geradores e pautada na práxis da ação-
liberdade”, neste intento levantava alguns
reflexão-ação; ou a metodologia da
princípios fundamentais para a elaboração de
problematização proposta por Berbel (1999),
projetos, que permanecem atuais, tais como:
focada na realidade e no paradigma emergente;
ou na abordagem italiana de Reggio Emilia
a) princípio da intenção – toda
ação, para ser significativa, precisa embasada em projetos como sistemas
ser compreendida e desejada pelos
sujeitos, deve ter um significado vital, complexos, tratada na obra de Edwars, Gandini e
isto é, deve corresponder a um fim,
ser intencional, proposital; Forman (1999); ou mesmo a metodologia de
b) princípio da situação-problema –
o pensamento surge de uma projetos de trabalho na perspectiva de Fernando
situação problemática que exige
analisar a dificuldade, formular Hernández (2000); as quais se assemelham em
soluções e estabelecer conexões,
constituindo um ato de pensamento
seus objetivos, mas a fim de ser didática no
completo; desenrolar deste texto nos ateremos a última
c) princípio da ação – a
aprendizagem é realizada perspectiva mencionada.
singularmente e implica a razão, a
emoção e a sensibilidade, propondo Nessas circunstâncias é essencial deixar
transformações no perceber, sentir,
agir, pensar; clarividente que a função principal dos projetos de
d) princípio da real experiência
anterior – as experiências passadas trabalho é possibilitar aos alunos o
formam a base na qual se assentam
as novas; desenvolvimento de estratégias globalizadoras de
e) princípio da investigação
científica – a ciência se constrói a organização dos conhecimentos escolares,
partir da pesquisa, e a aprendizagem
escolar também deve ser assim;
mediante o tratamento da informação. Ou seja,
f) princípio da integração – apesar partir de um interesse coletivo para realização de
de a diferenciação ser uma
constante nos projetos, é preciso uma investigação, enquanto pesquisa consistente
partir de situações fragmentadas e
construí relações, explicitar em que seja possível estruturar idéias e modos
generalizações;
g) princípio da prova final – operantes na construção do conhecimento como
verificar se, ao final do projeto, houve
saber palpável e próprio.

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Desta forma, as significações em projetos síntese final, comunicação e socialização dos


de trabalho, de acordo com Hernández (2000), se conteúdos apreendidos, produção do
dão pela apreensão do levantamento da conhecimento propriamente dita.
proposição de problemas ou temáticas, pelo Entretanto, o sucesso desta metodologia
estabelecimento e aprofundamento de relações alternativa que é a Pedagogia de Projetos só
compreensivas e hipóteses possíveis de serem alcançará êxito se promover a superação da
instituídas em torno de um tema, pela pesquisa e visão restrita de mundo e a compreensão da
tratamento abrangente da informação de complexidade da realidade, ao mesmo tempo
diferentes fontes, contrapostas ou resgatando a centralidade do homem na
complementares, pelo entendimento que todo realidade e na produção do conhecimento, de
ponto de chegada constitui-se por um ponto de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor
partida. compreensão da realidade e do homem como ser
Nesse sentido, a composição determinante e determinado. Isto é, só será
esquemática sob a forma de projetos de trabalho possível pelo envolvimento de crianças e adultos,
é composta por quatro momentos: alunos e professores, como co-participes no
 interesse: definição do tema; processo de construção do conhecimento,
 problematização: levantamento de enquanto autores/criadores ativos da composição
hipóteses; educativa.
 ações: aos professores e alunos, o Na construção colaborativa de uma práxis
elencar de objetivos, orientação das pedagógica interdisciplinar, fundada nos aspectos
ações, planejamento, pesquisa, defendidos por Fazenda (1994):
busca da informação, orientação aos - o movimento dialético: caráter teórico-prático
pais; e/ou prático-teórico;
 síntese: avaliação e comunicação. - memória-registro: escrita, leitura, revisão,
releitura crítica de memória, enfim, reflexão sobre
No encaminhamento pedagógico dos a ação;
projetos de trabalho a elaboração do índice - parceria: mania de compartilhar – falas,
problematizador, corresponde a um guia ou norte espaços, presenças, história, postura, enfim,
das ações pedagógicas, que se compõem por necessidade de troca;
respostas a perguntas simples, como as - perfil da sala de aula interdisciplinar:
seguintes: O que já sabemos? O que precisamos organização espaço-temporal, autoridade
saber? Onde, com quem, buscar informações? conquistada, humildade, cooperação, produção
Como vamos agir para buscar, selecionar e tratar do conhecimento;
as informações? O que apreendemos? - respeito ao modo de ser de cada um, ao
Nesse interstício dos projetos de trabalho caminho que cada empreende em busca de seu
existem os procedimentos de pesquisa são eles: conhecimento e sua autonomia;
busca da informação, consultas, entrevistas, - aprender a aprender e a pesquisar fazendo
coleta de materiais em fontes diversas; seleção, pesquisa: buscar a construção coletiva de um
verificação da pertinência das informações ao novo conhecimento prático e/ou teórico.
âmbito da pesquisa; e tratamento da informação: De tal modo que se vislumbre que a
sínteses parciais a cada aspecto estudado (oral, Pedagogia de Projetos e a interdisciplinaridade
coletiva, individual, escrita, gráfica), bem como, possuem uma trilha compartilhada, que decorre

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mais do encontro entre indivíduos do que entre legislativa e política do Ensino Fundamental de
disciplinas, na busca da totalidade do nove anos, bem como questões metodológicas,
conhecimento, num percurso marcado pela com esboço de posturas a serem tomadas pelos
provisoriedade, nunca definitivo. Compreendendo agentes do processo educativo e com a
o que afirma Fazenda (1994, p. 87), “um projeto explicitação de uma alternativa plausível, que é a
realmente interdisciplinar, não de nome, mas de Pedagogia de Projetos no desenvolvimento de
intenção, alicerça-se em pressupostos uma proposta pedagógica consistente para os
epistemológicos e metodológicos que são anos iniciais de formação da infância brasileira.
periodicamente revisitados”. Deste modo, a Assim, espera-se atender a demanda de
“interdisciplinaridade não é categoria de discussão preliminar do trabalho educativo a ser
conhecimento, mas de ação”. (idem, p.89). Ação desenvolvido pelos agentes envolvidos com a
essa que interliga contexto vivido a contexto dinâmica da educação das crianças de seis anos
estudado, como ocorre na ação integrada da em espaços institucionais e escolares. Uma vez
Pedagogia de Projetos. que se vislumbra aqui, o trabalho com projetos
Assim sendo é que enxerga-se na como alternativa percuciente e uma forma de
alternativa metodológica aqui explicitada ponto de vincular o aprendizado escolar aos interesses e
apoio e base para o desenvolvimento da práxis preocupações das crianças, aos problemas
educativa com crianças de seis anos, a fim de emergentes na sociedade em que vivemos, à
desafiá-las e instigá-las a ir além do que já realidade fora da escola e às questões culturais
construíram, apreendendo diferentes linguagens do grupo, compreendendo a educação
simbólicas que lhes possibilitará colocar em ação simultaneamente como um ato ético, político e
conjunta e multifacetada esquemas cognitivos, estético.
afetivos, sociais, estéticos e motores, no decorrer
do ano letivo, do primeiro ano do Ensino
REFERÊNCIAS
Fundamental de nove anos.
AURELIO, B. H. F. O dicionário da Língua
Portuguesa. 3.ed. São Paulo: Positivo, 2004.
CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
CD-ROM.
O Ensino Fundamental de nove anos
configura-se atualmente em assunto de grande BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. da G. S.
importância, principalmente por tratar-se de uma Projetos pedagógicos na Educação Infantil.
definição educacional e social quanto ao Porto Alegre: Artmed, 2008.
tratamento de todo um grupo geracional, no caso
BERBEL, N. (org.). Metodologia da
o infantil, e assim afetar à extensa maioria da
Problematização: Fundamentos e aplicações.
população brasileira. Nesse sentido, todas as
Londrina: Ed. UEL, 1999.
pesquisas e reflexões são válidas na implantação
e implementação de uma educação de qualidade BRASIL. Constituição (1988). Constituição da

que hoje é garantida a criança a partir dos seis República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

anos de idade, conquista incontestável da política Senado, 1988.

em vigor. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.


No bojo desta discussão o delineamento Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
das idéias aqui expostas primou pela reflexão Adolescente e dá outras providencias. Diário
sobre questões organizacionais, de ordem

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1994.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de
1996. Estabelece as diretrizes e bases da FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de
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Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância.
Porto Alegre: Artmed, 1999.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 5, n. 2, p. 37-45, dez. 2008

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