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12 e 14.Fev.

08

PARTE II - História Constitucional Portuguesa

Não é verdade que a História Constitucional Portuguesa começou apenas em 1820.


Somente surgiu nesta altura a primeira constituição formal.

Sempre que há um Estado, há um poder político, logo, existem sempre regras sobre a
sua organização e funcionamento, e por isso há Constituição.

A História Constitucional Portuguesa começou com a fundação de Portugal, com a


fundação da nacionalidade, a sua proclamação e reconhecimento.

Assim, divide-se em dois períodos:

1- Pré constitucional: não há constituição formal até 1820

2- Constitucional: existem constituições formais a partir de 1820

CAÍTULO I- História Pré-constitucional (700 anos de História, 1128-1820)

§1- Principais momentos político-constitucionais

Há 15 principais momentos:

1- Proclamação e reconhecimento de Portugal

2- Intervenção de D. Afonso II e o papel constituinte

3- Deposição de Sancho II pelo Papa

4- Cortes de Leiria em 1251

5- Tratado de Alcanices

6- Sucessão de D. Fernando em 1385 nas Cortes de Coimbra

7- Conquista de Ceuta

8- Regimento do reino e as cortes de Torres Novas em 1438

9- Estabelecimento da inquisição

10- Cortes de tomar em 1580 e a sucessão do cardeal D. Henrique

11- Restauração da Independência em 1640

12- D. Afonso VI deposto pelo irmão


13- Novo Código em 1778

14- Família real foge para o Brasil

15- Súplica de uma Constituição em 1808

1- Proclamação e reconhecimento de Portugal, este momento não tem uma data


única:

1128- Batalha de S. Mamede

1179- O papa Alexandre III reconhece Portugal como Pais independente.

Formação do Estado, afirmação de uma identidade do Condado Portucalense,


autónomo e distinto é a génese da consciência de uma nação. É uma individualidade à
procura de afirmação.

Havia 2 frentes de lutas:

1- Contra leão e Castela

2- Afirmação perante o papa

D. Afonso Henriques é vassalo do Papa e de S. Pedro, há uma relação directa entre


Portugal e o Vaticano que ultrapassa Leão e Castela.

Esta afirmação dá-se dentro do contexto político da Respublica Christiana.

Passamos de um governo de facto a um governo de direito.

O imperador de Espanha acabou por reconhecer Portugal dentro do império o que


acaba por gerar a clara independência de Portugal.

2- D. Afonso II começa a edificação do Estado em 1211

Pela primeira vez são produzidas leis gerais do reino, há uma extensa e afirmação dos
poderes do rei, prevalece a vontade do rei perante os direitos costumeiros feudais e
locais.

É também a centralização do poder real:

- Supremacia do rei: fazer leis gerais, é o primeiro pacote legislativo.

- Normas jurídicas para todo o reino, aplica-se o direito do rei, pelo que a decisão a
que cabe recurso é para o rei, acaba por ser o juiz supremo.
- Formação das primeiras garantias (juntamente com a magana corte, provavelmente
anteriores).

- Defesa do património público.

- Protecção dos mais fracos perante os abusos dos mais fortes.

- Ideia de responsabilidade civil do Estado, e o inerente dever de indemnizar.

3- Deposição de D. Sancho II em 1245

É deposto pelo Papa que o afasta com um argumento brutal: “não assegura a justiça
no Reino”, não pode continuar a governar

É uma ideia que vem de Santo Agostinho: “um reino que não prossegue a justiça não
é mais que uma quadrilha de ladrões”

A subordinação dos reis ao poder espiritual do papa é uma constante, o poder vem de
Deus por mediação do Papa, pelo que depõe o rei e nomeia o conde de Bolonha, D.
Afonso III

Dá-se o juramento de Paris, acto pelo qual D Afonso governador aceita as imposições
do Papa e garante a justiça e a obediência ao papa, é uma auto-vinculação do rei

4- Cortes de Leiria em 1254 no reinado de D Afonso III

Pela primeira vez participam as 3 ordens: o povo, o clero e a nobreza.

É a primeira demonstração de uma componente democrática dentro das instituições


régias na constituição portuguesa

Existem reivindicações dos procuradores do concelho contra os abusos do clero e da


nobreza, o rei vai encontrar no povo o seu principal aliado para tirar poder ao clero e a
nobreza.

O povo participa numa aliança estratégica com o rei.

5- Tratado de Alcanices em 1297

Portugal e Castela definem uma linha de fronteira que permanece até hoje excepto o
caso de Olivença:

- Fixa a fronteira terrestre com Portugal.

- Fixa a fronteira no séc. XIII e é praticamente a de hoje.


- Dentro da Europa, Portugal tem as fronteiras mais antigas.

6- Sucessão de D. Fernando em 1385

D. Fernando tinha uma única filha que casou com o rei de Castela e, nos termos do
contrato de casamento e das regras de sucessão, a coroa pertencia à sua filha.

Posto isto surge a revolta de Lisboa, dá-se a deposição de Leonor Telles e convocam-
se as Cortes de Lisboa.

As Cortes reivindicam o direito de escolher o monarca e afastar a herdeira infanta D.


Beatriz de Castela e de afastar da sucessão seu filho D. Pedro I.

Tal como em 1128 os barões escolheram D. Afonso Henriques como governante


afastando a mãe, agora é o povo que escolhe o monarca, é a afirmação da
legitimidade democrática.

O poder vem de Deus mas por mediação do povo, é uma ideia que vem de Marsílio de
Pádua.

Há um novo posicionamento entre o rei e as demais classes.

D. Afonso III- o povo vai às Cortes

D. João I- deve a coroa ao povo, há uma nova fonte de legitimidade que é


democrática.

7- Conquista de Ceuta em 1415 ainda com D. João I

Há afirmação de um projecto de expansão, já não é só no contexto da Europa que


Portugal é um país.

É em função das colónias, do ultramar que toda a política externa portuguesa é


traçado até 25 de Abril de 1974.

Mais de metade da Historia Constitucional Portuguesa e política externa, durante todo


o séc. XV, XVII, XVIII, XIX, e XX, são pensadas em função da política externa e da
política de expansão.

Se não fosse a expansão, a língua portuguesa não passava de mais de um dialecto.

Ainda um dos maiores reflexos de 1415, é ainda hoje em dia o art. 15º, que dá direitos
especiais aos PALOP.

8- Em 1438, o regimento do reino é aprovado nas cortes de Torres Novas


Morre o rei D. Duarte, Afonso V é menor e a grande questão é saber a quem compete
exercer as funções de chefe de Estrado durante a menoridade do monarca.

Duas respostas:

1- Segundo o testamento de D. Duarte: seria a rainha de D. Leonor de Castela.

2- Dar a regência ao irmão do pai do rei, infante D. Pedro.

O que resulta das Cortes de Torres Novas é o primeiro esboço da primeira


Constituição Política, há uma definição de áreas de competências entre D. Leonor e D.
Pedro com o auxílio das Cortes para resolver certos assuntos.

Este problema termina com a batalha de Alfarrobeira, D. Pedro é morto e D. Afonso V,


já maior, sobe ao poder.

Está presente mais uma vez a expansão ultramarina, com duas linhas de politica
externa:

- Expansão marítima - mais ligada ao comércio, e à riqueza da burguesia.

- Expansão terrestre - fiéis ao espírito das cruzadas “dilatar a fé a o império”.

D. Afonso V toma a política de invasão terrestre.

D. João II, D. Manuel I, desenvolvem a política ultramarina, não de conquista mas de


descoberta (por mar).

D. João III: reconhecimento e abandono de algumas praças-fortes por falta de


capacidade por falta de pessoas para gerir tudo.

D. Sebastião: desastre de Alcácer Quibir representa o insucesso da expansão


terrestre.

9- Estabelecimento da Inquisição em 1536 (no reinado de D. João III)

É uma forma de centralização do poder do rei, é o controlo da doutrina, da fé e da


rejeição da liberdade religiosa.

Com a afirmação do poder do rei este passou a controlar a liberdade religiosa.

Os reis também recorriam aos judeus para que estes lhes emprestassem dinheiro, e
assim, uma vez condenados por heresia, todos os seus bens revertiam para o Estado
ou para o rei, figuras que se misturavam.

A inquisição só foi abolida com a revolução liberal no séc. XIX.


A primeira vertente constitucional é a afirmação das limitações das liberdades
fundamentais em nome de uma causa religiosa. Mais uma e é uma contradição entre
um poder que diz crer numa religião e que depois tem comportamentos contraditórios.

É uma impermeabilidade que nada tem a ver com a liberdade, igualdade ou mesmo
dignidade da pessoa humana inerentes à religião católica.

10- Sucessão do cardeal D. Henrique e as cortes de Tomar em 1580

Em 1578 o desastre de Alcácer Quibir gera este momento.

Quem vai ocupar a coroa? É nas Cortes de tomar que se escolhe o rei. O precedente
constitucional é o de 1385 nas Cortes de Coimbra que elegem o mestre D’Avis, D.
João I tem a origem popular a sua monarquia.

As Cortes escolhem Filipe II de Espanha para rei de Portugal. Também relevam outros
aspectos: união pessoal, juridicamente Portugal não perde independência, têm em
comum um titular da coroa.

Assumem o cumprimento e respeito das tradições e do Direito Português, mais uma


vez é uma auto-vinculação do rei mas desta vez perante o povo português.

O problema foi que os sucessores dele foram progressivamente esquecendo, e as


represálias foram mais sofridas nas colónias, uma vez mais são elas que determinam
a solução da política portuguesa.

Fortemente atacadas pelos protestantes - Holandeses e Ingleses:

- Armada invencível

- Ataque ao Brasil por parte dos Holandeses

- Ataque à costa ocidental africana pelos ingleses e ingleses

Os portugueses escolheram Filipe II também condicionados pelas colónias, com uma


expectativa de ampliação de riqueza à custa da prata do Perú.

O Brasil resulta de:

- Tratado de Tordesilhas

- Com a união entre Portugal e Espanha, com a dominação filipina, se o rei é o


mesmo não vale a pena respeitar o tratado de Tordesilhas de forma a encostar
as colónias espanholas a uma pequena margem territorial no pacifico (por
exemplo Chile, Argentina)

11- Restauração da Independência em 1640


Existe a aclamação de D. João IV, nas Cortes de Lisboa de 1641.

- O povo reivindica nas Cortes, o poder de destituir um rei que se torne usurpador do
poder (que não cumpre as promessas). Têm não só o poder de escolher o rei mas o
poder de o destituir.

- Ao escolher o duque de Bragança combinam os elementos sucessórios hereditários


com a pessoa escolhida pelas Cortes (legitimidade democrática).

12- Deposição de D. Afonso VI em 1667

Filho e sucessor de D. João IV, é o rei que suporta a guerra da restauração, é o


primeiro rei que governa Portugal depois da dominação filipina. Vai ficar na História
como o vitorioso, ganhou todas as batalhas aos espanhóis.

Havia um problema. Ele era louco! Tinha perturbações mentais graves, e o seu irmão
vai afastá-lo do poder com o argumento da demência.

Existiam dúvidas sobre a sucessão do rei. O infante D. Pedro consegue o termo do


casamento do irmão e casa com a cunhada e garante a sucessão.

O rei deposto perde o trono e a mulher, e perde para o irmão.

Surge uma lei sobre tutória e regência do reino, materialmente constitucional, sempre
que o rei for menor ou incapaz deve admitir o poder o irmão mais velho. Vai
permanecer esta prática subsequente.

É esta regra que se vai aplicar com a demência de D. Maria.

13- Novo código em 1778

Ainda no reinado de D. Maria I, pensa-se em compilar num texto os regimes


constitucionais vigentes.

Trava-se um importante debate que envolve Pascoal de Melo Franco.

A primeira tentativa de codificação de Direito Constitucional e o debate sobre o modelo


de monarquia, mais conservadora ou mais iluminista.

14- Fuga da família real para o Brasil

Ainda hoje é muito importante: família real vai para o Brasil para impedir que lhe
acontece o mesmo que aconteceu aos espanhóis, que foi serem capturados pelos
invasores franceses.
Pela primeira vez, o governo de um país europeu muda a sua sede para o continente
Americano, mais uma vez o problema da política ultramarina.

Em 1815 é elevado à categoria de Reino. Até aqui Portugal era um Estado unitário, e
agora passa a ser uma união real, reino de Portugal e dos Algarves e de Áquem e de
Além-mar e do Brasil.

Portugal que era a metrópole passou a colónia é isto que gera a revolução liberal de
1820 e não o alinhamento com os ideais liberais europeus.

A primeira exigência do governo que toma posse é o regresso da família real do Brasil
para Portugal.

Voltam todos menos D. Pedro imperador do Brasil que é sucessivamente intimado a


voltar e em 1822. É feito um ultimato e em resposta a isto é proclamada a
independência do Brasil.

É isto que gera a guerra civil entre D. Miguel e D. Pedro.

O chefe de Estado só pode ausentar-se para o estrangeiro com autorização da


Assembleia da República, esta é uma clara reminiscência da fuga da família real.

15- Súplica de Constituição.

Portugal está ocupado pelos Franceses, e um grupo de portugueses dirige uma


petição a Napoleão para que ele dê uma constituição a Portugal tal como deu ao
Grão-ducado de Varsóvia (?).

São vistos por duas perspectivas:

- Traidores: por cooperarem com os invasores

- Patriotas: ao pedirem uma constituição para impedir Jeanot de ser tornar rei de
Portugal.

Nesta petição pedia-se:

- Respeito pela casa de Bragança

- Liberdade de culto

- Respeito pelo princípio da igualdade e da proporcionalidade.

Claro que Napoleão não deu Constituição nenhuma a Portugal.


19.Fev.08

§2- Ordenamento Jurídico

2.1. Fontes Constitucionais

Antes de 1820 não havia Constituição em sentido formal mas sim em sentido histórico.
Não há Estado sem regras que regulam a organização e poder, logo, todos têm
Constituições em sentido material. Havia apenas uma Constituição Histórica.

Fontes constitucionais que existiam:

1- Leis fundamentais do Reino: conjunto de normas que correspondem à


síntese da Constituição Portuguesa anteriores a 1820. Eram compostas por:

- Actos das Cortes de Lamego: a primeira questão histórica é a de saber se existiram


ou não as Cortes de Lamego (com D. Afonso Henriques) para determinar regras de
sucessão ao trono. Ainda que se duvide da sua existência, a partir de 1641 estas
actas vão ser oficializadas nas Cortes de Lisboa com D. João IV.

- Todas as leis aprovadas em Cortes que tinham como propósito derrogar ou modificar
as actas das Cortes de Lamego.

- Lei de 1674 sobre a regência do Reino em situação de menoridade ou incapacidade


mental

(Na Abrilada são as leis fundamentais do reino que se vai tentar repor)

2- Actos jurídicos unilaterais dos reis: não são leis mas têm também uma
função de serem fontes de Direito Constitucional. Podiam ser:

- Testamentos régios: de D. Afonso Henriques a D. Afonso III tinham dois propósitos:

1. Garantir a natureza hereditária da coroa portuguesa (como a monarquia


leonesa, e não pelo princípio electivo (como a monarquia visigótica)

2. Indicação expressa do sucessor: muitas vezes havia filhos ilegítimos, mas


velhos, e isto garantia que era escolhido o filho legítimo mais velho.

- Cartas de Regência: os reis por vezes ausentavam-se do país (isto era muito
frequente com D. Afonso II). Estas tinham dois propósitos:

1. Indicar quem era o regente

2. Indicar que poderes podia este regente exercer

- Juramento que o Conde de Bolonha fez em Paris em 1245


- Cartas de Foral: acto unilateral do rei pelo qual reconhece ou atribui prerrogativas,
isenções, benefícios, etc. As cidades deixavam de estar dependentes da nobreza ou
do clero, e passavam a estar directamente dependentes do rei. Dava-lhe um novo
estatuto jurídico.

3- Assentos em Cortes: decisões tomadas nas Cortes independentemente da


vontade do rei. As leis fundamentais eram uma conjugação da vontade das
Cortes com a do monarca. Nestes assentos o rei não dava opinião. Ex. Cortes
de Tomar em 1580 e de Coimbra em 1385.

4- Costume: talvez a mais importante.

Também há outras fontes de menor importância:

- Cláusulas contratuais (ex. contrato de casamento entre D. Fernando e D. João I de


Castela quanto ao casamento da Infanta D. Beatriz. É a cláusula que está na base da
crise).

- Decisões dos órgãos de regência ou órgãos consultivos do monarca.

2.2- Princípios Gerais de Direito Público

Os princípios anteriores a 1820 estão muito pouco estudados, podendo alterar-se de


um dia para o outro.

São 6:

1. Origem divina do poder real: o monarca é um substituto terreno de Deus. A


justiça é o fim do poder real. O poder não pode ser exercido de forma arbitrária
em proveito próprio mas em serviço do bem comum (estudámos a origem
histórica deste pensamento no primeiro semestre). Isto mantém-se até ao séc.
XIX

2. Princípio da primazia hierárquica do Direito interno: como é que isto se


demonstra?

1. Em 1211 há uma lei de D. Afonso II que determina que o Direito


Português não pode contrariar o Direito Canónico. É preciso ter em
atenção que é uma lei portuguesa que determina a subordinação, e
não o Direito Canónico que diz que se sobrepõe
2. Beneplácito régio de D. Pedro I passou a condicionar a vigência de
normas da Santa Sé à aprovação e aceitação do rei. O Direito
Canónico só vigoraria em Portugal se D. Pedro aceitasse.

3. Prevalência do Direito do rei sobre os Direitos senhoriais e locais (dos


conselhos)

4. Prevalência do rei sobre a lei positiva: o rei estava acima da lei e não
subordinado à lei que produzia. Há que ter em consideração o seguinte:

- A alteração das leis fundamentais implicava a participação das Cortes

- O rei podia condicionar o exercício futuro dos seus poderes (auto-vinculação,


compromissos, etc.)

- Quando o rei queria afastar uma lei tinha que cumprir os requisitos formais

- Salvo em casos extraordinários o rei não podia modificar direitos adquiridos

5. Ofícios públicos estavam subordinados à lei, à legalidade

6. Discriminação pessoal aplicativa da lei: a lei não era igual para todos
(nobres, plebeus, cristãos, judeus, etc.)

21. Fev. 08

§3- Instituições jurídico-constitucionais anteriores a 1820

Breve referência: 3 ideias

1. Poder real - 3 ideias:

- Fundamento do poder real: tese dominante é a origem divina do poder

1. Exige mediação entre Deus e rei: uns dizem que é papal (está na base da
deposição de D. Sancho II) outros dizem que é do povo (Cortes de
Coimbra, proclamação do mestre d’Avis

2. Ligação directa: entendimento que vai conduzir ao absolutismo. É rei pela


graça de Deus independentemente de outras intervenções. Surge na idade
moderna esta natureza absoluta do rei

- Limites ao exercício do poder real: em que medida o monarca está limitado?

1. Concepção da Idade Média: limitado pela justiça, bem-comum e Deus.


Idade Moderna (movimento que conduz ao absolutismo): ninguém pode
controlar a acção do rei, ninguém o pode controlar (contrário da
Respublicca Christiana
2. Formas de exercício: 2 ideias: o exercício pessoal mas em caso de
menoridade ou :: do rei, há a hipótese de regência. O rei concentrava em si
os 3 poderes clássicos: judicial, autor da lei, e não subordinado à lei, e
estrrutura de topo da administração do estado

2. Cortes: 3 pontos:

- Amplitude da representação das cortes: quem tinha assento nas cortes?

1. Antes de 1254

2. Depois de 1254: data das Cortes de Leiria, há representação do povo nas


cortes

- Natureza dos seus poderes: tinham poderes deliberativos ou consultivos? Tinham a


faculdade de decidir ou apenas o poder de aconselhar? Se era um poder decisório
seria, claro, muito mais importante.

1. A as cortes têm matérias sobre as quais têm claramente poder decisório


(ex. Cortes de Coimbra em 1385 decidem quem é o rei, Cortes de Tomar
cm o problema da sucessão do Cardeal D. Henrique, Cortes de Lisboa
legitimam a destituição do rei de Espanha e procedem à aclamação do
Duque de Bragança, D. João IV em 1641).

2. Noutras matérias era meramente deliberativo.

3. Quando eram modificações das leis fundamentais do reino tinha de se


conjugar duas vontades.

- Sobre que matérias é que as cortes tinham poder de intervir? Outras áreas:

1. Feitura da guerra

2. Decisões de cariz financeiro ou tributária

3. Casamento com príncipe ou princesa estrangeira

3. Outros órgãos auxiliares do monarca: uns com uma função marcadamente


política, outros de matriz jurisdicional

CAPÍTULO II- HISTÓRIA CONSTITUCIONAL

§4- Perspectiva Geral


4.1- Periodificação histórico-constitucional

Vai de 1820 ao presente.

Critério que se prende com as diversas Constituições formais:

1º- 1822

2º- Carta Constitucional de 1826

3º- Constituição 1838

4º- Constituição de 1911

5º- Constituição de 1933

6º- Constituição de 1976

A primeira e a segunda não tiveram vigências lineares:

- Primeira: teve 2 períodos de vigência

- Segunda: teve 3 períodos de vigência – foi a que até hoje teve mais vigência

Elenco de datas fundamentais:

1- 1820: data da revolução liberal que tem 3 propósitos: protesto contra a situação
de colónia em que Portugal se tinha formado com a presença da família real no
Brasil, oposição ao domínio britânico na governação do país, alinhar Portugal
no contexto político europeu, isto é, alinhamento aos princípios da revolução
francesa

2- 1821: data da aprovação das bases da Constituição, a aprovação da essência,


dos fundamentos nucleares, que depois foram desenvolvidos na Constituição

3- 1822: data da aprovação e entrada em vigor da Constituição. Teve 2


particularidades: demorou mais tempo a ser feita do que a entrar em vigor e
quando entrou em vigor já estava desactualizada (entrou em ??? de Setembro
e o Brasil já tinha independência desde ??? de Setembro). Os grandes debates
eram acerca da situação brasileira, do rei, e da Constituição do Brasil

4- 1823: cessa a vigência com a Vila Francada. Quem fez a Constituição obrigou
o rei a jurar a Constituição assim como a rainha, que começou a conspirar com
o seu filho D. Miguel. O rei D. João VI tem a pretensão de elaborar uma
Constituição, mas ele morre sem Constituição. De 23 a 26 é o primeiro
interregno Constitucional, não há constituição. Entram em vigor as leis
fundamentais do reino.

5- 1826: surgem os problemas de sucessão. D. Pedro era imperador no Brasil e


era traidor da pátria. Há um partido defensor de D. Pedro e outro de D. Miguel
(já protagonista de dois golpes – Vila Francada em 23 e Abrilada em 24
(exilado para a Áustria). Há um pacto sucessório, de casamento, e
constitucional também. D. Pedro abdicaria da coroa em função da sua filha D.
Maria II, e esta casaria com D. Miguel. D. Pedro outorga uma Constituição ao
país, A Carta Constitucional de 26. Ao contrário da de 22 que é feita em
assembleia e imposta ao rei, esta é produto de uma legitimidade monárquica (=
à carta constitucional francesa de 1814).

A Carta Constitucional foi outorgada no Brasil, veio de barco, e foi feita de um


dia para o outro, logo, é uma cópia adaptada da Constituição Brasileira de
1824. Começa em 1826 a primeira vigência da Carta Constitucional, assente
numa regência. Dura 2anos até 1828.

6- 1828: quando regressa de Áustria é aclamado rei absoluto. Acaba pacto de


casamento, Carta Constitucional, e até 34 não há Constituição formal, entram
em vigor as leis fundamentais do reino, desencadeia-se a guerra civil (D. Pedro
e a filha regressam a Portugal – desembarque no Mindelo). Com a derrota de
D. Miguel acaba esta guerra com a Convenção de Evoramonte.

Com a assunção do poder efectivo por D. Maria II é reposta a vigência da


Carta Constitucional. Dois anos depois há uma revolução.

7- 1836: Revolução Setembrista põe termo à vigência da Carta Constituição. É


reposta em vigor a Constituição de 22, de forma adulterada, porque era muito
rígida e passou a ser flexível pois podia ser afastada por decreto ditatorial
(sempre que o rei quisesse podia afastá-lo)

8- 1837: são eleitas as cortes constituintes para elaborar uma nova Constituição.
Oliveira Martins, historiador do séc. XIX: “A Constituição de 22 não agradava
ao Paço. Então havia de procurar qualquer coisa que se chamasse
Constituição para agradar ao parlamento, mas cujo conteúdo fosse muito
parecido com a de 26 para agradar ao paço.

9- 1838: Constituição de 38: é uma constituição compromissória, pacto entre


legitimidade monárquica e democrática. É feita pela corte, mas só entra em
vigor se o rei entendesse sancionar a constituição (= à constituição francesa de
1830).

10- 1842: um dos maiores adeptos da constituição – Costa Cabral – inicia


movimento no Porto contra esta constituição. Chega a Lisboa vitorioso e há 2
consequências: cessa a vigência da de 38 e é reposta em vigor a Carta
Constitucional. Esta 3ª vigência mantém-se até 5 de Outubro de 1910. Até
1911 há um interregno constitucional

11- Agosto de 1911: é aprovada a 1ª Constituição Republicana, que também tem


uma vida acidentada. De 1911 a 1933 existem 3 períodos de interregno
constitucional: 1915 com Pimenta de Castro, 1917 a 1918 com sidónio pais,
1926 a 1933 com a ditadura militar na sequência do golpe de 28 de Maio de
1926.
12- 1933: Entrada em vigor da Constituição de 33 tem a particularidade de ser
objecto de plebiscito, foi submetida a referendo, sendo que as abstenções
contavam a favor. Foi feita por um comité, mas ninguém sabe bem quem fazia
parte dele.

13- 1976: é aprovada a actual constituição. De 1974 a 76 a estrutura organizativa


do estado não estava em vigor mas tudo o que não fosse contrariado pela
legislação revolucionária continuava em vigor

4.3- Principais classificações das Constituições

Podemos encontrar Constituições:

- Liberais: matriz organizativa, de natureza funcional, direitos que pressupõe a


abstenção do Estado (4 primeiras)

- Pós-liberal: Estado tem um papel, garantem-se direitos sociais,


intervencionismo do estado

Quanto ao regime governativo há Constituições:

- Monárquicas (3 primeiras)

- Republicanas (a partir de 1911)

????

- Liberal: 1911

- Autoritária: 1933

- Estado de direito democrática: 1976

4.2- História de continuidades ou rupturas?

Jorge Miranda: é uma história de ruptura

Paulo Otero: não concorda

É verdade que todas as constituições terminaram em ruptura, não houve nenhum


fenómeno de transição, e todas terminaram em movimentos revolucionários de
ruptura, excepto a carta constitucional, que foi com regras de sucessão.

Há uma clara tendência para um constitucionalismo de ruptura.


Mas mais importante que o inicio e fim, é importante ver se o conteúdo das
constituições é muito diferente ou não. Aquilo que predomina no direito constitucional
português são grandes linhas de continuidade quanto a soluções normativas

A Constituição actual, quanto à organização e distribuição de poderes pelos órgãos de


soberania, está próximo da Constituição de 33 que vigorava em 1974 do que a última
versão da constituição de 33 está da primeira. Porque a primeira versão de 33 estava
mais próxima da de 1911.

A de 1911 quanto ao entendimento dos direitos fundamentais, organização do poder


normativo e sistema de governo estava mais próxima da Carta Constitucional de 26.

26.Fev.08

§5- Constituições liberais

5.1, 5.2, 5.3- Constituições Monárquicas

Período de vigência de 1820 a 1910:

- 1822

- 1826

- 1838

1. Quais as fontes destas Constituições?

- As principais são as próprias constituições portuguesas, isto é, encontra-se na


tradição constitucional ou no texto constitucional anterior:

- Constituição de 22: influenciado pelo modelo constitucional vigente

- Carta constitucional de 26: influenciada ao modelo que vinha de 22, pela


oposição

- Constituição de 38: tentou ser uma síntese entre a de 22 e a de 26

- Têm também influencias das experiencias constitucionais estrangeiras: francesas,


espanholas e brasileiras

- Constituição de 22: influenciada pela Constituição francesa de 1812

- Carta Constitucional de 26: influenciada pela Constituição brasileira de 24, e


esta por sua vez pela francesa de 1814
- Constituição de 38: tem influências da espanhola de 37, da francesa de 30 e
ainda da belga

2. Forma de Estado: é unitária, menos a de 22 que prevê união real com o


Brasil (quando entrou em vigor, já tinha proclamado independência)

3. Sistema político e de governo:

- Parlamento ou Cortes:

- Tinha, nas 3, a concentração do poder legislativo. Só elas podiam criar leis,


com excepção da Constituição de 38 que atribuía ao executivo e órgãos locais
das províncias ultramarinas legitimidade legislativa em questões coloniais.

- Havia bicameralismo nas de 26 e 38, e uma única câmara na de 22. Mas há


uma diferença significativa: o parlamento bicameral dominou todo o
constitucionalismo monárquico enquanto que o só com uma câmara durou
apenas escassos meses!

- Estatuto do rei:

1. 1922: Constituição de 22 é claramente influenciada pelas leis


fundamentais, mas à diferenças significativas quanto aos seus poderes. A
de 22 diminui os poderes do rei, surge numa posição de subalternidade às
Cortes: o rei foi obrigada a jurar a constituição, foi-lhe imposta. É o
parlamento que no exercício de uma soberania que le é própria impões a
Const ao monarca. O rei tem um estatuto debilitado e enfraquecido: não
pode dissolver a corte; o seu veto em relação à decisão das cortes é
meramente suspensivo (vontade das cortes sobrepõe-se à do monarca);
poderia resultar numa responsabilização política do executivo perante o
parlamento, mas não chegámos a ver isso pois só esteve em vigor
escassos anos.

2. 1926: o rei é a chave de todo o poder. A Carta é outorgada pelo rei, fruto da
legitimidade monárquica, o rei emanou a carta auto-limitando-se (introduz
uma monarquia limitada). Rei tem o protagonista a nível constituinte e de
todos os poderes do Estado. Como se vê isto?

a. 4º poder: surge o poder moderador, influenciado pelo pensamento de


Benjamim Constant, que controla todos os outros poderes

b. É o titular do poder executivo, os ministros também, mas estes só


dependem da confiança do rei. O rei não pode concentrar em si todo o
poder legislativo, mas os ministros estão na dependência política do rei.

c. O rei tem intervenção no processo legislativo pois tinha o poder de veto


absoluto: a lei só era lei quando o rei a sancionava, quando manifestava
a sua concordância. O acto legislativo resultava da confluência de duas
vontades.

d. O princípio monárquico determinava ainda que toda a competência que


não fosse entregue a outros órgãos, era do rei. Este era titular de um
poder de natureza residual.

e. A própria modificação/revisão da constituição era aprovada pelas cortes


(processo complicado porque tinham de ser dissolvidas) mas só se
tornava lei se o monarca a sancionasse

f. o rei podia dissolver a câmara baixa, convocando eleições. Surgiu um


sistema de rotativismo, partido A sucedia ao B, etc. Isto criou grande
instabilidade, havia governos de um dia

Há várias tentativas de introduzir alguma estabilidade política, e que foram


feitos à margem da Constituição, isto é, inconstitucionais: em Inglaterra
quem ganha às eleições forma governo, em Portugal quem forma governo
ganha as eleições (não tenho a certeza se isto é aqui)

Ex. Partido A está no poder, há escândalos, desgaste do exercício do


poder, e há necessidade de substituir o governo.

Rei demitia o presidente do ministério e encarregava o líder da oposição


de formar governo. Não tinha maioria, mas pedia ao rei que dissolvesse as
cortes.

Este dissolvia as cortes e convocada eleições.

Durante o período em que não havia cortes o rei legislava


abundantemente, chamando-se decretos ditatoriais. Estão feridos de
inconstitucionalidade orgânica.

Todas as principais reformas legislativas (com excepção do código de


Seabra e código comercial) do séc. XIX foram feitas assim. Os resultados
das eleições eram sempre favoráveis ao governo, excepto uma vez.

Assim, já com maioria no parlamento, este fazia uma lei chamada “Bill
de indemnidade”:

- Isenta de responsabilidade o executivo que aprovara decretos


ditatoriais

- Ratificava o conteúdo dos mesmos

Tinha o objectivo de sanar a inconstitucionalidade orgânica.

Nesta altura não havia controlo da inconstitucionalidade pois os actos


legislativos eram sancionados pelo monarca, que era irresponsável
politicamente.
3. 1938: era hábil: chamar-lhe constituição para agradar ao povo, e ser
parecido com a de 26 para agradar ao paço. Em termos de poderes do rei
está mais próxima da de 26:

a. Reconhece o poder de dissolver as cortes

b. Suprime o poder moderador, mas integrou as faculdades no poder


executivo

c. Natureza do veto do monarca: (26 veto absoluto. 22 veto suspensivo.


Como resolver? Solução muito hábil) emitiu qualquer referência ao
problema. O rei devia sancionar as leis, mas a constituição não dizia o
que o parlamento devia fazer quando ele se recusasse a sancionar.
Interpretava-se o silêncio como absoluto. As cortes não o podiam
obrigar, logo, o veto tinha natureza absoluta.

4. Direitos Fundamentais: (verificar se é daqui, como te expliquei) defesa da


trilogia liberdade: propriedade, liberdade, segurança.

É de reforçar a sua inserção sistemática:

- 22 e 38 inserem no início

- 26 no penúltimo artigo

- 38 surge em matéria de direitos sociais o direito saúde e assistência.

- 26 é a primeira a consagrar a não retroactividade das leis.

- 38 tem pela primeira vez liberdade de associação e reunião

5. Modificação da Constituição:

- Só a de 26 foi modificada porque foi a única que teve tempo. Foi alvo de 4
modificações, sendo que só uma foi conforme à constituição:

- Acto adicional de 1852: consequência do movimento de regeneração de 51


que procurou democratizar a carta. Procurou fazer o que a França fez em 30 à
de 1814

- Acto adicional de 1885: único conforme com as regras de revisão

- Últimos dois 1895 e 1907: actos de engrandecimento do poder real, para


garantir mais estabilidade

- Quanto à revisão da Constituição, na Carta de 26 só é constitucional o que tem a ver


com organização do poder político – procede a uma auto desconstitucionalização - era
ao mesmo tempo rígida – em tudo o que tinha a ver com organização do poder – e
flexível no restante. Retirou natureza constitucional a alguns dos seus preceitos.
5.4- Constituição de 1911:

Assembleia Constituinte é quem a faz, depois da revolução.

O Partido Republicano assentava em 3 princípios:

- Laicização: estado com clara separação entre esfera do Estado e da Igreja.

- Descentralização: valorização da tradição municipal, na sequência de


Alexandre Herculano

- Princípio democrático: isto faz dele herdeiro do vintismo e setembrismo.


Corresponde à esquerda liberal.

Podemos encontrar nas constituições laborais um movimento pendular entre esquerda


e direita:

- A de 1822 é conotada com a esquerda liberal

- A de 1826 com a direita.

- A de 1838 procura um compromisso: forma de esquerda, conteúdo de direita.

- A de 1910 é uma constituição de esquerda.

Fontes desta Constituição:

1. Tradição constitucional portuguesa até então

2. Constituição brasileira de 1891: influência na fiscalização jurisdicional da


constitucionalidade – pelos tribunais, isto é, fiscalização difusa. Também na
cláusula aberta em matéria de direitos fundamentais, ou princípio da não
tipicidade: o elenco não se esgota no texto da Constituição, há mais! Anteriores
à Constituição ou posteriores à Constituição por lei ordinária. Por fim, a
terceira, a garantia de habeas corpus, possibilidade de exigir junto de um
tribunal que conheça da validade desta detenção, e caso seja ilegal, que
restitua a liberdade (já existia no constitucionalismo britânico).

3. Constituição francesa de 1875, ou melhor, as leis constitucionais francesas,


correspondente à III República. Daí advém relação entre presidente da
república e parlamento e o sistema de governo – parlamentarismo de
assembleia

4. Constituição Suíça: ideia de descentralização; importância do referendo como


mecanismo de participação política, de democracia semi-directa, questão, na
assembleia constituinte, de se deveria ou não existir PR

Inovações de 1911:
1. Forma Republicana: seja enquanto República democrática seja enquanto
república laica

2. Diminuição dos poderes do chefe do estado, estatuto de precariedade. Isto


é muito visível no seguinte:

a. Não podia dissolver o congresso

b. Não tinha poder de veto

c. Era eleito por sufrágio indirecto e podia ser destituído por 2 terços do
congresso

3. Reforço dos direitos fundamentais, através da cláusula aberta, habeas


corpus, e liberdade religiosa e de culto

4. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade das normas: tribunais


podem não aplicar leis contra a constituição, para não haver decretos
ditatoriais. Foi a primeira a admitir autorizações legislativas do Congresso –
câmara dos deputados e senado – para o executivo.

Principais alterações:

1. 1916: participação de PT na 1ª Guerra Mundial

2. 1918: na sequência do golpe de Sidónio Pais, faz o golpe em 1917 e introduz


um sistema presidencial. PR passa a ser eleito por sufrágio universal e directo
e torna-se a 2ª experiencia europeia a ter o presidencialismo (1º França com
luís Napoleão). Introduz estrutura de representação corporativa no Senado,
mas cessa a sua vigência com o assassinato de Sidónio Pais

3. Entre 1919 e 1921: houve durante escassas semanas em 1919 algumas


localidades do país a vigência da Carta Constitucional (4ª vigência), no
episódio de proclamação da monarquia no Norte por Paiva Couceiro, na
sequência do assassinato de Sidónio Pais. Teve o propósito de dar ao PR
poder de dissolução de Congresso. Até 1916 houve mais de 50 governos,
sendo que isto leva ao multipartidarismo, instabilidade política e deu origem às
3 tentativas de impor a estabilidade.

28.Fev.08

§6- Constituição de 33

6.1- Da “Ditadura Militar” à Constituição

Especialidades do período da Ditadura militar:


1. Formalmente estava em vigor a Constituição de 1911, fora em tudo o que dizia
respeito a poder político, pois eram os militares que ocuparam

2. Interregno constitucional mais extenso desde 1822, não estava em vigor nas
áreas principais

3. Ninguém compreende a Constituição de 76 sem ter em atenção este período.


Como foi relevante para o entendimento do constitucionalismo posterior:

a. Vem inaugurar algo que só em 86 se alterou, que é a existência de um


presidente da república militar. O último presidente da república civil ao
abrigo da Constituição de 1911 foi Bernardino Machado (duas vezes
presidente, duas vezes cessou a função com um golpe de estado,
primeiro de Sidónio Pais, depois por Gomes da Costa). Depois dele, o
primeiro civil foi Mário Soares em 86.

b. Não existia parlamento, logo, a função legislativa estava concentrada


no governo, na sua totalidade. Tinha a particularidade de o primeiro
parlamento eleito ter sido já na vigência da Constituição de 33, que só
começou a vigorar a partir de 35. Surge a prática de o executivo legislar
em termos normais. Isto passa para a Constituição de 33, primeiro
como uma prática contra a Constituição, sendo que com a revisão de
1945, se torna uma prática normal, apesar do parlamento ter uma
reserva de competências. O governo é desde 76 um órgão com
competência legislativa normal, sendo a ditadura militar a sua origem
histórica.

4. O Chefe de Estado era o centro da actividade política, pois apesar de ser


militar, passou a ser dotado de uma legitimidade democrática, pois era eleito
por sufrágio directo.

Este cenário permite compreender a entrada em vigor da Constituição de 33. Tem


uma dupla ??:

1. Elaborada numa comissão fechada mas submetida a plebiscito, a aprovação


popular. Foi a única até hoje

2. Veio receber os ideais da ditadura militar. Atribuía poder aos civis mas com
uma cláusula militar implícita, para o exercício do presidente da república. Esta
também está na constituição de 75/76, o que se vê com o Prof. Ramalho
Eanes

Propósitos, motivações históricas, da Ditadura Militar

1. Clara oposição ao parlamentarismo, logo, a toda a prática política da


primeira república e da monarquia constitucional dos últimos tempos. Era
fortemente anti-parlamentar. Fala-se do período demoliberal. A
Constituição de 33 também é anti-liberal, anti-democrática e anti-
parlamentar.
2. Desorganização financeira que reinou durante a I República, necessidade
de por em ordem as finanças. Assim é chamado um Prof. de Finanças,
António de Oliveira Salazar, que impôs como condição que todos os actos
do governo que tivessem como consequência aumento das despesas ou
diminuição de receitas, tivessem de passar por ele. Isto dá-lhe supremacia
sobre todos os actos do governo. Isto passa a norma constitucional em
1933, e ainda hoje está em vigor! Todas as leis orgânicas do governo
incluem essa norma. Mais uma vez o presente ditado pelo passado.

3. Oposição católica e monárquica à primeira república.. A DM aproveitou o


descontentamento das práticas anticlericais. Ainda que afirmando o
princípio da separação entre Igreja e Estado, o poder político infere na
esfera religiosa, e algo que nunca ficou resolvido na Constituição de 33,
entre a monarquia e república. Porque esta tinha duas características:

a. O PR foi talhado à imagem e semelhança do rei na Carta


Constitucional

b. Salazar nunca se pronunciou

Fontes da Constituição de 33:

- Carta Constitucional de 26

- 1911: por sequência ou oposição

- Constituições alemãs de 1871 e 1919

- Doutrina Social da Igreja, nomeadamente o desenvolvimento do princípio


corporativo

???? Era anti-liberal, anti-parlamentar:

- autoritarismo e

- democracia e nacionalismo

- república e monarquia

Inovações da Constituição de 33:

1. Ideia de criar um Estado Novo: forte, em oposição à I República.

- Natureza supra individual da nação, forte cunho hegeliano. É no Estado que


tudo se realiza, é na nação como comunidade cultural que há uma identificação do
povo português.

- É a primeira com matriz de Estado Social, com direitos sociais, tem como
promoção a qualidade de vida e bem-estar dos mais necessitados (influência o nosso
artigo 9º)
2. Afirmação do Estado como uma república corporativa. Estado fundamenta-
se nas corporações. O individuo não é isolado, está inserido no seu contexto
social, familiar e laboral. É aqui que os homens se realizam. Há uma
intervenção das corporações como tentativa de base estruturante da nação.
Tem 2 fases:

- Corporativismo como fim, como meta, daí a existência de uma Câmara


Corporativa, como órgão consultivo para a elaboração das leis. O objectivo era
no futuro tornar-se um órgão legislativo, mas isto nunca aconteceu

- A partir dos anos 50 corporativismo passou a ser um instrumento para


afirmar o sufrágio orgânico contra o sufrágio universal.

(estamos a falar de quê??) É uma consequência de:

- ???

- 1911: discute-se se não deve haver 2 câmaras

- Intervenção de Sidónio Pais

3. Sistema do Governo:

- desvalorização do papel da assembleia nacional. A Constituição de 33 é anti-


parlamentar

- reforço do papel do governo, pela primeira vez o Governo está na Constituição como
órgão de soberania, independente do chefe de Estado. Tem titularidade do poder
legislativo, não é responsável politicamente perante a assembleia nacional. O PR
nomeava o Presidente do Conselho de Ministros que só era responsável perante chefe
de Estado, sendo que escolhia livremente os ministros e secretários de Estado, só
politicamente responsável perante ele. Era um sistema de chanceler.

- progressivo esvaziamento do papel do chefe de Estado. Este esvaziamento do papel


do chefe de Estado foi acompanhado numa progressiva centralização da vida política
em torno do Presidente do Conselho de Ministros. Presidencialismo bicéfalo: dois
presidentes; outros dizem que é um presidencialismo de Primeiro-Ministro, pois os
poderes do PR foram progressivamente passando para o presidente do Conselho de
Ministros. Na constituição oficial os poderes estavam no PR, pois foi criado à imagem
e semelhança do rei de 26. A Constituição não oficial determinou um claro ascendente
do Presidente do Conselho de ministros em relação ao PR. Como?

1. Ministro das finanças acumulou durante muito tempo a presidência do


Conselho de Ministros

2. A Constituição se não foi feita somente por Salazar, foi por uma comissão da
sua confiança. Era expressão da sua vontade.

3. Se é verdade que foi o PR Carmona que convidou Salazar para ministro, os


seguintes só foram PR porque Salazar os indicava. Em vez de ser o PCM a
depender da confiança do PR, era ao contrário. Em 58 há um exemplo típico
disso: acaba mandato de Craveiro Lopes, sendo que Salazar achou que ele
não se devia candidatar. Escolhe o Almirante Américo Tomás. Em 58 perante o
perigo do PR poder demitir Salazar, em 59 o modo designar o chefe de Estado
mudou. O PR passou a ser eleito por um conselho restrito.

(exemplo da medalha ou não sei que: demonstra relações entre PR e PCM)

4. (vê se também tens um 4, sff, porque a mim parece-me um tópico novo! Acho que é
o 6.3) Dois períodos de vigência da Constituição de 33:

- 33 a 68: Salazar

- 68 a 74: Marcello Caetano

Isto é formalmente, pois na verdade Salazar morre em 1970 e em 71 há uma reforma


constitucional, sendo que só aí é institucionalizado o período marcelista.

5. Há 9 revisões constitucionais que se podem organizar em 5 períodos:

- 35 a 38: pequena alterações de pormenor

- revisão de 45: Governo passa a ter competência legislativa normal

- revisão de 51:

04.Mar.08

6.4.- Revolução de 1974 e vigência da Constituição

O período revolucionário corresponde ao tempo de vigência da constituição de 33, em


tudo o que não fosse contrariado pelas leis constitucionais emanadas durante esse
período de 74 a 76.

Com uma particularidade: a assembleia constituinte eleita a 25 de Abril de 75, tinha


apenas poder constituinte. Não podia emanar normas de direito ordinário.

Mesmo durante o período de funcionamento da assembleia constituinte havia outro


poder constituinte. Entre 75 e 76 havia 2 poderes constituintes, um dotado de
legitimidade democrática para formar uma constituição, e outro de matriz
revolucionária e militar para elaborar legislação temporária.

Características:

1- Há uma estrutura constitucional baseada numa pluralidade de leis


constitucionais
2- Tensão entre poder militar – autores do 25 de Abril - e civil – partidos
políticos.

3- Tensão entre legitimidade revolucionária e legitimidade democrática

Principais documentos normativos:

1. Programa do MFA: grandes directrizes da acção subjacentes à revolução, ao


período transitório, e à elaboração do texto constitucional

Estrutura orgânica: 3 fases:

1- Junta de Salvação Nacional dirigida por Spínola, tinha ao mesmo tempo


poderes constituintes e legislativos e administrativos

2- Com a lei 3/74 são instituídos o conselho de Estado (tem poderes constituintes)
e o Governo Provisório (poder legislativo e administrativo)

3- Após 11 de Março de 75: surge o Conselho de Revolução, depois é integrado


na estrutura constitucional de 76. O poder militar impõe uma estrutura anómala
dentro de um contexto democrático à assembleia constituinte

Principais questões constitucionais – 3 questões:

1. Convocação de uma assembleia constituinte: procurava conciliar-se a


legitimidade democrática, e o poder militar que dizia quais os partidos que
podiam concorrer, e limitavam a sua actuação na assembleia constituinte (?)

- Pacto I: para viabilizar as eleições de 75, pois o poder político via com
maus olhos o caminho para o poder civil

2. Processo de descolonização: ??????. Questão da guerra que havia nos


territórios coloniais, por exemplo, em Angola. ????? Algumas particularidades:

- a génese do 25 de Abril tem muito a ver com a questão colonial.


Portugal e Futuro, de Spínola, questionou a solução para a política
ultramarina. Defendia uma solução política de auto determinação (não
conduz necessariamente à independência, os povos podem optar pela
independência, associação entre estados ou ratificação da integração
desse território num outro território)

- 28 de Setembro leva ao afastamento de António Spínola leva a uma


radicalização do processo revolucionário. Entendeu-se que
autodeterminação = independência, com excepção de Timor e Macau.
Independências foram concedidas pelo governo provisório, que não
tinha legitimidade democrática

3. A questão da reestruturação económica: com a radicalização do movimento


revolucionário a partir de 28 de Setembro e materializada com o 11 de Março
há um surto de nacionalizações e apropriação colectiva dos meios de produção
e terras. Ainda hoje se suscitam questões em tribunal (indemnizações,
reprivatizações (devolução para o sector privado de bens que foram objecto de
nacionalização)). 3 particularidades:

- Processo de nacionalização foi desencadeado por governos


provisórios, de base revolucionário

- A Constituição viu-se obrigada a ratificar e congelar as


nacionalizações, introduzindo a cláusula de irreversibilidade das
nacionalizações. Tribunal Constitucional a partir de 82 interpreta que
não é possível nacionalizar 51% de um determinado bem mas que é
possível o de 49,9%.

- Com a entrada em vigor da Constituição não ocorreu qualquer


nacionalização. Foram todas anteriores.

§7- Constituição de 1976

7.1- Fontes e projectos

A Assembleia Constituinte era constituída por partidos moderados: PS e PPD.

A Constituição foi elaborada com dois pactos MFA/PARTIDOS:

- Conseguiam as eleições de 75 ficando condicionada a liberdade dos


deputados: só podiam acolher as condições previamente determinadas nesse
acordo

- Produto do 25 de Novembro de 75 (forças mais radicais procuram


desencadear um golpe. As forças moderadas de Ramalho Eanes ganham,
desloca-se para uma corrente mais moderada) há uma nova negociação: agora
são os partidos que ditam as regras, surge a ideia de que o PR é eleito por
sufrágio universal, mas há a cláusula militar implícita (nas primeiras eleições
todos os candidatos são militares).

Projectos de Constituição: 3 vertentes:

1. Procura determinar um Portugal dentro do contexto europeu: PPD e CDS

2. Acentuar ideia socialista de tipo marxista: PCP, UDP, CDE

3. Um que conciliava as duas soluções: PS. Matéria económica aliava-se aos


partidos da esquerda, em direitos fundamentais com os partidos de direito.

Fontes:

1. Internas:
- Constituição de 33: ou por influência ou por oposição. A constituição de 76 estava
mais próxima da última versão de 33, do que esta com a primeira versão

2. Externas:

- Constituição Alemã, Lei fundamental de Bona 49

- Italiana de 47

- Francesa de 58: sistema de governo

- Jugoslávia de 74: económica

7.2- Modelo jurídico-político originário: princípios estruturantes

Sistematização da Constituição assenta na estrutura básica - preambulo, direitos


fundamentais, parte I, II, III e IV (ver nomes) e Disposições Finais. Dois aspectos:

1. Ordem entre parte II e III não é arbitrária. Ideia de matriz marxista em que a
estrutura económica condiciona a estrutura política.

2. Preâmbulo era uma síntese justificativa da revolução e das principais ideias


protagonizadas pela Constituição. É uma nota histórica hoje em dia. Poderá ser
revisto?

Em 76 o Estado de Direito democrático não estava no artigo 2º, mas sim no


preambulo. Era critério de interpretação. Hoje é ao contrário: o preâmbulo tem
um princípio socializante que a constituição não tem.

Inovações importantes no direito constitucional português:

1. Tensão entre afirmação do princípio socialista e ideia de um Estado de Direito


democrático, uma ideia de Estado de Direito Democrático (princípio do
pluralismo) que estava apenas no preambulo e que estava de acordo com a
ideia ocidental, sendo que o artigo 2º fala também num caminho para o
socialismo (economia e programa de governo). Como se conciliam?

a. Não se conciliam é uma contradição estrutural

b. A transição para o socialismo estava condicionada à vontade popular.


Subordinava a opção socialista a um modelo pluralista, que prevalecia.
Em termos económicas a Constituição fala em nacionalização mas
também fala na garantia da propriedade privada e na iniciativa privada.
Tem que se limitar a opção socializante à vontade popular, do artigo 1º
- contributo decisivo do Prof. Jorge Miranda
c. Procura condicionar a opção pluralista ao propósito do fim, do objectivo
único de uma sociedade sem classes no Artigo 1º, alcançar o
socialismo.

2. Tensão, conflito, entre princípio revolucionário – protagonismo da estrutura


militar – e o democrático – protagonismo dos partidos políticos. Constituição
acolheu o que vinha do período revolucionário através do Conselho da
Revolução (3 funções: em matéria militar funções legislativas e administrativas,
era garante do espírito e fidelidade aos valores e princípio da revolução
Duvérger: “Portugal era uma democracia na ponta das espadas”, órgão
competência em matéria de fiscalização da constitucionalidade das normas.

Conselho da Revolução extinguiu-se em 82. Entre 76 e 82 era o órgão de


soberania. Como é que se neutralizou o seu papel? PO: a constituição poderia
ter sido alvo de uma verdadeira tutela militar e só não o foi porque o presidente
do Conselho de Revolução era o PR, que apesar de ser militar fez prevalecer a
sua legitimidade democrática à sua legitimidade militar. Assim, há um
apagamento do conselho de revolução, que tem uma posição mais moderada

3. É a mais generosa em matéria de direitos fundamentais, tão generosa que


quase se esqueçam dos deveres fundamentais. Explicação: enquanto estava a
ser elaborada (Abril de 75) o poder revolucionário estava numa vertente
radical. A preocupação foi dupla: encher de direitos fundamentais para limitar o
poder que aí viesse, e ganhar tempo ante a eminência de os radicais serem
afastados, e com os moderados poder dar uma orientação política mais
consentânea com o ocidente.

4. Inovação em matéria de organização política:

a. Conselho de Revolução

b. Mecanismo de fiscalização concentrada da constitucionalidade,


nomeadamente preventiva, elevação dos Açores e Madeira à categoria
de regiões autónomas. Entendeu que as autarquias locais eram um
modelo paralelo. Estruturas autárquicas como égide do poder local,
poder paralelo ao do Estado

7.3- Revisões Constitucionais

São 7:

1. Revisão de 82: extinguiu conselho de Revolução, criou conselho de Estado,


redistribuiu os poderes do Conselho de Revolução pelo Governo e Assembleia
da República, e desmarxização da constituição. Reduziram-se os poderes do
PR: já não pode demitir o governo directamente. Cria o tribunal constitucional.

2. Revisão de 89: acentua-se a desmarxização de constituição. Deixa de existir e


irreversibilidade das nacionalizações, é criado o referendo nacional.
3. Revisão de 92: pautada por preocupações ditadas pela Europa (foi a primeira).
Tem a ver com o Tratado de Maastrich.

4. Revisão de 97: atribui-se direito de voto aos emigrantes para eleição do PR,
reduz-se nº de deputados, reforçam-se poderes das Regiões Autónomas

5. Revisão de 2001: é ditado criação do Tribunal Penal Internacional, para


permitir a ratificação de Portugal do Estatuto de Roma.

6. Revisão de 2004: ditada pela integração europeia. Limitação dos mandatos


dos titulares dos órgãos políticos. Nova configuração da comunicação social.
Mudança de nome: ministro da república passa a chamar-se representante da
República. Reforço dos poderes das Regiões Autónomas

7. Revisão de 2005: tinha o propósito de criar o referendo para ratificação da


Constituição europeia.

06.Mar.08

7.4- Erosão do texto constitucional

Significa que é possível mudar o sentido de normas constitucionais sem ser através de
uma revisão.

Revisão traduz-se num mecanismo constituinte formal, mas pode ser modificada
através de um poder constituinte informal.

Apelo à ideia da constituição não oficial, fontes não formais de direito.

O mesmo enunciado normativo não sofre qualquer alteração, mas com o decurso do
tempo há uma aplicação diferente dessa norma – interpretação evolutiva

Ex. Constituição Norte americana

Ex. Artigo 36º: Filiação na de 76 era a natural. Hoje em dia pode ser procriação
medicamente assistida

Até é possível haver fenómenos de transição constitucional (mudança de constituição


respeitando-se as regras) não do poder constituinte derivado formal, mas
informalmente (muda o sentido material) - normas formais substituídas pelas informais,
contra constitucionem.

A Constituição Portuguesa procedeu em 3 áreas nucleares/estruturantes, a um


fenómeno de erosão:
1. Constituição do Estado português como estado soberano: EU diminui
soberania dos estados membros. Há integração supranacional com efeitos em
matéria constitucional:

a. Matérias que o estado português transferiu para a EU, outros não


estão transferidos mas são partilhados. Isto limita o poder decisório
da AR, Governo e Regiões autónomas em matéria legislativa e de
convenções internacionais

b. Há uma limitação da liberdade conformadora do decisor nacional,


que pode decidir mas desde que respeite normas da EU

c. matéria monetária, financeira e fiscal

Não há alteração da constituição mas há erosão, neste sentido de ser menos


soberano. Ainda é soberano porque a modificação dos tratados constitucionais
europeus ainda depende da aprovação de cada um dos Estados Membros.
Quando a alteração for possível por maioria passa a ser uma estrutura
federalista (um voto contra já não determina nada), passa a ser
heterovinculação.

2. Questão do sistema de governo: o delineado na constituição oficial era semi-


presidencial, ou com uma forte componente parlamentar. A prática operou 2
modificações:

a. Alteração das eleições legislativas para a eleição do PM

b. PM tornou-se o eixo da vida política, do sistema de governo. Não é isso


que a constituição tem pensado! Isto é fruto de uma imputação do
modelo britânico, ou uma recuperação da prática política de 33?

3. Matéria de constituição económica, que era mecanismos produção socialista, e


de projecto político que era a transição para o socialismo. Assim que a
constituição entrou em vigor não há nenhuma decisão judicial que aplique o
princípio socialista, ou que considere e entrada em vigor. Gerou-se um
costume que levou ao desuso do socialismo. Há uma erosão de parte
significativa de constituição económica quando fala da apropriação colectiva
dos meios de produção, etc. Também a integração na EU teve importância.
Será que ainda está em vigor a constituição de 76? A resposta a este pergunta tem
que assentar em duas certezas?

1- Quanto à parte I – direitos fundamentais - e IV- garantia e revisão constitucional


- a constituição mantém-se

2- A organização política, sistema político, económica (fim II) e tem realmente


pouco a ver com a de 76

7.5- Projecção externa da Constituição: uma matriz constitucional portuguesa?

Qual é a projecção externa da constituição portuguesa?

Há 3 áreas nucleares desta projecção:

1- Foi fonte inspiradora da constituição espanhola de 78 – há um nível mínimo de


projecção externa, mas ao menos aprenderam com os erros de Portugal

2- Constituição brasileira de 88 – tem vários aspectos influenciados

3- Tão importante que muitas x assistimos à reprodução palavra por palavra da


constituição portuguesa: constituição países africanos de expressão
portuguesa – Angola, Moçambique – Guiné-Bissau, são Tomé, e cabo verde -
e timor leste

Por isso é legitimo falar numa matriz constitucional portuguesa. Características:

1- Relevo dado aos direitos fundamentais e certo esquecimento de deveres


fundamentais. Preocupação com a internacionalização da tutela dos direitos
fundamentais.

2- Equilíbrio, compromisso, em matéria de sistema de governo. Entre o PM, eleito


pelo parlamento, e PR, eleito por sufrágio universal. Aquela com um pendor
mais presidencial é a de Angola e Moçambique

3- Afirmam a garantia dessa mesma constituição. São rígidas com limites material
de revisão de constituição e com mecanismos de fiscalização da
constitucionalidade.

PARTE III- Constituição de 76

Capítulo I- Identidade da constituição:

2 Perspectivas: valores e estrutura

Secção I: identidade axiológica da constituição


4 Ideias:

- Democracia humana

-Estado de direito democrático

- Soberania internacionalizada e europeizada

- Unidade descentralizada

§8- Democracia humana

É um pressuposto do Estado de Direitos Humanos, pois não há sem a protecção da


dignidade da pessoa humana.

O Artigo 1º põe como base primeira a dignidade da pessoa humana.

Democracia humana assenta em 3 regras de ouro:

1. Poder deve estar ao serviço dos mais fracos e mais débeis

2. Poder como garante da prevalência do ser sobre o ter, das pessoas sobre as
coisas

3. Poder exercido pelos governantes ao serviço do bem comum dos governados


(pensamento de Santo Agostinho)

Pressupostos:

1. Relação entre pluralismo e tolerância: a nossa é pelo princípio da liberdade de


associação. Os partidos têm importância nuclear. Existe alternância
governativa, direitos da oposição. Consagração do sistema de representação
proporcional. Para além da natureza representativa do PR, AR e Governo,
também a do poder das Regiões autónomas (ALR), legitimação democrática da
escola dos titulares dos órgãos autárquicos e universitários.

2. Vinculação das autoridades à prossecução do bem-comum. Ideia de que o


poder é serviço e não regalia.

3. Independência dos tribunais. Não há Democracia Humana sem isto. Os


tribunais não estão sujeitos ao poder político nem à opinião pública

4. Subordinação ao Direito, à jurisdicidade. É um governo das leis e não dos


homens (Aristóteles). Senão é uma conduta ilegal para a qual os tribunais são
a resposta

5. Reversibilidade da autovinculação: não há decisões imodificáveis, salvo as


decisões judiciais transitadas em julgado (há algumas excepções): uma lei hoje
aprovada pode amanhã ser revogada, um referendo hoje, pode ser diferente
amanhã

6. Legitimidade política dos titulares do poder legislativo e executivo: cerne da


ideia da relevância da vontade popular, também no Artigo 1º. O poder político
pertence ao povo. É expressão da dignidade da pessoa humana.

7. Responsabilidade dos governantes perante os governados ou os seus


representantes: não há democracia humana sem responsabilidade de quem
exerce o poder.

Democracia humana envolve dois postulados: dignidade humana e relevância da


soberania popular, limitada pelo respeito pela dignidade da pessoa humana.

8.3- Estado de Direitos Humanos?

Será que Portugal é um Estado de direitos humanos?

À luz da Constituição sim, porque reúne as 2 condições: inviolabilidade da vida


humana e dignidade da pessoa humana.

Na teoria é. O que não significa que na prática, olhando para o direito ordinário
sejamos mesmo. Estas dúvidas e interrogações colocam-se em 3 áreas:

1- Direito penal: moldura penal dos crimes contra as pessoas é mais severa do
que os crimes contra o património. Se não for então o ter vale mais do que o
ser. Claramente, quando se aprova uma lei que deixa sem protecção jurídica a
vida humana até às 10 semanas há um retrocesso na protecção do ser, com a
particularidade de que o regime regra em Portugal é comunhão de adquiridos
(tem de haver consentimento das partes), mas para abortar não é preciso
consentimento do marido. O ser não vale mais do que o ter, aqui.

2- Definição de linhas políticas que privilegiam construção de estádios de futebol


em detrimento de hospitais.

3- Em termos orçamentais privilegia-se mecanismos de defesa com prejuízo para


o serviço nacional de saúde, educação, etc.

§9- Estado de Direitos Democráticos:

9.1- Origem do Estado Social em Portugal

Sobre a origem sabemos que entre 76 e 82 este não resultava do texto articulado da
constituição mas sim do preâmbulo. Só desde 82 consagra este estado.

O constituinte em 75 não quis falar em direitos sociais porque a doutrina tinha


desenvolvido sobre a constituição de 33 a ideia de ser uma constituição de estado
social. Logo, tinham que mostrar a diferença. Não usaram a expressão Estado Social,
mas sim Estado de Direito Democrático. Mas esta expressão foi usada por um
professor de Coimbra Afonso Queiró em 56 para caracterizar o sistema de fontes da
constituição de 33 (a lei não era a única fonte)

O Estado de Direito democrático é uma forma de Estado Social mais evoluída. Onde
está essa evolução?

Desdobra-se em 3 ideias nucleares: pluralismo, jurisdicidade, bem-estar

9.2– Princípio pluralista

O pluralismo tem diversas manifestações:

1- Respeito e garantia dos direitos fundamentais

2- Legitimidade política do decisor, dos titulares do poder

3- Manifestação ao nível da organização administração pública, em Portugal há


várias e não só uma

4- Participação de todos na decisão política, que não se esgota na democracia


representativa mas também participativa (pessoas a defenderem suas
convicções, grupos de interesse)

9.3– Princípio da juridicidade

Poder submetido não só ao direito que produz – autovinculação – mas também a


normas e princípios que transcendem esse poder – heterovinculação – independentes
da vontade desse poder.

Só na primeira há limitação.

Há um Estado de Direito Material.

Para além da vinculação do poder às normas criadas por ele – auto-vinculação e


reversibilidade – também está vinculado a normas não criadas por ele. Estado de
Direito material

Os tribunais são muito importantes como últimos garantes da jurisdicidade,


consagrada no Artigo 204º CRP – fiscalização difusa da jurisdicidade.

11.Mar.08
9.4- Princípio do bem-estar

(primeiro semestre - origem, dificuldades, imperatividade constitucional)

Bem-estar como tarefa fundamental do Estado, o que resulta do artigo 9º da CRP, que
vem da Constituição de 33.

Envolve uma actuação positiva por parte do Estado.

Para além de direito, liberdades e garantias também há direitos sociais que impõe
dever de agir por parte do Estado, no qual todos os órgãos estão empenhados -
legislativos, administração (de nada servem as normas se não existirem decisões
administrativas que mandem construir hospitais, escolas, etc. Por ela passo ou êxito
ou falta dele da cláusula de bem-estar. É uma administração refém da Administração
pública (ainda por cima o que faz ganhar eleições são promessas a nível
administrativo de direitos sociais, e não promessas legislativas). E também o Tribunal
Constitucional pois também vê a inconstitucionalidade por omissão, por ausência de
medidas legislativas, nomeadamente normas constitucionais em matéria de bem-estar.

Envolve eficiência dos órgãos e continuidade dos serviços administrativos. Os


parlamentos e tribunais encerram para férias mas não os serviços da administração
(ex. hospital). Tem que haver um princípio de continuidade

§10- Soberania internacionalizada europeizada

10.1- Manifestações

Portugal é uma república soberana – artigo 1º e 288º/ a):

Consequências:

1. Portugal não é um estado sujeito a outro estado, nem pode ser. Seria
inconstitucional que Portugal se tornasse um estado federado. Se a EU evoluir
para uma estrutura do tipo federativo, qualquer alteração da constituição para
atribuir a Portugal o estatuto de estado federado significaria que estaria em
vigor uma outra constituição não esta. Onde está a linha de fronteira, quando é
que a EU se tornará uma estrutura federativa? PO- critério muito objectivo: até
agora qualquer alteração do direito primário, tratados constitutivos da EU (ex.
tratado de Lisboa), exige o consentimento de todos os estados membros.
Basta que um não queria para que o processo termine. Os Estados continuam
a ser os donos dos tratados. A partir do momento em que uma maioria de
Estados possa modificar, impondo essa maioria mesmo as estados que nas as
votaram favoravelmente, então torna-se uma estrutura federal (tal como nos
EUA é necessário 2/3)
2. PO: o direito interno português tem primado sobre as convenções
internacionais, tem paridade de grau hierárquico. Salvo quando esteja em
causa o direito comunitário ou quando a Constituição reconheça uma força
jurídica superior a essa convenção

3. Portugal enquanto estado soberano rege-se no âmbito das relações


internacionais – artigo 7º- pelo princípio da independência nacional. Significa:

a. Necessidade de subsistência do estado, não se pode alienar qualquer


parte do território ou qualquer dos seus direitos de soberania (ex.
proibido a Espanha fiscalizar a nossa ZEE)

b. Imperativo de dinamização do exercício livre do poder político

10.2- Limitações

Há limitações à soberania que resultam do artigo 7º e 8º:

1- Respeito pelas normas imperativas de direito internacional. Estamos


subordinados às normas do ius cogens: direito geral imperativo para todos os
estados. Resulta da constituição e da força autónoma do ius cogens. Artigo 8º-
estão numa posição superior à constituição, não podem ser objecto de juízo de
constitucionalidade

2- Artigo 7º/ 5 e 6 estabelecem uma cláusula de empenhamento de Portugal na


construção da EU. Isso explica 3 fenómenos:

a. Possibilidade de poderes do estado serem delegados ou transferidos


para o âmbito da EU(limitação)

b. Princípio de colaboração ou solidariedade do Estado Português no


âmbito da EU: consequência de mesmo nos Estados em que o poder
de decisão pertença a Portugal tem que defender os fins, princípios e
objectivos da EU. O conteúdo da decisão não pode contrariar o sentido
das normas provenientes da EU. Logo, há primado do direito
comunitário

c. artigo 7º/6 tem uma cláusula de salvaguarda: exige-se


reciprocidade e respeito pelos princípios fundamentais do Estado de
direito democrático e respeito pelo princípio da subsidiariedade.
§11- Unidade descentralizada

Artigo 6º diz que Portugal é um estado unitário (oposição aos Estados compostos).

Vários corolários:

1. proibição de se tornar no Estado Federal, ele próprio. Conjuga-se com o


228º/a). As regiões Autónomas não se podem tornar em Estados Federados.
Há um único poder constituinte e um único centro do poder político. Os
estatutos das Regiões Autónomas são uma lei do Estado, da Assembleia da
República, não são uma constituição nem um acto das Regiões Autónomas.

2. Princípio da constitucionalidade: constituição é o acto mais importante do


Estado, logo, subordina todos os actos jurídico-públicos. Artigo 3º/3. Garante
unidade axiológica do ordenamento jurídico. Também nos diz que compete aos
tribunais do Estado a fiscalização da constitucionalidade de todas as normas
(204º): prevalência da vontade do Estado e enquanto órgãos de soberania do
Estado são garantes da unidade do Estado. Ainda há outros mecanismos de
garantia da unidade do Estado: poder do representante da EU nas Regiões
Autónomas para solicitar ao TC a constitucionalidade dos diplomas regionais;
poder do PR de por atentados à constituição pode ordenar a dissolução das
Assembleias Legislativa das RA (artigo 234º). Actualmente as autarquias locais
podem ser alvo de dissolução pela prática de actos graves (242º/3).

3. Estado é única entidade cujos poderes têm natureza originária. Os outros têm
poderes que derivam de um acto de vontade do Estado (Regiões Autónomas,
Universidades, etc.). Os poderes do Estado não dependem de nada nem de
ninguém.

4. Há órgãos de soberania única para todo o território nacional: AR, Governo,


tribunais, PR.

5. Existência de interessas colectivos de toda a nação que estão a cabo do


Estado. Estado é protagonista de um interesse nacional (oposição a interesses
locais, regionais ou sectoriais). Como único intérprete do interesse nacional
tem poderes de intervenção sobre a vida das outras entidades. Dão maior
prevalência ao interesse nacional do que aos infra-estaduais. Como é que se
manifesta esta prevalência dos interesses a cabo do Estado? Significa que
todas as autonomias, todo o fenómeno de descentralização está limitado pelo
princípio da unidade, que limita o princípio da descentralização. Como é que
isto se manifesta:
a) Há poderes que a constituição reserva a favor do Estado. Ex.
função jurisdicional é uma reserva do Estado; competência
legislativa reservada da AR ou Governo é uma reserva de poderes
do Estado.

b) Faculdade de condicionar, limitar, a autonomia das entidades infra-


estaduais. Fala-se então nesta particularidade de que todo o Direito
infra-estadual tem que estar numa relação de compatibilidade com o
Direito do Estado. As excepções só o podem ser porque uma norma
do Estado as permite. Ou seja, a prevalência do direito do Estado
faz com que as normas provenientes do estado tenham uma
primazia aplicativa face às normas provenientes de entidades infra-
estaduais. O desconforme é direito inválido, sendo que quem o
determina são os tribunais, que são órgãos do Estado.

11.3- Unidade e Supletividade do Direito do Estado

6. Direito do Estado é um ordenamento geral e comum a nível do Estado. Tem


normas com vocação para cobrir todo o território nacional, todos os sectores da
actividade. Então como é que as entidades infra-estaduais têm poderes
legislativos? Como se compatibiliza com estes? Pelo princípio da supletividade
do Direito do Estado: o Estado pode sempre emanar normas mesmo sobre
sectores que estão a cabo da competência de órgãos infra-estaduais. Estes
órgãos podem amanhã elaborar normas, sendo que aí tornam inaplicável o
direito do Estado nesse sector. Exemplo 227º/1/ d), a constituição atribui dois
tipos de competência regulamentar: para regulamentarem a respectiva
legislação regional e (2ª parte) a faculdade de regulamentarem as leis da
república quando elas não reservem para o governo da república o respectivo
poder de regulamentar. Imaginando que reserva, então as RA não podem
regulamentar a lei da república. Imaginando que não reserva, então as RA
podem regulamentar. E enquanto a região autónoma não o fizer? A lei da
república é aplicada ou têm que esperar (isso significaria direito de veto, era
um atentado à unidade do Estado). A lei da república será aplicado até as RA
criarem o seu próprio regulamento. O princípio da supletividade determina a
aplicação do regulamento da república quando as RA ainda não o tiverem feito.
O preenchimento das lacunas e deficiências do regulamento da região é feita
pelo regulamento da república. A norma do regulamento da república tem uma
natureza supletiva. Artigo 228º/2. O mesmo com todas as entidades públicas
infra-estaduais.
7. A Unidade é dentro do respeito pelo princípio da subsidiariedade o que tem um
duplo sentido: tudo o que a sociedade civil possa fazer no campo social,
económico, cultural, não deve ser feito pelo estado. Tudo o que não queira ou
não faça eficientemente o Estado faz. Reduz e justifica os poderes do Estado.
Também há este principio na relação do Estado com as entidades públicas:
artigo 6º- estado só deve intervir no que as entidades públicas não possam,
queriam ou façam com eficiência. Pode haver colisão entre princípio da
igualdade (todo o território) e subsidiariedade (especialidades de cada sector).
PO diz que o princípio da igualdade é mais importante que o da autonomia
(pode ter influência entre competências do Estado e das regiões autónomas.

8. Unidade e descentralização: 267º/7. É a unidade que condiciona a


descentralização e não ao contrário).

13.Mar.08

SECCÇAO II- Identidade estrutural da Constituição

§12- Constituição compromissória

Esta ideia envolve várias ópticas de compromisso:

1. Genético, quanto à origem, feitura da constituição.

a. A constituição assentou num compromisso entre a legitimidade


revolucionária – militares – e democrática – partidos políticos. Hoje em
dia vê-se o monopólio dos partidos políticos no acesso a AR.

b. Economia de carácter marxista – apropriação colectiva dos meios de


produção – e de mercado – garantia da propriedade privada e sector
privado dos meios de produção.

c. Estado de Direito democrático – preâmbulo – e a caminho para o


socialismo – artigo 2º

d. Modelo organizativo e funcional do passado – repartição de poderes


semelhante à de 33– e dinâmica revolucionária de inspiração socialista
(74/76)

e. Sistema governativo parlamentar e PR com poderes de intervenção


política e sufrágio directo na sua eleição

2. Normativista, pois há compromissos entre normas:


a. Há princípios de concorrem em termos alternativos – ou x ou y –
concorrência entre princípios coexistenciais – têm de coexistir. Por
exemplo:

1- princípio de apropriação colectiva dos bens de produção (artigo


80º) e ao mesmo tempo privatização dos meios de produção.
Não se pode privatizar e nacionalizar ao mesmo tempo!

2- A unidade e descentralização são dos que têm que ser


aplicados ao mesmo tempo. Nenhum pode ser aplicado a tal
ponto que acabe com o outro. Prossecução do interesse público
e respeito pelas posições dos administrados, têm de coexistir.
Liberdade de informação e reserva de intimidade da vida
privada, também nenhum pode excluir.

b. Normatividade oficial e não oficial.

c. Normatividade interna e externa – europeia.

3. Em matéria aplicativa. Vários aspectos:

a. Quando estão em causa normas constitucionais têm que se ponderar


no concreto os bens, interesses e valores constitucionais. Tem que se
ponderar bens em causa e a sua dimensão na tutela constitucional.
Saber 3 coisas:

1- os bens valores e interesses têm ou não tutela constitucional.


Os com tutela prevalecem sobre os que não têm.

2- se têm tem que se ver se são de igual nível ou se têm posição


privilegiada. Se têm a ver com a dignidade da pessoa humana
são superiores. Hierarquizá-los

3- procurar uma concordância prática. Procurar que um não


conduz ao suprimir, afastar completamente da relevância
aplicativa do outro. Pode ser equitativa ou desnivelada (o que
tiver maior preponderância ter maior espaço de aplicação). Isto
é especialmente importante na temática dos direitos
fundamentais: cada direito fundamental produz sempre efeitos
colaterais, não há direitos absolutos (nem o direito à vida, por
exemplo, a legitima defesa).

b. A Constituição no 282º/4 permite ao TC que pondere razões de


segurança, equidade e interesse público de especial relevo para se
oporem ao princípio da constitucionalidade. Permite que normas
inconstitucionais produzam efeitos.

c. Nível de interdependência de poderes – freios e contrapesos é


demonstração de um compromisso orgânico. Legislador cria,
administração aplica, tribunais fiscalizam. Estão intimamente ligados,
dependem do anterior.

§13- Constituição Aberta

Em 4 acepções:

1. Em termos estruturais

2. Em termos normativos

3. Em termos políticos

4. Em termos interpretativos

13.1- Estrutural

Tem um carácter falível e reversível, no sentido em que não é um documento histórico


morto mas um projecto de sociedade dinâmica.

Desde logo por estar aberta à revisão, à modificação.

Olhando para o interior tem dinamismo porque no artigo 1º há uma meta: sociedade
mais justa, mais livre e mais solidária.

É sempre um projecto incompleto, está sujeito aos resultados do exercício da


autonomia política. Não são normas fechadas têm abertura à autonomia política na
forma como são concretizadas pelo legislador.

Uma constante procura de legitimação da constituição pelas gerações futuras. Os


limites à revisão não são uma ditadura às gerações futuras?

13.2- Normativa

Demonstra a possibilidade de estar aberta à recepção de outras normas. Tem diversas


cláusulas de recepção de normas.

1. Cláusula de recepção de direito internacional privado, geral ou comum. Artigo


8º/1 e 29º/2

2. Cláusula de recepção de direito da EU - 8º/4

3. Cláusula habilitante de recepção do Estatuto de Roma, T. Penal. Internacional


4. Abertura em matéria de direitos fundamentais: abre-se às normas da DUDH


5. Cláusula de recepção dos princípios corporativos: 61º/2

6. Abertura à normatividade informal, deixa-se impregnar, contagiar, subverter,


pela não oficial que a poder completar o inverter o sentido das suas normas

13.3- Política

1. Alternância democrática: manifestação do princípio republicano (quebra ideia


da hereditariedade e cargos vitalícios. Esta abertura faz-se pela realização
periódica de eleições. A limitação dos mandatos: é manifestação democrática
ou limitação ao exercício democrático? Se o povo decide renovar mandatos é
vontade popular. Mas à medida que se acumulam mandatos sucessivos perde-
se a alternância

2. Liberdade conformadora de legislador: aberta à margem de discricionariedade


decisória do legislador. Traduz-se através do princípio maioritário. Cada
maioria pode substituir as leis vigentes (Zagrebelsky). Não há decisões eternas
na democracia, tudo pode ser alvo de modificação. A margem de liberdade do
legislador não é controlável excepto quando passa a margem da constituição.
Logo, o legislador tem uma competência dispositiva – disciplinar matérias – e
revogatórias. Será que pode ter competência de revogação simples? (ficar um
vazio)

3. Abertura à participação política dos cidadãos: referendária, baseado na


reversibilidade das soluções. Pode ser mudado por outro referendo.
Participação das pessoas na decisão legislativa e administrativa. Legitimação
das decisões pelo procedimento.

13.4- Abertura interpretativa

1. Há claramente uma pluralidade de intérpretes da constituição. O TC fixa a


última decisão em matéria interpretativa. Mas todos os outros tribunais
itnerpretam (interpretação difusa). Quando o legislador faz uma lei tem que
respeitar um limite da constituição e estar de acordo com ela. Também a
interpreta. A Administração também. Artigo 18º/1- também as entidades
privadas têm que respeitar as normas de direitos fundamentais. A doutrina
também interpreta. Há uma liberdade interpretativa da constituição.

2. A limitação do mandato dos juízes do TC, o que significa uma renovação do


interprete último da constituição.

3. Interpretação evolutiva e actualista da constituição: tem que ter em conta a


envolvência social e os tempos.

Limites à abertura da Constituição:


1. Não é flexível, não está sujeita a uma mera intervenção do parlamento e lei
ordinária para a mudar. Há limites de revisão de constituição.

2. Fiscalização da constitucionalidade. As normas em sentido contrário não a


revogam, são inconstitucionais. Há violação por acção e também por
omissão

3. Respeito pelos princípios fundamentais do Estado de Direito democrático


na recepção do Direito da EU – 8º/4

4. Tutela criminal dos atentados à Constituição. É o Direito Penal Político.

§14- Constituição Transfigurada

Factores de transfiguração, que a fazem mudar a configuração:

1. Decurso do tempo e surgir de uma factualidade subversiva: normatividade não


oficial.

2. Intervenção dos partidos políticos: faz com que em certas áreas os partidos
políticos possam dizer como Luís XIV “O Estado somos nós”

3. Integração europeia e o seu aprofundamento

4. Peso da herança histórica do Estado novo

O que mudou? Manifestações:

1. Desactualização da constituição económica:

a. Prática reiterada em sentido contrário à transição para o socialismo

b. Dinâmica de direito da UE

2. Subversão do sentido das eleições parlamentares: o sentido de voto é a


escolha do PM. Há um sistema de governo não oficial que pode ser um
presidencialismo do PM. PO: herança britânica ou de 33?

3. Estado de partidos está transfigurado no Estado do Partido governamental.

4. Erosão da soberania e diluição do poder constituinte no âmbito do espaço da


EU. São hoje marcados, condicionados, pelas decisões e evolução no âmbito
da UE

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