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Introdução
Trazendo essa reflexão para o campo dos museus universitários brasileiros, que são parte
integrante dessa mesma universidade, podemos constatar que a idade de ouro ainda não
aconteceu nem do ponto de vista interno de gestão e infra-estrutura para o seu funcionamento
nem em relação ao processo de interação com a sociedade. Muitos dos que estão aqui presentes
venciam e podem constatar, por meio de uma análise das ações cotidianas desenvolvidas nos
museus das nossas universidades, o quanto ainda estão distantes da tão sonhada idade de ouro.
Entretanto, é importante destacar que talvez nunca consigamos alcançar esse grau de satisfação,
o que considero salutar.
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Texto apresentado no IV Encontro do Fórum Permanente de Museus Universitários e II Simpósio de
Museologia na UFM “Museus Universitários – Ciência, Cultura e Promoção Social”, realizado em Belo
Horizonte – MG, no período de 24 a 28 de agosto de 2006.
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Maria Célia Teixeira Moura Santos é Profa. Aposentada da Universidade Federal da Bahia – Curso de
Museologia, Museóloga, Mestre e Doutora em Educação.
Contato: mcmourasantos@uol.com.br.
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período compreendido entre 1969 e 2000, buscando as interfaces entre a práxis e a formação. A
idéia foi organizar um texto de referência para, posteriormente, preencher as lacunas, dar
continuidade à pesquisa. Na análise realizada, a partir dos dados coletados constatei, dentre
outros aspectos, que os Encontros de Museus Universitários, realizados nos anos 90, e os Fóruns
Nordestinos de Museologia abriram uma ampla discussão sobre a importância das instituições
museológicas como espaço de produção e difusão de conhecimento, destacando o seu papel na
democratização dos resultados da produção científica, em várias áreas, bem como na
participação das atividades de ensino e de extensão universitária.
Percebe-se, também, que, nesse período, as discussões teóricas iniciadas por Waldisa Rússio,
nos anos 80, irão florescer e vão influenciar na revisão do conceito de museu, que passa a ser
considerado como um processo, um fenômeno social, que deve ser avaliado constantemente e
que busca a participação do usuário, que tem um compromisso com o homem e com a melhoria
da qualidade de vida.
Na pesquisa referida, também pude constatar que temos um diagnóstico claro do nosso campo
de atuação, que indicamos as estratégias necessárias para sanar os pontos críticos, mas não
conseguimos, ainda, tornar a nossa ação eficaz, para minimizar pontos críticos, que permanecem
em todos os momentos pesquisados, e que, sabemos, continuam até a atualidade.
Não pretendo e nem teria a competência necessária para apontar soluções imediatas para os
problemas que envolvem as instituições museológicas e, conseqüentemente, os museus
universitários. Entretanto, aprendi com o Mestre Paulo Freire que devemos olhar e conceber a
História como possibilidade e não como determinação. Acreditando em nossa capacidade de
ousar e de criar novas perspectivas apresentarei algumas proposições para a ação conjunta,
compreendendo este Fórum como espaço de abertura de possibilidades, um estímulo para
construção conjunta de políticas universitárias, com a inserção dos museus nesse contexto,
buscando uma nova perspectiva de ação entre a comunidade acadêmica, os museus e a
sociedade, dando continuidade ao diálogo, iniciado há 14 anos, quando da realização do I
Fórum, que aconteceu em Goiânia, de 26 a 30 de julho de 1992.
Considero que a minha contribuição ao debate em torno das questões relacionadas com os
museus universitários, buscando novas perspectivas de ação, devam girar em torno da inserção
dessas instituições no contexto da universidade, no momento presente, a partir da nossa
experiência, ao longo dos anos, com o objetivo de destacar a missão dos museus, no processo de
construção e reconstrução da instituição, no momento em que se busca a construção de projetos
pedagógicos inovadores, articulados à produção crítica do conhecimento, integrados a ações
criativas de mudança, tentando alargar as bases do compromisso social da universidade.
Compreendo que a atuação de um museu universitário deve ser parte de uma política
universitária sistêmica e estruturante, resultado de um processo de planejamento estratégico,
envolvendo o coletivo dos museus. É certo que a construção dessa política só será possível se a
considerarmos como uma aventura coletiva, estendendo-a a mais pessoas, buscando torná-la
mais profunda, mais abrangente, mais plural, a partir dos encontros e trocas, incorporados ao
cotidiano dos nossos museus, dos nossos departamentos, das nossas salas de aula, dos
segmentos responsáveis pela gestão universitária e, sobretudo, da nossa disponibilidade em nos
abrir para outros segmentos da sociedade, buscando novas alternativas a partir de outros olhares
e saberes.
assim como os nossos museus têm muito a colaborar nesse processo. Incluo a Museologia na
mesma dimensão atribuída por Gadoti (2005, p.46) à Educação: uma ciência transversal, aberta
a todas as ciências, que analisa a cultura e o conhecimento sob todas as perspectivas científicas.
Atribuo, portanto, à Museologia, as dimensões social e educativa. Desse modo, o processo
museológico será sempre construído e reconstruído por meio da ação dialógica, dinâmica,
complexa e criativa. Reconheço que somos atores sociais responsáveis por criar contextos
educativos para a integração criativa e cooperativa permanente, entre diferentes sujeitos e
contextos sociais e culturais.
Esse olhar pedagógico e transversal sobre a Museologia e sobre os nossos museus nos instiga a
vislumbrar novas perspectivas para os museus universitários. Em relação à gestão museológica,
por exemplo, amplas possibilidades de comunicação e de integração criativa e cooperativa são
abertas, a partir dessa concepção. Nesse sentido, chamamos a atenção para o fato de que para
que haja uma troca efetiva, por parte de todos que estejam envolvidos com as ações
museológicas, é necessário que haja clareza de concepção, de objetivos e da missão que devem
alcançar, a partir do trabalho dos diversos setores e da relação que o museu estabelece com a
sociedade. O conhecimento da Museologia e de seus processos é, aqui, de fundamental
importância. Discutindo a Museologia como um campo de conhecimento, Ivo Marievic (2000,
p.6) destaca que o staff do museu deve compreender a Museologia como uma disciplina que
trata dos aspectos teóricos relacionados com o trabalho prático em que estão envolvidos.
Portanto, eles devem ser capazes de absorver a teoria e estar preparados para sua aplicação, na
prática. Comenta que este é um pré-requisito para o sucesso de qualquer processo de
comunicação, o que implica, também, estar seguro e ser capaz de resolver os problemas, com
apoio na teoria.
Assim, compreendemos que olhar o museu como espaço aberto e propício à aplicação de
saberes de diferentes campos do conhecimento é, também, compreender a importância do
processo museológico para a definição das políticas, dos programas, dos projetos e da definição
do perfil da instituição. Assim, compreendemos que os avanços no campo museológico estão
diretamente relacionados com o desenvolvimento dos nossos museus e com a qualidade do
trabalho desenvolvido na instituição, internamente, e na relação que estabelece com a sociedade.
Daí, considerarmos como de extrema urgência a necessidade de implantação de Cursos de
Museologia, em nível de Graduação e Pós-Graduação, em nossas Universidades, buscando uma
articulação direta e permanente com os museus universitários, com a sociedade, com
universidades das diversas regiões do Brasil e de outros Países. Dessa forma, compreendo que o
planejamento e a reestruturação dos cursos não poderão ocorrer, como é prática corrente,
somente no interior dos Departamentos e Colegiados. A interação entre estes, as Pró-Reitorias
de Extensão, os museus e outros segmentos da sociedade, desde a fase de estruturação dos
currículos e programas, facilitará o comprometimento e as condições necessárias para o
desenvolvimento de projetos integrados. Considero que um dos grandes problemas que temos,
hoje, do ponto de vista operacional, é que elaboramos os nossos programas olhando para nós
mesmos. Para a sua execução, queremos que os museus e outros departamentos e unidades
sejam nossos parceiros. É necessário, pois, uma mudança interna, em cada um de nós, para que
a parceria e a integração desejada aconteçam de modo efetivo, desde o planejamento dos nossos
cursos e projetos.
“escolar” dos nossos currículos que desprezam o informal como “extra-escolar”, como “não-
formal” e conclui destacando que a informalidade é uma característica fundamental da educação
do futuro. Conseqüentemente, este novo olhar e este novo fazer não só são necessários como
urgentes, sobretudo na estruturação dos novos cursos, na formulação das nossas políticas, dos
nossos programas e projetos.
Dessa forma, estaremos crescendo juntos e contribuindo para que nossos alunos tenham uma
nova concepção sobre a gestão museológica, uma nova concepção de como organizar a
produção do conhecimento e a ação museal, por meio da atuação em redes, capazes de articular
diversos saberes e práticas, em diferentes contextos. Com certeza, nesse novo caminhar, será
impossível trabalhar a pesquisa, o ensino e a extensão, de forma dissociada. Considero que a
área de extensão, nesse novo contexto, terá uma importância vital na construção da
pluriuniversidade, e será responsável por promover transformações importantes na organização
dos currículos dos cursos das diversas áreas, na formação e na carreira docente.
Comentando a importância da extensão para a universidade do séc. XXI, (Santos, 2005, p. 175)
registra que a reforma da universidade deve conferir uma nova centralidade às atividades de
extensão e concebê-las de modo alternativo ao capitalismo global, atribuindo às universidades
uma participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da democracia, na
luta contra a exclusão social e a degradação ambiental e na defesa da diversidade cultural.
Considero que os museus universitários são partes integrante desse contexto e não poderão ficar
ausentes dos programas e projetos de extensão, pois possuem um grande potencial a ser
explorado.
Ainda em relação aos aspectos de gestão, quero chamar a atenção para a necessidade de atribuir
ao planejamento as dimensões social e educativa. O planejamento que estamos propondo é
compreendido como um ato de encontro, de relação e também de poder. É espaço de conflitos,
que implica opções e decisões. Discutir o planejamento museológico é discutir o museu e a
universidade que queremos. O ato de planejar como um ato educativo é uma tarefa vital, união
entre vida e técnica para o bem-estar do homem e da sociedade (Danilo Gandin, 1983). O
planejamento não é apenas uma técnica com o objetivo de melhorar a ação dos museus. É,
sobretudo, um processo de crescimento humano. É um processo educativo de ação e reflexão,
que deve ser alcançado com a participação, deve ser uma prática incorporada ao cotidiano dos
nossos museus e exercitada por todos que estão envolvidos com a sua missão.
Na UFBA, estamos vivendo um momento de novas propostas de ação. O Curso amplia a sua
atuação junto à sociedade, no momento em que se envolve nas ações do Projeto-Piloto de
Formação e Capacitação em Museologia, Eixo 3 da Política Nacional de Museus, e o acolhe
como projeto permanente de extensão, que continuará tendo o apoio do MINC-DEMU-IPHAN.
As ações do Projeto-Piloto, resultado de uma ampla parceria, do envolvimento de profissionais
e estudantes de diferentes áreas, além de criarem uma rede de interação entre os museus da
Capital e do interior do Estado, proporcionaram a oportunidade de abertura de um canal de
comunicação com a Pró-Reitoria de Extensão, cujo compromisso é implantar, na próxima
gestão do Reitor Naomar de Almeida, uma Coordenadoria de Museus da Universidade, com
proposta de construção de uma política museológica para a Universidade, cujos primeiros
passos foram dados na gestão do Pró-Reitor de Extensão, Prof. Manoel José Ferreira de
Carvalho, que, com entusiasmo, mobilizou os Núcleos de Memória, os Museus da UFBA e o
Curso de Museologia para dar os primeiros passos nesse sentido, e que permanece em pauta na
atual gestão do Prof. Álamo Pimentel. A elaboração do projeto de Mestrado em Museologia,
formulado, também, no contexto do Projeto-Piloto, da PNM, está contribuindo para repensar a
graduação e estimulando a criação de núcleos de pesquisa. No interior dos museus, percebe-se o
início de um movimento no sentido de trabalhar de forma mais cooperativa e solidária. A
construção de uma escada interligando os espaços do Museu Afro-Brasileiro e do Museu de
Arqueologia e Etnologia, que estão atuando com loja e bilhete único de entrada, talvez seja mais
uma iniciativa importante dessa nova fase de interação e construção conjunta.
Este Fórum é o resultado da iniciativa de um grupo que vem, ao longo dos anos, repensando e
buscando novas perspectivas para a universidade e para os museus universitários. Ele está
acontecendo em um rico momento de revitalização do campo museológico e de reestruturação
das universidades públicas. Momento em que tanto a pesquisa-ação quanto a ecologia de
saberes situam-se na procura de uma reorientação solidária da relação universidade-sociedade.
Aposto na continuidade da troca, a partir da iniciativa, da criação de espaços de convivência e
da nossa inserção nesse rico processo, de forma prazerosa, considerando as diferentes
identidades e reconhecendo as diferenças. A permanência desse Fórum, por exemplo, é o
resultado do movimento de atores sociais comprometidos com a universidade, com os museus e,
conseqüentemente, com um novo modelo de sociedade.É nossa responsabilidade dar
continuidade a esse debate, tornando-o cada vez mais abrangente e enriquecido por outros
olhares e que possamos criar as condições necessárias para que possa ser revertido em ganhos
reais para a universidade, para os museus e para a sociedade, resultado de um exercício de
prazer e encantamento, que brotará de cada um de nós e dos muitos sujeitos sociais que conosco
estarão envolvidos nessa bela missão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Adriana Mortara. Museus e Coleções Universitárias : por que museus de arte na
Universidade de São Paulo? (Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comunicações e
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MAROEVIC, Ivo. Museology as a Field of Knowledge. In: ICOM International Committee for
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