Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
“Nós, [homem comum] que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que
vivem na base dos pêlos do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos
finos pêlos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico.”
A partir da citação acima, escreva o que você compreendeu sobre a diferença entre o
“homem comum” e o filósofo.
No livro O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder expõe uma situação figurativa para
explicar o que é ser filósofo e o que o diferencia do “homem comum”. Para tanto, ele nos trás
o exemplo de um mágico que retira de sua cartola um coelho que simboliza o mundo.
Nos pêlos desse coelho existem “bichinhos microscópicos”, alguns residem na base
dos pêlos, são os homens comuns, ou seja, pessoas que estão costumadas com o mundo em
que vivem, estão na escuridão da base dos pêlos, não se perguntam sobre o mundo e estão
acomodadas no conforto da pelagem do coelho, aceitando, assim, as coisas como são. Elas
não se questionam, portanto, por que as coisas não são diferentes do que se apresentam a elas,
tendo como verdades, principalmente, o que vêem e o que ouvem.
O filósofo, por sua vez, sobe da base para as pontas dos pêlos do coelho em busca da
iluminação do conhecimento que lhe permite questionar o mundo em que vive, ou seja, a
filosofia existe para fazer questionamento que os “homens comuns” não fazem.
2
Perguntas do “Homem comum” Perguntas do Filósofo
Que horas são? O que é o tempo?
Ele está sonhando. O que é sonho?
Maria ficou maluca. O que é a loucura?
Onde há fumaça, há fogo. O que é causa? O que é efeito?
As flores são bonitas. O que é o belo?
Você é um mentiroso! O que é a verdade? O que é o erro? O que
é a mentira?
Fazer perguntas como as citadas a cima diz respeito à atitude da filosofia. Com estas
perguntas ela quer investigar conceitos, abordando-os de forma crítica e reflexiva.
3
1.2 DEFINIÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE FILOSOFIA
“Não devemos fingir fazer filosofia, e sim realmente faze-la; pois precisamos não da
aparência de saúde, mas de saúde verdadeira”.
Epicuro.
REFLITA: Baseado no que já foi dito em aula e nas definições citadas acima: O que é
filosofia? O que não é filosofia? Para que serve a filosofia?
cartaz. (o que é filosofia, o que não é filosofia, conceitos que podem ser explicados
pela filosofia).
4
TRABALHO EM GRUPO:
A) Filosofia X Mito.
Para explicar a diferença entre filosofia e mito é preciso ter clareza do que seja o mito.
Mito é uma narrativa fantástica sobre a origem de alguma coisa, ele é ausente de ciência, ou
seja, um mito não depende de comprovações de hipóteses, mas depende da confiança entre
quem conta-o e quem o ouve. O mito é, portanto, incontestável e inquestionável.
Hefesto fez uma mulher belíssima chamada Pandora e a apresentou a Zeus antes de ela
descer à superfície da Terra. Zeus, admirado com a obra de Hefesto, despachou Pandora
para a Terra, mas antes lhe deu uma grande e belíssima caixa de marfim ornamentada
fechada e também lhe deu a chave, dizendo-lhe: “Quando você se casar, ofereça esta caixa
como dote ao seu marido, mas a caixa só pode ser aberta após seu casamento”.
Em pouco tempo, Pandora conheceu Epimeteu, irmão mais novo de Prometeu e logo
se casaram. Epimeteu viajava constantemente e, certa vez, ficou muito tempo longe de casa.
Pandora sentia-se só e triste. Lembrou-se da caixa e foi até o canto onde estava guardada
5
examiná-la curiosamente. Enquanto observava os lindos detalhes e adornos externos,
Pandora pareceu ouvir pequenas vozes gritando lá de dentro e dizendo: “Deixe-nos sair! ...
Deixe-nos sair...”. Pandora não podia esperar mais. Foi correndo buscar a chave e
imediatamente abriu a tampa da caixa. Para sua grande surpresa centenas de pequeninas e
monstruosas criaturas, parecendo terríveis insetos, saíram voando lá de dentro, com um
zumbido assustador.Logo a nuvem desses insetos cobriu o sol, e o dia ficou escuro e cinzento.
Apavorada, Pandora fechou a caixa e sentou-se sobre a tampa. Ela estava tendo toda a
espécie de sentimentos e pensamentos sombrios e odiosos que nunca tivera antes. Sentiu
raiva de si mesma por ter aberto a caixa. Sentiu uma grande onda de ciúme de Epimeteu.
Sentiu-se raivosa e irritada. Percebeu que estava doente de corpo e de alma.
Súbito pareceu-lhe ouvir outra voz gritando de dentro da caixa: “Liberte-me! Deixe-me sair
daqui!”. Pandora respondeu rispidamente: “Nunca! Você não sairá ! Já fiz tolice demais em
abrir essa caixa!” Mas a voz prosseguiu de dentro da caixa: “Deixe-me sair, Pandora! Só eu
posso ajudá-la!”
Pandora hesitou, mas a voz era tão doce, e ela se sentia tão só e desesperada,que
resolveu abrir a caixa. De lá de dentro saiu uma pequena fada, com asinhas verdes e
luminosas que clarearam um pouco aquele quarto escuro, aliviando a atmosfera que se
tornara pesada e opressiva. “Eu sou a Esperança”, disse a fada. E prosseguiu: “Você fez
uma coisa terrível, Pandora! Libertou todos os males do mundo: egoísmo, crueldade, inveja,
ciúme, ódio, intriga, ambição, desespero, tristeza, violência e todas as outras coisas que
causam miséria e infelicidade. Zeus prendeu todos esses males nessa caixa e deu a você e a
seu marido. Ele sabia que você iria, um dia, abrir essa caixa. Essa é a vingança de Zeus
contra Prometeu e todos os homens, por terem roubado o fogo dos deuses!
Chorando copiosamente, Pandora disse: “Que coisa terrível eu fiz! Como poderemos
pegar todos esses males e prendê-los novamente na caixa?” “Você nunca poderá fazer isso
Pandora!” Respondeu tristemente a fada da Esperança. “Eles já estão todos espalhados pelo
mundo e não podem mais ser presos!” “Mas há algo que pode ser feito: Zeus enviou-me
também, junto com esses males, para dar esperança aos sofredores, e eu estarei sempre com
eles, para lembrar-lhes que seu sofrimento é passageiro e que sempre haverá um novo
amanhã !”
Conclusão: Portanto, enquanto o mito relata a existência das coisas pela explicação
fantástica, a filosofia se questiona sobre o que são e como tem origem às coisas que existem.
REFLITA: E hoje, após tanto tempo do nascimento da filosofia, nos “livramos” das
explicações mitológicas? Ou, você lembra-se de algum caso em que, por não saber explicar,
relatou ou acreditou em alguma história “suspeita” de ser mitológica?
EXERCÍCIOS:
Diferenciando mito de filosofia: entregar à turma vários tipos de mitos, para que os
alunos façam a leitura dos mesmos. Após este primeiro passo, discutir com os alunos que tipo
de texto é este, para que serve, quando é utilizado, etc. Deixar os estudantes falarem e
contarem outros mitos que eles conheçam.
Os alunos podem também colocar a em prática a sua criatividade e criarem mitos, ou
seja, inventarem explicações para a criação de coisas e acontecimentos da atualidade.
6
TRABALHO EM GRUPO:
B) Filosofia X Religião.
As religiões, assim como o mito, tentem responder por que o Universo e as coisas
presentes nele existem. Porém, diferente dos mitos que são transmitidos levando em conta
apenas à confiança existente na relação narrador-ouvinte, a religião utiliza a institucionalização
do sentimento do sagrado, o que implica em rotinas e dogmas, comemorados em rituais,
visando rememorar e fixar o acontecimento mítico primordial.
Em se tratando da filosofia, podemos dizer que ela diverge da religião quanto ao
caminho para se chegar à verdade. Enquanto a filosofia utiliza-se da razão, do pensamento
lógico (veremos o que é isto mais adiante) para chegar à verdade, a religião acredita chegar a
ela pelas escrituras e pela revelação baseada na fé.
A religião trata de muitas questões que a filosofia também se debruça, mas a primeira
atribui mais valor à fé do que à aplicação das faculdades da razão aceita pela filosofia.
C) Filosofia X Ciência.
Enquanto a ciência explica as coisas através dos cinco sentidos, começando pela
observação dos fatos e perpassando por outras fases no intuito de confirmar ou refutar
hipóteses, a filosofia vai além das indagações científicas. Ela ultrapassa o ponto em que a
ciência poderia nos fornecer respostas.
Assim, por exemplo, enquanto a pergunta “por que as coisas existem?” é explicada pelos
cientistas através do Big Bang, a filosofia, neste caso, poderia se perguntar “por que há
alguma coisa e não nada?”, e a esta pergunta a ciência não teria resposta.
7
em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico.
4. este período alcança Roma e os primeiros padres da igreja, a
filosofia ocupa-se com as questões da ética, do conhecimento
humano, e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com
Deus.
Filosofia patrística A patrística resultou do esforço feito por dois apóstolos: Paulo e
(I d.C. – VII d.C.) João e pelos primeiros padres da igreja para conciliar a nova religião
– o cristianismo – com o pensamento filosófico dos gregos e
romanos. A filosofia patrística liga-se a tarefa religiosa da
evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos
e morais que recebia dos antigos.
Filosofia medieval É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e
(VII d.C. – XIV d.C.) coroava reis, organizava cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das
catedrais, as primeiras universidades ou escolas. Sendo chamada, a
partir do século XII, com o nome de Escolástica. Teve como
influencias principais: Platão e Aristóteles. Durante este período
surge propriamente a filosofia cristã, a teologia. Um de seus temas
mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma.
Filosofia da É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na
renascença Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela
(XIV d.C. – XVI d.C) recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e
romanos.
8
1.5 NASCIMENTO DA FILOSOFIA:
A filosofia nasceu na Grécia no final do século VII e início do século VI antes de Cristo.
OS PRÉ-SOCRÁTICOS:
Os primeiros filósofos que existiram na Grécia queriam descobrir qual era a substância
básica que estava por trás de todas as transformações, ou seja, queriam entender os fenômenos
naturais. Por isso, ficaram sendo denominados de “filósofos da natureza”. Vejamos alguns:
1. TALES DE MILETO: Tales acreditava ser a água o que dava origem a todas as coisas.
3. PARMÊNIDES: acreditava que tudo que existe sempre existiu e que, portanto, nada pode
surgir do nada ou se transformar em algo diferente do que é. Assim, dizia que as
transformações do mundo que percebemos através dos sentidos é uma ilusão destes. Ele
acreditava apenas no que sua razão lhe dizia.
4. HERÁCLITO: Ao contrário de Parmênides, ele acreditava nos sentidos e dizia que tudo
está em movimento e nada dura pra sempre. Assim, ele dizia que “não podemos entrar duas
vezes no mesmo rio”, pois tanto o rio, quanto nós mudamos constantemente. Para Heráclito o
mundo é uma interação de opostos, ou seja, para saber o que é a paz é preciso a guerra, para
saber o que é a verdade é preciso a mentira, etc.
5. EMPÉDOCLES: Dizia que tanto Parmênides quanto Heráclito haviam errado, pois
assumiram apenas um elemento como substância principal. Porém, concordava com
Parmênides, pois um elemento sozinho não se transforma (lembre-se de suas aulas de
química) e concordava com Heráclito quando este dizia que devemos confiar em nossos
sentidos, pois a natureza está em transformação.
Empédocles dizia que haviam quatro elementos básicos: a terra, o ar, o fogo e a água.
Estes elementos se combinavam e depois voltavam a se separar para então se combinarem
novamente.
6. DEMÓCRITO: Dizia ser o átomo a menor unidade da matéria (hoje se sabe que isto não é
verdade), sendo ele eterno, imutável e indivisível (influência de Parmênides). Estes átomos
9
que são unidades firmes e sólidas ao se unirem dão origem a formas diferentes que vem e vão
(influência de Heráclito).
OBSERVAÇÃO: Saber o que cada “filósofo da natureza” defende não é o mais importante.
Porém, é preciso ter claro que eles passaram a explicar o mundo de outra maneira, não mais
pautados pelas explicações míticas, mas baseados na observação empírica da natureza, dando
origem a forma científica de pensar.
PERÍODO ANTROPOLÓGICO:
2. SÓCRATES:
Sócrates era filho de uma parteira e de um escultor e, inspirado em seus pais, tinha a
intenção de esculpir um homem que fosse capaz de dar a luz a suas próprias idéias. Pela sua
abordagem antropológica, ou seja, por interessar-se por questões humanas, atribui-se a ele a
frase “conhece-te a ti mesmo”, inscrita no Oráculo de Delfos.
Sócrates desenvolvia sua filosofia em praça pública, dialogando com todos: jovens e
velhos, ricos e pobres, escravos e cidadãos. Ele procurava a essência de questões feitas pelo
homem como: O que é bem? O que é justiça? O que é a virtude?, ou seja, ele queria descobrir
10
o que esses conceitos eram em sua validade universal. Para tanto, sua filosofia era
desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser
divididos em dois momentos: a ironia e a maiêutica.
Sócrates – Falaste admiravelmente, Céfalo. Mas é que se deve entender por essa
mesma qualidade, a justiça, a que te referes? Devemos defini-la como nem mais
nem menos que veracidade e restituição do que um homem recebeu de outro? Ou
é possível, por atos desta mesma natureza, ser as vezes justo, as vezes injusto?
Exemplificando: todos admitem sem dúvida que, se um homem, na posse de suas
faculdades, pusesse armas perigosas nas mãos de um amigo, e, mais tarde, em um
acesso de loucura as reclamasse, aquele não deveria restituir o depósito e
praticaria uma injustiça se o fizesse ou dissesse ao tal toda a verdade a respeito do
seu estado mental.
Céfalo – Dizes bem.
Sócrates – Logo, é falsa definição de justiça a que a faz consistir em dizer a
verdade e restituir o que se recebeu.
Maiêutica: Termo grego que significa “arte de trazer luz”. Depois de libertar os
discípulos da pretensão de que tudo sabiam Sócrates, nesta segunda fase do diálogo, tinha
como objetivo ajudá-los a conceber suas próprias idéias. Assim, a exemplo de sua mãe, que,
sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo, Sócrates transportava para o campo da
filosofia a intenção de ajudar seus discípulos a parir suas próprias idéias.
Como vimos, Sócrates dialogava com todos (jovens e velhos ricos e pobres, escravos e
cidadãos). Tal atitude era vista pela democracia ateniense, da qual não participava a maioria
da população (escravos, estrangeiros e mulheres), como uma conduta subversiva que
representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente já que
Sócrates não fazia distinções de classe ou posição social dos que com ele dialogavam. Por
esse motivo, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a
juventude, sendo condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta de mesmo nome).
Sócrates morreu sem ter renunciado a seus maiôs caros valores morais.
A morte de Sócrates é contada por seu discípulo Platão no diálogo Fédon:
11
passaram as coisas, a não ser que ele morreu depois de ter bebido o veneno. E de
tudo o mais, nada conseguimos saber.
OBSERVAÇÃO: Esse é apenas o início do diálogo. Se você, assim como Echecrates, quer
saber como Sócrates morreu e de que falou antes de morrer, leia-o até o fim.
3. PLATÃO: Nascido em Atenas (427-347 a.C) pertencia a uma das mais nobres famílias
atenienses. Ele foi discípulo de Sócrates e após a morte de seu mestre empreendeu inúmeras
viagens. Em 387 a. C. retornou a Atenas, onde fundou sua escola a Academia. Um dos
aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, com a qual procura
explicar como se desenvolve o conhecimento humano: passagem do “mundo dos sentidos”
para o “mundo das idéias”.
Segundo Platão a primeira etapa de nosso conhecimento se dá pelas impressões ou
sensações advindas do mundo dos sentidos. Essas impressões são responsáveis pelas opiniões
(doxa) que temos da realidade. No entanto, o conhecimento que vem dos sentidos não são
confiáveis, pois estão em constante transformação (influência de Heráclito) e deles nada
podemos verdadeiramente conhecer ou afirmar.
O conhecimento, entretanto, para ser autêntico e atingir o domínio do eterno e
imutável (influencia de Parmênides), deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o
plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir
esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia), mas precisa
possuir um “amor ao saber” (filosofia).
É no mundo das idéias, que segundo Platão, moram os seres totais e perfeitos: a
justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria, etc.
O mito da caverna: Platão criou uma alegoria, conhecida como mito ou alegoria da
caverna, que serve para explicar a evolução do processo de conhecimento.
12
13
14
15
16
EXERCÍCIO: O que você compreendeu da charge? De que maneira podemos dizer que a
“idéia” presente no mito da caverna de Platão pode ser estendida ao nosso dia-a-dia? (fazer
em grupo e entregar no final da aula).
Os filósofos no poder: Desiludido com a democracia grega que matara seu mestre
Sócrates, Platão em seu livro A República, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-
filósofos. Ele comparou a sociedade com o corpo humano. No baixo-ventre, onde estão os
desejos ou prazer deveriam ficar os trabalhadores que precisam ser controlados. No peito,
onde reside à vontade, deveriam encontrar-se os sentinelas, para mostrar coragem e na cabeça,
onde encontra-se a razão devem estar os filósofos para que aspirem a sabedoria. Para Platão,
portanto, somente os filósofos, amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna
das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria.
17
A nova interpretação para as mudanças do ser: Assim como Platão, retoma a
discussão sobre o caráter estático (Heráclito) e permanente (Parmênides) do ser. Para resolver
esta questão, Aristóteles propõe um nova interpretação segundo a qual em todo ser devemos
distinguir: o ATO como manifestação atual do ser, aquilo que já existe; e a POTÊNCIA como
as possibilidades do ser, aquilo que ainda não é mas pode vir a ser. Exemplo: a árvore que
está sem flores pode tornar-se com o tempo uma árvore florida. Ao adquirir flores, essa árvore
manifesta em ato aquilo que já continha, intrinsecamente, em potência. Por outro lado, pode
acontecer que pelas condições climáticas, uma árvore que deve dar flores não venha a
florescer. Esse caso Aristóteles classifica como um acidente, ou seja, algo que não ocorre
sempre, é circunstancial e por isso não-essencial ao ser, não necessários para definir a
natureza própria de cada ser.
A passagem da potência ao ato não se dá ao acaso, mas é causada. Para ele, existem
quatro tipos de causas fundamentais: causa material (refere-se a matéria de que é feita uma
coisa), causa formal (refere-se a forma, a configuração de uma coisa), causa eficiente (refere-
se ao agente que produziu a coisa) e causa final (refere-se ao objetivo de ser de uma coisa).
18
2. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA POLÍTICA
A filosofia política visa fazer uma reflexão sobre os fenômenos políticos1. Esta análise
possui fundamentalmente os seguintes objetivos: 1) determinar as características próprias do
fenômeno político e os elementos que o distinguem de outros fenômenos existentes no vasto
campo dos fenômenos sociais; 2) avaliar criticamente o método seguido pelos estudiosos que
se ocupam/ocuparam de tais fenômenos; 3) avaliar as razões por eles propostas para explicar
as relações entre os fenômenos políticos e os demais fenômenos; e, por fim, 4) examinar os
vários modelos ideais de uma sociedade perfeita que influenciaram de alguma forma na
construção do pensamento político de inúmeros pensadores.
Segundo Norberto Bobbio (2000), pode-se distinguir a filosofia política pelo menos
em quatro diferentes formas:
II – Filosofia Política como busca do fundamento que legitima o poder: esta forma
busca fazer a análise do fundamento das relações políticas, das razões do vínculo de
dependência que elas comportam, ou seja, determinar o porquê do Estado, os motivos que
explicam a obediência que os homens prestam ou negam ao poder.
Vários pensadores modernos e contemporâneos se ocuparam largamente de tal
concepção de filosofia política. Max Weber, por exemplo, expõe três formas de legitimação
do poder: 1) Tradicional (obediência ao poder aceita por tradição, por exemplo, o pátrio poder
ou uma monarquia absolutista hereditária); 2) Carismática (sujeição da maior parte das
pessoas à ações de um líder que pelo seu carisma conquista o consenso); e 3) Racional
(obediência ou sujeição aceita por meio de determinação consciente como um cálculo
utilitário por exemplo). Outros exemplos são Hobbes, Locke e Rousseau, este último
inclusive fazendo uma distinção entre a existência do poder e sua legitimidade que se dá
através da aceitação do poder de um indivíduo ou grupo de indivíduos por parte da maioria.
Em geral, teorias da legitimação limitam-se a indicar em que condições o poder deve
se submeter para ser aceito como válido, deixando indeterminados os modos pelos quais essas
condições podem ser de fato realizadas. Um exemplo disso é a existência de uma
multiplicidade de sistemas políticos justificados por um único princípio, o “princípio
democrático”.
1
Fenômeno: designa um objeto específico do conhecimento humano que é percebido pelo aparato cognoscível
humano sob condições particulares. Um dos objetivos da filosofia política é determinar que condições
particulares são estas que permitem que um fenômeno possa ser denominado como sendo político.
19
III – Filosofia Política como determinação do conceito ou categoria do político:
esta terceira forma busca determinar o conceito geral de política, do que a caracteriza como
um fenômeno distinto de outros fenômenos sociais.
Benedetto Croce, em sua análise sobre a filosofia política, expõe que esta foi iniciada
com a descoberta da autonomia da política, na identificação de características e leis próprias
da atividade política, distintas especialmente da moral. Neste sentido, Maquiavel seria o
descobridor da categoria da política por ser o primeiro pensador a distinguir entre política e
moral, identificando nas primeiras leis próprias muitas vezes antagônicas à moral.
O principal problema desta definição de filosofia política é que ela é exclusiva.
Seguindo fielmente tal forma, deixaríamos de tratar como filosofia política obras de
pensadores como Rousseau, Hegel, Marx, Aristóteles, Stuart Mill entre muitos outros. É
inegável admitir que tais pensadores “filosofaram” sobre a política, mesmo que não seja da
mesma forma que Maquiavel.
Alguns autores importantes que seguiram a fórmula de Maquiavel: Gaetano Mosca e
Vilfredo Pareto – disseram que a essência do fenômeno político consiste na imposição do
poder por parte de uma minoria sobre uma maioria (por exemplo, governantes sobre uma
sociedade).
Carl Schmitt – encontrou o que é próprio da política na relação amigo-inimigo, na
solidariedade do grupo perante o desafio ou a ameaça de um adversário (como quando a
maior parte dos norte-americanos era a favor da invasão do Afeganistão).
Em ambos os casos, a filosofia política é atribuída a função de determinar as
características diferenciais do fenômeno político, sendo este reduzido, em última instância, a
uma relação de forças.
EXERCÍCIOS:
20
4) Apresentação do que pode ser compreendido por filosofia política (baseado no texto
acima).
5) Análise dos discursos lidos em sala de aula baseada nas acepções de filosofia política
propostas por Bobbio apresentadas durante a aula.
A institucionalização do poder
21
Desse modo, ocorre a institucionalização do poder, que não mais se identifica com
aquele que o detém, pois este é mero depositário da soberania popular. O poder se torna um
poder de direito, e sua legitimidade repousa, não no privilégio, não no uso da violência, mas
do mandato popular.
O súdito, na verdade, torna-se cidadão, já que participa da comunidade cívica. Não
havendo privilégios, todos são iguais e têm os mesmos direitos e deveres.
A fragilidade da democracia:
22
EXERCÍCIO:
O analfabeto político
Bertolt Brecht
Vamos Praticar:
23
O ato de refletir e questionar devem ser um exercício diário para todos nós. Por que então
mencionar a respeito da desigualdade social pode se tornar um “ato perigoso”? Responda de
acordo com o que você entendeu da charge:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Democracia e cidadania
Se até hoje temos nos contentado com a democracia representativa, não há como deixar
de sonhar com mecanismos típicos da democracia direta que possibilitem a presença mais
constante do povo nas decisões de interesse coletivo.
Na Constituição brasileira de 1988 foi introduzida a “iniciativa popular de projetos de
leis”, através de manifestação do eleitorado, mediante porcentagem mínima estipulada
conforme o caso. Essa forma de atuação ainda será regulamentada e devem ser enfrentadas
dificuldades as mais diversas para o exercício efetivo. Mas alguns poderiam argumentar: para
participar enquanto cidadão pleno é preciso que haja politização, caso contrário haverá apatia
ou manipulação. Daí o desafio: quem educa o cidadão?
24
Cidadania se aprende no exercício mesmo da cidadania. Embora a escola seja aliada
importante, não é nela fundamentalmente que se dá a aprendizagem, pois há o risco da
ideologia e do discurso vazio, quando o ensino não é acompanhado de fato pela ampliação
dos espaços de atuação política do cidadão na sociedade.
A participação popular se intensifica com as já referidas organizações saídas da
sociedade civil. Essas organizações, ao colocarem seus representantes em confronto com o
poder constituído, tornam-se verdadeiras escolas de cidadania. O importante do processo é
que, ao lado dos outros poderes, como o poder oficial do município, do estado e federal, e o
poder das elites econômicas, desenvolve-se o poder alternativo. Ou seja, o esforço coletivo na
defesa de interesses comuns transforma a população amorfa, inexpressiva e despolitizada em
comunidade verdadeira.
Na luta contra a tirania e o poder arbitrário, nem as regras da moral, nem apenas as leis
impedirão o abuso do poder. Na verdade, como já dizia Montesquieu, só o poder controla o
poder.
25
26
27
Questões para reflexão:
2. Com base na situação visualizada na charge, pode-se dizer que o povo teve uma atitude
cidadã? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Para você, o que significa a frase: “Em terra de cego, quem tem um olho é mentiroso”!
Responda de acordo com as suas palavras.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
28
2.3 O PENSAMENTO DE MAQUIAVEL:
TEXTOS DE MAQUIAVEL
O Amor à Liberdade
Percebe-se facilmente de onde nasce o amor à liberdade dos povos; a experiência nos mostra
que as cidades crescem em poder e em riqueza enquanto são livres. É maravilhoso, por
exemplo, como cresceu a grandeza de Atenas durante os cem anos que se sucederam à
29
ditadura de Pisístrato. Contudo mais admirável ainda é a grandeza alcançada pela república
romana depois que foi libertada dos seus reis. Compreende-se a razão disso: não é o interesse
particular que faz a grandeza dos Estados; mas o interesse coletivo. E é evidente que o
interesse comum só é respeitado nas repúblicas: tudo o que pode trazer vantagem geral é nelas
conseguido sem obstáculos. Se uma certa medida prejudica um ou outro indivíduo, são tantos
os que ela favorece, que se chega sempre a fazê-la prevalecer, a despeito das resistências,
devido ao pequeno número de pessoas prejudicadas.” (Do Livro: "Comentários sobre a
primeira década de Tito Lívio", II, 2º)
Observância da Lei
Não observar uma lei é dar mau exemplo, sobretudo quando quem a desrespeita é o seu autor;
é muito perigoso para os governantes repetir a cada dia novas ofensas à ordem pública. ....É
perigoso para uma república ou para um príncipe manter os cidadãos em regime de terror
contínuo, atingindo-os sem cessar com ultrajes e suplícios. Nada há de mais perigoso do que
esse tipo de procedimento, porque os homens que temem pela própria segurança começam a
tomar todas as precauções contra os perigos que os ameaçam. Depois, sua audácia cresce, e
em breve nada mais pode conter sua ousadia. Por isso, é necessário ou não atacar ninguém ou
então cometer ao mesmo tempo todas as ofensas, dando garantias, em seguida, aos cidadãos,
para restaurar sua confiança e a tranqüilidade geral. (Comentários sobre o primeira década de
Tito Lívio, 1, 45º)
A apoio do povo
Chegamos agora ao caso do cidadão que se toma soberano não por meio do crime, ou da
violência intolerável, mas pelo favor dos seus concidadãos: é o que se poderia chamar de
governo civil. Chegar a essa posição dependerá não inteiramente do valor ou da sorte, mas da
astúcia assistida pela sorte . Chega-se a ela com o apoio da opinião popular ou da aristocracia.
Em todas as cidades se podem encontrar esses dois partidos antagônicos, que nascem do
desejo do povo de evitar a opressão dos poderosos, e da tendência destes últimos para
comandar e oprimir o povo. Desses dois interesses que se opõem surge uma de três
conseqüências: o governo absoluto, a liberdade ou a desordem. [... ] quem se tornar um
príncipe pelo favor do povo deve manter sua amizade - o que não lhe será difícil, pois a única
coisa que o povo pede é não ser oprimido. Mas aquele que chega ao poder apoiado pelos
nobres, contra os desejos do povo, deve acima de tudo procurar conquistar a amizade deste - o
que conseguirá facilmente, se o proteger. Os homens que recebem o bem quando esperavam
o mal se sentem ainda mais obrigados com relação ao benfeitor; por isso a massa logo se
tornará ainda mais bem disposta em relação ao príncipe do que se ela própria lhe tivesse dado
o poder. O príncipe poderá ganhar a simpatia do povo de muitas formas, de acordo com as
circunstâncias, pois nesse ponto não há regra que possa ser estabelecida, razão pela qual não
30
insistirei no assunto. Direi apenas, concluindo, que é necessário que o príncipe tenha o favor
do povo; senão, lhe faltarão recursos na adversidade. ("O príncipe", IX)
Os conflitos na República
Não quero silenciar sobre as desordens ocorridas em Roma, entre a morte dos Tarquínio e o
estabelecimento dos tribunos. Mas não aceitarei as afirmativas dos que acham que aquela foi
uma república tumultuada e desordenada, inferior a todos os outros governos da mesma
espécie a não ser pela boa sorte que teve, e pelas virtudes militares que lhe compensaram os
defeitos. Não vou negar que a sorte e a disciplina tenham contribuído para o poder de Roma;
mas não se pode esquecer que uma excelente disciplina é a conseqüência necessária de leis
apropriadas, e que em toda parte onde estas reinam, a sorte, por sua vez, não tarda a
brilhar.Examinemos, porém, as outras particularidades de Roma. Os que criticam as contínuas
dissensões, entre os aristocratas e o povo parecem desaprovar justamente as causas que
asseguraram fosse conservada a liberdade de Roma, prestando mais atenção aos gritos e
rumores provocados por tais dissensões do que aos seus efeitos salutares. Não querem
perceber que há em todos os governos duas fontes de oposição: os interesses do povo e os da
classe aristocrática. Todas as leis para proteger a liberdade nascem da sua desunião, como
prova o que aconteceu em Roma, onde, durante os trezentos anos e mais que transcorreram
entre os Tarquínio e os Graco, as, desordens havidas produziram poucos exilados, e mais
raramente ainda fizeram correr o sangue. Não se pode, portanto, considerar essas dissensões
como funestas, nem o Estado como inteiramente dividido, pois durante tantos anos tais
diferenças só causaram o exílio de oito ou dez pessoas, e a morte de bem poucos cidadãos,
sendo alguns outros multados. Não se pode de forma alguma acusar de desordem uma
república que deu tantos exemplos de virtude, pois os bons exemplos nascem da boa
educação; a boa educação das boas leis; e estas, das desordens que quase todos condenam
irrefletidamente. De fato, se se examinar com atenção o modo como tais desordens
terminaram, ver-se-á que nunca provocaram o exílio, ou violências prejudiciais ao bem
público, mas que, ao contrário, fizeram nascer leis e regulamentos favoráveis à liberdade de
todos. (Do Livro: "Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio", I, 4º)
31
se arruinará, se não alterar seu procedimento. Não há homem tão prudente que possa adaptar-
se a esse fato - ou porque não se consegue desviar do rumo a que o inclinou a natureza, ou
porque, tendo sempre prosperado no único caminho utilizado, não se convence de que será
oportuno abandoná-lo. “
Não se pode, contudo, chamar de valor o assassínio dos seus compatriotas, à traição dos
amigos, a conduta sem fé, piedade e religião; são métodos que conduziu ao poder, mas não à
glória. Se considerarmos o valor demonstrado por Agátocles em enfrentar e superar perigos, e
sua grandeza de ânimo ao suportar e vencer obstáculos, não há razão para julgá-lo inferior a
qualquer um dos capitães mais afamados. Contudo sua desumanidade, sua crueldade bárbara,
juntamente com as atrocidades incontáveis que praticou, não permitem nomeá-lo entre os
homens mais famosos. Não se pode de qualquer forma atribuir ao valor ou à sorte o que ele
conseguiu prescindindo de ambos. ("O príncipe”, XXV)
32
homens têm menos escrúpulos em ofender quem, se faz amar do que quem se faz temer, pois
o amor é mantido por uma corrente de obrigações que se rompe quando deixa de ser
necessária já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo da punição, que
nunca falha. ("O príncipe", XVII)
O papel da religião
Nossa religião... só santifica os humildes, os homens inclinados à contemplação, e não à vida
ativa. Para ela, o bem supremo é a humildade,o desprezo pelas coisas do mundo. Já os pagãos
davam a máxima importância à grandeza d’alma, ao vigor do corpo, a tudo, enfim, que
contribuísse para tornar os homens robustos e corajosos. Se a nossa religião nos recomenda
hoje que sejamos fortes, é para resistir aos males, e não para incitar-nos a grandes
empreendimentos. Parece que essa moral tornou os homens mais fracos, entregando o mundo
à audácia dos celerados. Estes sabem que podem exercer sem medo a tirania, vendo os
homens prontos a sofrer sem vingança todos os ultrajes, na esperança de conquistar o paraíso.
33
3) Não existe comunidade política. A sociedade é dividida entre os GRANDES, que querem
oprimir, e os PEQUENOS, o POVO, que não quer ser oprimido. Ou seja, apesar de
Maquiavel não usar o termo classe podemos afirmar que bem antes de Marx percebeu que a
sociedade é dividida em classes sociais.
4) VIRTÙ = tem virtú o governo que sabe agir de acordo com as circunstâncias sem se deixar
perturbar pela diferença entre virtude e vício. Por isso a virtú sempre é oscilante, flexível e só
com ela pode ser enfrentada a FORTUNA. Para isso o príncipe tem que ser pudente,
autoconfiante, firme, decidido, não ser odiado, tomar partido e não se manter neutro, SER
SÁBIO.
7) O governo tem que ter apoio do povo para se manter no poder porque são em maior
número. O povo consente em obedecer para se livrar da opressão dos grandes e se for tratado
bem pelo governo. A fortaleza do príncipe (governo) está no povo.
9) Política: tem a ver com a verdade efetiva das coisas e não com a imaginação sobre elas.
Não deve se trocar o que se faz pelo que se deveria fazer. A política exige EFICIÊNCIA,
RESULTADOS.
10) Governante: misto de homem (leis) e animal (força). Animal: LEÃO (amedronta os lobos
mas cai nos laços) e RAPOSA (escapa dos laços mas não dos lobos).
12) O conflito não é mal por princípio, pode levar a leis melhores e maior justiça..
13) Melhor regime para Maquiavel: REPÚBLICA. Se for o BEM COMUM que engrandece
as cidades este é observado somente nas Repúblicas (= participação popular e liberdade). A
Monarquia é aceita em períodos onde domina a corrupção e a desigualdade (= domínio dos
grandes). Mas após o saneamento deve vir a República. Na República a manutenção da
liberdade deve ser confiada à coletividade dos cidadãos e aos excelentes, que tem boa
reputação. A reputação é legítima. O perigo está em estar acima do bem coletivo. Por isso é
boa a reputação adquirida quando se age pelo bem comum. A reputação originada por via
privada, através do "favor popular", é perigosa e nociva à República, pois pode introduzir o
poder tirânico.
34
15) Maquiavel se coloca contra a TIRANIA que visa interesses particulares e egoístas.
16) Por isso cidadão é aquele que tem afeição não à pessoa do governante mas às leis e
instituições. A criação de laços pessoais promove a particularização do que é público.
17) O que honra o governante são AS LEIS E INSTITUIÇÕES que são os principais
fundamentos do Estado.
19) Maquiavel propõe a imitação dos homens de virtù porque tem como princípio a
imutabilidade do homem e da natureza. . "Isto porque, como todas as coisas são executadas
por homens que têm e terão sempre as mesmas paixões, não podem deixar de apresentar os
mesmos resultados" (Discorsi, III, 43).
20) Estudo da História - só tem sentido se for útil para o presente. Procura-se extrair lições do
passado para aplicá-las no presente e ao futuro. A história se converte em instrumento da
educação.
21) Religião - interessa na medida em que contribui para a ordem, paz, submissão ás leis e
obediência dos súditos aos dirigentes. O mau uso da religião produz a descrença nas
divindades e isto é perigoso para o Estado facilitando o caminho para a corrupção. O temor à
divindade constitui uma alternativa ao emprego da violência. O Catolicismo da sua época é
criticado pois prega o desprezo pelas coisas deste mundo e exalta a humildade e o apego a
valores extraterrestres. Não forma para a luta, para o enfrentamento como a religião romana.
22) O melhor regime político é a República (Maquiavel escreve mais sobre ela no seu livro,
pouco conhecido, intitulado: “Comentários à primeira década de Tito Lívio). Mas quando o
governante se depara com um Estado corrompido a solução é a MONARQUIA. Só a
monarquia, com um poder forte, pode conter os grandes e acabar com a corrupção. ESTE É O
CONTEXTO DE “O PRÍNCIPE”. Mas mesmo assim Maquiavel prefere o PRÍNCIPE
(monarca) NOVO ao PRÍNCIPE HEREDITÁRIO. O príncipe novo para se manter precisa do
apoio do povo: “aquele que, contra o povo e pelo favor dos grandes, se torna príncipe, deve,
antes de qualquer coisa procurar conquistar o povo” (O Príncipe, 9:272). Isto expressa a sua
ruptura com a estrutura política feudal.
23) POVO para Maquiavel: pequena e média burguesia ligada às corporações de ofício. Esta
participava politicamente nas cidades-estado republicanas. O mesmo não se pode dizer em
relação ao popolo magro (desvinculado de qualquer corporação, sem especialização,
miseráveis).
24) A república perfeita caracteriza-se pelo EQUILÍBRIO DE FORÇAS que se torna real
quando os diferentes grupos sociais detêm uma parcela de poder, de modo que possam
controlar-se mutuamente (Discorsi I, 2:81). “O poder dos tribunos da plebe foi grande em
Roma e, como dissemos mais de uma vez, necessário, pois de outro modo não teria sido
possível frear a ambição da nobreza...” (Discorsi, III, 11:216). A sobrevivência do regime
republicano depende da capacidade do governante em estabelecer medidas que garantam a
LIBERDADE. Esta tarefa deve ser confiada à maioria, isto é, ao POVO: “nunca se deve
35
permitir, numa cidade, que a minoria (i pochi) possa tomar alguma deliberação entre aquelas
que ordinariamente são necessárias à manutenção da república” (Discorsi, I, 50:132).
36
Estado a um monstro todo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da
sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas “o homem era o lobo do
próprio homem”, vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir
sua própria sobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder
a um só homem, que seria o rei, para que ele governasse todos os demais, eliminando a
desordem e dando segurança a todos.
John Locke (1632 – 1704): filósofo inglês, considerado por muitos como o “Pai do
Iluminismo”. Sua principal obra é o Ensaio sobre o entendimento humano, em que afirma
que nossa mente é uma tabula rasa, sem nenhuma idéia. Tudo o que adquirimos é devido à e
experiência. Para ele, nossas primeiras idéias vêm à mente através dos sentidos. Depois,
combinando e associando as primeiras idéias simples, a mente forma idéias cada vez mais
complexas. Em resumo, todo o conhecimento humano chega à
nossa mente através dos sentidos e, depois, desenvolve-se pelo
esforço da razão. Em termos políticos, Locke condenou o
absolutismo monárquico, revelando sua grande preocupação em
proteger a liberdade individual do cidadão.
Para ele, o consentimento dos homens ao aceitarem o poder
do corpo político instituído não retira seu direito de insurreição,
caso haja necessidade de limitar o poder do governante. Além
disso, o Parlamento se fortalece enquanto legítimo canal de
representação da sociedade, e deve ter força suficiente para
controlar os excessos do Executivo.
Rousseau vai mais longe ainda, atribuindo a soberania ao “povo incorporado”, isto é ao
povo enquanto corpo coletivo, capaz de decidir o que é melhor para o todo social. Com isso
desenvolve a concepção radical da democracia direta, em que o cidadão é ativo, participante,
fazendo ele próprio as leis nas assembléias públicas.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra na Suíça, transferindo-se
para a França em 1742, onde escreveu suas grandes obras.
Entre elas podemos destacar O contrato social, na qual expôs
a tese de que o soberano deveria conduzir o Estado segundo a
vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o
atendimento do bem comum. Somente esse Estado, de bases
democráticas, teria condições de oferecer a todos os cidadãos
um regime de igualdade jurídica. Em outra de suas importantes
obras, o Discurso sobre a origem da desigualdade entre os
homens, Rousseau glorificou os valores da vida natural e
atacou a corrupção, a avareza e os vícios da sociedade
civilizada. Fez inúmeros elogios à liberdade que desfrutava o
selvagem, na pureza do seu estado natural, contrapondo-se à
falsidade e ao artificialismo do homem civilizado. Rousseau
tornou-se célebre como defensor da pequena burguesia e
inspirador dos ideais que estiveram presentes na Revolução Francesa.
Rousseau, na verdade, antecipa algumas das críticas que no século seguinte os
socialistas farão ao liberalismo. Denuncia a propriedade como uma das causas da origem da
37
desigualdade e, ao desenvolver os conceitos de vontade geral e cidadania ativa, rejeita o
elitismo da tradição burguesa do seu tempo.
Além disso, as teorias contratualistas se baseiam em uma concepção individualista da
sociedade, o que é típico do pensamento liberal. A sociedade é compreendida como a
somatória dos indivíduos, e o Estado têm por fim garantir que os interesses particulares
possam coexistir em harmonia. Esta concepção será criticada pelas teorias socialistas.
Apesar das diferenças, o que existe em comum nas teorias contratualistas é a ênfase no
caráter racional e laico ( não-religiosos) da origem do poder. É o próprio homem que dá o
consentimento para a instauração do poder, reafirmando assim o valor absoluto do indivíduo e
do cidadão.
A concepção de Rousseau (no século XVIII), segundo a qual, em estado de natureza, os
indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá,
desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa língua
generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a
forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. A
divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de sociedade,
que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da guerra de todos contra todos.
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma
percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da
força. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidem
passar à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder político e as leis.
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato
social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens,
riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e
aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania.
Como é possível o contrato ou o pacto social? Qual sua legitimidade? Os teóricos
invocarão o Direito Romano – “Ninguém pode dar o que não tem e ninguém pode tirar o que
não deu” – e a Lei Régia romana – “O poder é conferido ao soberano pelo povo” – para
legitimar a teoria do contrato ou do pacto social.
Parte-se do conceito de direito natural: por natureza, todo indivíduo tem direito á vida,
ao que é necessário à sobrevivência de seu corpo, e à liberdade. Por natureza, todos são livres,
ainda que, por natureza, uns sejam mais forte e outros mais fracos. Um contrato ou um pacto,
dizia a teoria jurídica romana, só tem validade se as partes contratantes foram livres e iguais e
se voluntária e livremente derem seu consentimento ao que está sendo pactuado.
A teoria do direito natural garante essas duas condições para validar o contato social ou
o pacto político. Se as partes contratantes possuem os mesmos direitos naturais e são livres,
possuem o direito e o poder para transferir a liberdade a um terceiro, e se consentem
voluntária e livremente nisso, então dão ao soberano algo que possuem, legitimando o poder
da soberania. Assim, por direito natural, os indivíduos formam a vontade livre da sociedade,
voluntariamente fazem um pacto ou contrato e transferem ao soberano o poder para dirigi-los.
Para Hobbes, os homens reunidos numa multidão de indivíduos, pelo pacto, passam a
constituir um corpo político, uma pessoa artificial criada pela ação humana e que se chama
Estado. Para Rousseau, os indivíduos naturais são pessoas morais, que, pelo pacto, criam a
vontade geral como corpo moral coletivo ou Estado.
A teoria do direito natural e do contrato evidencia uma inovação de grande importância:
o pensamento político já não fala em comunidade, mas em sociedade. A idéia de comunidade
pressupõe um grupo humano uno, homogêneo, indiviso, que compartilha os mesmos bens, as
mesmas crenças e idéias, os mesmos costumes e que possui um destino comum.
38
Quem é o soberano? Hobbes e Rousseau diferem na resposta a essa pergunta
Para Hobbes, o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma assembléia
democrática. O fundamental não é o número dos governantes, mas a determinação de quem
possui o poder ou a soberania. Esta pertence de modo absoluto ao Estado, que, por meio das
instituições públicas, tem o poder para promulgar e aplicar as leis, definir e garantir a
propriedade privada e exigir obediência incondicional dos governados, desde que respeite
dois direitos naturais intransferíveis: o direito à vida e à paz, pois foi por eles que o soberano
foi criado. O soberano detém a espada e a lei; os governados, a vida e a propriedade dos bens.
Para Rousseau, o soberano é o povo, entendido como vontade geral, pessoa moral,
coletiva, livre e corpo político de cidadãos. Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si
mesmos como povo e é a este que transferem os direitos naturais para que sejam
transformados em direitos civis. Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o
representante da soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade civil: aceitam
perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania. Enquanto criam
a soberania e nela se fazem representar, são cidadãos. Enquanto se submetem às leis e à
autoridade do governante que os representa chamam-se súditos. São, pois, cidadãos do Estado
e súditos das leis.
A origem da desigualdade
2.5 LIBERALISMO:
Liberalismo e fim do antigo regime - As idéias políticas liberais têm como pano de
fundo a luta contra as monarquias absolutas por direito divino dos reis, derivadas da
concepção teocrática do poder. O liberalismo consolida-se com os acontecimentos de 1789,
na França, sito é, com a Revolução Francesa, que derrubou o Antigo Regime.
Antigo, em primeiro lugar, porque politicamente teocrático e absolutista. Antigo, em
segundo lugar, porque socialmente fundado na idéia de hierarquia divina, natural e social e na
organização feudal, baseada no pacto de submissão dos vassalos ou súditos ao senhor.
39
Com as idéias de direito natural dos indivíduos e de sociedade civil (relações entre
indivíduos livres e iguais por natureza), quebra-se a idéia de hierarquia. Com a idéia de
contrato social (passagem da idéia de pacto de submissão à de pacto social entre indivíduos
livres e iguais), quebra-se a idéia da origem divina do poder e da justiça fundada nas virtudes
do bom governante.
O término do Antigo Regime se consuma quando a teoria política consagra a
propriedade privada como direito natural dos indivíduos, desfazendo a imagem do rei como
“marido” da terra, senhor dos bens e riquezas do reino, decidindo segundo sua vontade e seu
capricho quanto a impostos, tributos e taxas. A propriedade ou é individual e privada, ou é
estatal e pública, jamais patrimônio pessoal do monarca. O poder tem a forma de um Estado
republicano impessoal porque a decisão sobre impostos, tributos e taxas é tomada por um
parlamento – o poder legislativo -, constituído pelos representantes dos proprietários privados.
As teorias políticas liberais afirmam, portanto, que o indivíduo é a origem e o
destinatário do poder político, nascido de um contrato social voluntário, no qual os
contratantes cedem poderes, mas não cedem sua individualidade (vida, liberdade e
propriedade). O indivíduo é o cidadão.
Afirmam também a existência de uma esfera de relações sociais separadas da vida
privada e da vida política, a sociedade civil organizada, onde proprietários privados e
trabalhadores criam suas organizações de classes, realizam contratos, disputam interesses e
posições sem que o Estado possa aí intervir, a não ser que uma das partes lhe peça para
arbitrar os conflitos ou que um das partes aja de modo que pareça perigoso para a manutenção
da própria sociedade.
Afirmam o caráter republicano do poder, isto é, o Estado é o poder público e nele os
interesses dos proprietários devem estar representados por meio do parlamento e do poder
judiciário, os representantes devem ser eleitos por seus pares. Quanto ao poder executivo, em
caso de monarquia, pode ser hereditário, mas o rei está submetido às leis como os demais
súditos. Em caso de democracia, será eleito por voto censitário, isto é, são eleitores ou
cidadãos plenos apenas os que possuírem uma certa renda ou riqueza.
O Estado, através da lei e da força, tem poder para dominar – exigir obediência –e para
reprimir – punir o que a lei defina como crime. Seu papel é a garantia da ordem pública, tal
como definida pelos proprietários privados e seus representantes.
40
existir completamente no século XX, como conclusão de um longo processo em que a
cidadania foi sendo concedida por etapas.
Não menos espantoso é o fato de que em duas das maiores potências mundiais,
Inglaterra e França, as mulheres só alcançaram plena cidadania em 1946, após a Segunda
Guerra Mundial. Pode-se avaliar como foi dura, penosa e lenta essa conquista popular,
considerando-se que, por exemplo, os negros do sul dos Estados Unidos só se tornaram
cidadão nos anos 1960. Também é importante lembrar que em países da América Latina, sob
a democracia liberal, os índios ficaram excluídos da cidadania e que os negros da África do
Sul votaram pela primeira vez em 1994. As lutas indígenas, em nosso continente, e as
africanas continuam até nossos dias.
Podemos observar, portanto, que a idéia de contrato social, pelo qual os indivíduos
isolados se transformam em multidão e esta se transformam em corpo político de cidadãos,
não previa o direito à cidadania para todos, mas delimitava o contrato ou o pacto a uma classe
social, a dos proprietários privados ou burguesia.
O MARXISMO
41
a oposição tenaz dos anarquistas, liderados por Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a
associação foi praticamente dissolvida. Em compensação, Marx podia patrocinar a fundação,
em 1875, do Partido Social-Democrático alemão, que foi, porém, logo depois, proibido. Não
viveu bastante para assistir às vitórias eleitorais deste partido e de outros agrupamentos
socialistas da Europa.
A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas.
Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer
separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas
dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real,
integram uma mesma totalidade complexa.
O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer
tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a idéia,
sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em
seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível
entender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em
conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo
como pressuposto que o real é movimento.
Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E o
trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o
homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de
produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta
compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois
é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das
demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo
sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.
A crítica da economia política consiste, justamente, em mostrar que, apesar das
afirmações greco-romanas e liberais de separação entre a esfera privada da propriedade e a
esfera pública do poder, a política jamais conseguiu realizar a diferença entre ambas. Nem
poderia. o poder político sempre foi a maneira legal e jurídica pela qual a classe
economicamente dominante de uma sociedade manteve seu domínio. O aparato legal e
jurídico apenas dissimula o essencial: que o poder político existe como poderio dos
economicamente poderosos para servir seus interesses e privilégios e garantir-lhes a
dominação social. Divididas entre proprietários e não-proprietários (trabalhadores livres,
escravos, servos), as sociedades jamais foram comunidades de iguais e jamais permitiram que
o poder político fosse compartilhado com os não-proprietários.
Marx indaga: O que é a Sociedade Civil? E responde: Não é a manifestação de uma
ordem natural racional nem o aglomerado conflitante de indivíduos, famílias, grupos e
corporações, cujos interesses antagônicos serão conciliados pelo contrato social, que
instituiria a ação reguladora e ordenadora do Estado, expressão do interesse e da vontade
gerais.
A sociedade civil é o sistema de relações sociais que organiza a produção econômica
(agricultura, indústria e o comércio), realizando-se através de instituições sociais encarregadas
de reproduzi-lo (família, igrejas, escolas, polícia, partidos políticos, meios de comunicação,
etc.) É o espaço onde as relações sociais e suas formas econômicas e institucionais são
pensadas, interpretadas e representadas por um conjunto de idéias morais, religiosas, jurídicas,
pedagógicas, artísticas, científico-filosóficas e políticas.
A Sociedade Civil é o processo de constituição e reposição das condições materiais da
produção econômica pelas quais são engendradas as classes sociais: os proprietários privados
dos meios de produção e os trabalhadores ou não-proprietários, que vendem sua força de
trabalho como mercadoria submetida à lei da oferta e da procura no mercado de mão-de-obra.
42
Essas classes sociais são antagônicas e seus conflitos revelam uma contradição profunda entre
os interesses irreconciliáveis de cada uma delas, isto é, a sociedade civil se realiza como luta
de classes.
O que é, porém, o Estado? - Longe de diferenciar-se da sociedade civil e de separar-se
dela, longe de ser a expressão da vontade geral e do interesse geral, o Estado é a expressão
legal – jurídica e policial – dos interesses de uma classe social particular, a classe dos
proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. E o Estado não é uma
imposição divina aos homens, nem é o resultado de um pacto ou contrato social, mas é a
maneira pela qual a classe dominante de uma época e de uma sociedade determinadas garante
seus interesses e sua dominação sobre o todo social.
O Estado é a expressão política da luta econômico-social das classes, amortecida pelo
aparato da ordem (jurídica) e da força pública (policial e militar). Não é, mas aparece como
um poder público distante e separado da sociedade civil. Não por acaso, o liberalismo define o
Estado como garantidor do direito de propriedade privada e, não por acaso, reduz a cidadania
aos direitos dos proprietários privados (a ampliação da cidadania foi fruto de lutas populares
contra as idéias e práticas liberais).
A economia, portanto, jamais deixou de ser política. Simplesmente, no capitalismo, o
vínculo interno e necessário entre economia e política tornou-se evidente.
No entanto, se perguntarmos às pessoas que vivem no Estado liberal capitalista se, para
elas, é evidente tal vínculo, certamente dirão que não. Por que o vínculo interno entre o poder
econômico e o poder político permanece invisível aos olhos da maioria?
Marx faz duas indagações:
1. Como surgiu o Estado? Isto é, como os homens passaram da submissão ao poder pessoal
visível de um senhor à obediência ao poder impessoal invisível de um Estado?
2. Por que o vínculo entre o poder econômico e o poder político não é percebido pela
sociedade e, sobretudo, por que não é percebido pelos que não têm poder econômico nem
político?
43
As relações sociais de produção não são responsáveis apenas pela gênese da sociedade,
mas também pela do Estado, que Marx designa como superestrutura jurídica e política,
correspondente à estrutura econômica da sociedade.
Qual a gênese do Estado? Conflitos entre proprietários privados dos meios de produção
e contradições entre eles e os não-proprietários (escravos, servos, trabalhadores livres). Os
conflitos entre proprietários e as contradições entre proprietários e não-proprietários aparecem
para a consciência social sob a forma de conflitos e contradições entre interesse particulares e
o interesse geral. Aparecem dessa maneira, mas não são realmente como aparecem. Em outras
palavras, onde há propriedade privada, há interesse privado e não pode haver interesse
coletivo ou geral.
Vamos refletir:
44
Analise a seguinte charge ao lado:
O que será que Mafalda quis dizer com
isso?
Explique conforme o que você
entendeu?
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
____________________________
45
Responda: Essa forma “desigual” de meios de trabalho pode ser vista como um mal
necessário? Como essa situação é vista pela sociedade atual, de acordo com o seu ponto de
vista?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________________________________________________
REFERÊNCIAS:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GAARDENER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
46