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“O que se discute aqui [...] discute-se apenas a necessidade de concurso público, ou
seja, temos de decidir aqui se se trata de uma ascensão ou transferência para cargos
diversos, vedada pela Constituição, ou se se trata de uma promoção para cargos que
integram uma mesma carreira. E conclui que se trata exatamente dessa última
hipótese.
Por quê? Primeiramente, também me amparo em duas ADIns aqui em que a matéria foi
examinada em tese pelo eminente Min. Moreira Alves, em que se fez uma clara
distinção entre ascensão e transferência de um lado, e de outro lado entre a questão da
promoção para cargos dentro de uma mesma carreira, o que é admitido pela
Constituição.
E mais: também verifiquei aqui que existem alguns precedentes em que esta Corte
examinou esta promoção, no estado do Maranhão, nesta carreira dos professores, em
que se julgou perfeitamente constitucional. Um deles foi no RE 441.824, em que foi
relator Vossa Excelência, exatamente (refere-se ao Min. Gilmar Mendes), em que se
julgou, reconheceu-se, na linha inclusive do parecer do Min. Público, que a promoção
de uma servidora do estado do Maranhão à classe IV, dentro da mesma carreira
estadual, não afronta o art. 37, II da CF. Naquela oportunidade, a Procuradoria afirmou
o seguinte: “tal exegese se coaduna com a remansada jurisprudência do Egrégio STF
acerca da questão ora posta sob exame, no sentido de que o concurso público é
inafastável apenas em se tratando de cargo diverso e não de cargos estruturados de
uma mesma carreira. Noutro caso concreto, envolvendo o mesmo tema, o mesmo
estado, o Min. Gilmar Mendes negou seguimento ao RE 434.081, interposto pelo estado
do Maranhão [...]“
Ministra Carmem Lúcia:
“[...] A promoção permitida constitucionalmente é apenas aquela que se refere a que: a
pessoa entra num nível e, sem precisar de novas habilitações, que, se a pessoa não
titularizasse, não poderia disputar num primeiro momento, chega lá em cima.”
Ministro Cezar Peluso:
“[...] Algum desses cargos, desses graus, eles são suscetíveis de concursos autônomos?
[...] Se são passíveis de concursos autônomos, não são carreiras.[...] Aí, seriam cargos
isolados..[...]
Ministra Carmem Lúcia:
“Aí, não são cargos isolados. Aí, é uma outra carreira. Aí não são cargos isolados,
porque a carreira seria de primeiro grau e de nível médio.
Ministro Eros Grau:
“[...] Quero lembrar o seguinte: o que a Constituição diz é que a investidura em cargo
ou emprego público depende de aprovação prévia. Investidura! Então, se estamos
dentro de uma mesma carreira, eu posso chegar até a imaginar o seguinte: se eu fui
investido em um cargo público, dentro de uma carreira, que vai do primeiro ao
segundo grau, nos termos dessa lei, para que eu possa chegar ao segundo grau,
eu estou dentro da carreira, o que eu preciso é apresentar ou defender uma tese, se ela
for análoga à do Itamarati, ou fazer um curso de Estado-Maior, se for análoga à militar,
ou fazer eventualmente um curso de Pedagogia. Ou eventualmente até um curso
superior, para chegar lá. [...] O art. 37 fala em investidura em cargo ou emprego
público. Começo de carreira. [...] A situação é análoga à militar e à diplomática. [...].”
Ministro Joaquim Barbosa:
“Gostaria de explicitar o voto que já esbocei: julgo constitucional a lei, sob reserva da
seguinte interpretação: que a promoção se faça de uma classe para outra da mesma
carreira. Que não haja promoção que implique transposição de uma carreira para outra.
E também não vejo nenhum empecilho a que se organizem concursos públicos para
acesso diretamente a determinadas classes de uma carreira, desde que respeitadas as
exigências de habilitação específicas para aquele nível, que é, aliás, o que já ocorre na
magistratura superior.”
Ministra Carmem Lúcia
:
(trechos de parecer datado de 20 de junho de 2005 – antes de a Professora Titular de
Direito Constitucional da PUC/MINAS Cármen Lúcia Antunes Rocha assumir o cargo
de Ministra do STF):
“Há que se fazer distinção, neste passo, entre o provimento derivado pelo qual
o servidor acede de uma para outra carreira (o que antes era considerado forma de
ascensão funcional e, nessa condição, não tem sido aceito no sistema vigente) e aquele
que se estabelece pela mudança de classe - mediante promoção - dentro de uma
carreira ou pela manutenção do status funcional coexistindo com mudança externa, por
via legislativa, da situação administrativa do cargo ocupado pelo servidor.
As duas últimas hipóteses vêm sendo consideradas coerentes com os princípios
constitucionais e para eles não se tem exigido a prévia aprovação em concurso público,
porque o servidor, então, não está a prover novo cargo, ainda que não seja o
provimento inicial ou originário no serviço público ou na carreira.
[...]
Assim é que o princípio da moralidade não é desatendido quando o servidor público,
titular de cargo para o qual tenha sido nomeado em razão de ingresso regular no serviço
público, é promovido para outro cargo na mesma carreira ou quando é mantido no cargo
transformado, sendo que esta mudança, tenha ocorrido sem alterar, em substância, a
unidade, as atribuições que lhe são afirmadas e as condições para o seu exercício, tudo
em beneficio no serviço público.
Também o princípio da eficiência não- se cumpriria - bem ao contrário - se a cada
transformação de cargos públicos ou mudança legal em carreiras se tivesse que adotar o
afastamento dos seus titulares, que ficariam, então, em disponibilidade, e a abertura de
novo concurso público para novos servidores.
Além de romper-se o princípio da economicidade, afrontado estaria, então, também o da
especialidade em benefício do serviço público.
O primeiro porque seria extremamente oneroso para a sociedade manter um servidor em
disponibilidade e outro no exercício de atividades que aquele primeiro teria perfeitas e
até melhores condições de executar pelo conhecimento que tenha acumulado na
atividade.
O princípio da profissionalização do servidor público - atualmente tão encarecido -
também estaria em desvalia porque o conhecimento específico da Administração
Pública dá-se com o exercício dos cargos públicos. Ninguém ingressa, no serviço
público conhecendo-o plenamente. Pode-se ter ciência das matérias que são necessárias
ao desempenho, mas é certo que somente a experiência conjuga o conhecimento teórico
com aquele favorecido pela prática, do que se origina a excelência das atividades
prestadas. Ademais, como estimular o servidor público a buscar a sua melhoria se o
aperfeiçoamento das carreiras - mantidas as matérias que lhes sejam inerentes - poderia
sempre sujeitar-se à instabilidade funcional e o seu afastamento pela tão só mudança
organizacional na Administração Pública? E como se aproveitar no serviço público os
bons profissionais se a qualquer mudança fossem eles afastados e substituídos por
novos servidores?
[...]
Ressalvados os casos em que se determine a exclusividade ou privacidade de
determinadas funções por servidor especificado em lei, é exatamente a norma jurídica
que determina que a afinidade das funções pode permitir o seu exercício por qualquer
um dos profissionais que integram a carreira de Auditor.
E a afinidade material das atribuições designadas aos Auditores da Receita Federal e aos
Técnicos da Receita é patenteada pela própria descrição legal de cada um dos cargos.
No caso em foco, o Técnico da Receita Federal não pode exercer, nos quadros legais
atualmente postos, tão somente aquelas atividades que, por definição normativa do
Poder Executivo Federal, não o possam ser, pois a sua qualificação dá-se nos mesmos
níveis exigidos para o Auditor. O que se demarca e distingue é o arrolamento das
funções que são conferidas a cada um deles segundo o discrímen legalmente
estatuído. E a proximidade das funções desenvolvidas pelos servidores ocupantes dos
dois cargos é inegável!
[...]
Neste caso, não haveria provimento originário a ser assegurado segundo a regra do
concurso público, o que prevalece apenas para o ingresso específico em cargo, quando
antes não o ocupava o interessado, o que não se dá na espécie.
A mudança nas carreiras hoje existentes, que, unificadas, passariam a ser integradas por
classes, determina novo agrupamento dos cargos públicos de Auditoria. Esses, no
modelo atual, compõem estruturas distintas, o que, contudo, não é razão jurídica para
decompor as condições funcionais dos servidores que estão em plena atividade.
Os servidores públicos, ocupantes dos cargos públicos que compõem aquelas carreiras,
podem ser mantidos com as unidades transpostas e transformadas, o que, de resto,
retrata mudança apenas formal, uma vez que materialmente não se dará maior
modificação nas atribuições, a não ser aquelas necessárias ao aperfeiçoamento do
sistema.
Posicionamentos de Ministros do STF já aposentados:
Min. José Nery da Silveira:
“[...]
O Supremo Tribunal Federal, nos precedentes examinados (ADIs ns. 1.591-RS, 2.713-
DF e 2.335-SC), como guarda da Constituição, após longo debate, assentou
jurisprudência que autoriza concluir-se no sentido de que, — sendo unificados, tal como
se alude na Consulta, os órgãos da Secretaria da Receita Previdenciária e Secretaria da
Receita Federal em uma “estrutura única da administração tributária” [...] — não se
configura óbice de nível constitucional para, mediante lei, de iniciativa do Poder
Executivo, dar-se a unificação, também, dos cargos de Auditor-Fiscal da Receita
Federal e de Técnico da Receita Federal, [...] ou a simples transformação dos cargos de
Técnico da Receita Federal do Brasil em cargos de Auditor-Fiscal da Receita Federal do
Brasil, na nomenclatura atual, eis que existentes, na espécie, similitude e afinidade das
atribuições, de igual natureza, desses cargos, integrantes da mesma carreira – Carreira
Auditoria da Receita Federal [...]
Ministro Octávio Gallotti:
Trecho de Voto na ADIn nº 1.591:
“Julgo que não se deva levar ao paroxismo o princípio do concurso para acesso aos
cargos públicos, a ponto de que uma reestruturação convergente de carreiras similares
venha a cobrar (em custos e descontinuidade) o preço da extinção de todos os antigos
cargos, com a disponibilidade de cada um dos ocupantes seguida da abertura de
processo seletivo, ou, então, do aproveitamento dos disponíveis, hipótese esta última
que redundaria, na prática, justamente na situação que a propositura da ação visa a
conjurar.
Anoto, finalmente, que, não resultando da lei impugnada acréscimo de remuneração
para nenhuma das duas carreiras envolvidas no reenquadramento, se desvanece a
suspeita de que, no favorecimento de servidores de uma ou outra, resida a finalidade da
lei atacada, e não da conveniência do serviço público, apontada pelas informações de
ambos os Poderes competentes do Estado do Rio Grande do Sul (o Legislativo e o
Executivo), que acenam, ao inverso, como móvel do ajuizamento da ação, para velha
rivalidade lavrada no campo da Pública Administração estadual gaúcha.”
Trechos de Votos na ADIn nº 1.591:
Min. Sepúlveda Pertence:
“Com a exatidão de sempre, o eminente Relator, Ministro Octávio Gallotti, caracterizou
o caso como uma reestruturação, por confluência, de carreiras similares. Não tenho
dúvida de que, na origem, eram elas inconfundíveis. Mas ocorreu – e não nos cabe
indagar dos motivos disso – um processo de gradativa simbiose dessas carreiras que
a lei questionada veio apenas racionalizar.”
Ministro Nelson Jobim:
“Sr. Presidente, gostaria de separar as questões. Uma coisa é a possibilidade da criação
de uma nova carreira; a outra é o problema da opção, quer dizer, de não se admitir que
os auditores e fiscais das carreiras antigas pudessem optar pela nova carreira. A questão
se resolve pela análise [...] sobre serem ou não diversas as carreiras primitivas e a nova
carreira. Esta é a divergência.
[...]
o que se proibiu [...] é a transferência para carreira diversa. A divergência posta aqui é
que o conceito de “diversa“
[...]
Estamos examinando o conteúdo das duas carreiras para ver se elas têm efetiva e
materialmente uma distinção. Este é o ponto. E a materialidade da distinção é que
impediria a transferência. Por isso diversa no conteúdo e não no nome. [...]
Gostaria de dizer, então [...], que das vinte e seis funções elencadas pelo eminente
Relator, [...] efetivamente demonstram a sua similitude no que diz respeito às
competências dos auditores e fiscais. Quem convive no Rio Grande do Sul sabe
efetivamente os grandes prejuízos para o Estado no que diz respeito à disputa existente
entre os auditores e fiscais. Essa é a razão da origem da lei.
[...] Sr. Presidente, estamos aqui numa divergência sobre a amplitude do conceito de
“diversa”. O Ministro Moreira Alves estabelece uma distinção rígida e ortodoxa
sobre o que seja carreira diversa. E isso importa no absoluto engessamento de
qualquer tentativa de racionalização de atividades que se conflitam, tendo em vista
os mesmos espaços de atuação. Este foi o ponto fundamental. Tem absoluta razão o
Ministro Octavio Gallotti, quando ao examinar o conteúdo ocupacional, o conteúdo de
funções de auditores e fiscais, mostra que essas duas funções têm um universo de
atuação e, neste, há alguns elementos acessórios que representam ações distintas no que
diz respeito aos auditores. Na definição desses elementos aproximaram de forma
absoluta funções que tinham a distinção primeira, inicial, uma para tributos, outra para
orçamento, e se aproximaram tendo em vista as necessidades históricas do
desenvolvimento das funções da Secretaria de Fazenda desse Estado da Federação.
Portanto, Sr. Presidente, na medida em que se assegura a possibilidade de o Governador
do Estado do Rio Grande do Sul criar uma carreira única, e este é um fato inconteste, a
questão é saber se, pelo fato do concurso público que presidiu a ascensão dos outros
cargos, ele está impedido de criar a carreira única, tendo em vista funções ocupacionais
que correspondem ao mesmo universo de atuação: área tributária. Creio que não. Creio
que é possível que se faça exatamente isso, sob pena de estarmos estabelecendo
um engessamento absoluto da possibilidade da racionalização do serviço público.”
Min. Ilmar Galvão:
“[...] No caso da espécie, em que duas ou mais categorias funcionais possuem áreas de
atribuições que se interpenetram no que têm, a meu ver, de essencial, embora não
coincidam em toda a sua extensão, entendo não conflitar com o princípio do concurso
público a reunião dessas duas categorias em uma única, para a qual sejam transpostos os
integrantes das categorias reunidas, respeitado, é claro, o direito de opção de cada um.”
Pelo exposto, entendamos e o que nos interessa é a “CARREIRA ÚNICA”, em que irá
gerar escalonamento vertical financeiro. Grato.