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EQUIPE DE ELABORAÇÃO
Cultura Afro-Brasileira 3
Cultura Afro-Brasileira
APRESENTAÇÃO
Prezado Cursista,
O guia de estudo que você recebeu foi formulado a partir de uma bibliografia
especializada sobre o tema, com o objetivo de orientar suas pesquisas, análises e
reflexões, bem como facilitar a fixação dos conteúdos propostos. Desse modo, a
metodologia empregada priorizou o estudo de casos como forma de aprendizagem,
na qual são apresentadas ao aluno algumas situações problematizando diversos
assuntos abordados, ao final de cada unidade, objetivando sua compreensão,
análise e solução. Tal abordagem faz com que o estudante avalie criticamente os
conteúdos enfocados, desenvolvendo habilidades necessárias ao bom desempenho
do profissional no mundo atual. Além disso, para contribuir ainda mais com seu
auto-estudo, são indicados sites para pesquisa e leituras complementares, bem
como propostas atividades práticas ao final de cada unidade, não sendo necessária
a correção do professor.
A disciplina é oferecida sob a forma de educação a distância, privilegiando o
auto-estudo e sendo mediado por material didático e apoio da Orientação Acadê-
mica a distância, com encontros e avaliações presenciais.
A metodologia do trabalho combina atividades teóricas e práticas com o
objetivo de possibilitar aos participantes articularem momentos de reflexão com
momentos de aplicação dos conhecimentos adquiridos à realidade. As técnicas
adotadas obedecem a uma seqüência de atividades na qual as análises sobre fato-
res, que contribuem ou dificultem a integração dos programas de EAD, resultem
na discussão e participação de todos.
A organização dos módulos define um núcleo temático consistente e atual,
diversificando as perspectivas de pesquisa e de análise históricas, sociológicas,
filosóficas, pedagógicas e éticas, tendo em vistas questões que a LDB, Lei 9394/96,
propõe, principalmente no seu Art. 64 sobre a formação de profissionais de edu-
cação.
Ao final do curso, você estará apto a realizar uma avaliação presencial como
parte do processo de avaliação global da disciplina.
Lembre-se que o serviço de Orientação Acadêmica está disponível para solu-
cionar possíveis dúvidas no decorrer de seus estudos.
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Cultura Afro-Brasileira
SUMÁRIO
UNIDADE I
7 Conceitos sobre cultura
UNIDADE II
15 Manifestações Culturais I
27 UNIDADE III
Manifestações Culturais II
46 UNIDADE IV
Manifestações Culturais III
63 CONSIDERAÇÕES FINAIS
64 REFERÊNCIAS
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Cultura Afro-Brasileira
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
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UNIDADE I
CONCEITOS SOBRE CULTURA
Cultura Afro-Brasileira 7
Cultura Afro-Brasileira
Os diferentes comportamentos sociais dos dos como escravos para uma terra estranha,
diferentes povos são produtos de uma herança habitada por pessoas de aspecto físico, de
cultural adquirida em convivência gregária, costumes e de línguas diferentes do referencial
ou seja, são o resultado da operação de uma que traziam, perdem toda a motivação para
determinada Cultura sobre o homem. Todos os continuar vivos. Isso explica, de certo modo,
homens são dotados do mesmo equipamento por que muitos escravos praticaram suicídio,
anatômico, dos mesmos organismos físicos enquanto outros morreram de saudade ou
naturais, mas a sua utilização, ao invés de ser “banzo” (termo que se refere especificamente
determinada prévia e geneticamente, depende à nostalgia que os negos africanos têm - ou ti-
de um aprendizado, que consiste na reprodu- veram - da África-mãe distante, da qual foram
ção de padrões comunitários que fazem parte retirados à força).
da herança cultural do grupo. A Cultura, com sua inegável importância
O fato de o homem ver o mundo através na formação e preservação dos indivíduos e
de sua Cultura, distinta de outras, diferentes, dos grupos, pode - e, de fato, pôde no nosso
conforme cada grupamento, pode levá-lo a passado -, até mesmo, decidir sobre a vida e
considerar o seu modo de ser e de ver(-se no a morte dos membros de um dado grupo,
mundo) como o mais correto e o mais natural. como aconteceu durante o longo e desastroso
Tal tendência, denominada etnocentrismo (ter período escravocrata luso-brasileiro, quando
a si, enquanto Homem, como centro de tudo), os porões dos navios negreiros singravam o
é responsável, em seus casos extremos e mui- Oceano Atlântico desde a costa africana até os
tíssimo comuns, pela ocorrência de numerosos portos brasileiros, abarrotados de mercadoria
conflitos sociais, pois os comportamentos et- humana. Muitos negros morriam na travessia
nocêntricos resultam em apreciações negativas e eram jogados ao mar com o desprezo da
dos padrões culturais de povos diferentes. Des- Cultura branco-européia etnocêntrica, muitos
se modo, práticas de outros sistemas culturais morriam ao chegar, muitos ainda
podem ser vistas como absurdas, agressivas, morriam nos primeiros contatos com a
ilegais, deprimentes ou imorais, dependendo nova terra e a nova gente. Dos que resistiam à
dos padrões sócio-culturais de quem as vê e viagem e aos primeiros contatos, ainda muitos
pensa. acabavam morrendo. Mas, com aqueles que
Numa dada situação de crise, os membros permaneceram vivos, a Cultura transporta-
de uma determinada Cultura abandonam a da imperceptivelmente nos porões das galés
crença nos valores de sua própria sociedade, de também mantinha-se viva, amalgamava-se às
sua marca identitária própria, e, conseqüente- Culturas locais - do branco europeu e do índio
mente, perdem a motivação que os mantinham da terra brasileira - e seguia, num percurso
unidos e vivos. Como exemplo claro e presente de séculos à frente, constituindo uma nova
disso, tem-se o caso dos negros africanos que, e plural Cultura: afro-brasileira - ou afro-
ao serem removidos violentamente de seu descendente.
continente - ou seja, de seu ecossistema e de
seu contexto cultural naturais - e transporta-
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Cultura Afro-Brasileira
1.2 - A vinda dos negros africanos para o curvar-se ás doutrinas religiosas dos brancos
Brasil europeus.
Conforme observa Marco Aurélio Luz
A presença de negros africanos no Brasil (LUZ, 2000), tratando da relação entre a África
é conseqüência direta do tráfico de escravos pré-colonial e a continuidade transatlântica
que foram trazidos de diferentes regiões da dos princípios e valores na harmonia social,
África - da costa ocidental, entre Senegâmbia houve “uma linha de continuidade ininter-
e Angola, da costa oriental de Moçambique e rupta de determinados princípios e valores
da ilha de São Lourenço, nome dado na época transcendentes” (LUZ, 2000, P. 31) que engen-
a Madagascar - para os diferentes países das draram e estruturaram novas identidades e
Américas e das Antilhas. relações sociais.
Reuniram-se, no Brasil, negros africanos As lutas, públicas ou secretas, travadas
de etnias diferentes, de nações distintas, que contra a escravidão garantiram espaço para
não falavam a mesma língua e possuíam há- a afirmação da existência do homem negro
bitos de vida e religiões diversos. Tinham em africano nas terras do branco colono/coloni-
comum a infelicidade de estarem, todos eles, zador.
reduzidos à escravidão, longe das sua terra de No Brasil, as marcas da Cultura africana
origem, descolados de sua Cultura própria. se expandiram de tal forma que até hoje se
Já no século XVI, verifica-se a presença vivenciam princípios e valores daquela tra-
de negros bantos na Bahia, que deixariam sua dição civilizatória predadora, num contínuo
influência no vocabulário brasileiro. Pouco de convivências e amálgamas. O substrato
depois, registra-se a chegada de grande con- de construção de uma identidade brasileira
tingente de africanos, proveniente de regiões se nutre, prioritariamente, de traços vivos de
habitadas pelos daomeanos (jejes) e pelos uma cultura afro-descendente, latente no ser
iorubás (nagôs), cujos rituais de adoração aos nacional.
deuses parecem ter servido de modelo às et- Como bem salienta Marco Aurélio Luz,
nias já instaladas anteriormente na Bahia. “o legado dos valores africanos, que permitiu
Os navios negreiros transportaram, por uma continuidade transatlântica, está consubs-
quase quatro séculos, não apenas o contin- tanciado nas instituições religiosas. São dessas
gente de cativos destinados aos trabalhos de instituições que se irradiam os processos cul-
mineração, dos canaviais, das plantações de turais múltiplos que destacam uma identida-
fumo localizados no Brasil e no restante das de nacional.” (LUZ, 2000, p. 32) Isso porque,
Américas, mas também a sua personalidade, “desde a África, a religião ocupa um lugar de
a sua maneira de ser, de ver e de se comportar, irradiação de valores que sedimentam a coesão
as sua crenças: sua Cultura. e a harmonia social, abrangendo, portanto,
E as convicções religiosas dos negros que relações do homem com o mundo natural”.
chegavam eram, entretanto, colocadas a duras (LUZ, 2000, p. 32) E “os principais valores
provas, sendo batizados obrigatoriamente dessas tradições culturais se expressam através
“para a salvação de sua alma” e devendo da linguagem religiosa”. (LUZ,2000, p. 32)
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Cultura Afro-Brasileira
ATIVIDADES
SITES
http://www.apcab.net/
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/especiais/cultura_africana_e_
afro_brasileira
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Cultura Afro-Brasileira
METODOLOGIA DE CASOS:
APRENDENDO COM A REALIDADE
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UNIDADE II
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS I
Cultura Afro-Brasileira 15
Cultura Afro-Brasileira
andam nas ruas como adereços, protetores do centrais da cidade, na Praça Onze, emanado
sol, complementos -, os abadas dos oloduns nos entornos das primeiras casas de candom-
- vestimenta africana comum nos cultos. A blé: Santo Cristo, Gamboa, Saúde. Obriga falar
Bahia inspira e transpira candomblé. do samba de terreiro, dos terreiros de samba
É novamente Agenor Miranda Rocha e dos terreiros de candomblé. Do samba de
quem destaca a implantação e a expansão dos roda, sempre presente ao final das grandes
candomblés no Rio de Janeiro: festas de santo no Rio de Janeiro. Do jongo e do
Ao longo da segunda metade do século maculelê, igualmente evocados nos momentos
XIX concentraram-se na cidade do Rio de Ja- de diversão dentro das roças-de-santo. Hoje,
neiro, em número significativo, negros baianos falar da Cultura do Rio de Janeiro obriga falar
que constituíam um grupo à parte na massa de do afoxé Filhos de Ghandi, com seus cânticos
ex-escravos e seus descendentes, que, na vira- africanos; das procissões em homenagem a
da do século, estavam dispersos pela cidade, Iemanjá, tanto no centro da cidade quanto no
cm ocupações variadas. A maioria deles vivia bairro de Sepetiba, com cortejo marítimo in-
nos bairros centrais da cidade: Saúde, Gamboa clusive; das oferendas e fim-de-ano nas praias,
e Santo Cristo (ROCHA, 2000, p. 23) inclusive na zona sul; das procissões de São
As casas surgidas no Rio de Janeiro “se- Jorge, sincretizando e sincretizado. Falar do
guiram uma ordem que remonta (...) às quatro monumento a Zumbi e seu culto. Dos acarajés
primeiras casas.” (ROCHA, 2000, p. 24) da Lapa, os antigos acarajés da Praça XV, e das
O adepto e estudioso afirma que as dé- baianas com seus tabuleiros cheios de quitutes,
cadas de 50/60 [do século passado] podem no saudoso “Tabuleiro da Baiana”, próximo ao
ser consideradas como os “anos de ouro” do largo da Carioca, imortalizado nos versos de
candomblé no Rio de Janeiro. Esse período é Ary Barroso.
sempre lembrado não apenas nas casas de Kêtu
mas em todas as tradições então instaladas na No tabuleiro da baiana
cidade. Com as roças estruturadas, muitas fes-
tas tornaram-se famosas. Um grande público, No tabuleiro da baiana tem
proveniente dos bairros de classe média e alta Vatapá, caruru, mungunzá, tem umbu
da cidade, freqüentava os subúrbios por oca- Pra Ioiô
sião dessas festas. As casas mais concorridas Se eu pedir você me dá
eram o Bate-folha, em Anchieta (nação Con- O seu coração, seu amor
go...), o Axé Opô Afonjá, em Coelho da Rocha De Iaiá
(nação Kêtu...), e principalmente a casa do mais
famoso pai-de-santo da cidade: Joãozinho da No coração da baiana também tem
Goméia, o chamado “rei do candomblé”, Ca- Sedução, canjerê, candomblé, ilusão
xias. (ROCHA, 2000, p. 26) Pra você
Falar da Cultura do Rio de Janeiro obriga, Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
naturalmente, falar de samba, do samba nas-
cido no pé dos morros, difundido nas áreas
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Cultura Afro-Brasileira
Quero você baianinha inteirinha pra mim tivando evangelizar os negros africanos e os
Mas depois, o que será de nós dois índios escravizados, registram-se as primeiras
Seu amor é tão cruel, enganador miscigenações da cultura negro-africana com
a cultura branco-européia. A fim de garantir
Tudo já fiz, fui até um canjerê proteção oficial, os escravos, tantos os índios
Pra ser feliz, meus trapinhos juntar com você da terra quanto os negros africanos, orienta-
Mas depois, vai ser mais uma ilusão dos pelos jesuítas, optaram por colocar, em
No amor quem governa é o coração. seus altares de veneração religiosa, imagens
(Ary Barroso) e ícones católicos, na expectativa de que os
colonos/colonizadores, imaginando sua con-
O contato, no Brasil, da filosofia religiosa versão à filosofia cristã, pusessem fim aos
do negro africano - o candomblé - com a filoso- castigos. Como os negros africanos, bem como
fia religiosa do branco europeu - o cristianismo os índios da terra, pertenciam a várias tribos/
- rendeu várias outras religiões espíritas que, etnias, com hábitos, crenças e rituais diferen-
com certa precisão nomenclatural, devemos tes, surgiram diversas facetas simultâneas da
chamar de afro-descendentes. manifestação religiosa, originando, assim, uma
Sob a designação genérica de “umbanda”, extensa gama de sincretismos religiosos afro-
reúnem-se diferentes manifestações religiosas descendentes no Brasil.
nacionais influenciadas pelos cultos afro-
brasileiros.
O sincretismo na umbanda remonta ao
tempo da escravatura no Brasil. Os negros
africanos queriam manter suas raízes reli-
giosas, seus costumes e tradições, enfim, sua
cultura, trazida nos porões dos navios negrei-
ros. Mas eles eram cerceados pelos colonos/
colonizadores, que não aprovavam qualquer
manifestação tradicional e religiosa africanas
em suas senzalas. Sofriam severas punições
com o objetivo de os desencorajar das práticas
e dos rituais recebidos de seus ancestrais nas
terras da África-mãe, de onde tinham sido
trazidos à força, em péssimas condições, para
serem vendidos como escravos e submetidos
a todo tipo de submissão e agressão aqui no
Brasil.
Em 1547, instala-se, no país, a Companhia
de Jesus, sob o comando dos padres jesuítas
Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, obje-
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Cultura Afro-Brasileira
Um quadro apenas ilustrativo, e não definitivo, desses sincretismos, objeto sempre que será
de questionamentos e críticas, em função mesmo da heterogenia dessa miscigenação, deixando
de lado muitas das divindades africanas ainda hoje presentes nos cultos afro-brasileiros, pode
ser assim resumido:
SINCRETISMOS
ENTIDADES DOS CULTOS AFRICANOS
NACIONAIS
BANTO
(designação genérica REPRESENTAÇÕES DO IMA-
“UMBANDA” (designação
KÊTU das GINÁRIO DIVINO CATÓLICO-
genérica do Omolocô)
línguas nacionais ango- CRISTÃO
lanas)
Olodumare,
Zâmbi Nzambi ou Zambiapongo Deus
Olorun
Lembá Menino Jesus de Praga, Jesus
Oxalá Oxalá
ou Lembaranganga Cristo, e Senhor do Bonfim
Nossa Senhora da Conceição,
Oxum Oxun Dandalunda
Santa Luzia
Nossa Senhora da Glória, Nossa
Iemanjá Iemanjá Kaiala ou Kaiá
Senhora dos Navegantes
Santa Bárbara e Santa Joana
Iansã Oya, Iansã Kaiango ou Kaiangu
D’Arc
Senhora Santana, Santa Teresi-
Nanã Nanã Zumbá ou Zumbarandá
nha e Santa Edwiges
São Jorge, no Rio de Janeiro, e
Ogum Ogun Nkosi
São Sebastião, na Bahia
São Sebastião, no Rio de Janeiro,
Oxóssi Oxóssi Ngunzu,
e São Jorge, na Bahia
Ibeji - Ibejada Ibeji Vunji São Cosme e São Damião
Osanyin Katende
Oxumarê Hangolô São Bartolomeu
São João Batista, São Pedro, São
Xangô Xangô Zazi
Jerônimo
Omolu, Omolu,
Kavungu São Lázaro, São Roque
Obaluaiê Obaluaiye
Exu Exu Pambunjila (masculino) O diabo cristão
Pombagira Exu Mujilu (feminino) O diabo cristão, visto no feminino
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Cultura Afro-Brasileira
PROPOSTA DE ATIVIDADE:
Pesquisar a diversidade das crenças e das representações divinas das diferentes tribos indígenas brasileiras,
procurando estabelecer comparações entre elas e tanto com as crenças e representações divinas das di-
ferentes etnias negro-africanas trazidas para o Brasil quanto com a crença e as representações divinas do
cristianismo, especial do catolicismo, construindo um quadro de aproximações, a partir das semelhanças, e
de distanciamentos, a partir das diferenças entre essas crenças e suas respectivas representações divinas.
A pesquisa pode ser realizada com o apoio de livros de história e de folclore, dicionários, enciclopédias e com
as ferramentas da internet, dependo dos suportes disponíveis em cada região. É importante diversificar as
fontes de pesquisa e manter uma visão crítica diante do material pesquisado, livre de preconceitos éticos,
morais e religiosos, para que se tenha um produto final confiável e aceito por todos.
2.2 - Língua
A língua portuguesa, não só pela pre- Mungunzá - subst. masc. Iguaria preparada
sença dos escravos africanos no Brasil, senão com grãos de milho cozidos
com água, leite de coco ou de
que também pelo colonialismo português na vaca, e temperada com sal e
África - Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, açúcar; canjica. (Origem banto)
São-Tomé-e-Príncipe, Cabo verde - sofreu Umbu - subst. masc. Fruto da umbula,
fortes influências das línguas africanas, par- árvore de Caconda, região de
Angola. (Origem
ticularmente do banto, falado nas regiões do banto)
país angolano.
Ioiô - subst. masc. Fruto da umbula,
A letra de Ary Barroso - “No tabuleiro da árvore de Caconda, região de
baiana” - incorpora, advindos principalmente Angola. (Origem banto)
da culinária, com fortes raízes nos cultos reli-
Iaiá - subst. fem. Tratamento que, no
giosos afro-brasileiros, vocábulos de origem
Brasil, os escravos davam
banto, iorubá ou corruptelas da própria língua antigamente às suas senhoras.
portuguesa empregadas pelos negros escravos, (Corruptela do português “se-
nhora”, repetido.)
presentes no vernáculo nacional, com maiores
Canjerê - subst. masc. Reunião de pessoas
incidências na Bahia e no Rio de Janeiro. Disso
para a prática de feitiçarias;
são exemplo: feitiço, mandinga; cerimônias
religiosas africanas; dança
profana dos negros; iguaria
Vatapá - subst. masc. Iguaria que consis- preparada com camarão seco,
te em uma papa rala de fubá amendoim e castanha. (origem
de arroz ou de miolo de pão africana controvertida)
dormido, adubada com azeite-
de-dendê e pimenta, misturado Candomblé - subst. masc. Festas ritualísticas
tudo com carne ou peixe. (Ori- das seitas africanas no Brasil,
gem iorubá) mantidas pelos descendentes,
equivalente à macumba. (ori-
Caruru - subst. masc. Guisado de ervas e gem africana controvertida)
quiabo, a que se juntam cama-
rões, peixe etc., temperado
com azeite-de-dendê e pimenta.
(Origem iorubá)
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E M
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O T
Ogum ou Ogundelê: Deus das lutas e das tanga: pano que cobre desde o ventre até as
guerras coxas
Orixá: divindade secundário do culto jejêna- tutu: iguaria de carne de porco salgada, toici-
go, medianeira que transmite súplicas dos nho, feijão e farinha de mandioca
devotos suprema divindade desse culto, ídolo
africano U
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ATIVIDADES
SITES
http://www.ibge.gov.br/brasil500/negros/hercultural.html
http://umquetenha.blogspot.com/2009/06/felixfonica-felixfonica-e-as.html
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Cultura Afro-Brasileira
METODOLOGIA DE CASOS:
APRENDENDO COM A REALIDADE
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A cozinha brasileira é formada pelo intercâmbio das práticas culturais de
vários segmentos da população. A formação de pratos como símbolos regionais e
nacionais reforça a dimensão da culinária como representação da diversidade. A
culinária de um país é o registro de sua história e da intensidade das trocas entre
diferentes culturas em um território. Os desafios centrais colocados para as polí-
ticas públicas de cultura são os de registrar e preservar a memória dos costumes
brasileiros, diagnosticar nacionalmente as diversas culinárias existentes, difundir
o conhecimento da culinária nacional e garantir condições de segurança alimentar por
intermédio de uma política de difusão da nossa culinária que garanta a apropriação,
real e simbólica, por parte da população. No caso de uma aldeia indígena como podem
manter e difundir sua cultura tendo por base a difusão de sua culinária?
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UNIDADE III
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS II
Cultura Afro-Brasileira 27
Cultura Afro-Brasileira
A música afro-brasileira define-se por sua congadas até o samba, passando pelos afoxés e
tradição oral, ligada a acontecimentos públi- blocos afro. A presença de elementos musicais
cos, com a presença do canto associado aos e religiosos provenientes da África é marcante
movimentos do corpo. Para a musicalidade na nossa história musical, como ainda hoje se
africana, os movimentos do corpo são de suma evidencia nas escolas de samba.
importância, e são os movimentos possíveis O lundu seria, propriamente dito, o pri-
nos instrumentos que geram “tons” e uma meiro gênero musical efetivamente afro-bra-
escala acústica, diferentes da sonoridade da sileiro. A referência mais remota encontrada
música ocidental européia, dando identidade sobre a música lundu está na Viola de Lereno,
à música africana. Assim, na música africana coletânea de composições de Domingos Caldas
ou afro-brasileira, os movimentos do corpo Barbosa, publicada em Portugal em 1798.
humano, criados ou descobertos por cada mú- Composto em compasso binário e na
sico, perante determinado instrumento, cuja maioria das vezes no modo maior, o lundu
forma impõe limitações, resultam na estrutura é uma música alegre e buliçosa, de versos
musical e nos padrões de movimento atingidos satíricos, maliciosos, variando bastante nos
por virtuosismo e técnica. esquemas formais. Muitos de nossos com-
Entre os africanos e no Brasil, verificam-se positores populares do século XIX fizeram
padrões rítmicos semelhantes, como aqueles lundus, pertencendo a esse repertório peças de
executados por um instrumento para orientar grande popularidade como Lá no Largo da Sé
os outros músicos e dançarinos no tempo da (Cândido Inácio da Silva), Lundu da Marrequi-
música, elemento indispensável no ritual do nha (Francisco Manoel da Silva, autor do Hino
candomblé, onde o run, o maior dos três ata- Nacional, e Francisco de Paula Brito), Eu Não
baques que constituem o “terno de atabaques”, Gosto de Outro Amor (Padre Teles) e Onde Vai,
marca a diferenciação dos movimentos físicos Senhor Pereira de Morais (Domingos da Rocha
dos dançantes e, por extensão, das divindades Mussurunga).
incorporadas. Mas o grande nome do lundu só surgiria
Isso aponta, por exemplo, para a origem no final do século XIX na figura do ator, cantor
banto do samba-de-roda, com o qual a Capo- e compositor baiano Xisto Bahia (1841-1894),
eira tem ligações. A Capoeira é uma expressão mais afamado do que Laurindo Rabelo (1826-
da tradição afro-brasileira, baseada em movi- 1864), o Poeta Lagartixa, também cultor do
mentos grupais. Sua prática representa a con- gênero que o antecedeu nas rodas musicais do
jugação de diferentes manifestações culturais Rio de Janeiro. São de Xisto Bahia os lundus
que incluem dança, música, dramatização, O Camaleão, Canto de Sururina, O Homem, O
brincadeira, jogo e espiritualidade. Pescador, A Preta Mina e o célebre Isto É Bom,
Todos participam do jogo da capoeira e música gravada no primeiro disco brasileiro.
cada um é fundamental e único no processo. Com o aparecimento de outros gêneros afro-
As matrizes africanas, que integram a brasileiros mais expressivos, o lundu saiu de
música brasileira, não se reduzem ao jogo moda no começo do século XX.
dos capoeiristas. Delas fazem parte desde as A congada tem origem nos cortejos de “reis
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Cultura Afro-Brasileira
“Porque Oxalá usa ekodidé”, “Oju Obá”, “Lo- sica refere-se à luta travada por Oxaguiã frente
gun, príncipe de Efan”, “O mito sagrado de à cidade de Elejibô, em busca de conquistar um
Ifé”, “Oxumará, a lenda do arco-íris”, “Alafin reino para si, tornar-se rei, completar o rito de
Oyó”, “Príncipe Obá, rei dos descamisados”, passagem que o leve de menino a homem. Oxa-
“Ngola Djanga”, “De Daomé a São Luiz, a guiã e seus guerreiros lutaram com “atoris”,
pureza mina-jeje”, “Império negro, um sonho longas varas de madeira, e derrotaram seus
de liberdade, “Kizomba, festa da raça”, “Preito inimigos. A festa, após a batalha, foi na flores-
de vassalagem a Olorum” etc. ta, com muito inhame amassado com azeite
Sobre a predominância de temas ligados ou mel. Esse ritual de luta é habitualmente
ao universo iorubano, observe-se que isso lembrado em toda festa religiosa da nação
ocorre pela maior visibilidade que essa matriz Kêtu, referente ao reino “Alaketu”, quando se
tem no Brasil, notadamente através da Bahia entoam os cânticos em homenagem ao Oxalá
e pelo prestígio que conquistaram no Rio de jovem, e há, ainda, no candomblé, uma festa
Janeiro. Entretanto, veja-se que personagens específica, em homenagem a esse orixá, em
como Chico Rei, Ganga Zumba, Zumbi e Rai- que se serve a todos a massa feita de inhame
nha Jinga, pertencentes ao universo banto, são e azeite ou mel.
também bastante freqüentes nos enredos que O nome do próprio orixá, Oxaguiã, sig-
relacionamos. nifica, a grosso modo, “aquele que é come
Há, inegavelmente, um leque de mani- inhame” (iyan). O inhame de que se fala, nesse
festações musicais, mesclando dança e reli- caso, não é o inhame chinês, mas o inhame
giosidade, portanto, plasticidade teatral, de cará, semelhante ao nosso inhame do norte.
origem africana, vindo a constituir o que se
convenciona chamar de música afro-brasileira. Elejibo
Em certos casos, a herança africana aparece Margareth Menezes
apenas no emprego de termos de origem afro; Ele... Ele... Elejibo...
em outros, na referência à cultura africana ori- Elejibo...
ginária, especialmente nas referências religio- Elejibo...
sas; em tantos mais, no emprego de um ritmo
característico; ou, ainda, valendo-se de toda Ele... Ele...
essa sorte de elementos de origem africana,
quando não, de aspectos que, por economia, Ele... Ele... Elejibo...
descuido ou desconhecimento, nem mencio- Elejibo...
namos aqui. Elejibo...
“Elejibo”, de Margareth Menezes, é um
exemplo de música afro-brasileira que mescla Cidade florescente
termos de origem africana, referências a luga- Elejibo...
res e coisas da África e ritmo afro tradicional, Cidade reluzente
o “bravun”, dos cânticos em homenagem ao Elejibo...
orixá Oxaguiã, o Oxalá novo e guerreiro. A mú-
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Cultura Afro-Brasileira
Onde comeram a massa de Inhamy bem mares, “maior ícone da luta negra contra o
passada... escravagismo no Brasil” e “símbolo da resis-
Onde será comida por todos os Zeus tência do negro africano frente à manutenção
Negros homens em comunhão com Deus do regime escravocrata”. Batuque, maracatu
Ele... Ele... e caxambu referem-se a danças típicas de ori-
gem africana, perpetuadas em comunidades
Ele... Ele... Elejibo... afro-descendentes. Nega-mina é uma erva
Elejibo... muito utilizada nos cultos afro-brasileiros e lar-
Elejibo... gamente referida nas tradições do candomblé.
Anastácia simboliza a negra escrava elevada à
Ele... Ele... categoria de “santo”, representante, semelhan-
te a Zumbi, das lutas de resistência do negro.
Ele... Ele... Elejibo... Clementina Jesus foi pagodeira consagrada no
Elejibo... mercado fonográfico. Reza e “ageum” dizem
Elejibo... respeito ao culto dos orixás, onde “ageun”,
termo iorubá, significa comida. Luanda é a
Ele... Ele... capital de Angola, na África. E “apartheid”
refere-se à crise sócio-político-cultural vivida
Cidade florescente pelos negros na África do Sul - então gover-
Elejibo... nada por brancos - onde eram submetidos a
Cidade reluzente políticas segregacionistas discriminatórias.
Elejibo... Nelson Mandela, foi o símbolo sul-africano
de resistência, tendo chegado à presidência do
Ele... Ele... Elejibo... país após o fim do regime opressor.
Elejibo... O samba, em seu sentido mais complexo,
Elejibo... reúne, nos desfiles carnavalescos, canto, letra,
Ele... Ele... dança, indumentárias, adereços, teatralidade
espetacular, e “Kizomba, a festa da raça”, foi,
Ele... Ele... Elejibo... em 1988, em exemplo vivo do esplendor da
Elejibo... Cultura Afro-Brasileira.
Elejibo...
Kizomba, Festa da Raça
No carnaval carioca de 1988, a Escola de Composição:
Samba Vila Isabel conquistou o título com o Rodolpho / Jonas / Luís Carlos da Vila
enredo “Kizomba, a festa da raça”. O samba- Valeu Zumbi
enredo é uma louvação dos povos africanos O grito forte dos Palmares
que compõem a base de construção do ser Que correu terras céus e mares
nacional brasileiro. Influenciando a Abolição
A letras inicia louvando Zumbi dos Pal- Zumbi valeu
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Cultura Afro-Brasileira
criação e improviso, além de aliviar tensões, pelos negros que vieram para as fazendas ca-
proporcionar liberação de energia e o contato feeiras da região centro-sul do Brasil. Ninguém
com os diversos aspectos da cultura afro- sabe dizer ao certo o local exato no qual teria
brasileira. se desenvolvido em terras brasileiras, mas as
A capoeira, de que aqui já se falou ao tra- cidades em que se tem noticias das primeiras
tar da música, evoluiu, em sua manifestação manifestações de jongo estão entre os estados
cultural, de luta marcial para dança artístico- de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Os
negros de Angola já tinham tradicionalmente
folclórica, ocupando lugar de destaque sempre
as danças de umbigada, muito comuns na re-
que se fala de dança afro-brasileira.
gião Congo-Angola, uma das mais conhecidas
Ela mantém uma relação direta com o
é o semba, aqui já referido ao se tratar da músi-
samba-de-roda, tanto por sua musicalidade
ca, que, em dialeto quimbundo, como também
quanto por sua característica corporal, “joga-
já se disse, significa umbigada. A umbigada é
da” sempre em rodas, as rodas-de-capoeira. uma característica do jongo, e também se faz
Para o jogo de capoeira, os capoeiristas no semba, no samba-de-roda, no tambor-de-
formam uma roda que faz a representação do crioula, no lundu, na pernada, no batuque, no
mundo, com elementos de sustentação e or- coco e em outras danças que provavelmente
denação: os instrumentos, a música, a palavra podem ter sido trazidas e/ou transformadas
cantada, os fundamentos e a ética do jogo. No aqui pelos escravos angolanos.
espaço da roda há uma dramatização de luta, Os escravos, na maioria das vezes, reu-
que transforma possíveis golpes poderosos niam-se nas noites de festa dos santos católicos,
em gestos contidos no momento do toque no provavelmente pelo fato de, na mesma data,
adversário. A movimentação individual nesta os senhores seus participarem de festejos em
dança guerreira está fortemente relacionada igrejas. E isso explica, de certo modo, porque
aos movimentos do outro capoeirista no jogo, muitas de suas comemorações religiosas pró-
em processos reflexivos, de valorização da prias coincidem com comemorações católicas,
além, é claro, de justificar amplamente os
auto-estima e de superação de estigmas.
sincretismos.
A capoeira é um processo de auto-
No jongo, apenas aos mais velhos era dado
conhecimento que não se limita à atividade
o direito à participação, pois os jongueiros
físico- corporal, buscando a reestruturação do
disputavam sabedoria através dos cantos ou
indivíduo a partir de experiências coletivas. pontos tirados, usando para isso uma lingua-
Assim, ao praticar a capoeira, propomo-nos gem cifrada, ou seja, uma gíria própria apenas
a interagir individual e coletivamente com ao grupo, dificultando o desvendar do ponto.
o mundo, participando de suas dinâmicas Hoje em dia, essa tradição tem sido quebrada
sócio-culturais. aos poucos para que a cultura do jongo não
Outra dança tipicamente afro-brasileira, acabe. Os pontos do jongo são divididos em
sempre lembrada quando se referem às danças pontos de abertura, de louvação, de visaria, de
de origem africana no Brasil, é o jongo ou o demanda, de enredo, jongo canção e ponto de
caxambu, como também é conhecido, que tudo despedida.
indica ter vindo da região de Angola, trazido
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Cultura Afro-Brasileira
Nos terreiros como é chamado o espaço dário fixo, embora seja praticada especialmen-
onde acontece a roda, igualmente aos candom- te em louvor a São Benedito. É dançado apenas
blés, ao samba-de-roda e ao samba em geral, por mulheres, que fazem uma roda, em cujo
acendia-se uma fogueira, que servia para es- centro evolui apenas uma delas. O momento
quentar os jongueiros, esquentar o couro dos alto da evolução é a “punga” ou umbigada.
tambores quando ficavam frouxos e também A punga é uma forma de convite para que
para assar batatas e amendoim. outra dançarina assuma a evolução no centro
As letras dos cantos ou pontos de jongo da roda. O Tambor de Crioula é ritimado por
relatam principalmente o cotidiano desse povo 3 tambores, que recebem os nomes de grande
negro. Usam, para começar o jongo, ponto de ou roncador (faz a marcação para a punga),
abertura, saudando em geral o santo do dia meião ou socador (responsável pelo ritmo) e
e outras entidades; em continuidade, o can- pequeno ou crivador (faz o repicado).
tador segue louvando o lugar, os jongueiros O lundu surgiu da fusão de elementos
antepassados, o anfitrião (trata-se do jongueiro musicais de origens branca e negra, tornan-
mais velho do lugar, geralmente o mais sábio do- se o primeiro gênero afro-brasileiro da
também) e a todos que ali se encontram. No canção popular, ainda que nem sempre seja tão
decorrer da noite, os jongueiros entoam cantos lembrado quanto o jongo e a capoeira, sequer
para alegrar e descontrair as pessoas, mas, de como os sambas. Realmente, essa interação de
vez em vez, um deles manda um ponto a ser melodia e harmonia de inspiração européia
decifrado, e os demais vão repetindo o canto, com a rítmica negro-africana constituir-se-
até que algum jongueiro decifre e desate o ia em um dos mais fascinantes aspectos da
ponto. Em outros casos, acontece também o música afro-brasileira. Situado nas raízes de
momento de encantamento, magia ou feitiço formação dos nossos gêneros afro, processo
que algum jongueiro lançava sobre outro a que culminaria com o advento do samba, o
quem ele queria enfeitiçar. Muitos contam lundu foi originalmente uma dança sensual
que, se o jongueiro enfeitiçado não decifrasse praticada por negros e mulatos em rodas de
o ponto, ele poderia desmaiar, passar mal ou batuque, só se fixando propriamente como
até mesmo morrer; contam também que plan- música no final do século XVIII.
tavam bananeiras que, ainda na mesma noite, No geral, as demais danças afro-brasi-
dava fruto e alimentava aos jongueiros dali. leiras, excluindo-se apenas as evoluções do
Ao final da roda de jongo, quando o dia já ia samba, estão intimamente ligadas ao culto
amanhecendo, despediam-se uns dos outros religioso, à dança de e para os orixás. É o caso,
e também saudavam a chegada do novo dia, por exemplo, do batuque, fruto de religiões dos
retornando à sua jornada de trabalho escravo povos da Costa da Guiné e da Nigéria, com
nas fazendas de café. as nações Jeje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô de
A tradição do tambor de crioula vem dos culto aos orixás, encontrada principalmente
descendentes africanos. É uma dança sensual, no estado do Rio Grande do Sul, de onde se
excitante, que apresenta variantes quanto ao estendeu para os países vizinhos tais como
ritmo e a forma de dançar, e não tem um calen- Uruguai e Argentina.
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Cultura Afro-Brasileira
comendo frutos ou mesmo pequenos pássaros foi durante algum tempo o maior produtor
que lhes apareçam pela frente. mundial de cravo da Índia, aparentemente
Essa dinâmica alimentar se refere às famí- originário da Indonésia. A África, em geral,
lias que vivem nas zonas rurais - nas cidades, adotou igualmente as receitas culinárias dos
apesar da maior disponibilidade e variedade povos que a visitaram ou que ali se radicaram,
de alimentos, só uma pequena parte da po- e um bom exemplo dessa mestiçagem culiná-
pulação tem acesso a uma alimentação melhor ria é a feijoada.
do que no campo. A maior diferença entre a No universo da culinária afro-brasileira,
refeição do africano rural e do pobre das cida- destaca-se a culinária baiana, composta
des é o conjunto dos utensílios usados para praticamente de pratos de origem africana,
cozinhar e servir os alimentos à mesa, além do diferenciados pelo tempero mais forte à base
combustível utilizado para cozinhar; e, mesmo de azeite de dendê, leite de coco, gengibre,
assim, as famílias rurais que têm ou tiveram pimenta de várias qualidades. As iguarias da
um dos seus membros trabalhando num país vertente africana estão reservadas, pela tra-
diferente por algum tempo, têm, normalmente, dição e pelos hábitos locais, às sextas-feiras
utensílios de cozinha e de mesa próprios das e às comemorações das datas institucionais,
cidades, diferentemente das demais famílias religiosas ou familiares. No dia-a-dia, o baiano
que tiveram essa “oportunidade”. se alimenta dos pratos herdados da vertente
O “caril”, acima mencionado, é um guisa- portuguesa, englobados no que se costuma
do de vegetais, geralmente reforçado com uma chamar de “culinária sertaneja”. São receitas
pequena quantidade de peixe ou carne seca, que não levam o dendê e demais ingredientes
porém, devido às condições de pobreza, na típicos de origem africana, como ensopados,
maior parte das vezes, a proteína é essencial- guisados e vários outros pratos encontrados
mente não é a carne, mas o vegetal. É comum, também nos demais estados brasileiros, em-
em várias regiões, usar amendoim pilado bora com toques evidentemente regionais,
como base do “caril”. O feijão também é uma como a utilização mais ou menos acentuada
importante fonte de proteínas empregada na de determinados temperos numa dada receita,
culinária africana. As famílias de pescadores e por exemplo.
as pessoas que, em geral, vivem junto à costa A predominância, no imaginário do
comem mais peixes, mas, os agricultores, ao brasileiro e nos meios de comunicação, da
contrário, consomem mais a carne em sua ali- culinária “afro-baiana”, ou afro-brasileira,
mentação diária. A carne, mesmo a de galinha, deve-se muito ao fato de Salvador, a capital
é muitas vezes a “proteína do domingo” ou da Bahia, situar-se no litoral do Recôncavo, o
das celebrações especiais - casamentos, culto que confere maior poder de divulgação para o
dos mortos etc. saboroso legado africano da culinária regional.
Para além dos produtos naturais da terra, Na Bahia existem duas maneiras de se prepa-
os africanos passaram a cultivar um grande rar os pratos “afros”. Uma mais simples, sem
número de especiarias provenientes do resto muito tempero, que é feita nos terreiros de
do mundo - a ilha de Zanzibar, na Tanzania, candomblé para serem oferecidos aos orixás,
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Cultura Afro-Brasileira
e a outra, de fora dos terreiros, onde as comi- pelos negros africanos, assim como a pimenta
das são preparadas e vendidas pela baiana do malagueta e a galinha de Angola.
acarajé, nos restaurantes, nas residências, que Eles também trouxeram para o Brasil o
são mais carregadas no tempero. gosto por novos temperos e a habilidade de
Basta um pouco de atenção em relação ao improvisar receitas, misturando ingredientes
que comemos em nosso dia-a-dia e de curiosi- europeus e indígenas às suas tradições origi-
dade acerca de sua origem para percebermos nárias. Na falta do inhame, usavam a mandio-
que muitos dos pratos que nos são servidos em ca; na falta da pimenta africana, abusavam do
nossas mesas vieram das terras africanas, ou azeite de dendê, e assim por diante.
seja, são, hoje, comidas afro-brasileiras. Da costa da Guiné, por exemplo, vieram,
Entre vários aspectos da Cultura, a culi- principalmente, fulas e mandingas, islamitas
nária tem sua importância reconhecida e é e gente de bem comer. Os fulas eram de cor
tomada como um dos traços distintivos da opaca, o que resultou no termo “negro fulo”
identidade cultural de um grupo humano. A (entrando depois na língua a expressão “fulo
sua variedade revela os recursos naturais de de raiva”, para indicar a palidez até do bran-
que o homem dispõe na região onde vive e, co). Os mandingas também entraram na língua
também, a Cultura que desenvolve. como novo sinônimo para encantamentos e
O africano introduziu, em terras brasi- artes mágicas. Mas os iorubanos ou nagôs, os
leiras, o leite de coco e o azeite de dendê e jejes, os tapas e os haussás, todos sudaneses
confirmou a excelência da pimenta malagueta islamitas e da costa oeste também, fizeram
sobre a do reino; dou ao Brasil o feijão preto, mais pela nossa cozinha porque eram mais
o quiabo; ensinou a fazer vatapá, mungunza, aceitos como domésticos do que a gente do sul,
acarajé, angu e pamonha. A culinária africana o povo de Angola, a maioria de língua banto,
fez valer os seus temperos, os seus verdes, a ou do que os negros cambindas do Congo, ou
sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos os minas, ou os do Moçambique, gente mais
branco-europeus, substituindo ingredientes. forte, mais submissa e mais aproveitada para
Fez a mesma coisa com os pratos indígenas da o serviço pesado.
terra. Disso, finalmente, surgiu uma cozinha Nos restaurantes típicos, nas rodas de
verdadeiramente brasileira, rica em pratos fundo de quintal, nos terreiros de samba, nas
com macarrão seco e sabendo usar as panelas grandes festas, nos ritos religiosos, em cada
de barro e a colher de pau: era a cozinha afro- lugar em que se servem comidas neste Brasil,
brasileira que nascia. Deliciosas comidas típi- está sempre presente a culinária afro-brasileira,
cas, como cuscuz e carne de carneiro, produtos que, por conseqüência, confunde-se, natu-
dessa nova culinária, são servidas em quase ralmente, com a culinária nacional. Culinária
todos os lugares deste vasto país. cantada por ilustres vozes da música brasileira
Os africanos contribuíram com a difusão e imortalizada em letras de grandes composi-
do inhame, da cana de açúcar e do dende- tores, como aquela aqui já referida mais atrás,
zeiro, do qual se extrai o azeite-de-dendê. O “No tabuleiro da baiana”, composta por Ari
leite de coco, de origem polinésia, foi trazido Barroso e depois revitalizada pelo canto har-
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Cultura Afro-Brasileira
monioso da baiana Gal Costa. e um pouco de camarão seco. Pode ser servido
São alguns exemplos de pratos afro-brasi- quente, morno ou frio, como prato principal ou
leiros, mais comuns em nosso dia-a-dia, são: como acompanhamento. O bobó de inhame e
do de vinagreira são os mais antigos, prepara-
Aberém dos desde o século XVII. Depois, foram sendo
sofisticados com o acréscimo, à massa básica,
Bolinho de origem afro-brasileira, feito de frutos do mar (camarão fresco, caranguejo
de milho ou arroz moído, macerado em água, desfiado, mexilhão, bacalhau, etc.), previamen-
salgado e cozidoa no vapor, em folhas de ba- te refogados. O atual bobó de camarão, prato
naneira secas. No candomblé, é utilizado como típico de renome, também tem, entre seus
comida-de-santo, sendo oferecido aos orixás ingredientes, mandioca e leite de coco.
Omulu e Oxumaré.
Canjica
Acaçá
Seus principais ingredientes são o milho
Comida ritual do candomblé e da culinária (geralmente milho branco), amendoim e o
baiana, feita fubá de milho branco ou verme- leite. Cozinha-se o milho em água ou leite-
lho, que deve ser cozida em uma panela com de-coco. Sem temperos, é a iguaria ofertada
água ou leite-de-coco, sem parar de mexer, até a Oxalufã.
ficar no ponto. Ainda quente, a massa deve
ser embrulhada em folha de bananeira. Todos Caruru
Orixás recebem o acaçá como oferenda.
Guisado de quiabo, cebola ralada, cama-
Acarajé rão, sal, azeite de dendê, castanha-de-caju
torrada e moída, amendoim torrado sem casca
Bolinho feito de massa de feijão fradinho e e moído. É o prato ritualístico oferecido ao
camarão seco moído, frito no azeite-de-dendê e orixá Ibeji.
servido com molho de pimenta, camarão seco,
vatapá e caruru. O acarajé é um prato típico Cuscuz
da culinária baiana e um dos principais
produtos vendidos no tabuleiro da baiana. Ele Prato originado do Maghreb, região do
é o prato oferecido ao orixá Iansã. Norte de África, (couscous) e popularizado na
culinária brasileira e portuguesa. Consiste num
Bobó preparado de sêmola de cereais, principal-
mente o milho, mas também pode ser à base
Consiste em um creme pouco consistente de farinha ou polvilho de mandioca. Além
feito de inhame, vinagreira etc., cozidos e do Brasil, o cuscuz também é consumido em
amassados com azeite-de-dendê, pimenta, sal outros países da América Latina.
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Cultura Afro-Brasileira
Efó
Sarapatel
Vatapá
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Cultura Afro-Brasileira
ATIVIDADES
a. leite-de-coco;
b. azeite-de-dendê;
c. feijão-fradinho;
f. miúdos de animais.
a. européia em geral;
b. africana em geral;
c. indígena nacional.
SITES
http://www.pime.org.br/mundoemissao/religafrobras.htm
http://www.cibersociedad.net/textos/articulo.php?art=33
PRODUÇÃO
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Cultura Afro-Brasileira
METODOLOGIA DE CASOS:
APRENDENDO COM A REALIDADE
PRODUÇÃO
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UNIDADE IV
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS III
Cultura Afro-Brasileira 46
Cultura Afro-Brasileira
João Fernandes de Oliveira, em 1739, habi- Para um homem jovem e rico como o
litou-se a esse tipo de atividade, participando desembargador, não faltariam pretendentes
da concorrência para a exploração no Distrito entre as filhas das famílias da elite do Tijuco. O
Diamantino. João Fernandes saiu vencedor ouvidor Caetano da Costa Matoso, que deixou
da arrematação, mas diziam que não passava famoso códice que leva o seu nome, já dizia à
de um testa-de-ferro do governador Gomes época que a história da região sempre esteve
Freire de Andrade. ligada às negras e mulatas forras que, como
Um dos homens mais ricos de seu tempo,
Chica da Silva, submetiam os homens brancos
o agora sargento-mor João Fernandes de Oli-
aos seus desejos. Com idade que variava de 18
veira mandou seu primogênito, com 13 anos
a 22 anos, Chica, quando conheceu João Fer-
de idade, nascido em 1727 no Tijuco, estudar
nandes, então com 26 anos, certamente, exibia
em Portugal, primeiro no seminário de São
a beleza das mulheres oriundas da Costa da
Patrício, em Lisboa, e depois em Coimbra.
Ele formou-se em 1748, mas, embora tenha Mina, com pele mais clara por causa do sangue
requerido licença para advogar, nunca exerceu português.
a profissão. Em 1754, Chica era proprietária de casas
Em 1751, seu pai, já viúvo, levara os de- e escravos, “vivendo na maior ostentação, e
mais filhos para residir em Lisboa. O sargento- senhora de uma grossa casa, à lei da nobreza e
mor batalharia politicamente para continuar à com muita riqueza”, como se lê no processo de
frente do Distrito Diamantino e, ao arrematar habilitação de seu filho, Simão Pires Sardinha,
o quarto contrato que entraria em vigor em à Ordem de Cristo, feito em Lisboa. Ao que
janeiro de 1753, preferiu continuar na Corte tudo indica, o casamento entre João Fernandes
e mandar o filho para cuidar diretamente da e Chica da Silva só não foi convencional por-
exploração dos diamantes no Tijuco. Assim, que a sociedade hierárquica do século XVIII
teria tempo de sobra para exercitar o tráfico impedia a legalização de matrimônio entre
de influências no Paço. pessoas de origens e condições tão desiguais.
Foi em 1753, pouco depois de chegar ao
Em 1770, quando o sargento-mor morreu,
Tijuco e assumir suas funções, que o desem-
João Fernandes teve de retornar a Portugal
bargador João Fernandes de Oliveira adquiriu
porque Isabel Pires Monteiro com quem o pai
de Manuel Pires Sardinha, por 800 mil réis, a
casara no Reino teria se aproveitado da saúde
escrava parda Chica, sem que se saiba os mo-
tivos que o levaram a fazer o negócio. debilitada do marido para praticar uma série
Se a comprou com o objetivo de torná-la de atos lesivos ao primogênito. João Fernandes
sua companheira, não se sabe, mas, poucos nunca mais veria Chica da Silva, mas a deixa-
meses depois, provavelmente já amantes, o ria numa situação extremamente confortável.
desembargador registrou a carta de alforria Havia sido um administrador excepcional,
de Chica, uma atitude pouco comum à época aumentara bastante a fortuna iniciada pelo
entre os proprietários mineiros. Desde então, pai, mas sempre foi considerado homem de ex-
ela passou a assinar-se Francisca da Silva de trema confiança de Sebastião José de Carvalho
Oliveira. e Melo, o futuro marquês de Pombal.
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Cultura Afro-Brasileira
lixão. Fantasias velhas, corpos, mesas, carros portava a bagagem mental de sua formação
velhos, pedaços de alegorias, etc., compõem metropolitana européia, imbuída de conceitos
este sinistro mundo. É lá que Orfeu, um Orfeu pseudo-científicos sobre a inferioridade da
enlouquecido, vai buscar o corpo morto de sua raça negra. Propunha-se o TEN a trabalhar pela
amada. A intensidade dramática desta última valorização social do negro no Brasil, através
parte do filme é bastante elevada. Orfeu, com da educação, da cultura e da arte.
o corpo de Eurídice no colo, sobe o morro. Pela resposta da imprensa e de outros
Diante de Mira e de outras passistas da escola setores da sociedade, constatei, aos primeiros
de samba, pronuncia o nome de Eurídice inin- anúncios da criação deste movimento, que sua
terruptamente. Mira, envenenada pela inveja, própria denominação surgia em nosso meio
perfura Orfeu com um ferro que mantém como um fermento revolucionário. A men-
levantadas as janelas do botequim. Várias pes- ção pública do vocábulo “negro” provocava
soas se aproximam. Maicol grita desesperado. sussurros de indignação. Era previsível, aliás,
Seu Inácio, em uma cena muito comovente, esse destino polêmico do TEN, numa socie-
assopra seu apito do tempo em que era mes- dade que há séculos tentava esconder o sol da
tre de bateria. Ao mesmo tempo, a televisão verdadeira prática do racismo e da discrimi-
anuncia: a Escola de Samba Unidos da Carioca nação racial com a peneira furada do mito da
foi a campeã do carnaval. Era quarta-feira de “democracia racial”. Mesmo os movimentos
cinzas. O filme termina com Orfeu e Eurídice culturais aparentemente mais abertos e pro-
dançando alegremente no desfile de carnaval gressistas, como a Semana de Arte Moderna,
da Unidos da Carioca. de São Paulo, em 1922, sempre evitaram até
A trajetória de Cacá Diegues aqui apre- mesmo mencionar o tabu das nossas relações
sentada ilustra a própria trajetória do cinema raciais entre negros e brancos, e o fenômeno
afro-brasileiro, se se podem distinguir esses de uma cultura afro- brasileira à margem da
exemplares de sua produção como tal, e per- cultura convencional do país.
mite que se veja, claramente, como desde a Polidamente rechaçada pelo então feste-
caricatura de Xica da Silva, passando pela jado intelectual mulato Mário de Andrade,
força de Zumbi, chega-se à leitura de Orfeu, de São Paulo, minha idéia de um Teatro
encarnado em um negro dos morro cariocas Experimental do Negro recebeu as primeiras
nos dias de hoje. adesões: o advogado Aguinaldo de Oliveira
Camargo, companheiro e amigo desde o Con-
1.2 - Teatro gresso Afro-Campineiro que realizamos juntos
em 1938; o pintor Wilson Tibério, há tempos
Em 1944, no Rio de Janeiro, surgiu o Te- radicado na Europa; Teodorico dos Santos e
atro Experimental do Negro, ou TEN, que se José Herbel. A estes cinco, se juntaram logo
propunha a resgatar, no Brasil, os valores da depois Sebastião Rodrigues Alves, militante
pessoa humana e da cultura negro-africana, negro; Arinda Serafim, Ruth de Souza, Marina
degradados e negados por uma sociedade Gonçalves, empregadas domésticas; o jovem e
dominante que, desde os tempos da colônia, valoroso Claudiano Filho; Oscar Araújo, José
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Cultura Afro-Brasileira
da Silva, Antonieta, Antonio Barbosa, Natalino Cerca de seiscentas pessoas, entre homens
Dionísio, e tantos outros. e mulheres, se inscreveram no curso de alfa-
Teríamos que agir urgentemente em duas betização do TEN, a cargo do escritor Ironides
frentes: promover, de um lado, a denúncia dos Rodrigues, estudante de direito dotado de um
equívocos e da alienação dos chamados estu- conhecimento cultural extraordinário. Outro
dos afro-brasileiros, e fazer com que o próprio curso básico, de iniciação à cultura geral, era
negro tomasse consciência da situação objetiva lecionado por Aguinaldo Camargo, persona-
em que se achava inserido. Tarefa difícil, quase
lidade e intelecto ímpar no meio cultural da
sobre-humana, se não esquecermos a escra-
comunidade negra. Enquanto as primeiras
vidão espiritual, cultural, socioeconômica e
noções de teatro e interpretação ficavam a meu
política em que foi mantido antes e depois
cargo, o TEN abriu o debate dos temas que
de 1888, quando teoricamente se libertara da
interessavam ao grupo, convidando vários
servidão.
A um só tempo o TEN alfabetizava seus palestrantes, entre os quais a professora Maria
primeiros participantes, recrutados entre ope- Yeda Leite, o professor Rex Crawford, adido
rários, empregados domésticos, favelados sem cultural da Embaixada dos Estados Unidos, o
profissão definida, modestos funcionários poeta José Francisco Coelho, o escritor Rai-
públicos - e oferecia-lhes uma nova atitude, mundo Souza Dantas, o professor José Carlos
um critério próprio que os habilitava também Lisboa.
a ver, enxergar o espaço que ocupava o grupo Após seis meses de debates, aulas e exercí-
afro-brasileiro no contexto nacional. Inaugu- cios práticos de atuação em cena, preparados
ramos a fase prática, oposta ao sentido acadê- estavam os primeiros artistas do TEN. Estáva-
mico e descritivo dos referidos e equivocados mos em condições de apresentar publicamente
estudos. Não interessava ao TEN aumentar o nosso elenco. Revelou-se então a necessidade
o número de monografias e outros escritos, de uma peça ao nível das ambições artísticas
nem deduzir teorias, mas a transformação e sociais do movimento: em primeiro lugar, o
qualitativa da interação social entre brancos
resgate do legado cultural e humano do afri-
e negros. Verificamos que nenhuma outra si-
cano no Brasil. O que então se valorizava e di-
tuação jamais precisara tanto quanto a nossa
vulgava em termos de cultura afro-brasileira,
do distanciamento de Bertolt Brecht. Uma teia
batizado de “reminiscências”, eram o mero
de imposturas, sedimentada pela tradição, se
impunha entre o observador e a realidade, folclore e os rituais do candomblé, servidos
deformando-a. Urgia destruí-la. Do contrário, como alimento exótico pela indústria turística
não conseguiríamos descomprometer a abor- (no mesmo sentido podemos inscrever hoje a
dagem da questão, livrá-la dos despistamen- exploração do samba, criação afro-brasileira,
tos, do paternalismo, dos interesses criados, pela classe dominante branca, levada nos
do dogmatismo, da pieguice, da má-fé, da últimos anos ao exagero do espetáculo carna-
obtusidade, da boa-fé, dos estereótipos vários. valesco luxuoso e, pela carestia, cada vez mais
Tocar tudo como se fosse pela primeira vez, eis longe do alcance do povo que o criou).
uma imposição irredutível. O TEN não se contentaria com a repro-
dução de tais lugares-comuns, pois procurava
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Cultura Afro-Brasileira
Emanoel Araújo, filho de Vital Lopes de constituição de sua família. Estes três
Araújo, cafuzo, e de Guilhermina Alves de Je- fatores são evidentes e em sua obra
sus, mestiça, nasce em 15 de novembro de 1940, estão acentuadas pelo seu interesse,
Emanoel Alves de Araújo, em Santo Amaro num passado multiétnico e simultâneo
da Purificação, tradicional cidade da Bahia. que vai do Atlântico à Europa e da
Descende de três gerações de ourives, tendo América à África. Um agitador cultu-
sido, à princípio, aprendiz de marceneiro e ral, portanto.
trabalhador, ainda criança. Aos 13 anos, passou Em 1998, quando ministrava um curso
a trabalhar na Imprensa Oficial do Estado da de desenho e gravura no City College da Uni-
sua cidade, em linotipia e composição gráfica. versidade de Nova Iorque, desenvolveu outra
Esta experiência foi fundamental na sua for- técnica para obter peças gravadas, usando
mação, tanto no domínio da técnica quanto da superfícies de plástico laminado e fórmica.
expressão. Após completar o curso secundário, Trabalha o papel imprimindo-o em, no míni-
mudou-se para Salvador com a intenção de mo, três etapas:
cursar arquitetura, mas começou a freqüentar a) os fragmentos criam o que ele chama - en-
exposições e a visitar museus e ateliês, que o viroment;
fez mudar de idéia, ingressando então na Es- b) estrutura a imagem criando linhas de força
cola Federal da Bahia, onde tornou-se aluno e tensão;
de gravura do mestre Henrique Oswald, que c) acabamento: após a forma estar definida e as
o admirava e o queria como seu substituto no tensões resolvidas, faz a opção cromática.
ensino universitário. Sua obra contém duas correntes: a posição
O desenvolvimento de seu estilo e da for- histórica de sua arte com a moldura ideoló-
mação de seu material cultural, passa pelos gica do final do século XX e a importância da
seguintes estágios: África e dos africanismos brasileiros na sua
▪ O mundo da Bahia, descrevendo a lo- estética. Duas correntes que se unificam na
calidade baiana tipicamente tropical, relação do estilo neo-africano de alguns de
flora e fauna. seus contemporâneos no Brasil, no Caribe e
▪ A história sócio-cultural da região: os na América do Norte.
índigenas e a imposição da escravidão Agnaldo dos Santos, nascido em dezem-
pelos portugueses com a chegada dos bro de 1926, no povoado da Gamboa, em Mar
africanos, que resulta virtualmente, Grande, litoral norte da ilha de Itaparica, lo-
num período africano. calidade plena de manifestações das religiões
▪ A sua ancestralidade, ameríndia e de seus ancestrais (Candomblé), jamais teve
iorubá, seu pai, seu avô e seu bisavô, contato com tais cultos - conforme depoimen-
eram ourives, artesãos de grande de- tos de seu pai, João Taparica, de sua irmã, e de
senvolvimento criativo. Mantivemos Dona Ernestina, viúva de Agnaldo. Por outro
os adjetivos cafuzo e mestiça, respei- lado, Clarival do Prado Valladares, em seu
tando a fala do artista que ressaltou “Origem e Revelação de um escultor primiti-
a presença africana e indígena na vo” (Revista Afro-Ásia, no. 14, 1983), apontava
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A obra de Valentim é uma procissão dos parte substantiva da obra. Na sequência ele
símbolos para as formas. O símbolo funciona passou a utilizar a cor, a destacar linhas cur-
como um operador dentro de um sistema en- vas de fundo e a eliminar a base, o chão. Suas
quanto que a forma surge a partir de si mesma, figuras passam a movimentar-se no espaço na
instituindo o próprio fundo. Disso resulta a série Capoeira Sideral.
observação pertinente do crítico de arte Paulo Em seguida Lizar começou a sintetizar
Herkenhoff, que na construção de seu corpus formas, a afastar-se de uma caracterização
divino, Valentim evita a atmosfera de magia explícita da figuração e a aproximar-se do
cara a Wifredo Lam, e opta pela ordem e cla- movimento descrito pelas figuras no espaço.
reza, pela simetria como projeto ordenador do Em outras palavras, acentuou o processo de
trânsito entre o homem e o mundo. abstração e de espiritualização destas formas
Na pintura, o branco surge como um sorri- e combinou-as com cores expressivas. Suas
so que descortina as trevas, às vezes organizan- formas derivam dos vários movimentos da
do um malabarismo de luzes disciplinado por capoeira, como o de armada, da esquiva, do
formas geométricas. Já o painel é inteiramente martelo, de meia lua de compasso, da tesoura
luz medida sobre o cheio e o vazio. de cintura e outros.
Lizar é pintor, desenhista, escultor, gra- Que fique claro que Lizar não pretende
vador e ativista cultural em São Paulo há com sua obra documentar a capoeira, seus
trinta anos. Consciente das dificuldades de golpes, sua ginga, sua manha. Ele a toma como
materialização de uma obra com originais ponto de partida para a criação de uma obra
particularidades negras na atualidade, já que nova, que embora referenciada numa manifes-
a simbologia recorrente desta caracterização é tação da cultura negra, não a reproduz.
por demais utilizada, Lizar vem desenvolven- Ele produz, sim, uma nova obra, ágil e
do um trabalho em que o conteúdo espiritual, vigorosa, na qual estão presentes as duas gran-
a vibração, a emoção e a pulsão, sobrepõe-se ao des paixões humanas - a alegria (laetitia) e a
puramente formal e ao simbólico-formal. tristeza (tristitia) - com características incon-
Isto não quer dizer que seu trabalho pres- testáveis e universais da negritude.
cinda do símbolo. Às vezes ele recorre as for- Marcelo Vieira Técnico em cerâmica, o jo-
mas que evocam, representam ou substituem vem Marcelo Vieira começou a realizar peque-
outras coisas, sobretudo quando estas são de nas pinturas em pratos de porcelana utilizando
natureza religiosa. massa epóxi como base de relevo.
O fulcro da obra plástica atual de Lizar é Isto no final do ano de 1997. Nesse perío-
uma africanidade brasileira de ampla inserção do freqüentava uma oficina de artes plásticas
na cultura do país: a capoeira. Aproximando- em Diadema, sua cidade natal. Inicialmente,
se do tema da capoeira no início dos anos 70, Marcelo não tinha pretensões de expor seus
Lizar recriou-a por três anos, em desenho trabalhos. Contentava-se em poder exercitar
monocromático, na série que denominou de sua negritude, através da arte.
Capoeira Mecânica. Foi a fase de preparação Convidado a participar do projeto “Arte
em que o artista adestrou-se no desenho, na nos Terminais”, da EMTU (Empresa Metro-
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politana de Transportes Urbanos) onde suas O que define a literatura infantil? Ser escri-
obras foram selecionadas para participar de ta por crianças? Ter uma linguagem infantil?
um circuito de exposições pelos terminais da Tratar de temas próprios das crianças? Todos
região do ABCD, Marcelo teve a grata surpresa esses aspectos juntos? Ou algum outro além
de cair no gosto do público, que se identificou deles? Enfim, a literatura infantil se define
com as cores, o movimento, a dança e a forma como tal em função do público ao qual se
guerreira que a raça negra possui e que são o dirige, presente que está, na própria estrutura
tema de seus trabalhos. textual, através de marcas interiores aos pró-
Atualmente, com muitos planos e metas prios textos em que ela se expressa.
a cumprir, Marcelo Vieira busca patrocínio Sendo isso verdade, nem Machado de
para desenvolver trabalhos sociais e poder Assis, nem Cruz e Souza, nem Lima Barreto
viajar para exibir sua arte em outros países, escreveram literatura afro-brasileira. Nem
principalmente africanos. mesmo aquele texto escrito para a coleção de
O artesanato popular, comum nas ruas e paradidáticos da educação básica, que apre-
praças públicas de todo o Brasil, é, em muito senta personagens negras, é, por si mesmo
tributário da arte popular e religiosa africanas. e somente por isso, literatura afro-brasileira.
A palha-da-costa das pulseiras e dos braceletes Para o ser, deveria prever, como leitor, no
bem como as miçangas dos colares ligam-se próprio universo textual, indicado por marcas
às indumentárias e à adereçaria dos orixás e discursivas, um afro-brasileiro.
dos adeptos do culto, assim como os búzios e Grande incoerência, então, afirmar isso.
as conchas. Muitos dos entalhes em madeira Que leitor nacional, assumidamente, não se
mantêm, também, estreitas relações com o enquadra no padrão étnico da afro-brasilidade?
imaginário dos “erês” africanos - estátuas en- Qual de nós não é, de fato, afro-descendente?
talhadas na madeira. Por parte de pai ou por parte de mãe? Em que
veia de um brasileiro não correm traços genéti-
1.5 - Literatura cos de um ancestral negro, ainda que distante?
Ser brasileiro é ser afro-descendente.
Será possível classificar a obra de Macha- Assim, o que podemos, nesse caso, para
do de Assis, escritor mulato, com ascendência procurar, de maneira didática, orientar na di-
negra, de literatura afro-brasileira? E Cruz e reção de uma literatura afro-brasileira aceitável
Souza escreveu poesias que expressassem uma sob o ponto de vista crítico-teórico, é falar de
afro-brasilidade? Lima Barreto, o grande escri- textos em que a presença de referências diretas
tor brasileiro negro, fez literatura com marcas à constituição de uma Cultura afro-brasileira,
afro-descendentes? Talvez, por problemas com personagens e temas concernentes à afro-
intrínsecos à teoria e à crítica literárias, a litera- descendência, seja notada de maneira bastante
tura seja, das manifestações artístico-culturais, evidente pelo leitor.
a que implica maiores dificuldades para classi- É necessário, contudo, apontar que nem
ficação com a locução adjetiva que lhe indique todos os textos em que aparecem personagens
a propriedade de ser afro-brasileira. negras ou que tratam de temas relativos à cul-
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ATIVIDADE
SITES DE REFERÊNCIA
http://www.apcab.net/
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/especiais/cultura_africana_e_
afro_brasileira
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METODOLOGIA DE CASOS:
APRENDENDO COM A REALIDADE
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
Textos impressos
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