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Índice
1. Introdução e objetivos..............................................................................................................2
2. Esboço da análise proposta.....................................................................................................5
3. Idéias preliminares sobre a execução do estudo...................................................................16
Tabelas e Figuras......................................................................................................................17
Referências...............................................................................................................................21
Anexo A: Características das alternativas ao diesel na Amazônia ............................................22
Anexo B: Exemplo de kits fotovoltaicos para domicílios individuais na Amazônia.....................30
1
1. Introdução e objetivos
O programa Luz para Todos (LPT) acelerou a expansão de acesso ao serviço da energia
elétrica no campo. Apesar de atrasos e custos maiores que esperados, até o fim de 2010 2,6
milhões de ligações foram feitas com novos consumidores no âmbito do programa. Com isso
98,9% dos domicílios no país têm atendimento elétrico. Em 2011 prevê-se mais 310.000
ligações pelo LPT. Além disso, o PAC 2 (lançado em março de 2010) propõe a realização de
mais 500 mil ligações até o final de 2014, mediante uma nova prorogação do LPT. Pelo menos
em teoria haverá um atendimento de quase 100% dos domicílios no país.1
Até hoje praticamente todas as novas ligações foram feitas através da extensão de linhas de
distribuição, apesar da baixa densidade da população e das cargas em grande parte do interior
do país. Um exemplo é a ligação da Ilha de Marajó, onde uma linha de transmissão de >260
km (com mais 1000 km de distribuição) liga uma carga máxima de ~30 MW a Tucuruí.
Soluções descentralizadas de geração local foram raramente utilizadas até recentemente.2 Por
exemplo, foi apenas em fevereiro de 2009 que um manual sobre como encaminhar “projetos
especiais” (termo no LPT para projetos descentralizados e isolados) foi publicado.3
Na medida que comunidades cada vez mais remotas estão sendo atendidas, o custo das
ligações vai aumentando. O custo médio das ligações aumentou em 40% entre 2004 e 2010 e
a média do programa ficou acima de R$ 7 mil por ligação.4 O custo total do programa até
agora foi R$ 18,7 bilhões. O PAC 2 prevê um custo de R$ 5,5 bilhões para atender os “últimos”
495 mil domicílios, ou mais que R$ 11 mil por nova ligação.
Pergunta-se se uma nova estratégia realmente existe para atender as comunidades no prazo
definido. Em que base foram estimados o investimento e o prazo? Qual é o “mix” contemplado
de tecnologias? Não há informações ou relatórios à respeito no website do LPT nem do PAC
2. No entanto, a alternativa de “puxar fios” está claramente chegando a seus limites. Os
documentos do próprio LPT parecem reconhecer isso.
“O Luz para Todos entra em uma nova fase, e nela, certamente está a missão mais
desafiadora e difícil do Programa: além de manter o ritmo atual das ligações por rede, é
necessário atender as famílias que moram em comunidades isoladas, especialmente
aquelas que estão na Região Amazônica, onde não é possível levar a energia elétrica
usando os tradicionais sistemas de transmissão e distribuição. Soluções alternativas
estão sendo desenvolvidas, com o uso de geração descentralizada, aliada às
características locais, respeitando o meio ambiente e agregando renda.” (MME, sem
data - página 132)
1
Será que realmente sabemos quantos domicílios ainda não são atendidas? Um artigo (Brasil Energia,
jan/2011) mostra uma tabela baseada em pesquisa do IBGE que estima os “sem luz” em 637 mil,
numero bem abaixo da meta de 811,000 domicílios a serem atendidos no âmbito do LPT.
2
Até agora não achei estatísticas publicadas e acessíveis sobre isso, mas tudo indica que praticamente
todas as novas ligações foram conectadas à rede nacional ou algum sistema isolado existente.
3
Cabe lembrar que o LPT era para terminar do fim de 2010. Portanto o tempo remanescente para
preparar e implementar projetos era muito reduzido.
4
Informações na revista Brasil Energia (jan/2011). Na verdade, há uma inconsistência nas estatísticas
publicados neste artigo. Por um lado, houve 2,6 milhões de conexões a um custo global de R$ 18,7
bilhões (13,5 da CDE + RGR, 2,1 dos Estados e 3,2 das concessionárias), o que dá uma média de R$
7.200 por ligação. Por outro lado, o artigo cita valores médios por ligação para 2004 (R$ 4.300) e 2010
(R$ 6.000), sem qualquer referência à um “pico” de custos antes de 2010. Evidentemente os dois valores
não batem. Confio mais nos valores globais neste caso, porém é claro que houve um aumento no custo
por ligação.
2
Porém reconhecer um desafio é apenas um passo. É preciso criar uma estratégia e planos de
ação se o governo realmente pretende implementar projetos descentralizados em centenas de
comunidades isoladas – especialmente dentro do curto prazo anunciado (< 4 anos). O desafio
não é apenas de usar tecnologias diferentes das da distribuição convencional. O “business
model” mais apropriado pode ser bem diferente também. Construir e operar redes elétricas é a
“core competence” das concessionárias de distribuição. Más não é tão óbvio que as
concessionárias têm uma vantagem comparativa quando se trata de construir, operar e manter
pequenos ou micro sistemas isolados. Essa dúvida levanta questões básicas sobre a
organização do LPT, até hoje calçado totalmente nas atividades das concessionárias.
Até agora, o que eu consegui achar não é um plano más uma série de relatórios publicados
pelo MME em 2008 chamada “Soluções energéticas para a Amazônia”. Há um relatório
síntese (Barreto et al, 2008) e quatro relatórios sobre tecnologias para a geração distribuída
nos sistemas isolados:
• pequenos aproveitamentos hidroelétricos (Tiago Filho et al, 2008)
• combustão e gasificação de biomassa sólida (Rendeiro et al, 2008)
• biodiesel e óleo vegetal in natura (Gonzalez et al, 2008)
• sistemas híbridos (Pinho et al, 2008) - (principalmente módulos fotovoltaicos e plantas
eólicas junto com motores diesel)
A série trata principalmente da dimensão tecnológica e inclui descrições detalhadas das
tecnologias e das questões envolvidas na construção das plantas de geração. Há exemplos de
metodologias para dimensionar o mercado e de análise econômico. No entanto, o conjunto é
longe de responder, até em linhas gerais, a questões cruciais para elaborar um plano, como:
a) Qual é o perfil das comunidades ainda não atendidas com serviços elétricos (população,
faixa de potencial de consumo/demanda elétrica e fator de carga)? Onde estão
localizadas? Há exemplos de análises pontuais nos relatórios sobre tecnologias
específicas, porém falta uma síntese minimamente adequada.
b) Geradores à diesel são a opção predominante nos sistemas isolados da Amazônia hoje
(>95%). São, sem dúvida, o “cenário de referência” ou “business as usual” para atender
as comunidades. Porém o cenário do diesel é tratado muito inadequadamente. Por
exemplo,
• Que é a faixa dos custos do diesel (contando todos os subsídios) entregue em
diversas regiões da Amazônia? As análises sempre escolhem apenas um valor.
• Que é a faixa de custos para energia gerada hoje em comunidades com escalas
e fatores de carga diferentes, nas diversas regiões definidas acima?
c) Afinal, as fontes renováveis podem contribuir significativamente nos próximos anos para
abastecer as comunidades que serão atendidas? Quais tecnologias são mais
promissoras e competitivas em situações diferentes?
• Em relação às comunidades já atendidas (serviço público ou autoprodutores),
as fontes renováveis podem substituir uma parte significativa do óleo diesel?
Quais tecnologias são mais promissoras?
Neste contexto, e considerando a urgência política da universalização do atendimento implícita
nas metas do PAC 2, proponho a preparação de uma análise que pode servir de referência e
insumo para um Plano de Ação nacional (ou diretrizes nacionais) como também servir como
referência para agentes importantes neste mercado – governos estaduais, concessionárias,
3
project developers, cooperativas, etc - preparar suas propostas e planos específicos. O quadro
hoje parece muito confuso.
A idéia não é preparar um Plano de Ação como tal. Isso seria uma função do governo e exigirá
diversas negociações. O objetivo desta proposta é mais modesto – prover uma base a partir
do qual um Plano pode ser discutido e elaborado.
O enfoque principal do trabalho seria econômico, baseado em parâmetros claramente
explicitadas para as diversas tecnologias.5 A dimensão temporal será importante, tanto do lado
da oferta (por exemplo prazos para definir e implementar diferentes tipos projetos, grau de
prontidão de uma determinada tecnologia para ser disseminada) como do lado da demanda
(que crescerá, muitas vezes do zero). Como parte do diagnóstico, é preciso dar muito atenção
às características dos diversos segmentos do mercado potencial.
Finalmente, o relatório deve abordar as questões sobre a melhor maneira de executar projetos
de geração descentralizada – os “modelos de negócio” mais apropriados não apenas para
construir os novos pequenos (ou micro) sistemas, mas para mantê-los, expandir depois e
cuidar do segundo novo desafio do LPT:
“Outra tarefa que o Luz para Todos terá, daqui para frente, será o de fomentar os
projetos de desenvolvimento sustentável por meio do uso produtivo da energia elétrica.
Pois, com a energia, as possibilidades de desenvolvimento e geração de emprego e
renda mudarão a realidade das famílias que tanto contribuem para a grandeza deste
país.” (MME, sem data - página 132)
5
A série “Soluções energéticas para a Amazônia” já apresenta muitos detalhes tecnológicos que não
precisam ser repetidas. Está desatualizada em alguns pontos (e.g. gaseificação da biomassa) e falta
tratamento da opção importante da co-geração. Por tanto alguma revisão das tecnologias será
apropriada, mas não é o objetivo preparar uma nova série de “cartilhas tecnológicas”.
4
2. Esboço da análise proposta
Segue abaixo um primeiro esboço do trabalho proposto. Para fugir de uma lista seca de
tópicos, há também observações sobre pontos e hipóteses que fundamentam a proposta.
1. Objetivos do relatório, seu escopo, estrutura e as metodologias envolvidas. Breve
histórico do programa Luz Para Todos com uma descrição dos termos de conexão,
organização e procedimentos. Resumo das metas de atendimento do LPT. Escopo
geográfico do estudo.6
5
Construindo a partir das informações básicas acima, preparar estimativas da demanda
energética (atual e reprimida) nas comunidades.
• Estimativas de posse de eletrodomésticos e sua evolução depois a ligação.
A Tabela 1, em baixo, mostra a experiência do LPT. Porém a publicação
citada não tem nenhuma estimativa de como evolui numa comunidade típica.
• Estimativas de outras demandas para serviços energéticos:
o no setor produtivo – seja familiar ou indústrias. Exemplos são bombas
de água, refrigeração, serras. Pode ser difícil na prática separar o
consumo domiciliar do produtivo em muitos casos.
o no setor público, como escolas, clínicas ou iluminação pública (se
tiver).
• Análise da demanda (kW) e consumo (kWh/mês ou ano) dos equipamentos
e estimativas da demanda máxima e do fator de carga da comunidade.7
Na Tabela 2 em baixo, estima-se em 83 kWh/mês o consumo médio por
domicílio ligado no LPT. A Figura 2 mostra os fatores de carga de uma
amostra de sistemas isolados de serviço público no Pará. A grande maioria
cai na faixa de 15-30%. A tendência é para sistemas menores ter fatores de
carga menores – o que aumenta o custo do serviço.
o Considerações sobre como a demanda e consumo podem evoluir
depois a ligação. As experiências do próprio LPT seriam valiosas, se
as informações estão de fato acessíveis.
• Considerações gerais sobre como o fator de carga (do lado da demanda) se
traduz em fator de capacidade (do lado da geração). O assunto deve ser
aprofundado nas seções sobre tecnologias específicas.
Geralmente o fator de carga da demanda será mais alto que o fator de
capacidade do sistema gerador, devido à necessidade de reservas e de
acomodar alguns anos de crescimento da demanda na hora de instalar o
sistema. A capacidade dos módulos de geração terá um efeito importante.
Vale lembrar que o fator de capacidade tem um forte impacto sobre o
rendimento de motores de combustão.
• Acredito ser relevante também investigar o consumo de diesel (e tal vez
gasolina) para fins além da geração elétrica – especialmente transporte
fluvial e pesca. Esta informação pode ser relevante para dimensionar a
produção de bio-combustíveis líquidos, como biodiesel. Afinal, se fizer
sentido econômico substituir o diesel na geração elétrica o mesmo vale para
esses usos. Dada a pequena demanda de combustível, aumentar o volume
do mercado deve trazer economias de escala na produção.
A abordagem acima supõe que a comunidade está servida por um pequeno central e
uma micro-rede. Porém existe uma alternativa significativa – módulos fotovoltaicos em
domicílios individuais. Neste caso os sistemas são dimensionados para cargas muito
pequenas que são fundamentais para o bem estar (veja exemplos no Anexo B). O
investimento por kWh/mês é relativamente alto. Portanto procura-se usar os
7
Curvas da carga horária típicas devem ser preparadas também, baseadas em alguns casos. De fato,
exemplos já existem (ver por exemplo, Pinho et al, 2008 e Rendeiro et al) mas deve-se, por exemplo,
discriminar melhor o impacto de eventuais cargas industriais.
6
equipamentos de consumo mais eficientes (lâmpada incandescente, nem pensar).
Diferente dos domicílios ligados a uma rede, há um limite automático da demanda e do
consumo. Neste estudo o assunto deve ser tratado em mais detalhe na seção sobre
fotovoltaicos, usando como ponto de partida experiências nacionais e internacionais.
O custo real do diesel varia substancialmente na Amazônia, sendo mais alto nas micro-
regiões mais remotas. Porém nos estudos existentes, como (Pinho et al, 2008), o custo
do diesel é geralmente tratado como sendo constante. Portanto, deve-se tentar mapear
aproximadamente como o custo muda de uma micro-região para outra. Com base
nessas informações e na análise anterior haveria uma análise do impacto dessas
variações no custo total da geração a diesel.
Como parte desta análise, deve-se resumir os subsídios para diesel e sua parcela do
custo total. Deve-se também abordar, pelo menos de forma geral, a questão incômoda
do desvio do diesel para uso em plantas de serviço público – o tal da “máfia do diesel”.10
8
São apenas valores ilustrativos. Uma pergunta é a menor escala de planta diesel disponível no
mercado e/ou que deve ser considerado.
9
É possível ter 2 grupo geradores de tamanho menor em vez de um. Isso exige um investimento por
kW maior. Porém o fator de carga e, portanto, o rendimento de cada motor será maior. Além disso,
haveria aumento de confiabilidade de suprimento.
10
Quando pesquisei o assunto da geração nos sistemas isolados na Amazônia 20 anos atrás fui
informado que um terço do diesel destinado para uso da concessionária de Roraima era desviado.
7
• Outros custos de operação.
o No caso de tecnologias usando bio-combustíveis, fatores influindo o
custo do combustível alternativa.11
• Confiabilidade e tempo de serviço (24 horas/dia?).
A substituição do diesel por essas alternativas pode ser completa ou parcial. Sistemas
de substituição parcial são chamados “híbridos”. Costuma-se analisar a energia eólica
e fotovoltaica no contexto de um sistema híbrido devido a sua intermitência. Porém,
como já observado, no caso dos módulos fotovoltaicos há a possibilidade de sistemas
“stand alone” servindo domicílios individuais. Esta opção merece atenção.12 Ao mesmo
11
No caso do biodiesel esta análise do custo do combustível será mais complexa por envolver o
processamento de um insumo. Em todos os casos o impacto do fator de capacidade da geração sobre
consumo e a disponibilidade do volume exigido de combustível deve ser abordado.
12
É interessante observar que a série do MME “Soluções Energéticas para Amazônia” nem fala desta
alternativa, como se não existisse, apesar de haver muitos exemplos de programas deste tipo nos países
em desenvolvimento. A opção fotovoltaica é apenas considerada no contexto de sistemas híbridos com
mircro-redes (Pinho et al, 2008). A raiz desta exclusão pode ser ideológica/política. Afinal, um sistema
limitado à (digamos) 10 kWh/mês é restritivo comparado com um que pode entregar tanta energia que o
consumidor quiser comprar (a preços altamente subsidiados). É claro que, tendo a escolha e sem pagar
mais (as ligações do LPT são gratuitas), qualquer um vai preferir um sistema com consumo irrestrito.
8
tempo, os sistemas híbridos são uma opção que merece atenção numa gama mais
ampla de situações (ver o Box).
9
Sistemas Híbridos
Configurações híbridas podem ser interessantes com tecnologias além das fotovoltaicos
e eólicos, aproveitando das características do motor diesel (cujo investimento por kW é
o menor). Um exemplo pode ser a gaseificação de biomassa. Seu rendimento em
carga parcial é ainda pior que o do motor diesel. A planta precisa ser fechada de vez em
quando para manutenção. Em algumas circunstâncias pode ser interessante ter um
grupo gerador a diesel também, servindo como unidade de geração na ponta e/ou
noturna (quando o gasificador pode ficar desligado), como também de reserva nas
horas de manutenção.
Outra linha de investigação é como os sistemas híbridos podem trazer benefícios para
as comunidades já servidas com geradores a diesel. Em muitos dos sistemas
(especialmente os menores), não há serviço de 24 horas devido ao baixíssimo fator de
carga na madrugada. Representa um limite da qualidade de serviço que vai ficar cada
vez mais incômodo para os consumidores. Sistemas híbridos podem tal vez abrir um
caminho novo para implementar um serviço de 24 horas a um custo menor. De modo
geral, a qualidade de serviço é um fator que deve ser considerado nas análises das
tecnologias e das configurações dos sistemas.
Há mais uma dimensão da questão dos sistemas híbridos. O biodiesel pode substituir o
diesel como combustível nos geradores a diesel. Se tivesse uma oferta de biodiesel
produzido na Amazônia os sistemas de geração a diesel também seriam renováveis e
com uma logística menos cara de abastecimento. A grande pergunta é se o biodiesel
concorre economicamente com o diesel convencional.
Uma metodologia comum de análise dos custos seria utilizada para todos as
alternativas (incluindo diesel convencional) para permitir comparações entre opções em
escalas diferentes e entre regiões com custos maiores e menores de diesel. A
comparação básica seria sem subsídios (o que implica uma análise dos subsídios
existentes). Deve-se também fazer cálculos preliminares da redução das emissões de
gases de efeito estufa (principalmente CO2) comparado com o diesel convencional e do
impacto de diferentes valores de créditos de carbono nos custos relativos.
Ao concluir a discussão das várias tecnologias, haveria uma seção comparando-as de
forma resumida e sugerindo as situações onde uma determinada tecnologia teria mais
vantagem comparativa.
Algumas das tecnologias relevantes para sistemas isolados estão evoluindo com certa
rapidez. Nos casos mais dinâmicos deve-se estimar como os custos (ou outras
características importantes) podem evoluir nos próximos anos e traçar um tipo de
“roadmap” preliminar de como acelerar o desenvolvimento e comercialização. O prazo
curto da meta do PAC 2 impõe limites severos na contribuição de tecnologias que não
estão quase prontos para ser mobilizadas e replicadas. Mas os investimentos na
universalização não devem parar com a execução do atendimento inicial. O próximo
capítulo tratará desta questão.
10
políticas energéticas. Neste caso permitem comparar o custo no tempo13 de estratégias
alternativas de alcançar a meta da universalização, como também identificar marcos e
riscos importantes. O uso de cenários levanta imediatamente a questão do horizonte a
ser considerado.
13
É importante considerar não apenas o custo inicial do investimento mais os custos posteriores de
operação e manutenção. Acho que no LPT até agora apenas o investimento inicial foi levado em conta.
Emissões de CO2 da geração elétrica devem ser calculadas para cada cenário, junto com estimativas do
valor de créditos de carbono em relação ao cenário de referência (Cenário A) com diesel convencional.
11
da região) o custo real do biodiesel provavelmente seria próximo ao custo real do diesel
convencional (tal vez até sem considerar créditos de carbono). Este quadro é muito
distinto do resto do país. Aliás, uma política de fomento do biodiesel para o interior da
Amazônia deve ser muito diferente do resto do país – fato tal vez não adequadamente
reconhecido.14
A substituição do diesel pelo biodiesel tal vez não mudaria muito o custo da geração,
mas o impacto sobre a economia local deve ser muito diferente. O diesel é um insumo
“importado” na micro-região, enquanto a maior parte do valor agregado no biodiesel
seria local - o equivalente de abrir uma nova atividade econômica. Isto é relevante para
os objetivos mais amplas de desenvolvimento econômico sustentável na região.
Assim, um “Cenário B” poderia ser o mesmo do “Cenário A”, porém com a entrada de
biodiesel substituindo o diesel paulatinamente depois 2014.
O uso do óleo in natura apresenta um quadro parecido ao biodiesel, com duas grandes
diferenças. Por um lado, seria mais barato e mais simples produzir nas pequenas
comunidades. Por outro, o uso e mais restrito e parece que apenas alguns motores a
diesel podem usá-lo. Neste variante um passo urgente seria uma campanha de testes
e certificação de motores aptos a usar este combustível. Como discutido no Anexo A, o
óleo in natura pode ser um precursor para o biodiesel.
14
Além do biodiesel provavelmente ser mais competitivo com diesel convencional (evidentemente é
urgente ter análises cuidadosas desta constatação, ver Anexo A.), há outras diferenças importantes.
Enquanto o programa nacional visa alcançar níveis de mistura (hoje 5%), nos sistemas isolados o
objetivo é aproximar uma substituição próximo a 100%. Os prováveis insumos serão diferentes e
espera-se que as plantas de processamento serão muito menores (tal vez 50-200 vezes menor). É
curioso que o biodiesel está menos desenvolvido exatamente na região onde faz mais sentido do ponto
de vista econômico.
12
Outras alternativas poderiam ser analisadas, dependendo das avaliações das
tecnologias.
Existem diversos modelos institucionais para gerir sistemas isolados, como, por
exemplo: cooperativas, mini PIEs e subsidiárias de concessionárias. Elas merecem
atenção. Se, após uma avaliação preliminar, elas apresentam características
favoráveis, deve-se aprofundar a análise abordando temas como (por exemplo):
• Financiamento. Como estruturar as empresas/cooperativas para ter acesso ao
financiamento. Ë preciso criar novos instrumentos de financiamento com termos
exeqüíveis para esses agentes.
• Repasse de subsídios. Seria necessário criar novos procedimentos claros para
canalizar os recursos dos subsídios do LPT para esses agentes. Hoje tudo é
estruturado para passar pela concessionária (como é o caso, na prática, da
CCC)
Esses avaliações seriam a base para recomendações sobre agentes complementares
às concessionárias para implementar o LPT da forma mais eficaz possível.
15
Isto é mais um exemplo da dimensão dos diferentes impactos sócio-economicos locais que a análise
deve incluir, pelo menos de forma preliminar.
16
Considere, por exemplo, o caso do biodiesel. A concessionária quase certamente não se interessará
na gestão da produção do biodiesel. Más se já tiver um agente gerenciando esta produção do biodiesel
(tarefa tão complexa quanto gerar a energia elétrica) valeria a pena montar uma outra estrutura paralela
de gestão (com sede à centenas de kilometros de distância) para administrar a geração elétrica?
13
comparado com a política nacional.17 Seria pertinente avaliar os programas das
concessionárias no âmbito do PEE para a população de baixa renda, que certamente
inclui a grande maioria da população nessas comunidades.
Num outro plano, muitos do supostos benefícios da eletrificação podem ficar apenas no
papel – isso é muito comum com programas de eletrificação rural no mundo inteiro,
especialmente em relação às medidas visando a capacidade da população aumentar
sua renda. É muito relevante definir quais são esses benefícios e identificar como serão
efetivamente realizados. A eletrificação sozinha apenas potencializa algumas
mudanças. O Luz Para Todos (LPT) reconhece este desafio (ver o texto do LPT citado
na Introdução), mas continua sendo um desafio que precisa ser abordado
explicitamente. Senão, podemos cair no absurdo de gastar R$ 11.000 de dinheiro
público18 para conectar domicílios rurais, sem gastar outros recursos (bem menores)
para viabilizar a transição dessas famílias para um novo patamar de renda.
14
Pessoalmente, acho que a eletrificação do interior é fundamental tanto do lado cultural e
social, como do lado econômico para alcançar o objetivo de “desenvolvimento
sustentável” no contexto do mundo hoje. Acredito também que é essencial agregar
mais valor na região à cada kilograma dos recursos naturais extraídos dela, na medida
do possível. Más admito que esta capacitação pode ser uma faca de dois gumes. Sem
uma política mais abrangente de sustentabilidade para a região, a eletrificação do
interior pode acelerar o processo de degradação ambiental. Ë mais uma razão para
propor um Plano de Ação para universalizar o atendimento elétrico na Amazônia com
uma visão integrada e ampla e com um prazo de 10 anos (detalhados) e algumas
análises gerais até mais 10 anos na frente.
15
3. Idéias preliminares sobre a execução do estudo
19
Até agora não vi nenhum plano mais detalhado em relação aos próximos anos do LPT e do OAC 2.
Porém deve existir alguma coisa nesta linha com circulação reservada.
16
Tabelas e Figuras
“The break-even curve in each graph traces the line along which the levelized costs are the same
for either PV household systems or grid-based power, given specific combinations of load
(household connections) and load density (household connections per km2). PV electrification is
the least-cost option below the line and grid-supply is the least-cost option above the line. For
example, an isolated diesel-powered grid is the least-cost option for a village with 400 household
connections and 100 households per km2 (see Fig. 3). If this village had half the number of
household connections and a lower household connection density (for instance, 65/km2), PV
household systems would be the least-cost choice.”
17
**************
Porcentagem de domicílios
TV 79.3%
Equipamento de som 45.4%
Geladeira 73.3%
Freezer 16.0%
Chuveiro elétrico 25.8%
Ventilador 29.4%
Computador 2.5%
Bomba d''agua 24.1%
Ferro de passar 27.2%
Liquificador 39.0%
Tanquinho (lavar roupa) 10.4%
Outros 13.1%
Fonte: MME, 2009
18
Categoria consumo mensal Parcela dos domicílios Consumo médio da categoria
Original Ajustada (kWh/mês)
Até 30 kWh 21.2% 22.6% 25
De 31 até 80 kWh 33.9% 36.1% 55
De 81 até 180 kWh 27.5% 29.3% 110
De 181 até 220 kWh 5.0% 5.3% 190
Acima de 220 kWh 6.2% 6.6% 230
Não respondeu 6.2% 0.0%
Médio geral (kWh/mês) 83
Cidade Média anual Mês Mínimo Mês Máximo Razão mês máximo/
(kWh/m2/dia) % média annual % média annual mês mínimo
Brasil
Manaus 4.80 88% 117% 1.33
Belém 5.09 92% 110% 1.20
Porto Velho 5.18 91% 118% 1.30
Boa Vista 5.28 86% 111% 1.29
Cuiabá 5.56 91% 107% 1.18
Brasília 5.65 89% 112% 1.26
São Paulo 4.90 84% 109% 1.30
Rio de Janeiro 5.38 86% 118% 1.37
Curitiba 4.47 86% 111% 1.29
Petrolina 5.77 84% 112% 1.33
Recife 5.47 82% 113% 1.38
Internacional
Baltimore 4.66 61% 122% 2.00
Tucson 6.59 80% 114% 1.43
Boulder 5.56 77% 112% 1.45
Berlin 2.96 21% 161% 7.67
Madrid 5.05 47% 138% 2.94
Shanghai 4.09 71% 124% 1.75
New Delhi 6.02 87% 116% 1.33
19
Cálculos baseados no “NREL PVWATTS calculator”.
http://rredc.nrel.gov/solar/calculators/PVWATTS/version1/
20
Referências
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Graduate School of Business, August, 2007.
Barreto, Eduardo José Fagundes, et al.; Tecnologias de energias renováveis : sistemas
híbridos, pequenos aproveitamentos hidroelétricos, combustão e gasificação de biomassa
sólida, biodiesel e óleo vegetal in natura; 156 p, série “Soluções energéticas para a
Amazônia”, Ministério de Minas e Energia, Brasília, 2008.
Brasil Energia; “Aumenta o desafio da universalização”; p 76-79, número 362, janeiro de 2011.
Cabraal, Anil, et al; Accelerating Sustainable PV Market Development; Asia Alternative Energy
Program (ASTAE), The World Bank, Washington, D.C., sem data mas aproximadamente 1998
Econoler; Market Assessment for Promoting Energy Efficiency and Renewable Energy
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ESMAP; Technical and Economic Assessment of Off-grid, Mini-grid and Grid Electrification
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Program, World Bank, 2007
Gonzalez, Wilma Araújo, et al.; Biodiesel e óleo vegetal in natura; 168 p, série
“Soluções energéticas para a Amazônia”, Ministério de Minas e Energia, Brasília,
2008.
LBNL; Tracking the Sun III - The Installed Cost of Photovoltaics in the United States from 1998-
2009; Report Summary - Galen Barbose, Naïm Darghouth, and Ryan Wiser, Lawrence Berkeley
National Laboratory, December 2010
21
Anexo A: Características das alternativas ao diesel na Amazônia
c. Energia eólica. Energia eólica não parece ser uma opção interessante na
Amazônia fora do litoral e alguns lugares montanhosas (como na Roraima). 22 Há
poucos lugares com bom potencial eólico que não serão conectados à rede em
breve. O tratamento pode ser muito curto.
20
A potência de uma planta com a mesma área transversal aumenta pelo cubo da velocidade da água.
21
Um protótipo de 1 kW custou em torno de R$ 15.000 em 2008 (Tiago et al, 2008)
22
Na outra região com grande número de comunidades não atendidas, no interior da Bahia, Piauí e
Maranhão pode haver uma ocorrência maior de sítios com potencial eólico. Porém nesta proposta nosso
enfoque é a Amazônia.
22
d. Turbinas e pistões a vapor. É um conjunto de tecnologias amplamente utilizado
na região, principalmente pelas madeireiras que dispõem de grandes
quantidades de resíduos. Os pistões comercializados são muito ineficientes e
têm um consumo alto de água. Não parecem muito adequados. As plantas com
turbinas a vapor têm economias de escala e parecem mais apropriadas acima
de um certo nível de carga, tal vez 500 kW. Quando existem resíduos
suficientes, esta opção pode ser muito competitiva.23 Uma fraqueza nas análises
deste conjunto tecnológico é a falta de análise da opção da co-geração, com o
vapor utilizado para secagem. A secagem agrega mais valor aos produtos.
f. Ciclo Stirling. É uma tecnologia que pode ser interessante para cargas muito
pequenas (<5 kW ou <1 KW), mas não parece ter entrado no radar dos
especialistas brasileiros. O ciclo Stirling nem sequer é mencionado na série
“Soluções Energéticas para Amazônia”. É um motor que usa uma fonte externa
de calor. Por tanto pode usar resíduos ou até energia solar. A manutenção é
simples (é um ciclo fechado) e a vida útil é longa. Modelos estão começando ser
comercializados com menos de 1 KW. Merece pelo menos uma abordagem
breve para definir melhor os custos e o estado de arte com o uso de resíduos de
biomassa.
23
Num leilão em abril de 2010, foi contratada energia para duas comunidades isoladas ao preço de R$
145/MWh.
24
Não vi até agora qualquer pesquisa sobre o assunto além de (Econoler, 2010). Mas é provável que a
maioria das madeireiras já estão ligadas à rede nacional (ou às grandes redes isolados). Elas ainda
podem ter um papel importante como geradoras descentralizadas contribuindo para a confiabilidade da
rede numa grande região de cargas dispersas e difusas.
23
Alternativas usando bio-combustíveis líquidos
Outra vantagem do biodiesel é que a maior parte do valor agregado fica não apenas na
Amazônia más na micro-região da população sendo atendida. O maior custo (e valor
agregado) no biodiesel está na produção da matéria prima, que seria local. A maior
parte dos custos (e do valor agregado) no processamento também seria local. No caso
do diesel convencional, em contraste, quase todo o valor agregado seria em outras
regiões, ou na metrópole regional (eg Manaus ou Belém).25 Por este motivo, o biodiesel
e os outros bio-combustíveis líquidos provavelmente terão as “externalidades”
econômicas locais mais positivas de todas as alternativas.26
A primeira grande questão é até que ponto o biodiesel pode competir economicamente
com o diesel convencional – tirando os subsídios hoje embutidos no preço do diesel. O
resultado vai variar entre as micro-regiões, dependendo da distância dos centros de
logística. Ainda falta uma análise econômica mais apurada, mas os cálculos
preliminares em (Gonzalez et al, 2008) sugerem que o biodiesel ganhará em alguns
lugares pelo menos. Isto é uma grande diferença comparado com o programa nacional
de biodiesel. A análise deve também considerar as “externalidades positivas” do
biodiesel em relação aos créditos de carbono e do impacto citado acima sobre as
economias locais. Essa considerações aumentarão a atratividade relativa do biodiesel.
25
É provável que começa em breve produção significativa de petróleo na região (Brasil Energia,
jan/2011). Mas isso não deve mudar a conclusão básica.
26
Os equipamentos para as outras alternativas provavelmente serão fabricados fora da região e o
investimento inicial em equipamentos pesa mais nos custos.
24
Existe o risco de haver uma expansão de diesel convencional alegando que será
substituído no futuro com o biodiesel sem que isso de fato acontecer. Se o biodiesel for
de fato levado a sério para o abastecimento numa escala significativa seria mais um
motivo para insistir num Plano Estratégico de prazo maior que o PAC 2, como defendido
no texto principal. A seriedade da opção do biodiesel seria refletida não apenas em
projeções pós-2014 do abastecimento das comunidades isoladas más também (e
principalmente) por ações concretas de menor prazo como:
• uma extensa campanha de testes para confirmar parâmetros operacionais
(sobretudo os custos de manutenção);
• plantas pilotos para consolidar modelos de produção - incluindo tecnologias,
gestão e controle de qualidade;
• iniciar pilotos de plantações nas micro-regiões promissoras;
• iniciar plantas pilotos de produção de etanol nessas micro-regiões como insumo
para produzir biodiesel (ver item “i” abaixo).
27
Cálculo baseado em coeficientes de consumo de diesel por kWh apresentados em (Pinho et al, 2008)
28
A produção do biodiesel no Brasil em 2009 foi 1,6 bilhões de litros (dos quais apenas 41,8 milhões de
litros na Região Norte). Informações sobre 2010 ainda são incompletas, más a produção ficou em torno
de 2,3 bilhões de litros.
25
É importante ter essas aproximações em mente ao refletir sobre as políticas para
biodiesel na Amazônia.
Porém, num ambiente tão diverso e difícil como a da Amazônia, esta opção pode ter um
nicho importante. Por exemplo, o óleo in natura é provavelmente mais factível que o
biodiesel em situações onde a produção seria para apenas uma pequena comunidade
isolada, pelo menos no início.
É importante que haja testes que indicam os motores adequados (com normas para
certificação) e P&D para melhorar a tecnologia disponível no mercado. A implantação
de sistemas usando óleo in natura pode também servir de precursor para sistemas com
biodiesel.
i. O etanol é uma opção quase ausente nas análises até agora, apesar da
tecnologia ser amplamente difundida no Brasil. Os motores do ciclo Otto (que
usam etanol) são mais baratos que motores diesel em pequena escala (por
exemplo 1-20 kW). Isso sugere um nicho para abastecer as comunidades com
cargas pequenas.
Outro nicho possível é para etanol como insumo para a produção do biodiesel. O refino
do biodiesel exige um álcool como insumo do processo, sendo que, nas condições da
Amazônia, o uso do etanol parece mais apropriado que do metanol. Assim, a produção
local do etanol pode complementar a produção do biodiesel. Ao mesmo tempo, os
mercados finais podem atender segmentos distintos de geração, sendo que os motores
usando etanol como combustível seriam geralmente menores.
Uma razão pela falta de atenção ao etanol é que sua fonte quase exclusiva no Brasil é a
cana-de-açucar. Esta lavoura é pouco cultivada na Amazônia e, de qualquer forma as
destilarias são de grande escala. Falta uma matéria prima local com tecnologias
comercialmente consolidadas para a produção do etanol em pequena escala.
26
amadurecimento da fruta convertem a maior parte do amido em açucares – o que
simplifica muito o processo de produzir etanol. Também (diferente da mandioca) há
amplos resíduos sólidos para suprir o calor de processo (eg a destilação).29 Módulos
podem iniciar produção dentro de 18 meses a partir do plantio da matéria prima,
comparado com 4 anos para biodiesel.
Infelizmente, a tecnologia para micro-destilarias usando bananas como insumo não está
comercialmente disponível hoje. Há P&D internacional que pode ser aproveitado e a
tecnologia envolvida não é complicada. Um esforço concentrado deve ser capaz de
iniciar uma planta piloto dentro de poucos anos. Como observado acima, ter uma fonte
local de etanol pode ser crítico para uma expansão do biodiesel no interior da
Amazônia.
Energia solar
O principal problema é que os sistemas fotovoltaicos ainda são muito caros. No Brasil
em 2008 era R$ 15.000/kWpeak. Quando leva-se em conta as flutuações da insolação e
as perdas na conversão de corrente contínuo (DC) em AC e nas baterias, chega-se a
um fator de capacidade em torno de 20%. Portanto, o investimento por MWh por ano
de energia é muito elevado.
Porém, ainda com este patamar de preços, pequenas sistemas fotovoltaicos podem
competir com diesel para abastecer necessidades básicas em pequenas comunidades
com um padrão disperso de assentamentos – ver por exemplo Figura 1 e (Cabraal et al,
1998).
As economias de escala são mínimas. Uma análise do Banco Mundial (ESMAP, 2007)
estimou que o investimento por kW era quase o mesmo desde 50 W até 25 kW
(~US$2005 7500 por kW). É interessante observar que, no nível de custos de 2005, seria
possível abastecer domicílios com 85 kWh/mês (aproximadamente a média do consumo
dos domicílios ligados pelo LPT) com um investimento em torno de R$ 7.500 por
29
A fruta tem 23% carbohidratos, 2.5% fibra e 1.5% proteína e gordura. Numa fruta completamente
amadurecida, apenas 1-2% do peso ainda está na forma de amidos. Há poucas informações confiáveis
sobre o rendimento de etanol por kg de matéria prima (que pode variar, incluindo matéria além da fruta).
Parte da biomassa não convertida em etanol pode ser utilizada para produzir calor de processo. Devido
ao alto conteúdo de água, a melhor estratégia provavelmente seria o tratamento anaeróbico gerando
metano (biogás).
27
domicílio. Isto é perto da média histórica dos investimentos do LPT por domicílio (R$
7.200) e substancialmente mais baixo que a meta projetada por domicilio no PAC 2 (R$
11.100). Este cálculo ilustrativo sugere que os sistemas fotovoltaicos merecem atenção
no PAC 2, especialmente nas comunidades menores e mais isoladas.
O custo dos sistemas fotovoltaicos deve diminuir significativamente nos próximos anos,
o que aumentaria sua faixa de competitividade. Nos últimos anos o custo dos
fotovoltaicos foi relativamente estável. De 2005 até 2009 o indicador norte-americano
de preços (LBNL, 2010) quase não mudou, depois reduções significativas entre 1998 e
2005. O aquecimento da economia mundial e grandes subsídios em alguns países
aumentaram a demanda em relação à oferta. Espera-se reduções importantes nos
próximos anos devido à entrada de nova capacidade de produção e melhorias na
tecnologia. Pode haver um salto de competitividade.30 Uma tarefa fundamental na
preparação desta seção seria avaliar o potencial de redução dos custos nos próximos 2
– 3 anos.
De modo geral a opção fotovoltaica é muito pouco desenvolvida no Brasil. Uma razão é
que os módulos são importados. Há um problema de “ovo e galinha”. Sem mercado
não há investimento na produção nacional dos módulos. Uma estratégia para quebrar o
impasse poderia ser um programa de fotovoltaicos para a Amazônia, que criaria um
mercado significativa (e economicamente competitiva). A partir desta base regional
30
Um exemplo é o avanço recente da tecnologia de módulos de película fina CIGS (cobre, índio,gálio e
selênio). Um fabricante, MiaSolé alcançou uma eficiência de 15,7% (os módulos que serão
comercializados em 2011 terão uma eficiência de ~13%, devido ao prazo para testes de ultravioleta, etc).
Fala-se que estão no caminho para alcançar a meta de US$1/Wattpeak (preço de fábrica). Este valor pode
ser comparado com a média de entorno de US$4/ Wattpeak para módulos instalados em 2009 (o custo
instalado seria um pouco mais caro que o preço de fábrica, a infra-estrutura de montagem e a mão-de-
obra não fazem parte do valor citado do componente). O módulo compõe aproximadamente a metade do
custo total de um sistema com capacidade mínima de armazenamento em baterias (LBNL, 2010).
28
poderia haver uma entrada mais geral no país.31 É um exemplo de como um desafio
pode se transformar em oportunidade.
Uma vez que módulos de bateria e inversor estão instalados abre-se uma outra
possibilidade instigante. Ficaria significativamente mais barato instalar módulos
fotovoltaicos posteriormente, acrescentando nova capacidade no sistema. Um sistema
a diesel pode ficar um sistema cada vez mais híbrido com o passar do tempo. O
movimento neste sentido vai depender da evolução futura do custo dos módulos
fotovoltaicos.
31
Considere o seguinte cálculo ilustrativo. Suponha-se que: (a) os sistemas fotovoltaicos abastecem (na
média) 50% do consumo de 300.000 domicílios (seja em sistemas híbridos ou “stand alone”); (b) o
consumo médio por domicílio é 85 kWh/mês; (c) o fator de capacidade é 20%. O número de domicílios =
60% da meta do PAC 2 e é o mesmo considerado no caçulo ilustrativo para biodiesel. Neste caso a
capacidade fotovoltaica seria 87 MW. O investimento em equipamentos seria ~R$ 1,1 bilhão
(considerando os preços em US$ de 2005 constando em ESMAP, 2007). Se a implementação fosse feito
em 4 anos representaria uma fabricação anual de 22 MW/ano. É bem possível que este nível de
encomendas asseguradas (através de uma licitação) seria suficiente para atrair um fabricante para o
país, pronto para apostar também no mercado nacional fora da Amazônia.
29
Esta área de tecnologia está evoluindo muito rapidamente hoje. As conseqüências
disso merecem ser estudadas. Outro conjunto de tecnologias “auxiliares” cujas
conseqüências também merecem atenção são micro-redes e medidores “inteligentes”
para gerenciar as cargas.
IDEAAS (www.ideaas.org.br) começou disseminando kits mais que uma década atrás no Rio
Grande do Sul e desde 2005 vem desenvolvendo projetos na Amazônia. Um piloto foi iniciado
com PSA (Projeto Saúde e Alegria) oferecendo os seguintes pacotes (Arripol, 2007):
O custo das mensalidades parece dentro das possibilidades de muitas famílias, e no caso dos
kits mais simples e igualo ou menor que o custo atual de querosene, pilhas, etc. O custo inicial
pode ser uma barreira maior.
Cabe observar que neste caso as famílias pagam praticamente todo o custo, enquanto em Luz
Para Todos a ligação é de graça para o beneficiado (más custou > R$ 7.000 até hoje) e a
energia vendida depois é pesadamente subsidiada. Isso não é um “campo nivelado de jogo”
(level playing field).
Pergunta-se porque o LPT não poderia apoiar este tipo de investimento também, permitindo
que sistemas menos limitados em capacidade sejam ao alcance das famílias. Outra opção
seria a aplicação dos recursos de baixa renda da taxa de ANEEL administrada pelas
concessionárias na região, especialmente para facilitar acesso aos equipamentos eficientes.
30
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