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Esse descrédito durou pouco, já que em meados da década de 80, com aprimoramento
das novas experiências de formulação e implementação de políticas públicas –
planejamento local, planejamento participativo - a pertinência instrumental dos
indicadores sociais acabou sendo restabelecida. Universidades, sindicatos, centros de
pesquisa e as agências vinculadas ao sistema de planejamento público - cada um ao seu
tempo e modo - passaram a desenvolver esforços para aprimoramento conceitual e
metodológico de instrumentos mais específicos de quantificação e qualificação das
condições de vida, da pobreza estrutural e outras dimensões da realidade social, dando
origem aos sistemas de indicadores sociais, isto é, a conjunto de indicadores sociais
referidos a uma temática social específica, para análise e acompanhamento de políticas
ou da mudança social.
Periodicidade e menor
Instituição Fonte de dados Temas investigados
desagregação
IBGE censo demográfico habitação, escolaridade decenal
mão de obra, rendimentos município
IBGE contagem populacional população, migração entre censos
município
IBGE estatísticas do registro nascimentos, óbitos anual
civil casamentos distritos
IBGE Pesquisa básica de infra-estrutura, recursos anual
infra-estutura municipal finanças, equipamentos município
Ministério do RAIS/CAGED empregos, salários anual
Trabalho admissões, demissões município
Ministério da censo escolar alunos, professores anual
Educação equipamentos município
Ministério da Datasus mortalidade, vacinações anual
Saúde equipamentos, recursos município
Fonte : Jannuzzi (2001)
Além dos censos, há outras pesquisas institucionais do IBGE e registros administrativos dos
ministérios – da Saúde, da Educação e Trabalho - que podem ser também bastante úteis na
construção de indicadores sociais, como as fontes apresentadas no Quadro 1. Vale observar
que, enquanto os censos demográficos permitem construir indicadores do tipo produto, os
indicadores elaborados a partir das fontes alternativas são, em geral, do tipo insumo ou
processo. Contudo, ainda que com essas limitações e ainda que existam problemas com
relação à cobertura populacional ou espacial de algumas dessas fontes ou mesmo dúvidas
com relação à confiabilidade das informações coletadas, não há no país muitas outras
alternativas para dispor de informação estatística mais atualizada no período inter-censitário
em âmbito municipal. Em nível estadual, no entanto, é possível atualizar-se o quadro
socioeconômico e demográfico através das edições anuais da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios.
A disponibilidade de um sistema amplo de indicadores sociais relevantes, válidos e
confiáveis certamente potencializa as chances de sucesso do processo de formulação e
implementação de políticas públicas, na medida que permite, em tese, diagnósticos
sociais, monitoramento de ações e avaliações de resultados mais abrangentes e
tecnicamente mais bem respaldados. Sob esta ótica, as perspectivas são boas para o
Brasil. Só falta combinar como nossos dirigentes !!!!
Bibliografia
Diariamente, uma enxurrada de indicadores com suas mais variadas siglas invade nossa
casa, o nosso trabalho, o nosso dia-a-dia. Medir e transformar essas medidas em
índices utilizados para revelar e sinalizar diversos aspectos da sociedade tornou-se parte
integrante de nossas vidas. Mas quando surgiram os indicadores? Como eles se
modificaram ao longo do tempo?
“As sociedades vêm manobrando uma série de medidas nos últimos 300 anos.
Inicialmente, dimensões sociais como a idade da população e morte eram
contabilizadas. Indicadores do panorama da população eram elementos importantes de
definição das riquezas e poder do Estado”, explica Benoit Godin, líder de um grupo de
estudos sobre o histórico dos indicadores de ciência, tecnologia e inovação da
Universidade de Quebec, no Canadá. “Em seguida, as estatísticas econômicas
começaram a ser coletadas, principalmente no começo do século XX. O mais conhecido
desses indicadores é o produto interno bruto (PIB). Finalmente, uma série de novas
estatísticas apareceu: cultura; meio ambiente; ciência, tecnologia e inovação (CTI)”,
completa.
Indicadores econômicos
Uma dimensão das modificações dos indicadores econômicos ao longo do tempo pode
ser percebida com o histórico do PIB e a ampla discussão que esse indicador propicia. O
PIB foi criado pelo russo naturalizado americano Simon Kuznets na década de 1930, o
que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia em 1971. Hoje em dia, o PIB continua
sendo um indicador importante do desenvolvimento econômico de um país, embora o
próprio economista que o criou tenha pontuado, durante fala no Congresso dos Estados
Unidos, em 1932, que “a riqueza de uma nação dificilmente pode ser aferida pela
medida da renda nacional”.
Indicadores sociais
Esse movimento chega ao Brasil entre o final dos anos 1960 e começo dos anos 1970,
de acordo com Luiz Antônio de Bento Oliveira, coordenador de população e indicadores
sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Na época, o interesse
era estabelecer indicadores que refletissem o ‘Estado Social da Nação', muito mais um
retrato social do país”. As primeiras Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios
(PNADs) eram pesquisas de mão-de-obra e, com o passar do tempo, outros quesitos
passaram a ser incorporados.
Para Oliveira, essa ampliação do leque das pesquisas, ocorrida a partir dos anos 1980,
foi a principal modificação dos indicadores sociais no Brasil. Com a ajuda da informática
e os processamentos de dados cada vez mais rápidos e complexos, os indicadores vêm
avançando para problemas mais pontuais, setoriais, como questões emergentes dos
direitos humanos, uso do tempo, entre outros. “A modelagem estatística mudou muito
nos últimos anos, face aos avanços da computação. Nos dias de hoje, pode-se elaborar
modelos mais amplos para analisar dados e construir indicadores, outrora nunca
sonhados. Os métodos para avaliar os indicadores econômicos e sociais estão cada dia
mais sofisticados”, explica Gauss Cordeiro, da Universidade Federal Rural de
Pernambuco.
Indicadores e intangibilidade
Definindo a inflação
Para medir a evolução do custo de vida, é preciso, primordialmente definir uma cesta de
consumo que seja representativa das compras da população. Para isso, são
considerados itens alimentícios, de transporte, habitação, saúde, vestuário, enfim, tudo
o que uma família consome. A partir disso, mede-se a evolução dos preços de cada um
destes itens durante os meses do ano. Tem-se, assim, o índice de inflação. No Brasil,
existem alguns indicadores de inflação. Os mais importantes são: o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, o Índice Geral de Preços
(IGP), da Fundação Getúlio Vargas e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe.
Fernando Costa afirma que o maior desafio é justamente compor uma cesta de consumo
que represente as compras de todo brasileiro. “Isso é de uma gigantesca complexidade.
Se o preço da carne subir para uma família que consome o produto diariamente, o
impacto será enorme. Entretanto, para um vegetariano, será zero. O índice consiste na
formação de uma cesta de consumo padrão para todas as famílias. Tenta-se
homogeneizar o consumo do brasileiro”, afirma.
O economista explica que para definir a cesta é preciso estudar o padrão de consumo de
milhares de famílias, representantes das diversas faixas de renda e de todas as regiões
do país. “O custo de uma pesquisa como esta é muito alto”, afirma Costa. É preciso
também levar em conta as sazonalidades, como feriados de Carnaval, Natal, períodos
em que a cesta de compras se altera. O segredo, em termos conceituais, é a média
ponderada. É preciso ponderar a distribuição familiar por faixa de renda e considerar a
proporção demográfica das diferentes faixas etárias e regiões”, sentencia.
“Para fechar um índice mensal, nós coletamos cerca de 90 mil preços. Nossa cesta de
consumo tem 7 grupos: alimentação, transporte, habitação, despesas pessoais, saúde,
vestuário e educação. Dentro de cada um, nós temos subgrupos, por exemplo, em
alimentação, nós temos alimentação fora, produtos in natura, industrializados e semi-
elaborados. São 29 subgrupos no total. Para cada subgrupo, nós temos os itens, por
exemplo, dentro dos alimentos industrializados, temos os derivados do leite, panificados
etc. Finalmente, nos itens, como os panificados, existem os subitens, que são o pão
francês, o de forma, a torrada etc. São 525 subitens no IPC da Fipe. Cada subitem tem
uma ponderação, e dentro deles existe a ponderação por marcas e locais de compra”,
esclarece Nakane, detalhando a complexidade do cálculo da inflação para cada mês.
O IPCA, do IBGE, é o índice usado pelo governo para o controle das metas de inflação, e
negociações de aumentos salariais pelos sindicatos. Costa afirma que o IPC, da Fipe, é
interessante para negociações na cidade de São Paulo e definição dos preços de veículos
para seguradoras; e o IGP, da FGV, usado para o reajuste dos aluguéis e contas de luz,
teria, segundo ele, um erro técnico. “Ao meu ver, ele possui um erro conceitual. Ele
arbitra uma ponderação do índice de preço ao atacado, e determina, por puro arbítrio,
que isso pesa 60%. O índice de preço ao consumidor, pesa 30% e a construção civil
10%. Acredito que ele perdure por estar vinculado a contratos de aluguel e companhias
elétricas”, diz o economista.
Índices de pobreza
A maior crítica feita à linha de pobreza estabelecida pelo programa federal é que ela não
varia de região para região, como o custo da cesta. O próprio Ipea, por exemplo,
divulga dados que revelam uma grande variação no valor da linha de pobreza. Na região
metropolitana de Recife, o valor é de R$ 135,64, enquanto na área rural de Minas
Gerais, ele fica em R$ 78. “É essencial, portanto, estabelecer linhas de indigência e
pobreza tão espacialmente específicas quanto permita a base de dados”, afirma Sônia
Rocha. O Ipea possui o cálculo dos valores para 24 regiões do país.
Ponderação das despesas no IPCA do IBGE, que abrange 9 capitais e duas cidades:
Artigo
De onde vêm os números da realidade social
Por Rodrigo Stumpf Gonzalez
O que essas notícias têm em comum? Todas se referem a alguma forma de indicador
social. Os indicadores servem para traduzir em números situações que ocorrem na
realidade, permitindo comparações entre dois momentos diferentes no mesmo local, ou
entre locais diferentes, como municípios ou países.
Os indicadores são parte de uma construção teórica complexa das ciências sociais, que
exige vários passos até chegar-se no resultado numérico que é apresentado na
imprensa ou utilizado pelos governos.
Na base desse processo temos os conceitos. Um conceito é uma forma abstrata com a
qual representamos um objeto real ou mesmo um conjunto de relações sociais
intangíveis. Articulando os conceitos entre si são criadas teorias para explicar as
relações sociais, ou mesmo para intervir na sociedade buscando realizar
transformações.
Às vezes um conceito pode ser representado por uma palavra que é incorporada à
linguagem comum, mas nem sempre como o mesmo significado dado ao conceito no
seu uso científico. Por exemplo, quando dizemos que uma pessoa é educada, podemos
estar nos referindo ao fato que ela é cortês no tratamento com os outros, ou tem um
amplo conhecimento de diversos assuntos. Se no entanto formos transformar educação
em um conceito, propondo, por exemplo, uma articulação com o conceito de renda,
para afirmar que pessoas com maior nível educacional tendem a ter uma renda mais
alta, temos de definir o termo de forma mais estrita. Poderíamos definir, por exemplo,
como educada uma pessoa que acumula uma maior quantidade de conhecimentos e
habilidades que outras na mesma comunidade.
Esses exemplo mostram como criar um indicador que seja aceito de forma geral não é
fácil. Pode haver muita discussão se estamos realmente medindo o que queremos. Por
isso, é comum que sejam utilizados índices. Um índice é construído com a utilização de
diversos indicadores agregados.
Um exemplo conhecido é o Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU. Durante muito
tempo o desenvolvimento dos países foi medido por fatores econômicos, como o
Produto Interno Bruto (PIB), a soma de toda a riqueza produzida no país em
determinado período. Também era utilizada a renda per capita, isto é a divisão do PIB
pela população do país. Mas saber que um país é mais rico realmente significa que as
pessoas vivem melhor? Como alternativa foi criado o conceito de desenvolvimento
humano e um índice para medi-lo, que inclui não apenas a renda, mas a escolaridade e
a expectativa de vida. Desta forma, passam a ser considerados mais desenvolvidos os
locais em que as pessoas não só tem uma renda melhor, mas estudam mais e vivem
mais tempo.
Muitos desses indicadores são coletados através de pesquisas periódicas feitas por
organizações governamentais especializadas. A mais importante do Brasil, nesse campo,
é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Entre as pesquisas mais
importantes feitas pelo IBGE está o Censo, feito a cada dez anos, que coleta
informações sobre o tamanho e as características da população brasileira. Também
realiza anualmente a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar - PNAD, que coleta
informações sobre questões como escolaridade, emprego e renda da população, ano a
ano. Seus dados são públicos e podem ser consultados nos seus escritórios e através da
internet.
Além do IBGE há diversas outras instituições que coletam e mantêm bancos de dados
sobre diversos aspectos da vida no país. Muitos estados da federação possuem
instituições encarregadas de coletar e divulgar estatísticas. Por outro lado, há sistemas
de informação específicos em diversas áreas. Por exemplo, o Ministério da Saúde
mantém o Datasus, com informações sobre mortalidade, morbidade e outros aspectos
do funcionamento do sistema de saúde. O Ministério da Justiça possui informações
sobre criminalidade e violência. O Ministério das Cidades mantém o Sistema Nacional de
Indicadores Urbanos, sobre a gestão dos municípios do país.
Porém, nem todos os indicadores são resultado da coleta cotidiana de estatísticas pelos
institutos públicos. Muitas vezes o que se busca é a análise da opinião ou do
comportamento da população em determinado momento.
Para isso é necessária a realização de uma coleta específica de dados, conhecida pelo
nome de pesquisa do tipo survey. Esse tipo de pesquisa é feita com a aplicação de
questionários a uma amostra que representa a população.
Nesses questionários podem ser feitas perguntas com respostas opostas, como sim e
não, ou criadas escalas que permitam graduar o resultado.
Uma das pesquisas deste feito desenvolvida há mais tempo é o World Values Survey
(Pesquisa Mundial de Valores), que se desenvolve desde a década de 1980, coordenada
pelo cientista político estadunidense Ronald Inglehart e que se desenvolve em mais de
uma centena de países a cada cinco anos. No Brasil, atualmente, essa pesquisa é
desenvolvida pela Universidade de Brasília. Os dados das pesquisas anteriores são
disponíveis on-line.
A utilidade dada aos indicadores sociais pode variar. Podem ser a base de estudos
acadêmicos, que tentam entender a sociedade e explicar as relações sociais. Podem ser
o fundamento para a construção de políticas públicas, permitindo diagnosticar
necessidades de intervenção ou avaliar seus resultados. E também podem contribuir na
avaliação e mesmo no direcionamento do comportamento das lideranças políticas,
quando servem de demonstração do nível de satisfação ou insatisfação da população
com os rumos tomados por uma administração.
Qualquer que seja o seu uso e mesmo que muitas vezes este esteja fora de nossa
percepção cotidiana, são uma importante criação das ciências sociais que podem ajudar
na construção de uma sociedade melhor e mais justa.