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A História da Grande Índia

As histórias védicas nos contam sobre a civilização da Índia - ou Bharatavarsa, como era
chamada - uma vez estendida ao longo do mundo. O Mahabharata é a maior história da Índia.
É um poema épico de mais de cem mil versos, composto em Sânscrito pelo sábio Vyasa.

O Mahabharata está cheio de incidentes dramáticos e instrutivos que alcançam seu ponto alto
filosófico no Bhagavad-gita. Pelas páginas do Mahabharata nós podemos ganhar um
entendimento mais profundo do conhecimento, do valor e da cultura do modo de vida védico.

Com freqüência o tradutor considera o Mahabharata como um trabalho literário fascinante, um


objeto sobre o qual especular, mas não como o que os seguidores da cultura védica aceitam
ser: um trabalho de verdade, uma porta para o caminho da compreensão definitiva. Até então,
as edições do Mahabharata disponíveis em inglês ou têm sido abreviadas de maneira drástica
ou de difícil penetração.

Mas agora uma tradução nova foi empreendida por Hridayananda Dasa Goswami, um discípulo
de Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Esta tradução nova nos traz um
texto inglês que é erudito, devocional e eminentemente legível.

A tradução do Adi Parva - o primeiro " livro " do Mahabharata - está agora completa e sendo
lida para impressão, enquanto Hridayananda Dasa Goswami prossegue com o próximo livro.
Na Índia, por gerações, pessoas em cidades e aldeias juntam-se à noite para ouvir leituras de
histórias védicas como o Mahabharata. Agora, a cada edição nós poderemos apreciar e
aprender desta preciosa fonte de cultura védica e sabedoria.

O Nascimento de Karna

Sri Vaishampayana disse:

Rei Sura, o líder da dinastia de Yadu, era o pai de Vasudeva (que se tornou o pai de Senhor
Krsna depois). A filha de Sura era chamada Prtha, e nenhuma mulher na Terra teve beleza
como a sua.

A irmã do pai do Rei Sura teve um filho chamado Kuntibhoja que era impossibilitado de
procriar, portanto o poderoso Sura prometeu dar sua primeira criança ao seu primo.

Assim quando Prtha nasceu, Sura declarou, " Esta menina é minha primeira criança", e agindo
como um verdadeiro amigo, ele deu o bebê ao amigo Kuntibhoja, uma grande alma que
ansiava pelo dádiva de uma criança.

Kuntibhoja era um rei santo, e assim que sua filha começou a crescer, ele a incumbiu da
adoração do Senhor Supremo e de respeitosamente servir aos convidados que viessem ao
palácio.

Uma vez Prtha foi solicitada a cuidar de um brahmana severo chamado Durvasa, que era rígido
em seus votos, mas possuía um temperamento assustador e um senso inescrutável de decoro.
Prtha fez todo esforço para agradar o brahamana, e ele ficou satisfeito por completo com o seu
serviço.
Antevendo a necessidade de meios legais para ela superar problemas futuros, o sábio deu-lhe
um mantra dotado de poder místico e disse- lhe, "Quem quer que seja o deus que você chame
com este mantra, ele abençoar-lhe-á com uma criança ".

Quando o brahmana a havia assim instruído, aquela virgem casta de alta reputação ficou cheia
de curiosidade. (Ela desejou saber como o mantra funcionava, e quando ficou só decidiu ver
por si mesma.) Chamou então o deus Sol e imediatamente viu vindo em sua direção o grande
fabricante da luz mantenedora do mundo.

A escultural Prtha contemplou essa maravilha e ficou surpresa, e o Sol resplandecente, que
revela todas as coisas visíveis, deu-lhe então uma criança. Prtha deu à luz um filho heróico,
destinado a ser o melhor de todos os que suportam armas. Coberta com armadura, aquela
criança bonita, de um deus abundante em opulência natural, nasceu pois com uma armadura
natural e brincos reluzentes que iluminavam sua face.

Um dia esse filho seria famoso por todo o mundo como Karna.O Sol supremamente esplêndido
devolveu então à menina sua virgindade, e tendo feito isto, aquele deus mais generoso voltou
ao seu domicílio celestial. Vendo o filho recém-nascido, a princesa de Vrsni sentiu-se miserável
e preocupada, e a sua mente podia pensar em somente uma coisa: "O que será feito? O que
posso fazer para me tornar virtuosa?"

Kunti estava terrificada para se defrontar com seus parentes e esconder (o que ela sentia ser)
sua ação imprópria. Ela enviou sua criança, nascida com armadura extraordinária e brincos, a
flutuar sozinha rio abaixo.

Logo em seguida um homem, que era filho respeitável de um condutor de carruagem e marido
de Radha, achou a criança abandonada e com sua esposa aceitou o bebê como seu próprio
filho. Os dois formaram um nome para a criança: "Esta criança nasceu com riquezas, assim o
nome dela será Vasusena ".

Vasusena amadureceu em uma mocidade poderosa e heróica, que superou em todos os tipos
de armas, e suportaria adorar o deus Sol até que sua costa estivesse queimando. Ele era leal
às suas palavra, e quando entoava suas orações ao Sol, nada havia que aquela grande alma e
herói não pudesse dar aos brahmanas.

Uma vez o radiante Indra, que mantém este mundo, assumiu a forma de um brahmana e
implorou a Vasusena por sua armadura natural e seus brincos. Embora desencorajado por este
pedido, Vasusena cortou sua armadura e seus brincos e os ofereceu com mãos postas em
respeito.

Pasmado com este ato, Indra deu-lhe a arma sakti e disse: "Quem quer que você deseje
conquistar, seja um deus, um demônio, ou um homem, se um Gandharva, uma serpente
celestial, ou um Raksasa horrível - a quem quer que você furiosamente lance esta arma, esta
pessoa não irá muito longe. "Antes, seu nome era conhecido como Vasusena, mas agora por
esta ação, ficou conhecido como Vaikartana Karna.

O Casamento de Kunti

Vaisampayana continuou:

A filha de Kuntibhoja poderia fazer grandes votos e os cumprir fielmente, porque ela deleitava-
se em seguir as leis de Deus. Possuía uma bondade natural, e sua beleza estava além de
comparação. Prtha era dotada de uma graça feminina extraordinária, mas embora ela estivesse
no desabrochar de sua mocidade radiante, nenhum príncipe apropriado havia ousado vir lhe
pedir a mão em matrimônio.

Prtha, também conhecida como Kunti, ficava pensativa sobre o seu futuro. Por intermédio de
seu pai, ela convocou todos os melhores reis e príncipes, fazendo anunciar que seu pai, o rei,
lhe ofereceria uma cerimônia de svayam-vara. Então quando o dia chegou, e no meio da arena,
aquela jovem senhora pensativa contemplou o tigre entre todos os reis, Pandu, o grande filho
do clã de Bharata.

Fora os milhares de monarcas que ansiosamente a cortejavam, Kunti selecionou o jovem e


poderoso Pandu, o príncipe amado de Kuru que tinha o tórax de um leão, ombros como os de
um elefante macho, e olhos grandes e bonitos tão destemidos quanto os de um touro bravo.
Como o Sol ofusca o esplendor das estrelas inumeráveis, assim Pandu ofuscou o esplendor de
todos os outros reis da Terra, simplesmente levantando-se na arena festiva. Naquela
assembléia real ele parecia um novo Indra.

A filha de Kuntibhoja era de uma beleza radiante, e seu corpo jovem era uma criação sem
defeito. Quando afinal ela viu Pandu, o melhor entre os homens, na assembléia real, houve um
forte tremor em seu coração, seu corpo inteiro ficou cheio de desejo romântico, e sua mente
fixa ficou perturbada. Kunti pegou o adorno cerimonial, timidamente aproximou-se do rei de
Kuru, e o colocou sobre os ombros dele, assim aceitando-o como seu esposo amado.

Quando todos os reis reunidos ouviram que Kunti havia escolhido Pandu, eles deixaram aquele
lugar como tinham vindo, em elefantes, cavalos e carruagens. O pai de Kunti então realizou
uma cerimônia de casamento opulenta merecedora da filha de um rei. (Freqüentemente em
uma cerimônia de svayamvara, os outros reis desafiariam o noivo escolhido para testar sua
força, mas sequer um único guerreiro ousou um passo adiante contra o jovem Pandu).

Pandu aceitou a mão de Kunti com graça e encantamento, e todos concordaram que ele era
uma vida abençoada e que ninguém podia estimar a fortuna e felicidade de um homem que
tinha ganho tal esposa qualificada. Pandu uniu-se com a filha de Kuntibhoja em matrimônio
sagrado, da mesma maneira que Indra poderoso tinha-se unido com a deusa Paulomi.

Rei Kuntibhoja, o senhor da Terra, casou sua filha Kunti com Pandu, e então ele homenageou
seu genro com todos os tipos de presentes valiosos, e enviou de volta Pandu e sua nova
esposa para a cidade do Kurus. Com preocupação paternal para com o casal real, ele também
organizou uma escolta militar poderosa, adornada de maneira colorida com variedades de
bandeiras oficiais e ornamentos.

Quando Pandu chegou à sua própria cidade, ele foi recepcionado com igual festividade.
Grandes sábios e brahmanas qualificados o escoltaram à capital majestosa, e o tempo todo o
abençoavam e louvavam com hinos bonitos. Depois de completar formalidades breves, Rei
Pandu providenciou para que sua esposa Kunti fosse instalada com conforto em sua casa
nova.

Depois disso ele viajou com Devavrata Bhisma à capital de Madra, por Madri, a filha do
governante de Madra, reconhecida ao longo dos três mundos como uma mulher de beleza
incomparável. Ela foi adquirida por parte de Pandu, com o pagamento de um grande tesouro.
Bhima então organizou seu matrimônio com Pandu, aquela grande alma.

A Conquista de Pandu

O sábio Pandu era um tigre entre os homens. Em toda a Terra, todos os homens que o viam
ficavam pasmos, porque ele tinha o tórax de um leão, ombros como os de um elefante
poderoso e grande, olhos bonitos tão destemidos quanto os de um touro bravo. Satisfeito com
os seus matrimônios, dotado de força extraordinária e ousada, Pandu agora desejava
conquistar o mundo, e arremeteu-se contra os muitos inimigos da Casa de Kuru.

Pandu marchou primeiro sobre os perversos Dasarnas e os derrotou em batalha. Pandu lutou
como um leão, porque ele sabia que a honra da dinastia dos Kuru pairava sobre ele. O exército
de Kuru era uma visão colorida com seus muitos estandartes luminosos chicoteando no vento.

Pandu a seguir dirigiu essa força poderosa de elefantes, cavalos, carruagens e infantaria para
o reino de Magadha. Rei Darva de Magadha era o inimigo declarado dos reis de todo o mundo,
a quem ele hostilizava com crueldade de muitas maneiras, mas Pandu o subjugou com
coragem em seu palácio real. (O reino de Magadha tinha crescido rico e poderoso por sua
agressividade constante). Pandu confiscava agora a tesouraria inflada, como também muitos
bons animais e soldados.

Depois Pandu foi para Mithila e derrotou o exército de Videha em batalha, e então em combate
direto com os guerreiros de Kasi, Suhma e Pundra, Pandu estabeleceu a glória dos Kurus pela
força assustadora dos seus próprios dois braços. O jovem Pandu, com suas salvas de setas
ardentes e seus tiros de lanças flamejantes, era como fogo abrasador, e quando os reis dos
homens aproximavam-se daquele fogo eles eram queimados até as cinzas. Os reis com seus
exércitos foram devastados por Pandu e o exército dele, trazidos sob seu governo e integrados
na estrutura de imposto central.

Quando Pandu conquistou todos os reis do mundo, os próprios governantes concordaram com
unanimidade que Pandu sozinho era um grande herói, somente igual a Indra, que obscurece
todos os outros governantes cósmicos. Assim todos os líderes desta Terra abundante vieram
diante de Pandu com suas mãos postas em respeito, trazendo como tributo ao líder do mundo
variedades de jóias, pérolas preciosas, coral, ouro e prata, e uma riqueza de vacas, touros,
cavalos, carruagens e elefantes.

Os reis também entregaram asnos, camelos, búfalos, cabras e ovelhas. O grande governante
de Hastinapura aceitou graciosamente todos essas oferendas e partiu de novo com seus
vigorosos cavalos na direção das terras de seu reino, voltando afinal a sua capital,
Hastinapura.

As pessoas exclamaram:

“Santanu era um leão entre reis, e o lendário Bharata era saturado em sabedoria, mas seus
gritos gloriosos de vitória tinha perecido, porém agora Pandu ergueu de novo aquele som
célebre. Aqueles que roubaram as terras e tesouros reais dos Kurus são agora sujeitos
obedientes que pagam imposto ao seu senhor, o leão de Hastinapura ".

Assim com corações confiantes, reis jubilosos e ministros reais uniram-se aos cidadãos da
cidade e do país em louvor ao Rei Pandu. Quando Pandu retornou à capital depois de
conquistar o mundo inteiro, todos os cidadãos, junto com a família real, foram dominados pela
felicidade. Encabeçados por Bhisma, eles todos correram para encontrá-lo.

Antes que tivessem ido muito distante, os cidadãos de Hastinapura ficaram estremecidos ao
ver que a terra estava repleta de muitos tipos de pessoas que tinham vindo com Pandu
vitorioso. Bhisma e os outros Kurus não podiam ver fim para a riqueza fabulosa carregada pelo
exército vitorioso. Vários veículos eram empregados simplesmente para transportar as jóias e
pedras preciosas. Parecia haver rebanhos ilimitados de elefantes, cavalos, touros e vacas,
havia camelos e ovelhas inumeráveis e carruagens e vagões incontáveis.

Quando Pandu captou a visão de Bhisma, que era como seu pai, ele avançou de imediato e
ofereceu respeito aos seus pés. Então Pandu concedeu grande alegria a sua mãe e
homenageou apropriadamente até mesmo os cidadãos simples da cidade e do país.
Pandu tinha trazido o mundo inteiro de volta à ordem e esmagado reinos cruéis e maus. Sua
missão estava cumprida, ele agora tinha vindo para casa. Aproximando-se de seu filho amado,
o poderoso Bhisma derramou lágrimas de alegria.

Aos sons emocionantes de centenas de instrumentos musicais tocados juntos, e com o


estrondear profundo de tambores de caldeira, Rei Pandu, elevando os corações dos cidadãos,
entrou na cidade real de Hastinapura.

Vaisampayana disse:

Com suas próprias mãos Pandu tinha conquistado grandes riquezas, mas ele não as mantinha
para si. Depois de consultar seu irmão mais velho, Dhrtarastra, Pandu ofereceu a riqueza a
Bhisma, a Satyavati, a sua própria mãe, Ambalika, e dispôs-se de riquezas para seu irmão
sábio Vidura.

Pandu era generoso por natureza, e ele satisfez por completo seus amigos bem-querentes com
presentes opulentos. Naquela atmosfera festiva, Bhisma agradou também Satyavati
presenteando-a com um dote de pedras preciosas bonitas conquistadas por Pandu. Com
grande afeto Ambalika abraçou filho Pandu poderoso, o melhor dos homens, da mesma
maneira que Paulomi abraça Jayanta.

Com a riqueza vasta acumulada por Pandu, Dhrtarastra executou os cinco grandes sacrifícios
que são significativos para satisfazer o Senhor Supremo em última instância. Nesses eventos
poderosos, que eram iguais a cem sacrifícios de cavalo, centenas e milhares de presentes
preciosos foram oferecidos aos professores da humanidade e para outros cidadãos
respeitáveis.

Embora Pandu tivesse de verdade conquistado o mundo, ele era não obstante desinteressado
em uma vida de lazer e opulência real. Levando suas esposas, Kunti e Madri, ele deixou sua
residência palaciana, com suas camas e sofás magníficos, e foi para a floresta. Pandu sempre
gostou de vagar pelas florestas e bosques bonitos, e ele despenderia muito de seu tempo
longe da cidade ocupado em caçar.

Rei Pandu desfrutava em especial dos agradáveis sopés e vales no sul da cordilheira dos
Himalayas, e lá estabeleceu habitação numa floresta de árvores Sala gigantes. Acompanhado
de sua esposas encantadoras, Kunti e Madri, Pandu distinguia-se naquela floresta situando-se
como o nobre elefante de Indra no meio de duas fêmeas .

Pandu era grande e bonito e mestre de armas preparado. Quando os habitantes simples da
floresta viram o rei de Bharata heróico com suas duas esposas, empunhando suas flechas,
espada e arco, e vestido em sua fabulosa armadura, eles o consideraram ser um deus na
Terra. Encorajados por Dhrtarastra, os moradores de floresta sempre trouxeram a Pandu o que
quer que ele precisasse ou desejasse, levando de imediato até ele mesmo nos confins
distantes da floresta.

Enquanto isso na capital de Hastinapura dos Kuru, Bhisma ouviu que o Rei Devaka tinha uma
filha jovem e bonita chamada Parasavi, que era candidata a matrimônio para uma família real.
Depois de estudar o assunto, Bhisma decidiu que ela era uma noiva mais desejável para um
príncipe Kuru, e assim ele providenciou para a trazer à capital Kuru, onde ele a casou com o
grande e notável Vidura. Na verdade, o nascimento dela foi semelhante ao de Vidura. Vidura
era admirado em especial pela realeza de Kuru, por sua sabedoria e generosidade, e com sua
esposa fiel ele procriou filhos bons que compartilharam de todas as qualidades sublimes do pai.

Gandhari dá à luz
Sri Vaishampayana disse:

Ó rei, então Dhrtarastra gerou cem filhos em sua esposa, Gandhari, e o seu centésimo primeiro
filho nasceu da filha de um comerciante. E Pandu, para expandir sua linhagem real, obteve
cinco filhos, todos guerreiros Maharathas, por suas duas esposas, Kunti e Madri. Esses cinco
filhos foram todos gerados por deuses pessoalmente.

Rei Janamejaya disse:

Ó melhor dos duas vezes nascidos, como cem filhos nasceram de Gandhari? Quanto tempo
levou para os procriar todos, e quem era o primogênito dos meninos? Como uma única criança
nasceu para Dhrtarastra da filha de um comerciante? E como Dhrtarastra pôde desconsiderar
daquele modo uma esposa como Gandhari, que sempre foi dedicada à felicidade dele e que
sempre andou no caminho da retidão?

Como é que Pandu, entretanto amaldiçoado por um sábio santo, obteve dos deuses cinco
filhos que foram todos guerreiros Maharathas? Ó asceta, cuja riqueza é austeridade, você sabe
as respostas para minhas perguntas. Explique, então, em detalhes esses eventos tais como
aconteceram na verdade, pois eu nunca me canso de ouvir sobre meus antepassados.

Sri Vaishampayana disse:

Uma vez o grande sábio Dvaipayana, conhecido como Vyasa, aconteceu de ser aborrecido por
fome e fadiga. Gandhari, a esposa pura de Dhrtarastra, o encontrou naquele estado exausto e
o satisfez por completo com seu serviço dedicado. Vyasa ofereceu-lhe então uma graça, e ela
escolheu ter cem filhos com o mesmo caráter do marido. Vyasa a abençoou como ela
desejava, e em tempo ela ficou grávida de seu marido, Dhrtarastra.

Gandhari carregou sua gravidez durante dois anos completos, e ainda estava sem filhos.
Gradativamente, o pesar tomou conta de sua mente. Ouvindo que a cunhada Kunti tinha dado
à luz um filho que era como um pequeno deus Sol, e não vendo nenhum progresso na sua
própria gravidez, Gandhari pensou com desespero no que fazer. Incapaz de suportar sua
frustração, ela golpeou seu útero repetidamente com grande esforço, causando a queda do
embrião.

Um pedaço duro de carne, como uma bola vermelha de ferro, caiu de seu útero. Depois de dois
anos de sofrimento, este era o resultado. Dor e raiva cresceram em seu peito, e sem dizer
qualquer coisa a seu marido, Gandhari estava a ponto de jogar fora o pedaço de carne.

O grande sábio Vyasa tinha abençoado Gandhari para ter cem filhos. Agora por sua visão
poderosa, ele entendeu que Gandhari estava a ponto de destruir seu embrião, e portanto
aquele sábio eloqüente veio até ela depressa e viu a massa carnosa. Ele então disse-lhe:

–Ó filha de Subala, o que você está planejando fazer?

Gandhari revelou seu plano de verdade ao grande sábio.

–Quando eu ouvi – ela disse – que Kunti foi a primeira a ter um filho e que a criança dela era
tão bonita quanto o deus Sol, não pude suportar a frustração e golpeei o embrião de meu útero.
Meu senhor, uma vez você me abençoou ter cem crianças. Mas agora, no lugar de meus cem
filhos, nasceu este mero pedaço de carne.

Vyasadeva disse:

Querida filha de Subala, é assim mesmo, e não pode ser de outro modo, pois minhas palavras
nunca provaram falsidade, até mesmo quando falaram em gracejo. Com certeza tudo que eu
prometi a você tem de se tornar realidade. Depressa, prepare cem tigelas e as encha de
manteiga clarificada. Então nós borrifaremos água fria em cima desta bola de carne e a
manteremos, junto com as tigelas, em um lugar cuidadosamente guardado.

Sri Vaishampayana disse:

Quando a bola carnosa foi borrifada com água fria, dividiu-se em cento e um pequenos
embriões, cada um do tamanho do dedo polegar. Vyasadeva então colocou esses embriões
nas tigelas cheias de manteiga clarificada e providenciou para que as tigelas fossem guardadas
com cuidado. Vyasa instruiu Gandhari que os potes deveriam ser abertos somente depois de
um certo espaço de tempo decorrido. Cumprido assim o arranjo, a grande alma Vyasadeva
voltou às montanhas poderosas do Himalaya para continuar suas austeridades.

Gandhari com cuidado seguiu as instruções do grande sábio e afinal sua primeira criança,
conhecida como Duryodhana, nasceu. Embora Duryodhana fosse o primeiro filho nascido para
Gandhari e Dhrtarastra, o filho Yudhisthira de Pandu era claramente seu superior, sendo por
nascença o príncipe Kuru primogênito.

Na verdade, no momento em que seu filho nasceu, Dhrtarastra chamou por muitos brahmanas
eruditos, junto com Bhisma e Vidura, e disse-lhes:

– Deixem-me primeiro reconhecer que entre os príncipes de Kuru, Yudhisthira, o filho de


Pandu, é o primogênito, e eu estou certo de que ele trará nada mais que fortuna para nossa
família. Por suas próprias qualidades excelentes, ele ganhou o direito de reger nosso reino, e
nós não podemos falar sequer uma palavra contra ele. Mas meu filho Duryodhana, que nasceu
imediatamente depois de Yudhisthira, também tornar-se-á um rei merecedor? Todos vocês,
contem-me com verdade e precisão qual é o futuro para meu filho.

Tão logo havia Dhrtarastra terminado de falar, quando maus presságios apareceram em todas
as direções. Chacais e outras bestas carniceiras começaram a uivar, e observando tais sinais
temerosos em todos lugares, os brahmanas, junto com o sábio Vidura, disseram a Dhrtarastra:

– Ó rei, está manifesto pelos sinais que este seu filho destruirá a dinastia inteira! Se você
quiser alguma paz para sua família, nós aconselhamos que você rejeite esta criança. Se você o
elevar como seu filho, cometerá um engano lastimoso. Ó rei, esteja satisfeito com noventa e
nove filhos. Sacrifique um para salvar o mundo e proteger sua própria família. Um parente pode
ser rejeitado para se salvar a família, e uma família pode ser abandonada para se salvar uma
aldeia. Uma única aldeia pode ser sacrificada para se salvar o Estado, e o mundo inteiro
poderia ser renunciado para se salvar a alma de uma pessoa.

Mesmo quando assim orientado por Vidura e todos o brahmanas eruditos, Dhrtarastra estava
impossibilitado de seguir o conselho deles, desnorteado como estava pelo afeto por seu filho
infantil. E no mês seguinte, nasceram todos os cem filhos de Dhrtarastra, como também uma
única filha, a sua centésima primeira criança.

Durante o tempo em que Gandhari tinha estado sofrendo e incapacitada com o fardo de sua
gravidez grande e prolongada, a filha de um comerciante tinha cuidado do poderoso
Dhrtarastra que era cego e sempre precisou de uma enfermeira. Depois de servir o rei durante
um ano, a mulher deu à luz uma criança dele, o famoso e sábio Yuyutsu, também chamado
Karana por causa de seu nascimento misto de pai real e mãe de uma família vaishya, ou
comerciante.

Assim o erudito Dhrtarastra procriou cem guerreiros na linha real juntamente com uma única
filha adorável chamada Du_shala (além de um filho procriado em uma virgem vaishya). Cada
um desses cem filhos tornar-se-ia mestre de carruagem de guerra, capaz de lutar sozinho com
milhares de guerreiros inimigos.

Janamejaya disse:
Você nos contou como pela misericórdia do santo Vyasa, Dhrtarastra teve cem filhos. Também
mencionou que Dhrtarastra procriou um filho chamado Yuyutsu com uma enfermeira nascida
da comunidade comerciante. Mas você não explicou sobre a filha de Dhrtarastra.

É bem sabido, Ó pessoa sem pecado, que Gandhari foi abençoada por Vyasadeva, o vidente
de poder imensurável, a ter cem filhos. Agora, meu senhor, por favor descreva como aquela
única filha nasceu. Se o santo Vyasa dividiu o pedaço de carne em cem partes, e Gandhari não
teve nenhuma outra criança depois disso, como sua filha Duhshala nasceu? Por favor conte-
me o que aconteceu. Ó sábio erudito, eu estou extremamente curioso para ouvir falar disso.

Vaishampayana disse:

Querido descendente de Pandu, você levantou uma ótima questão, e eu responder-lhe-ei.

O grande asceta Vyasa tinha borrifado água fria no pedaço de carne, dividindo-o então em
partes viventes diferentes. Enquanto cada embrião novo aparecia, a enfermeira de Gandhari os
colocava um por um em tigelas cheias de manteiga clarificada. Enquanto isso prosseguia,
Gandhari piedosa, sempre firme em seus votos religiosos, começou a meditar em como
poderia ser ter uma filha. Aquela mulher adorável tinha sido abençoada para ter cem filhos,
mas agora em sua mente ela sentia o afeto natural de uma mãe por uma filha. Quanto mais ela
pensava nisso, mais cultivava seu desejo.

– Sem dúvida – ela pensou – o sábio santo cumprirá sua promessa, e eu terei cem filhos, mas
se eu pudesse apenas ter uma filha, eu sentiria a maior satisfação. Apenas uma filhinha, mais
jovem que todos os seus cem irmãos, seria tão agradável. Então meu marido poderia desfrutar
das recompensas piedosas dadas àqueles cujas filhas procriam bons filhos.

– Mulheres nutrem um amor especial por um genro. Eu fui abençoada com cem filhos, mas se
eu ainda tivesse uma filha (que eu casaria com um genro bom), então, cercada por meus filhos
e pelos filhos de minha filha, eu com certeza cumpriria todos meus deveres em vida.

[A mente de Gandhari era fixa no seu desejo de ter uma filha, e ela ofereceu esta oração a
Deus:]

– Se eu tenho sido fiel em vida, se eu tenho executado austeridades, feito caridade, ou


acendido o fogo de sacrifício, se alguma vez eu tiver agradado meus superiores respeitáveis,
então possa eu, por favor, ter uma filha.

Enquanto Gandhari estava rezando daquele modo, o sábio ilustre Dvaipayana Vyasa terminava
de dividir a bola de carne, contando os pedaços para ter certeza se havia cem. Ele então
orientou Gandhari, a filha do Rei Subala:

– Querida senhora – disse –, há cem filhos aqui, portanto eu não lhe fiz uma promessa falsa.
Mas de alguma maneira, por arranjo da providência há uma parte extra, além dos cem, e se
tornará a filha que tanto você deseja, Ó mulher afortunada.

Vaishampayana disse:

O grandioso asceta Vyasa então tinha um pote a mais cheio de manteiga clarificada trazido
àquele lugar, e ele colocou dentro o embrião que era a filha de Gandhari. E assim, querido rei
de Bharata, eu expliquei agora a você como Gandhari deu à luz uma única filha chamada
Duhshala. Agora fale-me, rei sem pecado, o que mais eu narrarei a você?

O Erro mortal de Pandu


Rei Janamejaya disse:

Ó mestre do conhecimento Védico, você contou como, por arranjo do sábio Vyasadeva, os
filhos de Dhrtarastra nasceram de um modo não humano e extraordinário. E eu ouvi você
recitar seus nomes de maneira sistemática, Ó brahmana. Agora por favor descreva os filhos de
Pandu, que eram grandes almas tão poderosas quanto o rei dos deuses. Como mencionado
por você, os deuses encarnaram neste mundo investindo sua própria potência nos filhos de
Pandu, portanto eu quero ouvir tudo sobre o nascimento deles, pois suas ações eram sobre-
humanas. Ó Vaishampayana, narre isso!

Sri Vaishampayana disse:

Enquanto vivia nos bosques, Rei Pandu uma vez entrou em uma vasta área arborizada que
abundava em bestas selvagens e perigosas. Lá ele viu um cervo grande em acasalamento com
sua corça, e com cinco flechas mortais, rápidas, de hastes douradas e plumagens bonitas,
Pandu perfurou o cervo e sua companheira.

O cervo era de fato o filho de um sábio que tinha crescido poderoso pela prática de severas
austeridades. Enquanto aquele asceta jovem e poderoso estava em intercurso sexual com sua
esposa, que tinha assumido a forma de uma corça adorável, foi golpeado pelas flechas de
Pandu. Desferindo um agudo grito humano, ele caiu ao solo em choque e angústia e,
percebendo o que tinha acontecido, clamou ao rei.

O cervo disse:

– Até mesmo os homens mais pecadores cheios de luxúria e raiva, faltando-lhes toda a razão e
sanidade, nunca agiriam com tanta crueldade quanto você o fez! Seu julgamento não está
acima da lei! É a lei que está sobre você! Sabedoria não combina com propósitos proibidos
pela lei e providência. Você nasceu em uma família exemplar, uma família que sempre tem
sido dedicada a princípios religiosos. Como você pôde ser assim subjugado pelo desejo e pela
cobiça, que sua mente divergisse tanto desses princípios?

Pandu disse:

É função de reis matar os inimigos pessoalmente em batalha, e reis são também autorizados a
caçar animais selvagens. Ó cervo, você não me deveria condenar de maneira injusta. Reis são
autorizados a matar cervos quando o fazem assim sem disfarce ou artifício. Você sabe que
esta é a lei, por que você me condena?

O grande sábio Agastya, enquanto situado em sacrifício, foi à floresta profunda e caçou um
cervo que ele então consagrou e ofereceu a todas as deidades apropriadas. Se você deseja
culpar alguém por meu ato, então é a falta de Agastya que você está oferecendo em sacrifício
a Deus.

O cervo respondeu:

Embora você cite o exemplo de Agastya, os reis por tradição não atiram suas flechas a
inimigos que são apanhados em um momento de fraqueza. Há momentos muito específicos
nos quais é permitido a alguém matar seus inimigos.

Pandu disse:

Mas os reis matam cervos estejam eles alertas ou não, onde quer que eles os encontrem,
usando sua força e suas flechas afiadas. Então, por que você me condena?

O cervo disse:
Eu não o condeno por minha própria causa, simplesmente porque você estava caçando cervo.
Mas você deveria ter esperado enquanto eu procriava em minha esposa amada. Você não
tinha que ser tão cruel. Todas as criaturas de Deus desejam procriar, pois procriar vidas é uma
bênção para todos. Que homem sábio de verdade mataria um cervo em ato de procriação?
Nós queríamos procriar uma criança religiosa. Era a meta de nossa vida, e agora você arruinou
tudo.

Você nasceu na grande dinastia dos Kuru. Os reis sábios de Kuru nunca causaram sofrimento
ou danos a uma pessoa inocente. Então você fez algo que não lhe é apropriado. Você cometeu
o mais cruel de todos os atos, algo que o mundo inteiro condena. O que você fez não o
conduzirá ao céu, nem espalhará sua fama boa, pois é a mais irreligiosa ação, Ó governante
dos Bharatas.

Ó Pandu, você sabe muito bem sobre assuntos com mulheres, e você aprendeu a verdade e o
significado da lei de nossas escrituras. Ó Pandu, você que resplandece como um deus, nunca
deveria ter cometido um ato tão profano! Na realidade, você é quem se propôs a subjugar os
perpetradores de crueldade, os homens pecadores que não se preocupam com vida civilizada,
que se esforçam por dinheiro e prazer sem considerar os direitos ou a felicidade dos outros.

O que você fez? Ó melhor dos reis, você abateu-me, um sábio simples que a ninguém ofendeu,
que nada pediu dos outros. Eu vivi nesta floresta comendo raízes e frutas silvestres, sempre
pacífico e amável a todas as criaturas.

Ouça minhas palavras, Pandu! Porque você nos matou com crueldade, um casal unido no ato
de procriar, eu declaro que um dia quando você estiver desprotegido, guiado por desejo, o ato
de procriar certamente trará sua vida a um fim!

Eu sou Kindama, um sábio austero sem rival. Sentindo-me envergonhado entre os humanos,
eu tomei a forma de um veado e vaguei com os cervos nos bosques profundos, envolvido em
assuntos conjugais com minha esposa que tomou a forma de um corça. Você não incorrerá no
pecado de matar um brahmana, porque você não percebeu minha identidade. Não obstante,
você abateu-me quando eu estava perdido em desejo conjugal.

Seu tolo! Por esse pecado você tem de sofrer. Deveras você sofrerá o mesmíssimo destino,
quando se deitar com sua querida, enlevados por desejo, nessa mesma situação você irá para
o mundo dos mortos! E a amante com quem você se deitar nesse momento final o seguirá com
grande devoção, enquanto você cai nas mãos do senhor da morte, a quem todas as criaturas
têm de obedecer.

Ó mais sábio dos homens, como eu fui lançado em angústia, mesmo enquanto experimentava
tanta felicidade, também você, numa hora de felicidade, virá a um fim doloroso.

Vaishampayana disse:

Tendo falado assim, o desgraçado asceta perdeu sua vida, e naquele instante Pandu entrou
em desespero absoluto.

O Nascimento dos Pandavas

Rei Pandu, o imperador do mundo, matou um sábio e sua esposa, que estavam disfarçados
como veados justo enquanto eles estavam quase se acasalando. Antes de morrer, o sábio
amaldiçoou o rei a morrer se tentasse conceber uma criança. Enquanto o Mahabharata
continua, o sábio Vaishampayana relata a lamentação de Pandu e o extraordinário nascimento
de seus filhos.
Vaishampayana disse:

Vendo o jovem sábio falecer, o rei ficou desesperado. Angustiado com a morte acidental do
santo brahmana, ele e suas esposas lamentaram como se por um parente deles.

Pandu disse:

– Pesosas como eu a quem falta avanço espiritual, ainda que nascido em famílias nobres, vêm
a ser desgraçados por seus próprios atos tolos. Tais pessoas estão presas na rede dos seus
desejos egoístas.

Tenho ouvido que meu pai Vicitravirya, embora nascido de pais religiosos, veio a absorver-se
em prazeres sexuais e, por excesso de apego, aquele jovem rei morreu sem filhos. Entretanto,
o autodisciplinado e divino sábio Dvaipayana gerou-me na mulher de meu pai. [Que abençoado
nascimento foi o meu!] E ainda hoje minha mente degradada tornou-se absorta em paixão
maligna, e perdi-me tolamente em caçada. Sou tão perverso que mesmo os deuses
abandonaram-me!

[Conquistei a Terra com força militar, mas porque não conquistei meus próprios desejos
materiais, quedei-me em escravidão.] Estou determinado a me esforçar por salvação, pois
escravidão para este mundo é nada mais que grande calamidade. Agora seguirei o imperecível
passado de meu pai Dvaipayana. Não tenho dúvida. Praticarei a mais severa austeridade e
errarei pelo mundo sozinho como um mendicante solícito, ficando cada dia debaixo da sombra
de uma árvore simples. Raparei minha cabeça e cobrirei meu corpo com poeira. Viverei em
casas abandonadas ou simplesmente embaixo de uma árvore, e nada agradar-me-á ou
desagradar-me-á.

Não me lamentarei ou rejubilarei por nenhuma coisa material. Se as pessoas escarnecerem-me


ou louvarem-me, eu aceitarei ambos escárnio e louvor igualmente. Não ambicionarei nada
neste mundo mortal ou adularei nenhum homem por seu favor. Calor e frio, alegria e dor, vitória
e derrota – não vacilarei diante dessas dualidades mundanas, nem reivindicarei nada para ser
meu. Não serei carrancudo, nem zombarei de nenhuma criatura. Estarei sempre de semblante
alegre e dedicar-me-ei ao bem-estar espiritual de todos os seres viventes. Não cometerei
violência contra nenhuma vida, móvel ou imóvel, pois sempre verei todas as criaturas de Deus
como meus próprios parentes amados. Tratarei todas as coisas viventes com igualdade.

Vaishampayana disse:

Falando assim, Rei Pandu, profundamente entristecido, respirou pesado por um longo tempo.
Encontrando com cuidado os olhos de suas amadas Kunti e Madri, ele disse-lhes:

– Todos precisam ser comunicados das mudanças em minha vida. Muitas pessoas dependem
de mim, portanto, tão gentil quanto for possível, vocês precisam informar minha mãe, o sábio
Vidura e o Rei Dhrtarastra e todos os outros parentes. Falem com os nobres Satyavati e
Bhisma, todos os sacerdotes da família real, e os brahmanas, aquelas grandes almas tão
estritas em seus votos que beberam o néctar dos deuses. Contem aos anciãos e aos mais
velhos cidadãos que nos têm servido com fervor em todas as suas vidas. Contem a eles todos
que Pandu se foi, se foi sozinho para a floresta.

Ouvindo sua decisão de viver na floresta como um asceta, as mulheres responderam com igual
determinação:

– Há outros estágios de vida para pessoas casadas nos quais você pode realizar austeridades
pesadas junto conosco, suas legítimas esposas. Sem dúvida você será bem sucedido e
chegará à residência celestial. Ambas estamos prontas para fixar nossas mentes e sentidos em
vida espiritual, pois estamos determinadas a seguir você nesta vida e na próxima. Decidimos
renunciar o desejo material e prazer, e suportaremos sérias austeridades. Ó mais erudito, ó
senhor da Terra, se você nos rejeitar, de imediato abandonaremos nossas vidas. Não há
dúvida sobre isto.

Pandu disse:

– Se isso é o que ambas vocês decidiram, então podem vir junto, desde que seus propósitos
estejam de acordo com princípios religiosos. Mas eu as previno, cumprirei meus votos
estritamente, seguindo meu pai Dvaipayana Vyasa. Renunciarei verdadeiramente todo conforto
doméstico, concentrar-me-ei e realizarei severas austeridades. Vagarei na floresta profunda,
vestido em casca de árvore, nutrido com frutas silvestres, nozes e raízes. Sentar-me-ei ao fogo,
não somente no inverno glacial, mas no verão abrasador.

Banhar-me-ei no rio não somente no verão, mas no inverno também. Usarei farrapos e peles e
longos cabelos emaranhados, e meu corpo ficará magro por causa de minha dieta pobre. Terei
de tolerar frio, vento e calor. Fome, sede e fadiga serão meus constantes companheiros. Por
meio de todas essas difíceis austeridades, eu tenho de conquistar e secar os sentidos antes
que eles conquistem-me. Se meus sentidos me superarem, eu imediatamente morrerei, e não
será uma morte gloriosa.

Em todos os meus pensamentos e atos, o progresso espiritual será minha única meta. Com os
frutos do deserto, maduros ou não, e com minhas palavras e pensamentos e tudo aquilo que
eu coletar, adorarei meus veneráveis antepassados e a Suprema Personalidade de Deus, a
quem eles adoraram, e reverenciarei os servos autorizados do Senhor que administram este
mundo temporário.

Como eu ando pelo deserto, nunca farei nada para prejudicar ou desagradar os anciãos que se
retiraram para a floresta para liberação espiritual. Também não perturbarei meus camponeses
nem um dos simples moradores de vila. Seguirei estritamente os mandamentos das escrituras
para vida renunciada na floresta. De fato, desejo seguir o mais severo desses mandamentos,
até que este corpo estiver acabado e eu descansar em paz.

Vaishampayana disse:

Tendo então falado a Kunti e Madri, o grande monarca Kuru tirou suas jóias, coroa, medalhão,
braceletes e brincos e ofereceu tudo aos santos brahmanas, incluindo seu inestimável guarda-
roupa e o guarda-roupa e jóias de suas esposas.

Pandu então falou novamente, desta vez dirigindo-se a seus seguidores e criados pessoais:

– Vão para Hastinapura – ele disse, triste – e façam saber que Pandu, junto com suas
fervorosas esposas, partiu para a floresta para viver como um mendicante, sem riquezas
mundanas ou prazer.

Ouvindo estas palavras despedaçadoras de coração de seu amado senhor, os seguidores de


Pandu e criados pessoais fizeram um terrível clamor e soluçaram em angústia. Vertendo
lágrimas quentes, eles retornaram de seu monarca a Hastinapura para divulgar sua mensagem
final. Enquanto o líder Kuru Dhrtarastra ouvia deles tudo o que acontecera na floresta profunda,
não conseguia parar de chorar por seu irmão mais novo.

O Pedido do Rei Pandu

[Ouvindo as palavras dos sábios a quem ele reverenciava profundamente, Pandu curvou-se
aos seus pedidos. Mas visto que eles estavam partindo, revelou-lhes o que incomodava seu
coração, apesar de todas as suas austeridades.]
Pandu disse:

– Ó mais afortunados sábios, autoridades dizem que não há caminho para o céu para um
homem sem filhos. Eu confesso a vocês todos que não ter filhos causa-me grande angústia.
Acorrentado com quatro tipos de débitos, os homens nascem neste mundo por terem dívidas a
pagar aos antepassados, aos deuses, aos sábios, e a outros homens – débitos de centenas e
milhares.

Conhecedores da lei têm estabelecido que um ser humano que não reconhecer esses débitos
no momento apropriado não alcançará os planetas elevados. Alguém satisfaz aos deuses pelo
sacrifício, aos sábios, pelo estudo e penitência, aos antepassados, pelos filhos e ritos de
shraddha, e à humanidade, pela bondade.

Pela lei, eu estou livre de meus débitos aos sábios, deuses e humanidade, mas ainda devo aos
antepassados, e por isso sinto dor, ó ascetas ricos em austeridades. Se um homem não deixa
descendentes, quando seu corpo perece seus antepassados também perecem. Isso é um fato.

Portanto é para ter progênie que nobres homens nascem neste mundo. Queridos sábios,
mesmo eu fui gerado na viúva de meu pai por uma grande alma. Por um arranjo similar, não
poderia haver prole de minhas esposas?

Os ascetas disseram:

– Ó virtuoso rei, você certamente terá bonitos filhos e crianças sem pecados, como deuses.
Nós sabemos disso por divina visão. Ó tigre entre os homens, por seus atos você tem de
cumprir o que é ordenado pela providência. Um homem inteligente, indesviável, desfruta de um
fim feliz. Querido filho, desde que a meta esteja já à vista, você tem de simplesmente
empenhar-se, e por obter filhos tão qualificados você conseguirá felicidade.

Vaishampayana disse:

Ouvindo essas palavras dos sábios ascetas, Pandu absorveu-se em pensamentos, sabendo
bem que por causa da maldição do brahmana-cervo ele não poderia gerar um filho. [Os sábios
tinham-se ido, mas Pandu fixou as palavras deles em sua mente.] Ele então falou com sua fiel
esposa Kunti em um local reservado da floresta, aconselhando aquela célebre mulher a aceitar
o correto e necessário significado de gerar filhos em tempos de dificuldade:

– Minha querida Kunti, gerar filhos bons é o grande fundamento da sociedade, e assim é
apreciado nos livros de leis sagrados. Autoridades sensatas têm, portanto, reconhecido que
criar bons filhos é sanatana-dharma, um dever perpétuo dos seres humanos civilizados. A
realização de sacrifício, caridade e austeridade, a cuidadosa observação de princípios
reguladores – é dito que mesmo tudo isso não será suficiente para santificar a vida de um
homem sem filhos.

Sabendo bem disso, eu vejo claramente que, como um homem sem filhos, eu mesmo não
alcançarei os mundos abençoados. Esta é minha constante preocupação, ó mulher de doce
sorriso. Ó tímida pessoa, devido à minha imaturidade, eu estava na direção cruel do brahmana-
cervo, e como eu arruinei seu ato de procriação, então meu poder de conceber uma criança foi
arruinado por sua maldição.

Boa mulher, eu junto minhas mãos de unhas vermelhas como pétalas de lótus e as coloco em
minha cabeça em súplica, eu rogo sua misericórdia. Ó amada senhora de cabelos cacheados,
por minha ordem [e como autorizado pelas escrituras sagradas] aproxime-se de um brahmana
que seja maior que eu em seus votos de austeridade e gere filhos dotados de muito boas
qualidades. Com sua ajuda, mulher tolerante, com certeza irei para a terra abençoada
reservada para os pais de bons filhos.
Determinada a ajudar seu esposo e a satisfazê-lo, aquela amável mulher de coxas delgadas
então respondeu para o seu Pandu, que conquistou as cidades de todos os reis ímpios:

– Enquanto vivia como uma menina jovem na casa de meu pai, eu era encarregada de servir
os respeitáveis convidados que chegavam ao nosso reino. Uma vez eu recebi o severo
brahmana Durvasa, que era tão estrito em seus votos. Durvasa sustenta poder assustador e é
extremamente perigoso quando insatisfeito. Além do mais, é muito difícil entender o que o
agradará ou desagradará. Fiz todo o esforço possível para servi-lo bem, e ao final o vidente
estrito ficou satisfeito. Ele deu-me uma bênção e revelou-me uma série de mantras investidos
de poderes místicos. Ele disse-me assim:

– Quem quer que seja o semideus que você se interesse em invocar com este mantra, ele
certamente virá sobe seu controle, querendo ou não querendo.

– Ó Bharata – continuou ela –, aquele brahmana falou assim, quando eu ainda estava em casa
de meu pai. Suas palavras são verdade, e a hora chegou. Ó poderoso rei santo, com sua
permissão, invocarei um deus com esse mantra e então podemos ter um filho. Você sabe
melhor o que é certo e verdade. Diga-me, que deus invocarei? Saiba que apenas espero sua
permissão, pois estou determinada a cumprir esta missão.

Pandu disse:

– Hoje mesmo, ó mulher monumental, você tem de agir, e pela lei! Traga até você o deus
Dharma, boa senhora, pois entre os deuses ele é devotado à virtude. Dharma jamais se uniria
a nós neste empenho se for injusto ou mal. Ó senhora monumental, então o mundo concluirá:
“Este ato foi legítimo”. Sem dúvida, nosso filho será a grande imagem de justiça dos Kurus.
Quando ele nos for dado por Dharma, o deus da justiça, sua mente nunca se deleitará em
adharma, injustiça. Portanto, fazendo dharma, virtude, nossa primeira prioridade, você tem de
se concentrar, pessoa de doce sorriso. Com reverência e o mantra místico, esforce-se pelas
bênçãos de Dharma.

Vaishampayana disse:

Enquanto Kunti era assim orientada por seu esposo, a excelente mulher respondia:
– Assim será!

Ela ofereceu-lhe suas sinceras reverências e, com sua permissão, o circumambulou.

Filhos dos Deuses

Meu querido Rei Janamejaya, depois de um ano de gravidez, a esposa de Dhrtarastra,


Gandharî, ainda não tinha dado à luz um filho. Enquanto isso, Kunti invocou o indefectível
Dharma, assim ela mesma pôde tornar-se grávida.

Kunti de imediato ofereceu um sacrifício a Dharma e com cuidado cantou o mantra dado a ela
anos atrás por Durvasa Muni. Unindo-se com Dharma, que apareceu em sua forma verdadeira
como um devotado servo do Senhor, a princesa monumental obteve como seu filho o melhor
de todos que respiram.

Exatamente ao meio-dia, no momento mais auspicioso, quando a lua estava especialmente


benevolente, as estrelas prediziam piedosas vitórias, Kunti deu à luz um filho de gloriosa fama.
Tão logo ele nasceu, uma voz invisível falou do céu:
– Entre todos que seguem com fervor as leis de Deus, esta criança é sem dúvida a melhor. O
filho primogênito de Pandu será conhecido como Yudhisthira, “estável em batalha”, e sua fama
como monarca se espalhará pelo Universo. Ele é completamente dotado de fama, força e
bondade.

Tendo obtido um filho virtuoso como seu primeiro filho, Pandu novamente abordou Kunti e
disse:

– É dito que um rei ksatriya é preeminente em força. [Nossos filhos serão líderes, e eles terão
de possuir qualidades ideais.] Portanto, escolha por sua bênção um filho que seja o mais forte
de todos os homens.

Estando assim instruída por seu esposo, Kunti invocou o poderoso deus do vento, Vayu, e dele
nasceu um filho de braços fortes chamado Bhima, “o terrível”, pois ele agiria com força terrível.
Na realidade, a força superior de Bhima nunca falharia, e no seu nascimento uma voz celestial
declarou:

– De todos os homens poderosos, o mais poderoso nasceu agora.

Na verdade, logo depois de seu nascimento, aconteceu um incidente espantoso. Ainda bebê,
Bhima caiu do colo de sua mãe e com seus delicados membros pulverizou um monte de
pedras sólidas. No décimo dia depois de seu nascimento, Kunti levou seu filho a um lago
encantador para banhá-lo. Depois de banhá-lo, ela foi visitar vários santuários religiosos na
região para obter bênçãos para seu bebê. Assim que Kunti chegou ao pé de uma montanha e
parou para descansar, um tigre enorme surgiu de uma caverna na montanha e avançou com
velocidade mortal na direção dos indefesos mãe e filho.

Sutilmente Pandu tinha estado olhando sua esposa enquanto ela caminhava na direção da
montanha. Ele sempre carregava seu arco e flechas para proteger sua família na selva
perigosa. Quando o tigre enorme avançou para matar, Pandu, com a coragem dos deuses,
puxou para trás seu arco belo e perfurou o corpo do tigre com três flechas mortais. Lançando-
se de volta para dentro de sua toca, a besta ferida de morte encheu a caverna de rugidos
terríveis.

Quando o tigre atacou, Kunti pulou com terror, esquecendo-se que sua criança dormia em paz
no seu colo. O bebê caiu do colo dela e começou a rolar encosta abaixo. Ele golpeou a
montanha de pedra com a força de raios lançados pelo poderoso Indra. Na realidade, enquanto
Bhima saltava encosta abaixo, uma pedra sólida quebrou-se em centenas de pedaços. Quando
Pandu viu seu filho amado cair do colo de sua mãe, veio correndo, mas quando viu a pedra
quebrada, ficou tomado de espanto.

No grande dia em que Bhima nasceu, ó senhor da abundante Terra, Duryodhana também
nasceu. Logo depois do nascimento de Bhima, Pandu de novo começou a desejar um outro
filho.

– Como eu posso ter um outro filho excelente – ele pensou –, um filho que será o mais elevado
neste mundo? Sucesso na vida depende tanto das bênçãos de Deus quanto de nossos
próprios desejos honestos. Se nós seguirmos com cuidado as leis de Deus e agirmos, na hora
apropriada seguramente podemos obter Suas bênçãos.

Temos ouvido que entre os deuses que administram nosso mundo, Indra é o chefe. É dito que
ele é possuidor de força imensurável, coragem, nobreza e esplendor. [Seguramente Indra
poderia nos dar o maior filho de todos.] Farei um esforço especial para satisfazer Indra por
realização de austeridades, e obterei então um filho poderoso. Na realidade, dará um filho mais
elevado. Sim, realizarei muitas austeridades difíceis com meu corpo, espírito e minha mente
[para convencer o poderoso Indra de nossa sinceridade].
Pandu discutiu seu plano com os grandes sábios e depois instruiu Kunti a observar um voto
auspicioso por um ano. E com máxima concentração, Pandu submeteu-se a uma árdua
austeridade, postando-se em uma perna do nascer ao pôr do sol sem descanso, determinado a
ganhar o favor do Senhor Indra, o chefe dos trinta semideuses principais. Depois de um longo
tempo, ó Bharata, Indra dirigiu-se ao virtuoso rei Kuru:

– Eu dar-lhe-ei um filho que será célebre por todo o Universo. Essa criança excelente cumprirá
a missão dos deuses, dos brahmanas, e dos seus próprios amados, porque eu darei até você o
primeiro dos filhos, e ele derrotará tudo que o opuser.

Ouvindo essas palavras do Senhor Indra, e mantendo-as em sua mente, o nobre Pandu disse a
Kunti:

– Ó esposa de sorriso doce, nós recebemos a misericórdia do rei dos deuses. Ó esposa bem
formada, chame-o agora e gere um filho que carregará todo o fogo e poder da raça guerreira,
uma grande alma que será rígida em princípios morais, brilhante como o sol, invencível em
batalha, dinâmica, e sumamente maravilhosa de se ver.

Diante de tais palavras, aquela senhora ilustre chamou Indra, e o rei do deuses veio a ela e
gerou Arjuna. Assim que a criança nasceu, uma voz do céu falou em tons tão profundos e
claros, que os céus ressoaram com a mensagem:

– Ó Kunti, esta criança trará glória para seu nome, porque será tão invencível quanto seu pai
poderoso, Indra. Na realidade, seu poder e sua coragem igualar-se-ão às de reis como
Kartavirya e Sibi.

Assim como o Supremo Senhor Visnu deu sempre crescente satisfação para sua mãe Aditi
[quando Ele apareceu como Vamana], também seu filho Arjuna, que é como Visnu mesmo,
aumentará sua felicidade mais e mais. Ele subjugará os guerreiros de Madra, os Kekayas e os
guerreiros de Cedi, Ka_i e Karusa, e então ele estabelecerá a autoridade da dinastia Kuru. Pela
força de seus braços, o deus do fogo ficará completamente satisfeito por consumir todas as
criaturas da floresta Khandava.

Este líder poderoso de seu povo conquistará heroicamente os governantes regionais da Terra e
então com seus irmãos realizarão três grandes sacrifícios religiosos. O Kunti, seu filho será
feroz em batalha, como o próprio Para_urama, e seus feitos serão tão gloriosos quanto aqueles
do Visnu primordial. Arjuna será o muito melhor do heróis, e ninguém o derrotará, porque ele
trará consigo as armas celestiais mais avançadas. Assim este melhor dos homens trará de
volta a glória e opulência de sua dinastia.

Descansando no quarto de maternidade, Kunti ouviu essas mais extraordinárias palavras que
Vayu ele próprio vibrou no céu. Quando os ascetas eruditos dos Cem Picos ouviram estas
declarações, brotou entre eles a maior alegria. E então o próprio Senhor Indra, com os
semideuses, grandes sábios e outros habitantes do céu, começou a celebrar o nascimento do
seu filho terrestre. Tambores celestiais soaram adiante, e um tumulto jubiloso encheu os céus.
Chuvas de flores flutuaram para a Terra das moradias divinas, enquanto as comunidades de
semideuses e seres religiosos gritavam congratulações reunidos para honrar o filho enaltecido
de Prtha.

O próprio Pandu adorou feliz o Senhor Supremo e Seus representantes autorizados. Satisfeito
com sua adoração, os semideuses então dirigiram-se ao melhor dos reis:

– Pela misericórdia do Senhor Supremo, atuando por meio de semideuses seus agentes
autorizados, a Justiça nasceu como seu primeiro filho, Yudhisthira; o potente Vento apareceu
como seu poderoso filho Bhima que sempre aniquilará o mau; e agora pela misericórdia de
Indra, Arjuna apareceu como seu filho, dotado com toda a potência do Senhor Indra.
Certamente não há ninguém mais piedoso que você, pois os próprios semideuses tornaram-se
pais de seus filhos. Você está livre de seu débito para com os antepassados, e você alcançará
a morada celestial, pois o mérito da piedade é seu júbilo.

Tendo assim falado, todos os semideuses partiram como haviam chegado.

Rei Pandu, entusiasmado com suas bênçãos, ainda não estava saciado, mas ao contrário
sentia-se encorajado a seguir adiante seu desejo intenso de filhos elevados. De novo, portanto,
o monarca ilustre pediu à sua amável e bem formada esposa Kunti para gerar um filho, mas
desta vez Kunti recusou-se inflexível e falou as seguintes palavras:

– Mesmo em tempos de crises, autoridades não permitem a uma mulher aproximar-se de


quatro homens diferentes. Se me aproximar de mais um outro homem, com certeza tornar-me-
ei uma mulher caída. Uma quinta vez e tornar-me-ia uma meretriz ordinária. Pandu, você fala
como um homem louco. Como você pode pensar em violar minha honra desta forma por causa
de um outro filho? Precisamos nos lembrar dos princípios!

– Sim – disse Pandu – ,você está certa. Os princípios religiosos são exatamente como você os
declarou.

Cumpre-se a Maldição do Brahmana

Rei Pandu foi amaldiçoado a morrer se viesse a se aproximar de suas esposas para o
intercurso sexual. A pedido dele, portanto, sua esposa Kunti deu à luz três filhos pela união
com semideuses.

Como o Mahabharata prossegue, o sábio Vaishampayana fala do nascimento dos dois filhos de
Madri, a outra esposa de Pandu, e da morte do rei. Pois o poderoso monarca, que na floresta
tornou-se senhor de seus sentidos, como em outros tempos havia conquistado seus inimigos,
caiu prisioneiro de luxúria incontrolável.

Vaishampayana continuou:

Depois que Kunti e Gandhari deram à luz os seus filhos, a amável Madri, filha do rei Madra,
abordou seu marido, Pandu, em lugar reservado e falou estas palavras:

– Eu não tenho nenhuma queixa contra você, mesmo que você tenha me tratado de maneira
injusta. Tenho sempre recebido o papel inferior, embora por direito era para eu ser venerada.
Nem fiquei infeliz ou ciumenta quando ouvi que Gandhari deu à luz cem filhos. Mas cabe-me
contar a você o que me faz muito infeliz. Embora eu esteja à altura dessas mulheres, não tenho
filhos! Nossa boa fortuna é que Kunti deu-lhe filhos para preservar sua dinastia. Se ela pudesse
arranjar-me a possibilidade de dar-lhe filhos também, seria a maior bênção para mim e bom
para você. Por causa da minha rivalidade natural com Kunti, não posso eu mesma pedir-lhe,
mas se você estiver de alguma maneira satisfeito comigo depois de todos esses anos, você
pessoalmente poderia convencê-la.

Pandu disse:

– Minha querida Madri, você sabe que o anseio por filhos está sempre volteando em meu
coração. [Eu queria que você pedisse a Kunti para compartilhar a graça dela com você, mas]
não me atrevi a pedir-lhe isso porque não estava certo se você ficaria satisfeita com a idéia ou
não. Mas agora que conheço seus sentimentos, aceito pessoalmente a responsabilidade de
fazer isso por você. Estou certo de que Kunti acatará minha instrução.

Vaishampayana disse:
Em seguida Pandu conversou com Kunti em lugar reservado e falou-lhe:

– Vmocê te de agir para preservar minha família e trazer felicidade para o mundo. Você é uma
mulher boa, e agora, fora do seu amor por mim, tem de realizar um ato supremo de bondade
para que eu e nossos antepassados jamais percamos o Pinda sagrado. Pela honra de seu bom
nome e glória, execute esta tarefa difícil. Mesmo depois de alcançar soberania, Senhor Indra
realizou sacrifícios, pretendendo boa reputação.

Ó amável senhora, os duas vezes nascidos conhecedores de mantras ainda empreendem


árduas austeridades e servem seus gurus por honra de glória e de um bom nome. Igualmente
todos os videntes santos, brahmanas e ascetas executam difíceis tarefas, grandes e pequenas
por honra da verdadeira glória. Ó impecável mulher, com o barco de sua graça é você que tem
de conduzir Madri através do rio de seu pesar. Compartilhe a dádiva da descendência e
alcance a mais alta glória.

Assim orientada, Kunti de imediato falou com Madri:

– Você tem de pensar em um semideus, uma vez, e sem dúvida ele lhe concederá um filho
com qualidades semelhantes às dele próprio.

Ouvindo estas palavras, Madri considerou a questão com cuidado, até que por fim sua mente
concentrou-se nos gêmeos Ashvins, os magnânimos médicos dos planetas celestiais. Kunti
então fervorosamente cantou o poderoso mantra, e os deuses gêmeos vieram de imediato e
geraram em Madri um par de gêmeos.

Os dois filhos de Madri, inigualáveis em beleza, tonaram-se conhecidos neste mundo como
Nakula e Sahadeva. Como com os outros filhos de Pandu, uma voz invisível anunciou os seus
gloriosos nascimentos: “Estes dois meninos superarão todos os outros em beleza, força e
generosidade. De fato eles são abençoados com extraordinário esplendor, vigor, beleza e
saúde”.

Assim que esses nobres príncipes iam nascendo para Pandu, um ano após outro**, os
brahmanas jubilosos outorgavam-lhes nomes. O mais velho eles chamaram Yudhisthira; o filho
do meio de Kunti, Bhimasena; o terceiro, Arjuna. O mais velho gêmeo de Madri eles declararam
ser Nakula e o mais jovem, Sahadeva.

Todos cinco possuíam grande nobreza, vigor, coragem, força e ousadia. Vendo seus filhos tão
garbosos quanto os deuses e muito poderosos, o monarca regozijava-se, e a maior das
felicidades era dele. Os cinco meninos Pandavas eram amados por todos os sábios que viviam
nos Cem Picos e pelas esposas santas dos sábios.

Então Pandu novamente falou com Kunti, solicitando que Madri fosse permitida a usar o mantra
especial de novo. Assim que eles ficaram a sós reunidos, a casta Prtha respondeu:

– Eu invoquei o mantra somente uma vez em favor dela, e ela ainda obteve dois filhos. De
certo modo eu senti-me enganada por aquilo. Eu temo que Madri supere-me. Lamento, mas
essa é a natureza das mulheres. Fui muito tola. Eu não sabia que chamando dois deuses fosse
possível conseguir dois filhos de uma vez. Portanto, não poderia ser obrigada por você a fazer
isto. Por favor, dê-me essa bênção.

[Pandu concordou.] Então todos cinco filhos dados por deuses nasceram para o Rei Pandu.
Cada um deles possuía grande força, todos seriam glorificados por seus feitos heróicos, e
todos aumentariam a prosperidade e influência da dinastia Kuru. Seus corpos eram marcados
com auspiciosos sinais e eram tão agradáveis à vista como a lua plácida. Orgulhosos como
leões, esses filhos possuíam habilidades mortais com arco e flecha.

Eles caminhavam com o andar confiante dos leões, e seus pescoços eram tão robustos como
os dos leões. Eram os líderes naturais da sociedade, e enquanto cresciam para a maturidade,
seus feitos heróicos revelavam suas origens religiosas. Crescendo na região sagrada do
Himalaya, os cinco surpreendiam com constância os santos que residiam lá com eles. Na
verdade, tanto os cinco Pandavas como os cem filhos de Dhrtarastra cresceram rápido, como
flores de lotos emergindo rápido em águas claras.

Vasudeva Manda Presentes

Quando os filhos de Pandu vieram a este mundo, os ascetas habitantes do Cem Picos uma vez
aceitaram-nos em sua comunidade, tratando-os como seus próprios filhos. Entretanto, os
membros da dinastia Vrsni, encabeçada por Vasudeva, falavam entre eles mesmos o seguinte:

– Assustado pela maldição do brahmana, Pandu viajou para os Cem Picos e lá tornou-se um
asceta, residindo com os sábios. Ele viveu na floresta, alimentou-se de vegetais, raízes e
frutas, realizou austeridades, controlou seus sentidos com cuidado, e devotou-se por completo
à meditação mística na forma do Senhor no coração. Assim o rei viveu.” [o líder Vrishni,
Vasudeva, era irmão de Kunti e cunhado de Pandu.]

Os muitos guerreiros Vrishni, com seus amigos e aliados, compartilhavam um grande amor por
Pandu, tanto que ao ouvirem e discutirem as notícias sobre a situação dele, seus corações
transbordavam de pesar. “Quando ouviremos boas notícias sobre Pandu?”, lamentavam.
Mesmo enquanto os Vrishnis a seus amigos ainda estavam aflitos, eles ouviram que Pandu, a
despeito da maldição do brahmana, tornara-se pai de notáveis filhos. Todos eles então
encheram-se de júbilo. Celebrando entre eles mesmos, falaram a Vasudeva estas palavras:

– Os poderosos filhos de Pandu não podem ser privados das cerimônias religiosas
apropriadas. Ó Vasudeva, você sempre se esforça pelo bem-estar e pela afeição deles.
Mande-lhes o sacerdote real”.

– Assim seja – disse Vasudeva, e ele mandou o sacerdote real, junto com muitos presentes
apropriados ao jovens meninos. Lembrando de Kunti e Madri, ele também mandou vacas, ouro
e prata, e enviou servos, servas e presentes para a casa. Quando todos esses presentes
estavam prontos, o sacerdote os pegou e partiu.

Quando o Rei Pandu, que havia conquistado as cidades de seus inimigos, viu que o sacerdote
real Kashyapa, o melhor dos brahmanas, havia vindo até eles na floresta, Pandu o recebeu
com honra completa, estritamente observando a etiqueta. Kunti e Madri ficaram contentes e
exaltaram Vasudeva. Pandu então tinha o sacerdote para executar todos os ritos religiosos
para o nascimento de seus filhos, e Kashyapa fez tudo que foi solicitado e tudo que era
benéfico. Ele cortou o cabelo daqueles ilustres príncipes, cujos olhares eram tão destemidos
quanto o de um búfalo. Ele os iniciou como sérios estudantes da ciência Védica, e eles se
distinguiram em seus estudos.

Vishampayana continuou:

Olhando seus cinco belos filhos crescerem na grande floresta Himalaya, Pandu regozijava-se,
e protegia os meninos com suas próprias mãos poderosas. Uma vez, na altura da Primavera,
quando a floresta estava resplandecente com novas flores coloridas, o rei Pandu começou a
vagar entre árvores com sua fervorosa esposa Madri. Tão amável e sensual estava a floresta
que podia encantar a mente de qualquer criatura.

A floresta amável estava viva, com frutas e flores a desabrochar, e palmeiras, esplendorosos
caramanchões, manga e campaka celestial. O cenário colorido cintilava com o frescor da
Primavera, rios e lagos cheios de lotos, e enquanto Pandu contemplava a floresta, o
intrometido Cupido surgiu em seu coração.
Vestida em trajes brilhantes, Madri viu Pandu desportivo como um semideus, sua bela face
inspirava afeição, e ela seguia atrás dele. Pandu observava sua jovem esposa, em seu fino
vestido, caminhando ao longo, e seu desejo agora crescia como um fogo que arde das
profundezas do seu combustível. Sozinho com Madri naquele vale isolado, Pandu viu o mesmo
fogo queimando no coração de Madri, e ao fixar-lhe nos olhos amáveis, ele não pôde controlar
seu desejo, pois tomara conta de toda sua vida.

Nessa floresta secreta o monarca segurou sua esposa à força. A deusa torceu-se e lutou com
toda sua energia para impedi-lo, mas o desejo já o havia possuído, e Pandu nada lembrava da
maldição. À força ele foi para cima de Madri no ato de amor. Como se encerrasse sua vida, o
grande monarca Kuru, ao largo de seu grande medo da maldição, caiu sob o domínio do
Cupido.

[Deus é dito ser a força do tempo, que arrebata todas as coisas neste mundo.] O destino, como
o revelado ao longo do tempo, tanto hostilizou os sentidos de Pandu e confundiu sua
inteligência, que ele perdeu sua razão e mesmo sua ordinária consciência. Ó criança Kuru, por
estar unido à sua esposa, aquele mais virtuoso rei estava preso aos implacáveis trabalhos do
tempo.

Abraçando forte o insensível rei, Madri lamentou em agonia. De novo e de novo seus
atormentados gritos atravessaram o céu da floresta, até Kunti vir correndo com todos os cinco
meninos para ver o que estava errado. Ao chegarem perto do rei caído, Madri gritou para Kunti:

– Venha aqui sozinha! As crianças devem permanecer onde estão!

Ouvindo estas palavras, Kunti segurou as crianças atrás e prosseguiu sozinha. [Sabendo
intuitivamente o que havia acontecido] ela gemeu para si mesma: –Minha vida acabou! Minha
vida está terminada!

– Então ela viu Pandu e Madri deitados no chão. Todos os membros de Kunti ficaram
paralisados de sofrimento, e ela lamentou em dor.

– Eu sempre o protegi! – ela soluçou – e ele era um alma auto realizada e em total controle de
si mesmo. Ó Pandu, você sabia que o brahmana da floresta o havia amaldiçoado. Como pôde
violar a maldição?

[Tremendo de dor, Kunti dirigiu-se a Madri:]

– De todas as pessoas, Madri, você estava preparada para proteger o rei. Como pôde ser
luxuriosa para ele nesta floresta isolada? O pobre rei estava sempre preocupado com a
maldição. Como pôde ele ficar tão agitado pelo desejo, que viria até você num lugar retirado? Ó
Madri, você é abençoada. Você é de longe muito mais afortunada do que eu; você viu a face de
Pandu no seu êxtase de desejo.

Madri disse:

– O rei foi seduzido por mim. Eu tentei de novo e de novo impedi-lo, mas ele recusou-se a
retroceder, como se ele mesmo fizesse as palavras do brahmana tornarem-se verdade.

Kunti disse:

– Eu sou a mais velha das esposas deles, e se nossos anos de serviço fervoroso são para
produzir frutos, então a primeira recompensa é para a mais velha. Não me faça retroceder,
Madri, do que tem de vir a ser. Eu vou seguir meu senhor que faleceu. Você pode aparecer
agora! Você pode deixar de ir com ele [pois eu morrerei com Pandu na pira funerária]. Cuide
dessas crianças!
Madri disse:

– Eu tenho de seguir meu esposo, pois ele não retornará. Meus desejos por ele não foram
satisfeitos. Como minha superior, por favor deixe-me fazer isto! O grande rei Bharata
aproximou-se de mim com desejo no momento de sua morte. Como posso frustrar seu amor,
mesmo nas mansões de Yamaraja? E fosse eu a permanecer neste mundo, Kunti, não
conseguiria tratar seus filhos como os meus próprios.

Eu demonstrarei meu real caráter, e então, nobre senhora, o mal poderia na verdade deitar
mãos sobre mim. Portanto, Kunti, você tem de cuidar dos meus meninos como seus filhos, pois
você realmente pode fazê-lo. Além de tudo, o rei estava ardente por mim quando ele faleceu.
Meu corpo é para ser queimado na pira funerária em companhia do rei. Os corpos têm de estar
cobertos por completo. Ó nobre mulher, faça-me esta bondade! Seja cuidadosa, e faça o que
for melhor para as crianças! Não vejo mais nada a ser dito.

Vaishampayana disse:

Pandu foi o melhor dos homens, e a filha do rei Madra o amou com voto sagrado. Agora aquela
famosa mulher montava sua pira funerária com pressa.

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