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III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO

Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

A EDIÇÃO ESTRUTURAL EM HIPERTEXTO ENTRE OS ESTUDOS


E OS MANUAIS1

Maria Otilia BOCCHINI (ECFA-USP)2


Cristina YAMAZAKI (ECA-USP)3

Resumo em português
O artigo aborda a edição estrutural (Cristina Yamazaki, Francine Cloutier, Maria Elena O.O.
Assumpção e Maria Otilia Bocchini), fundamentada sobretudo em aspectos cognitivos envolvidos na
relação entre leitores e textos (Mary Kato, Angela Kleiman, François Richaudeau), colocando-a em
diálogo com estudos que buscam conhecer as relações entre humanos e hipertexto e categorizar as
habilidades e as estratégias de leitores, usuários e navegadores desse ambiente (Lucia Santaella, Jakob
Nielsen, pesquisas EyeTrack realizadas pelo Poynter Institute). As reflexões resultantes podem
fornecer elementos para a leitura crítica de manuais gerais para a web (como o de Guillermo Franco)
ou voltados especificamente para o jornalismo online (Javier Díaz Noci, Ramón Salaverría, María
Teresa Sandoval).

Palavras-chave: Edição em hipertexto; Edição estrutural; Texto acessível.

A edição estrutural é uma etapa da edição de textos, para meio impresso ou digital, e
considera-se que deva ser orientada por aspectos cognitivos envolvidos na relação entre
leitores e textos. Se é uma etapa importante na edição impressa, é apontada como
imprescindível na eletrônica (NIELSEN, FRANCO), pois a forma como um hipertexto se
estrutura determinaria sua usabilidade, atributo que por sua vez define a condição de
existência de um texto em meio digital.
Reflexões sobre edição de hipertexto apresentam-se como cruciais numa sociedade,
como a brasileira, que a cada ano incorpora número consideravelmente grande de pessoas
com acesso à web. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2008)
mostram que em apenas um ano, entre 2007 e 2008, a porcentagem de domicílios com acesso
à internet cresceu de 20% para 23,8%. Ainda em 2009, há um esforço governamental para
diminuir os custos de acesso à internet rápida. Esses dados evidenciam que os envolvidos na
produção e edição de hipertexto deverão enfrentar, no Brasil, o desafio de produzir não só
para a minoria dos mais hábeis em navegação e para os leitores muito proficientes, mas
também para grande parcela de leigos e de novatos, com diferentes níveis de proficiência em
navegação e em leitura.

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Discussão Edição e Novas Tecnologias, no III Encontro Nacional sobre
Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
2
Doutora em Ciências da Comunicação, professora do curso de Editoração da ECA-USP.
3
Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, cristina.yamazaki@usp.br.

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Apesar de o meio digital oferecer muitas possibilidades de apresentação dos textos à


pessoas que navegam, muito do que já foi pesquisado sobre as relações entre leitor e textos
impressos pode ser usado como balizamento na edição de textos para a arquitetura
hipertextual. Isso se dá, em primeiro lugar, porque a leitura proficiente sempre dependerá de o
leitor ter ativados seus conhecimentos prévios: sejam linguísticos, textuais e de mundo, tanto
os enciclopédicos como os adquiridos informalmente, por meio de experiências e de
convivência numa sociedade (KLEIMAN, 2004, p. 13-27). Em segundo lugar, porque o leitor
terá mais facilidade em formular hipóteses de leitura, de maneira independente, se puder
utilizar seus conhecimentos prévios ativados e se lhe forem fornecidos elementos formais,
bem visíveis, que o auxiliem nessa tarefa. Além disso, a leitura sempre será facilitada se o
texto observar os princípios de parcimônia ou economia, de canonicidade, de coerência e de
relevância (KATO, 2002; KLEIMAN, 2004).
Tal como o editor de textos para meios impressos, o editor de textos para web
necessita estar em constante formação, buscando entrelaçar novos conhecimentos aos que já
tem, como os que lhe permitem avançar na compreensão dos diferentes níveis do que Lucia
Santaella (2004) denomina “alfabetização semiótica do usuário ou navegador”, ou seja, o
domínio sobre o meio hipermidiático em que encontrará dispostos diferentes tipos de textos.
Ao observar práticas de navegação, Santaella postula a categorização do navegador
como novato, leigo ou experto, procurando descrever o modo como diferentes usuários lidam
com os elementos da natureza híbrida da hipermídia (signos, sinais, imagens, texturas
gráficas, figuras, diagramas, sons, ruídos) e suas respectivas hipersintaxes. Navegadores
novatos revelariam desorientação diante da profusão de signos na tela, grande incidência de
erros na busca, incapacidade para retornar ao texto inicial. O usuário leigo seria o que está
aprendendo “a se virar”, teria conhecimento de algumas rotas, já saberia voltar ao início
quando percebe ter realizado um avanço equivocado. O experto manipularia ferramentas e
comandos com desenvoltura e velocidade, transitaria pela rede com facilidade (Santaella,
2004, p. 55-72). A análise da autora prossegue identificando processos inferenciais (ou tipos
de raciocínio) que, por sua dominância, permitem três diferentes perfis de navegadores: o
internauta errante, o detetive e o previdente. E, por fim, oferece sua visão do que seria um
novo modo de ler na web e o perfil, algo impressionista, do que denomina “leitor imersivo”
(p. 173-184).
De sua parte, o norte-americano Jakob Nielsen expõe há anos na web, em artigos
curtos (http://www.useit.com), seus achados, visões e comentários sobre as complexas
relações entre os navegadores/leitores e a interface da hipermídia, com fundamentação

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variada (de estudos empíricos a insights) e nem sempre explicitada. Os artigos de Nielsen
operam sobretudo como publicidade de seus seminários/cursos sobre usabilidade, desenho de
navegação e redação para a web, porém ainda assim oferecem material para reflexão crítica.

O editor e a intervenção estrutural

O editor atua na comunicação de um texto com o objetivo de criar condições


favoráveis ao esquema comunicativo não presencial e a variáveis como distâncias geográficas
e temporais. Por isso, o compromisso do editor de texto com “a precisão, o rigor, a
legibilidade e a compreensibilidade” está na essência da ação de editar um texto (HOUAISS,
1967, p. 3). O propósito é divulgar material de leitura acessível aos leitores, sobretudo no caso
de textos informativos, não literários, em que a informação está acima da forma expressiva do
autor.
Podem-se identificar, numa primeira etapa da edição de texto, duas intervenções
(estrutural e linguística), com tarefas mínimas e objetivos distintos, conforme classificação e
sistematização do processo de tratamento do texto propostas por pesquisadores que se
dedicam ao estudo da edição de texto em diálogo com perspectivas linguísticas (ASSUMPÇÃO,
BOCCHINI, CLOUTIER, YAMAZAKI) e também por algumas associações profissionais
internacionais4.
A distinção de tipos de intervenção com base em algumas dimensões do texto seria
necessária para dar conta da complexa rede de relações linguísticas e editoriais implícitas na
publicação de um material impresso ou eletrônico.
Na etapa estrutural, visa-se explicitar ao leitor as marcas formais da estrutura e
progressão temáticas do texto, de modo a orientar o processamento da leitura. Na intervenção
que ocorre no código linguístico, busca-se a legibilidade, assim como a coerência linguística
em âmbitos como léxico e estilo.
Dessa forma, na edição estrutural, o profissional faz intervenções para organizar o
conteúdo informativo do texto. O objetivo é apresentar as informações de forma coerente, ou
seja, de modo que o texto desenvolva o tema global conforme o leitor avance na leitura. Nessa
etapa, a leitura profissional observa o texto sobretudo em sua macroestrutura, porém sem
ignorar a microestrutura.

4
Association Canadienne des Réviseurs (ACR), Editor’s Association of Canada (EAC), Unión de Correctores
(UniCo), Syndicat des Correcteurs et des Professions Connexes de la Correction, Syndicat National de l’Édition
(SNE), entre outras.

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Antes de começar a fazer qualquer tipo de mudança, convém avaliar o original, que
deve ser analisado em seus fatores intra e extralinguísticos. Para identificar se a organização
do conteúdo está coerente, seria conveniente conhecer elementos como natureza do texto,
público, tipo de publicação, formato da publicação, forma de distribuição, entre outros. É a
avaliação desses elementos em sua relação com o texto que ajuda a determinar as
intervenções a serem efetuadas no nível da intervenção estrutural.
Nesse processo, o texto é abordado não como uma unidade formal, apenas, e sim
como uma unidade de comunicação na qual o editor de texto deve ter participação
fundamental (KATO, 2002, p. 71).
É provável que durante essa intervenção estrutural a leitura do editor de texto não se
concentre nos detalhes linguísticos, mas sim na organização do conteúdo informativo. Os
olhos não se deteriam portanto sobre cada palavra nem blocos de palavras, mas sobre grandes
blocos de parágrafos, pausando um pouco mais nos segmentos de textos que fornecem pistas
e sugerem o conteúdo global, ou seja, que ofereçam algum tipo de indicação que ajude o
profissional a imaginar o original como um todo. Esses textos, que podem ser denominados
funcionais, são: títulos de capítulo, intertítulos, legendas, olhos e blocos de texto curtos em
destaque no original. O processamento desses textos — que Richaudeau (1986) denomina
“indicadores” e podem ser compostos de uma palavra ou de uma frase curta — estimularia a
memória de longo prazo do leitor, contribuindo para que ativem conhecimentos prévios
linguísticos, textuais e enciclopédicos (KLEIMAN, 2004). Assim, com base em marcas formais
do texto, constituídas por elementos que ajudam a estruturar o conteúdo (textual e
graficamente), automaticamente o editor aciona esquemas, ou seja, “pacotes de
conhecimentos estruturados, acompanhados de instruções para seu uso”, os quais formam
redes de conhecimento (KATO). Esse é um dos processos inconscientes que ocorrem durante a
leitura, conforme se constatou em pesquisas cognitivistas (KATO, 2002; KLEIMAN, 2004;
RICHAUDEAU, 1981, 1992).

A edição estrutural no hipertexto: os manuais e os títulos

Para tornar mais concreta essa interação entre o texto e o leitor envolvida na leitura,
reproduz-se abaixo um exemplo didático proposto por Kleiman5 (2004, p. 21).

5
Conforme indicado por Kleiman, o excerto foi traduzido de pesquisa feita por Dooling e Landman, publicada
em Effects of comprehension on retention of prose, Journal of Experimental Psychology, 88, 1981.

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Com gemas para financiá-lo, nosso herói desafiou valentemente todos os risos desdenhosos
que tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enganam”, disse ele, “um ovo e não uma
mesa tipifica corretamente esse planeta inexplorado”. Então as três irmãs fortes e resolutas
saíram à procura de provas, abrindo caminho, às vezes através de imensidões tranquilas, mas
amiúde através de picos e vales turbulentos. Os dias se tornaram semanas, enquanto os
indecisos espalhavam rumores apavorantes a respeito da beira. Finalmente, sem saber de onde,
criaturas aladas e bem-vindas apareceram anunciando um sucesso prodigioso.

Sem um título, é quase impossível identificar do que trata o texto. Quem é o herói?
Qual é seu plano? De que planeta se trata? Quem ou o que são as irmãs? Inúmeras perguntas
ficam sem respostas claras, mesmo após releitura atenta, ressalta Kleiman.
A presença de um título pode alterar toda a leitura: “A descoberta da América por
Colombo” (KLEIMAN) ou simplesmente “A viagem de Colombo” (ASSUMPÇÃO; BOCCHINI,

2002, p. 13).
Com um título informativo, o texto parece outro ao leitor, embora permaneça o
mesmo. O que mudou foi apenas a presença de um “texto indicador” que acionou os
conhecimentos do leitor sobre Cristóvão Colombo e a descoberta da América. “Para haver
compreensão, durante a leitura aquela parte do nosso conhecimento de mundo que é relevante
para a leitura do texto deve estar ativada, isto é, deve estar num nível ciente, e não perdida no
fundo de nossa memória” (KLEIMAN, 2004, p. 21).
Quem já leu o texto enigmático esclarece o que havia lido sem entender, porque as
palavras passam a ter referentes identificados: o herói é Colombo, as três irmãs são as
caravelas, o plano é encontrar uma rota alternativa para as Índias, num planeta que ele
acreditava ser redondo, e não plano como supunham os indecisos e desdenhosos. Kleiman
explica esse processo, esclarecendo que é evidente que

esses referentes não estão no texto, eles são extralinguísticos (pois estão fora do texto), e sua
recuperação se deve ao conhecimento de caráter enciclopédico que o leitor tem sobre a
descoberta da América. Essa informação se torna acessível quando utilizamos esse
conhecimento, quando o ativamos. O texto permanece o mesmo, entretanto há uma mudança
significativa na compreensão devido à ativação do conhecimento prévio, isto é, à procura na
memória (que é o nosso repositório de conhecimentos) de informações relevantes para o
assunto, a partir de elementos formais fornecidos pelo texto. (2004, p. 22)

Trata-se de um processo inconsciente que ocorre durante a leitura. Com base em


elementos formais, o leitor ativa seus conhecimentos prévios e procura em sua memória de
longo prazo informações relevantes (linguísticas, textuais e enciclopédicas) que lhe permitem
fazer inferências para relacionar diferentes partes do texto num todo coerente. As inferências

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são fundamentais para se compreender um texto, pois elas ajudam o leitor a estabelecer
ligações entre as diversas partes do que está lendo e permitem a constituição de um
significado. Elas são tão importantes que, conforme algumas experiências psicolinguísticas,
após ler um texto as pessoas se lembram não do trecho textual, mas sim das inferências. São
elas que norteiam o processo de compreensão. É por isso que, depois de decorar um texto
como um papagaio, sem procurar nele um sentido global, ou seja, sem compreendê-lo, é
comum que as pessoas se esqueçam quase imediatamente do conteúdo. A leitura, portanto,
não é uma recepção passiva (KLEIMAN, KATO, BOCCHINI). Trata-se de uma atividade que
envolve engajamento e uso do conhecimento do leitor, que não é mero recipiente de conteúdo.
Com o exemplo do texto sobre Colombo e essas observações breves sobre aspectos
cognitivos da leitura, torna-se evidente a função de um título, de outros textos indicadores, de
fotos ou ilustrações. Se, antes de iniciar a leitura do texto principal, o leitor passear os olhos
por títulos, intertítulos, olhos, legendas e elementos em destaque, seus conhecimentos prévios
serão ativados e ele poderá processar o texto ciente de seus referentes, como se uma lanterna
iluminasse a “pasta certa no porão da memória” (ASSUMPÇÃO; BOCCHINI, 2002, p. 13). Esse
percurso inicial do leitor pelos títulos e textos de destaque não ocorre apenas no meio
impresso, conforme se constata em algumas pesquisas empíricas realizadas com leitores
navegadores em meios digitais. O ponto de entrada em uma página da internet é o texto, em
especial os títulos, e não as imagens, conclui Nielsen, confirmando o EyeTrack 2000 e o
EyeTrack III, pesquisas realizadas pelo Instituto Poynter, centro de pesquisa e educação em
jornalismo com sede na Flórida.
Por isso, títulos que apelem para o humor, a fantasia ou para recursos expressivos
poéticos podem prejudicar ou impedir a ativação dos conhecimentos prévios, por correrem o
risco de serem enigmáticos ao leitor ou ao navegador. Como expõem Assumpção e Bocchini
(2002, p. 21), diante de um livro com o título “Almanaque de bichos que dão em gente”, o
leitor poderia ficar desorientado, caso não houvesse o subtítulo: Vermes, vírus, bactérias,
fungos e outros bichos. Como reconhecer, evitar e tratar.
O editor, ciente então de alguns processos inconscientes envolvidos na leitura de um
texto ou hipertexto, ao fazer a intervenção estrutural pode tentar ajudar o leitor a compreender
o conteúdo de uma publicação, aplicando basicamente duas estratégias inter-relacionadas
(CLOUTIER, 2007): reduzir o esforço cognitivo para processar e compreender um texto e tentar
produzir efeitos cognitivos que possam facilitar a leitura e a compreensão.
Como intervir no processo cognitivo do leitor? O exemplo do texto sobre Colombo
evidencia uma das formas: é preciso explicitar no título elementos eficientes para que o leitor

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ative seus conhecimentos prévios. Na prática profissional do editor de texto, a inclusão desse
e de outros elementos formais mais visíveis e de alto grau de informatividade ajudarão o leitor
a formular hipóteses de leitura independentemente, passando sua leitura a ter um caráter de
verificação de hipóteses, uma atividade consciente e autocontrolada pelo leitor (KLEIMAN,
2004, p. 43). Entre os elementos formais mais visíveis, tanto no impresso como no digital,
estão, alem do título, subtítulos, datas, fontes, ilustrações, legendas.
O trabalho estrutural não se detém, entretanto, apenas nesses elementos de destaque.
Durante sua atividade, o editor de texto não pode perder de vista seu objeto (o conteúdo geral
do texto) para avaliar a forma mais eficiente de apresentar as informações. Além de estrutural,
a intervenção seria também informativa.
“Será que é mais adequado expor isto agora ou um pouco antes, junto com aquela
outra seção?” Essa abordagem que não pode perder de vista a macroestrutura é
imprescindível. Ao conhecer o percurso que o leitor fará para compreender o texto, o editor
pode atuar considerando o processo cognitivo de processamento da leitura. Se conhecer
algumas estratégias automáticas envolvidas nesse percurso, talvez o editor possa avaliar de
forma mais objetiva o que é eficiente na comunicação verbal, portanto o que deve ser
alterado, suprimido ou incluído no texto.
O desenvolvimento do conteúdo informativo, para ser apreendido sem grande esforço
pelo leitor, deve seguir alguns princípios sistematizados pela psicolinguística, como os
princípios de parcimônia ou economia, de canonicidade, de coerência, de relevância (KATO,
2002; KLEIMAN, 2004). Assim, a partir de marcas formais do texto (linguísticas e gráficas) e
de conhecimentos prévios, o leitor realiza automática e inconscientemente um processo
modulado por princípios que ajudam a estabelecer a coerência temática ou de conteúdo.
Também a microestrutura do texto é contemplada na intervenção estrutural-infor-
mativa, que visa a alterações no nível frasal e interfrasal para facilitar a compreensão das
informações. Os princípios que guiam a reconstrução de laços coesivos entre elementos
contíguos no texto são basicamente os que atuam no nível macroestrutural: parcimônia,
canonicidade, coerência e relevância.
Além da dimensão verbal abordada pela psicolinguística nas pesquisas sobre os
processos cognitivos da leitura, há uma dimensão não verbal envolvida na intervenção
estrutural de um original. Gráficos, tabelas, boxes, quadros, ilustrações, fotos — esses
elementos gráficos ajudam a compor a macroestrutura tanto de um texto como de um
hipertexto e não podem ser menosprezados na edição de texto. Muitas vezes, eles constituem

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instrumentos tão fundamentais quanto os textos indicadores para a construção de um percurso


de leitura e navegação e para o desenvolvimento coerente do tema.
Essa marcação formal da estrutura, tanto em nível macrotextual como microtextual,
não é obrigatória num texto. No entanto, ela pode orientar o leitor a efetuar um processamento
mais rápido, claro e eficiente. Em se tratando de textos informativos, nos quais haja intenção
de facilitar a vida do leitor, as considerações apresentadas podem orientar a formação do
editor de texto, ajudar a aprimorar sua prática e contribuir também para uma atuação
consciente e reflexiva.

Manuais: lacunas e contribuições

Nos manuais sobre redação de textos para web há certa instabilidade conceitual
envolvendo usabilidade e facilidade de leitura. Como navegação e leitura estão entrelaçadas, a
própria denominação do humano operando na interface oscila entre navegador, internauta,
leitor, usuário. E pode-se dizer que as abordagens mais comuns quanto à leitura na tela
ignoram os aspectos cognitivos da relação entre texto e leitor, como os explicitados por Kato
e Kleiman, conforme indicam alguns resultados de estudo em andamento por Bocchini e
Yamazaki. De qualquer forma, já é possível adiantar que a lacuna teórica apontada pode
conduzir a afirmações ingênuas, como a de Díaz Noci e Salaverría, de que “En virtud del
hipertexto, el lector ha dejado de ser un mero consumidor pasivo del texto, tal y como se le
tendia a concebir quando éste era impreso” (2003, p. 110). A mesma lacuna teórica também
conduz a afirmações e prescrições de caráter vago, como a de que o título tem sido usado
“para chamar a atenção do leitor, além de cumprir sua função informativa”, a de que sua
redação deve seguir as mesmas regras usadas na imprensa escrita, “embora na internet sejam
mais curtos e mais diretos” e a de que os títulos devem ser também “concisos, claros e
atraentes” (SANDOVAL, 2003, p. 430-431).
Embora não se refira diretamente a fundamentos teóricos, a prática de Nielsen
demonstra conhecimento, mesmo que intuitivo, de alguns aspectos cognitivos da relação entre
texto e leitor. Isso fica claro quando, num teste, pede a usuários que procurem predizer o
conteúdo de um site a partir do título de um link, truncado, com apenas 11 caracteres
(NIELSEN, 2009, p. 2), demonstrando estar ciente de que o título ativa conhecimentos prévios
do leitor e o ajuda a predizer ou adivinhar conteúdos, ou seja, a formular hipóteses sobre o
texto que se segue. Franco baseia suas principais recomendações quanto a títulos nos
argumentos de Nielsen e nos resultados de edições da pesquisa EyeTrack: evitar títulos

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alusivos (divertidos, com sacadas ou trocadilhos), “ser direto e eficiente”, porque os usuários
da web desejariam apenas “saber se vale apena ler uma matéria” (Franco, 2008, p. 70-79).
As observações sobre partes de manuais de estilo que pretendem contribuir para a boa
redação e edição apontam para o cuidado necessário no estudo dessas publicações, no sentido
de sempre procurar compreender as posições de autores nos limites de suas escolhas teóricas,
de suas posturas metodológicas, de seu instrumental técnico (tal como o utilizado nas
pesquisas de rastreamento do olho, o EyeTrack).
Se são importantes as categorizações de usuários/navegadores/leitores avançadas por
diferentes autores, não há dúvida de que os editores ficam com a tarefa constante de
prosseguir pesquisando e refletindo sobre os leitores/navegadores/usuários reais, com suas
particulares combinações de proficiências e alfabetizações. Além disso, será preciso
compreender os elementos de poder propositalmente dispostos na interface, como explicitados
por Ricardo A. S. Orlando, e ter clareza de questionamentos que ultrapassem os usos
comerciais da web, tal como o de Mario Kaplún, que interpela as reais possibilidades de um
outro uso, o da educação a distância: “Não estaremos diante da velha ‘educação bancária’
tantas vezes combatida por Paulo Freire, e que agora se apresenta em sua versão moderna de
caixa automático?” (1998, p. 2).

Referências bibliográficas
ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. São Paulo: Manole, 2002.
CLOUTIER, Francine. Des modifications guidées par la recherche de la pertinence dans toutes les
dimensions textuelles. In: La révision professionnelle: processus, stratégies et pratiques, por Jocelyne
(org.) Bisaillon. Éditions Nota Bene, 2007.
DÍAZ NOCI, Javier; SALAVERRÍA, Ramón. Hipertexto periodístico: teoría y modelos. In: NOCI
Javier Díaz; SALAVERRÍA, Ramón (org.). Manual de redacción periodística. Barcelona: Ariel,
2003.
KATO, Mary. O aprendizado da leitura. 5 ed. 2 reimpr. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 9. ed. Campinas: Pontes, 2004.
ORLANDO, Ricardo. Dispositivo da interface. Tese de doutorado em Ciências da Comunicação,
Escola de Comunicações e Artes/Universidade de São Paulo, 2007. (Orientadora: Alice Mitika
Koshiyama)
RICHAUDEAU, François. La lisibilité. Paris: Centre d’Étude et de Promotion de la Lecture, 1969.
______. Linguistique pragmatique. Paris: Éditions Retz, 1981.
SANDOVAL, María Teresa. Géneros informativos: la notícia. In: NOCI Javier Díaz; SALAVERRÍA,
Ramón (org.). Manual de redacción periodística. Barcelona: Ariel, 2003.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo:
Paulus, 2004.

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YAMAZAKI, Cristina. Edição de texto na produção editorial de livros: distinções e definições.


Dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação, Escola de Comunicações e Artes/Universidade
de São Paulo, 2009. (Orientadora: Maria Otilia Bocchini)

Fontes da web
FRANCO, Guillermo. Como escrever para a web: elementos para a discussão e construção de
manuais de redação online. Trad. Marcelo Soares. Livro disponível em:
<http://knightcenter.utexas.edu/como_web.php>.
KAPLÚN, Mario. La gestión cultural ante los nuevos desafios. Chasqui: Revista Latinoamericana de
Comunicación, n. 64, dez. 1998. Disponível em: < http://chasqui.comunica.org/kaplun64.htm>.
NIELSEN, Jakob. First 2 words: a signal for the scanning eye. Alertbox, 6 abr. 2009. Disponível em:
<http://www.useit.com/alertbox/nanocontent.html>.
______. Usability 101: Introduction to Usability. Alertbox. Disponível em:
<http://www.useit.com/alertbox/20030825.html>.

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